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Etnoictiologia de pescadores artesanais no estuário do rio Mamanguape

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B. Inst. Pesca, São Paulo, 29(1): 9 - 17, 2003
Etnoictiologia de pescadores artesanais do estuário do rio Mamanguape... 9
ETNOICTIOLOGIA DE PESCADORES ARTESANAIS DO ESTUÁRIO
DO RIO MAMANGUAPE, PARAÍBA, BRASIL
José da Silva MOURÃO 1 e Nivaldo NORDI 2
RESUMO
Este trabalho foi desenvolvido com duas comunidades de pescadores artesanais: Barra de
Mamanguape e Tramataia, localizadas às margens do estuário do rio Mamanguape (ERM), litoral
norte do Estado da Paraíba. Os pescadores têm uma compreensão própria do “modo de vida” dos
peixes de seu universo ictíico. Tal compreensão se traduz num conhecimento, muitas vezes deta-
lhado, sobre o comportamento reprodutivo, migratório, de defesa e alimentar de peixes estuarinos,
o qual estes estudos procuraram resgatar. Os procedimentos metodológicos compreenderam a
aplicação de entrevistas livres e questionários a pescadores experientes. Os resultados evidenciam
categorizações tróficas do tipo: “peixes que comem de tudo” (omnívoros), “peixes que comem o
que encontram pela frente” (oportunistas), “peixes que se alimentam de crustáceos” (carnívoros),
“peixes que bebem espuma” (planctófagos), “peixes que comem lama e lodo” (iliófagos) e “peixes
que se alimentam de peixes” (piscívoros). Outras categorias comportamentais foram menciona-
das pelos pescadores: peixes que formam “mantas” (cardumes), peixes que “fazem zoada” (emi-
tem sons), peixes “que pulam” (saltadores), peixes que “chocam na boca” (incubação oral), peixes
“bravos, fortes e fracos”, peixes que têm “cheiro” e peixes que “regurgitam”. Os dados obtidos
neste trabalho fornecem informações sobre o estado atual da cultura pesqueira das comunidades
estudadas e sugerem a importância de mantê-la preservada.
Palavras-chave: pescadores artesanais; etnoictiologia; estuário; rio Mamanguape
ETHNOICHTHYOLOGY OF ARTISANAL FISHERMEN FROM THE ESTUARY OF
MAMANGUAPE RIVER, PARAIBA, BRAZIL
ABSTRACT
This work was performed with two communities of artisanal fishermen from Barra de Mamanguape
and Tramataia, located at the shore of the Mamanguape River estuary (north of Paraíba State). The
fishermen have a wisdom about the “way of life” of the fishes, which composes their fishing
universe. The fishermen knowledge is often very detailed about estuarine fishes behaviors, as
migration, reproduction, way of self-defense and nourishment. The studies were done to rescue
the ecological knowledge of these fishermen communities. The data were obtained through free
interviews and questionnaires surveys applied to experimented fishermen. The results reveal dif-
ferent trophic categories created by the fishermen as: “fishes eating everything” (omnivores), “fishes
eating everything they meet in front of them” (opportunists), “fishes eating crustacean” (carni-
vores), “fishes drinking foam” (plankton predators), “fishes eating mud and slime” (detritus feed-
ers), and “fishes eating fishes” (piscivores). The fishermen also reported other categories of behav-
iors as: “fishes living in manta” (shoal), “fishes making noise”, “fishes jumping”, “fishes that hatch
inside their mouths” (oral hatching), fishes that are “brave, strong, and weak”, fishes that have
“smell” and fishes that “regurgitam” (regurgitate). The results obtained in this work supply infor-
mation about the current state of the fishing activities culture of the fishermen studied, as well as
attach importance to the preservation of those communities.
Key words: ethnoichthyology; artisanal fishermen; estuary; Mamanguape river
Artigo: Recebido em 20/12/02 – Aprovado em 06/08/03
1 Prof. Titular do Departamento de Farmácia e Biologia, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
 Endereço/Address: Campus Universitário do Bodocongó - CEP: 58000-000 - Campina Grande, PB
 e-mail: tramataia@uol.com.br
2 Prof. Adjunto IV do Departamento de Hidrobiologia da Universidade Federal de São Carlos
 Endereço/Address: Rodovia Washington Luís, km 235 – CEP: 13565-905 – Cx. Postal: 676 - São Carlos, SP
 e-mail: nivaldo@power.ufscar.br
B. Inst. Pesca, São Paulo, 29(1): 9 - 17, 2003
MOURÃO e NORDI10
INTRODUÇÃO
O propósito deste estudo foi descrever o conhe-
cimento local dos pescadores do estuário do rio
Mamanguape-PB sobre o comportamento
reprodutivo, migratório, alimentar e de defesa de
peixes estuarinos. A vertente da etnobiologia a ser
tratada neste estudo denomina-se etnoictiologia, que,
segundo MARQUES (1995), procura compreender o
fenômeno da interação entre o Homem e os peixes,
englobando aspectos tanto cognitivos quanto
comportamentais. Para POSEY (1987), a etnoictiologia
é vista como o estudo da inserção dos peixes em uma
dada cultura.
