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Morfologia Portuguesa - Conteúdo Online

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MORFOLOGIA PORTUGUESA 
AULA 1 – LÍNGUA, LINGUAGEM, SINCRONIA E DIACRONIA 
A presença da palavra em nossas vidas é tão comum e seu uso tão espontâneo e natural que 
não vemos nela nada de especial. 
No cotidiano, todos reconhecem que as palavras são símbolos que nomeiam as coisas e que 
as utilizamos para entrar em contato com o outro. Daí, percebemos o real emprego deste 
recurso, acreditando que as pessoas se comunicam e trocam idéias com a mesma destreza 
que executam tarefas organicamente possíveis, sempre com o objetivo de perceber o que as 
cerca para que possam interagir com tudo e todos. 
E como o homem constrói este espaço? De que forma é possível chegar a este entendimento 
do mundo? 
Através da faculdade da linguagem, que permite ao homem não só compreender as relações 
do e com o mundo, mas também explicar estas relações através de seu conhecimento. 
A linguagem é o elemento indispensável da comunicação social e de domínio individual. Ao 
usá-la, o indivíduo se integra com os seus semelhantes. A linguagem pode ser não verbal 
(sem uso da palavra) ou verbal, ambas as características favorecendo a transmissão de 
comunicação 
Linguagem verbal: identificada pela constituição de palavras faladas ou escritas nas seguintes 
manifestações, por exemplo: textos manuscritos, conversa ao telefone, televisão, cinema, 
livros, artigos, receitas, bilhetes, e-mails, reunião, encontros de amigos, missa, cultos 
religiosos. 
Linguagem não verbal: identificada, por exemplo, nas seguintes manifestações: na pintura, 
pelas cores, figuras e outros elementos utilizados pelo artista; na dança, pelo movimento e 
ritmo; nos sinais de trânsito, nos sinais de matemática, nos símbolos utilizados em linguagem 
virtual; em cartuns, charges ou caricaturas. 
Signos: elementos construtivos da linguagem. Podem ser verbais, as palavras e não verbais, o 
desenho. 
Enfim, tudo isto é linguagem: representação do pensamento por sinais e/ou por palavras. 
A linguagem humana é expressa por meio de um sistema de som vocal chamado língua. Esta 
possibilidade permite que o ser humano utilize um código linguístico, a língua, em sua 
materialidade verbal, para se comunicar. Cada língua apresenta o seu código, com regras e 
normas, sua maneira de arrumação das palavras na frase, sua própria estruturação. 
―A língua é uma forma de conhecimento e um meio de construir, estabelecer, manter e 
modificar relações com os outros. Por isso mesmo, uma mesma pessoa é capaz de utilizar 
diferentes ‗estilos‘ ou registros de língua, conforme o contexto ou as finalidades da 
comunicação: quando se dirige a um adulto ou quando fala a uma criança, quando fala a 
pessoas reunidas em um auditório ou quando conversa de modo descontraído numa roda de 
amigos, quando escreve uma carta de candidato a emprego ou quando comparece para uma 
entrevista com esse mesmo objetivo, quando relata um acontecimento ou quando dá um 
conselho a alguém.‖ 
(AZEREDO, José Carlos. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. SP: Publifolha Houaiss, 
2008: 57) 
Então, vamos refletir... 
Se o sistema da língua é social porque é comum a todos os falantes de uma comunidade 
linguística, podemos entender que a atividade linguística é sistematizada, ou seja, segue um 
conjunto de elementos lexicais (palavras) e gramaticais (organização do código) que fazem 
parte de uma língua, de uma organização interna desses elementos e de suas regras 
combinatórias. 
As experiências de vida de toda ordem (no cotidiano, nos grupos de amigos, no contato com 
culturas diferentes), a convivência com textos de variadas espécies (poemas, lendas, 
crônicas), a possibilidade da fala e da escrita contribuem significativamente para esta 
criatividade linguística. 
A linguagem humana, apresenta-se, essencialmente, fundamentada no signo. 
É o instrumento através do qual a comunicação se realiza. Em uma ação de comunicação, 
apresentamos nossos conceitos, ideias, pensamentos; enfim, nossa visão de mundo, por meio 
de palavras que trazem o significado que queremos transmitir. 
Daí surgem os signos linguísticos (sons da língua + significado). 
Resumindo: 
IMAGEM ACÚSTICA (SOM) + IMAGEM ACÚSTICA (SOM) IMAGEM MENTAL (IDEIA) 
 
 SIGNIFICANTE SIGNIFICADO 
 
 SIGNO LINGUÍSTICO 
Como exemplo de signo linguístico, podemos citar: 
Para o conceito ―livro‖, o português utiliza o termo ―livro‖, o espanhol emprega ―libro‖, o 
inglês usa ―book‖; já no francês, temos ―livre‖. Variaram os significantes, mas o significado é o 
mesmo, mesmo conceito. 
Durante todo o processo de avanço linguístico, tanto o processo de aquisição de linguagem 
como a sistematização da língua em si vêm sofrendo alterações ao longo do tempo. Já houve 
uma época em que as línguas eram comparadas a seres vivos - nasciam, cresciam, 
envelheciam e morriam. Sabemos, hoje, no entanto, que em qualquer fase da sua existência 
histórica, a língua é dotada de uma estrutura complexa em qualquer fase que esteja. Elas são 
adaptáveis às novas necessidades e ondas de crescimento de expressão de uma comunidade. 
Se compararmos épocas, observamos que a língua não muda de vez em quando, mas sim, de 
modo contínuo. Em enunciados como os apresentados abaixo, observamos signos que, ao 
longo do tempo, modificaram seu significante, mas que ainda permanecem em nosso sistema 
linguístico nos dias de hoje, em seu conceito fundamental. 
Foi o linguista Ferdinand de Saussure quem nos alertou sobre a possibilidade de estudarmos a 
língua sob dois aspectos: 
 Sincrônico: procura estudar o sistema de uma língua em uma determinada época ou 
período. 
Ex.: o plural de ―pão‖ é ―pães‖; o plural de ―cidadão‖ é ―cidadãos‖. 
 Diacrônico: mostra como as línguas se formaram, sua evolução natural. 
Ex.: o vocábulo avença é um termo arcaico, que significa ―acordo‖; entretanto, manteve-se na 
palavra desavença. 
Entende-se, portanto, que os estudos lexicais envolvem, principalmente, uma abordagem 
sincrônica, do momento atual, sem, contudo, perder de vista uma abordagem do passado, 
uma abordagem diacrônica. 
Resumindo: 
Sincronia: os membros da comunidade lingüística entendem-se e comunicam-se porque 
participam de um mesmo ―estado da língua‖, partilhando dos mesmos hábitos lingüísticos. 
Diacronia: é a história interna de uma língua; uma sucessão de ―estados da língua‖, uma 
passagem sem interrupção, de uma sincronia para outra. 
Conforme observamos, a língua desempenha importante papel social. Reconhecemos, 
inclusive, muitas vezes, a condição social de uma pessoa pela maneira de falar. Assim, há um 
conjunto de regras que precisamos respeitar. 
A interpretação destas canções denota que o uso da língua é um ato individual. Porém, 
mesmo individual, esses atos são normalmente realizados na e para a comunicação entre 
sujeitos ou indivíduos, que para compreender-se, precisam estar ―de acordo‖ sobre o que 
significam os sinais que usam. Este acordo refere-se à dimensão social e histórica da língua. 
SOCIAL, porque pertence a todos e HISTÓRICA, pois é transmitida de geração em geração, 
através dos tempos. 
O fato de pertencer a todos os falantes exerce sobre o uso da língua uma pressão 
padronizada, cujo efeito é a semelhança de uso entre os membros da mesma comunidade 
linguística, a que denominamos norma. 
De acordo com Azeredo (2008:63), temos, então, portanto, três conceitos fundamentais: 
a) língua como estrutura abstrata, uma espécie de denominador comum de todos os seus 
usos: o sistema; 
b) o ato concreto de falar/ouvir ou escrever/ler a língua: o uso; 
c) a soma dos usos histórica e socialmente consagrados numa comunidade e adotados como 
um padrão que se repete: a norma. 
Voltando às canções, percebemos que em ambas podemos observarum denominador comum 
(a língua), podemos usá-las (ouvindo/lendo a letra) e adotamos as ―regras linguísticas‖ 
utilizadas tanto por Adoniran Barbosa quanto por Caetano Veloso como consagradas em uma 
comunidade de falantes (a norma). 
Quanto à norma utilizada, principalmente na primeira canção, que esta pode ser caracterizada 
por ser de cunho regional, social, econômico, familiar ou de faixa etária. O mais importante na 
conceituação da norma é o seu caráter coletivo e sua condição de uso, quer seja por escolha, 
quer seja por herança sócio-histórica. Daí o conceito de variação linguística. 
Cabe a cada usuário da língua avaliar o contexto de uso e escolher a forma de expressão mais 
apropriada. Afinal, paralelamente à sua condição de sistema, a língua é expressão da imagem 
que os usuários fazem da situação social em que se encontram – ou seja, é uma forma de 
comportamento. (AZEREDO, 2008:66) 
―Falar corretamente significa o falar que a comunidade espera: o erro em linguagem 
corresponde a desvios dessa norma, sem relação alguma com o valor interno das palavras ou 
formas.‖ 
(Celso Cunha, em Língua portuguesa e realidade brasileira, RJ: Tempo Brasileiro, 1970). 
AULA 2 – MORFOLOGIA E A DUPLA ARTICULAÇÃO DA LINGUAGEM 
A existência de palavras é assumida como realidade pela maioria das pessoas. No entanto, 
embora sejam fáceis de reconhecer, não é tão simples definir o que é uma palavra. Na 
Linguística, como em outra ciência qualquer, precisamos identificar critérios para definirmos as 
unidades básicas de estudo. 
Os critérios abordados como possíveis para o trato sobre PALAVRA são: 
Critério de significado (semântico): Este critério não deve ser observado isoladamente, 
como afirma Mattoso Câmara, pois o sentido depende da forma, ou seja, a palavra é um 
somatório de forma e sentido, como mostra o exemplo da letra A abaixo, em que a palavra 
xadrez assume dois sentidos – uma para cada personagem –, independente dos componentes 
que a formam. Além disso, muitos processos de formação não mudam a classe das palavras, 
como mostra o exemplo B, em que a palavra coisa é, nos três exemplos, um substantivo, 
mesmo no grau diminutivo. 
