Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ebook 15 Recursos no Novo CPC análise dos artigos 994 ao 1000 índice CAPÍTULO 1 ARTIGO 994 CAPÍTULO 2 ARTIGO 995 CAPÍTULO 3 ARTIGO 996 CAPÍTULO 4 ARTIGO 997 CAPÍTULO 5 ARTIGO 998 CAPÍTULO 6 ARTIGO 999 CAPÍTULO 7 ARTIGO 1000 A partir da presente exposição, vamos analisar o Título II do Livro III (Dos Proces- sos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais) do novo Código de Processo Civil, que trata dos recursos (artigos 994 ao 1.044). Começaremos pelo Capítulo I – Disposições gerais (artigos 994 ao 1.008) -, di- vidindo-o em duas partes: na primeira, que segue abaixo, analisaremos minucio- samente os artigos 994 ao 1.000 do CPC/2015; e, posteriormente, dissecaremos os artigos 1.001 ao 1.008 do CPC/2015. Faremos essa divisão, justamente para que possamos esmiuçar cada dispositivo legal, inciso por inciso e parágrafo por parágrafo, utilizando quadros comparati- vos entre o CPC/2015 e o CPC/1973 para uma total compreensão. Na sequência, vamos examinar cada recurso de forma específica, trazendo sem- pre a melhor doutrina e uma vasta pesquisa jurisprudencial, com o objetivo de manter os leitores sempre atualizados e contribuir para o aperfeiçoamento da prestação do serviço jurisdicional. introdução CPC/2015 Art. 994 São cabíveis os seguintes recursos: I - apelação; II - agravo de instrumento; III - agravo interno; IV - embargos de declaração; V - recurso ordinário; VI - recurso especial; VII - recurso extraordinário; VIII - agravo em recurso especial ou extraordiná- rio; IX - embargos de divergência. CPC/1973 Art. 496 São cabíveis os seguintes recursos: I - apelação; II - agravo; III - embargo de infringentes; IV - embargos de declaração; V - recurso ordinário; VI - recurso especial; VII - recurso extraordinário; VIII - embargos de divergência em recurso es- pecial e em recurso extraordinário. ARTIGO 994 Artigo. 994, ‘caput’ e incisos I ao IX do CPC/2015 Sentido idêntico ao do artigo 496, ‘caput’ e in- cisos I ao VIII do CPC/1973. Quais são os recursos cabíveis no CPC/2015 O artigo 994, ‘caput’ e incisos I ao IX do novo CPC repete, quase que integralmente a redação do artigo 496, ‘caput’ e incisos I ao VIII do CPC/1973. Disciplina este artigo quais são os recursos cabí- veis e à disposição das partes na nova sistemáti- ca processual. Não se permite mais de um recurso contra uma mesma decisão, nem a substituição de um pelo outro. São praticamente os mesmos que consta- vam no CPC/1973, com estas modificações: I - o recurso de agravo, antes previsto no inciso II do artigo 496, foi cindido em dois: de instrumen- to e interno (incisos II e III), estando o de instru- mento disciplinado nos artigos 1.015 ao 1.020 e o interno no artigo 1.021, todos do novo Código de Processo Civil (destaque-se, ainda, , que não mais existe a possibilidade de interposição de agravo na forma retida); II - não mais existe a previsão de oposição de embargos infringentes (remetemos o leitor ao artigo 942 e seus respectivos parágrafos do novo Código de Processo Civil, que cuida da nova téc- nica de julgamento quando o resultado da ape- lação – e também da ação rescisória e do agravo de instrumento - não for unânime); e, III - foi incluído o recurso de agravo em recurso especial ou extraordinário. Agora, estes são os recursos existentes e cabíveis contra as mais variadas decisões: I – apelação; II – agravo de instrumen- to; III – agravo interno; IV – embargos de declaração; V – recur- so ordinário; VI – recurso especial; VII – recurso extraordinário; VIII – agravo em recurso especial ou extraordinário e IX – em- bargos de divergência. Portanto, ainda podemos utilizar o conceito de recurso do inesquecível Professor José Carlos Barbosa Moreira: “...pode se conceituar recurso, no direito processual civil brasileiro, como o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mes- mo processo, a reforma, a invalidação, o es- clarecimento ou a integração de decisão ju- dicial que se impugna” (Comentários ao Código de Processo Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, pp. 265-266). Especificando este dispositivo legal, de forma expressa, quais são os recursos admitidos no processo civil, agasalha ele o prin- cípio da taxatividade, já que o artigo 22, inciso I da CRFB/88 confere à União Federal a competência exclusiva para se legis- lar sobre direito processual, ou seja, somente serão considera- dos recursos expressamente previstos em lei federal, como é o caso da Lei Federal n. 13.105/2015 (novo Código de Processo Civil). Sobre a matéria, trazemos à lume a doutrina de Daniel Amorim Assumpção Neves: ARTIGO 994 “Ainda que o rol legal de recursos seja taxati- vo, é incorreto dizer o mesmo do rol previsto no art. 994 do Novo CPC. O dispositivo legal limita-se a prever os recursos disciplinados, e alguns casos somente parcialmente – pelo próprio Novo Código de Processo Civil. Sig- nifica dizer que leis extravagantes, desde que federais, podem criar e regulamentar espécies recursais não previstas no disposi- tivo ora analisado. É o caso, por exemplo, do recurso inominado dos Juizados Especiais previsto no art. 41 da Lei 9.099/95 e os em- bargos infringentes na execução fiscal, pre- visto no artigo 34 da Lei 6.830/80)” (Novo Código de Processo Civil Comentado, Ed. JusPodi- vm, 2017, p. 1.672). Com a entrada em vigor do novo Código de Processo Civil, a questão do direito intertemporal passou a ser de suma im- portância para os operadores do direito. Em homenagem ao princípio tempus regit actum, o Superior Tribunal de Justiça já tinha consolidado o entendimento de que a lei a reger o re- curso cabível e a forma de sua interposição é aquela vigente à data da publicação da decisão impugnada, ocasião em que o sucumbente tem a ciência da exata compreensão dos fun- damentos do provimento jurisdicional que pretende combater (STJ - AgRg no Agravo em REsp n. 774.461-DF, rel. Min. Luis Fe- lipe Salomão, j. 7.4.2016). Lembramos, ainda, que a teor do enunciado administrativo n. 1 do Superior Tribunal de Justiça, o seu Plenário, em sessão ad- ministrativa em que se interpretou o artigo 1.045 do novo Có- digo de Processo Civil, decidiu, por unanimidade, que o Códi- go de Processo Civil aprovado pela Lei n. 13.105/2015, entrou em vigor no dia 18 de março de 2016. E em decorrência desse enunciado n. 1, o mesmo Superior Tribunal de Justiça, com relação aos recursos, editou os enun- ciados ns. 2, 3 e 4, abaixo reproduzidos, pacificando a questão relativa ao direito intertemporal: Enunciado administrativo n. 2 do STJ: Aos recur- sos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relati- vos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) de- vem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até en- tão, pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Enunciado administrativo n. 3 do STJ: Aos recursos interpos- tos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publi- cadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requi- sitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC. Enunciado administrativo n. 4 do STJ: Nos feitos de competên- cia civil originária e recursal do STJ, os atos processuais que vie- ARTIGO 994 rem a ser praticados por julgadores, partes, Ministério Público, procuradores, serventuários e auxiliares da Justiça a partir de 18 de março de 2016, deverão observar os novos procedimen- tos trazidos pelo CPC/2015, sem prejuízo do disposto em legis- lação processual especial. Observe, contudo, que