Foi por meio dos trabalhos de MORRIL (1967) e
ANDERSON (1967), com pescadores artesanais
caribenhos e chineses, respectivamente, que se ori-
ginou o termo etnoictiologia. No Brasil, o primeiro
trabalho com enfoque puramente etnoictiológico foi
desenvolvido por um antropólogo, MARANHÃO
(1975), que estudou uma comunidade de pescadores
de Icaraí no litoral cearense. Na década de 80
destacam-se os trabalhos de MUSSOLINI (1980),
que descreveu o conhecimento dos “caiçaras”
paulistas acerca da ecologia e do comportamento
migratório da tainha (Mugil platanus), e o de SILVA
(1988), junto aos pescadores da praia de Piratininga
(RJ), abordando a lógica utilizada por eles na classi-
ficação dos peixes.
Um estudo etnoictiológico de grande relevân-
cia realizado no Brasil é o de MARQUES (1991),
desenvolvido junto aos pescadores do Complexo
Lagunar Mundaú-Manguaba, no Estado de
Alagoas. Outras pesquisas em etnoictiologia, igual-
mente importantes, foram desenvolvidas com co-
munidades de pescadores do litoral sudeste do
Brasil, principalmente na Ilha de Búzios e Baía de
Sepetiba, por BEGOSSI e FIGUEIREDO (1995),
BEGOSSI (1996) e PAZ e BEGOSSI (1996). Os traba-
lhos com pescadores de rios e represas, como os
de RIBEIRO (1995), SILVANO e BEGOSSI (1998), THÉ
(1999) e SILVA-MONTENEGRO (2002), também têm
revelado que os mesmos possuem conhecimento
profundo a respeito dos peixes e de outros recur-
sos aquáticos explorados por eles.
Assim, tomando-se como base as abordagens
etnoictiológicas descritas acima, o objetivo geral do
presente estudo foi desvendar os modelos cognitivos
que auxiliam os pescadores artesanais do estuário
do rio Mamanguape a decidirem sobre as estratégias
a serem utilizadas para obtenção dos recursos.
ÁREA DE ESTUDO E PESCADORES ESTUDADOS
O Estuário do Rio Mamanguape (ERM) está
situado na parte setentrional do litoral da
Paraíba, a 80 km da cidade de João Pessoa.
Com preende uma área de 16 400 ha, que
corresponde à Área de Proteção Ambiental
(APA) de Barra de Mamanguape, criada pelo
Decreto Federal n° 924, de 10 de setembro de
1993, com o objetivo de proteger os ecossistemas
costeiros e os peixes-boi marinhos da região.
Pertencem à APA os municípios de Rio Tinto,
Marcação, Lucena e Baía da Traição, que, em
conjunto, totalizam 32 vilas e povoados e vários
ecossistemas, tais como manguezais, arrecifes
costeiros, mata atlântica, mata de restinga,
dunas e falésias.
As comunidades de pescadores estudadas foram
as de Barra de Mamanguape e Tramataia, localizadas
no interior da Área de Proteção Ambiental (APA), às
margens do estuário do rio Mamanguape. São po-
voados (comunidades) constituídos basicamente por
uma mistura racial de elementos indígenas, negros e
europeus, que desenvolvem atividades pesqueiras na
área de entorno e no próprio rio Mamanguape.
Apesar de a região ser rica em recursos naturais,
seus habitantes são muito pobres e há deficiências
em termos de assistência médica, educacional e de
infra-estrutura de saneamento básico. Isto contribui
para a grande ignorância destas populações acerca
de seus direitos e deveres como cidadãos e como
habitantes de uma Área de Proteção Ambiental.
