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Erosão dos Solos Tropicais e seu Controle, o Exemplo do Estado de São Paulo José Pereira de Queiroz Neto

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EROSÃO DOS SOLOS TROPICAIS E SEU CONTROLE: O EXEMPLO DO ESTADO 
DE SÃO PAULO 
 
José Pereira de Queiroz Neto - Dep. Geografia, FFLCH-USP 
 
“Depósitos tecnogênicos, induzidos pela erosão acelerada, ocorrem nos fundos dos vales do 
Planalto Ocidental paulista, testemunhando as primeiras fases de sua ocupação, no inicio 
deste século”. (OLIVEIRA e QUEIROZ NETO, 1995). 
 
A OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO PAULISTA E A EROSÃO 
 
 Essa frase, inicio do resumo do artigo citado, revela um fato que já havia sido 
suspeitado anteriormente por alguns autores, por exemplo MONBEIG na sua tese de 
doutoramento sobre a frente pioneira do café (1952), até SANTANA e QUEIROZ NETO 
(1995): ela diz respeito à enorme carga de terra arrastada pela erosão, num curto período de 
tempo após a entrada da cultura do café no Sudeste brasileiro. Também acha-se retratada na 
figura 1, que propõe uma curva hipotética de produção de sedimentos no Planalto Ocidental 
Paulista, no século XX, indicando que teria sido mais elevada no inicio do processo de 
ocupação do território, logo após a derrubada das floresta (OLIVEIRA e QUEIROZ NETO, 
1997). 
 
 Essa curva hipotética de produção de sedimentos pode ser estendida para todo o 
território nacional, após a chegada das caravelas de CABRAL. A figura 2, extraída de 
AZEVEDO (1968), indica que a expansão da ocupação do espaço brasileiro é recente, 
começando realmente no século XIX (SZMRECSÁNYI, 1990, QUEIROZ NETO, 2001). 
Anteriormente, somente a franja costeira havia sido efetivamente ocupada, com uma 
agricultura mais intensiva no litoral nordestino; nem as sucessivas entradas pelos sertões dos 
mamelucos paulistas, que apenas deixavam aqui e ali algum pouso, nem as buscas do ouro e 
outras preciosidades, que fundaram cidade em Minas, Goiás e Mato Grosso, foram 
responsáveis pela fixação de uma agricultura mais consistente e expancionista, já que muitas 
vezes essas áreas chegavam a importar produtos alimentares; além disso, a prosperidade 
devido à mineração foi de duração relativamente curta. 
 Foi a chegada do café nas terras fluminenses, no alvorecer do século XIX, que iria 
promover uma verdadeira expansão da ocupação do espaço pela agricultura: percebe-se que, 
naquele século e no seguinte, ocorre nítida relação entre a derrubada das florestas, o aumento 
das populações e das densidades demográficas, com consequente incremento das erosões. Em 
meados do século XIX, quando o país contava com 7 milhões de habitantes dos quais 
2.500.000 escravos, a erosão deve ter sido pouco expressiva: VICTOR (1975) mostra que, 
naquele momento, 80% do território paulista seria recoberto por florestas, pouco mais de 10% 
por cerrado e os 10% restantes por outros tipos de vegetação. Campinas, preparando-se para o 
grande salto do café em direção ao oeste e noroeste, apresentava 14.000 escravos para 7.000 
homens livres, mostrando a importância dessa mão de obra para aquela cultura. É ainda 
SZMRECSÁNYI (1990) que nos mostra um dado interessante: na Abolição havia apenas 
1.200.000 escravos no Brasil, dos quais 1/5 no Rio de Janeiro. Isso é indicador do aumento do 
número dos trabalhadores livres, devido a imigração européia, que já em 1855 era importante: 
nas 2.500 fazendas de café, os trabalhadores livres (62.200) superavam os escravos (55.800). 
Mas é na década de 80 que o processo se intensifica, atingindo no final do século a cifra de 3 
milhões. 
 
