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2016 Universidade Federal do Paraná - UFPR Setor de Ciências Agrárias - SCA Depto de Economia Rural e Extensão - DERE Curso de Pós-Graduação em Gestão Florestal Prof. Dr. Ricardo Berger Prof. Dr. João Batista Padilha Jr UFPR / DERE ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA DA PRODUÇÃO _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 2 SUMÁRIO Capítulo 1 – Conceitos Básicos em Economia Florestal 1.1 – Aspectos Básicos em Economia Florestal 1.2 – A Produção Florestal Frente à Escassez de Recursos 1.3 – A Importância da Tecnologia no Setor Florestal 1.4 – A Importância Econômica e Social do Setor Florestal 1.5 – A Cobertura Florestal Brasileira e Paranaense Capítulo 2 – A Demanda de Produtos Florestais 2.1 – Introdução 2.2 – Aspectos da Teoria do Comportamento do Consumidor 2.2.1 – A Teoria Cardinal 2.2.2 – A Teoria Ordinal 2.3 – A Curva de Demanda na Visão do Consumidor (q) 2.4 – A Curva de Demanda de Mercado (Q) 2.5 – A Taxa de Crescimento e a Projeção da Demanda para Produtos Florestais Capítulo 3 – Elasticidade: Medindo as Reações dos Produtos Florestais no Mercado 3.1 – Introdução 3.2 - Cálculo da Elasticidade () 3.3 – A Elasticidade da Demanda 3.3.1 - A elasticidade-preço da demanda (pd) 3.3.2 - A elasticidade-cruzada da demanda (cd) 3.3.3 - A elasticidade-renda consumo (rc) Capítulo 4 – A Oferta de Produtos Florestais 4.1 – A Curva de Oferta de Mercado 4.2 – A Elasticidade-preço da Oferta 4.3 – Fatores que Afetam a Elasticidade-preço da Oferta 4.4 – Fatores Deslocadores da Oferta 4.4.1 – Preços dos Insumos 4.4.2 – A Tecnologia Capítulo 5 – A Teoria da Produção de Produtos Florestais 5.1 – Introdução 5.2 – Fatores de Produção Fixos e Variáveis na Produção Florestal 5.3 – Os Períodos de Tempo na Produção Florestal 5.4 – Principais Tipos de Relações Físicas na Produção Florestal 5.4.1 - Relações Fator-Produto ou Insumo-Produto 5.4.2 - Relações Fator-Fator Capítulo 6 – A Teoria de Custos de Produtos Florestais 6.1 – Introdução 6.2 – Classificação dos Custos de Produção 6.3 – Os Custos Médios da Produção Florestal _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 3 6.4 – Principais Inter-relações entre os Produtos Físicos de Produção e os Custos de Produção de uma Empresa Florestal 6.5 – A oferta de uma Empresa Florestal no Curto Prazo e Longo Prazo 6.6 - Exemplo de Análise de Custos de Produção de uma Empresa Florestal Capítulo 7– Análise das Estruturas de Mercado de Produtos Florestais 7.1 – Introdução 7.2 – O Mercado de Produtos Florestais 7.3 – As Estruturas de Mercado dos Produtos Florestais 7.3.1 – A Competição Pura ou Perfeita 7.3.2 – Oligopólio 7.3.3 – Monopólio 7.3.4 – Competição Monopolística 7.3.5 – Monopsônio 7.3.6 – Oligopsônio Capítulo 8– Grupo de Custos na Empresa Florestal 8.1 – Considerações 8.2 – Grupo de Custos 8.3 – Estrutura de Custos Capítulo 9– Matemática Financeira Básica 9.1 – Características da Produção Florestal 9.2 – Floresta como Capital 9.3 – Conceito Básico de Juro 9.4 – Capitalização Simples 9.5 – Capitalização Composta 9.6 – Fórmulas Básicas 9.7 – Inflação e Análise de Investimento 9.7.1 – Inflação 9.7.2 – Tipos de Inflação 9.7.3 – Medidas da Inflação 9.7.4 – Preços Correntes e Preços Reais 9.7.5 – Taxas de Juro e Retornos Nominal e Real Capítulo 10- Análise de Benefício Custo 10.1 – Procedimento 10.2 – Critérios de Análise 10.3 – Um exemplo 10.4 – Período de Investimento Capítulo 11 – Avaliação Florestal 11.1 – Considerações 11.2 – Método Direto de Avaliação 11.3 – Métodos Indiretos de Avaliação 11.3.1 – Base de Custos 11.3.1.1 – Custos de Oportunidade da Terra – COT 11.3.2 – Base de Rendimento Futuro Andry Highlight _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 4 Capítulo 12 – Custo / Preço da Produção Florestal 12.1 – Procedimento de Cálculo 12.2 – Custos Conjuntos 12.3 – Custos Base Exaustão Capítulo 13 – Preço de Terras Florestais 13.1 – Base Teórica 13.2 – Um Exemplo Capitulo 14 – Investimento em Terras e a Rentabilidade Florestal 14.1 – Análise Prática Capítulo 15 – Maturidade Financeira de Florestas 15.1 – Critérios de Maturidade de Florestas 15.2 – Visualização Gráfica dos Critérios 15.3 – Resultados dos Critérios Capítulo 16 – Transportabilidade de Produtos Florestais 16.1 – Bases Teóricas do Módulo 16.2 – Um Exemplo 16.3 – Análise de Sensibilidade Andry Highlight Andry Highlight _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 5 Capítulo 1 – Conceitos Básicos em Economia Florestal 1.1 – Aspectos Básicos em Economia Florestal O setor florestal brasileiro sempre representou um papel fundamental dentro da economia nacional. Nos últimos anos, com o acirramento da cobrança para a preservação e recomposição das florestas, este importante setor da economia brasileira voltou à cena. Além da fundamental colaboração na preservação dos recursos hídricos, da fauna, na geração de oxigênio, na fixação do dióxido de carbono e por conseqüência, redução do efeito estufa, a floresta possui uma importância produtiva e econômica indiscutível. Desta forma, observa-se que é possível gerar a produção econômica florestal associada com a sustentabilidade ambiental. Assim, compreender a economia não significa apenas buscar conhecer os fatos que acontecem diariamente ao nosso redor, bem como entender suas causas, efeitos e conseqüências. A economia é mais do que isto, ela é um processo dinâmico, é um ferramental que nos permite auxiliar a tomada de decisão diante de um conjunto de restrições, que são os fatores escassos de produção. A economia também é a ciência que gera um equilíbrio no processo das escolhas, pois, busca contemporizar agentes que possuem objetivos divergentes no mercado. Mas, sem dúvida nenhuma, o principal problema econômico enfrentado pelo setor produtivo consiste na escassez ou na limitação dos recursos econômicos disponíveis para a geração de qualquer tipo de bem ou serviço desejado pelo mercado consumidor. Devido ao fato da escassez, a economia nos auxilia na escolha das melhores maneiras de utilizar os recursos produtivos disponíveis. Neste processo, podemos entender a economia como um sistema formado por quatro elementos principais: os recursos econômicos (ou fatores de produção), a tecnologia, as preferências individuais e as instituições. Os recursos econômicos representam a base da economia, ou seja, os elementos necessários para que a produção possa acontecer, sendo classificados em recursos naturais, recursos humanos e bens de capital. A tecnologia especifica o processo de combinação alternativa dos recursos econômicos para a produção de determinados produtos desejados pelo mercado. Já as preferências individuais (ou desejo dos consumidores) representam o fator motivador da existência de um mercado. Finalmente, as instituições, representam todos as organizaçõeseconômicas, sociais, jurídicas e políticas responsáveis pela normatização das atividades desenvolvidas pela sociedade organizada. Na análise florestal, muitos economistas acreditam que não haja problema algum em se aplicar os conceitos da teoria econômica tradicional, utilizados em outros setores da economia. Mas, alguns aspectos da floresta, quando considerados em conjunto, criam situações de análise que não são observadas em outros setores da economia: _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 6 a) As florestas geram produtos múltiplos, muitos dos quais não são facilmente percebíveis pelo mercado. Além da receita total gerada pela venda da madeira e de outros produtos florestais madeiráveis e não madeiráveis, as florestas também geram externalidades positivas, que são valorizadas pela sociedade. Como exemplo cita-se a beleza cênica de um bioma, os espaços florestais preservados (Reserva Legal Florestal, Preservação Permanente e Unidades de Conservação), a preservação de nascentes de rios e o controle das enchentes, entre outros. Olhando desta forma, fica difícil visualizar efeitos análogos gerados por outros empreendimentos como a agropecuária e a prestação de serviços; b) A exploração florestal realizada de maneira não sustentada pode causar externalidades negativas que não são cobertas pelo produtor, como a perda da qualidade da água e a poluição do ar causado pelas queimadas e pelo processamento da madeira. Obviamente, a externalidade negativa pode ser observada em vários outros empreendimentos não-florestais; c) A produção florestal envolve o longo prazo, o risco e a incerteza. Desta forma, alguns produtos florestais podem ser gerados em períodos inferiores a uma década, enquanto outros produtos necessitam de 15 anos ou mais. Assim, no longo prazo, existe uma tremenda incerteza com relação à produção e aos retornos esperados pelos produtores. Os aspectos citados acima não são exclusivos do setor florestal, mas, em conjunto, eles criam restrições que tornam a produção florestal um desafio único. 