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PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO DO IMÓVEL PRODUTIVO E DA PEQUENA E MÉDIA PROPRIEDADE RURAL


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A Lei no 8.629, de 25-2-1993, regulamenta dispositivos da Constituição sobre reforma agrária, prevendo a possibilidade de desapropriação da propriedade que não cumprir a função social, respeitados os dispositivos constitucionais.
Segundo o Art. 4º, inciso I, da referida lei define: Imóvel rural – o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua localização, que se destine ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agroindustrial. 
À classificação do imóvel rural é de propriedade familiar, minifúndio, latifúndio e empresa rural. A Constituição Federal introduziu no ordenamento jurídico brasileiro mais as seguintes categorias, pequena propriedade, média propriedade e propriedade produtiva, definidas na Lei nº 8.629/93.
O requisito da “produtividade” inclui o cumprimento da função social, segundo o art. 185, inc. I, da Constituição Federal, que se harmoniza ao art. 4º, parágrafo único, da Lei 8.629/93, dando a estes imóveis imunidade à desapropriação, quando o seu proprietário não possuir outros imóveis rurais.
Segundo observa ROSALINA PINTO DA COSTA RODRIGUES PEREIRA, os requisitos legais necessários à configuração da função social da terra se resumem a três ópticas: (a) econômica; (b) social; e (c) ecológica. A econômica refere-se ao requisito da “produtividade”, ou seja, aproveitamento racional e adequado. É o único que a Lei nº 8.629/93 exige para a identificação da “Propriedade Produtiva” (art. 6º). A social, seria a observância das disposições que regulam as relações de trabalho e o favorecimento do bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores rurais. A ecológica cuida dos requisitos relativos à utilização dos recursos naturais e à preservação do meio ambiente.
A PROPRIEDADE PRODUTIVA
O requisito do aproveitamento racional e adequado, que, no Estatuto da Terra, corresponde ao requisito níveis satisfatórios de produtividade, é mensurado pelos graus de utilização e de eficiência na exploração, fixados em 80% para o primeiro e 100% ou mais para o segundo, mesmos índices exigidos para a configuração da “Propriedade Produtiva”, que, é instituto jurídico novo criado pela Constituição Federal vigente, que a inclui como objeto insuscetível de desapropriação.
A definição de propriedade produtiva, está expressa no art. 6º da lei nº 8.629/93 e, não têm os mesmos elementos de empresa rural, como se pensava, porque não se exige cumprimento da função social.
 Segundo o Art. 6º da Lei nº 8.629/93:
Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente.
§ 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável total do imóvel;
§ 2º O grau de eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento) e será obtido de acordo com a seguinte sistemática:
I – para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada microrregião homogênea;
II – para exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada microrregião homogênea;
III – a soma dos resultados obtidos na forma dos incisos I e II deste artigo, dividida pela área efetivamente utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau de eficiência na exploração.
Como visto, do ponto de vista econômico, exigem-se os mesmos requisitos para a configuração da empresa rural. Talvez por isso se confunda, num primeiro momento, a “empresa rural” com a “propriedade produtiva”, todavia, deve-se observar três requisitos: econômico, social e ecológico. Por isso se confundem, porém o parágrafo único do art. 185 da Constituição Federal explicitou à necessidade que a lei fixasse normas para o cumprimento dos requisitos relativos à função social. A Lei nº 8.629/93 não estabeleceu esses critérios, embora, em seu art. 9º, tenha explicitado requisitos para a configuração da função social, não os vinculou à propriedade produtiva, como o fez o inc. III do art. 22 do Decreto nº 84.685/80, com relação à empresa rural. 
A DESAPROPRIAÇÃO IMÓVEL RURAL
O instituto da desapropriação agrária é o principal instrumento para a realização da Reforma Agrária em nosso País. Aristóteles, filósofo grego manifestou-se, entendendo que aos bens se devia dar uma destinação social, para o que, a seu pensar, seria necessária a apropriação pessoal. Esta justificaria aquela, o homem tinha o direito de possuir bens e deles retirar a sua própria manutenção, mas também devia satisfazer aos outros.
A desapropriação de imóvel por interesse social para fins de reforma agrária, é discutida pelo Incra no que se refere a área não aproveitável integrar o cálculo (módulo fiscal) que define se a classificação da propriedade rural é pequena, média ou grande. Essa classificação determinará a possibilidade ou não da desapropriação do imóvel rural do recorrido, na hipótese de o proprietário não possuir outro imóvel, em razão de o art. 185 da CF/1988. 
Apesar de o Estatuto da Terra (Lei no 4.504/1964) ter conceituado módulo rural como unidade de medida familiar, posteriormente a Lei no 6.746/1979 alterou tais disposições deste estatuto, criando um novo conceito: o módulo fiscal que estabeleceu um critério técnico destinado a aferir a área do imóvel rural para cálculo de imposto sobre a propriedade territorial rural (ITR). 
O problema surgiu com a Lei no 8.629/1993, a qual, regulamenta o art. 185 da CF/1988, optando pelo uso do módulo fiscal, para estabelecer a classificação de pequeno, médio e grande pela extensão da área do imóvel rural, deixando de explicar a forma de aferição. No silêncio da Lei no 8.629/1993, quanto à forma de aferição do módulo fiscal, buscou-se o cálculo no § 3º do art. 50 do Estatuto da Terra, dada pela redação da Lei nº 6.746/79, que leva em conta a área aproveitável em vez do tamanho do imóvel. 
Assim, concluiu-se que a classificação da propriedade rural como pequena, média ou grande deve ser aferida pelo número de módulos fiscais obtidos, dividindo-se a área aproveitável do imóvel rural pelo módulo fiscal do município. 
Assim, surge o conceito de módulo fiscal, que é a unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada município, considerando os seguintes fatores:
Tipo de exploração predominante no Município.
Renda obtida com a exploração predominante.
Outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam significativas em função da renda ou da área utilizada.
Conceito de propriedade familiar.
O módulo fiscal é medido em hectares e é definido por Município, em tabela anexa à Instrução Especial Incra n. 20, de 1980. Os municípios que foram criados após 1980 tiveram o valor de seu módulo fiscal fixado por outros atos normativos daquela autarquia federal.
Segundo o Incra a “Propriedade Produtiva” é aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra (GUT) e de eficiência na exploração (GEE) segundo índices fixados por órgão federal competente. O Grau de Utilização da Terra (GUT), deverá ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento) e o Grau de Eficiência na Exploração da terra (GEE), deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento). 
REFERÊNCIAS
O Que é Propriedade Produtiva. Disponível em: <http://www.incra.gov.br/o-que-e-propriedade-produtiva>. Acesso em: 01 jun. 2017.
MARQUES, B.; MARQUES, C.R. Direito Agrário Brasileiro. 12 ed. São Paulo: Atlas, 2016
CASSETTARI, Christiano. Direito Agrário. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2015.