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terceirizacao efeitos sobre as relacoes de trabalho

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TERCEIRIZAÇÃO:
 EFEITOS SOBRE AS
 RELAÇÕES DE TRABALHO
Seminário
Caderno do participante
Coleção Seminários de Negociação
Seminário Terceirização: efeitos
sobre as relações de trabalho
São Paulo, 2004
Coleção Seminários de Negociação
Caderno do participante
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE4
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 5
SUMÁRIO
Apresentação
n O DIEESE
n Capacitação em negociação
 coletiva
n Características do Programa
 de Capacitação em
 Negociação – PCN
n Como uma entidade sindical
 pode ter um PCN
n Terceirização: efeitos sobre as
 relações de trabalho – o tema
 no DIEESE
Aspectos gerais
n Características do seminário
Programa
n Percurso da atividade
Anexos
n Anexo 1 – Exercício para
 reestruturação da empresa
n Anexo 2 – Texto:
 A terceirização no setor
 empresarial privado: entre a
 crista da onda e o novo padrão
n Anexo 3 – Texto:
 A terceirização no setor
 público brasileiro
n Ficha Individual
 de Avaliação
 7
 7
 7
 7
 8
11
13
15
17
33
49
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE6
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 7
APRESENTAÇÃO
O DIEESE
O DIEESE1 é uma entida-
de técnica do movimento sindical bra-
sileiro que atua nas áreas de pesquisa,
assessoria e educação, em temas rela-
cionados ao mundo do trabalho. Cria-
da em 1955, não tem correspondên-
cia em outra parte do mundo.
A instituição é mantida por
entidades sindicais sócias, como
órgão intersindical, em quinze es-
tados e no Distrito Federal. Sua
direção sindical é composta pelas
diferentes correntes do sindica-
lismo brasileiro.
Os temas estratégicos de a-
tuação do DIEESE são a negocia-
ção coletiva, o emprego e a renda,
trabalhados por uma equipe técni-
ca multidisciplinar.
Capacitação em negociação coletiva
A luta sindical abrange dife-
rentes ações como mobilização,
greve, articulação, organização, en-
tre outras, e leva, quase sempre, a
momentos ou a processos de nego-
ciação em que há disputa de inte-
resses. Preparar-se para desenvol-
ver essas ações é um dos desafios
de todo dirigente sindical.
Para responder a esta neces-
sidade, o DIEESE criou o Progra-
ma de Capacitação em Negociação
– PCN, que procura contribuir para
o desenvolvimento e aperfeiçoa-
mento das habilidades de negocia-
ção do dirigente sindical e para for-
talecer sua capacidade de ação e de
organização coletiva, permitindo
que ele conheça e compreenda o
objeto das negociações e o ambi-
ente em que elas ocorrem.
O seminário Terceirização:
efeitos sobre as relações de trabalho,
como parte do PCN, pretende co-
locar à disposição do movimento
sindical o trabalho de pesquisa, as-
sessoria, educação e a experiência
do DIEESE na área de negocia-
ção coletiva.
Características do Programa
de Capacitação em Negociação – PCN
Com o PCN, o DIEESE ofe-
rece oportunidades intencionais e
continuadas de capacitação a diri-
gentes e assessores sindicais. O ob-
jetivo é possibilitar a construção de
conhecimento sobre questões da
negociação coletiva.
O PCN trabalha quatro di-
mensões relacionadas à negociação:
l O ambiente da negociação: con-
texto socioeconômico em que a
negociação se dá historicamente e
o marco institucional definido pelo
sistema de relações de trabalho;
l O tipo de negociação: por empre-
sa, categoria ou setor; bi, tri ou
pluripartite; as etapas e o processo
de negociação;
l O objeto da negociação: a pauta
da negociação, ou seja, salário, pro-
dutividade, jornada, participação
nos lucros e resultados, condições
de trabalho, entre vários outros
itens.
l As habilidades do negociador: ca-
pacidade de pessoas e grupos para
a negociação.
Como uma entidade sindical
pode ter um PCN
O PCN está concebido para
ser desenvolvido a partir de deman-
das sindicais. Assim, para cada caso,
será proposto um processo diferen-
te, por intermédio de um progra-
ma de formação.
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE8
Esse trabalho poderá ser re-
alizado diretamente pela equipe do
DIEESE ou em cooperação com os
formadores da entidade deman-
dante. Os participantes poderão
receber certificados.
Para conversar sobre um PCN,
entre em contato com os Escritórios
Regionais ou com o Escritório Nacio-
nal do DIEESE.
Terceirização: efeitos sobre as relações
de trabalho – o tema no DIEESE
O tema da terceirização é an-
tigo, entretanto, no Brasil começou
a se difundir na década de 80. No
início se restringiu a alguns setores
e aos poucos tomou fôlego e se ex-
pandiu para diferentes atividades.
O DIEESE, já em meados da
década de 80, com o trabalho das
subseções, inicia a discussão dessa
temática com o movimento sindical.
Vários estudos começam a ser elabo-
rados em diferentes sindicatos do
país, particularmente para as entida-
des de bancários, petroleiros, meta-
lúrgicos, químicos e petroquímicos.
Esses trabalhos também en-
volveram a assessoria às entidades
sindicais, com subsídio às discussões
e às negociações travadas sobre a
terceirização e debates sobre as di-
ferentes implicações da terceiri-
zação no cotidiano dos trabalhado-
res. Entretanto, foi no início da dé-
cada de 90 que o DIEESE, com
uma pesquisa, pôde se dedicar com
maior ênfase a essa questão.
Durante o ano de 1992 e o
início de 1993, o DIEESE reali-
zou uma pesquisa sobre tercei-
rização com diferentes categorias
profissionais.O resultado desse le-
vantamento encontra-se na Pesqui-
sa DIEESE nº 7, Os trabalhadores
frente à terceirização, lançado em
maio de 1993. Esse estudo teve
grande impacto sobre o meio sin-
dical e foi tema de importantes
discussões e debates realizados
com os dirigentes sindicais em
todo o país. Foi também referência
para a discussão do tema, para ou-
tras instituições da sociedade, como
por exemplo, a imprensa e a acade-
mia. Embora 10 anos tenham se pas-
sado desde a edição da pesquisa, o
trabalho ainda representa uma im-
portante referência para a discussão
da terceirização no país.
Em 1993, a subseção do
DIEESE, em 1993, do Sindicato
dos Metalúrgicos do ABC publi-
cou a cartilha Os trabalhadores e a
terceirização, destacando os im-
pactos da terceirização sobre o tra-
balho, em particular, sobre o tra-
balhador metalúrgico.
Resultado do esforço coleti-
vo da Linha Bancários, o DIEESE
publicou em julho de 1994 o segun-
do número dos Estudos Setoriais,
com o tema da Terceirização e reestru-
turação produtiva no setor bancário no
Brasil. Este estudo, elaborado pelas
subseções do DIEESE presentes
em diferentes entidades sindicais de
bancários do país, representou um
importante instrumento de discus-
são de estratégia para o movimento
sindical bancário, uma vez que a
terceirização foi e ainda é utilizada
como um instrumento de ajuste pro-
dutivo dos bancos no país.
A discussão da terceirização
no setor público também mereceu
destaque nos trabalhos realizados
pelo DIEESE. Em setembro de
1993 foi produzido o texto A ter-
ceirização no setor público: o modelo
paulista de privatização, que desta-
cou o debate sobre o modelo de
a p r e s e n t a ç ã o
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 9
contratação de mão-de-obra ter-
ceirizada em diferentes empresas
estatais de São Paulo e apresentou
uma discussão sobre os efeitos
deste modelo sobre as condições
de trabalho.