Grande parte dos ribeirinhos que foram estuda-
dos são pescadores artesanais, que, duranteprati-
camente toda a sua vida, tiveram a pesca como
atividade principal de subsistência. Eles possuem
conhecimentos empíricos, que devem ser respeita-
dos e considerados no estabelecimento de
reorientações quanto à sua conduta em relação ao
ambiente e à obtenção de recursos.
MATERIAL E MÉTODOS
Métodos qualitativos (entrevistas e observação
direta) foram utilizados para obter informações
sobre a cultura pesqueira investigada. As primei-
ras entrevistas foram do tipo livre ou aberta, reali-
zadas com 100 pescadores, com a finalidade de tra-
çar o contexto pesqueiro a ser estudado. A partir
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Etnoictiologia de pescadores artesanais do estuário do rio Mamanguape... 11
das informações obtidas e utilizando-se, sempre que
possível, o vernáculo da comunidade, construíram-
se roteiros para entrevistas ou questionários
semidirigidos ou semi-estruturados (MELLO, 1989),
os quais foram aplicados a 20 pescadores mais ex-
perientes, selecionados entre os anteriormente en-
trevistados. Várias entrevistas foram registradas
eletromagneticamente com o auxílio de gravador
portátil, resultando em, aproximadamente, 30 h de
gravação. As fitas estão depositadas no Núcleo de
Etnoecologia e Educação Ambiental da Universidade
Estadual da Paraíba. Nas ocasiões em que se
necessitou confirmar a consistência e a validade
de determinadas respostas, recorreu-se à repetição
de perguntas, criando-se situações sincrônicas (mes-
ma pergunta: feita a pessoas diferentes, em tempos
bastante próximos) e diacrônicas (mesma pergunta:
repetida à mesma pessoa, em tempos bem distantes).
A análise das informações obtidas foi estritamente
qualitativa, efetuada por meio da interpretação do
discurso dos entrevistados, buscando, sempre que
possível, justapor o modelo percebido (conheci-
mento etnoecológico) ao modelo operacional
(conhecimento científico).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Aspectos dos comportamentos reprodutivos, migratórios
e de defesa dos peixes, segundo a compreensão dos
pescadores
 Os pescadores do Estuário do Rio Mamanguape
reconhecem uma série de comportamentos dos
peixes, relacionados a reprodução, emissão de sons,
liberação de odor, alimentação, migração e defesa
de predadores. Tais categorias comportamentais
estão reunidas na tabela 1: “Peixes que chocam na
boca” refere-se a uma categoria comportamental
muito conhecida por todos os pescadores e relacio-
nada ao bagre (Ariidae). MARQUES (1991) e COSTA-
NETO (1998) também relatam, em seus estudos, a
compreensão deste fenômeno por pescadores
artesanais. O ato de “chocar na boca” corresponde
à incubação oral, característica encontrada nos
Ariidae, cujas espécies têm o hábito de incubar os
ovos na cavidade bucal logo após a fecundação.
Vários estudos ictiológicos compartilham esta infor-
mação sobre a reprodução dos Ariidae, entre eles,
os de REIS (1986), COATES (1988) e CHAVES (1994).
Estes autores também afirmam que somente os
machos fazem a incubação oral. Em contrapartida,
FIGUEIREDO (1977) admite que, na família Ariidae,
fêmeas, embora raramente, podem fazer incubação.
Segundo os pescadores, o comportamento de “cho-
car na boca” é uma função desempenhada somente
pelas fêmeas, uma vez que, “os ovos saem da barriga
dela”. MARQUES (1991) admite que a cultura
machista que predomina nestas comunidades deve
motivar este tipo de interpretação. O comportamento
de incubação dos ovos na cavidade bucal pelos
ariídeos é uma das várias formas de cuidado parental
encontradas na natureza (VAZZOLER, 1996).
 Para os pescadores estudados, “peixes que an-
dam em manta” são aqueles que se movimentam
em cardumes. Denominação similar, “peixes que
imantam”, foi encontrada por COSTA-NETO (1998)
em seu estudo com pescadores baianos. Alguns pei-
xes, como camurim (Centropomidae, Hemulidae),
“andam em manta” somente na fase juvenil, enquan-
to que tainha, tamatarana (Mugilidae), sardinha
(Engraulidae, Clupeidae), carapeba (Gerreidae), bagre
e cabeçudo (Sciaenidae), “andam em manta” a vida
toda. A categoria êmica “peixes que andam em
manta” corresponde às espécies que se movimen-
tam em cardumes (MENEZES e FIGUEIREDO, 1985).