Exemplo B: 
―Ó coisinha tão bonitinha do pai...‖, em que coisinha significa pessoa. 
Ele briga por qualquer coisinha..., em que coisinha significa motivo. 
Não tive tempo de almoçar. Fui à lanchonete e comi uma coisinha! Em que coisinha 
significa comida. 
Critério de som (fonológico): É praticamente impossível elaborar um conceito de palavra 
sob este critério, pois a forma de falar do brasileiro influencia bastante na distinção dos sons 
formadores de cada enunciado, como mostra o exemplo abaixo que explora a ambiguidade: 
O que é detergente? É o ato de prender pessoas. 
Critério da funcionalidade (sintático): Parece funcionar em qualquer língua do mundo, 
pois as palavras recebem nomenclaturas que as diferenciam dentro dos enunciados. Porém, 
este é um critério que abrange somente uma definição: a de ordem da organização e 
funcionamento da língua, desconsiderando-se os seus elementos formadores como, no 
exemplo a seguir, na palavra votais, que é classificada como um verbo e que é assim 
reconhecida, independente neste critério, da maneira como a palavra aqui é formada 
Critério formal (mórfico): É o critério que se baseia na caracterização da estrutura do 
vocábulo, aqui se verificando a aceitação ou não da combinação das formas, conforme 
mostrado abaixo nas palavras sublinhadas: 
Dez doleiros giraram U$ 2,4 bi em 42 contas nos EUA. 
Doleiro: palavra dólar mais o sufixo –eiro, que significa indivíduo que exerce alguma atividade 
em relação ao objeto que serve de base para a formação da palavra base, no caso dólar. 
Bí: redução para bilhões. 
EUA: sigla que remete Estados Unidos da América. 
Para reforçar a opção por esses critérios, convém lembrar que a língua é organizada a partir 
de um sistema de elementos e de relações simultâneas. 
Esse sistema é formado de sistemas menores conhecidos por níveis: 
a) nível fonológico (de som); 
b) nível morfossintático (de forma e funcionalidade); 
c) nível semântico (significado). 
Palavra e vocábulo 
Segundo Kehdi, 2007, a palavra seria um conjunto marcado por um só acento tônico: 
mármore, café, trânsito. Entretanto, a expressão com o chinelo, por exemplo, também 
constitui marcação com um acento tônico, na medida em que chinelo possui acentuação na 
sílaba do meio (ne) e os termos com e o são átonos, e isso não faz da expressão em questão 
uma palavra. 
Os vocábulos seriam também a constituição de fonemas e sílabas mesmo que desprovidos de 
sentido ou de tonicidade, como os elementos com e o citados no exemplo acima. E palavra 
seria mais adequado do ponto de vista semântico, como: chinelo, sapato etc. Mas ambas, 
para os linguistas, são equivalentes. 
Para Azeredo (2008), PALAVRA é a menor unidade significativa autônoma constituída de um 
ou mais elementos dispostos em uma ordem estável. 
Pelo que lemos, pergunta-se: 
Como podemos perceber as palavras fazendo sentido? 
Como entendemos o que as pessoas querem nos dizer? 
Através da articulação, ou seja, da possibilidade de análise, da divisão em partes. 
Melhor explicando, da DUPLA ARTICULAÇÃO DA LINGUAGEM. 
Na estrutura linguística, os elementos (palavras/vocábulos) que a compõem são passíveis de 
divisão, de segmentação. Esta possibilidade nos conduz a refletir sobre as combinações 
necessárias para que estes elementos produzam sentido e possam ser utilizados em 
construções maiores, como no discurso, por exemplo. Dessa forma, passemos à informação 
que segue. 
A linguagem é um sistema de sinais auditivo-orais, articulados, de emprego numa 
comunidade. Articular significa agrupar unidades menores numa outra maior, todas 
caracterizadas por uma parcela significativa, ou distintiva. 
Vejamos a palavra gatinhas. À primeira vista, trata-se de uma unidade, mas se analisarmos 
descobriremos quatro elementos distintivos cuja soma é que nos dá o conjunto maior: 
gato (1) + inho (2) + (a) 3 + s (4) 
1 — o animal 
2 — o tamanho 
3 — o sexo 
4 — a quantidade 
Para o linguista francês André Martinet, que primeiro utilizou a expressão ―dupla articulação 
da linguagem‖, as combinações legítimas na língua obedecem à seguinte formatação: 
DUPLA ARTICULAÇÃO DA LINGUAGEM 
1ª articulação: unidades significativas – forma, chamadas morfemas ou monemas que tem a 
função de SIGNIFICAR. 
Ex.: gat – dá origem a palavra 
 inh – demonstra o diminutivo 
 a – demonstra o feminino 
 s – demonstra o plural 
2ª articulação: unidades fonológicas – som, unidades distintivas, chamadas fonemas, que tem 
a função de DISTINGUIR. 
Ex.: g + a + t + i + n (nasal) + a diferente de latinha ou patinha (sons distintivos). Sons de 
cada letra – fonema. 
Ressaltam-se aqui as seguintes características: 
• estas articulações são simultâneas; 
• são pertinentes à linguagem humana, distinguindo-se de quaisquer outras produções vocais 
não linguísticas; 
• a articulação é o método mais utilizado para entendermos como se constitui ou se estrutura 
uma língua. 
AULA 3 – MORFEMAS I 
Como vimos nas aulas anteriores, a morfologia é a parte da gramática que estuda as partes 
que compõem uma palavra ou vocábulo. Quando olhamos uma palavra, independentemente 
da escolaridade, somos capazes de perceber que ela é composta por partes. Veja as palavras 
a seguir: 
GATA – PATA – MENINA - CACHORRA 
O que há de comum entre elas? 
Todas terminam com ‗-a‘. 
O que isso indica em termos morfológicos? 
Morfologicamente, esse ‗-a‘ é uma das partes que compõem essas palavras e indica que elas 
estão no feminino. 
Por que percebemos a flexão nessaspalavras? 
Porque somos capazes de opor gato x gata; pata x pato; menina x menino. 
Cada uma das partes que compõem uma palavra é chamada de morfema: ―[...] as menores 
unidades formais dotadas de significado.‖ (Monteiro, 2002, p.13) 
Em princípio, todo morfema se compõe de um ou vários fonemas, e destes difere, 
fundamentalmente, pelo fato de apresentarem significado (GLEASON JUNIOR, 1978). Como é 
fácil perceber, isoladamente os fonemas nada significam. Se pronunciamos /p/ ou /t/, 
ninguém associa ao som emitido nenhuma ideia. Mas, de modo oposto, em geral, só existe o 
morfema quando a unidade mínima apresenta um significado. 
Se sabemos que as palavras são formadas por várias partes, como fazemos para depreender 
essas partes? 
Carone (1995) em seu Morfossintaxe nos apresenta dois processos de depreensão: o processo 
de COMUTAÇÃO e o consequente processo de SEGMENTAÇÃO. Segundo a autora, ― [...] 
depreensão dos morfemas de uma língua realiza-se a partir da cadeia sintagmática, isto é, a 
partir de um conjunto de unidades articuladas, que formam um todo maior, seja ele vocábulo 
ou frase‖. 
Comutação: Segundo Carone (1995), quando realizamos o processo de comutação, alteramos 
um elemento no plano da expressão, e isso gera uma alteração no plano do conteúdo. Veja os 
exemplos fornecidos pela autora na página 28: 
Am a va Ø indicativo pretérito imperfeito 
 ra indicativo pretérito mais-que-perfeito 
 rá indicativo futuro do presente 
 ria indicativo futuro do pretérito 
 sse subjuntivo pretérito imperfeito 
A cada troca, alteramos tempo e modo, ou seja, os morfemas trocados possuem os dois 
valores acumulados e são, por isso, chamados de morfemas cumulativos. 
Segmentação: Quando realizamos a operação de comutação, acabamos por descobrir quais 
são os morfemas que constituem um vocábulo. 
Exemplo: A forma verbal ‗amava‘ é formada por am + a + va. 
Ao comutarmos, descobrimos também que alguns morfemas podem se repetir em conjuntos 
de vocábulos. Por exemplo, em ‗ cantava‘ temos a repetição de ‗a‘ + ‗va‘, ou seja, esses 
morfemas se repetem. Por quê? Que tipo de morfemas são esses? 
Esses morfemas usados na flexão do verbo são chamados de morfemas gramaticais. Mas e o 
radical ‗cant-‗? Que tipo de morfema ele é? 
O radical é um exemplo de morfema lexical. 
Um morfema gramatical é aquele que expressa um aspecto gramatical da língua. São 
exemplos de morfemas gramaticais: as desinências modo-temporais e número-pessoais dos 
verbos e as desinências de gênero e de número dos nomes. 
Segundo Carone (1995, p. 29), os morfemas gramaticais ―[...] pertencem a um paradigma 
numericamente restrito e estável, isto é, a um inventário fechado.‖ 
Um morfema lexical é a parte da palavra em que temos o significado básico, é o núcleo 
semântico da palavra. Segundo Carone (1995, p. 29), esses morfemas fazem parte do 
inventário aberto da língua, já que novas palavras podem surgir. 
Formas livres: São morfemas que podem aparecer sozinhos em um enunciado. 
Exemplo: _ Quem chegou mais cedo? 
 _ Ele. 
Formas presas: São morfemas que não aparecem isoladamente como, por exemplo, os 
sufixos, as desinências etc. 
Exemplo: caseiro. 
Formas dependentes: Essas formas foram classificadas por Mattoso Câmara Jr. (1970) e, 
segundo o autor, não são formas livres porque não constituem enunciados, e não são formas 
presas porque existem como vocábulos. Segundo Carone (1995, p. 32), são exemplos dessas 
formas dependentes: artigos, preposições, algumas conjunções e pronomes oblíquos átonos. 
Exemplo: café com leite. 
Morfes e Morfemas 
Monteiro (2002, p. 14), em Morfologia Portuguesa, apresenta-nos uma interessante relação 
entre morfe e morfema. 
O morfe é a concretização de um morfema, ou seja, uma sequência fonêmica mínima a que se 
pode atribuir um significado. 
[...] 