 A chegada desses grandes contingentes de imigrantes corresponde à uma grande 
expansão da ocupação dos espaços: em 1900 a população brasileira é da ordem de 17 milhões 
de habitantes (2,5 vezes a de 50 anos antes), as florestas no estado de São Paulo recuam, para 
ocupar apenas 60% do território, em grande parte no Planalto Ocidental e nos complexos 
serranos. A fase de expansão da população e do avanço da frente pioneira do café prossegue 
até a crise de 1930: em meados dessa década as florestas recuam para 28% do território 
paulista, cantonadas no extremo oeste e nas regiões serranas. Em 1940, ainda com reflexos da 
crise econômica acrescidos do inicio da 2ª guerra mundial, há uma desaceleração da 
expansão, que só foi possível em direção ao norte do Paraná enquanto no oeste paulista 
entraram culturas como o algodão e os pastos. A população brasileira atingia a casa dos 41 
milhões de habitantes (2,5 vezes a de 1.900), dos quais 70% na zona rural (28.700.000 de 
habitantes). 
 Inicia-se uma segunda fase da agricultura paulista, relacionada à expansão 
urbano-industrial e mecanização: em 1970 dos 93 milhões de habitantes 52 milhões eram 
rurais, eqüivalendo a 56% do total; em 1980 a população aumenta para 120 milhões, porém 
a população rural diminui em números absolutos (41,3 milhões) e relativos (34,4 %). No 
entanto, a produção agrícola aumenta e a expansão da ocupação do espaço prossegue em 
ritmo acelerado, graças às acentuadas mecanização e aplicação de outros insumos: naquele 
decênio o número de tratores aumenta 350% e o consumo aparente de fertilizantes 621% 
(QUEIROZ NETO, 2001)! 
 O incremento da erosão pode ser caracterizada pelas estimativas das perdas de terra, 
no estado de São Paulo: em 1960, CASTAGNOLI estima em cerca de 90 milhões de T/ano e 
em 1980 BELLINAZZI et al. em de 215 milhões de T/ano (aumento de 2 vezes em 20 anos). 
Não temos conhecimento de estimativas posteriores, porém as de BELLINAZZI são 
sugestivas: cerca de 50% das perdas de terra, em pouco mais de 19% do território paulista, 
seriam causadas por coberturas não vegetais (zonas urbanas e vias de circulação), 
representando perdas da ordem de 25 T/ha/ano. O aumento das áreas das cidades, vai 
corresponder à entrada em cena das erosões urbanas e periurbanas. O IPT publica no final da 
década os resultados de seu programa “Orientações para o combate às erosões no estado de 
São Paulo” indicando que haveria cerca de 10.000 voçorocas de grande porte, das quais cerca 
de 500 nas zonas urbanas. Seguindo talvez as estimativas de BELLINAZZI et al. para as 
erosões por escoamento difuso, apesar de seu número menor, nas zonas urbanas a produção 
de sedimentos por voçorocas poderia ser maior. 
 Essa mesma história repetiu-se no estado do Paraná, com algum atraso no inicio da 
ocupação, pois teria começado no início do século XX, a partir da expansão no Planalto 
Ocidental Paulista. No entanto, segundo estimativas de FREITAS e CASTRO (1983) as 
perdas de terra seria muito superiores às do estado de São Paulo: 1,8 bilhões de toneladas! 
Naquele estado, a implantação de uma enérgica estratégia de controle da erosão nos anos 80, 
por parte da Secretaria da Agricultura, tende a reduzir os efeitos erosivos das águas, com 
alguns resultados dignos de nota (BRAGAGNOLO, 1994). 
QUADRO ATUAL DOS ESTUDOS DOS PROCESSOS EROSIVOS EM SÃO PAULO 
 O território paulista apresenta grande variedade de relevos, substratos geológicos e 
solos, que foram sucessivamente ocupados pela cultura do café: Planalto Atlântico com 
rochas do précambreano até quase o final do século XIX; Depressão Periférica, com as 
rochas sedimentares do paleozóico e algumas manchas de diabásio, a partir de meados desse 
século, seguido pelo chamado planalto basáltico com suas “terras roxas” até o final do mesmo 
 