Ainda sobre o setor público,
o DIEESE produziu em dezembro
de 1993 o artigo Terceirização dos ser-
viços em empresas públicas de serviços
essenciais – saneamento básico, crise e
privatização, que analisava as estra-
tégias do recurso da terceirização no
setor público.
Durantea década de 90, o
processo de terceirização avançou
em diferentes setores produtivos e
os trabalhos anteriormente desen-
volvidos pelo DIEESE serviram de
referência para as eventuais ações
sindicais sobre o tema.
Atualmente, a terceirização
retorna com maior força à agenda
sindical, pois revestiu-se de nova
roupagem e é novamente utilizada
como estratégia de reestruturação
das grandes, médias e até mesmo
pequenas empresas, tanto do setor
privado como público.
A terceirização e suas conse-
qüências sobre o mundo do traba-
lho têm adquirido, assim, importân-
cia cada vez maior para o movimen-
to sindical brasileiro. Importantes
categorias profissionais já realizam
discussões de pautas e rodadas de
negociações específicas sobre esse
tema, diante do impacto sobre os tra-
balhadores. Essas demandas mobi-
lizaram o DIEESE a desenvolver o
seminário. Durante seis meses, cer-
ca de 15 técnicos desenvolveram
materiais e textos de apoio ao pro-
cesso de negociação e formação dos
dirigentes sindicais brasileiros sobre
a terceirização.
1. Conheça mais sobre o Departamento Inter-
sindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos
– DIEESE e sua produção técnica visitando o sítio
na internet: www.dieese.org.br
a p r e s e n t a ç ã o
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE10
a p r e s e n t a ç ã o
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 11
ASPECTOS GERAIS
Características do seminário
Objetivos
O seminário Terceirização: efei-
tos sobre as relações de trabalho visa ofe-
recer aos participantes a oportunida-
de de refletir sobre o processo de
terceirização, a partir da percepção
que possuem desta questão no coti-
diano de trabalho. Parte da experi-
ência individual para, envolvendo
todo o grupo, trazer elementos que
permitam a reflexão sobre o tema na
interface da relação capital e traba-
lho, abordando elementos históricos
que orientam a terceirização e seus
determinantes e os diferentes discur-
sos que legitimam esses processos.
Também são apresentados
elementos que capacitam os parti-
cipantes para esta discussão, em
um contexto mais amplo, como in-
teresses e a estrutura institucional
que moldam os processos de ter-
ceirização no Brasil. Para isso, a ati-
vidade reconstrói o conceito de
terceirização a partir do conheci-
mento dos participantes e de refle-
xões possibilitadas pela vivência de
situações de representação sobre
este tipo de processo e da leitura
de textos especialmente prepara-
dos para o seminário.
O percurso desenvolvido es-
tá ancorado na abordagem históri-
ca, com ênfase no modelo brasilei-
ro, e busca um olhar que permita a
percepção dos limites e dos desafi-
os que a terceirização impõe ao
movimento sindical, representan-
te de trabalhadores assalariados do
setor privado e público.
São objetivos da atividade:
sistematizar o conhecimento cole-
tivo sobre terceirização, abordando
elementos do cotidiano dos traba-
lhadores, dos discursos dos diferen-
tes atores sociais, dos interesses e
da gestão que determinam as regras
vigentes e a dinâmica da tercei-
rização no Brasil; levar os partici-
pantes a reconhecerem a terceiri-
zação como um processo, fazendo
com que despertem para a neces-
sidade da preparação contínua para
a discussão e a negociação deste
tema, com planejamento, acompa-
nhamento e avaliação das ações.
Atualização e reprodução
do material
Entre os materiais do kit pode
haver alguns que precisem de atuali-
zação regular. Em caso de dúvida ou
para atualizá-los, envie mensagem
para gt_imprensa@dieese.org.br.
Está autorizada a reprodu-
ção total ou parcial do material re-
ferente ao seminário, desde que
citada a fonte.
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE12
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 13
PROGRAMA
Percurso da atividade
1º DIA
n Abertura e apresentação dos
 participantes
n Expectativas, programa e
 funcionamento do grupo
n A experiência sindical da
 terceirização
n Ação sindical e terceirização
2º DIA
n Ação sindical e terceirização
 1. Visão empresarial
 da terceirização
 2. Aspectos teóricos e práticos
 da terceirização
3º DIA
n Ação sindical e terceirização
n Avaliação
n Encerramento
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE14
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 15
ANEXO
atividade: a‹o sindical e terceiriza‹o —
a vis‹o empresarial da terceiriza‹o
nú
m
er
o 
1
Exercício para reestruturação da empresa
n SITUAÇÃO A
Você que está lendo este papel acabou de ser contratado pela ESEEID CONSULTORIAS.
A ESEEID é uma organização que presta consultoria a empresas que buscam melhorar a
eficiência de mão-de-obra e assim aumentar a produtividade e conseqüentemente a
competitividade.
Recentemente, a ESEEID assinou um contrato com a empresa S&D Ltda., que prevê a
assessoria direta no processo de reestruturação e modernização da companhia.
A S&D Ltda. é uma empresa do setor têxtil, produtora de moda íntima feminina.
A moda íntima feminina, apesar de representar um produto de consumo de massa, é
complexa, resultado da associação de diversas partes e que tem em seu processo
produtivo inúmeras etapas e diferentes linhas de produção.
A S&D Ltda., como muitas empresas nacionais, mantém uma administração tradicional.
Sua origem é familiar e seu controle ainda está nas mãos da família do fundador.
Também é tradicional na gestão de pessoal e mantém em seu quadro de funcionários 10
mil trabalhadores de diferentes qualificações que exercem todas as funções necessárias
à produção, distribuição e venda dos produtos, bem como as funções administrativas e
operacionais, tais como cobrança, marketing, telemarketing, contabilidade, limpeza,
vigilância, cozinha e muitos outros relacionados ao suporte do trabalho.
Sua função, como técnico da ESEEID CONSULTORIAS, é montar um plano de
reestruturação organizacional e gerencial que modernize as estruturas da S&D Ltda.,
aumente a produtividade da empresa, reduza custos e melhore a capacidade dela de
concorrer no mercado internacional dominado pelas indústrias alemãs e francesas.
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE16
a n e x o 1
atividade: a‹o sindical e terceiriza‹o —
a vis‹o empresarial da terceiriza‹o
Exercício para reestruturação da empresa
n SITUAÇÃO B
Você que está lendo este papel é funcionário da S&D Ltda.
A S&D Ltda é uma empresa do setor têxtil, produtora de moda íntima feminina.
A moda íntima feminina, apesar de representar um produto de consumo de massa, é
complexa, resultado da associação de diversas partes e que tem em seu processo
produtivo inúmeras etapas e diferentes linhas de produção.
A S&D Ltda., como muitas empresas nacionais, mantém uma administração tradicional.
Sua origem é familiar e seu controle ainda está nas mãos da família do fundador.
Também é tradicional na gestão de pessoal e mantém em seu quadro de funcionários 10
mil trabalhadores de diferentes qualificações, que exercem todas as funções
necessárias à produção, distribuição e venda de produtos, bem como as funções
administrativas e operacionais, tais como cobrança, marketing, telemarketing,
contabilidade, limpeza, vigilância, cozinha e muitos outros relacionados ao suporte do
trabalho.
Atualmente, corre pelos corredores da empresa que a atual diretoria teria contratado
uma Consultoria, com a tarefa de reestruturar toda a empresa.
Como representante sindical, sua tarefa é levantar dados sobre o processo de
terceirização, pensar sobre ele e nos impactos sobre o trabalho e os trabalhadores.
O sindicato recentemente foi chamado para debatercom a empresa e a consultoria o
processo de terceirização.