Essa distinção é muito semelhante à que existe entre fonema e fone. O fonema constitui uma 
entidade abstrata que, quando se realiza, pode consistir em sons diferentes. O [t], por 
exemplo, não se pronuncia do mesmo jeito em tela e tive. A realização de um fonema se 
denomina de fone e, como sempre, há mais de uma possível; todo fonema na prática 
apresenta diversos alofones. 
Nem sempre, porém, os autores são rigorosos quanto a isso. E assim o termo morfema 
costuma ser usado em contextos em que seria mais preciso falar-se de morfe. Mas é bom pelo 
menos guardar a analogia: 
Morfema :: fonema 
Morfe fone 
Tipos de Morfema 
Além do morfema lexical que vimos anteriormente, temos outros tipos de morfemas. 
a) Morfema derivacional: São aqueles que possibilitam a criação de novas palavras. 
São exemplos de morfemas derivacionais os prefixos, os infixos e os sufixos. 
Exemplos: cas [inha]; cas [eiro]. 
b) Morfema categórico: São morfemas flexionais, ou seja, são as desinências nominais e 
verbais, representando, assim, morfemas gramaticais. 
A função dos morfemas categóricos é indicar as flexões que as formas assumem. 
Exemplos: casa[s]; menin[a]. 
O termo categoria tem aqui sentido restrito e equivale à flexão. Há para os nomes duas 
categorias: a de gênero e a de número. O gênero tem as subcategorias de masculino e 
feminino. O número, as subcategorias de singular e plural. Nos verbos encontram-se as 
categorias de modo, tempo, aspecto, número e pessoa, divididas em diversas subcategorias. 
c) Morfema relacional: Esses morfemas não são formas presas como o morfema categórico e 
o morfema derivacional. 
A função desse tipo de morfema é ligar vocábulos. São exemplos de morfemas relacionais: as 
preposições, as conjunções, os artigos e os pronome relativos. 
Exemplos: café com leite; vinho de Portugal. 
d) Morfema classificatório: As vogais temáticas representam os morfemas classificatórios e são 
assim chamadas porque definem a estrutura dos vocábulos em nomes e verbos. 
Exemplos: camis [a]; cant + [a] + [va] 
Tipos de Morfe 
Morfes alternantes: temos morfes alternantes quando o morfema se realiza mediante a 
permuta entre dois fones: é um caso de alternância morfofonológica. Essa alternância não é 
foneticamente condicionada como em incondicional / irreal (o prefixo [in] passa a [i] quando a 
consoante inicial é líquida). 
Alternância vocálica. 
Ex. Pude ≠ pôde fiz ≠ fez pus ≠ pôs 
Em verbos da 3ª conjugação, o morfe alternante marca, no presente do indicativo, a oposição 
entre a 1ª pessoa e as outras rizotônicas: minto / mentes; sinto / sentes; sumo / somes; 
firo /feres; durmo / dormes. 
Rizotônica: forma verbal cuja sílaba tônica se acha no radical. 
Arrizotônica: forma verbal cuja sílaba tônica se acha fora do radical. 
Exemplos de alternância consonantal. Trag - o≠ traz – es [dig] – o ≠ [diz] – es. 
Alternância acentual: Nesse caso, temos um morfema suprassegmental, ou seja, temos a 
variação de intensidade e altura com significado gramatical. Em português, só a intensidade 
tem valor gramatical, ainda que a variação de altura traga significado e possibilite a distinção 
entre asserção e interrogação (Ele já viajou. /Ele já viajou?). 
Exemplo: fábrica/fabrica – a incidência de maior tonicidade numa ou noutra sílaba é o 
elemento diferenciador do comportamento gramatical de cada uma dessas palavras (nome ou 
verbo). 
Outros exemplos: exército x exercito retífica x retifica história x historia 
b) Morfe cumulativo: É um morfe que expressa mais de um significado (não há 
correspondência ideal entre morfe e morfema). 
Ex.: [mos] em viajamos – desinência número-pessoal (1a. pessoa/ plural) 
GN considera que [o] em lindo é morfe cumulativo (VT + desinência de gênero)c) Morfe redundante: Ocorre quando mais de um traço opõe duas formas. 
Exemplos: 
Na flexão de número, temos avô/ avós (abertura da vogal + morfema [s] como marcas de 
plural). 
Outros exemplos: (BECHARA, 2000, p. 123) 
Caroço, choco, corpo, corvo, destroço, esforço, fogo, forno, fosso, imposto, jogo, miolo, olho, 
osso, porco, reforço, socorro, tijolo, torto, troco, troço, entre outras. 
Na flexão de gênero: Nos pares esse / essa e novo / nova, temos, além da inserção da 
desinência que indica a flexão, a abertura da vogal. 
d) Morfe homônimo: Ocorre quando um único morfe corresponde a morfemas distintos. 
Ex.: [s] 
A[s] casa[s] – marca plural 
(tu) ama [s] – desinência número-pessoal 
AULA 4 – MORFEMAS II 
Vejamos o que Monteiro (2002, p. 14), em Morfologia Portuguesa, nos diz sobre a relação 
entre morfema e alomorfe: 
―Se quisermos usar os termos de modo bem preciso, deveremos compreender que o morfema 
é uma entidade abstrata que não se confunde com uma única e mesma forma. Na prática, um 
morfema pode apresentar variações formais. Assim, se observarmos as palavras vida e vital 
parece evidente que em ambas existe um mesmo morfema que se realiza como [vid] e [vit]. A 
realização de um morfema se denomina de morfe e quando há mais de uma, já podemos 
adiantar que constituem alomorfes.‖ 
Assim, o que seria alomorfia? 
A palavra alomorfe vem do grego (állos = outro + morphé = forma) e indica a realização de 
um morfema por dois ou mais morfes diferentes. Quer dizer, é a concretização em morfes 
diferentes de dois segmentos com os mesmos valores significativos. 
A alomorfia constitui, portanto, uma diferença de significantes, não de significado: o morfe é 
outro, o morfema é o mesmo. 
Exemplos: 
No verbo levas, o morfema –s caracteriza a 2ª pessoa do singular, que também pode ser 
caracterizado por –ste em levaste ou –es em levares. 
O segmento / - s / marca plural, e / -es / tem a mesma função: casas x mares. 
Quando ocorre a alomorfia, a forma de mais alta frequência deve ser considerada a forma-
base; a outra é uma variante, seu alomorfe. 
Assim, no imperfeito do indicativo, primeira conjugação, a forma-base é –va-; a variante é –
ve- (cantáveis). 
No futuro do pretérito, -rie- (cantaríeis) é alomorfe de –ria-. 
1º conjunto imperfeito do indicativo: 
desinência / va / va é a norma 
cantava, cantavas 
Nas demais conjugações, a desinência muda e temos: corria, corrias / a / é um alomorfe. 
Ex.: partia, partias 
ALGUNS EXEMPLOS DE ALOMORFIA 
Alomorfia na raiz. Os morfemas lexicais. / ordem /, / orden-/ /ordin-/ têm a mesma 
significação em ordem, ordenar e ordinário. 
Alomorfia no prefixo. O prefixo / in / passa a / i / em inapto / ilegal. 
Alomorfia no sufixo. No par bananal / cafezal o sufixo / al / passa a / zal / e no par relator / 
falador o sufixo / or /passa a / dor /. 
Alomorfia na vogal temática. Em pão / pães, a vogal temática /o /transforma-se em/ e /. 
Alomorfia na desinência de gênero. No par, avô ≠ avó, os traços distintivos / ô / e / ó / 
podem ser considerados alomorfes das desinências Ø (masculino) e / a / (feminino). 
Alomorfia na desinência modo-temporal. Em cantáramos / cantáreis, a desinência modo-
temporal / ra / passa a/ re /. 
A alomorfia pode ou não ser fonologicamente condicionada: 
Não condicionada. Implica variações livres que independem de causas fonéticas. 
Exemplo: alternâncias vocálicas em faz, fez, fiz. 
Condicionada. Aglutinação de fonemas nas partes finais e iniciais de constituintes, acarretando 
mudança fonética. É uma mudança morfofonêmica = opera entre fonemas e altera o plano 
mórfico da língua. 
Exemplo: redução de / in- / a / i- / diante de consoante nasal: incapaz, imutável 
MORFEMA ZERO (ø) 
O morfema zero ou morfe zero caracteriza-se pela ausência de segmento fônico que 
representaria determinada noção. 
Exemplo: o contraste singular/plural: bar – bares (o morfema –s), em que a ausência do 
plural, morfema –s, designaria o singular, por inexistência de morfema marcador. 
Essa oposição entre presença e ausência é importante – ambos são realidades morfêmicas, 
cada um deles só existe graças à existência do outro. A categoria gramatical de número só 
existe porque um par opositivo a instaura: singular e plural. Temos, nesse caso, o que se 
chama de ausência significativa. 
Marca de gênero. 
A flexão de gênero em português acontece pelo acréscimo do morfema flexional [a] à forma 
masculina: o feminino é a forma marcada pela presença do morfema / a /. Sua ausência é 
significativa como característica de masculino – morfema zero para o masculino em 
português. 
Exemplos: marca de gênero: mestre / mestra; leitor / leitora; professor / professora; 
marquês/ marquesa; menino/menina. 
Marca de número. 
Exemplos: 
1. Mar – mares. A ausência da marca de plural / -es / no morfema lexical mar indica singular. 
2. Ourives, lápis, pires. O / -s / não é marca de plural: o plural dessas palavras é marcado 
sintaticamente. 
Em muitas formas verbais encontramos o morfema zero em oposição a outros morfemas. 
Exemplo: 
(tu) estud + a + va + s 
(ele) estud + a + va + ø 
(ele) estud + a + ø + ø 
Morfe zero (Ø) para a conjugação verbal 
Segundo Mattoso Câmara (1970), a constituição da forma verbal portuguesa é T ( R + VT) + 
D (DMT + DNP), ou seja, o tema é formado pela raiz e pela vogal temática e a esse tema 
podem ser acrescidas as desinências (desinência modo-temporal e desinência número-
pessoal) 
Nem todas as formas verbais possuem VT. 
A DMT é Ø para o indicativo no presente, para o pretérito perfeito (até a 2ª pessoa do plural e 
–ra para a 3ª pessoa do plural. 
Cant – Ø - o Cante – Ø – i canta- ra – m 
 A DNP é Ø: 
1ª pessoa do singular do presente do indicativo (exceto quando aparece –o); 
3ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo. 