Conforme os pescadores, os cardumes (“as mantas”)
são formados por peixes da mesma família folk,
como indicam os trechos que se seguem: “numa
manta de sardinha azul (Opisthonema oglinum) só dá
sardinha azul” e a “tainha sempre nada na manta
dela”. Usualmente, os cardumes são formados por
peixes de uma mesma espécie e têm a função de
proteção contra predadores, de aumentar as chances
de acasalamento e tornar mais eficiente a busca por
alimento (PARTRIDGE, 1982).
O reconhecimento dos pescadores de categorias
comportamentais, como as de “peixes mais bravos”
e “peixes mais valentes”, corresponde ao compor-
tamento agressivo de determinados peixes, como,
principalmente, o do mero (Epinephelus itajara), da
caranha (Lutjanus cyanopterus) e da espada (Trichiurus
lepturus). As denominações “bravo” e “valente” es-
tão relacionadas ao fato de que estes peixes atacam
e são predadores vorazes, e provavelmente à apa-
rência de sua estrutura anatômica bucal, cujos den-
tes (caninos) são muito desenvolvidos e visíveis.
“Peixes mais fortes”, como camurim e camurupim
(Megalopidae) e “peixes mais fracos”, como soía
(Bothidae, Achiridae, Cynoglossidae) e agulhão-
lambaio (Strongylura timuca), representam caracterís-
ticas comportamentais reconhecidas pelos pescado-
res, relacionadas à resistência ao estresse ambiental,
seja por atividades antrópicas ou por variações do
próprio ambiente. No ERM, a tolerância dos peixes
é associada pelos pescadores, principalmente, ao
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MOURÃO e NORDI12
vinhoto, ou “calda”, subproduto do álcool da
cana-de-açúcar, até há pouco tempo atrás des-
pejado no estuário. De acordo com eles, somen-
te o camurim sobrevive a uma descarga intensa
deste subproduto no estuário. ODUM (1971)
classifica o estresse antropogênico sobre os
ecossistemas em duas categorias: o estresse
agudo, caracterizado pelo início repentino de
uma perturbação abrupta e de curta duração;
o estresse crônico, que envolve uma longa du-
ração ou uma recorrência freqüente, mas não
uma alta intensidade. O vinhoto pode ser en-
caixado no primeiro tipo de impacto, cuja in-
tensidade de prejuízo está relacionada à mobi-
lidade do recurso (moluscos são mais prejudi-
cados) e à capacidade de diluição promovida
pelos movimentos de maré.
 Outra categoria comportamental percebida pe-
los pescadores é a dos “peixes que fazem zoada”,
que compreende oito espécies biológicas,
subcategorizadas em “peixes que cantam” e “pei-
xes que roncam”: “o coró (Hemulidae) e a pescada
(Sciaenidae) se conhece pela zoada”. A literatura
etnoictiológica tem vários registros sobre os peixes
que produzem sons, sendo que a nomeação de al-
gumas categorias chega a ser muito similar. Segun-
do MARQUES (1991, 1995), os pescadores de
Mundaú-Manguaba e Marituba reconhecem 18 es-
pécies biológicas entre os “peixes que fazem zoa-
da”, subcategorizadas em “peixes que chiam”, “pei-
xes de cantoria” e “peixes que roncam”. Os pesca-
dores de Siribinha estudados por COSTA-NETO
(1998) também identificam os “peixes que fazem
zoada” e os subcategorizam em “peixes que têm
cantiga” e “peixes que roncam”.
 Os pescadores estudados revelaram que tainha,
tamatarana e curimã (Mugilidae) são os principais
representantes dos “peixes que pulam”, fenômeno
comportamental relacionado, principalmente, à fuga
dos predadores. Estes peixes chegam a sair da água
quando acuados por predadores. Pelo fato de co-
nhecerem bem os “peixes que pulam”, os pescado-
res desenvolveram uma estratégia de pesca especí-
fica, denominada de “zangareia”, para capturar os
cardumes de tainha. Esta técnica consiste na fixa-
ção de rede vertical disposta longitudinalmente no
fundo da canoa. A operação envolvevárias canoas
e ocorre em noites escuras, preferencialmente na lua
nova. Dez canoas ou mais, cada uma contendo dois
tripulantes e um “tocheiro” (lampião de querose-
ne), colocam-se em fila dupla em busca de algum
cardume de tainha. Os peixes saltam “encandeados”
pela luz dos lampiões e ao baterem na zangareia
acabam caindo dentro da canoa.