1.2 – A Produção Florestal Frente à Escassez de Recursos Como podemos observar, a economia auxilia-nos na escolha das melhores alternativas de uso para os recursos produtivos. De maneira ampla, economia é o estudo da alocação de recursos escassos para a geração de utilidade (satisfação) aos consumidores. Assim, em uma economia, a determinação do que vai ser gerado passa necessariamente pelo conhecimento da capacidade restritiva dos fatores de produção disponíveis e pelo nível de tecnologia disponível para combinar tais fatores. Desta forma, o primeiro passo neste processo consiste em determinar quais combinações de produtos são possíveis de serem realizadas. A fronteira de possibilidades de produção ou curva de transformação, desta forma, estabelece quais combinações de atividades podem ser geradas e quais não podem, respeitando o conjunto de restrições impostas a esta tomada de decisão (recursos disponíveis e capacidade tecnológica). As figuras 1.a e 1.b representam as fronteiras de possibilidade de produção para uma indústria florestal produtora de celulose e ou compensado. _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 7 1 2 3 4 5 6 Celulose (1000 toneladas) 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 Celulose (1000 toneladas) Co mp en sa do (1 00 0 t on ela da s) Co mp en sa do (1 00 0 t on ela da s) A B Figura 1.a Figura 1.b 0 A B C D Na figura 1.a, se todos os recursos disponíveis fossem utilizados para a produção de celulose, poder-se-ia produzir um total de 6.000 toneladas. Se, no entanto, fosse resolvido produzir somente compensado, o resultado seria de 5.000 toneladas. A fronteira de possibilidades indica todas as combinações possíveis entre produzir celulose ou compensado, como, por exemplo, 4.000 toneladas de celulose e 2.000 toneladas de compensado. A fronteira de possibilidades de produção, sozinha, não indica qual a combinação que será produzida, mas, define todas as possibilidades existentes para a indústria florestal. Racionalmente, jamais se optará por qualquer ponto à esquerda da fronteira – ponto A – (solução interior), pois, isto implicaria em aproveitamento parcial dos recursos disponíveis. Já pontos localizados à direita da fronteira – ponto B – (solução exterior) também não devem ser escolhidos, pois, caracterizam soluções impossíveis e que exigiriam mais recursos do que os disponíveis. Desta forma, conclui-se que as soluções possíveis só poderão ocorrer ao longo da fronteira de possibilidades. Uma fronteira de possibilidades de produção linear, como a da figura 1.a, indica que os custos de oportunidade são constantes. Qualquer substituição de recursos econômicos da produção de compensado para celulose, ou vice-versa, significa que os recursos econômicos poderiam sempre produzir compensado ou celulose em uma proporção fixa de 5.000:6.000. Isto denota que, qualquer que seja o nível de produção de compensado ou celulose, os recursos econômicos retirados de um processo e realocados em outro serão tão eficientes quanto os já utilizados anteriormente. Entretanto, se os recursos econômicos transferidos forem continuamente menos eficientes em sua nova utilização do que os anteriores, o custo de oportunidade será crescente e a fronteira de possibilidades de produção será côncava, conforme pode ser observado da figura 1.b. Partindo-se da produção de compensado, nota-se que para cada decréscimo unitário o aumento na produção de celulose é decrescente, o que denota claramente que o custo de oportunidade da celulose é crescente, devido ao fato de que os recursos econômicos não são _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 8 igualmente eficientes na produção dos dois bens. Verifica-se, então, que a limitação ou escassez de recursos econômicos implica na opção da produção entre bens alternativos. A fronteira mostra então as possibilidades de produção supondo uma restrição de recursos econômicos, pleno emprego dos recursos e utilização de tecnologias adequadas. Para que haja uma mudança no seu comportamento (deslocamento), conforme pode ser observado na figura 1.b, devido ao incremento no consumo de celulose e compensado por uma economia, torna-se necessário ampliar a utilização de recursos econômicos além de se incorporar tecnologias mais eficientes ao processo produtivo. 1.3 – A Importância da Tecnologia no Setor Florestal Dentro de um sistema de produção florestal, a tecnologia vem a ser o elemento chave fundamental para a geração de ganhos de produtividade e melhoria no processo de combinação dos recursos econômicos. Desta forma, a incorporação de novas tecnologias tem sido preponderante no sentido de incrementar a oferta de produtos florestais, notadamente no longo prazo. No setor florestal, o processo evolutivo de sua adoção iniciou-se em meados da década de 60 com a utilização de sementes melhoradas. Nos anos 70, foi a evolução das técnicas de fertilização e nutrição que permitiram também a expansão da produção florestal. Em meados dos anos 70 e início dos anos 80, a biotecnologia começou a proporcionar incrementos positivos ao setor e temsido ela até hoje o elemento fundamental em promover a expansão da produção florestal. Uma tecnologia só será eficiente quando conseguir gerar ganhos de produtividade superiores ao custo total incorrido neste aumento de produção. Desta forma, a tecnologia eficiente consegue aumentar a produtividade reduzindo os custos médios de produção. Analisando a atual conjuntura do mercado florestal, ou seja, de economia aberta e globalizada, percebe-se que cada vez mais as empresas vem buscando um processo de fusão, de aquisição e de incorporação de outras empresas, no sentido de se tornarem mais competitivas em relação ao mercado global (integração vertical e horizontal). Esta busca da economia de escala e de escopo é fundamental para a sobrevivência em um ambiente competitivo onde, ao mesmo tempo, percebe-se uma concentração gradativa dos setores e a criação cada vez maior de barreiras à entrada de novas firmas nestes mercados. Devido a este fato, a redução dos custos médios de produção é o caminho da sobrevivência e de ganhos de competitividade em longo prazo. Uma tecnologia mais eficiente consiste em um conjunto de condições que permitem: a) aumentar a quantidade produzida de determinado sistema florestal utilizando a mesma quantidade de recursos econômicos empregados anteriormente e b) Manter o mesmo nível de produção realizado anteriormente com a utilização de uma menor quantidade de recursos econômicos (efeito poupador de insumos). _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 9 300 250 200 150 300 40050 100 200 100 Quantidade de insumo (kg fertilizante/ha) Q ua nt id ad e de p ro d ut o ( e st ér e os /h a ) Pinus Comum Pinus Melhorado Figura 2 – O Efeito da tecnologia sobre a produção florestal. Na figura 2, é possível perceber o efeito positivo de determinada tecnologia incorporada ao processo de produção florestal. Admita que em um sistema de produção de madeira de pinus para serraria foi substituída uma variedade comum por outra variedade melhorada geneticamente. Para dado nível de fertilização da área (300 kg por hectare), observou-se que a produção incrementou dos 250 estéreos por hectare para 300 estéreos por hectare, ou seja, conseguiu-se elevar a produção utilizando-se a mesma quantidade do insumo fertilizante. De forma alternativa, é possível perceber o efeito da tecnologia no processo produtivo via a economia do insumo fertilizante. Com a utilização do pinus melhorado, pode-se produzir a mesma quantidade anterior de madeira (250 estéreos por hectare) com menor uso do insumo (de 300 para 100 quilogramas de fertilizante por hectare). 