não sendo recurso a remessa necessá- ria (artigo 496), mas apenas condição de eficácia da sentença, aplicar-se imediatamente aos processos em curso as disposi- ções do novo Código de Processo Civil. A respeito, transcreve- mos os ensinamentos deNelson Nery Júnior (Comentários ao Código de Processo Civil, Ed. RT, 2015, p. 1.174, nota n. 9 ao artigo 496): “Direito Intertemporal. (...) Consequente- mente, havendo processo pendente no tri- bunal, enviado mediante a remessa necessá- ria do regime antigo, o tribunal não poderá conhecer da remessa se a causa do envio não mais existia no rol do CPC/1973 475. É o caso, por exemplo, da sentença que anu- lou o casamento, que era submetida anti- gamente ao reexame necessário (ex-CPC 475 I), circunstância que foi abolida pela nova redação do CPC/1973 475, dada pela L 10352⁄01. Logo, se os autos estão no tribu- nal apenas para o reexame de sentença que anulou o casamento, o tribunal não pode co- nhecer da remessa”. (Novo Código de Processo Civil Comentado, Ed. JusPodi- vm, 2017, p. 1.672). JURISreferência™ 1. A data da postagem na agência dos cor- reios não deve ser considerada para fins de aferição do prazo do recurso dirigido ao STJ (STJ - EDcl no AREsp n. 503.157-RS, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21.5.2015). 2. O Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que, para fins de aplicação do art. 1º da Lei n. 9.800/1999, o e-mail não configura meio eletrônico equiparado ao fa- c-símile. Assim, intempestivo o recurso espe- cial recebido, no protocolo do Tribunal de ori- gem, após o prazo legal de 15 dias (STJ - AgRg no AREsp n. 705.380-ES, rel. Min. Gurgel de Faria, j. 17.9.2015). ARTIGO 995 CPC/2015 Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judi- cial em sentido diverso. Parágrafo único. A eficácia da decisão recorri- da poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível re- paração, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso. CPC/1973 Art. 497. O recurso extraordinário e o recurso especial não impedem a execução da senten- ça; a interposição do agravo de instrumento não obsta o andamento do processo, ressalva- do o disposto no art. 558 desta Lei. Art. 558. O relator poderá, a requerimento do agravante, nos casos de prisão civil, adju- dicação, remição de bens, levantamento de dinheiro sem caução idônea e em outros ca- sos dos quais possa resultar lesão grave e de difícil reparação, sendo relevante a fundamen- tação, suspender o cumprimento da decisão até o pronunciamento definitivo da turma ou câmara. Artigo 995, ‘caput’ do CPC/2015 Inovação significativa Interposição de recursos e a eficácia da deci- são recorrida O artigo 995, ‘caput’ do novo CPC é uma inova- ção significativa. Previsão parecida era encon- trada nos artigos 497 e 558, ‘caput’ do CPC/1973, mas dizia respeito tão somente à interposição de recurso extraordinário e especial. A atual reda- ção é mais clara e abrangente: os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso. Dois são os principais efeitos de um recurso: sus- pensividade e devolutividade. O que nos interes- sa ao analisar este artigo 995, é o efeito suspen- sivo, que impede a eficácia imediata da decisão. Perceba que a regra anteriormente prevista no Código revogado foi praticamente invertida. Agora, não há efeito suspensivo automático com a interposição do recurso, salvo, isso é muito importante, se houver disposição legal (como é o caso do recurso de apelação - artigo 1.012, ‘caput’) ou decisão judicial em sentido diverso (na hipótese do parágrafo único deste artigo adiante analisado – medida excepcional a ser avaliada no caso concreto). Exemplo dessa última hipótese – ‘decisão judicial em sentido diverso’ - é o caso do recurso de agravo de instrumento – artigo 1.019, inciso I -, o qual, inclusive, poderá ser atribuído pelo relator efeito “ativo” (antecipação de tutela). Portanto, havendo previsão legal de efeito sus- pensivo (ope legis), não há necessidade que a parte assim o requeira e/ou o juiz assim se ma- nifeste: o seu efeito é imediato, ao contrário do que ocorre nas hipóteses em que há necessidade de pedido expresso da parte (ope judicis), cujo efeito não retroage, valendo somente a par- tir da data da respectiva decisão concessiva. Artigo 995, parágrafo único do CPC/2015 Inovação significativa Quem pode suspender a eficácia da decisão recorrida Requisitos A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, segundo a inédita redação deste parágrafo único, caso preenchidos cumulativamente os seguintes requisitos: i) se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação e ii) ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso. Assim, à exceção do recurso de apelação em algumas hipóte- ses expressamente arroladas (artigo 1.012, parágrafo 1º), para que se impeça a imediata eficácia da decisão, há de existir uma decisão judicial específica nesse sentido e provocada pela par- te interessada - concessão de efeito suspensivo (e também ‘ati- vo’ [antecipação de tutela], no caso do recurso de agravo de instrumento – artigo 1.019, inciso I) -, emanada do relator do recurso (artigos 932, inciso II, 1.019, inciso I e 1.029, parágrafo 5º). Os requisitos para que a eficácia da decisão recorrida venha a ser suspensa pelo relator são mais severos do que aqueles pre- vistos para a concessão da tutela provisória de urgência (artigo 300 do CPC/2015), sobretudo no que se refere ao perigo ou ris- co de dano (periculum in mora), e não devem ser confundidos. Isso porque este parágrafo único exige que o dano seja “gra- ve, de difícil ou impossível reparação”, ou seja, o dano há de ser qualificado (intenso), o que não acontece com a tutela provisória de urgência, que utiliza apenas a expressão “perigo de dano”. Por essa razão, no nosso entender, a suspensão da eficácia da decisão recorrida (efeito suspensivo aos recursos), é medida excepcional e deve ser muito bem avaliada na análise do caso concreto. No que refere ao requisito da probabilidade (de provimento do recurso), a melhor definição que podemos oferecer ao nosso leitor, é a de Cândido Rangel Dinamarco: “Probabilidade é a situação decorrente da preponderância dos motivos convergentes à aceitação de determinada proposição, so- bre os motivos divergentes. As afirmativas pesando mais sobre o espírito da pessoa, o fato é provável; pesando mais as negativas, ele é improvável (Malatesta). A probabilida- de, assim conceituada, é menos que a cer- teza, porque lá os motivos divergentes não ficam afastados, mas somente suplantados; e é mais que a credibilidade, ou verossimi- lhança, pela qual na mente do observador os motivos convergentes e os divergentes comparecem em situação de equivalência e, se o espírito não se anima a afirmar, também não ousa negar. O grau dessa probabilidade será apreciado pelo juiz, prudentemente e atento à gravidade da medida a conceder” (A Reforma do Código de Processo Civil, 3ª ed. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 145). ARTIGO 995 CPC/2015 Art. 996. O recurso pode ser interpos- to pela parte vencida, pelo terceiro pre- judicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica. Parágrafo único. Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídi- ca submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual. CPC/1973 Art. 499. O recurso pode ser inter- posto pela parte vencida, pelo tercei- ro prejudicado e pelo Ministério Público. §1º Cumpre ao terceiro demonstrar o nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a relação jurí- dica submetida à apreciação judicial. §2º O Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processoem que é par- te, como naqueles em que oficiou como fiscal da lei. ARTIGO 996 Artigo 996, ‘caput’ do CPC/2015 Sentido idêntico ao do art. 499, ‘caput’ e §2º do CPC/1973 Quem pode recorrer O artigo 996, ‘caput’ do novo CPC possui sentido idêntico ao artigo 499, ‘caput’ e parágrafo 2º do CPC/1973. Este testilho legal disciplina os legitimados a in- terpor recursos. Podem, então, recorrer: i) a parte vencida, ii) o terceiro prejudicado e iii) o Ministé- rio Público, seja como parte ou fiscal da ordem jurídica (o CPC/1973 utilizava a terminologia ‘fis- cal da lei’). Como bem escrito pelo Professor José Carlos Barbosa Moreira, ao discorrer sobre a legitima- ção para recorrer: “Assim como a legitimidade para agir é condição do exercício regular do direito de ação, e portanto da possibilidade de jul- gar-se o mérito da causa, analogamente a legitimação para recorrer é requisito de ad- missibilidade do recurso, que precisa estar satisfeito para que o órgão ad quem dele co- nheça, isto é, o julgue no mérito. Consoante já se observou em doutrina, seria em prin- cípio concebível, correspondendo a uma “representação idealizada do Estado de di- reito”, sistema em que se permitisse a qual- quer pessoa impugnar uma decisão judicial que lhe parecesse injusta. Na realidade, por óbvias razões de conveniência, trata a lei de limitar o círculo dos possíveis recorrentes. Surge então, neste contexto – à semelhança do que ocorre no concernente à propositura mesma da ação -, o problema da legitimida- de, impondo-se verificar se quem interpôs o recurso se inclui ou não no elenco dos habi- litados a fazê-lo”comparecem em situação de equivalência e, se o espírito não se anima a afirmar, também não ousa negar. O grau dessa probabilidade será apreciado pelo juiz, prudentemente e atento à gravidade da medida a conceder” (Comentários ao Código de Processo Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, pp. 326/327). Logo no início, também, percebe-se a noção de sucumbência fundada no binômio necessidade/utilidade. É o sucumbente (a “parte vencida”), quem detém mais comu- mente a legitimidade para recorrer. Isso, porque o recurso é instrumento capaz de propiciar ao recorrente uma situação mais favorável que a decorrente da decisão hostilizada, seja porque o que foi requerido e o que foi decidido não se mos- tram coincidentes, quer porque não se alcançou tudo aqui- lo desejado, bem como porque uma situação prejudicial se formou independentemente das pretensões levadas a juízo. Bem por isso, além da legitimidade, também para recorrer é necessário ter interesse, como, aliás, os exige expressamente o artigo 17 do CPC/2015 para postular em juízo. ARTIGO 996 “Para postular em juízo é necessá- rio ter interesse e legitimidade”. O interesse, sempre visto dentro do binômio necessidade - utilidade, como bem analisado por Humber- to Theodoro Júnior, “...não se res- tringe à necessidade do recurso para impedir o prejuízo ou o gra- vame; compreende também a sua utilidade para atingir o objetivo visado pelo recorrente. Dessa ma- neira, o recurso manifestado tem de apresentar-se como necessário e adequado, na situação concreta do processo, para ser admitido” (Curso de Direito Processual Civil, Vol. III, 49ª edição, Ed. GEN/Foren- se, p. 984), ou seja, “...de um lado, é preciso que o recorrente possa esperar, da interposição do recur- so, a consecução de um resultado a que corresponda situação mais vantajosa, do ponto-de-vista prá- tico, do que a emergente da deci- são recorrida; de outro lado, que lhe seja necessário usar o recurso para alcançar tal vantagem” (apud José Carlos Barbosa Moreira, (Comen- tários ao Código de Processo Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, p. 336). ARTIGO 996 Assim, deve-se, de ofício, negar conhecimento ao recurso se verificada a ausência de interesse recursal ante a impossibili- dade de concessão de provimento jurisdicional mais favorável ao recorrente (TJMG – Ap. Cív. n. 1.0704.16.004213-8/0001, rel. Des. Pedro Bernardes, j. 29.11.2016). Observe, também, que o interesse deve ser jurídico, não se admitindo o recurso do terceiro prejudicado quando seu in- teresse é meramente econômico (REsp n. 1.319.626-MG, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26.2.2013). Portanto, de regra, é a parte sucumbente (vencida), quem tem legitimidade para recorrer. Contudo, a boa doutrina, como bem esclarece Humberto Theodoro Júnior, reconhece que o vencedor pode excepcionalmente ter interesse na revisão da decisão que o favoreceu: “Embora a condição de vencido sempre le- gitime o recurso, reconhece a boa doutrina que, mesmo vencedor, o litigante pode ex- cepcionalmente ter interesse na revisão da decisão que o favoreceu. É o caso em que a possível solução da causa tenha condições de proporcionar-lhe “melhor situação” do que aquela adotada no julgamento. Segun- do Barbosa Moreira, quando for viável a oti- mização da composição do conflito, deve-se reconhecer ao vencedor o interesse em re- correr, sem embargo de não ter sido a par- te vencida. São exemplos de tal situação: a acolhida de um dos pedidos sucessivos que não seja o mais interessante para o autor vencedor; ou o julgamento de improcedên- cia do pedido por falta de prova, nos casos em que a lei não admita a formação de coisa julgada material na espécie; o interesse do réu vencedor pode residir na tentativa de alcançar uma sentença que mantenha a im- procedência do pedido, mas que o faça com julgamento de mérito” (Curso de Direito Processual Civil, Vol. III, 49ª edição, Ed. GEN/Forense, p. 985). O artigo 996 do CPC/2015 também assegura ao terceiro prejudicado a possibilidade de interpor recurso de determinada decisão, desde que ela afete, direta ou indiretamente, uma relação jurí- dica de que seja titular (os requisitos para a in- terposição de recurso pelo terceiro prejudicado estão elencados no parágrafo único). O conceito de terceiro, é assim definido por José Carlos Barbosa Moreira: “O conceito de terceiro determi- na-se por exclusão em confronto com o de parte: é terceiro quem não seja parte, quem nunca o te- nha sido, quer haja deixado de sê- -lo em momento anterior àquele em que se profira a decisão” (Comentários ao Código de Processo Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, p. 331). ARTIGO 996 Atente-se ao fato de que o Superior Tribunal de Justiça tem en- tendimento consolidado no seguinte sentido: “Ainda que presentes nos autos litisconsor- tes com procuradores distintos, o tercei- ro prejudicado, ao ingressar no processo para recorrer, não pode usufruir do favor di- latório previsto no art. 191 do CPC [art. 229 do CPC/2015], máxime por não ostentar a qualidade de litisconsorte” (REsp n. 1.330.516-PR, rel. Min. Sérgio Kukina, j. 12.5.2015). Já a legitimidade do Ministério Público como fiscal da ordem jurídica está estampada no artigo 178 do CPC/2015. Conclui-se, daí, que o direito de recorrer não é exclusivo das partes litigantes, sendo também extensivo ao Ministério Públi- co e ao terceiro prejudicado. Artigo 996, parágrafo único do CPC/2015 Sentido semelhante ao do artigo 499, parágrafo 1º do CPC/1973 O terceiro prejudicado e os requisitos a serem demonstrados para recorrer No que se refere ao terceiro prejudicado, preconiza este pará- grafo único (cujo sentido é semelhante ao do artigo 499, pará- grafo 1º do CPC/1973), cumprir-lhe