Categoria etológica folk Fenômenos associados Peixes mais citados
Peixes que andam em manta Proteção contra predadores tainha, sardinha, coró, paru
Peixes que chocam na boca Cuidado parental bagre
Peixes que pulam Fuga de predadores tamatarana, curimã, tainha
Peixes mais bravos Estratégia de ataque à presa caranha, cação, amoreia, espada
Peixes mais fortes Resistência a estresse ambiental camurupim, camurim
Peixes de velocidade Fuga de predador/
estratégia de ataque espada, tainha, camurim
Peixes fracos Resistência a estresse ambiental soia
Peixes que deixam cheiro ruim Proteção/predadores baiacu
Peixes que têm cheiro ? tamatarana
Peixes que fazem zoada
(cantar ou roncar) ? camurupim, cururuca
Peixes que regurgitam Fisiologia alimentar mero
Tabela 1. Sistema classificatório baseado em fenômenos relacionados a comportamentos dos peixes, percebidos
pelos pescadores artesanais de duas comunidades situadas no estuário do rio Mamanguape, PB, Brasil
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Categorias êmicas (ética) Peixes mais citados
Peixes que comem de tudo (oportunistas) cação, bagre ariaçu, bagre cambueiro
Peixes que comem siri, camarão, arraia, camurim, mero, baiacu, amoréia,
caranguejo, marisco e taioba (carnívoros) muriongo, pampo
Peixes que só comem peixes (piscívoros) espada, serra, camurupim
Peixes que comem lama e lodinho/lodo (iliófagos) tainha, tamatarana, curimã, carapeba,
saúna, soía, salema, saberé, paru,
sardinha, burdião, cacetão, curimã,
tainha, bagre
Peixes que bebem espuma/bebem nata (planctófagos) sardinha azul, sardinha fofi, agulha
branca, tainha, carapeba, tamatarana
Peixes que comem insetos (insetívoros) tibiro, durinho, camurim, sardinha
arenca, serra
Tabela 2. Hábito trófico de alguns representantes da ictiofauna do estuário do rio Mamanguape, PB, segundo os
pescadores
 Os pescadores das Ilhas Salomão agrupam a
“tainha e a sardinha” em uma categoria chamada
“peixes que pulam” (AKIMICHI, 1978). Os índios
Desâna distinguem entre “peixes que pulam” e “os
que apenas nadam” (RIBEIRO, 1995). Os ictiólogos
reconhecem que os membros da família Mugilidae
possuem, de fato, essa característica de saltar
(THOMPSON, 1966).
Comportamento alimentar de genéricos “folk” de
importância cultural e econômica para as comunidades
de pescadores estudadas
O conhecimento dos pescadores sobre o com-
portamento de alimentação dos peixes pode ser evi-
denciado na tabela 2. Como exemplo dos detalhes
a esse respeito, os relatos referentes ao bagre ariaçu
(Arius herzbergii) referem-se precisamente ao
caráter oportunista do comportamento alimentar
desta espécie: “o bagre ariaçu come todo tipo de coi-
sa ruim, não tem escolha”. Além disso, informa-
ções sobre o que os peixes não comem: “a carapeba
e a curimã não comem peixe”, a eventual variação
diária na dieta: “a tainha de dia come lama e de
noite só bebe a nata da água”, e o local de alimen-
tação: “o burdião - Labridae - come o lodo das pe-
dras”, podem ser obtidas através do conhecimen-
to dos pescadores. São observações percebidas por
eles, essenciais para a decisão das estratégias de
pesca, que, em muitos casos, não são amparadas
pela literatura ictiológica, por tratar-se de crença
ou folclore, ou, mesmo, pela existência de lacunas
no conhecimento científico. Neste último caso,
torna-se ainda mais evidente a importância da
parceria entre o conhecimento científico e o
local no desenvolvimento das pesquisas.
Os etnohábitats “lama” e “lodinho/lodo” podem
ser considerados chaves nas interações tróficas per-
cebidas pelos pescadores, devido à sua importân-
cia como alimento para várias espécies de peixes
que compõem a base da rede alimentar. MANN
(1988) afirma que, na maioria dos ecossistemas
aquáticos, a maior quantidade de energia e matéria
flui através das teias detritívoras. BOWEN (1984)
conclui que, nos trópicos, os peixes detritívoros po-
dem dominar a biomassa presente nos ecossistemas,
devido, principalmente, às adaptações morfológicas
do trato digestivo e às adaptações comportamentais
para a localização de detrito. Segundo LOWE-
McCONNEL (1987), os peixes detritívoros formam a
base da maioria das cadeias tróficas tropicais.