1.4 – A Importância Econômica e Social do Setor Florestal O mercado mundial dos produtos florestais gera anualmente algo em torno dos US$ 150 bilhões, o que o situa entre os dez principais negócios do planeta. A principal determinante deste resultado consiste na incorporação de técnicas avançadas de manejo associadas ao incremento de tecnologias modernas. O setor florestal está crescendo no mundo todo e já responde por aproximadamente 2% do PIB mundial. Com relação à participação do setor florestal no total da economia dos principais países produtores deve-se destacar a Finlândia com 8%, seguida pelo Brasil (4,5%), pelo Chile (3,6%), pelo Canadá (3%), pela Alemanha (2,8%) e pelos EUA (0,9%). O mercado brasileiro dos produtos florestais é responsável pela geração de aproximadamente 4,5% do PIB total da economia (US$ 90 bilhões dos US$ 1,5 trilhão gerados em 2015), tendo cerca de 30 mil empresas vinculadas ao setor produtivo. Na década de 90, as exportações brasileiras de produtos florestais cresceram a uma taxa média de 10% ao ano e, atualmente, vem mantendo esta média histórica. Relativamente ao volume total das exportações brasileiras em 2015 _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 10 (US$ 191,1 bilhões), as exportações do agronegócio representaram 46,2% do total (US$ 88,2 bilhões) e o setor dos produtos florestais foi responsável por 11,7% do total das exportações. Assim, no ano de 2015 aproximadamente US$ 10,3 bilhões foram exportados (crescimento de 3,8% em relação ao ano de 2014). As importações foram da ordem de US$ 1,7 bilhão (queda de 28% em relação à 2014) e saldo da balança comercial de US$ 8,6 bilhões (aumento de 15% em relação à 2014). Dos principais grupos de produtos que formam o setor, cita-se o do papel e celulose como responsável por mais de 50% das exportações totais e o da madeira e suas obras por outros 45%. Da balança comercial brasileira, que é composta por 2872 produtos, o setor florestal participa com 449 produtos (15,6%) sendo 7 produtos do setor de gomas e borracha naturais, 18 do setor de celulose, 167 produtos do setor de madeira e 257 produtos do setor de papel. Com relação aos investimentos projetados para o setor florestal, considerando um horizonte de dez anos, espera-se que cerca de US$ 10 bilhões sejam aplicados. Além dos aspectos já citados, a que se considerar que o setor florestal tem capacidade de geração de 600 mil empregos diretos e outros 3,5 milhões de empregos indiretos. Cerca de 7,5% da população economicamente ativa trabalha em alguma atividade vinculada ao setor florestal. Somente na cultura da erva-mate, atividade essencialmente florestal, emprega-se cerca de 800 mil pessoas. A matéria-prima gerada pelas empresas da base florestal tem como destinação o seguinte consumo industrial: madeira serrada, lâminas e compensados, chapas reconstituídas, celulose e papel, carvão e lenha. Em 2014, consumo industrial total de madeira nativa e de reflorestamento no Brasil representa anualmente algo em torno de 290 milhões de m3, onde a madeira nativa participa com 50,9 milhões de m3 (17,6% do consumo total) e a madeira de reflorestamento responde por outros 238,6 milhões de m3 (82,4% do consumo total). Dentre os setores consumidores que mais demandam madeira no Brasil em 2014 segundo o IBGE, destaca-se o de carvão, com um consumo anual de cerca de 58 milhões de m3 (20% do consumo total), seguido pelo setor de madeira para uso industriall com 146,5 milhões de m3 (50,6% do consumo total) e pelo setor de lenha com 85 milhões de m3 (29,4% do consumo total). Desta forma, este setores respondem pelo consumo total de madeira natural e plantada produzida no Brasil anualmente. Os setores de lâminas e compensados e de chapas reconstituídas são bastante incipientes ainda, respondendo respectivamente por 3% e 2% do consumo total de madeira no Brasil. Com relação ao consumo de madeira de reflorestamento, o mesmo é centrado exclusivamente na utilização de duas espécies florestais (Pinus e Eucalipto). A madeira de pinus responde por 30% do consumo total de madeira no Brasil, enquanto que a madeira de eucalipto representa outros 70%. O consumo total projetado de madeira de reflorestamento no Brasil é da ordem de 238 milhões _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 11 de m3 anuais, onde o pinus responde por 71,4 milhões de m3 e o eucalipto por outros 167 milhões de m3. A figura abaixo ilustra o agronegócio florestal no Brasil. Agronegócio do Setor Florestal Brasileiro Fonte: IBGE O mercado paranaense dos produtos florestais é responsável pela geração de 20% do PIB estadual, além disso, ocupa a quarta posiçãoem termos de arrecadação de ICMS. O Estado do Paraná ocupa o primeiro lugar na produção nacional de compensados, possui também cerca de 8 mil empresas ligadas ao setor florestal gerando aproximadamente 150 mil empregos diretos. Com relação à participação dos produtos florestais (25 produtos) na composição do Valor Bruto da Produção agropecuária paranaense (VBP), verifica-se que este grupo de produtos ocupa atualmente a terceira posição em importância, logo atrás das principais grandes culturas agrícolas (48%) e da pecuária (46%), com uma participação de 6%, o que significou algo em torno de R$ 4,0 bilhões no ano de 2014. De acordo com o SEAB/DERAL (2016), os principais produtos florestais gerados neste período foram 26,8 milhões de metros cúbicos de materiais para serrarias e laminadoras; 15,5 milhões de m3 de lenha; 9,0 milhões de m3 para papel e celulose e 401,7mil toneladas de erva-mate. _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 12 1.5 – A Cobertura Florestal Brasileira e Paranaense Em nível de Brasil, segundo a SBS (2012), existem atualmente cerca de 463 milhões de hectares de Florestas, das quais 456,1 milhões de hectares são de florestas nativas o que representa 53,6% da área nacional e aproximadamente 7,2 milhões de hectares de florestas plantadas que são equivalentes a 0,8% do território Brasileiro. Da área de plantios florestais, 93% são eucalipto e pinus com 5,47 milhões de hectares de eucalipto e 1,57 milhão de hectares de pinus respectivamente e 556 mil hectares são de plantios como acácia, seringueira, paricá, teca, araucária e pópulos (IBA 2014). Segundo a Indústria Brasileiro de Árvores (IBA), em 2013 o Valor Bruto da Produção do setor a nível nacional foi R$ 56 bilhões e crescimento de 5,9% em relação ao ano de 2012. Apresentou uma contribuição tributária de R$ 8,8 bilhões e movimentou 4,4 milhões de empregos diretos, indiretos e de efeito renda. O Estado do Paraná, segundo a SEMA-IAP (2003), possui aproximadamente 5,1 milhões de hectares de Florestas Nativas e Florestas Plantadas, indicando que 25,5% de toda a superfície do estado possui algum tipo de cobertura florestal. Esta área florestal do Paraná é composta por vários estágios sucessionais (estágio inicial, estágio médio, estágio avançado) e pelos reflorestamentos. Deste total da cobertura florestal do Paraná aproximadamente 9,3% (1,8 milhão de hectares) correspondem a florestas em estágio inicial; 10,2% (2,0 milhões de hectares) são de florestas de estágio médio e os 3,1% (617 mil hectares) restantes são pertencentes a florestas em estágio avançado de desenvolvimento. A área de reflorestamento do Estado do Paraná atinge atualmente cerca de 570 mil hectares (ou 2,9% da área total do estado). A área destinada ao plantio florestal somou aproximadamente 1,5 milhão de hectares, sendo 58% de pinus e 42% de eucalipto, ocupando assim, aproximadamente 7% do solo paranaense e sua renda participou com 5,7% da receita total do Estado. _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 13 Capítulo 2 – A Demanda de Produtos Florestais 2.1 – Introdução A demanda, o consumo ou a procura por produtos florestais representa a participação dos consumidores dentro desta importante cadeia produtiva do agronegócio nacional. De certa forma, o mercado começa e termina nos consumidores, daí a importância de se conhecer as inter-relações destes agentes dentro do processo produtivo. O resultado final de toda a produção e distribuição de insumos florestais; a produção florestal propriamente dita e todo encaminhamento posterior da produção ao longo de um sistema de comercialização tem como objetivo final satisfazer o desejo dos consumidores. Colocar, desta forma, o estudo do comportamento dos consumidores como objetivo principal num processo de produção florestal permite que o empresário consiga coletar informações fundamentais para o bom desempenho de seu negócio, além de estar sintonizado com o mercado. 2.2 – Aspectos da Teoria do Comportamento do Consumidor Para que se possa compreender de uma forma mais clara o conceito de demanda, faz-se necessário proceder um comentário sobre a origem da função demanda, cuja derivação surge da teoria do comportamento do consumidor. Desta forma, dispõe-se de duas aproximações: uma baseada na teoria clássica do consumidor, a teoria cardinal; e a segunda, baseada na teoria neoclássica, a teoria ordinal. Um aspecto importante a ser considerado é o fato de que mesmo partindo de pressupostos distintos, ambas conduzem ao mesmo resultado, ou seja, o da relação inversa entre o preço de mercado e a quantidade demandada de certo produto, o que significa que as curvas de demanda são negativamente inclinadas. 