século; finalmente, Planalto Ocidental com as rochas do “grés” de Bauru, como fora 
denominado no inicio do século XX, de onde atravessa o Paranapanema para entrar no 
Nor-Noroeste do Paraná. 
 Os processos erosivos na bacia sedimentar do Paraná, em especial no Planalto 
Ocidental, foram tão intensos e aparentes, que a Secretaria da Agricultura criou, no inicio dos 
anos 40, um Serviço de Combate à erosão. Nessa época, o Instituto Agronômico de Campinas 
inicia a instalação de uma rede de parcelas e equipamentos para o estudo da erosão, com a 
finalidade de estabelecer bases mais objetivas para seu controle: essas instalações são 
funcionais até, o que permitiu adois de seus pesquisadores, BERTONI e LOMBARDI, 
publicarem em 1985 o livro que tornou-se um clássico na literatura especializada: 
“Conservação do solo”. É interessante lembrar que, na mesma época, o estado de Pernambuco 
também instalou parcelas de estudo de erosão, porém com descontinuidade nas observações. 
 O principal modelo teórico que tem servido de base para as avaliações das perdas de 
terra por erosão é representado pela equação de perdas de terra, a USLE de WISHMEIER e 
SMITH (1978). O emprego dessa equação direcionou as pesquisas, que visam estabelecer os 
parâmetros regionais e/ou locais de atuação, como mostra o trabalho clássico de BERTONI e 
LOMBARDI NETO (1985) em São Paulo e o de BRAGAGNOLO (1994) para o Paraná. 
 No entanto, algumas restrições podem ser feitas à USLE, em relação não só às 
estimativas de erosão mas também aos processos envolvidos. Trata-se de equação empírica, 
desenvolvida nos Estados Unidos a partir da análise estatística de correlação aplicada à 
inúmeras medições de perdas de terra em parcelas experimentais, quase sempre com 
simuladores de chuva, definindo assim a participação dos chamados fatores de erosão. Essas 
parcelas por suas dimensões, no entanto, permitem quantificar apenas os subprocessos que 
compõem as perdas de terra pela erosão laminar ou em lençol, com pequenos sulcos: a 
destacabilidade e o transporte das partículas pela gota de chuva, a destacabilidade e o 
transporte pelos fluxos mais ou menos difusos das águas. 
 OLIVEIRA (1994) analisou o significado da erosão por escoamento difuso, que 
realiza-se nas encostas apenas nos espaços entre sulcos: estes recebem as águas do 
escoamento difuso e vão corresponder, num primeiro momento, a sítios preferenciais de 
escoamento já concentrado das águas pluviais. Esses pequenos sulcos podem modificar-se a 
cada chuva formando uma espécie de rede anastomosada que, ao fixarem-se a cada período de 
chuva ou na estação chuvosa, vão originar os sulcos maiores e com certo grau de 
permanência, conforme QUEIROZ NETO e CHRISTOFOLETTI já haviam assinalado em 
1968. No primeiro caso esses sulcos, de pequena dimensão, poderiam ser considerados 
efêmeros, ao passo que, no segundo caso e a partir do momento que os sulcos adquirem certo 
tamanho e permanência, as parcelas experimentais não conseguem mais caracteriza-los. 
Assim, o escoamento superficial difuso, que corresponde à totalidade ou à quase totalidade 
das perdas de terra medidas nas parcelas experimentais, não representaria senão uma parte das 
perdas totais de erosão nas encostas: faltaria estimar as perdas devido ao escoamento linear ou 
concentrado. 
 SALOMÃO (1994) diferencia a erosão linear por sulcos e ravinas das voçorocas. Os 
primeiros são provocados apenas pelo escoamento superficial concentrado das águas de 
chuva. As voçorocas pela conjunção do escoamento concentrado superficial com o sub - 
superficial (“piping”), capaz de promover importantes mobilizações de terra, sobretudo nas 
periferias das zonas urbanas, como assinalaram OLIVEIRA (1990) e OLIVEIRA e 
QUEIROZ NETO (1994). 
 