Por que em uma palavra como ‗lápis‘, que tem a mesma forma para singular e plural, não se 
deve considerar a existência de morfema zero na desinência de número? 
O morfema s existe tanto no singular quanto no plural: 
O lápis Ø/ Os lápis 
O plural desse tipo de palavra não é morfológico, é sintático: será o determinante (artigo, 
pronome demonstrativo etc.) quem marcará o número. 
b) Por que substantivos comum de dois gêneros como estudante e dentista não têm morfema 
zero para desinência de gênero? 
O feminino em português é marcado pelo morfema [a]. Nesses substantivos, tem-se a mesma 
forma para os dois gêneros. O gênero desses substantivos não é morfológico, é sintático: 
sabe-se o gênero pelos morfemas categóricos dos termos a que eles se referem: meu 
dentista/ bela estudante. 
Assim, em bela estudante, o feminino é marcado por dois traços: um mórfico e outro sintático. 
 O traço mórfico é a desinência a e o traço sintático é a presença do determinante esta. 
A FLEXÃO DE GÊNERO 
GÊNERO E SEXO 
Embora alguns autores falem sobre ‗sexo real ou convencional‘ ou ainda sobre ‗sexo real ou 
fictício‘, Monteiro (2002, p. 86) afirma que ―O gênero é uma categoria gramatical; o sexo é 
um conceito biológico.‖ Esse é o melhor tratamento a ser dado a essa questão já que temos 
inúmeros substantivos que designam seres assexuados como mesa, roupa, teto, chão. 
Vimos que o acréscimo do morfema [a] marca a flexão de gênero. A regra para a composição 
do feminino estabelece que, morfologicamente, temos o processo de flexão se adicionamos a 
desinência [a], retirando-se a vogal temática, se ela estiver presente no masculino. 
Exemplos: 
Professor + a = professora 
Mestre + a= mestrea = mestra 
Casos de alomorfia na raiz 
Monteiro (2002, p. 83) comenta que em exemplos comorei/rainha, abade/abadessa, entre 
outros, temos, além da desinência [a], o acréscimo de um sufixo derivacional para formar o 
feminino. Segundo o autor, sincronicamente não se percebe, por exemplo, [inh] como um 
sufixo e, assim, [rainh] e [abadess] seriam alomorfes de [re] e [abad]. O autor acrescenta: 
―Por diversas vezes, já comprovamos que mesmo professores e alunos de Letras não têm 
consciência da presença do sufixo. Por incrível que pareça, até em galinha, poucos destacam 
o elemento [inha]. E, quando o fazem, percebem que o conteúdo semântico se tornou vazio.‖ 
(p.84) 
Gênero heteronímico 
No entanto, nem todas as palavras são marcadas flexionalmente. Koch e Silva (1989) 
em Linguística aplicada ao português:morfologia, afirmam que: 
―Em razão da ausência de distinção entre processo flexional e processo lexical, é comum ler-se 
em gramáticas do português que mulher é feminino de homem, que cabra é o feminino de 
bode. Trata-se de casos de heteronímia dos radicais, isto é, de vocábulos lexicalmente 
distintos, que, tradicionalmente, têm sido utilizados para indicar a categoria de gênero.‖ 
Algumas classificações tradicionais de gênero 
Além da heteronímia, há outras formas de se expressar o gênero sem o uso do mecanismo 
flexional. A Gramática Normativa nos apresenta substantivos masculinos e femininos e 
estabelece que os substantivos também podem ser: 
Sobrecomuns – nomes de um só gênero gramatical que se aplicam indistintamente a homens 
e mulheres. 
Exemplos: o cônjuge, a ferrugem, a criatura, a criança, o indivíduo, a pessoa, o ser, a 
testemunha, a vítima, entre outros. 
Eles se enquadram na subcategoria do feminino ou do masculino, uma vez que os 
determinantes que os acompanham terão que apresentar um ou outro gênero. ‗O cônjuge‘, 
independentemente do sexo do referente, será sempre do gênero masculino; ‗a criança‘ será 
sempre do gênero feminino. 
Comum de dois gêneros – substantivos que têm uma só forma para os dois sexos e necessita 
de um determinante para distinguir se o referente é masculino e feminino. Nesse caso, a 
marcação de gênero é sintática e não morfológica, porque a categoria de gênero será 
expressa pelo determinante. 
A marcação de gênero pode ser redundante, já que pode se encontrar tanto pela presença do 
morfema flexional quanto pela presença do determinantes. 
Exemplo: o menino, a menina. Temos a presença do artigo (o/a) e do morfema zero e da 
desinência de gênero. 
Também pode determinar o gênero somente através de determinantes, ou seja, 
sintaticamente, como fazemos no par o dentista / a dentista. 
Dentista – o [a] final dos substantivos comuns de dois gêneros não deve ser considerado 
desinência de feminino, já que no masculino ele também está presente. 
Trata-se de um [a] temático que elimina a desinência [a] pelo fenômeno da crase. Assim: 
dentista +a = dentistaa -> dentista. 
Comum de dois gêneros – substantivos que têm uma só forma para os dois sexos e necessita 
de um determinante para distinguir se o referente é masculino e feminino. Nesse caso, a 
marcação de gênero é sintática e não morfológica, porque a categoria de gênero será 
expressa pelo determinante. 
Exemplos: o estudante / a estudante; o mártir/ a mártir 
O substantivo comum de dois gêneros e a questão do referente. 
Exemplo: os meninos foram as principais vítimas do acidente. 
O gênero feminino de vítimas é indicado pelo determinante as. A ideia de sexo está no lexema 
meninos. 
Testemunha: é sempre gênero feminino, quer se trate de homem ou de mulher. Só se sabe 
pelo referente. 
Exemplo: a testemunha chegou atrasada. Ela usava um lindo vestido preto. 
Epicenos - Representam nomes de animais a que são agregadas as formas macho/fêmea 
para distinção de sexo. 
Cabe aqui uma crítica. Nesses substantivos, o gênero fica privativamente masculino ou 
feminino. 
Koch e Silva (1989, p. 42) afirmam que ―Não cabe também falar em uma distinção de gênero 
expressa pelas palavra macho e fêmea , não só porque o acréscimo não é obrigatório 
(podemos falar em cobra e tigre sem acrescentar os aposto), mas também porque o gênero 
não muda com a indicação precisa de sexo (continua-se a ter cobra macho no feminino, como 
assinala o artigo a e o tigre fêmea no masculino, conforme indica o artigo o.‖ 
Exemplos: Jacaré macho/ cobra fêmea. 
Divisão proposta em Monteiro (2002, p. 85) 
I. Nomes de gênero único. Não podem ser morficamente considerados masculinos ou 
femininos porque lhes falta o traço desinencial contrastivo. A inexistência de oposição na 
estrutura mórfica é compensada por oposições na estrutura sintática. 
Exemplos: abelha ferrugem cônjuge onça pulga mesa indivíduo pessoa soprano personagem 
ferrugem: a abelha, a onça, a pulga, o cônjuge. 
Soprano no dicionário é comum de dois gêneros: o soprano / a soprano. 
‗Vítima‖: O homem foi atropelado por outro homem. Sabe-se que a vítima encontra-se 
hospitalizada, mas passa bem.‖ (Gênero feminino / sexo masculino). 
II. Nomes de dois gêneros sem flexão. 
Exemplos: aprendiz, colega, personagem, solista: o aprendiz/ a aprendiz; o colega / a colega; 
o solista / a solista; o personagem / a personagem (AURÉLIO, 1986, 1316). 
III. Nomes de dois gêneros com flexão redundante. 
Exemplos: chefe, saco, chinelo, aluno, mestre, pavão, professor: o chefe / a chefa; o aluno / a 
aluna; o mestre / a mestra; o pavão/ a pavoa; o chinelo / a chinela. (‗Chinela‘ veio primeiro: 
‗cianela‘, italiano) 
Significados de nomes no feminino 
Embaixadora e embaixatriz. Embaixadora= representante diplomática; Embaixatriz= esposa 
do embaixador. 
Trabalhadora e trabalhadeira. Trabalhadora = aquela que trabalha como empregada de 
alguém; trabalhadeira = mulher que gosta de trabalhar, cuidadosa. 
Imperadora e imperatriz. Imperadora = esposa do imperador; imperatriz = aquela que 
governa. 
Nomes que mudam de significado quando se muda o gênero 
A cabeça (parte do corpo) x o cabeça (líder) 
A rádio (a estação ) x o rádio (aparelho) 
A capital (cidade) x o capital ( dinheiro) 
AULA 5 – PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS I 
Mattoso Camara Jr (1972) distinguia dois processos, retomando o que o gramático latino 
Varrão (116 aC – 26 aC), conforme abaixo se discrimina: 
Derivatio voluntaria - cria novas palavras; caráter fortuito e desconexo do processo. Com 
efeito, as palavras derivadas não obedecem a uma pauta sistemática e obrigatória para uma 
classe homogênea do léxico. Ex.: cantar-cantarolar, mas para falar ou gritar não existem as 
formas falarolar ou gritarolar. Os morfemas gramaticais de derivação não constituem assim 
um quadro regular, coerente e preciso. Acresce a possibilidade de opção, para usar ou deixar 
de usar o vocábulo derivado. Os sufixos derivacionais criam novos vocábulos. 
Derivatio naturalis: para indicar modalidades específicas de uma dada palavra. A flexão indica 
que um dado vocábulo se dobra a novos empregos, havendo obrigatoriedade e sistematização 
coerente. Apresenta-se em português sob o aspecto de segmentos fônicos propostos ao 
radical como, por exemplo, em caixa/caixas e em gato/gata, em que se acrescentaram os 
sufixos flexionais ou desinências de número para o primeiro par de palavras e de gênero para 
o segundo par. 
Dessa forma, podemos chegar à conclusão da sistematicidade do processo de flexão versus a 
assistematicidade da derivação. Na flexão, o falante não consegue criar: se o –s é a marca do 
plural em português, o falante não poderá expressá-lo, trocando o –s por –i, por exemplo, de 
―carros‖ dizer ―carroi‖, etc. Na derivação, devido à sua assistematicidade e imprevisibilidade, a 
língua pode ser recriada e enriquecida por conta da atuação e das necessidadesde 
comunicação de seus usuários. 
Em outras palavras, a flexão é obrigatória, pois não há outra opção no sistema da língua. A 
derivação é voluntária, em razão de sua possibilidade criadora. 