2.2.1 – A Teoria Cardinal A teoria cardinal ou da utilidade marginal decrescente estabelece que o consumidor racional possui utilidade (satisfação) associada ao consumo sucessivo de bens e serviços no tempo. Desta forma, esta teoria deveria ser aplicada para cada consumidor e para cada produto demandado no tempo, não podendo ser extrapolada para o consumo total de bens de um consumidor. Pela teoria cardinal, quando um indivíduo consome unidades sucessivas de determinado produto no tempo, mantido constante o consumo de outros bens, a quantidade de satisfação obtida da cada unidade adicional diminui, e a este fato ele estará disposta a pagar cada vez menos. 2.2.2 – A Teoria Ordinal A teoria ordinal ou teoria das curvas de indiferença parte do pressuposto de que cada consumidor não precisa medir a utilidade do consumo nem supor de que a mesma seja decrescente. Nesta teoria, parte-se do pressuposto de que o consumidor consegue representar o seu desejo em adquirir bens e serviços na _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 14 forma de cesta de bens (lista de produtos que deseja consumir). Após esta definição, através do conhecimento da renda do consumidor, descreve-se a restrição de orçamento. Combinando-se estes dois elementos, pode-se derivar a curva de demanda individual para determinado produto ou serviço. 2.3 – A Curva de Demanda na Visão do Consumidor (q) Cada consumidor possui uma curva de demanda única para bens e serviços que deseja consumir no tempo, como pode ser visto na figura 3, nas curvas hipotéticas para consumo de papel sulfite por Ricardo e João. 10 20 30 40 50 60 1 2 3 4 5 6 Papel sulfite (pacotes por ano) Papel sulfite (pacotes por ano) Papel sulfite (pacotes por ano) Pre ço ( R$ por uni dad e) Pre ço ( R$ por u n idad e) Pre ço ( R$ por uni dad e) Ricardo 10 20 30 40 50 60 1 2 3 4 5 6 João 10 20 30 40 50 60 70 1 2 3 4 5 6 Mercado de dois consumidores 21 unidades 21 unidades 21 + 21 = 42 unidades Figura 3 – Curvas de Demanda Individual e Demanda de Mercado. Pode-se verificar, desta forma, a reação de cada um dos consumidores que vão até o mercado adquirir papel sulfite. Com preços mais elevados, os dois consumidores tendem a demandar menos papel por unidade de tempo e, conseqüentemente, compreços mais baixos ficam estimulados a comprarem mais. Uma razão para isto é que, pagando mais caro para a adquirir este produto, vão reduzir as suas rendas monetárias restritas disponíveis que poderiam ser utilizadas na aquisição de outros produtos no mercado. As curvas de demanda por papel sulfite para Ricardo e João mostram isto, bem como o fato de responderem de diferentes maneiras as variações de preço no mercado. A Curva de demanda possui inclinação negativa porque quando se consome mais de um determinado bem por unidade de tempo, eventualmente se deseja pagar menos. Este é o princípio da utilidade marginal decrescente, como visto anteriormente. Pela soma das quantidades individuais demandadas (q) por Ricardo e João no mercado, nos podemos obter a curva de demanda de mercado (Q), como pode ser observado no terceiro gráfico da figura 3. De maneira geral, a demanda de mercado consiste na soma horizontal das demandas individuais dos consumidores que estão atuando no mercado. Logicamente que esta não é a maneira pela qual a curva de demanda é derivada empiricamente, mas, auxilia sobremaneira no entendimento do conceito de demanda. _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 15 2.4 – A Curva de Demanda de Mercado (Q) Como visto anteriormente, a curva de demanda de mercado consiste na soma horizontal das demandas individuais por certo bem ou produto no mercado. A cada nível de preço, a quantidade demanda no mercado é a soma das quantidades de cada indivíduo. Desta forma, conceitualmente, a curva de demanda é uma relação econômica que mostra o quanto que os consumidores estão dispostos a adquirir de certo produto ou serviço no mercado aos diferentes níveis de preço, num determinado período de tempo, mantidas todas as demais variáveis que poderiam afetar o processo constantes. Portanto, caso fossemos definir um conjunto de variáveis que afetam o processo decisório do consumidor, iríamos nos deparar com uma quantidade enorme delas e, cada uma teria um peso subjetivo e individual no processo das escolhas. Desta forma, poderíamos definir a função demanda como sendo dependente de um conjunto de variáveis, aqui definidas como ―c‖, conforme observado na equação 1. ),...,,( 21 cccQ nd f (1) Todavia, existem duas variáveis fundamentais neste processo: o preço e a quantidade. Isto significa que, durante certo período de tempo, poderíamos desconsiderar ou manter constante o efeito de variáveis importantes como a população; o nível e distribuição de renda; o preço dos produtos substitutos e complementares; o marketing, entre outras, no processo das escolhas. Considerando a variável independente ― c 1 ― como sendo o preço e, mantendo as demais variáveis constantes, surge a função demanda simplificada, que pode ser observada na equação 2 e na figura 4. )( PfQ d (2) No estudo da demanda, existem ainda alguns efeitos econômicos que precisam ser analisados: a) a variação na quantidade demandada e b) a variação na demanda. a) A variação na quantidade demandada é um efeito causado única e exclusivamente pelo preço, ou seja, a sua elevação ou queda no mercado faz com que os consumidores ajustem o seu padrão de procura ao longo da função demanda analisada, onde a posição da curva de demanda permanece inalterada, como observado na figura 4. Desta forma, para cada elevação ou redução de preço no mercado, o consumidor apenas ajusta-se ao seu novo padrão de consumo. b) A variação na demanda é causada pela alteração dos fatores deslocadores da demanda (efeito população, efeito nível e distribuição de renda, variação no preço de produtos substitutos e complementares, efeito marketing, entre outros), que provocam expansão ou contração do consumo e, nesse caso, é a curva de demanda _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 16 que muda de posição ou se desloca em relação à demanda original, como observado na figura 5 Quantidade demandada do produto P re ço d o P ro d ut o ( R $ p o r un id a d e ) Curva de Demanda (D) P0 P 1 Q0 Q1 Figura 4 – A curva de demanda de mercado para um produto florestal e a variação na quantidade demandada. Quantidade demandada do produto P re ço d o P ro d ut o ( R $ p o r un id a d e ) D0 D+D- P 0 Q0 Q + Q - Figura 5 – A variação na demanda causada por fatores deslocadores positivos e negativos. _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 17 2.5 – A Taxa de Crescimento e a Projeção da Demanda para Produtos Florestais A determinação do crescimento do consumo por produtos florestais depende de um conjunto de fatores bastante diversos e muitas vezes difíceis de serem estimados. Este aspecto é devido ao dinâmico processo de evolução dos mercados consumidores, principalmente com a abertura da economia nacional e a globalização das economias mundiais. Nesta estimação, deveríamos considerar todas as variáveis fundamentais para a demanda, mas, muitos destes fatores seriam difíceis de serem medidos de maneira prática em um mercado consumidor. Por simplificação, considera-se que a expansão da demanda por produtos florestais é fundamentalmente afetada pela taxa de crescimento populacional e pela taxa de expansão do crescimento da renda real ―per capitã‖ ponderada pela elasticidade renda-consumo. A equação que busca captar estas variações no mercado é a seguinte: rpd rc onde: d = Taxa de crescimento da demanda para produtos florestais; p = Taxa de crescimento populacional; rc = Elasticidade-renda consumo para produtos florestais e; r = Taxa de crescimento da renda real ―per capita‖. A taxa de crescimento da demanda, assim estimada, é um bom indicador da necessidade de crescimento mínimo da oferta de produtos florestais, caso se pretenda abastecer convenientemente o mercado e evitar elevações acentuadas nos preços dos produtos para os consumidores. A Projeção da demanda é outro aspecto importante a ser considerado neste estudo, pois, uma vez definida a taxa de crescimento da demanda, podemos tentar prever o seu comportamento em um momento futuro e, desta forma, orientar o mercado sobre que caminhos a oferta deva seguir para garantir a estabilidade do equilíbrio de mercado. Para realizar tal procedimento, utiliza-se a seguinte equação: Cf = Ca.