demonstrar: I - a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica subme- tida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular; ou, II - que possa discutir em juízo como substituto processual. Quanto à primeira hipótese, Teresa Arruda Alvim Wambier - re- latora da comissão responsável pela criação do anteprojeto do novo Código de Processo Civil -, alegaque foi mal redigido: “O dispositivo é mal redigido, pois fala em possibilidade de atingimento. Na verdade, para que o terceiro possa recorrer, é neces- sário que tenha sido efetivamente atingido. Do contrário, não seria terceiro prejudicado, carecendo de interesse em recorrer. Uma vez proferida a decisão que afete negativamen- te a este terceiro, aí sim nasce seu interesse, pressuposto recursal inafastável” (Comentários ao Novo Código de Processo Civil, 2ª edição, 2016, Coordenadores Antonio do Passo Cabral e Ronaldo Cramer, Ed. G Contudo, no nosso entendimento, quis o legislador realmen- te alargar a legitimação recursal do terceiro prejudicado, ade- quando-o, também, às finalidades do instituto e ao princípio maior da instrumentalidade do processo (apud Athos Gusmão Carneiro, Intervenção de Terceiros, 18ª edição, 2009, Ed. Sarai- va, p. 220). Afinal, como sabido e consabido, “não se presumem na lei palavras inúteis”. E não só isso. Quis também trazer maior clareza ao dispositivo legal. José Carlos Barbosa Moreira criticava a redação do pará- grafo 1º do artigo 499 Código de Processo Civil de 1973, nesse sentido: EN/Forense, p. 1.494). “O problema da legitimação, no que tange ao terceiro, postula o esclarecimento da natureza do prejuízo a que se refere o texto le- gal. A redação do §1º do art. 499 está longe de ser um modelo de clareza e precisão: alude ao “nexo de interdependência” entre o inte- resse do terceiro em intervir “ e a relação jurídica submetida à apre- ciação Judicial”, quando a rigor o interesse em intervir é que resul- ta do “nexo de interdependência” entre a relação jurídica de que seja titular o terceiro e relação jurídica deduzida no processo, por força do qual, precisamente, a decisão se torna capaz de causar prejuízo àquele” (Comentários ao Código de Processo Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, pp. 331/332). Assim, ao excluir o “nexo de interdependência” e incluir a frase “atingir direito de que se afirme ti- tular”, eliminou o legislador toda a celeuma dou- trinária que havia em torno da redação do pará- grafo 1º do artigo 499 do CPC/1973. Filiamo-nos, portanto, à doutrina de José Carlos Barbosa Moreira, que muito antes da edição do novo Código de Processo Civil, assim entendia: ARTIGO 996 “Apesar, pois, da obscuridade do dispositivo ora comentado, no particular, entendemos que a legitimação do terceiro para recorrer postula a titularidade de direito (rectius: de suposto direito (em cuja defesa ele acorra. Não será necessário, entretanto, que tal di- reito haja de ser defendido de maneira dire- ta pelo terceiro recorrente: basta que a sua esfera jurídica seja atingida pela decisão, embora por via reflexa. É essa, aliás, a linha hermenêutica sugerida pela própria tradi- ção do direito luso-brasileiro” (Comentários ao Código de Processo Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, p. 333 - Grifei). Mais ainda. Ao utilizar na redação do parágrafo único do arti- go 996 o substantivo feminino “possibilidade”, o legislador do novo Código de Processo Civil deixou claro que a legitimidade do terceiro prejudicado não se limita a um prejuízo/dano con- creto, mas sim quando exista uma expectativa de que esse pre- juízo/dano venha a ser experimentado, ou seja, que a decisão tem capacidade de atingir direito seu ou que ele possa discutir em juízo como substituto processual. Em relação ao substituto processual, o CPC/2015, como bem anotado por Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, apenas explicitou algo que a lógica do sistema já autorizada: “Mesmo no sistema do CPC/1973, já era possível que o terceiro recorresse com base em interesse ligado ao fato de poder atu- ar como substituto processual de outrem (nesse sentido, Nery. Recursos, 3.4.1.2, p. 297/298; Didier. Rec. Terceiro, p. 105). A lei apenas explicitou algo que a lógica do siste- ma já autorizava” (Comentários ao Código de Processo Civil, Ed. RT, 2015, p. 2.013, nota n. 10 ao artigo 996) Concluindo, Nelson Nery Junior, apoiado em precedente, afir- ma que: “Essa legitimidade dada ao terceiro preju- dicado o autoriza a interpor qualquer recur- so, inclusive embargos de declaração” (RTJ 98/152)” (Princípios Fundamentais – Teoria Geral dos Recursos, 4ª edição, Ed. RT, 1997, p. 259).. ARTIGO 996 JURISreferência™ 1. A pessoa jurídica tem legitimidade para impugnar de- cisão interlocutória que desconsidera sua personalidade para alcançar o patrimônio de seus sócios ou administra- dores, desde que o faça com o intuito de defender a sua regular administração e autonomia – isto é, a proteção da sua personalidade –, sem se imiscuir indevidamente na esfera de direitos dos sócios ou administradores incluídos no polo passivo por força da desconsideração (STJ – REsp n. 1.421.464-SP, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 24.4.2014). 2. Havendo a desconsideração da personalidade jurídica, tanto a sociedade quanto os sócios têm legitimidade para recorrer (STJ – REsp n. 715.231-SP, rel. Min. João Otávio de No- ronha, j. 9.2.2010). 3. O sócio avalista de uma empresa não tem legitimidade para apresentar apelação própria, na condição de terceiro interessado, depois que a apelação da pessoa jurídica – au- tora da ação julgada improcedente na primeira instância – foi dada por intempestiva (STJ – REsp n. 1.141.745-BA, rel. Min. Sidnei Beneti, j. 8.2.2011). 4. Se a jurisprudência reconhece ao fiador até mesmo legi- timidade para figurar no polo passivo, como parte em sen- tido formal e material, de ação de despejo, cumulada com cobrança de alugueres, não há a menor razão para obstar o conhecimento de apelação por ele interposta, como ter- ceiro prejudicado, notadamente se, em razão mesmo da própria fiança, caracterizada está a hipótese do §1º, do art. 499 do CPC. Precedente desta Corte (STJ – REsp n. 361.738- RJ, rel. Min. Fernando Gonçalves, j. 18.4.2002). 5. A verba relativa à sucumbência, a despeito de constituir direito autônomo do advogado, não exclui a legitimidade concorrente da parte para discuti-la. Precedentes (AgRg no AREsp n. 637.405-MG, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 19.3.2015). 6. O advogado não pode interpor recurso em nome pró- prio, ainda que esse possa ter reflexos na sucumbência (STJ - EDcl no AREsp n. 684.751-RS, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16.6.2015). 7. Esta Corte, no que tange a exegese do referido preceito legal, firmou-se no sentido de que o “perito não é parte, muito menos tem interesse na demanda, não podendo in- tervir como terceiro interessado, dada ausência de legiti- midade para tanto (art. 499, do Código de Processo Civil)” (v.g. Resp nº 32.301-4/SP, Rel. Min. CLÁUDIO SANTOS, DJ de 08/08/94). Assim, nesta linha, o perito judicial – mero auxi- liar do juízo – não tem legitimidade para promover recur- so. Não se trata, portanto, de terceiro interessado. Nesse sentido, ainda, v. g. RESP 187.997/MG, Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJ de 18/02/02 e AGRESP 228.627/ SP, Rel. Min. BARROS MONTEIRO, DJ de 01/07/04, entre outros. Destarte, o reconhecimento de que o perito tinha legitimidade para recorrer foi equivocado. Tal circunstân- cia, frise-se, de caráter preliminar, enseja no próprio não conhecimento do agravo interposto. Logo, não poderia o Tribunal a quo ultrapassar tal óbice. 