Assim, você agora está em uma reunião com diversos trabalhadores a fim de debater os
motivos dessas mudanças e o que pode acontecer na empresa e na vida dos
funcionários a partir dessa reestruturação.
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 17
ANEXO
nú
m
er
o 
2
atividade: a‹o sindical e terceiriza‹o —
aspectos te—ricos e pr‡ticos da terceiriza‹o
A terceirização no setor empresarial
privado: entre a crista da onda e o
novo padrão
DIEESE. Janeiro, 2004
Introdução
Como ocorre em relação aos
mais diversos temas inerentes ao
mundo do trabalho no Brasil, o
DIEESE já havia abordado a ex-
pansão significativa do processo de
terceirização na economia brasilei-
ra, em princípios dos anos 90. Vári-
os textos foram produzidos, semi-
nários organizados e um caderno de
pesquisas especialmente dedicado
ao tema foi publicado em 1993.
Pouco mais de 10 anos depois, ao
retomar o debate sobre a tercei-
rização, focalizamos agora em par-
ticular o que se passou no setor pri-
vado ao longo da última década do
século XX e nos anos iniciais do
novo século.
Revisitar as análises sobre o
processo de terceirização no setor
empresarial privado constitui-se
numa interessante empreitada. Por
um lado, o próprio termo terceirização
– de avassaladora presença no início
dos anos 90 – deixa de aparecer com
a mesma freqüência. Por outro lado,
o processo segue seu curso. Neste
texto, argumenta-se que a tercei-
rização, configurada como uma nova
“onda” na gestão das relações entre
empresas no tecido econômico bra-
sileiro do início dos anos 90, trans-
forma-se progressivamente em um
dos aspectos constituintes de um
novo padrão de organização empre-
sarial no setor privado, seja toman-
do-se as unidades geradoras de bens
e serviços como foco de análise, seja
tomando-se os principais setores
econômicos e, em particular, o setor
industrial.
Este argumento será apre-
sentado e discutido em três movi-
mentos. No primeiro tópico, são re-
tomados os conceitos principais e
as características do processo de
terceirização na economia brasilei-
ra, no início dos anos 90. No segun-
do item, discute-se a evolução do
processo de terceirização a partir do
resgate e da análise de pesquisas
elaboradas a partir da segunda me-
tade dos anos 90. O terceiro tópico
aborda a terceirização como aspec-
to integrante de um novo padrão
de relações interempresariais, no
setor empresarial privado, e relaci-
onada a outros pilares de um novo
padrão de gestão empresarial que
se configura especialmente nos se-
tores e empresas de ponta da eco-
nomia brasileira. Finalmente, o
quarto tópico conclui com uma dis-
cussão sobre o rebatimento dessa
transformação para as relações de
trabalho, e em particular para a or-
ganização e a ação sindical na socie-
dade brasileira.
A rumorosa onda da
terceirização
O termo terceirização passou
a ocupar espaço nas discussões re-
lacionadas ao mundo do trabalho
no Brasil a partir do início dos anos
90, mas evidentemente não se tra-
tava de um processo absolutamen-
te novo. Tratava-se, a rigor, de um
novo termo cunhado para caracte-
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE18
a n e x o 2
rizar a crescente e rumorosa trans-
ferência de atividades realizadas
por empresas de grande porte me-
diante a contratação de outras em-
presas (em geral de menor porte),
em meio à acelerada reestruturação
produtiva que buscava responder a
transformações estruturais do pa-
drão de concorrência na economia
brasileira. Em particular, buscava-
se readequar a configuração produ-
tiva de empresas e setores então
sujeitos à competição com produ-
tos oriundos do exterior, mediante
progressivas e expressivas reduções
de barreiras às importações.
Nesse sentido, a terceiri-
zação pode ter dois significados di-
versos e eventualmente comple-
mentares. Por um lado, traduz a
desativação, parcial ou total, de seto-
res produtivos,1 com a empresa prin-
cipal deixando de produzir (bens
ou serviços) e passando a comprá-
los de outras empresas, denomina-
das terceiras. O segundo significado
refere-se à contratação de uma ou
mais empresas terceiras que alocam
trabalhadores para a realização de al-
gum serviço ou parte do processo
produtivo no interior da empresa
principal (ou empresa-mãe, como
se convencionara denominar as
empresas contratantes).2
O contexto em que se pro-
paga de modo rumoroso a tercei-
rização no setor empresarial brasi-
leiro, durante o início dos anos 90,
está demarcado por uma importan-
te transformação do cenário econô-
mico brasileiro – e especialmente
do cenário industrial. Trata-se da
abertura do mercado brasileiro a
produtos (em maior grau) e servi-
ços (em menor grau), que se vin-
cula ao intenso movimento de rees-
truturação dos sistemas e cadeias
produtivas, conduzido seja pelo
próprio setor privado, seja estimu-
lado por programas governamentais
lançados a partir de 1990, a exem-
plo do Programa Brasileiro de Qua-
lidade e Produtividade – PBQP.
Nesse cenário, a terceiri-
zação passa a contribuir de modo
significativo para a desverticali-
zação do tecido industrial brasilei-
ro, resultando no enxugamento de
recursos e de áreas mobilizados an-
teriormente pelas grandes empre-
sas das principais cadeias produti-
vas. Aqui duas possibilidades são
abertas: a terceirização por dentro
corresponde à contratação de fir-
mas terceiras para a execução de
atividades no próprio estabeleci-
mento da empresa contratante. A
terceirização para fora associa-se
aos conceitos de outsourcing3 , me-
diante a contratação de insumos e
serviços de outras empresas capa-
zes de fornecê-los, e ao global sour-
cing, mediante a aquisição de insu-
mos e serviços em qualquer lugar
do planeta, possibilidade gradual-
mente incrementada, no caso bra-
sileiro, pelas sucessivas reduções de
alíquotas de importação na primei-
ra metade dos anos 90.
Entretanto, a terceirização à
brasileira desse período não se resu-
me apenas a isso. A forte retração da
economia brasileira ao longo do cur-
to governo Collor acelera e intensifi-
ca esse processo, associando-o à pers-
pectiva de redução de custos e am-
pliando, em alguma medida, a re-
tração da massa salarial como resul-
tado da diminuição de remunerações
pagas pelas maiores empresas e dos
salários menores, vigentes nas em-
presas subcontratadas, ou seja, nos se-
tores terceirizados. No mesmo senti-
do, a terceirização tem também o sig-
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 19
a n e x o 2
nificado de flexibilização, ao possibi-
litar a transferência da responsabili-
dade por alguns investimentos antes
realizados pela empresa, que agora
terceiriza algumas de suas atividades,
bem como a transformação de custos
fixos (os recursos pertencentes à em-
presa) em custos variáveis, relativos
aos recursos contratados pela empre-
sa em firmas terceiras, apenas quando
necessário.
As motivações da terceiri-
zação vinculam-se, portanto, à idéia
de flexibilização, procurando con-
trapor-se ao conceito da grande
empresa vertical, hierarquizada,
fordista enfim, no sentido microe-
conômico do termo. Redução de
custos, racionalização, especializa-
ção, qualidade e produtividade,
mudança organizacional e tecno-
lógica emergem como aspectos as-
sociados a este movimento no prin-
cípio dos anos 90. Um outro lado
dessa moeda é o enfraquecimento
do movimento sindical, também
apontado naquele período como um
dos objetivos da onda terceirizante
que passa a atravessar as principais
empresas e cadeias produtivas do
país. O discurso da eficácia empre-
sarial é a palavra de ordem que
acompanha a terceirização; a prática
muitas vezes se revela como degra-
dante e pouco virtuosa.