 Não levando em conta a erosão linear ou por escoamento concentrado, que provoca a 
formação de sulcos, ravinas e boçorocas, a USLE, de acordo com OLIVEIRA (1994), 
excluiria os processos mais eficientes para o transporte de sedimentos. 
 VILAR (1989) havia assinalado que seria preciso estimar, ao lado da USLE, a forma e 
o comprimento “real” das encostas. Como mostram os trabalhos de BIGARELLA e 
MAZUCHOWSKI (1985), IPT (1986, 1988, 1990, 1992), SANTANA (1991), outros fatores 
tem sido apontados como determinantes para a presença e intensidade de processos erosivos 
por escoamento concentrado: a irregularidade das encostas, o tipo e a profundidade do 
substrato rochoso, o tipo de cobertura pedológica e suas transformações ao longo das 
vertentes (PELLERIN, et al., 1984), a evolução do uso e manejo do solo e o modo de 
apropriação das terras. Assim, o uso atual dos solos aparece sempre como um dos fatores 
importantes na determinação de processos de erosão acelerada, porém é preciso lembrar a 
interferência de outros fatores. 
 Enfim, não é apenas a USLE que não é aplicável às avaliações dos processos erosivos 
relacionados aos movimentos coletivos do solo: são raramente mencionados nos manuais 
sobre erosão e controle. Para as condições do estado de São Paulo, QUEIROZ NETO (1978) 
havia assinalado que esses processos erosivos são extremamente freqüentes no Planalto 
Atlântico paulista, o que veio a ser confirmado pelo recente mapa de erosão do estado de São 
Paulo (IPT, 1997). Estudos efetuados por geomorfólogos na região de Bananal, grande 
produtora de café em meados do século XIX, mostraram a importância desses e outros 
processos erosivos para a colmatagem de fundos de vale. 
 A grande maioria dos estudos de erosão tem-se limitado a encontrar relações 
estatísticas entre os denominados fatores e a quantidade de terra arrastada. Tratando-se de um 
fenômeno hídrico, causa estranheza o pequeno numero de pesquisas procurando integrar as 
erosões por escoamentos superficiais e sub - superficiais das águas pluviais, ao universo da 
dinâmica global da água do solo, que deveria incluir as drenagens internas vertical e lateral. 
 Algumas pesquisas realizadas no Planalto Ocidental Paulista, sobretudo em Marilia e 
Bauru (PELLERIN et al., 1984; BARROS, 1985; SANTANA, 1991; MANFREDINI e 
QUEIROZ NETO, 1993; SALOMÃO, 1994), com aplicação dos procedimentos da análise 
estrutural da cobertura pedológica, mostraram a interferência da presença de coberturas 
pedológicos com sistemas de transformação lateral de horizontes na erosão por escoamento 
linear. O forte gradiente textural presente nas encostas entre os horizontes A e B, modifica 
completamente os fluxos das soluções internas, durante o período de chuvas: são verticais nas 
partes cimeiras, sobre solos com horizonte B latossólico, passam a laterais e sub - superficiais 
no limite daqueles horizontes, nos solos com B textural; paralelamente, há um aumento 
também do escoamento superficial, o que torna esses solos extremamente frágeis (figura 3), 
fato fartamente assinalado na literatura. 
 Nos sopés das vertentes ou em rupturas de declive nas vertentes, com substrato 
rochoso aflorante ou à pouca profundidade, esses fluxos sub - superficiais adicionam-se aos 
superficiais concentrados, originando sulcos e ravinas; ao encontrarem os lençóis 
permanentes, mais profundos (circulação interna por canais ou “piping”), podem originar 
voçorocas (SALOMÃO, 1994). Como SANTANA e QUEIROZ NETO (1995) assinalaram, é 
nessas porções das vertentes que os sulcos, ravinas e boçorocas se multiplicam, determinando 
zonas de fragilidade e alta erodibilidade (figura 4). 
 