Os hábitos e a variabilidade alimentar dos pei-
xes são enquadrados em várias categorias pelos
ictiólogos. Neste estudo utilizam-se as categorias
tróficas propostas por LOWE-McCONNEL (1987),
definidas como: oportunistas, carnívoros,
piscívoros, onívoros, planctófagos e iliófagos
 Do ponto de vista da ictiologia folk do ERM, os
camurins possuem hábito alimentar bastante am-
plo, variando desde o consumo de crustáceos e
insetos até a predação piscívora, incluindo
clupeídeos e mugilídeos. Entre os insetos citados
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MOURÃO e NORDI14
pelos pescadores incluem-se cupins, formigas, abe-
lhas e borboletas. Segundo MENEZES e FIGUEIREDO
(1980), as espécies da família Centropomidae que
ocorrem no Brasil alimentam-se, principalmente, de
peixes e crustáceos, portanto, não havendo registro
de insetos em sua alimentação. No entanto, estudos
realizados por LOWE-McCONNEL (1987) no Lago
Tanganica, África Oriental, demonstraram que três
espécies de centropomídeos na fase juvenil, viven-
do entre as macrófitas litorâneas, alimentaram-se
principalmente de camarões, clupeídeos, pequenos
ciclídeos, insetos e suas larvas. As interações tróficas
observadas pelos pescadores, envolvendo a
predação de crustáceos (camarões da família
Penaeidae, siris do gênero Callinectes e caranguejos
da família Ocypodidae), incluíram, além dos
camurins, dez outros genéricos folk de peixes (mero,
amoréia, arraia, bagre, camurupim, baiacu, camurim,
muriongo, amoré, sardinha). Do ponto de vista da
ictiologia, os genéricos folk citados como comedores
de crustáceos correspondem às seguintes famílias
lineanas: Ophichthidae, Muraenidae, Gobiidae,
Ariidae, Tetraodontidae, Centropomidae,
Dasyatidae, Gymnuridae, Engraulidae, Serranidae,
Megalopidae, Myliobatidae e Rynopteridae. As fa-
mílias Muraenidae e Engraulidae não foram cita-
das por MENEZES e FIGUEIREDO (1985) como sen-
do comedoras de crustáceos, sendo que seus hábi-
tos alimentares, segundo estes autores, são pura-
mente piscívoros.
Os insetos, de acordo com o conhecimento dos
pescadores, compõem um elo alimentar importante
para as espécies de centropomídeos e para vários
outros peixes do ERM - “tem vários peixes que co-
mem inseto: o durinho (Caranx bartholomaei) e o xarelete
(Caranx latus), que é filhote do xaréu, comem inseto; a
sardinha branca, quando adulta, vira sardinha arenca
(Lycengraulis grossidens) e come inseto”. MARQUES
(1991) descobriu, para o bagre, um elo trófico até en-
tão desconhecido, testando, por meio de análise do
conteúdo estomacal, a observação dos pescadores
sobre “bagres que se alimentam de mariposa”. A li-
teratura especializada está repleta de exemplos e de
estudos sobre peixes que se alimentam de insetos.
Estudos feitos por LOWE-McCONNEL (1987) com con-
teúdos estomacais de peixes de córregos da África e
do Brasil, evidenciaram a presença de alimentos
alóctones, principalmente insetos aéreos, como as
formigas voadoras; 84% das amostras coletadas, re-
presentando dezesseis espécies de peixes, continham
insetos, sendo que 54% destas espécies tinham se ali-
mentado quase exclusivamente de insetos terrestres.
Segundo este autor, os insetos, incluindo larvas e
ninfas,constituem, predominantemente, o alimento
mais importante dos não-ciclídeos da bacia do lago
Vitória. Quase todas as espécies incluem algum inseto
em sua dieta, e, para muitos, eles constituem virtual-
mente todo o alimento.