A distinção entre flexão e derivação é perceptível quando se pode conceituar e analisar o 
vocábulo pelo seu significado e sua forma. 
A flexão é obrigatória devido à concordância que antecederá a palavra, o que faz da derivação 
um processo sem preocupação obrigatória. 
A derivação pode alterar a categoria da palavra resultante, mas a flexão não muda a classe da 
palavra que resulta. 
Dentre as distinções do processo de flexão e derivação está a produtividade dos processos, ou 
seja, a ausência de marcas flexionais nos dá palavras incompletas; não há o mesmo tipo de 
obrigatoriedade para a derivação. Outra marca para distinguir esses dois processos é a 
regularidade. Um novo nome em português faz prever que o que distingue esses dois 
processos é a regularidade: esse novo nome em português pode ter plural ou feminino, mas 
não obrigatoriamente terá derivados em –ista ou –oso, já que a flexão é previsível enquanto a 
derivação é imprevisível. 
Flexão Nominal e Verbal 
O processo de flexão apresenta duas características essenciais: regularidade e 
obrigatoriedade. Consiste na associação regular à base de afixos que manifestam valores 
obrigatórios para determinadas classes de palavras da língua. A associação dos afixos à base é 
prevista por regras e os valores expressos por esses afixos são obrigatórios para determinadas 
classes de palavras da língua. 
Bechara (2000:339), ―Prefixos e afixos recebem o nome de afixos; são prefixos os afixos que 
se antepõem ao radical e sufixos os que se lhe pospõem.‖ 
Azeredo (2010:449) advoga que ―A derivação padrão se faz por meio de afixos (prefixos e 
sufixos), ao passo que a flexão padrão é expressa por meio de desinências.‖ 
Já Castilho (2010:664) considera o processo a que chama de afixação como ―Processo das 
línguas flexivas em que sílabas curtas (=afixos) se agregam a uma raiz, formando o radical. 
Os afixos mais importantes são os prefixos (…) e os sufixos(…).‖ 
O vocábulo ―flexão‖ é a tradução do termo alemão ―biegung‖ que significa curvatura, 
desdobramento. Por isso, podemos afirmar que um vocábulo pode se ―desdobrar‖ em outras 
aplicações por meio do fenômeno gramatical da flexão. 
Entretanto, a flexão, de acordo com Câmara Jr. (1972:71), ocorre por meio de acréscimo de 
segmento fônico ao radical chamado sufixo flexional ou desinência. 
O acréscimo de prefixo e/ou sufixo fará com que tenhamos outro processo: a derivação. 
Dessa forma, podemos afirmar que a flexão nominal, nosso ponto de interesse nesta parte da 
aula, dá-se nas classes de palavras a que denominamos de variáveis, principalmente no que 
concerne aos substantivos e adjetivos. Muitos autores, como (KOCH; SILVA, 2005), por 
exemplo, adotam o termo adjetivo englobando todos os outros determinantes do substantivo, 
como os pronomes, artigos, numerais e o próprio adjetivo, uma vez que podemos perceber a 
flexão dessas classes em número, pelo menos. 
o – Os/ ele - eleS/ primeiro – primeiroS etc. 
Vejamos o que nos dizem as autoras supracitadas: 
―Funcionalmente, muitos dos nomes podem ser, conforme o contexto, substantivos (termos 
determinados) ou adjetivos (termos determinantes). Assim, no enunciado um diplomata 
mexicano, o segundo vocábulo é substantivo e o terceiro adjetivo, já em um mexicano 
diplomata dá-se o inverso.‖ 
Todavia, podemos afirmar que há nomes que são essencialmente substantivos e outros 
essencialmente adjetivos no que tange aos seus usos funcionais? 
Koch e Silva (2005) afirmam que sim, mas, ―a distinção funcional não é absoluta‖. Se nos 
voltarmos para nosso mestre Machado de Assis, o narrador de ―Memórias Póstumas de Brás 
Cubas‖ afirma não ser um ―autor defunto‖, mas um ―defunto autor‖. Isso nos mostra que a 
categorização de um nome em substantivo ou adjetivo depende não só de sua forma, mas, 
principalmente, de seu uso na frase. 
Vamos, agora, falar de flexão nominal em termos formais? 
No âmbito formal, substantivo e adjetivo, via de regra, apresentam diferenças muito 
pequenas. Tanto um quanto outro são marcados por vogais temáticas, desinências de gênero 
e de número, vejamos: 
MESTRE – E = vogal temática (substantivo ou adjetivo). 
MENINA – A = desinência de gênero + Morfema zero apontando o singular. 
MENINAS – S = desinência de número. 
No que diz respeito à vogal temática, podemos ter, para os nomes, -a, -e, ou –o, como em: 
criançA, mestrE e medO, respectivamente. Entretanto, não podemos afirmar que só temos 
nomes terminados por essas vogais, uma vez que podemos ter nomes atemáticos, ou seja, 
palavras terminadas por consoantes ou por vogais tônicas, como em jiló, urubu, protetor, 
freguês etc. A presença da vogal temática não é suficiente para marcar um nome. 
Azeredo (2009:71) afirma que ―existem vogais temáticas nominais, que enquadram 
substantivos, adjetivos e pronomes em três classes temáticas‖. Entretanto, segundo o autor, 
―Nomes terminados em vogal tônica e em consoante não apresentam vogal temática, por isso 
se chamam atemáticos.‖ 
Outra noção importante de Azeredo é a de que a vogal temática é um morfema gramatical 
que se junta ao radical para enquadrar a palavra numa classe formal. Todavia, uma vez que a 
vogal temática não é suficiente para dar a classe de uma palavra, podemos afirmar que essas 
vogais podem enquadrar as palavras na classe geral dos nomes. 
A FLEXÃO DE GÊNERO 
Sabe-se que em Língua Portuguesa há dois gêneros: masculino e feminino. Formalmente, 
costuma-se afirmar que –o marca masculino, como em GAROTO, e o –a feminino, como em 
GAROTA. Entretanto, vejamos o que nos dizem Koch e Silva (2005:48): 
―Tal flexão ( a de gênero) opera através do acréscimo do morfema flexional –a átono final à 
forma masculina. Quando a forma masculina é atemática, há simplesmente o acréscimo 
mencionado: peru – perua autor – autora; mas, quando tal forma termina em vogal temática 
como pombo, parente, essa vogal é suprimida, através de uma mudança morfofonêmica, 
decorrente do acréscimo do morfema –a: pombo –o + a = pomba; parente –e + a = 
parenta.‖ 
A partir dessa explicação, podemos afirmar que o masculino seria a forma não marcada, uma 
vez que a desinência nominal de gênero seria somente –a, o que nos dá um morfema zero na 
forma masculina. Além disso, trata-se de um fator de economia linguística e há outras 
maneiras de se apresentar o masculino, como em PROFESSOR. O masculino só é verificado 
pela ausência da desinência nominal de gênero –a, presente em PROFESSORA. 
Há, ainda, as palavras cujo gênero só pode ser marcado pelo uso de um determinante, uma 
vez que a vogal final marca somente a classe gramatical da palavra, como criança, mestre, 
bico etc. Não há oposição entre masculino e feminino, como em MENINO e MENINA. Dessa 
forma, ratificamos que a vogal –o de MENINO e de BICO, o –a de CRIANÇA e o –e de MESTRE 
são vogais temáticas, e não desinências de gênero. 
A respeito das vogais temáticas e da desinência de gênero, advoga Henriques (2007:68): 
―É certo que o papel gramatical dessas vogais não tem uma delimitação específica como nos 
verbos. Interessa, porém, descrever de que forma ocorrem, para então se chegar à 
constatação de que essas vogais se caracterizam nos nomes por sua posição postônica final, o 
que as aproxima das desinências de gênero, igualmente postônicas finais (A e O), tornando 
necessário distinguir com clareza umas e outras.‖ 
Tal afirmação de Henrique nos deflagra um problema metateórico da consideração da vogal –
o de MENINO, por exemplo, como vogal temática ou como desinência de gênero. Se 
considerarmosCâmara Jr. (1972), Koch e Silva (2005), entre outros autores, veremos que o 
masculino é a forma não marcada e, o feminino a forma marcada. Já Henriques (2007), como 
vimos anteriormente, entre outros, consideram a vogal –o desinência de gênero. 
Entretanto, o próprio Henriques (2007:68-69) apresenta citações de diversos autores que são 
quase unânimes em considerar somente –a desinência de gênero e para o masculino, temos o 
morfema zero, a forma não marcada, o que nos parece o posicionamento mais coerente, uma 
vez que nem todos os nomes masculinos são marcados pelo –o, como já verificamos acima. 
Apenas um número mínimo de palavras não teria desinência de gênero, que seriam aquelas 
em que a vogal átona final não coincide com o gênero da palavra. Ele fornece-nos alguns 
exemplos, como: O diademA; O genomA; O gramA, entre outros. 
GÊNERO X SEXO 
Outro ponto delicado no que tange à flexão nominal é a confusão entre gênero e sexo, uma 
vez que masculino e feminino são adjetivos desses dois termos. 
Além disso, não podemos dizer que MESA e RETRATO, por exemplo, são do SEXO feminino e 
masculino, respectivamente, só porque são do GÊNERO feminino e masculino. Koch e Silva 
(2005:49) fornecem-nos dois argumentos contrários à interpretação de gênero relativo ao 
sexo seres, vejamos: 
a) O gênero abrange todos os nomes substantivos portugueses, quer se refiram a seres 
animados, providos de sexo, quer designem apenas ―coisas‖, como: mesa, ponte, tribo, 
que são femininos (precedidos do artigo a) ou sofá, pente, prego, que são masculinos 
(precedidos pelo o); 
b) O conceito de sexo não está necessariamente ligado ao de gênero: mesmo em 
substantivos referentes a animais e pessoas há algumas vezes discrepância entre 
gênero e sexo. Assim, a testemunha, a cobra são sempre femininos e o cônjuge, o 
tigre, sempre masculinos, quer se refiram a seres do sexo masculino ou feminino. 
Dessa forma, podemos contestar algumas gramáticas, principalmente as escolares, no que 
tange à classificação dos substantivos em epicenos, sobrecomuns ou comuns de dois gêneros. 