Se a terceirizaçãofica asso-
ciada à redução da massa salarial,
desde a primeira metade da déca-
da de 90, e a precarização das con-
dições de trabalho aparece clara-
mente como conseqüência da mera
estratégia de redução de custos
adotada por uma parcela significa-
tiva das empresas de grande e mé-
dio portes, por outro lado não se dá
a compensação propagandeada em
relação ao nível de emprego. O
mercado de trabalho formal enco-
lhe em meio à reestruturação e
desestruturação dos diversos com-
plexos produtivos que caracterizam
a diversa economia brasileira. Os
segmentos industriais são os mais
afetados e o eventual crescimento
do setor de serviços não recompõe
os postos de trabalho destruídos na
indústria como um todo. Ao final
de 1999, a indústria brasileira fecha-
ria o balanço com 4,7 milhões de
empregos formais, contra 6,2 mi-
lhões em 1989 (Sabóia, 2001:88).
Finalmente, cabe ressaltar
uma característica importante da
terceirização como onda, na pri-
meira metade da década de 90. A
terceirização avança nesse período
principalmente no que se con-
vencionou chamar de atividades
de apoio e, mais especificamente,
atividades de apoio à gestão: de
apoio administrativo, em áreas
como limpeza, segurança interna,
transporte e alimentação. No que
diz respeito às áreas de apoio mais
correlatas à produção, as principais
atividades terceirizadas concentra-
vam-se na manutenção de equipa-
mentos e sistemas, e na elabora-
ção de projetos.4 No que diz res-
peito a etapas do processo produ-
tivo, o ato de terceirizá-las corres-
pondia geralmente ao chamado
outsourcing ou ao global sourcing,
mediante a opção de compra de
insumos de empresas terceiras
para posterior entrada no processo
produtivo da contratante. Eram,
portanto, muito raras – ou mesmo
inexistentes naquele período – as
iniciativas de terceirização de fa-
ses produtivas mediante a con-
tratação de empresas terceiras que
operavam no mesmo espaço fabril
da contratante. Essa característica
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE20
sofrerá uma importante mudança
na segunda metade dos anos 90,
como será visto no próximo tópico.5
O silencioso avanço da
terceirização
Em contraposição à rumo-
rosa onda em que se constitui a
terceirização no início dos anos 90,
a segunda metade da década é
marcada por um silencioso avanço
do processo, como parte da ampla
reestruturação produtiva que carac-
teriza a transformação das princi-
pais empresas instaladas no Brasil.
No plano regional, vale res-
gatar o estudo sobre a reestruturação
produtiva na indústria de Santa
Catarina, produzido pelo DIEESE,
em 1997. Focalizando seis dos prin-
cipais segmentos industriais daque-
le Estado,6 o trabalho assinala que
“...a terceirização disseminou-se em
todos os setores pesquisados, espe-
cialmente na área de apoio e nos
serviços necessários à produção ...”
O principal destaque era para a in-
dústria metalmecânica, onde se en-
contravam casos de terceirização de
atividades produtivas como zin-
cagem, tratamento térmico, usina-
gem, caldeiraria e ferramentaria.
No caso do setor têxtil, ati-
vidades de confecção também fo-
ram reportadas como objeto de
terceirização7, de acordo com o tra-
balho. Entrevista com diretoras do
Sindicato das Costureiras do Gran-
de ABC (primeiro semestre de
2003) confirma a crescente tercei-
rização de atividades vinculadas à
confecção, com o surgimento de
pequenas oficinas informais ali-
mentando empresas de médio por-
te, ou mesmo com a intensificação
do trabalho em domicílio nesse seg-
mento industrial. Na capital pau-
lista, é notória a existência de esta-
belecimentos clandestinos que se
baseiam no trabalho de imigrantes
bolivianos, concentrados em parti-
cular no bairro do Bom Retiro.8
Outra análise realizada no
âmbito regional se refere ao Gran-
de ABC, que se torna a ponta-de-
lança do crescente avanço da indus-
trialização brasileira a partir de mea-
dos dos anos 50. Focalizando a rees-
truturação empresarial naquela re-
gião, Klink (2001:149-50) resgata
um conjunto de estratégias defen-
sivas que se intensificam ao longo
dos anos 90, mostrando o seu vigor
particularmente nas duas principais
cadeias produtivas da região, a au-
tomotiva e a petroquímica. Como
se poderá notar, tais estratégias es-
tão relacionadas de alguma manei-
ra ao processo de terceirização de
atividades:
l a redução das escalas de opera-
ção, através dos cortes drásticos
nos custos fixos e nos quadros de
trabalhadores;
l a ampliação das importações de
insumos;
l a desativação de linhas de produção;
l a seleção criteriosa de fornecedo-
res, e por fim,
l a intensificação de processos de
desverticalização e de subcontratação,
objetivando descentralizar riscos e
custos fixos para outras unidades que
compõem a cadeia produtiva.
 No que diz respeito direta-
mente aos processos de subcon-
tratação, o mesmo autor se apóia
nos dados da Pesquisa da Ativida-
de Econômica Paulista (Paep), con-
duzida pela Fundação Seade, em
1996, distinguindo o impacto sobre
a economia regional a partir de dis-
tintos focos de terceirização verifi-
a n e x o 2
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 21
cados (Klink, 2001:159-69). Um
primeiro grupo de atividades, em
tese com maior efeito encadeador
para a economia regional, estaria
nos serviços do chamado terciário
avançado, compatíveis com a traje-
tória industrial precedente e volta-
dos à elevação dos valores agrega-
dos das principais cadeias produti-
vas. Nesse plano estariam serviços
tipicamente de apoio à produção
industrial, como o desenvolvimen-
to de novos produtos, a execução
de projetos de engenharia, a logís-
tica industrial, os ensaios de insu-
mos e produtos e a manutenção de
máquinas e equipamentos.
Klink (2001:161) nota que, em
meados dos anos 50, era a manuten-
ção dos equipamentos que se desta-
cava nesse grupo em termos de difu-
são da terceirização nas empresas
pesquisadas, enquanto os demais
itens ainda mostravam um menor
grau de subcontratação. Contraria-
mente, era na terceirização de ativi-
dades relacionadas à informatização
e de apoio básico (limpeza, alimenta-
ção etc.) que residia ainda o maior
impacto da reestruturação no plano
das relações entre empresas. Todavia,
a ocorrência de subcontratação de ati-
vidades do primeiro grupo (apoio di-
reto à produção) era claramente su-
perior nas empresas do setor auto-
motivo em relação às demais, seja
no ABC ou fora do ABC (Klink,
2001:162-3), já confirmando a ace-
leração desse processo, a partir da
desverticalização das montadoras
e grandes empresas de autopeças
daquele segmento empresarial.9
É importante também notar
a ocorrência desse processo simul-
taneamente a uma reestruturação
interna da gestão empresarial e dos
processos produtivos, caracterizada
pela adoção de técnicas just in time,
da produção flexível em células e
de qualidade total, além de uma
maior ênfase à inovação de produ-
tos e processos por parte das em-
presas do Grande ABC comparati-
vamente ao restante do Estado
(Klink, 2001:172).
Outro elemento impulsio-
nador desse avanço é a privatização
de empresas estatais, em suas dife-
rentes esferas (federal, estadual e
municipal), que contribui de modo
decisivo para o esvaziamento de
equipes permanentes vinculadas às
referidas empresas, como se pode
verificar claramente pela subcon-
tratação de atividades (dentre ou-
tras) como a manutenção de redes
elétricas, de redes telefônicas, a lei-
tura de medidores desses serviços
de interesse público, seus sistemas
de atendimento ao cidadão, a segu-
rança de agências bancárias, entre os
diversos exemplos possíveis.10
As relações interempresas
e o novo padrão produtivo
dos anos 90
A reestruturação acelera-se,
portanto, a partir do início dos anos
90, sendo a onda da terceirização
um de seus elementosmais carac-
terísticos, no caso do setor privado
brasileiro. Esse processo avançaria
ao longo da década, levando à trans-
formação significativa dos padrões
de concorrência, tecnológico e orga-
nizacional nos principais setores
industriais da economia brasileira.