8 - Recurso conheci- do e provido, na via da excepcionalidade, pelos argumen- tos já expostos, para, cassando o decisum proferido pelo Tribunal a quo, reconhecer a ilegitimidade processual do perito (STJ - REsp n. 410.793-SP, rel. Min. Jorge Scartezzini, j. 28.9.2004). 8. É firme o entendimento no âmbito do STJ no sentido de que o Ministério Público tem legi- timidade para recorrer nos processos em que oficiou como custos legis, ainda que se trate de controvérsia relativa a direitosindividuais disponíveis e as partes estejam devidamente representadas por advogados. Enunciado da Súmula n. 99/STJ, art. 499 do Código de Pro- cesso Civil de 1973, art. 996 do Código de Pro- cesso Civil de 2015. Precedentes do STF e do STJ. Preliminar de ilegitimidade recursal do Parquet afastada (AgInt no REsp n. 1.606.433- RS, rel. Min. Francisco Falcão, j. 7.3.2017). ARTIGO 997 CPC/2015 Art. 997. Cada parte interporá o recurso inde- pendentemente, no prazo e com observância das exigências legais. § 1º Sendo vencidos autor e réu, ao recurso inter- posto por qualquer deles poderá aderir o outro. § 2º O recurso adesivo fica subordinado ao recur- so independente, sendo-lhe aplicáveis as mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibi- lidade e julgamento no tribunal, salvo disposi- ção legal diversa, observado, ainda, o seguinte: I – será dirigido ao órgão perante o qual o recur- so independente fora interposto, no prazo de que a parte dispõe para responder; II – será admissível na apelação, no recurso extra- ordinário e no recurso especial; III – não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for ele considerado inad- missível. CPC/1973 Art. 500. Cada parte interporá o recurso, in- dependentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Sendo, porém, vencidos au- tor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir a outra parte. O recurso adesivo fica subordinado ao recurso principal e se rege pelas disposições seguintes: I - será interposto perante a autoridade com- petente para admitir o recurso principal, no prazo de que a parte dispõe para responder; II - será admissível na apelação, nos embargos infringentes, no recur- so extraordinário e no recurso especial; III - não será conhecido, se houver desistência do recurso principal, ou se for ele declarado inadmissível ou deserto. ARTIGO 997 Artigo 997, ‘caput’ e parágrafos 1º e 2º do CPC/2015 Sentido idêntico ao do artigo 500, ‘caput’ e incisos I, II e III e parágrafo único do CPC/1973 Os recursos continuam a ser considerados independentes entre si Recurso adesivo Procedimento a ser observado O artigo 997, ‘caput’ e parágrafos 1º e 2º do novo CPC preser- vam o mesmo sentido do artigo 500, ‘caput’ e incisos I, II e III e parágrafo único do CPC/1973. Este dispositivo trata da independência dos recursos, do re- curso adesivo e do procedimento aplicável em relação a este. O legislador dividiu a redação do artigo 500 do CPC/1973 a fim de conferir maior clareza e organicidade ao novo dispositivo legal. Apesar dessa divisão, conforme já era previsto no Código re- vogado, a regra continua a mesma: cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo e com observância das exigências legais (‘caput’). Entretanto, como bem pontuado por José Carlos Barbosa Mo- reira: “...a parte que estiver inclinada a confor- mar-se com o julgamento, mas apenas sob a condição de que também o adversário se abstenha de recorrer, pode aguardar sem sobressalto o decurso do prazo comum: so- brevindo o termo final sem que a outra parte impugne a decisão, esta passa em julgado e torna-se imune a qualquer modificação; se, ao contrário, a outra parte interpuser recur- so, e o processo houver de subir, por isso, ao grau superior de jurisdição, abre-se ain- da ao litigante que de início se conservara inerte, e a despeito de já esgotado aquele prazo, a possibilidade de tentar obter do órgão ad quem pronunciamento que me- lhore a sua própria situação. Assim, se evita a interposição precipitada do recurso pelo “vencido” em parte, graças à certeza, que se lhe proporciona, de que terá, caso queira, nova oportunidade de impugnar a decisão no que lhe interesse” (Comentários ao Código de Processo Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, p. 348). Ou seja, o pressuposto principal do apelo adesivo é o confor- mismo condicional. Conservou, para tanto, o CPC/2015, o manejo do ‘recurso ade- sivo’: sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir o outro (parágrafo 1º), ou seja, o pressuposto principal do apelo adesivo é o condicional. Da redação do referido dispositivo legal, extrai- -se que um requisito essencial para o cabimento e conhecimento do recurso adesivo é a existên- cia de sucumbência recíproca entre autor e réu (TJSC – Ap. Cív. n. 0001186-87.2014.8.24.0078, rel. Des. João Batista Góes Ulysséa, j. 12.6.2017). Assim, não se conhece do recurso adesivo quan- do a sentença for de procedência, uma vez que não há sucumbência recíproca (artigo 997, pará- grafo 1º do CPC/2015), requisito este indispen- sável para sua admissibilidade (TJMS – Ap. Cív. n. 0800224-79.2016.8.12.0018, rel. Des. Eduardo Machado Rosa, j. 7.3. 2017) Essa reciprocidade deve se dar entre as partes que recorrem, de modo que, havendo litiscon- sórcio, só se admite recurso adesivo se estiver ca- racterizada sucumbência recíproca entre a parte que apelou e aquela que recorreu adesivamen- te (STJ - REsp n. 1.202.275-MA, rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 3.11.2015). O artigo anterior analisado (996), tratava do re- curso de terceiro prejudicado e do Ministério Público. Todavia, como bem pontua José Carlos Barbosa Moreira: ARTIGO 997 “Não há “recurso adesivo” de terceiro preju- dicado, nem do Ministério Público nos pro- cessos onde não ocupava, no momento da decisão, a posição de parte. Tampouco se pode “aderir” a recurso de terceiro prejudi- cado, nem a recurso interposto pelo Minis- tério Público, se este até então não era par- te, mas apenas fiscal da lei: o dispositivo fala em terem ficado “vencidos autor e réu” e, a seguir, em “adesão” da outra parte ao “recur- so interposto por qualquer deles”. Quer isso dizer que ao terceiro prejudicado ou ao Mi- nistério Público (fora dos casos em que seja parte) corre sempre o ônus de interpor, no prazo comum, recurso independente. Não podem aguardar o esgotamento do prazo, a fim de resolver se recorrerão ou não” (Comentários ao Código de Processo Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, pp. 359/360) Isso porque, segundo conclui o mesmo autor: “A legitimação passiva toca ao litigante que haja interposto o recurso principal. Esse é que, no “adesivo”, figurará como recorrido” (Comentários ao Código de Processo Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, p. 360) A existência e a manutenção do recurso adesivo no sistema processual brasileiro visa atender política legislativa e judiciá- ria de solução mais célere dos litígios (artigo 4º do CPC/2015). Por isso, do ponto de vista teleológico, não se deve interpre- tar o artigo 997 do CPC/2015 de forma substancialmente mais restritiva do que se faria com os artigos alusivos à apelação, por exemplo, mesmo porque “ao recurso adesivo se aplicam as mesmas regras do recurso independente, quanto às condi- ções de admissibilidade e