Se você quiser saber o que é EPICENO, SOBRECOMUM E COMUM DE DOIS DÊNEROS, LEIA 
ISTO: 
De acordo com Cegalla (2005:138): 
EPICENOS – Designam certos animais e têm um só gênero, quer se refiram ao macho ou à 
fêmea. Quando se quer indicar precisamente o sexo, usam-se as palavras macho ou fêmea. 
Ex.: a onça macho X a onça fêmea. 
SOBRECOMUNS – Designam pessoas e têm um só gênero, quer se refiram a homem ou a 
mulher. 
Ex.: a criança – o neném. 
COMUNS DE DOIS GÊNEROS – Sob uma só forma, designam os indivíduos dos dois sexos. São 
masculinos ou femininos, a depender do determinante que os acompanha. 
Ex. – o colega X a colega; o fã X a fã. 
Primeiramente, porque tal classificação leva, necessariamente, em consideração o sexo dos 
seres, o que já vimos ser improcedente. Além disso, flexão é uma característica formal, 
morfológica das palavras, e tal classificação leva em conta critérios semânticos, uma vez que 
devem ser consideradas características externas à palavra. 
Vejamos o que nos diz o mestre Câmara Jr. (1972:79): 
―É comum lermos em nossas gramáticas que mulher é o feminino de homem. A descrição 
exata é dizer que o substantivo mulher é sempre feminino, ao passo que outro substantivo, a 
ele semanticamente relacionado, é sempre do gênero masculino. (…) Da mesma sorte, não 
cabe para os substantivos epicenos (…) falar numa distinção de gênero expressa pelas 
palavras macho e fêmea. Em primeiro lugar, o acréscimo não é imperativo e podemos falar 
(como usualmente fazemos) em cobra e tigre sem acrescentar obrigatoriamente aqueles 
termos. Em segundo lugar, o gênero não mudou a indicação precisa do sexo. Continuamos a 
ter a cobra macho (…) o tigre fêmea.‖ 
A FLEXÃO DE NÚMERO 
No que concerne à flexão de número, parece-nos algo muito mais simples e coerente, uma 
vez que se trata da oposição entre 1 e mais de 1 elemento/indivíduo, o que é formalmente 
marcada pela presença ou ausência da desinência –s e alguns alomorfes, como veremos 
agora. 
Segundo Henriques (2007:76), ―constata-se com facilidade que o reconhecimento do plural 
será feito através do acréscimo de um morfema. A partir disso, podemos afirmar que a marca 
de singular em nossa língua é a ausência (morfema zero) e que só no plural haverá a 
representação gráfica propriamente dita.‖ 
Outro ponto importante diz respeito a palavras que são atemáticas no singular, por razões 
fonológicas, mas receber de volta a vogal temática no plural oi ainda tê-la novamente 
suprimida pelas mesmas razões fonológicas. É o caso de palavras terminadas em l, r, s e z, 
como em: 
ANIMAL – ANIMALES – ANIMAIS 
MAR – MARES 
FREGUÊS - FREGUESES 
PAZ – PAZES 
Koch e Silva (2005:52) apontam para duas exceções à oposição 1 mais de 1 indivíduo, a 
saber: 
• A situação especial dos coletivos, em que a forma singular envolve uma significação de 
plural, e 
• a de certos nomes em que a forma de plural refere-se a um conceito linguisticamente 
indecomponível, como em óculos, núpcias, algemas etc. 
Assim como na flexão em gênero, o número possui a forma do singular não marcada 
(morfema zero) e a forma do plural marcada pela desinência de gênero –s que está assim 
presente em nomes terminados no singular em: 
a) Vogais: porta – portas; bolo – bolos; etc. 
b) Ditongos orais: céu – céus; etc. 
c) Ditongos nasais átonos e alguns tônicos: bênção – bênçãos; irmão; irmãos; etc. 
Essa seria a regra geral do plural em Português. Todavia, temos casos de alomorfia, por conta 
da complexidade nesse tipo de flexão no que tange às mudanças morfofonêmicas que podem 
ocorrer. Assim ocorre com nomes terminados em –r, z- e –n, precedidos de vogal tônica, que 
formam o plural com o acréscimo do alomorfe –es, como em país – países; radar – radares; 
vez – vezes. 
Entretanto, há outros casos de alomorfia, a saber: 
• Nomes terminados em –l, precedidos de vogal diferente de –i – plural em –is: coronel – 
coronéis; caracol – caracóis; azul – azuis. 
• Nomes terminados em –l precedidos de vogal –i, a mudança morfofonêmica irá depender da 
tonicidade da vogal. Se tônica, haverá crase, como em ANIL – ANIIS – ANIS. Se átona, há 
regressão de I para E, como em FÓSSIL – FÓSSIIS – FÓSSEIS. 
• Nomes terminados em X e S, precedidos de vogal átona – a oposição singular X plural só é 
verificada pelo contexto: O/OS TÓRAX; A/AS CÚTIS. 
• Nomes cuja vogal média tônica é o O fechado. Além do acréscimo de –S, troca-se o fonema 
fechado pelo aberto, como em ESFORÇO – ESFORÇOS; CORPO – CORPOS. São os chamados 
plurais metafônicos. 
A QUESTÃO DO GRAU 
Tradicionalmente, afirma-se que o substantivo varia em gênero, número e grau. 
A pergunta é: será que podemos falar em grau como flexão? 
Se considerarmos que a flexão, como vimos no início de nossa aula, é gramaticalmente 
motivada, veremos que a resposta é não. Uma vez que usar o aumentativo ou o diminutivo 
pode ser mera opção do falante. 
Observe o quadro a seguir: 
Em relação à flexão de grau, tem-se que o substantivo pode apresentar três graus: normal, 
diminutivo e aumentativo. Em relação ao par diminutivo/aumentativo há duas possibilidades 
de formação – a adjunção de sufixos (processo morfológico) ou o emprego de determinantes 
que modifiquem o conteúdo semântico com o acréscimo das noções de grandeza ou pequenez 
(processo sintático). 
Assim, tem-se que alguns autores consideram que o morfema gramatical de grau não é um 
caso de flexão, e sim de derivação. Os adjetivos portugueses tristíssimo para triste, facílimo 
para fácil e, nigérrimo para negro, que as gramáticas costumam definir como processo de 
flexão de grau, não apresentam um mecanismo obrigatório,coerente e exaustivo e de termos 
exclusivos entre si. Do mesmo modo os graus aumentativo e diminutivo para os substantivos 
não podem ser considerados uma categoria gramatical como o são, por exemplo, as 
categorias de gênero e número. 
Já que o uso dos advérbios mais, menos e tão, seguidos de que, além do advérbio muito, são 
formas que a sintaxe oferece para expressar essas ideias, o uso dos sufixos para formar o 
superlativo sintético deveriam constituir processo de derivação, podendo ocorrer como nos 
exemplos a seguir: cabeça/cabeçorra/cabeção, ilhazinha/ilha/ilhota, casa/casinha / casebre. 
Além disso, segundo Basílio (1991:84):―Tanto o diminutivo quanto o aumentativo, em sua 
função central de indicar uma dimensão menor ou maior daquilo que é considerado 
implicitamente como um padrão normal, apresentam também uma função de expressar uma 
atitude emocional do falante [...] o tamanho de um ser que pode ser expresso de maneira 
neutra pela aposição de adjetivos como ‗grande‘ ou ‗pequeno‘, passa a ser expresso de uma 
maneira subjetiva [...] Vejam os seguintes exemplos: 
• (1) (a) João comprou um apartamento grande. 
• (a) João comprou um apartamentão. 
A FLEXÃO VERBAL 
A flexão verbal indica noções gramaticais e semânticas diversas, como por exemplo, tempo, 
modo, pessoa, número e aspecto. 
No que tange ao seu aspecto formal, resumidamente, temos: 
RAIZ: elemento que é a base do significado. 
VOGAL TEMÁTICA: elemento que enquadra o radical em uma classe (verbo ou substantivo, 
por exemplo). 
DESINÊNCIA MODO TEMPORAL: elemento que indica o modo e tempo do verbo. 
DESINÊNCIA NÚMERO PESSOAL: elemento que indica o número (plural) e a pessoa (3ª) do 
verbo. 
Vejam que todos os morfemas flexionais do nosso exemplo estão expressos por uma 
necessidade gramatical, o que comprova o caráter flexional dos verbos. 
Resumidamente, temos: 
TEMA (RADICAL + VOGAL 
TEMÁTICA) + DESINÊNCIAS 
FLEXIONAIS (DMT + DNP) 
Entretanto, qualquer elemento dessa fórmula, exceto o radical, pode faltar ou sofrer variações 
formais, a não ser por casos de alomorfia, como pode ocorrer no caso dos verbos irregulares. 
Henriques (2007:32-34) mostra-nos uma oposição formal entre a 1ª conjugação, marcada 
pela vogal temática –A, e a 2ª e 3ª conjugações, com VT –E e –I. Tal noção nos parece 
coerente, uma vez que temos CANTAVA – VENDIA – PARTIA, por exemplo. As três formas 
verbais estão no pretérito imperfeito do modo indicativo, na primeira pessoa do singular e a 
DMT é a mesma em VENDIA e em PARTIA. O mesmo ocorre com todas as outras pessoas 
destes verbos nesse mesmo tempo, bem como no pretérito perfeito, no futuro do presente 
etc. 
A flexão verbal nos oferece um modelo razoavelmente regular, no que tange às estruturas 
paradigmáticas dos verbos. Isso, segundo Henriques (2007:39), possui finalidades práticas 
que são: 
1. Formatar todos os verbos da língua portuguesa conforme sua conjugação, 
substituindo-se apenas o radical de um pelo radical de outro; 
2. Identificar qualquer irregularidade existente na flexão de um verbo, esteja ela na 
mudança do radical no infinitivo (soub-emos), no apagamento de uma desinência 
(coube-Ø), no reaparecimento de uma vogal temática (sa-i-am), na mudança do timbre 
da vogal temática (fiz-e-sse), no deslocamento da sílaba tônica (est-ou). 
E os chamados verbos Irregulares? 
São aqueles que não obedecem ao paradigma dos chamados verbos regulares. 