(1+d)t Onde: Cf = Valor futuro do consumo de produtos florestais; Ca = Valor atual do consumo de produtos florestais; d = Taxa de crescimento da demanda para produtos florestais e; t = Tempo de projeção. _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 18 2.5.1 – Um exemplo de aplicação no setor florestal. a) Determinação da taxa de crescimento da demanda por consumo de madeira Sabendo que o consumo atual de madeira serrada de pinus é da ordem de 12 milhões de m3 por ano no Brasil, que a população cresce a uma taxa de 0,9% ao ano, que a renda média real ―per capita‖ cresce a uma taxa de 1% ao ano e que aelasticidade-renda consumo da madeira de pinus é 0,42; pede-se o valor da taxa de crescimento da demanda para este produto. rcrpd Dada a fórmula acima, procede-se ao cálculo: )42,00,1(9,0 xd %32,1 d ao ano Conclusão: Para as condições atuais do mercado a demanda por este produto incrementa a uma taxa 1,32% ao ano. b) Projeção da Demanda Sabendo que o consumo madeira serrada de pinus no ano de 2015 é de 12 milhões de m3 e que a demanda cresce a uma taxa de 1,32% ao ano, qual deverá ser a produção projetada para atender o mercado no ano de 2022? Cf = Ca.(1+d)t Cf = 12.106.(1+0,0132)7 Cf = 12.106.(1,0132) 7 Cf = 12.106.(1,0961) Cf = 13,2. 106 de toneladas Conclusão: Mantida relativamente constate a taxa de crescimento da demanda por madeira serrada de pinus, em 2022, espera-se um consumo anual em torno de 13,2 milhões de toneladas. _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 19 Capítulo 3 – Elasticidade: Medindo as Reações dos Produtos Florestais no Mercado 3.1 – Introdução De forma geral, a elasticidade () de uma função é uma relação que mede a sensibilidade da variável dependente frente a alterações no valor de uma de suas variáveis independentes. De outra forma, a elasticidade é uma medida de resposta, que determina o impacto percentual em uma variável dependente devido a uma variação percentual em uma variável independente, mantendo-se constantes todas as demais variáveis que influenciariam o processo. Y = f (X) Variável dependente Variável independente Como veremos a diante, o conceito de elasticidade é necessário para analisar um grande número de questões econômicas como: ―O que acontece com a receita total de uma empresa florestal quando os preços variam no mercado?‖. 3.2 – Cálculo da Elasticidade () Dado o conceito estabelecido acima, é possível derivar a equação genérica de elasticidade da seguinte maneira: Elasticidade () = ).(.var.%. ).(.var.%. Xteindependeniávelna Ydependenteiávelna A variação percentual na variável dependente Y é Y dividido por Y e a variação percentual na variável independente X é X dividido por X. Então, a equação, para qualquer ponto da função citada acima pode ser escrita como: Elasticidade () = Y X X Y X X Y Y XX YY .. / / Note que Y/X vem a ser a inclinação da função analisada acima (ou, do cálculo diferencial e integral, a derivada primeira da função). Em economia, o cálculo da elasticidade apresenta uma gama enorme de utilizações na demanda, na oferta e na análise de mercado. Neste processo de análise, a elasticidade, é fundamental para uma economia, pois, consegue contornar dois tipos de problemas oriundos da diversidade de unidades com que bens e serviços são medidos: a) o mesmo produto medido em unidades diferentes, como grama, tonelada, e b) produtos diferentes medidos em unidades diferentes (madeira serrada em estéreos, celulose em tonelada). _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 20 3.3 – A Elasticidade da Demanda No caso da demanda, as principais variáveis que determinam a quantidade de um bem ou serviço que os consumidores irão adquirir no mercado são: o preço do produto (P), o nível de renda disponível dos consumidores (R), os preços dos produtos substitutos (Ps) e complementares (Pc), o Marketing (Mk), entre outras. Desta forma, a alteração em algumas destas variáveis afetará necessariamente o consumo de bens e serviços. No estudo da demanda, podemos calcular três importantes tipos de elasticidades: a) a elasticidade-preço da demanda, b) a elasticidade-renda consumo e c) a elasticidade-cruzada da demanda. 3.3.1 - A elasticidade-preço da demanda (pd) Um dos aspectos fundamentais na análise do comportamento de um consumidor no mercado diz respeito à resposta dos consumidores a mudança de preço dos produtos. Desta forma, devemos nos lembrar que os consumidores respondem em termos de demanda, de forma inversa a preço, ou seja, com a elevação do preço no mercado tendem a reduzir o consumo e, de maneira alternativa, com a redução do preço tendem a comprar mais. Para o cálculo da elasticidade, dispomos de dois métodos: a elasticidade-ponto e a elasticidade-arco. A primeira determina o valor da elasticidade sobre um ponto específico da curva de demanda e, para sua utilização, necessitamos ter uma função de demanda estimada para os dados analisados em questão, o que nem sempre é possível. O segundo método mede a elasticidade média entre dois pontos sobre a curva de demanda e, para sua utilização necessitamos possuir apenas algumas observações de preços com as suas respectivas quantidades demandadas. Para o cálculo da elasticidade-preço da demanda, utilizamos as seguintes formulas: pd ponto Q P P Q . ou pd arco )( )( . 10 10 QQ PP P Q A demanda é classificada, em relação ao preço, como elástica, inelástica, unitária, perfeitamente elástica e perfeitamente inelástica dependendo dos valores obtidos com a aplicação das fórmulas descritas acima. Deve-se lembrar que o valor do coeficiente de elasticidade-preço da demanda calculado sempre apresentará valor negativo, pois, existe uma relação inversa entre o preço e a quantidade demandada de produtos florestais. Assim, na hora da classificação da demanda, considera-se o seu resultado em módulo, ou seja, desconsidera-se o sinal negativo. Sumarizando, podemos encontrar as seguintes elasticidades-preço da demanda: _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 21 Valor da pd calculada Tipo de Demanda = 0 Perfeitamente inelástica / > 1 / Elástica / = 1 / Elasticidade Unitária / < 1 / Inelástica Perfeitamente elástica Para compreender o cálculo e a classificação de demanda segundo o seu coeficiente de elasticidade-preço, imagine que tenha sido estimada econométricamente a função demanda para determinado produto florestal como sendo: Qd = 6,0 – 2,0.P A partir desta função, deseja-se calcular a elasticidade-preço da demanda para o nível de preço de R$ 1,0. A este preço pode-se determinar a quantidade demandada, bastando para tanto substituir o preço na equação dada, de onde se obtém a quantidade (Qd) igual a 4. Utilizando a equação de elasticidade-ponto, sabendo que a derivada primeira da equação (Qd/P) é – 2,0 e, substituindo o preço (P = 1,0) e a quantidade (Q = 4) na fórmula, conclui-se que a elasticidade- preço da demanda é igual a – 0,5 (demanda inelástica). A interpretação econômica deste valor significa que uma redução/aumento de 1% no preço de mercado gera um aumento/redução de 0,5% na quantidade demandada deste produto florestal. A representação gráfica das curvas de demanda em termos de elasticidade, sua sensibilidade a preço e o efeito da elasticidade sobre a receita total de uma empresa florestal pode ser observado na figura 6. 10 20 30 40 50 60 1 2 3 4 5 6 10 20 30 40 50 60 1 2 3 45 6 10 20 30 40 50 60 1 2 3 4 5 6 10 20 30 40 50 60 1 2 3 4 5 6 10 20 30 40 50 60 1 2 3 4 5 6 Demanda Perfeitamente Inelástica Demanda Perfeitamente ElásticaDemanda Inelástica Demanda Unitária Demanda Elástica Epd = 0 Epd < 1 Epd = 1 Epd > 1 Epd = 00 Relativamente insensível Relativamente sensívelConstante Move-se na mesma direção do preço Move-se na direção oposta ao preço Permaneçe constante As duas questões importantes que a elasticidade responde são: A) Quão sensível a quantidade demandada é a preço? B) O que acontece com a receita total ? P P P PP Q Q Q Q Q Figura 6 – Sensibilidade da quantidade demandada a preço e efeito da elasticidade sobre a receita total da empresa florestal. _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 22 A partir da figura 6, pode-se responder a questão realizada anteriormente: ―O que acontece com a receita total de uma empresa florestal quando os preços variam no mercado?‖. Resposta: Vai depender do tipo de curva de demanda de mercado que a empresa está se deparando, ou seja, da sensibilidade da quantidade demandada a preço. Desta forma, a figura 6 resume todos os cenários possíveis pelos quais um produto florestal pode enfrentar. Outro exemplo: Ao preço de R$ 5,0 por kg, os consumidores demandam 3 kg de um certo produto florestal. Se o preço aumentar para R$ 8,0 por kg, observa-se recuo do consumo para 2,0 kg. Qual é a pd arco deste produto? pd arco )( )( . 