Leda Gitahy (2000), a partir
de quatro pesquisas realizadas ao
longo dos anos 80 e 90, caracteriza
esse quadro de transformações co-
mo uma mudança do paradigma de
organização industrial típico da eco-
a n e x o 2
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE22
nomia brasileira. Com análises nos
setores metalmecânico e eletrôni-
co do Estado de São Paulo, de auto-
peças em São Paulo, Rio de Janei-
ro e Rio Grande do Sul, e de calça-
dos em São Paulo e Rio Grande do
Sul, bem como a partir de um estu-
do específico sobre o complexo
automotivo (Gitahy e Bresciani,
1998), a referida autora destaca um
conjunto de mudanças intrafirmas
e interfirmas que caracterizam um
novo paradigma da organização in-
dustrial brasileira (Gitahy, 2000).11
As principais mudanças que carac-
terizam essa transformação são a-
presentadas nos Quadros 1 e 2 ( no
final do texto) e tomam como base
principal o estudo realizado por
Gitahy e Bresciani (1998) para o
complexo automotivo.
Quanto mais relevante o po-
sicionamento de determinada em-
presa ou de suas unidades produti-
vas em seus respectivos mercados,
mais complexidade assume o pro-
cesso de terceirização, indo para
além da transferência de atividades
mais simples (como a limpeza, ali-
mentação, segurança etc) que carac-
terizam a onda inicial dos anos 90.
Nesse sentido, a terceiriza-
ção configura-se como elemento
integrante de uma profunda rees-
truturação das relações interem-
presas que se verificam nos dife-
rentes mercados e cenários socioe-
conômicos, dialogando, por um
lado, com o aprofundamento da
chamada globalização ou mundia-
lização dos fluxos econômico-pro-
dutivos, e, por outro lado, com no-
vos padrões de concorrência e de
configuração tecnológica e organi-
zacional que demarcam a indús-
tria da virada do século XX para o
século XXI, como exemplificado
pelos Quadros 2 e 3, com o regis-
tro das transformações no comple-
xo automotivo brasileiro e que se
difundem para outros segmentos
empresariais em nosso país.
O Quadro 2 estaria portan-
to fundamentalmente vinculado
ao que Britto (1997:292) caracte-
riza como estratégia “ofensiva”
de terceirização, baseada em in-
tensa cooperação e na “integração
de competências ao longo das ca-
deias interindustriais, o que refor-
çaria a capacitação produtiva e
tecnológica”, visando portanto
uma maior eficácia técnica e eco-
nômica do conjunto de empresas
envolvidas.12 Enquanto estratégias
“defensivas” – marcadas pela trans-
ferência de custos, responsabilida-
des, riscos e encargos – foram típi-
cos da onda terceirizante do princí-
pio dos anos 90 (inclusive no setor
de telequipamentos analisado pelo
autor), Gitahy (2000) aponta para a
crescente complexidade das rela-
ções interfirmas, verificando portan-
to claras tendências de mudança
abrangente e ofensiva, como ante-
cipado por autores cujos estudos
datam da primeira metade daquela
década.13
Claro está que o grau dessa
complexidade nos arranjos inter-
firmas que se constituem a partir
dos anos 90 é também mais ou
menos avançado, especialmente
em função do comportamento ado-
tado pelas suas empresas líderes,
aspecto que é também destacado
por Carleial (1997:321-3), em seu
estudo sobre a indústria eletro-ele-
trônica de Curitiba. O que cabe em
especial assinalar, a partir de todo o
processo de reestruturação produ-
tiva ocorrido ao longo dos anos 90,
é a importância de análises criterio-
a n e x o 2
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 23
sas que considerem a possibilida-
de de diferentes características dos
processos de terceirização, vincula-
dos a transformações nos padrões
de concorrência, tecnologia e ges-
tão das empresas, bem como a
mudanças nas estruturas de gover-
nança dos diversos arranjos/com-
plexos industriais ou dos diferen-
tes segmentos de serviços.
A terceirização como
parte do novo padrão
produtivo: implicações
para a organização
sindical no Brasil
Desde o início da rumorosa
onda da terceirização em princípi-
os dos anos 90, este se tornou um
tema relevante para as relações de
trabalho e a organização sindical no
Brasil, dada a variedade de impli-
cações que acompanhava e segue
acompanhando o referido proces-
so. As pesquisas do DIEESE pu-
blicadas em 1993 e 1997 davam
conta disso, de modo bastante si-
milar. No primeiro caso, o destaque
vai para os relatos de precarização
das condições de trabalho, em suas
diversas dimensões: jornada, saúde
e segurança, salários e benefícios.
No segundo caso, os princi-
pais relatos de sindicatos e traba-
lhadores enfatizavam a precariza-
ção das condições de trabalho, o
aumento da insegurança no traba-
lho (em suas mais diversas formas),
a redução de postos de trabalho, a
informalização de vínculos de em-
prego, a redução de salários e mas-
sas salariais, a dificuldade de aces-
so a treinamento para os trabalha-
dores de firmas terceiras, o descon-
trole sobre as jornadas de trabalho,
perante a quase absoluta ausência
dos sindicatos na condução de pro-
gramas de terceirização e de rees-
truturação produtiva (DIEESE,
1997:18).14
Pertence a Aparecido Faria
(1994:40-60) uma das mais interes-
santes e pioneiras abordagens so-
bre a terceirização e os desafios que
esta impunha à organização sindi-
cal. Dentre os efeitos da terceiri-
zação, relacionados pelo autor, en-
contram-se de redução salarial e
redução do número de empregos
até desmobilização sindical e dimi-
nuição do número de trabalhado-
res sindicalizados.
Almeida Neto (2003:68) a-
ponta a redução de custos de pro-
dução como o motor fundamental
da terceirização, especialmente via
redução de salários e benefícios,
mas nota seu uso também como
forma de fragmentação das catego-
rias profissionais e enfraquecimen-
to de sindicatos. Esse aspecto se
confirma não apenas pela redução
de remunerações brutas pagas a tra-
balhadores de empresas terceiras,
como se vincula também à nova
regulamentação dos contratos de
trabalho temporário, que resultou
no corte de alguns “encargos” inci-
dentes sobre os salários nominais.15
Também a maior complexi-
dade, grau de cooperação ou vir-
tuosidade do novo arranjo inter-
firmas não significa garantia de
avanços do ponto de vista das con-
dições de trabalho e especialmen-
te da remuneração e dos benefíci-
os não-salariais auferidos pelos tra-
balhadores. Em um cenário de ele-
vadas taxas de desemprego, obser-
va-se que a reestruturação produti-
va é acompanhada, por um lado, de
níveis mais elevados de treinamen-
to e qualificação profissional, e, por
a n e x o 2
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE24
outro lado, pela crescente redução
da renda do trabalho. Outro aspec-
to que permanece relevante nos
processos de terceirização é a dife-
renciação ou segregação social cons-
tituída pelas diferentes condições de
contratação entre os empregados
com vínculo trabalhista com a em-
presa principal e os empregados
“subcontratados” de empresas me-
nores, por vezes operando à margem
da economia formal, diferenciação
esta que se acentua à medida que
diminui a complexidade ou o status
da atividade terceirizada.16
Em suma, se a precarização
do trabalho permanece como carac-
terística da terceirização “à brasilei-
ra”, típica da rumorosa onda dos
anos 90, a continuidade e a com-
plexidade dos processos de reestru-
turação produtiva impõem um o-
lhar cuidadoso e capaz de distin-
guir, na maior parte dos casos, a
ocorrência de distintas experiênci-
as de terceirização em uma mesma
empresaou arranjo produtivo, em
um leque de possibilidades que vai
da redução de custos e degradação
do trabalho, em um extremo, à co-
operação interfirmas com base no
trabalho qualificado e especializa-
do, no outro.
