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Chica da Silva

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Ricardo Henrique Diniz Klever RA: 21092315
Museu Casa da Chica – Diamantina/MG
A desconstrução de um mito.
A atual cidade de Diamantina (MG) é fortemente marcada pelas tradições do passado e pela arquitetura colonial dos tempos da mineração e extração diamantífera. Diamantina foi fundada como Arraial do Tijuco em 1713, no entanto, a descoberta dos primeiros diamantes, em 1720, transformou efetivamente a vida do Arraial, de forma que representou a maior lavra de diamantes do mundo ocidental no século XVIII e como consequência desta trajetória exploratória Minas Gerais foi o estado que tinha a maior população de escravos negros neste mesmo século sendo boa parte destes situados nas extrações em Diamantina e região.
Diamantina também é conhecida na história por uma das personagens mais famosas da época do Brasil colônia: Chica da Silva – a escrava que virou rainha. E um local importante para entender essa história e este mito é o Museu Casa da Chica. Francisca da Silva de Oliveira nasceu no povoado de Milho Verde, no Arraial do Tijuco, a data é imprecisa, entre 1731 e 1735. Era filha de branco português, o capitão das ordenanças Antônio Caetano de Sá, e da negra Maria da Costa, que veio da África ainda criança, da Costa da Guiné. Como a mãe não havia sido alforriada e a relação era ilegítima, pouco importava seus genes europeus, ela herdou a condição de escrava. O envolvimento de Chica da Silva com João Fernandes, começou quando o contratador veio para Diamantina substituir o pai nos negócios de diamante. Essa união, vivida no apogeu da exploração do diamante na região durante o período colonial, rendeu a Chica da Silva uma carta de alforria e uma posição social, algo que jamais fora alcançado por um escravo.
Porem todo um mito que se construiu e popularizou em nossos dias onde Chica é retratada como uma mulher imoral que usava da sua sensualidade para conseguir as regalias que queria. Isto nada mais é do que o resultado de um dos estereótipos do papel da mulher negra na sociedade colonial, sendo este construído pelos próprios historiadores, a partir do século XIX. Chica da Silva sobreviveu exclusivamente na cultura oral por mais de 100 anos. Até 1868, quando o advogado diamantinense Joaquim Felício dos Santos, escreveu sobre ela em suas Memórias do Distrito Diamantino onde mais uma vez sua imagem foi deturpada. Na década de 1970, Xica da Silva tomou o país. O filme modificou até a grafia do nome e fez com que a figura da ex-escrava negra fosse hipersensualizada.
Conhecer a Chica com "ch" é descobrir que a pretensa "democracia racial" do Brasil é um mito tão sem fundamento como o da própria escrava que foi rainha. A média de um filho a cada treze meses faz desmoronar a figura sensual e lasciva, devoradora de homens, à qual Chica sempre esteve ligada. Em uma época onde a única forma de ascensão social para uma mulher negra era o concubinato. Este mito nos mostra um momento da solidificação da estrutura familiar patriarcal mineira, que se transforma no século XX em uma das representações da chamada "democracia racial". Pois, uma mulher de origem escrava que buscou formas de se inserir na sociedade por meio do branqueamento se torna símbolo de resistência ao domínio colonial português.

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