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Indicadores biológicos Prof. Inara R. Leal Depto de Botânica, UFPE irleal@ufpe.br Introdução às Ciências Ambientais 2013.2 Conceito de bioindicadores Indicadores de ambientes aquáticos Tipos e propriedades dos bioindicadores Insetos como bioindicadores Identificação de bioindicadores Projeto XINGÓ Projeto PROBIO Projeto SAÚVAS Resumo Leituras recomendadas Conteúdo A alta perda de habitats e de biodiversidade exige urgência na condução de inventários de biodiversidade para selecionar áreas para criar UCs e no monitoramento de áreas em regeneração A falta de tempo, dinheiro e especialistas em diferentes grupos taxonômicos dificulta a realização e a eficiência dessas tarefas Daí surgiu a ideia de enfocar os levantamentos em grupos taxonômicos mais informativos, que são sensíveis a mudanças ambientais e que refletem a resposta de outros taxa em um habitat, nos chamados indicadores biológicos ou bioindicadores Bioindicadores Bioindicador é uma espécie (ou conjunto de espécies) cuja presença, abundância e condições são indicativos biológicos de uma determinada condição ambiental Por exemplo: espécies com pouca capacidade de obter oxigênio da água (muitos tipos de insetos e crustáceos) vivem em águas correntes, limpas e muito oxigenadas; o contrário ocorre com espécies com alta capacidade de obter oxigênio (larvas de mosquitos, moluscos bivalves), que vivem em águas pouco oxigenadas Plantas pioneiras crescem em ambientes com muita luz, já plantas tolerantes à sombra crescem em ambientes muito sombreados Bioindicadores Os bioindicadores também são usados para avaliar a integridade ecológica de um ambiente quando este sofre alguma perturbação (natural ou antrópica) Integridade ecológica é definida pela comparação da comunidade biológica de uma área impactada com a comunidade de áreas de referência não impactadas (ou seja, com alta integridade ecológica) Por exemplo, vários insetos com asas grandes (libélulas, borboletas) apresentam assimetria nas manchas das asas devido a doenças causadas por poluição Bioindicadores Bioindicadores foram usados inicialmente na indicação da qualidade da água Por exemplo, em São Paulo, a CETESB tem monitorado a qualidade das águas através do projeto “Invertebrados no programa de monitoramento de rios e reservatórios do Estado de São Paulo” desde a década de 1970 Desenvolvido por biólogos, vários grupos de invertebrados aquáticos foram escolhidos para indicar diferentes níveis da qualidade da água Indicação da qualidade de água Ambiente bem conservado Ambiente regular Ambiente ruim Ambiente péssimo Ausência de organismos da fauna Ambiente azóico Existem três tipos de bioindicadores (McGeoch 1998): (1) Indicador de biodiversidade – táxon (grupo de espécies) cuja diversidade reflete a diversidade de outros táxons em um habitat (2) Indicador ambiental – táxon associado estreitamente a algum parâmetro ambiental (termômetro) (3) Indicador ecológico – táxon que responde a perturbações de origem antrópica Tipos de bioindicadores Altamente diversificado, taxonômica e ecologicamente Alta fidelidade ecológica para cada espécie Relativamente sedentário Abundante, não furtivo, fácil de encontrar e reconhecer Ciclos populacionais relativamente curtos Encontrado em qualquer época do ano Associado estreitamente com outras espécies Bem estudado sistemática, química, genética, e comportamentalmente Propriedades dos bioindicadores Cada grupo tem resposta diferente – nenhum grupo é ideal, mas alguns são considerados melhores do que outros: Árvores e animais grandes – têm ciclos de vida longo e, portanto, respostas lentas Primatas e aves – são muito caçados pelo homem e somem mesmo em ambientes pouco alterados Briófitas e pteridófitas – têm respostas rápidas, mas são restritos a ambientes úmidos e, assim, não podem ser usados em outros ambientes mais secos e quentes Insetos –tem várias características de um bom indicador e, por isso, são os mais informativos Qual grupo é um bom indicador? Insetos em geral têm ciclo rápido, são pequenos, abundantes, fáceis de amostrar e os resultados podem ser facilmente comparados (e em tempo curto) em várias áreas Além disso, os insetos estão relacionados com múltiplos processos do ecossistema (influenciam o crescimento e a sobrevivência das plantas, dispersam ou predam sementes, mudam física e quimicamente os solos e a luz atuando como engenheiros do ecossistema) São úteis