Nesse sentido, o principal
desafio do movimento sindical bra-
sileiro se refere à própria capacida-
de de representação de entidades
criadas para atuar em âmbitos ge-
ralmente restritos de uma configu-
ração setor/categoria/local clara-
mente extemporânea ante a trans-
formação da economia brasileira,
não apenas ao longo dos anos 90,
mas tomando-se inclusive toda a
segunda metade do século XX.
Resolver a referida equação, envol-
vendo estrutura e representação (já
identificada em diversos momen-
tos da história brasileira, do início
do século passado até o período
contemporâneo), bem como com-
preendendo a complexidade, a di-
versidade e o caráter permanente
da mudança nos padrões de produ-
ção de bens e serviços, eis uma ne-
cessidade que parece imperiosa e
inadiável para o movimento sindi-
cal brasileiro.
a n e x o 2
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 25
a n e x o 2
Quadro 1
Transformações no interior das empresas
Fonte: Gitahy e Bresciani (1998:30); Gitahy (2000:18)
1. BASE TÉCNICA
(inovações tecnológicas)
2. ORGANIZAÇÃO E GESTÃO
DA PRODUÇÃO
3. NOVAS FORMAS DE GESTÃO
E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
4. NOVAS CONCEPÇÕES DE
GESTÃO PRODUTIVA
n maior grau de automação dos processos;
n maior flexibilidade dos equipamentos;
n sistemas informatizados permeando a gestão.
n mudanças no layout das plantas
(mini-fábricas, células);
n programas de qualidade e produtividade, visando
melhoria contínua e redução dos “desperdícios” e
custos associados (estoques, retrabalho, defeitos,
tempo de circulação de materiais, tempo de
preparação de máquinas e do lead-time).
n mudança nas atribuições profissionais dos
trabalhadores envolvidos nas atividades
operatórias;
n maior tendência à polivalência;
n maior responsabilidade pela condução
do processo;
n introdução do conceito de equipe de trabalho.
n redução dos níveis hierárquicos da empresa;
n treinamento técnico e comportamental;
n nova postura gerencial;
n programas participativos;
n remuneração variável/participação nos resultados;
n fábricas focalizadas.
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE26
a n e x o 2
Quadro 2
Transformações na relação interfirmas
Fonte: Gitahy e Bresciani (1998:30); Gitahy (2000:19)
1. NOVAS FORMAS
DE RELAÇÃO
COM O MERCADO
2. DESENVOLVIMENTO
DE REDES DE RELAÇÕES
INTERFIRMAS
3. MUDANÇAS
ORGANIZACIONAIS
4. REPERCUSSÃO
DE NOVOS PRODUTOS
n implantação do sistema just in time para adaptação da
estrutura da firma às instabilidades da demanda qualitativa e
quantitativa do mercado;
n focalização dos processos, redefinição de produtos e
clientes (especialização);
n flexibilização das condições operacionais da empresa;
n uso de novos materiais e componentes.
n com fornecedores – criando parcerias seletivas e um nível de
estabilidade que permita garantias de atendimento em termos de
qualidade do material fornecido e dos prazos de entrega. Essa
parceria inclui muitas vezes assistência técnica da grande
empresa (ou central, na rede) na direção de seus fornecedores,
sejam eles de componentes ou serviços de apoio direto à produção;
n com subcontratadas “externas” – que passam a realizar
partes da produção ou elaborar componentes e peças dos
produtos finais das grandes empresas, ou prestar serviços que
são executados fora das fronteiras físicas da grande empresa;
n com subcontratadas “internas” – que passam a realizar
determinadas atividades de apoio direto à produção
(manutenção, ferramentaria, engenharia de projetos,
engenharia de métodos, entre outros).
n constituição de condomínios industriais;
n formação do “consórcio modular”.
n obsolescência de componentes e modelos;
n desenvolvimento de novos materiais e componentes alternativos.
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 27
a n e x o 2
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Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE30
a n e x o 2
1. Cf. DIEESE, 1993:5.
2. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
(2001) registra no mesmo sentido, à página 2700 o
verbete Terceirização como “ato ou efeito de
terceirizar; forma de organização estrutural que
permite a uma empresa transferir a outra suas ati-
vidades-meio, proporcionando maior disponibili-
dade de recursos para sua atividade-fim[...];
contratação de terceiros, por parte de uma empre-
sa, para a realização de atividades geralmente não
essenciais [...]”. Também os verbetes Terceirizar
e Terceiro fazem menção ao referido processo.
3. No sentido oposto, a tomada ou retomada de
responsabilidade das empresas anteriormente
contratantes sobre atividades anteriormente
terceirizadas é denominada de insourcing. Algu-
mas empresas executam o referido movimento ao
longo da década, sem configurar todavia uma onda
contrária de mesmo porte.
4. Cf. DIEESE, 1993:17-8.
5. A respeito dessas características e peculiarida-
des da terceirização no cenário brasileiro, vide Fa-
ria (1994:43).
6. Alimentos, cerâmica, metalmecânica, papel e
celulose, plásticos e têxtil (DIEESE, 1997).
7. Entrevista com diretoras do Sindicato das Costurei-
ras do Grande ABC (primeiro semestre de 2003) con-
firma a crescente terceirização de atividades vincula-
das à confecção, com o surgimento de pequenas ofi-
cinas informais alimentando empresas de médio por-
te, ou mesmo com a intensificação do trabalho a do-
micílio nesse ramo. Esse movimento havia sido ana-
lisado anteriormente por Abreu e Sorj (1993).
8. Essa face típica da terceirização nas grandes me-
trópoles é mostrada de forma clara pelo diretor Ken
Loach no filme Pão e rosas, sobre imigrantes lati-
no-americanos trabalhando em atividades tercei-
rizadas por empresas norte-americanas.
9. Cf. Klink, 2001:162-7.
10. É interessante notar que até mesmo a chamada
“indústria do futebol” – um dos segmentos com
maior expressão na chamada economia do entre-
tenimento – foi afetada por esse processo, com o
surgimento de grandes e pequenas firmas de agen-
ciadores (“empresários”) que intermediam a ofer-
ta de trabalhadores – no caso atletas profissionais
– para os clubes. A partir do caso pioneiro do Grê-
mio Maringá, na primeira metade dos anos 90, clu-
bes de certa expressão chegaram a terceirizar todo
o seu departamento de futebol, colocando-o sob o
comando de “empresas”, exemplo recente da tra-
dicional Portuguesa de Desportos. Situação inusi-
tada viveu no início de 2004 a Portuguesa de San-
tos, com uma disputa jurídica entre o clube e uma
empresa contratada para controlar as atividades re-
lacionadas ao seu futebol profissional; durante al-
gumas semanas, havia dois grupos de atletas sen-
do preparados em locais distintos para a disputa
do torneio seguinte.
11. Como observa a autora (Gitahy, 2000:16), a
pesquisa sobre um processo de mudança sempre é
demarcada pela “coexistência de elementos de
transformação e conservação”, que se apresentam
de modo distinto de acordo com o contexto especí-
fico e o estágio do processo.
12. Estudos recentes sobre novas configurações de
arranjos interfirmas na indústria automobilística bra-
sileira estão também presentes em Salerno (2001),
Zawislak e Melo (2002), Ramalho e Santana (2002).