 Os processos de erosão por movimentos coletivos dos solos vem sendo registrados 
principalmente quando assumem proporções catastróficas, como na Serra do Mar ou em zonas 
urbanas ou periurbanas, como em Santos, São Paulo, Campos do Jordão. No entanto, são 
pouco numerosas as pesquisas sobre os mecanismos responsáveis, tal como a realizada por 
FURIAN (1995) no núcleo de Cunha do Parque Estadual da Serra do Mar: a presença de 
horizontes textural, estrutural e mineralogicamente diferenciados condicionam fluxos laterais 
de água, que fragilizam certas porções das vertentes e provocam os movimentos de massa. 
AS PROPOSTAS DE CONTROLE DE EROSÃO 
 Apesar das dúvidas levantadas a respeito das avaliações quantitativas da importância 
das erosões, principalmente relacionadas aos conceitos teóricos que as nortearam, juntamente 
com os mapeamento de erosão, regionais ou locais, e os trabalhos de pesquisa sobre os 
processos e mecanismos envolvidos, é possível realizar um diagnóstico razoável sobre a 
situação atual das erosões nas zonas rurais do território paulista, mais por escoamento difuso 
do que por escoamento concentrado. Em relaçãoaos movimentos coletivos ou de massa, nas 
zonas rurais, a bibliografia mostra haver poucas informações fora daquelas contidas no mapa 
de erosão do IPT (1997). Nas zonas urbanas são problemáticas as erosões por escoamento 
concentrado, que cada municipalidade procura combater a seu modo. São importantes os 
levantamentos realizados pelo IPT/DAEE sobre voçorocas no Planalto Ocidental e as 
indicações das cidades com problemas de erosão, no mapa de erosão (IPT (1997). Sobre os 
movimentos coletivos ou de massa, há trabalhos sobre eventos catastróficos como os dos 
morros de Santos, da Serra do Mar em Caraguatatuba e Cubatão, e no topo da Mantiqueira, 
em Campos do Jordão, além do livro sobre ocupação de encostas, do IPT, sob coordenação de 
CUNHA (1991); no entanto, as informações são ainda escassas, sobretudo tendo em vista a 
importância social e econômica que assumem. 
 O diagnóstico abaixo envolve os processos, o grau de conhecimento sobre os fatores e 
as práticas de controle que vem sendo propostas; em relação às áreas mais freqüentes de 
ocorrência, lembramos que elas acham-se indicadas no mapa de erosão referido. É possível, 
por outro lado, separar dois grandes conjuntos: erosão nas áreas rurais e erosão urbana e 
periurbana: 
1. Erosão nas áreas rurais 
1.1 - escoamento concentrado superficial e sub-superficial (erosão em sulcos) 
 - fatores agravantes: formas de relevo (colinas médias e convexas) + substrato 
 geológico (rochas sedimentares) + solo (coberturas pedológicas com forte 
 gradiente textural entre horizontes A e B) + uso e manejo inadequados 
 (caminhos, divisões de parcelas, intensidade do manejo, densidade do 
 recobrimento do solo em relação à declividade, textura do horizonte 
 superficial, 
 etc. 
- áreas: Planalto Ocidental e Depressão Periférica 
 - controle preconizado - nas maiores declividades: reflorestamentos e pastagens; 
 declividades menores: controle do escoamento superficial (meios mecânicos 
 e/ou vegetativos) 
 - voçorocas: de modo geral são de difícil controle, sobretudo pelos processos 
 envolvidos em sua evolução e dinâmica, que tanto são longitudinais quanto 
 transversais. 
1.2 - escoamento difuso superficial (erosão laminar) 
 - fatores agravantes: uso e manejo do solo (como no caso anterior) 
 