AULA 6 – PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS II 
Sem mais delongas, estudaremos a DERIVAÇÃO e a COMPOSIÇÃO. De acordo com Henriques 
(2007, p.113): 
―São dois os processos principais de formação de palavras em português: a composição, onde 
se agrupam radicais diferentes na formação de um novo vocábulo, e a derivação, onde ao 
radical da forma primitiva se acrescenta um afixo qualquer.‖ 
Observe: 
Palavras formadoras Palavra composta formada Significado 
amor + perfeito amor-perfeito nome de uma flor 
amor e perfeito amor perfeito um sentimento amoroso 
Basílio (2007, p. 33-34) afirma que o que caracteriza o processo da composição é a sua 
estrutura, uma vez que as bases, ou seja, os radicais que se unem para formar a nova palavra 
têm seu papel definido pela estrutura. 
COMPOSIÇÃO consiste em produzir palavras compostas a partir de palavras simples. Palavras 
simples são aquelas em que existe um único radical como AMOR e PERFEITO. Para produzir 
uma palavra composta, é necessário estabelecer o significado das palavras formadoras 
isoladamente e desvinculá-lo das palavras simples da nova palavra formada para surgir um 
novo significado. A noção de palavra composta surge do fato de termos mais de uma base, ou 
seja, mais de um radical na formação da nova palavra. 
Isso é observável, segundo a autora, quando a palavra composta é formada por dois 
substantivos ou por um verbo + substantivo. No primeiro caso, o segundo substantivo será 
um modificador do primeiro, cabendo a ele uma função adjetiva. Já no caso verbo + 
substantivo, a classe nominal parece funcionar como objeto direto do verbo. Vejamos: 
Sofá-cama (cama é a função do sofá, sua característica) 
Mata-mosquito (mosquito é o complemento do verbo matar, que é transitivo direto) 
Já Azeredo (2010, p. 99-98), em seu livro Fundamentos de Gramática Portuguesa, acrescenta-
nos as características gramaticais e semânticas da composição, a saber: 
CARACTERÍSTICAS GRAMATICAIS 
―Uma palavra composta é vista como uma estrutura fixa, um sintagma bloqueado 
gramaticalmente reinterpretado como uma unidade lexical nova. Seus componentes não 
sofrem elipse.‖ 
CARACTERÍSTICAS SEMÂNTICAS 
―Uma palavra composta é interpretada como uma nova unidade de significado. Este 
significado novo pode ser entendido, muitas vezes, como a soma dos significados particulares 
dos lexemas componentes.‖ 
Existem dois tipos de composição: 
Composição por JUSTAPOSIÇÃO: consiste em formar palavras compostas que ficam lado a 
lado, ou seja, juntam-se dois ou mais radicais, justapostos, sem perda de letras ou sons. 
Em outras palavras, não há redução alguma dos morfemas que formam a nova palavra. 
Henrique (2007, p. 113) advoga que ocorre supercomposição ―quando se reúne num único 
vocábulo formal um verdadeiro conglomerado de radicais, como vemos em três substantivos 
que servem de nome para uma ave da Amazônia (adivinhe-quem-vem-hoje, gente-de-fora-já-
chegou, gente-de-fora-vem), no nome da planta ―comigo-ninguém-pode‖ ou em neologismos 
ocasionais (…)‖ 
Outro aspecto importante da composição por justaposição decorre do fato de as palavras 
poderem ser formadas com ou sem hífen. Muitas pessoas pensam que todas as palavras 
formadas por esse processo possuem hífen, o que NÃO é verdade! 
Podemos afirmar que todas as palavras compostas com hífen são por justaposição, mas o 
oposto não é verdadeiro, ou seja, nem todas as palavras formadas por justaposição são com 
hífen. Nos exemplos a seguir, TODAS as palavras são formadas por JUSTAPOSIÇÃO: 
Mandachuva, passatempo, guarda-pó, pé-de-galinha, cachorro-quente. 
2) Composição por AGLUTINAÇÃO: consiste em formar palavras compostas nas quais pelo 
menos uma das palavras (radical/base) perde a sua integridade sonora, ou seja, pelo menos 
um dos vocábulos formadores sofre alterações de ordem fonética ou fonológica. Observe os 
exemplos abaixo: 
planalto = plano + alto 
vinagre = vinho + acre 
DERIVAÇÃO é a formação de vocábulos por meio do acréscimo de prefixos e sufixos ao 
radical. Convém, neste caso, falarmos em palavra primitiva e palavras derivadas. 
Na aula 5, vimos a diferença entre flexão e derivação. A flexão é fruto de uma necessidade 
gramatical (derivatio naturalis). Já a derivação éfruto da criação do falante atendendo à 
determinada necessidade comunicativa, mas não gramatical (derivatio voluntaria). 
Trata-se de um processo muito produtivo na língua, pois muitas novas palavras podem ser 
criadas. 
Observe: 
Palavras primitivas (aquelas que na língua portuguesa não provém de outras palavras): pedra, 
flor. 
Palavras derivadas (aquelas que na língua portuguesa provém de outras palavras): pedreiro, 
pedraria, pedregulho; florido, florescer, aflorado. 
A derivação pode ser classificada em: 
 Derivação prefixal (prefixação): a palavra nova é formada pelo acréscimo de um prefixo 
ao radical. 
in + comum= incomum 
des + leal = desleal 
 Derivação sufixal (sufixação): a palavra nova é formada pelo acréscimo de um sufixo 
ao radical. 
feliz + mente = felizmente 
leal + dade = lealdade 
 Derivação prefixal e sufixal (prefixação e sufixação): a palavra é formada por acréscimo 
de prefixo e sufixo à palavra base, com a possibilidade de retirar esses afixo e, ainda 
assim, teremos uma palavra. 
Ex.: infelizmente 
 Derivação parassintética (parassíntese): a palavra nova é obtida pelo acréscimo 
simultâneo de prefixo e sufixo, que não podem ser retirados, pois a palavra perderia o 
seu significado. Por parassíntese geralmente formam-se verbos. 
Ex.: entristecer 
 Derivação regressiva: a palavra nova é obtida pela redução da palavra primitiva, ou 
seja, consiste na subtração de elementos. Geralmente, esse processo forma nomes 
oriundos de verbos. 
Ex.: atrasar – atraso; embarcar – embarque. 
 Derivação imprópria: a palavra nova é obtida pela mudança de categoria gramatical da 
palavra primitiva. Não ocorre alteração da forma, só da classe gramatical. Trata-se de 
um caso especial de derivação, uma vez que não há acréscimo ou supressão de 
morfemas. 
Ex.: Homem-aranha – O adjetivo aranha deriva do substantivo aranha. 
Outros exemplos de derivação imprópria: 
Substantivo comum a próprio: Figueira, Ribeiro, Fontes 
De substantivo/adjetivo/verbo a interjeição: Silêncio! Bravo! Viva 
De adjetivo a substantivo: circular – ouvinte 
Em termos de estrutura das palavras, ocorre que algumas possuem estrutura mais complexa, 
conforme exemplifica Kehdi (2007): 
Segmentação da palavra DESRESPEITOSAMENTE 
des respeit osa mente 
Para que esta análise da formação seja realizada, recorre-se a uma análise em constituintes 
imediatos. 
E o que são os constituintes imediatos? 
SUPERPOSIÇÃO DE CAMADAS, ou seja, combinação de construções que formam uma palavra 
ou frase. 
Tomemos como exemplo a palavra formalização, que segmentada ficaria: 
{forma(a)} + {al} + {iz} + {a} + {ção} 
Seguindo o critério de superposição de camadas, veremos, de acordo com Kehdi (2007), que 
a palavra em questão não é mera sequência de morfemas, pois: 
O substantivo forma recebe o sufixo al para formar o adjetivo formal que, por sua vez, recebe 
o sufixo izar para formar o verbo formalizar. Para a formação do substantivo formalização, 
temos o acréscimo do sufixo ção ao verbo formalizar. Temos, então, que esse substantivo só 
poderia ser formado a partir dessa forma verbal, confirmando o entendimento de 
superposição de camadas ao invés de sequência de morfemas de uma só vez, em que não 
poderíamos ter o substantivo forma sendo acrescido dos sufixos al, izar e ção ao mesmo 
tempo, considerando que cada um desses sufixos necessita de uma base (palavra) adequada 
para formar outras. 
AULA 7 – CLASSES DE PALAVRAS I 
CLASSES E FUNÇÕES 
A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), um guia criado em 1958 que contém um resumo 
do conteúdo a ser utilizado nos livros de Língua Portuguesa, propõe 10 classes de palavras: 
substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e 
interjeição. 
A NGB é uma espécie de resumo dos conteúdos gramaticais referentes ao português falado no 
Brasil e funciona como um guia para o ensino da nossa língua. 
A NGB foi criada em 1958 por um grupo de estudiosos e gramáticos de muito prestígio, como 
Antenor Nascentes, Rocha Lima e Celso Cunha. No ano seguinte, foi transformada em lei por 
uma portaria do presidente Juscelino Kubitscheck e passou a ser utilizada obrigatoriamente 
nas escolas de todo o Brasil. Antes da existência dessa lei, o estudo da gramática não era 
unificado e havia muita confusão com o uso de diversas terminologias. 
SUBSTANTIVOS 
Os substantivos, juntamente com os adjetivos, os verbos e os advérbios representam uma 
classe aberta em nossa língua, ou seja, novos substantivos, novos adjetivos, novos verbos e 
novos advérbios são criados constantemente na língua pelos mecanismos de que esta dispõe 
para formar novas palavras. 
Os substantivos podem ser definidos a partir de critérios diferentes. 
Critério semântico ou nocional. Baseia-se no modo de significação, extralinguístico e 
intralinguístico, do vocábulo. Cunha e Cintra (2008, p. 92), assim como muitos outros 
gramáticos, definem substantivo a partir de um critério semântico como ―a palavra com que 
designamos os seres em geral‖. 
Esses autores colocam que são substantivos ―[...] nomes de noções, ações, estados e 
qualidades tomados como seres‖ (p. 191). 
José Lemos Monteiro, em Morfologia Portuguesa (2002, p. 226), considera que há problemas 
nessa definição: 
1. O que um ‗ser‘? 
2. Justiça, fé, doença, ideia são substantivos e não são seres. 
3. Qualquer vocábulo assume a função de substantivo quando antecedido por um 
determinante: o sim, o viver, o aqui-e-agora. 
Critério formal ou mórfico: esse critério se refere às características da estrutura do vocábulo. 
Assim, por esse critério, substantivo é o vocábulo formado por base lexical mais morfemas 
gramaticais: vogal temática nominal; desinências (gênero e número) e sufixo (nominal). 