13. São os casos do próprio Britto (1997) e anteri-
ormente de Faria (1993).
14. A terceirização como modo de flexibilização do
trabalho e algumas ações sindicais relacionadas a
esse foco, na primeira metade dos anos 90, encon-
tram-se em Bresciani (1997).
15. A título de exemplo, o site de uma empresa que
oferece apoio a processos de terceirização compara
os custos finais de um empregado com contrato pela
CLT e outro pela legislação dos contratos por tempo
determinado. Para salários nominais idênticos, o
valor desembolsado pela empresa, no primeiro
caso, é acrescido de 70,5% e, no segundo caso, de
54,6% (www.employer.com.br/man_tec.asp?item-
1/, em 01-nov-1003). Cabe notar que o surgimento
de cooperativas muitas vezes está associado a um
processo de terceirização, que visa reduzir o custo
do trabalho por parte da empresa principal.
16. Santos (1997) focaliza particularmente esta se-
gregação estudando as operações da Cia. Vale do
Rio Doce na região da Serra dos Carajás (PA).
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 31
a n e x o 2
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ANEXO
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atividade:a‹o sindical e terceiriza‹o —
aspectos te—ricos e pr‡ticos da terceiriza‹o
Terceirização no setor público
brasileiro
DIEESE. Dezembro, 2003
Introdução
Este texto foi elaborado com
a finalidade de subsidiar o debate
no movimento sindical sobre as for-
mas e o processo de terceirização
adotado no setor público brasileiro
e, também, pretende apontar al-
guns de seus impactos sobre con-
dições de trabalho, remuneração e
organização sindical no local de tra-
balho. Com estes objetivos, o texto
está organizado em três seções. Na
primeira, serão abordados as ori-
gens e os aspectos legais/jurídicos
intrínsecos ao processo de tercei-
rização no setor público, bem como
os limites legais existentes a essa
forma de contratação na adminis-
tração pública. Na segunda seção,
serão apresentadas algumas formas
ou instrumentos usados no setor
público para terceirizar atividades ou
prestação de serviços à sociedade.
Na última seção, serão considerados
alguns efeitos da terceirização na
ótica das condições de trabalho, de
remuneração e na organização sin-
dical no local de trabalho.
Do ponto de vista concei-
tual, numa perspectiva da adminis-
tração de recursos, a terceirização é
uma estratégia e prática de gestão,
que se caracteriza, em essência,
pelo repasse de um serviço ou pro-
dução de um determinado bem
para outras empresas ou entidades/
instituições externas, por meio de
assinatura de contratos entre as par-
tes. Ela corresponde, assim, a um
processo de transferência ou dele-
gação a outros de funções ou ativi-
dades antes desenvolvidas interna-
mente, podendo vir a englobar tan-
to etapas do processo produtivo de
um bem ou serviço, de forma total
ou parcial, ou apenas atividades
consideradas de apoio como limpe-
za, vigilância, transporte, dentre
outras. Tais atividades ou funções
transferíveis a terceiros, em geral,
criam formas diversas de relações
de parceria entre as partes, medi-
ante o cumprimento de regras ne-
gociadas entre ambas, a partir da
legislação pertinente.
É importante também sali-
entar, para além do conceito, que
numa perspectiva histórica, essa
prática de gestão do trabalho e or-
ganização da produção constituiu-
se em um recurso muito difundido
no âmbito das empresas capitalis-
tas, como um dos elementos de
enfrentamento da crise mais recen-
te, no escopo da chamada reestru-
turação produtiva. Nesse contexto,
a terceirização foi adotada pelas
empresas com a finalidade de pos-
sibilitar a focalização da produção,
isto é, como uma forma de concen-
trar as estratégias empresariais na
atividade-fim; de simplificar a ges-
tão da produção e da força de tra-
balho, como resultado da diminui-
ção da diversidade das formas orga-
nizacionais, e de reduzir custos ad-
ministrativos e fixos.
No Brasil, a terceirização
também veio a ser adotada pelo
estado na condução de sua máqui-
na administrativa, tendo seu uso se
intensificado, particularmente, na
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE34
década de 90, na medida em que
os instrumentos legais e institucio-
nais foram sendo construídos para
a execução dos objetivos de gestão
e solução de crises financeiras, tan-
to em empresas públicas como na
própria administração direta.
Terceirização no setor
público: origens e aspectos
legais/jurídicos
1.Terceirização na adminis-
tração pública no âmbito da reforma
do Estado
No decorrer da década de
80, as economias desenvolvidas e
em desenvolvimento estavam a-
presentando um cenário de grave
crise econômica.Vários autores, na
época, debateram sobre o diagnós-
tico e algumas soluções para a crise
vivida no Brasil e no mundo. Como
resultado desse intenso debate,
venceu a tese na qual a crise brasi-
leira foi identificada essencialmen-
te como conseqüência da crise fis-
cal do Estado.1 Como afirmou Bres-
ser Pereira (2001, p.1), “... o Estado
entrou em crise e se transformou na prin-
cipal causa da redução das taxas de cres-
cimento econômico, da elevação das ta-
xas de desemprego e do aumento das ta-
xas de inflação, que, desde então, ocor-
reram em todo o mundo”.
Nessa perspectiva, a partir
de então, a crise se coloca como um
processo decorrente da forma “am-
pliada” como o Estado veio ao lon-
go de décadas intervindo na eco-
nomia, caracterizada essa interven-
ção pela conjunção “explosiva” das
suas atividades na área social, em-
presarial e também regulatória da
economia. Assim, o tamanho do
déficit público,2 em meio a onda
da globalização ao final dos 80, pas-
sa a ser, também no Brasil, um fa-
tor que reduz a autonomia do esta-
do nacional na implementação de
suas políticas macroeconômicas,
principalmente pelas conseqüênci-
as que o elevado déficit traria para
inserção competitiva do país em
um mundo em transformação.
A superação da crise econô-
mica nacional, no âmbito estatal,
vem exigir uma reconstrução gra-
dual ou uma reforma do Estado, ao
mesmo tempo do processo de rees-
truturação das empresas privadas,
que significaria, dentre outros as-
pectos, a limitação do papel do Es-
tado na economia. Essa limitação
seria conduzida mediante a transfe-
rência de algumas de suas ativida-
des para a iniciativa privada ou para
o chamado setor público não-esta-
tal, que engloba o conjunto de orga-
nizações sem fins lucrativos, incluí-
das no campo do terceiro setor.
Ao longo da década de 90,
para além da limitação da interven-
ção do Estado na economia, a re-
forma gerida no país visou, tam-
bém, a adoção de um paradigma
gerencialista no bojo da administra-
ção pública, em substituição a uma
cultura burocrática de controles de
processos, a partir do qual se bus-
caria a implementação de mecanis-
mos de mercado na gestão pública.
Esses mecanismos se voltariam
agora para o controle de resultados,
para a busca da eficácia e da efici-
ência, maior responsabilização dos
atores públicos e por uma flexibi-
lização da gestão na área de Recur-
sos Humanos. No seu conjunto,
esses objetivos reforçariam a tese
de que o Estado deveria delegar
algumas de suas atividades a tercei-
ros ou a outros parceiros, como uma
forma moderna e mais efetiva de
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Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 35
conter o crescimento do déficit pú-
blico e dotamanho da máquina
administrativa.