 Um dos pescadores mais antigos de Barra de
Mamanguape descreve, para o camurim, um elo
trófico extremamente incomum e não comprovado,
mas que, pela riqueza de detalhes, merece ser rela-
tado e, possivelmente, ser alvo de pesquisas futu-
ras: “o camurim come até morcego, agora isso é den-
tro da maré, na lagoa, dentro do rio, por todo o can-
to; anoiteceu, o morcego, não sei se é bebendo água
ou melando os pés, não sei que diabo que fica fa-
zendo em cima da água; o camurim vê quando o
morcego vem, ainda no meio claro do dia; quando
o morcego vem, o camurim salta e pega ele”. Este
comportamento trófico inusitado é a base da nome-
ação do específico folk, denominado de camurim-
papa-morcego. Embora todos os pescadores entrevis-
tados reconheçam este específico folk, apenas um
disse que observou o peixe alimentando-se de mor-
cego. Não há nenhum registro na literatura científi-
ca sobre espécies de peixes que se alimentem de
morcegos. No entanto, trabalho feito na estação de
piscicultura da Companhia Hidroelétrica do São
Francisco (CHESF), Paulo Afonso (BA), mostra uma
situação inversa, isto é, a predação de alevinos do
genérico “folk” tilápia por parte do morcego-pescador
(Noctilio leporinus) (LOPES et al., 2000). Um outro
estudo a respeito da biologia reprodutiva, dieta e
comportamento da mesma espécie de morcego foi
feito na Baía de Guaratuba, litoral do Paraná, não
tendo sido constatado o hábito de pescar peixes
(BORDIGNON e MOURA, 2000).
Segundo os pescadores, a arraia alimenta-se de
peixes, crustáceos e bivalves, mas tem preferência
pelo marisco, Anomalocardia brasiliana: “ela se ali-
menta de muita coisa; é o marisco, a taioba, mas a
preferência dela é o marisco”. Sua categorização
corresponde à de peixes onívoros (FIGUEIREDO,
1977), e as interações tróficas informadas pelos pes-
cadores são consistentes, comparadas às da litera-
tura científica. A nomeação arraia-de-croa (Dasyatis
guttata) é uma alusão ao hábitat de alimentação:
“croas” são bancos de areia onde os mariscos vi-
vem enterrados. De acordo com os pescadores, a
arraia-de-croa tem o hábito de “fuçar igual a um por-
co atrás do marisco, fazendo uns buracos enormes
na croa; ela se alimenta a toda hora, durante o dia e
à noite”. De acordo com relato dos pescadores, além
do genérico “folk” arraia (Dasyatidae, Myliobatidae,
Gymnuridae e Rhynopteridae), o pampo (Carangidae)
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Etnoictiologia de pescadores artesanais do estuário do rio Mamanguape... 15
também se constitui em um dos principais
comedores de marisco: “o pampo tem uma pedra
debaixo da língua para quebrar a casca do maris-
co”. Várias espécies de peixes alimentam-se de
moluscos, principalmente aquelas das famílias
Dasyatidae, Myliobatidae e Carangidae (MENEZES
e FIGUEIREDO, 1985). LOWE-McCONNEL (1987) es-
tudou as adaptações alimentares de peixes no lago
Vitória, mostrando que os moluscos constituem o
principal alimento dos adultos de determinadas
espécies, que desenvolveram adaptações para que-
brar conchas dos mais variados tamanhos.
 Os pescadores classificam o mero como um peixe
“que come toda espécie de peixe e, quando não tem
peixe pra comer, ele come siri e caranguejo, mas ele gos-
ta mais é de peixe”. O padrão de hábito alimentar do
mero, descrito pelos pescadores estudados, corresponde
ao que é citado por MENEZES e FIGUEIREDO (1980),
que afirmam que os serranídeos são carnívoros, alimen-
tando-se basicamente de peixes e crustáceos. Detalhes
do comportamento de eversão fisiológica estomacal
desta espécie, para regurgitar o alimento não assimila-
do, são reconhecidos pelos pescadores, que se expres-
sam a esse respeito da seguinte maneira: “quando ele
vomita é uma catinga que não tem quem agüenta; o dia
que ele vomita é dia de quarto, cabeça de água morta;
bota o fato para fora, bota a comida velha para fora,
para comer outra nova... e sai com uma fome!”. “Dia
de quarto e cabeça de água morta” correspondem às
fases crescente ou minguante da lua e à maré de
quadratura; “fato” corresponde ao estômago do peixe.