 - áreas: generalizadas em todo o estado, inclusive sobre pastagens, porém mais 
 importantes nas zonas de maior declive e sobre solos de textura média a 
 arenosa; 
 - controle preconizado: práticas mais tradicionais de conservação dos solos, tanto 
 de caráter vegetativo quanto mecânico. 
1.3 – movimentos coletivos do solo (podem assumir aspectos catastróficos) 
 - fatores agravantes: formas de relevo (colinas médias com forte convexidade e/ou 
 relevo montanhoso acidentado) + substrato rochoso (rochas metamórficas com 
 bandeamentos) + solos (textura média a argilosa porém com boa capacidade de 
 infiltração) + uso e manejo inadequados (destruição da cobertura vegetal nas 
 maiores declividades do terço inferior das vertentes) 
 - áreas: Planalto Atlântico 
 - controle preconizado: reflorestamento das áreas mais sensiveis. 
2. Erosão urbana e periurbana 
2.1 - escoamento concentrado (ravinas e boçorocas) 
 - fatores agravantes : ocupações inadequadas (loteamentos, arruamentos na linha de 
 maior declive) + substrato rochoso e solos (rochas sedimentares e textura média a 
 arenosa) 
- áreas: em todo o estado 
 - controle preconizado: arruamentos em nível, guias e sarjetas, galerias pluviais 
 adequadas, calçamento nas áreas de maior declive 
2.2 – movimentos coletivos 
- fatores agravantes: construções e aterros em áreas de alta declividade + 
colinas de forte convexidade + substrato rochoso (rochas metamórficas) + 
fluxos laterais internos (proximidade de nascentes e cabeceiras de córregos) + 
questões sociais (construções de baixo padrão) 
- áreas: em todo o estado, principalmente no Planalto Atlântico 
- controle preconizado: disciplinamento da ocupação do espaço e outras 
 medidas indicadas pelo IPT (1991). 
 
 Por fim, algumas palavras sobre o que é preciso incrementar ou até mesmo 
iniciar, nas pesquisas sobre as mais diversas formas de erosão, visando seu controle.: 
1- reiniciar o cadastramento das erosões, relacionando-as aos fatores condicionantes 
do meio físico e de manejo, procurando identificar as áreas mais sensiveis; 
2- na mesma direção, prosseguir o levantamento e estudo dos fatores condiconantes, 
como erosividade das chuvas, erodibilidade dos solos, influência dos tipos de 
manejo e cobertura vegetal, isto é, dos parâmetros propostos pelas equações de 
perda de terra; 
3- incrementar estudos sobre solos nas áreas críticas, pelo emprego dos 
procedimentos da análise estrutural das coberturas pedológicas, que permitem 
chegar ao melhor conhecimento do funcionamento hídrico dos solos e suas 
relações com os processos erosivos; 
4- incrementar as pesquisas sobre perdas de terra, sobretudo relacionadas com a 
produção de sedimentos e estudos de hidrosedimentologia, envolvendo o 
transporte e deposição de sedimentos ao longo dos cursos d’água, visando 
minimizar o assoreamento dos rios, lagos e barragens. 
 
 
 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
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Figura 1 - Essa curva hipotética de produção de sedimentos proposta por 
OLIVEIRA & QUEIROZ NETO (1997) representaria o que ocorreu 
no território paulista. 
 
 
 Figura 2 - Essa interpretação proposta por AROLDO DE AZEVEDO (1968) ilustra o fato de 
que a real ocupação do território inicia-se com a expansão do café a partir do século XIX. 
 
 
 
 
 
 
Figura 4 - Escoamento linear concentrado no alto vale do rio do Peixe, em Marilia, mostrando que os 
sulcos não terminam no fundo dos vales, mas sim em rupturas de declive ocasionadas por 
afloramentos rochosos, visíveis sobretudo na parte norte da área (adaptado de SANTANA & 
QUEIROZ NETO, 1995, sobre fotos aéreas de 1962)

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