nos seguintes casos: Seleção de áreas para criação de unidades de conservação, diagnóstico ambiental e monitoramento de áreas em recuperação após perturbações (ex. áreas de mineração) Insetos Borboletas Grupos de borboletas que indicam áreas conservadas de florestas tropicais (Keith Brown – Unicamp) Ithomiinae Biblidinae Satyrinae Freitas & Marini-Filho 2011 Libélulas São os Odonata e juntamente com os Neuroptera, Ephemeroptera e Plecoptera ocorrem em águas correntes, limpas e com bastante oxigênio Várias espécies de mosquitos aumentam as populações em água parada com pouco oxigênio Mosquitos Besouros escarabeíneos Besouros escarabeíneos indicam áreas grandes, onde ainda há alta diversidade e abundância de mamíferos porque eles usam as fezes destes mamíferos para colocar e alimentar suas larvas As formigas foram identificadas como bons bioindicadores primeiramente na Austrália, na década de 70, para indicar a regeneração de áreas de mineração Elas são facilmente amostradas, monitoradas e identificadas; representam um grupo diverso taxonômica e ecologicamente; são encontradas facilmente em quase todos os ambientes terrestres e têm ninhos perenes e estacionários Formigas Fotos: www.antweb.org Três projetos de inventários multitaxa foram conduzidos no Nordeste e Norte do Brasil – o Projeto XINGÓ na Caatinga, o Projeto PROBIO na Floresta Atlântica e o Projeto SAÚVAS nas Florestas Atlântica e Amazônica Com esses projetos, investigamos que grupo de organismos são bons indicadores de diversidade (se correlacionam com a riqueza de toda a biota), se as formigas são bons indicadores ambientais (se são relacionadas com características ambientais da Caatinga) e se as formigas são bons indicadores ecológicos (se respondem a perturbações antrópicas como perda de habitat, isolamento e criação de bordas nas Florestas Atlântica e Amazônica) Projetos no Nordeste e Norte O objetivo geral do Projeto XINGÓ (CNPq e CHESF) foi acessar áreas prioritárias para criação de unidades de conservação na Caatinga Para tal, foram amostradas plantas lenhosas, aves, formigas, besouros e aranhas nas caatingas do vale do Rio São Francisco, na região da Hidroelétrica de Xingó, entre fevereiro de 1999 e janeiro de 2002 Projeto XINGÓ Ecologia e Conservação da Caatinga Inara R. Leal Marcelo Tabarelli José Maria Cardoso da Silva Localização da região amostrada no Projeto XINGÓ (mapa de Leal et al. 2003) Bahia Sergipe Alagoas NE Brasil Oceano Atlântico Olho D'Água do Casado Canindé do São Francisco Paulo Afonso Piranhas Delmiro Gouveia Pernambuco O projeto PROBIO (MMA e CNPq) foi elaborado para aumentar nossos conhecimentos sobre a biodiversidade de áreas prioritárias para a conservação Três áreas foram selecionadas: Reserva Ecológica de Gurjaú (PE), RPPN Frei Caneca (PE) e UsinaSerra Grande (AL) e diversos grupos de organismos foram amostrados entre 2002 e 2004 Projeto PROBIO Localização da região amostrada no Projeto PROBIO (mapa de Pôrto et al. 2006) O projeto SAÚVAS foi uma colaboração entre a UFPE e a Universidade de Kaiserslautern, Alemanha (CAPES-DFG e CAPES- DAAD) Entre 2001 e 2012 nós amostramos as colônias de saúvas nas Florestas Atlântica e Amazônica e quantificamos seus controles base-topo (defesas das plantas cortadas) e topo-base (os ataques de predadores e parasitas) Projeto SAÚVAS Produtores primários Plantas cortadas Parasitas Moscas forídeas e fungos parasitas Predadores Tamanduás, tatus e formigas de correição Herbívoros Formigas cortadeiras Fungos simbiontes Localização das regiões amostradas no Projeto SAÚVAS nas Florestas Atlântica e Amazônica Indicador de diversidade (Projetos Xingó e PROBIO) Primeira pergunta: Qual é o melhor organismo indicador da diversidade total da comunidade? Sequência de quais grupos de organismos são os melhores indicadores de diversidade na Floresta Atlântica (a) e na Caatinga (b) Pteridófitas são os melhores indicadores de diversidade na Floresta Atlântica e aranhas na Caatinga Leal et al. 2010 Biodivers & Conserv 72% 66% Indicador de diversidade (Projetos Xingó e PROBIO) Segunda pergunta: Quantos grupos de organismos são necessários para se ter uma indicação excelente (>80%)? Apenas dois grupos de organismos já são suficientes para atingir a uma indicação excelente (>80%) da diversidade total da comunidade Leal et al. 2010 Biodivers & Conserv Indicador de diversidade (Projetos Xingó e PROBIO) Terceira pergunta: Os mesmos grupos de organismos podem ser