julgamento no tribunal” (STJ – REsp n. 1.109.249-RJ, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 7.3.2013). Portanto, o recurso adesivo não é espécie recursal, mas ape- nas modalidade de interposição, podendo-se assim concluir pela leitura do artigo 994 do CPC/2015: O “recurso adesivo” não vem contemplado expressamente como um “recurso” pro- priamente dito. Mas fique atento: i) dentre os requisitos de admissibilidade exigidos pelo parágrafo 2º, a sua interposição exige petição (peça) independente, não podendo constar da- quela em que se apresentas as contrarrazões (TJMT – Ap. Cív. n. 173513/2016, rel. Des. Serly Marcondes Alves, j. 15.2.2017) e ii) o recurso adesivo também não deve ser conhecido se proto- colado anteriormente à apelação (TJRO – Ap. Cív. n. 0022865- 11.2012.8.22.0001. rel. Des. Moreira Chagas, j. 5.7.2016). Por isso, não precisa guardar correlação temática (de mérito) coma do recurso principal, nem exige sucumbência recíproca na mesma lide (STJ – REsp n. 332.826-MG, rel. Min. Aldir Passa- rinho Junior, j. 7.2.2002). O prazo para a interposição do recurso adesivo é de 15 (quinze dias) úteis - artigo 219, ‘caput’ do CPC/2015 -, por interpretação analógica dos artigos 1.003, parágrafo 5º e 1.010, parágrafos 1º e 2º do CPC/2015, contados a partir da intimação para a apre- sentação das contrarrazões. Observe que, tanto o apelante, como o apelado deverá ser intimado para apresentar contrarra- zões no prazo de quinze dias (artigo 1.010, pa- rágrafos 1º e 2º), como corolário do princípio do contraditório (artigo 5º, inciso LV da CRFB/88), norma fundamental do processo civil (artigo 10 do CPC/2015). E o recurso adesivo, tal como consta expressa- mente do parágrafo 2º do artigo sob comento, continua subordinado ao recurso independen- te, sendo-lhe aplicáveis as mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julga- mento no tribunal, salvo disposição legal diver- sa, observado, ainda, as seguintes regas: I – será dirigido ao órgão perante o qual o recur- so independente fora interposto, no prazo de que a parte dispõe para responder; II – será admissível na apelação, no recurso extra- ordinário e no recurso especial; e, III – não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for ele considerado inad- missível. ARTIGO 997 Por derradeiro, muito embora o rol do inciso II acima seja taxa- tivo (STJ - AgRg nos EREsp n. 611.395-MG, rel. Ministro Gilson Dipp, j. 7.6.2006), diante da nova sistemática processual de o juiz decidir parcialmente o mérito (artigo 356 do CPC/2015 – julgamento antecipado parcial do mérito), filiamo-nos ao se- guinte entendimento de Daniel Amorim Assumpção Neves: “Com o advento do Novo Código de Processo Civil e a possibilidade do julgamento parcial do mérito de forma definitiva, por meio de decisão interlocutória recorrível por agravo de instrumento, parece ser mais adequado a ampliação das hipóteses de cabimento ao menos para essa hipótese. Afinal, nesse caso o agravo de instrumento cumpre no sistema a mesma função da apelação: im- pugnar decisão definitiva de mérito, profe- rida mediante cognição exauriente e juízo de certeza” (Novo Código de Processo Civil Comentado, Ed. JusPodivm, 2017, p. 1.680). JURISreferência™ 1. Extinção da ação e da reconvenção, ao fundamento de ausência de condição de ação. Sucumbência recíproca. In- terposição, pelo autor ou pelo reconvinte, de recurso ade- sivo ao de apelação. Possibilidade. STJ: “2. Julgadas extintas a ação e a reconvenção, por ausência de condição da ação, não descaracteriza a sucumbência recíproca apta a propiciar o ma- nejo do recurso adesivo, pois “[a] ‘sucumbência recíproca’ há de caracterizar-se à luz do teor do julgamento considerado em seu conjunto; não exclui a incidência do art. 500 o fato de haver cada uma das partes obtido vitória total neste ou naquele capítulo”. 3. Recurso especial parcialmente provido para que o tribunal de origem prossiga no julgamento do recurso adesivo, dando por superado o invocado óbice ao seu conhecimento” (REsp n. 1.109.249-RJ, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 7.3.2013). 2. Condições pessoais relativas ao preparo não aproveitam ao recorrente adesivo. A assistência judiciária de que goza a parte que interpõe o recurso principal não se estende à parte contrária, que dela não frui, pelo que imprescindível o recolhimento do preparo do adesivo, sob pena de deser- ção (STJ - REsp n. 912.336-SC, rel. Min. Aldir Passarinho Junior, j. 2.12.2010). 3. O pressuposto de cabimento do recurso adesivo se faz em relação à vitória e derrota parciais na ação por intei- ro, e não quanto a um ou outro pedido específico (REsp n. 535.125/PR, 4ª Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, unânime, DJU de 23.08.2004).Destarte, se a parte restou vencida nos danos materiais, podia aviar recurso adesivo para postular a elevação dos morais, fixado sem patamar que reputou insatisfatório, ainda que, na exordial, hou- vesse deixado ao arbítrio do juízo o estabelecimento do quantum respectivo (STJ - REsp n. 543.133-PR, rel. Min. Aldir Passarinho Junior, j. 5.5.2009). ARTIGO 998 CPC/2015 Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tem- po, sem a anuência do recorrido ou dos litiscon- sortes, desistir do recurso. Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela obje- to de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos. CPC/1973 Art. 501. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso. ARTIGO 998 Artigo 998, ‘caput’ do CPC/2015 Sentido idêntico ao do artigo 501 do CPC/1973 Até quando poderá o recorrente desistir do recurso O artigo 998, ‘caput’ do novo CPC conservou o mesmo sentido do artigo 501 do CPC/1973, ou seja, a qualquer tempo, o recor- rente poderá, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsor- tes, desistir do recurso. A desistência do recurso é ato jurídico unilateral, que indepen- de da concordância do recorrido e pode ser efetuada a partir da efetiva interposição até o momento imediatamente ante- rior ao julgamento (STJ - AgRg no REsp n. 433.920-PR, rel. Min. Eliana Calmon, j. 1º.4.2003), mesmo que o processo esteja em pauta para julgamento ou já se tenha iniciado o julgamento e proferido o voto pelo relator (STJ - RMS n. 20.582-GO, rel. Min. Francisco Falcão e relator para o acórdão Min. Luiz Fux, j. 18.9.2007), nesta última hipótese, inclusive, oralmente, na res- pectiva sessão de julgamento. Mas, segundo decidido pelo próprio Superior Tribunal de Jus- tiça, “não é possível a homologação de pedido de desistência de recurso já julgado, pendente apenas de publicação de acór- dão” (STJ - AgRg no AgRg no Agravo n. 1.392.645-RJ, rel. Min. Herman Benjamin, j. 21.2.2013). Observe, ainda, que a desistência, uma vez manifestada, opera efeitos processuais imediatos, não dependendo sequer de ho- mologação judicial (STJ - REsp n. 7.243-RJ, rel. Ministro Milton Luiz Pereira, j. 7.6.1993), sendo, portanto, nulo o julgamento re- alizado após a manifestação da desistência (STJ - EDcl no REsp n. 38.924-SP, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 9.2.1994). Porém, fique também atento ao seguinte precedente do Egré- gio Superior Tribunal de Justiça: “Deve prevalecer, como regra, o direito da parte à desistência, mas verificada a exis- tência de relevante interesse público, pode o relator, mediante decisão fundamentada, promover o julgamento do recurso especial para possibilitar a apreciação da respectiva questão de direito, sem prejuízo de, ao final, conforme o