Sendo assim, buscando de-
limitar com clareza as funções do
Estado, segundo a reforma do es-
tado preconizada,3 as autoridades
nacionais envolvidas (particular-
mente no Mare – ex-Ministério da
Reforma do Estado), pretenderam
definir, a partir de seu conceito de
Estado, três áreas de atuação: as ati-
vidades exclusivas do Estado; os
serviços sociais e científicos do Es-
tado; e a produção de bens e servi-
ços para o mercado. Por outro lado,
seria ainda conveniente distinguir,
em cada uma dessas áreas, quais se-
riam as atividades principais e quais
as auxiliares ou de apoio.
Na lógica do projeto de re-
forma do Estado, as chamadas ati-
vidades exclusivas de Estado de-
veriam, naturalmente, permanecer
dentro do Estado, distinguindo-se
entre elas, verticalmente, no seu
topo, a existência de um núcleo
estratégico, e, horizontalmente, as
secretarias formuladoras de políti-
cas públicas, as agências executivas
e as agências reguladoras.
No meio, entre as atividades
exclusivas de Estado e a produção
de bens e serviços para o mercado,
cuja idéia consistia na sua privati-
zação, haveria ainda dentro do Es-
tado, uma série de atividades na
área social e científica que não lhe
seriam exclusivas e também não
envolveriam poder de Estado. Es-
tariam incluídas nesta categoria as
escolas, as universidades, os centros
de pesquisa científica e tecnoló-
gica, as creches, os ambulatórios, os
hospitais, as entidades de assistên-
cia aos carentes, os museus, as or-
questras sinfônicas e outras.
Segundo o projeto do gover-
no, não haveria razão para que essas
atividades permanecessem dentro
do Estado, mas também não se jus-
tificaria sua privatização, já que se-
riam, por natureza, freqüentemente
atividades fortemente subsidiadas
pelo Estado, além de contarem
com doações voluntárias da socie-
dade. Por isso, defendeu-se para
essas atividades a chamada “publi-
cização” – ou seja, a sua transferên-
cia para o setor público não-estatal
ou terceiro setor. No Brasil, ao con-
trário do ocorrido no último quar-
tel do século XX nos serviços soci-
ais e científicos na Nova Zelândia,
Austrália e Reino Unido, o progra-
ma do governo de publicização pre-
viu a transformação desses serviços
ou atividades em Organizações So-
ciais – OSs, legalmente constituí-
das como entidades públicas de di-
reito privado, que poderiam cele-
brar um contrato de gestão com o
Estado e, assim, serem financiadas
parcial ou mesmo totalmente pelo
orçamento público.
Construído o novo corpo es-
trutural da ação do Estado, deter-
minou-se que as chamadas “ativi-
dades principais” seriam aquelas
consideradas propriamente de go-
verno, em que o poder de Estado –
ou seja, as ações de legislar, regu-
lar, julgar, policiar, fiscalizar, defi-
nir políticas e fomentar – é exerci-
do. Em paralelo, para que essas
funções típicas do Estado possam
ser realizadas, seria necessário que
os políticos e a alta burocracia esta-
tal, no núcleo estratégico, e tam-
bém a média administração públi-
ca do Estado, contasse com o apoio
de uma série de “atividades ou ser-
viços auxiliares”: limpeza, vigilân-
cia, transporte, serviços técnicos de
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Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho participante – DIEESE36
informática e processamento de da-
dos, entre outras. A solução encon-
trada para essa sinergia operacional
foi a de que tais serviços deveriam,
em princípio, ser terceirizados, ou
seja, submetidos à licitação pública
e contratados com terceiros.
Parecendo ser sensível a cer-
tas particularidades, o projeto, to-
davia, previa a possibilidade de ha-
ver “outros serviços dessa natureza
de apoio”, para os quais, devido a
sua proximidade com a “atividade
exclusiva/principal de Estado”, não
seria recomendada a terceirização.
Por esse motivo e porque também
haveria áreas e atividades discutí-
veis quanto à publicização ou não,
optou-se e buscou-se concretamen-
te uma mudança na relação de con-
trato ou vínculo de trabalho, ou
seja, legislou-se para a criação de
dois regimes jurídicos dentro do
Estado: o dos funcionários estatu-
tários e o dos empregados. A con-
dição de servidores estatutários fi-
caria, assim, limitada às carreiras de
Estado, e, por sua vez, seriam con-
siderados empregados públicos –
numa situação intermediária entre
o servidor estatutário e o trabalha-
dor privado – os demais servidores
que exerçam “atividades auxiliares
ou de apoio”, aquelas que se deci-
diu não terceirizar ou não foi possí-
vel publicizar.
2. Aspectos legais e jurídicos da
terceirização na administração pública
no Brasil: uma perspectiva temporal
Do ponto de vista da gestão,
a terceirização é um recurso legal e
contratual que vem sendo ampla-
mente utilizado nas empresas pri-
vadas, bem como em órgãos e em-
presas da administração pública di-
reta e indireta.4 No âmbito do se-
tor público, juridicamente falando,
trata-se de uma transferência con-
tratual, mas parcial, da responsabi-
lidade pela produção de alguns de
seus serviços a empresas privadas,
nacionais ou multinacionais, coope-
rativas de trabalho, Organizações da
Sociedade Civil de Interesse Públi-
co e Organizações Não-Governa-
mentais,5 sendo, necessariamente,
precedida por licitação,6 disciplina-
da pela Lei 8.666/93 e pelas leis que
posteriormente a alteraram. Assim,
via licitação, a administração públi-
ca delegaria atividades a uma em-
presa, não havendo nenhum víncu-
lo de subordinação entre o traba-
lhador da prestadora de serviços e
o órgão/entidade pública.
Essa contratação de serviços
pela administração pública brasilei-
ra, todavia, não é em si um proces-
so essencialmente característico da
década de 90 ou da proposta de re-
forma do Estado brasileiro. Segun-
do a legislação pertinente, em dé-
cadas anteriores, o setor público já
utilizava esse recurso para desen-
volver parte de suas atividades
como forma de impedir o cresci-
mento da máquina administrativa
no âmbito de pessoal e custeio.
Como se sabe, a administra-
ção pública está fortemente vincu-
lada ao princípio da legalidade (ar-
tigo 37 da Constituição/88), e, nes-
se caso, é imprescindível efetuar o
que a lei determina. No âmbito fe-
deral, o marco legal disciplinador da
transferência de serviços para a ini-
ciativa privada foi o Decreto-Lei
200/1967, em que foi estabelecido
que, no âmbito dessa esfera gover-
namental, as atividades deveriam
ser descentralizadas, ocorrendo,
sempre que possível, a transferên-
cia de tarefas executivas às empre-
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Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalhoparticipante – DIEESE 37
sas privadas com o objetivo de con-
centrar as atividades na área de pla-
nejamento, coordenação, supervi-
são e controle e para evitar o cresci-
mento desmensurado da chamada
burocracia estatal.7
O decreto acima menciona-
do não se aplicava, entretanto, às
demais esferas governamentais.
Somente na década de 90 foi regu-
lamentada a Lei 8.666/93 (com pos-
teriores alterações em alguns de
seus dispositivos a partir da Lei
8.883 de junho/94), que trata de li-
citações e contratos na administra-
ção pública, para disciplinar a con-
tratação de serviços no âmbito dos
estados, municípios e Distrito Fe-
deral. Isto sugere que, na década
considerada, intensificou-se o uso
da terceirização no âmbito da ad-
ministração pública brasileira como
forma de frear o crescimento do dé-
ficit governamental, que se expres-
sava na insuficiência de receitas
para cobrir os gastos do Estado,
identificados como prioritários à
época.
A despeito do uso recorren-
te em algumas esferas nacionais,
por muitas décadas, foi também em
1993, através da Lei 8.745/93, que
se regulamentou ou se legalizou a
adoção do contrato por tempo de-
terminado na administração públi-
ca, sem requisito de concurso pú-
blico, como forma de atenuar situ-

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