10 10 QQ PP P Q pd arco 86,0 )0,20,3( )0,80,5( . )0,50,8( )0,30,2( O produto possui um coeficiente de elasticidade-preço da demanda inelástico, ou seja, a quantidade demandada sofre pouca alteração com a variação do preço. Se o preço de mercado aumentar 1%, espera-se uma redução de 0,86% na quantidade demandada deste produto florestal ou vice versa. 3.3.2 - A elasticidade-cruzada da demanda (cd) Quando produtos são substitutos, como o compensado e o MDF, se o preço de um deles sofre incremento no mercado, a quantidade demandada do outro aumenta. Assim, pode-se medir a esta relação pelo cálculo da elasticidade-cruzada da demanda para o compensado com respeito ao preço do MDF. Desta forma, o coeficiente da elasticidade-cruzada mede a extensão da relação de demanda entre dois diferentes produtos. Considerando-se dois produtos X e Y, a elasticidade cruzada (cd) é uma medida da variação percentual na quantidade procurada de um produto X devido a uma mudança relativa no preço de Y (com a renda e todos os outros preços mantidos constantes). cd = X Y Y X Y Y X X YY Xx Q P P Q P P Q Q PP QQ .. / / Se o coeficiente da elasticidade-cruzada é positivo e relativamente grande, os produtos são substitutos e competem pela (limitada) renda do consumidor a ser gasta com alimentos. Para coeficientes negativos, os produtos são complementares, e, portanto, tendem a ser usados juntos. Se a elasticidade é igual a zero, diz-se que os produtos são independentes. A maioria dos produtos tendem a ser substitutos. Convém observar também que os coeficientes da elasticidade-cruzada não são _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 23 simétricos. 3.3.3 - A elasticidade-renda consumo (rc) Os coeficientes de elasticidade-renda são bons indicadores da resposta do consumidor a variações em sua renda. A elasticidade-renda consumo é expressa como a percentagem de mudança na quantidade adquirida dividida pela variação relativa na renda. Matematicamente, tem-se: rc = C R R C R R C C RR CC .. / / Se a elasticidade-renda é maior que a unidade e maior que zero, diz-se que o bem é normal. Se for maior que a unidade, diz-se que é superior, e se for menor que zero (relação inversa), diz-se que bem é um produto inferior. 3.4 – Considerações Finais Como podemos observar, o cálculo da elasticidade é um ferramental importante para o economista florestal, pois, auxilia sobremaneira o entendimento e a avaliação de fenômenos importantes a nossa área de estudo. É preciso entender também que não esgotamos o assunto, apenas introduzimos o conceito ao nosso cenário de análise. Nos capítulos à frente, voltaremos a estudar a elasticidade. _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 24 Capítulo 4 – A Oferta de Produtos Florestais 4.1 – Introdução Neste capítulo, caminhamos do entendimento do comportamento de um consumidor no mercado para o entendimento do comportamento das empresas no mercado, procedendo desta forma um contraste. Uma empresa é uma organização responsável pela conversão dos diversos fatores de produção restritos (recursos naturais, recursos humanos e bens de capital) em produtos e serviços finais que serão repassados aos consumidores. Em uma serraria, as toras de madeira, os equipamentos e a mão-de-obra são os insumos, e a madeira serrada é o produto. Caso a empresa só gere um produto final, poderemos representar esta interconversão de insumos em produtos via utilização de uma função de produção, que será analisada mais à frente. Na teoria da oferta, a empresa desempenha um papel fundamental e muito similar ao dos consumidores na demanda. Assim, o consumidor busca maximizar a sua utilidade (satisfação) diante de uma renda monetária restrita, enquanto que as empresas buscam maximizar os lucros e minimizar seus custos sujeitos a uma restrição de fatores de produção. A teoria da oferta, desta forma, é imprescindível, pois, é da sua argumentação que derivamos toda a teoria de custos de produção bem como os critérios ótimos de produção das empresas. 4.2 – A Curva de Oferta de Mercado A curva de oferta de mercado é uma relação que descreve quanto de um bem os produtores estão dispostos a ofertar, a diferentes níveis de preços, num determinado período de tempo, dado um conjunto de condições. Estas condições, que podem ser mantidas constantes num dado período de tempo, são: número de produtores, preços dos fatores de produção, mudança na tecnologia, preços dos produtos competitivos, restrições institucionais, tais como a disponibilidade de crédito rural e a política de preços mínimos, e as condições climáticas, entre outras. Este conceito deixa claro que a oferta total de mercado é obtida pela soma das quantidades de todas as firmas individuais que produzem o produto. Convém ressaltar a importância do período de tempo por causa do seu impacto sobre a escala de produção e o número de firmas no mercado. No curto prazo, tanto a escala como o número de empresas são fixos. Num período de tempo mais longo, as empresas existentes podem mudar suas escalas e as firmas podem entrar ou sair da industria. _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 25Quantidade ofertada do produto P re ço d o P ro d ut o ( R $ p o r un id a d e ) Curva de Oferta (S) P1 P 0 Q0 Q1 4.3 – A Elasticidade-preço da Oferta A resposta do produtor às variações em preços do produto pode ser medida através da elasticidade-preço da oferta, a qual é conceituada de modo análogo à elasticidade-preço da demanda. A elasticidade-preço da oferta (ps) expressa a mudança percentual na quantidade ofertada de um produto em resposta a uma variação relativa no preço, outros fatores mantidos constantes. Em termos algébricos, tem-se as seguintes fórmulas: ps ponto Q P P Q . ou ps arco = )( )( . 10 10 QQ PP P Q A exemplo da demanda, há três tipos de elasticidade-preço da oferta: elástica, inelástica e elasticidade unitária. Uma oferta elástica tem um coeficiente ps maior do que um, ou seja, a variação relativa na quantidade é maior que a correspondente mudança percentual no preço. Uma oferta inelástica (0 < ps < 1) tem um coeficiente entre zero e um, ou seja, a quantidade ofertada varia relativamente pouco em comparação com as mudanças no preço. Uma elasticidade igual a zero significa que a oferta é fixa, não havendo nenhuma variação na quantidade ofertada em resposta às variações no preço do produto. Neste caso, a oferta é perfeitamente inelástica. Esta situação reflete a realidade de muitos produtos florestais (erva-mate), cuja produção é sazonal, e entre uma safra e outra não na possibilidade de aumentar a quantidade ofertada no mercado (supondo-se não haver estoques e não ser possível importar no curtíssimo prazo), mesmo que os preços tenham se elevado. Uma curva de oferta tem elasticidade unitária (Es = 1), quando a mudança relativa na quantidade ofertada é exatamente igual à variação percentual no preço. _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 26 4.4 – Fatores que Afetam a Elasticidade-preço da Oferta Dentre os principais fatores que tem a capacidade de afetar a magnitude da elasticidade da oferta citamos: a) O formato da curva de custo marginal das empresas De um modo geral, se as firmas existentes no mercado podem expandir a produção com apenas pequenos aumentos no custo marginal, a curva de oferta de mercado será mais elástica do que no caso onde o custo marginal aumenta rapidamente com a expansão da produção. b) Diferenças na estrutura de custos entre as empresas existentes e as potenciais. Se a diferença de custos unitários entre as empresas potenciais (que desejam entrar no mercado) e as existentes for pequena, a curva de oferta de mercado será mais elástica do que no caso onde as curvas de custos das firmas potenciais são mais elevadas que as das existentes. Se todas as empresas potenciais têm curvas de custo apenas levemente acima do nível de preço de mercado do produto, pequenos aumentos no preço estimulam um grande número de novas empresas a entrar no mercado, e, conseqüentemente, expandir a produção. c) Período de tempo para ajustamentos na produção Considerando-se que a oferta é definida como as quantidades que os produtores estão dispostos a colocar no mercado, por unidade de tempo, o período de duração de tempo implícito no conceito terá um impacto sobre a capacidade de resposta dos produtores. Quanto maior o período de tempo, a curva de oferta tende a ser mais elástica, porque haverá mais tempo para ajustamentos na produção. 