O critério mórfico ou de natureza formal que se baseia em propriedades de forma gramatical 
que podem apresentar. Margarida Basílio, em Teoria Lexical, afirma que ―[...] substantivo é 
definido como uma palavra que apresenta as categorias de gênero é número com as flexões 
correspondentes.‖ (1991) 
Problemas: segundo Basílio, substantivos e adjetivos possuem as mesmas flexões. 
Critério funcional: esse critério baseia-se na função ou papel que o vocábulo desempenha na 
oração. Desse modo, substantivo é o vocábulo que funciona como núcleo de uma expressão 
ou como termo determinado. Em termos funcionais, o substantivo pode ser, segundo Basílio 
(1991), núcleo do sujeito, do objeto ou do agente da passiva. 
CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSTANTIVOS 
Tradicionalmente, os substantivos podem ser concretos e abstratos. Um substantivo concreto 
―designa ser de existência independente‖ e um substantivo abstrato ―designa ser de existência 
dependente.‖ (BECHARA, 2000, p. 113). 
Mas o que significa, afinal, dependência e independência nesse contexto de classificação de 
substantivos? Por exemplo, quando pensamos em ‗sol‘ temos um substantivo concreto porque 
o sol não precisa de outros seres para existir; quando pensamos em ‗concentração‘ ou 
‗felicidade‘ temos um substantivo abstrato: para que ‗concentração‘ ou ‗felicidade‘ se 
manifestem é preciso que haja alguém ou alguma coisa acontecendo. 
Vamos pensar: Por que esses substantivos são chamados de abstratos? 
Imagine que estejamos brincando de mímica e queiramos fazer a mímica da palavra verdade. 
Como faríamos? E a da palavra mentira? Os substantivos abstratos são muito difíceis de serem 
descritos nessa brincadeira. Poderíamos considerar o substantivo felicidade como mais fácil de 
ser apresentado: tentaríamos um sorriso, uma cara alegre, talvez uma gargalhada. Com 
certeza, nossos companheiros no jogo nos diriam muitas outras palavras antes de inferir quea 
palavra correta é felicidade, se é que o fariam. 
Fernando Moura, em Gramática aplicada ao texto (2002, p. 18), ao comentar a nomenclatura 
abstrato, afirma que ―[...] de um papel branco, de um pano branco, de uma nuvem abstrai-se 
a idéia de branco. Brancura é assim um substantivos abstrato. Da idéia de morrer, tira-se a 
idéia de morte.‖ 
Um substantivo concreto pode ser próprio e comum. Um substantivo próprio designa um 
indivíduo em particular de uma espécie como ‗Fusca‘ ou ‗Mariana‘. Um substantivo comum 
designa todos os indivíduos de uma espécie como ‗carro‘ e ‗criança‘. 
Substantivos primitivos ou derivados: substantivos primitivos são aqueles que não vêm de 
outra palavra na língua, como é o caso de ‗flor‘; substantivos derivados são aqueles formados 
a partir de outras palavras na língua pelo processo de derivação, como em ‗florista‘. 
Substantivos simples e compostos: substantivos simples apresentam um único radical (flor) e 
o substantivo composto apresenta mais de um radical (flor-de-lis). 
Substantivo coletivo: nomeia um conjunto de seres de uma mesma espécie, como é o caso de 
‗assembleia‘, coletivo que nomeia um grupo de pessoas reunidas. 
Você já parou para pensar na razão pela qual pessoas pouco escolarizadas usam com tanta 
frequência ―A gente fomos‖? Isso acontece porque os substantivos coletivos, por serem 
nomes no singular que se referem a um conjunto, acabam por gerar variação na concordância 
verbal. 
Ressalte-se que a forma ‗a gente‘, acompanhada de verbo conjugado na terceira pessoa do 
singular, embora comum na língua falada, deve ser evitada em ambientes de formalidade, já 
que ela não é prescrita pela gramática normativa. 
Como saber se uma palavra é substantivo? 
Sautchuk, em seu livro Prática de morfossintaxe: como e por que aprender análise 
(morfo)sintática, considera que o critério sintático é o mais eficiente para a identificação e 
classificação dos substantivos. ―[...] Só é substantivo, em português, a palavra que se deixa 
anteceder por determinantes.‖ (2004, p. 16) 
É possível que palavras que não sejam substantivos funcionem como tal, pois uma palavra de 
outra classe gramatical pode ocupar uma função sintática típica do substantivo. Observe os 
exemplos a seguir: 
1. O não é uma característica de todos os chefes. 
2. Vamos aos finalmentes! 
3. O andar dele é muito esquisito. 
4. Seu falar me irrita. 
Em todos os exemplos anteriores, as palavras sublinhadas pertencem, originariamente, a 
outras classes. Nas sentenças 1 e 2, os itens sublinhados pertencem à classe dos advérbios; 
nas sentenças 3 e 4, à classe dos verbos. 
No entanto, nas quatro, verbos e advérbios encontram-se antecedidos por um item gramatical 
chamado de forma. 
Assim, muitas palavras pertencentes a outras classes podem se tornar substantivos quando 
antecedidas por determinantes. 
ADJETIVOS 
Adjetivos são palavras que indicam qualidade, defeito, característica (aspecto ou estado) ou 
origem de um substantivo, podendo ser simples (branco) ou compostos (branco-gelo). Em 
língua portuguesa, há diferentes recursos com a função de apresentar atributos e 
características dos seres, ou seja, tem-se a classe de palavra chamada de ‗adjetivo‘ e outras 
formas para que se exerça a função de adjetivar. 
Exemplos. 
Adoro livros novos. Comprei livros de história. 
livros – substantivo substantivo + locução adjetiva 
novos – adjetivo 
Carro de João – essa locução adjetiva indica posse 
Meu carro – o pronome possessivo ‗meu‘ é chamado ‗pronome adjetivo‘: ele também indica 
posse. 
Livros usados são mais baratos. 
Substantivo + particípio passado de verbo 
Livros que são usados são mais baratos. 
Substantivo + oração subordinada adjetiva 
Continuando nossa conversa sobre adjetivos, vamos analisar o trecho a seguir, retirado do 
capítulo XIII do livro Dom Casmurro e observar o que o autor descreve da personagem 
Capitu. 
―Não podia tirar os olhos daquela criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em 
um vestido de chita, meio desbotado. Os cabelos grossos [...] desciam-lhe pelas costas. 
Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo.‖ 
(Trecho do livro Dom Casmurro, p. 27) 
Podemos observar que ao utilizar a adjetivação dos substantivos ‗criatura‘, ‗vestido‘, ‗cabelo‘, 
‗olhos‘, ‗nariz‘, ‗boca‘ e ‗queixo‘, o autor nos dá uma breve descrição da personagem Capitu. 
Criatura de quatorze anos, alta, forte, cheia, que está apertada em um vestido de chita. 
O vestido, além de ser um ‗vestido de chita‘, está ‗meio desbotado‘. 
 Locução adjetiva particípio 
Seus cabelos são ‗grossos‘ e ‗longos‘, já que o autor nos diz que eles ‗descem até as costas‘. 
Capitu é ‗morena‘, possui olhos ‗claros‘ e ‗grandes‘. 
Seu nariz é ‗reto‘ e ‗comprido‘. 
Sua boca é ‗fina‘. 
Seu queixo é ‗largo‘. 
Conforme dito, nem sempre utilizamos o adjetivo para caracterizar o substantivo. Esse 
processo de adjetivação pode ser feito através de um conjunto de palavras que tem valor de 
adjetivo: são as locuções adjetivas, normalmente formadas por uma preposição e um 
substantivo ou por uma preposição e um advérbio. Muitas dessas locuções possuem adjetivos 
equivalentes, como a locução ‗de mãe‘ equivalente ao adjetivo ‗materno‘. 
No texto anterior, a expressão ‗de chita‘ qualifica o vestido: Capitu não usa um vestido de 
seda, nem um vestido de cetim: caracterizando seu vestido como ‗de chita‘, o autor nos 
remete à ideia de um vestido simples, feito de um algodão barato e geralmente, estampado 
com flores. Apesar da simplicidade do vestido, Machado de Assis escreve ―Não conseguia tirar 
os olhos daquela criatura [...]‖, o que nos mostra o profundo efeito que Capitu produzia, 
desde a infância dos personagens. 
Conforme dissemos, muitas locuções possuem adjetivos equivalentes. No entanto, há casos 
em que essa correspondência não ocorre. A seguir, temos o primeiro parágrafo da crônica 
Brasília Fashion, escrita por Tony Bellotto. Nesse trecho, há adjetivações realizadas através de 
locuções, não substituíveis por adjetivos, que contribuem para o estabelecimento do 
significado no texto. 
―O deputado da meia será afastado do cargo. E assim entrará para a história: como o 
deputado da meia. Não se fazem mais políticos importantes com nomes imponentes como 
Ulysses Guimarães, Tancredo Neves ou Rui Barbosa. Agora os políticos se imortalizam por 
alcunhas edificantes como o deputado da meia, o senador do bigode, o prefeito da cueca, o 
vereador da peruca, o governador do panetone, a deputada da bolsa, o assessor da mala, a 
senadora da propina, o ministro do cartão corporativo, o suplente da pochete e assim por 
diante.‖ 
Se procurarmos o significado da palavra adjetivo em um dicionário, veremos que, 
originariamente, ela significa ‗colocado ao lado de‘. Isso nos mostra como o adjetivo funciona: 
para sabermos o que é um adjetivo, precisamos relacioná-lo ao substantivo ao qual se refere. 
Como substantivos e adjetivos compartilham características, frequentemente a distinção entre 
eles depende de elementos fornecidos pelo contexto. 
Exemplos. 
• O idoso brasileiro conseguiu muitos benefícios. 
• O brasileiro idoso conseguiu muitos benefícios. 
Na primeira frase, idoso é substantivo e brasileiro é adjetivo; na segunda, os papéis se 
invertem. 
Vejamos agora os exemplos a seguir: 
• Meu amigo velho continua frequentando minha casa. 
• Meu velho amigo continua frequentando minha casa. 
Na primeira frase, velho indica a idade do amigo; na segunda, quando colocamos o adjetivo 
anteposto, esse adjetivo passa a indicar afetividade. Assim, podemos concluir que quando 
colocamos o adjetivo após o substantivo ele conserva

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