caso, considerar prejudicada a sua aplicação à hipótese específica dos au- tos” (STJ - REsp n. 1.308.830-RS, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 8.5.2012). Quanto a esse particular, Daniel Amorim Assumpção Neves, invocando o artigo 200, ‘caput’ do CPC/2015 (com redação idêntica a do artigo 158, ‘caput’ do CPC/1973), entende que esse entendimento é inadequado, equivocado e insustentável. Todavia, bem analisado esse precedente – onde havia existên- cia de relevante interesse público - não se pode interpretar o presente comando legal de forma isolada, atendo-se apenas à sua literalidade e ignorando o contexto em que está inserido, sobretudo pela inovação trazida pelo parágrafo único deste ar- tigo, ou seja, um julgamento com relevante interesse público pode equiparar-se a um julgamento de recurso especial repeti- tivo. E mais. Como bem deixou consignado o v. acórdão, a exe- gese do atual artigo 998, ‘caput’ do CPC/2015 deve ser feita à luz da realidade surgida após a criação daquela Corte Superior, levando-se em consideração o seu papel, que transcende ode ser simplesmente a última palavra em âmbito infraconstitucio- nal, sobressaindo o dever de fixar teses de direito que servi- rão de referência para as instâncias ordinárias de todo o país. A partir daí, infere-se que o julgamento dos recursos submetidos ao Superior Tribunal de Justiça ultrapassa o in- teresse individual das partes nele envolvidas, alcançando toda a coletividade para a qual suas decisões irradiam efeitos. O novo Código de Processo Civil (e o CPC/1973) além da desistência prevista neste artigo, prevê a renúncia ao direito de recorrer (artigo 999 do CPC/2015), institutos que não se pode confundir, como bem assinalou José Carlos Barbosa Morei- ra: “Não se confunde a desistência com a renúncia ao recurso: aquela pressupõe recurso já interposto; nesta, ao contrário, o renunciante abre mão previamente do seu di- reito de impugnar a decisão” (Comentários ao Código de Processo Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, p. 375). ARTIGO 998 E no que se refere ao recorrente adesivo (artigo 997, parágra- fos 1º e 2º do CPC/2015 e o qual analisamos anteriormente), segundo o mesmo José Carlos Barbosa Moreira: “Mesmo o recorrente “adesivo” não se pode dizer prejudicado pela desistência do recor- rente principal: na verdade, aquele só terá impugnado a decisão porque este o fize- ra; se quisesse obter novo julgamento sob quaisquer circunstâncias, caber-lhe-ia o ônus de interpor, no prazo normal, recurso independente. Não raro, aliás, a parte que recorre “adesivamente”, na prática, menos pretenderá conseguir na verdade o plus que pleiteia do órgão ad quem do que simples- mente exercer sobre o adversário pressão psicológica no sentido de que desista do re- curso principal: essa é que será, no fundo, a real finalidade colimada pela “adesão”, de sorte que tal desistência se apresenta aos olhos do recorrente “adesivo” como resulta- do plenamente satisfatório” (Comentários ao Código de Processo Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, p. 377). Uma vez manifestada a intenção de desistir do recurso - que independe de homologação judicial - não se admite retratação em razão do efeito imediato do ato praticado. Por fim, observe que a desistência do recurso, quando apre- sentada por advogado, reclama poderes especiais, a teor do expressamente preconizado no artigo 105 do CPC/2015. e Pro- cesso Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, p. 377). Uma vez manifestada a intenção de desistir do recurso - que independe de homologação judicial - não se admite retratação em razão do efeito imediato do ato praticado. Por fim, observe que a desistência do recurso, quando apre- sentada por advogado, reclama poderes especiais, a teor do expressamente preconizado no artigo 105 do CPC/2015. Artigo 998, parágrafo único do CPC/2015 Inovação significativa O que poderá ser analisado mesmo desistindo o recorrente do recurso A desistência do recurso, segundo a inédita redação deste pa- rágrafo único, não impede a análise de duas questões. São elas: I - cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida; e, II - daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos. Humberto Theodoro Júnior bem analisa a inovação legislativa. “Semelhante tese já era defendida doutri- nariamente, entre outros, por Marinoni e Mitidiero, sobre o argumento de que “com o reconhecimento da repercussão geral e com a escolha do recurso como paradigma de recursos repetitivos julga-se a partir do caso para a obtenção da unidade do direi- to”. Dessa maneira, “pouco importa o caso individual em si, sobrelevando o interesse na obtenção da unidade do direito. Daí a ra- zão pela qual, ainda que se deva admitir a desistência do recurso para os efeitos de ex- o recorrente da eficácia da decisão daquele recurso, tendo em conta o princípio da demanda – expres- são processual do valor que a or- dem jurídica reconhece a liberda- de de agir em juízo e a autonomia privada -, a desistência não tem o condão de impedir a resolução de questão com repercussão geral e a fixação de precedente em proces- sos repetitivos, dado o interesse público primário na obtenção da unidade do direito mediante atu- ação do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça”. “Portanto, após a desistência do recorrente, o STF e o STJ prosse- guirão no julgamento do recurso repetitivo e de repercussão geral, não mais a benefício da parte que o promoveu, porque em sua re- ferência o feito se extinguiu, for- mando-se a coisa julgada, nos ter- mos do decidido pelo tribunal de origem; mas em busca de fixação de uma tese de direito a prevale- cer, uniformemente, na política constitucional judiciária, para to- dos os casos a que tenha aplica- ção”. (Curso de Direito Processual Civil, Vol. III, 49ª edição, Ed. GEN/Forense, pp. 998/999). ARTIGO 998 JURISreferência™ 1. Concedida antecipação dos efeitos da tutela em recurso adesivo, não se admite a desistência do recurso principal de apelação, ainda que a petição de desistência tenha sido apresentada antes do julgamento dos recursos (STJ - REsp n. 1.285.405-SP, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16.12.2014). 2. O pedido de desistência do mandado de segurança, sem a anuência da parte adversa, somente é possível antes da prolação da sentença. Após, cabível é apenas a desistência unilateral do recurso, nos termos do art. 501, do CPC, que também se aplica, nesse caso, ao recurso especial. (REsp 550.770-CE, DJ 4.12.2006) (STJ - REsp n. 291.059-PR, rel. Min. Humberto Martins, j. 21.6.2007). 