4.5 – Fatores Deslocadores da Oferta Conforme já referido, as relações de oferta de mercado para o setor florestal ou outro setor são relações do tipo "ceteris paribus", isto é, as relações mostram as quantidades que serão ofertadas (QS) aos vários níveis de preços (P), mantidos constantes todos os outros fatores que também afetam a oferta, tais como: preços dos insumos (Px), preços dos outros produtos que podem ser produzidos com os mesmos recursos (Po), tecnologia (Te), número de produtores (N), expectativas quanto ao futuro (E), clima (C), e número de hectares (Ta). Pode-se expressar esta relação através da seguinte função: Qs = f(P/ Px, Po, Te, N, E, C, Ta) Portanto, além do preço do Produto (P), que já foi abordado detalhadamente, far-se-ão agora algumas considerações sobre os outros fatores (Px, Po, Te, N, E, C, Ta) que afetam a oferta de produtos florestais. Em termos didáticos, esses fatores poderiam ser reagrupados em: econômicos, ecológicos, tecnológicos, institucionais e de incertezas. Esses fatores podem atuar em conjunto ou isoladamente e, dependendo das forças de cada um, eles podem deslocar a curva de oferta para a _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 27 direita ou para a esquerda. É por esta razão que eles também são conhecidos como fatores deslocadores da oferta. 4.5.1 – Preços dos Insumos Mudanças nos preços dos insumos (Px) usados para produzir um determinado produto têm um impacto direto sobre a oferta. O custo marginal (CMg) como o custo variável médio (CVMe) e o custo total médio (CTMe) têm uma relação direta com os preços dos insumos, de modo que um aumento no preço de um fator de produção aumenta o custo marginal e o custo variável médio, ou seja, desloca para esquerda a curva de CMg e para cima as curvas de CVMe e CTMe. (figura 7) Cu sto e pre ço do pr od uto (R $/u nid ad e) Pr eç o d o P rod uto (R $/u nid ad e) Quantidade de produto da firma Quantidade de produto de mercado q 0 Q 0 q 1 Q1 P1 P1 P2 P2 P 0 P0 P P D0 S 0 S1 q Q CMg1 CMg 0 CVMe1 CVMe 0 0 0 Figura 7 – O Efeito do aumento do preço dos insumos e seus efeitos. Isto significa que se o preço de um insumo aumenta, mantido tudo o mais constante, o custo por unidade de produção também aumenta. Este aumento no Px será refletido na curva de oferta de que os produtores estarão dispostos a ofertar uma determinada quantidade (Q0, por exemplo) somente a um preço maior (P2). O impacto do aumento nos preços do insumo é um deslocamento para a esquerda da curva de oferta de S0 para S1. 4.5.2 – A Tecnologia A inovação tecnológica é um importante fator de mudanças na oferta florestal, notadamente ao longo prazo. Uma melhoria na tecnologia é definida como um conjunto de condições que capacitam as firmas a: a) gerarem maior produção com a mesma quantidade de insumos anteriormente, e/ou, b) obterem o mesmo nível de produção anterior com uma menor quantidade de insumos. Isto significa um deslocamento para cima da função de produção e, portanto, das curvas de produto físico marginal (PFMg) e de produto físico médio (PFMe). Dadas as relações inversas entre PFMg e custo marginal (CMg) e entre PFMe e _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 28 custo variável médio (CVMe) e também com o custo total médio, mostradas anteriormente, a curva de CMg desloca-se para a direita (de CMg0 para CMg1) e a de CVMe desloca-se para baixo (de CVMe0 para CVMe1) e, consequentemente a curva de oferta de mercado se desloca para a direita (de S0 para S1), conforme evidenciado na Figura 8. Cu sto e pre ço do pr od uto (R $/u nid ad e) Pre ço do Pr od uto (R $/u nid ad e) Quantidade de produto da firma Quantidade de produto de mercado q0 Q0q1Q1 P0 P0 P1 P1 P P D0 S0 S1 q Q CMg1 CMg0 CVMe1 CVMe0 0 0 Figura 8 - O Efeito da Adoção de Tecnologia sobre as Curvas de Custos das Firmas e a Oferta de Mercado. _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 29 Capítulo 5 – A Teoria da Produção de Produtos Florestais 5.1 – Introdução A teoria da produção fornece uma base objetiva para a análise de custos de produção, para a oferta de produtos florestais e para a demanda pelos principais fatores de produção utilizados neste processo. Desta forma, esta teoria trata do entendimento da unidade produtiva do setor florestal – as empresas florestais – e tem por objetivo primordial fornecer subsídios para auxiliar no processo de tomada de decisão destes empresários. Esta teoria consiste então na análise de como o empresário florestal, para um dado nível de tecnologia existente, pode combinar os diversos conjuntos de fatores de produção e escassos para a geração economicamente eficiente de produtos que os consumidores estão desejosos em obter. A teoria da produção, desta forma, tem os seguintes objetivos: a) Determinar as condições necessárias para que o empresário florestal otimize os fatores de produção escassos a sua disposição; b) Determinar o quanto o uso atual destes fatores de produção está sendo ineficiente ou, quanto se afasta do uso ótimo e, c) Fornecer subsídios ao empresário rural para atingir o nível ótimo de produção utilizando o atual conjunto de fatores de produção disponíveis. 5.2 – Fatores de Produção Fixos e Variáveis na Produção Florestal Na análise de um sistema de produção e de custos de produção, torna-se fundamental, para simplificação, a classificação dos diversos fatores de produção envolvidos no processo em fixos e variáveis. Assim, um fator de produção é dito fixo quando a sua utilização no processo de produção não pode sofrer grandes alterações no curto prazo, dado que no longo prazo todos os fatores são variáveis. Tal dificuldade ou fixidez decorre do fato de que a disponibilidade de certos fatores é limitada ou, que o custo de aquisição de mais fatores os torna inviáveis economicamente. Exemplo: Na época da colheita da erva-mate, dado aumento substancial do preço do produto no mercado, realizar a poda acima dos padrões tecnicamente aceitáveis, para obter mais produto. Já os fatores variáveis de produção podem ter as suas quantidades alteradas significativamente quando as condições de mercado exigirem algum grau de ajuste na produção. Exemplo: Utilizar mais mão-de-obra no controle das formigas cortadeira em um plantio de pinus. _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 30 5.3 – Os Períodos de Tempo na Produção Florestal Em sistemas de produção florestal é importante também ter a percepção do tempo envolvido no processo produtivo. Desta forma, devemos considerar a existência do curto prazo e do longo prazo. O curto prazo (CP) é considerado como o período de tempo na qual a produção florestal ainda não aconteceu e, onde muitos dos fatores de produção envolvidos no processo devem ser considerados fixos. A análise econômica elaborada neste período de tempo é a dos custos de produção. O longo prazo (LP), de forma alternativa pode ser considerado o período de tempo superior ao ciclo produtivo onde todos os fatores de produção são variáveis. O longo prazo é considerado também o horizonte de planejamento da empresa, em que ela pode modificar em qualquer grau os fatores de produção e a tecnologia envolvida com a produção. No longo prazo, a análise econômica realizada é a financeira, de fluxo de caixa, no qual se busca o ajustamento do tamanho da empresa em economia ou deseconomia de escala. 5.4 – Principais Tipos de Relações Físicas na Produção Florestal Na análise da teoria da produção florestal, podemos considerar três tipos básicos de relações físicas de produção: a) Relações Fator-Produto ou Insumo-Produto – onde se estuda a relação de um determinado recurso econômico sobre a produção. Exemplo: manejo florestal versus a produção de estéreos por hectare. b) Relações Fator-Fator – onde se busca determinar as relações entre os insumos, procurando a melhor combinação econômica entre eles na geração de determinado produto. Exemplo: combinação de vários insumos em proporções diferentes na produção de MDF. c) Relações Produto-Produto – onde se analisa a relação entre diferentes linhas de exploração florestal, procurando determinar as melhores alternativas econômicas de uso dos fatores de produção. Exemplo: Plantio de pinus versus eucalipto. 