indicadores na Floresta Atlântica e na Caatinga? Sim, os mesmos dois grupos de organismos (plantas e formigas) podem ser indicadores razoáveis (>60%) da diversidade total da comunidade nos dois ecossistemas Leal et al. 2010 Biodivers & Conserv Indicador ambiental (Projeto Xingó) Única pergunta: A riqueza e a composição de espécies de formigas são relacionadas com as diferenças nas unidades de paisagem da Caatinga A riqueza de formigas é diferente entre as unidades de paisagem da Caatinga, indicando que elas são indicadores ambientais. Relevos planos com solos profundos tem mais espécies que áreas inclinadas com solos rasos 0 2 4 6 8 10 Ta bu lei ro A rg ilo so Ta bu lei ro A re no so C an yo n R av in a Se rr a R iq ue za a a b c b, c Leal 2003 Livro Caatinga A composição de espécies de formigas também é diferente nas unidades de paisagem de Caatinga, reforçando a ideia de que elas são bons indicadores ambientais Leal 2003 Livro Caatinga Indicador ecológico (Projeto PROBIO e Projeto SAÚVAS) Primeira pergunta: As formigas respondem a redução do tamanho e aumento do isolamento dos fragmentos causada pelo processo de fragmentação de habitat? 0 20 40 60 80 100 0 200 400 600 800 1000 N ú m e ro d e e s p é c ie s d e F o rm ig a s Área (ha) 3500 r (Spearman) = 0,58; t = 2,25; p < 0,05; n = 12 r (Spearman) = 0,60; t = 2,24; p < 0,05; n = 11 A riqueza de formigas é reduzida com a redução da área dos fragmentos (com ou sem o fragmento Coimbra), mostrando que elas respondem a perda de habitats Leal et al. 2012 Biodivers & Conserv r (Spearman) = 0,52; t = 2,10; p < 0,05; n = 12 A riqueza de formigas diminui quando os fragmentos são mais isolados, mostrando que elas respondem ao isolamento dos fragmentos 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 500 1000 1500 2000 2500 N ú m e ro d e e s p é c ie s d e F o rm ig a s Distância para área florestada mais próxima (m) Leal et al. 2012 Biodivers & Conserv Indicador ecológico (Projeto PROBIO e Projeto SAÚVAS) Segunda pergunta: As formigas saúvas se beneficiam da criação de bordas de floresta devido ao processo de fragmentação de habitats? Wirth et al. 2007 J Trop Ecol Meyer et al. 2009 Biotropica D en si d a d e co lô n ia s h a -1 Atta cephalotes + A. sexdens na Floresta Atlântica Aumento de 20 vezes Aumento de 5 vezes Atta cephalotes + A. laevigata + A. sexdens na Floresta Amazônica 0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 50 100 150 200 250 300 300+ A AB B B B B B 0 0.5 1 1.5 2 2.5 50 100 150 200 250 300 300+ A B B B B B B Dohm et al. 2011 J Trop Ecol D en si d a d e co lô n ia s h a -1 A densidade de saúvas aumenta nas zonas de borda de floresta, mostrando que elas respondem a criação de bordas Indicador ecológico (Projeto PROBIO e Projeto SAÚVAS) Terceira pergunta: Quais os mecanismos que explicam o aumento das saúvas nas bordas de floresta? Aumento das colônias de formigas saúvas Menos controle base-topo Menos defesas contra herbívoros Proliferação de plantas pioneiras Menos controle topo-base Níveis tróficos mais altos mais afetados Perda de biodiversidade B A S E - T O P O T O P O - B A S E Fragmentação Urbas et al. 2007 Biotropica Falcão et al. 2011 BER Urbas et al. em preparação Almeida et al. 2008 EEA Wirth et al. 2008 Progr Bot Resumo Vários organismos são usados como bioindicadores, mas alguns fornecem mais informações como os insetos Na Caatinga e na Floresta Atlântica Nordestina, as formigas foram apontadas como bons indicadores de diversidade total, de caracterização ambiental das unidades de paisagem na Caatinga e de perturbações antrópicas na Floresta Atlântica e Amazônica (perda de habitat, isolamento e criação de bordas) O uso de bioindicadores na identificação ou monitoramento de áreas prioritárias para a conservação pode salvar tempo, dinheiro e muitas espécies da extinção Leituras recomendadas Leal IR, Tabarelli M, Silva JMC (eds) (2003) Ecologia e conservação da Caatinga. Editora Universitária da UFPE, Recife. Pôrto KL, Tabarelli M, Almeida-Cortez JS (eds) (2006). Diversidade biológica e conservação da Floresta Atlântica ao Norte do Rio São Francisco. Editora Universitária da UFPE, Recife. Freitas AVL, Leal IR, Uehara-Prado M, Iannuzzi L (2006) Insetos como indicadores de conservação da paisagem. In: Rocha, C.F., Bergalo, H., van Sluys, Alves, M.A. (Org.). Biologia da Conservação. Essências. São Carlos, 2006, v. 1, p. 357-384.
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