3. Na hipótese de as partes firmarem acordo, não é necessá- ria a intervenção do Judiciário, sendo pertinente o pedido de desistência formulado (STJ - REsp n. 1.370.698-SP, rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 21.11.2013). ARTIGO 999 CPC/2015 Art. 999. A renúncia ao direito de recorrer inde- pende da aceitação da outra parte. CPC/1973 Art. 502. A renúncia ao direito de recorrer in- depende da aceitação da outra parte. ARTIGO 999 Artigo 999 do CPC/2015 Redação idêntica a do artigo 502 do CPC/1973 Renúncia ao direito de recorrer Continua independendo de aceitação da outra parte, a renún- cia ao direito de recorrer. A renúncia é negócio jurídico pelo qual a parte, expressa ou ta- citamente, manifesta a vontade de não interpor recurso, cons- tituindo-se em fato impeditivo do direito de recorrer, indepen- dendo até mesmo da aceitação pela outra parte, ou seja, como bem destaca José Carlos Barbosa Moreira: “Não exige a lei forma especial para a renún- cia. Todavia, dadas as características do ato, entende-se que deve constar de petição es- crita, dirigida ao órgão perante o qual pen- de o feito. Não há necessidade da lavratura de termo, nem de homologação judicial (art. 158). Com a desistência do recurso, a renúncia ao direito de recorrer tampouco admite condi- ção ou termo. O texto reza expressamente que ela “independe da aceitação da outra parte” (Comentários ao Código de Processo Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, p. 391). Não se renuncia a direito de recorrer depois de interposto o recurso. Depois de já interposto, desiste-se de recurso (artigo 998, ‘caput’). Como bem esclarece Jorge Amaury Nunes: “Em outras palavras, desiste-se do recurso que foi interposto; renuncia-se ao recurso que pode ser interposto, mas que ainda não o foi” (Comentários ao Código de Processo Civil, Ed. Saraiva, vá- rios autores, 1ª edição, 2ª tiragem, 2016, p. 1.317). Como bem assinala Humberto Theodoro Júnior: “Há duas espécies de renúncia ao direito de recurso: (i) a tácita, que decorre da simples decadência do prazo recursal; e (ii) a expres- sa, que se traduz em manifestação de vonta- de da parte. É da segunda que cogita o art. 999, admitindo-a,independentemente da anuência da parte contrária, ou do litiscon- sorte, por se tratar de ato unilateral. A renúncia pode manifestar-se em petição, ou mesmo oralmente na audiência. A lei não exige forma especial. A desistência deve ser pedida em petição. O advogado, para renunciar ao recurso, ou dele desistir, de- pende, naturalmente, de poderes especiais. Não há necessidade de homologação judi- cial, em face do disposto no art. 200, caput. A exigência especial do parágrafo único da- quele dispositivo, que condiciona os efeitos do ato da parte à homologação judicial refe- re-se unicamente à desistência da ação” (Curso de Direito Processual Civil, Vol. III, 49ª edição, Ed. GEN/Forense, pp. 999). ARTIGO 999 Destacamos, ainda, precedente do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, no sentido de que anterior e expressa renúncia ao direito de recorrer, impõe o não conhe- cimento do recurso adesivo, por configurar preclusão lógica, ante a pratica de ato incompatível com a interposição do re- curso (TJRS – Ap. Cív. n. 70067353169, rel. Des. Umberto Guas- pari Sudbrack, j. 19.5.2016). Nessa quadra – recurso adesivo – destacamos também esse posicionamento de Humberto Theodoro Júnior: “Fica, todavia, assegurado o direito ao re- nunciante ou desistente de valer-se do re- curso adesivo, caso venha a outra parte a recorrer após a renúncia ou desistência” (Curso de Direito Processual Civil, Vol. III, 49ª edição, Ed. GEN/Forense, pp. 999). Lembramos, como acontece com a desistência do recurso (ar- tigo 998 do CPC/2015), que a renúncia ao direito de recorrer, quando apresentada por advogado, reclama poderes espe- ciais, a teor do preconizado no artigo 105 do CPC/2015 e itera- tiva orientação pretoriana: “Desacompanhada de advogado, a parte não pode renunciar ao direito de recorrer” (Lex-JTA 139/66)”” (TJSC – AI n. 2000.009975-9, rel. Des. Orli Rodrigues, j. 11.6.2002). ARTIGO 1000 CPC/2015 Art. 1.000. A parte que aceitar expressa ou taci- tamente a decisão não poderá recorrer. Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem nenhuma reserva, de ato incompa- tível com a vontade de recorrer. CPC/1973 Art. 503. A parte, que aceitar expressa ou taci- tamente a sentença ou a decisão, não poderá recorrer. Parágrafo único. Considera-se aceitação tá- cita a prática, sem reserva alguma, de um ato incompatível com a vontade de recorrer. ARTIGO 1000 Artigo 1.000, ‘caput’ do CPC/2015 Sentido idêntico ao do artigo 503, ‘caput’ do CPC/1973 Aquiescência da decisão Expressa ou tácita O artigo 1.000, ‘caput’ do CPC/2015 preserva o mesmo sentido do artigo 503, ‘caput’ do CPC/1973, ou seja, não poderá recor- rer a parte que aceitar (ou aquiescer) expressa ou tacitamente a decisão. O ato praticado demonstra a anuência com a deci- são, de modo que a impossibilidade de interpor o recurso é uma mera consequência desse ato de concordância da parte. Segundo José Carlos Barbosa Moreira: “Quem aquiesce a uma decisão, repita-se, simplesmente se curva diante do julgado, aceita-o, sem que a sua vontade se volte de modo direto para a abstenção de utilizar os recursos acaso cabíveis” (Comentários ao Código de Processo Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, p. 394). A aquiescência pode ser expressa ou tácita. Aceitação expressa é aquela traduzida em manifestação por escrito, quer ao órgão jurisdicional, como a parte contrária. Já a tácita, é a prática, sem nenhuma reserva, de algum ato in- compatível com a vontade de recorrer (vide parágrafo único abaixo). Segundo Daniel Amorim Assumpção Neves, são exemplos de aquiescência: “...: o pagamento da condenação, o levan- tamento de valores depositados na ação consignatória, apresentação das contas exi- gidas na ação de prestação de contas, deso- cupação do imóvel e entrega das chaves na ação de despejo, a realização de transação” (Novo Código de Processo Civil Comentado, Ed. JusPodi- vm, 2017, p. 1.685). ARTIGO 1000 Artigo 1.000, parágrafo único do CPC/2015 Sentido idêntico ao do artigo 503, parágrafo único do CPC/1973 Aceitação tácita No que consiste Este parágrafo único manteve o mesmo sentido do artigo 503, parágrafo único do CPC/1973. Trata ele da aceitação tácita, que é definida como a prática, sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a vontade de recorrer. A renúncia tácita, como já decidido pelo Superior Tribunal de Justiça, amparado na melhor doutrina, “tem como pressuposto a prática de ato incompatível com a vontade de recorrer e, sob o aspecto temporal, esse ato deve ser praticado após profe- rida a decisão (entendimento de José Carlos Barbosa Moreira e Pontes de Miranda)” (ED em REsp n. 1.104.853-PR, rel. Min. Denise Arruda, j. 25.11.2009). Anotamos, ainda, que a desistência do prazo recursal, embora não configure desistência do recurso, nem renúncia expressa ao direito de recorrer, caracteriza ato incompatível com aquele propósito e denota renúncia tácita, inviabilizando o conheci- mento do reclamo manejado. Finalmente, acerca dos efeitos da aquiescência, valho-me, no- vamente, das preciosas lições de José Carlos Barbosa Moreira: “A aquiescência é, como a renúncia, fato ex- tintivo do direito de recorrer e torna inad- missível o recurso porventura interposto, antes ou depois dela, pelo aquiescente. Ine- xistindo outro obstáculo, a decisão transita imediatamente em julgado, O recurso que se interponha após a aquiescência deve ser indeferido; do que já pendia quando ela ocorreu não se deve conhecer. (...) É evidente que, se for parcial a aceitação, os efeitos apontados unicamente se produzi- rão no tocante à parte da decisão a que se tiver aquiescido” (Comentários ao Código de Processo Civil, 3ª edição, 1978, Volume V, Ed. Forense, p. 397). O SAJ ADV é um software jurídico que integra diversos se- tores do escritório de advocacia em uma única plataforma. Ele opera na nuvem e conta com uma interface responsiva que se adapta a qualquer formato de tela, seja do compu- tador, do tablet ou do smartphone. O SAJ ADV pode ser acessado 24 horas por dia, em qualquer dispositivo com acesso à internet. Para conhecer mais benefícios desta so- lução, clique aqui e teste gratuitamente por 15 dias. ei, não vá embora! ;) teste agora
Compartilhar