5.4.1 - Relações Fator-Produto ou Insumo-Produto Nesta teoria, a produção está diretamente associada a um conjunto de fatores de produção escassos, lembrando que existe uma relação tecnológica que restringe as opções da empresa e que podem ser concretizadas na função de produção. Desta forma, a função de produção é uma relação física que mostra a quantidade máxima que se pode obter de determinado produto florestal a partir de um conjunto de fatores de produção, para um dado nível de tecnologia, em um certo período de tempo. Assim, podemos descrever uma empresa pelo conhecimento de sua função de produção caso aceitemos a idéia de que o processo de produção utilizado é tecnicamente eficiente conhecido. _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 31 Ao proceder desta forma estaremos pressupondo que a empresa conseguiu equalizar problemas importantes como o de informação de mercado, de organização e de engenharia, entre outros. Para melhor entender o que vem a ser uma função de produção, iniciamos examinando dois tipos básicos: a) a função de proporções fixas e b) a função de proporções variáveis. a) Função de Produção de Proporções Fixas – neste caso, a proporção dos fatores de produção utilizados nunca se altera. Precisamos de uma cova para plantar uma árvore, de um motorista para dirigir um trator. Porém, a proporção fixa não precisa ser necessária de um para um. Por exemplo, são necessárias 5 unidades de um insumo X1 e 3 unidades de um insumo X2 para gerar um determinado produto (y). A função de produção pode ser representada da seguinte forma: y = f(X1/5, X2/3) Onde: y é o número de produtos gerados, X1 é a utilização do primeiro insumo e X2 é a utilização de segundo insumo. Caso houvesse 25 unidades de X1 e 18 unidades de X2, quantas unidades de y poderiam ser geradas? Há unidades suficientes de X1 para a produção de 5 produtos (5 = 25/5) e unidades suficientes de X2 para a produção de 6 produtos (6 = 18/3). Portanto, poderiam ser geradas 5 unidades do produto y e haveria ainda sobra de 3 unidades do insumo X2. As funções de produção de proporções fixas, apesar de serem muito simples, são economicamente importantes para as análises da matriz insumo-produto (funções de produção de Leontief), uma ferramenta amplamente utilizada para planejamento econômico. b) Função de Produção de Proporções Variáveis – A maioria das funções de produção apresenta este comportamento, ou seja, as quantidades aumentadas de um insumo podem substituir quantidades reduzidas de outro. As relações físicas neste processo caracterizam todas as possíveis conversões entre insumos e produtos. Um ponto a ser destacado é o fato de que existem recursos que variam com aprodução enquanto outros não dependem necessariamente da produção. As relações fator-produto ou insumo-produto expressas pela função de produção podem ser representadas da seguinte maneira: q = f (x1, x2, x3, ..., xn) Como consideramos apenas um fator variável de produção, os demais permanecem constantes e, simbolicamente teríamos: q = f (x1 \ x2, x3, ..., xn) ou, simplesmente: q = f (x1) _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 32 Isto é o que freqüentemente acontece na experimentação florestal, quando desejamos medir a influência de determinado fator variável (x1) sobre a produção total (q). Como exemplo, citamos o efeito do espaçamento sobre a produção de madeira serrada de pinus por hectare. Três importantes relações físicas de produção podem ser extraídas da função de produção: o produto físico total (PFT), o produto física marginal (PFMg) e o produto físico médio (PFMe). O produto físico total (PFT) vem a ser a própria produção obtida ou a produtividade física do fator variável de produção, parte a da figura 9. O produto físico marginal (PFMg) mede a variação no produto físico total devido a utilização de uma unidade adicional do insumo variável, seguindo para tanto a lei dos rendimento marginais decrescentes. Tal lei nos mostra que à medida que se aumenta a quantidade empregada de um fator variável (x1), mantendo-se constantes os demais fatores, o produto total aumenta, a princípio mais do que proporcionalmente, depois menos do que proporcionalmente, atinge um máximo e, finalmente decresce a taxas decrescentes, conforme pode ser observado na figura 9. A fórmula para o cálculo do PFMg é a seguinte: PFMg = 1 X q O Produto físico médio (PFMe) ou produtividade física média mede a relação entre a quantidade produzida e a quantidade correspondente de insumo (X1) utilizada. Em outras palavras, ele nos diz quão produtivo o recurso variável é, em média, ou por unidade de X1. Para qualquer ponto da função de produção, o PFMe pode ser obtido por uma reta que passa pela origem do eixo cartesiano e sua tangente na própria função. A fórmula para o cálculo do PFMe é a seguinte: PFMe = 1 X q _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 33 P r o d u t o m a r g in a l e m é d io ( k g ) C u s to m a r g in a l e m é d io ( R $ / k g ) (X /X ,X , ..., X ) 1 2 3 n Quantidade de Fator (kg) Y Quantidade de Produto (kg) PFMe PFMg CMg CVMe b c Q u a n t id a d e d e p r o d u to ( k g ) (X /X ,X , ..., X ) 1 2 3 n Quantidade de Fator (kg) Y Função de Produção a y x Iº estágio IIº estágio IIIº estágio Figura 9 – A Função de Produção e a Principais relações físicas de produção. 5.4.1.1 – A Elasticidade da Produção Florestal (pf) Como nas situações analisadas anteriormente, é possível a determinação da elasticidade da produção, que vem a ser a variação percentual da produção total devido a uma variação percentual na quantidade empregada do fator variável de produção, mantendo os demais fatores constantes. Admitindo que a quantidade do fator variável aumente em x1 unidades e que a produção subseqüente aumente q unidades, em termos relativos temos o conceito de elasticidade da produção num ponto, ou seja: Elasticidade (pf) = PFMe PFMg q X X q X X q q XX qq 1 11 1 11 .. / / _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 34 5.4.1.2 – As Relações Monetárias na Produção Florestal Em um sistema de produção florestal, além de se conhecer o comportamento físico da produção, e necessário entender as principais relações monetárias associadas com este processo. Dentre as relações monetárias mais importantes, a que se destacar a receita total (RT), a receita marginal (RMg) e o lucro (L) como principais indicadores econômicos da produção. A receita total (RT) vem a ser o valor da produção, ou seja, o seu preço de mercado (Pq) do produto multiplicado pela respectiva quantidade produzida (q). Matematicamente temos: RT = Pq . q A receita marginal (RMg) pode ser definida como o valor que é adicionado a receita total quando uma unidade adicional do produto florestal é vendida no mercado. Como o produtor é um tomador de preço, ou seja, dado que a sua produção individual é muito pequena em relação à produção total do mercado, as suas decisões individuais não afetam o preço de mercado e, desta forma, pode se admitir que o preço permaneça constante caso decida produzir ou não. Assim, matematicamente temos: RMg = q q qq P P q RT . O lucro (L) ou Margem Líquida (ML) vem a ser o resultado da subtração da receita total (RT) gerada pela venda dos produtos florestais no mercado menos os custo total (CT) de produção incorridos na sua geração. Matematicamente o lucro pode ser representado como: Lucro (L) = RT – CT Ou, de forma alternativa, Lucro (L) = Pq.q – (CF + CV) 5.4.1.3 – A Determinação do Nível Ótimo da Produção Florestal Partindo do pressuposto que o objetivo primordial de uma empresa florestal seja a maximização de lucro, podemos caminhar na busca de um nível ótimo de produção. A princípio, não é preciso ser economista para se saber que à medida que o valor da produção adicional for maior do que o custo para obtê-la, vale a pena não só produzir como também aumentar a produção. Por outro lado, não vale a pena produzir (ou deve-se reduzir a produção) caso o valor do produto marginal for menor do que o custo para produzi-lo. Daí conclui-se _________________________________________________________________________________ UFPR – Gestão Florestal mód. 2 Administração Estratégica da Produção 35 que o ponto ideal (ponto que maximiza o lucro) é aquele em que o valor do produto adicional é exatamente igual ao custo do recurso utilizado na sua produção. Há duas maneiras pelas quais a empresa florestal pode decidir o nível ótimo de produção: a) Pelo lado dos produtos físicos marginais de produção e, b) Pelo lado dos custos de produção. A primeira regra (pelo lado dos produtos físicos marginais de produção) estabelece que o nível ótimo de uso de um fator variável pode ser determinado pela igualdade entre o produto físico marginal desse fator (PFMg) e a relação entre o preço do fator (Px) e o preço do produto (Pq). Algebricamente, tem-se: PFMg = q X P P Se o preço real do produto (Pq) aumenta, a razão preço do insumo/preço do produto diminui. Isto implica um maior uso do fator, a fim de alcançar o ótimo uso do mesmo, pressupondo-se constante Px. Enquanto o PFMg do fator for positivo, a produção aumentará com o maior emprego do fator variável. A segunda maneira para se decidir o nível ótimo de produção se dá pelo lado dos custos de produção e é a seguinte: os lucros são maximizados no nível de produção em que a receita marginal (RMg) se iguala ao custo marginal (CMg). Algebricamente, tem-se: RMg = CMg ou, Pq = CMg Assim,
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