 O específico “folk” bagre ariaçu (Arius herzbergii),
de grande importância econômica e cultural para
os pescadores do ERM, é categorizado como um
“peixe que come de tudo”, o que corresponde ao
grupo trófico dos oportunistas. O bagre ariaçu é cha-
mado por todos de “bagre seboso”, devido ao hábi-
to de comer animais mortos e fezes humanas,
necrofagia e coprofagia, respectivamente. Dados
obtidos da literatura científica confirmam o oportu-
nismo das espécies da família Ariidae, que se ali-
mentam de detritos orgânicos, vermes, crustáceos,
moluscos, peixes (ovos, ossos e cartilagens), penas
de aves, zooplâncton, diversas algas, vegetais su-
periores e até grãos de soja (MISHIMA e TANJI, 1982;
ARAÚJO, 1984; REIS, 1986; CHAVES e VENDEL, 1996).
Os “peixes comedores de lama e lodo/lodinho”
correspondem àqueles que se alimentam do mate-
rial orgânico em decomposição. A expressão “a
tainha come lama, esse lodinho”, está bem relacio-
nada com os peixes “comedores de lama” (SAZIMA,
1986), os quais, como sugere MARQUES (1991), po-
dem ser enquadrados na categoria dos peixes
iliófagos. Com relação aos peixes que “comem lodo/
langanho”, a expressão “a sardinha come lodo, esse
langanho da água”, aponta para sua inclusão na ca-
tegoria de peixes planctófagos, juntamente com os
peixes que “bebem espuma e os que bebem nata”.
Do ponto de vista da classificação científica, lama e
lodo podem englobar grãos de areia, lama, fragmen-
tos de tecidos, restos de escamas, espículas de es-
ponja, hifas de fungo, algas, zooplâncton e
invertebrados (MENEZES e FIGUEIREDO, 1980).
Trabalhos feitos recentemente com conteúdo es-
tomacal de Mugil curema das lagoas costeiras do
litoral norte do Estado do Rio de Janeiro identifi-
caram 29 categorias de itens alimentares, entre
eles, algas, zooplanctônicos, larvas e
invertebrados, detritos, pelotas fecais, ovos de
invertebrados e grãos de areia (AGUIARO, 1999).
 Conforme relato dos pescadores, a tainha é a
presa preferencial do boto: “o boto não têm outra
comida a não ser tainha, ele gosta muito de tainha”.
De acordo com SADOWSKI e ALMEIDA DIAS (1986),
os botos são predadores importantes de peixes, não
tendo sido determinadas preferências alimentares
específicas. Além do boto, os pescadores identificam
vários peixes, entre eles, camurim, camurupim, arraia,
cação, caranha, amoréia (Muraenidae) e espada, como
predadores da tainha, indicando a importância des-
ta espécie como elo alimentar basal para a rede
trófica do ambiente estudado.
No caso da sardinha, os pescadores percebem com
mais facilidade os seus predadores, contudo a com-
preensão sobre o alimento deste genérico folk não é
muito clara: “a sardinha parece que só come lodo,
aquele cisco que tem nas águas, aquele langanho, é
aquilo que a sardinha come”. Para os pescadores
estuarinos do Estado de Alagoas, a palavra
“langanho” tem significado semântico bem diferen-
te, sendo usada para nomear espécies pertencentes
ao filo Cnidaria (MARQUES, 1991). Assim como no
caso da tainha, os pescadores identificam a sardi-
nha, notadamente a sardinha azul, como alimento
para uma grande variedade de peixes, o que tam-
bém a credencia como importante elo basal da teia
alimentar estuarina.
CONCLUSÃO
A compreensão que os pescadores têm de
detalhes do comportamento de determinados
peixes revela conhecimentos sobre estratégias
de fuga do predador (comportamento de saltar
dos mugilídeos), estratégias reprodutivas
B. Inst. Pesca, São Paulo, 29(1): 9 - 17, 2003
MOURÃO e NORDI16
(comportamento de incubação oral dos Ariidae),
resistência à degradação ambiental(alusiva aos pei-
xes denominados “fortes” e que, no caso específico
do Estuário do Rio Mamanguape, são principalmen-
te tolerantes ao despejo de “vinhoto, ou cauda (cal-
da)”, resultado do processamento da cana-de-açú-
car). Além disso, o conhecimento sobre o hábitat
alimentar de determinados peixes possibilita a com-
preensão de comportamentos alimentares e de
interações tróficas complexas. Informações sobre o
conhecimento de comunidades pesqueiras locais são
importantes por auxiliarem na definição de medi-
das de manejo da pesca, orientarem novos focos de
pesquisa e pelo valor cultural que representam. Em
especial, a etnoictiologia, ao possibilitar a decodificação
das interações do homem com os peixes, estimula a
pesquisa científica sobre relatos ainda não comprovados.
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