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Kant, Marx, Freud, Durkheim e Nietzsche Conceitos elementares sobre o método científico Marcela de Souza Silva* RESUMO Este artigo visa relatar os conceitos fundamentais a respeito do método utilizado nos principais teóricos e filósofos dos séculos XIX e XX, os quais influenciaram todo um conhecimento que dominou o século XX e XI nas ciências em geral. Kant é o pole position dos filósofos que inaugura o conhecimento que vai orientar toda a idade histórica denominada modernidade que ao romper com as ideologias cristãs trouxe o pensamento moderno. Marx é o nome que ecoará por todos os séculos. Filosofo alemão que se despede do pensamento hegeliano mostrando ser possível pensar dialeticamente o materialismo. Freud quebra tudo dizendo que a realidade pode estar errada. Durkheim traz uma nova roupagem kantiana aliando a explicação metafisica da sociedade à metodologia naturalista. E Nietzsche destrói a todos revelando que a ciência ao tentar manipular nossas ideias apenas nos dão ilusões da verdade. PALAVRA-CHAVE filosofia; sociologia; realidade, fenômeno; ciência; metodologia científica sobre a razão em Kant A investigação kantiana é sobre a capacidade de pensar. A razão, em Kant¹, encontra- se inserida na forma de pensar. Ou seja, ela parte da concepção de que para investigar o pensamento é preciso pensar. Esse conceito foi elaborado na Crítica da Razão Pura, a qual a partir da razão pura é possível explicar os fenômenos. Os fenômenos, segundo Kant, são uma interpretação subjetiva feita pela própria razão sobre a realidade (nôumeno). Assim, o conhecimento é a priori despertado pela sensibilidade a qual se mostra universal e necessária. Kant elabora esse método a fim de determinar o que é a razão, ou seja, qual é a capacidade de alcance do pensamento. Ele queria achar uma concepção que não fosse nem inatista e nem empirista. Mas que se torne uma misturar das ideias inatas e das ideias empíricas que se completam de maneira tal que uma é o reflexo da outra, isto é, o a priori é concretizado no a posteriori, o qual vai permitir que a experiência se converta em conhecimento. Se o conhecimento não é inato nem empírico o que ele é? Ele é transcendental, diz Kant. Transcendental é “todo conhecimento que, em geral, se ocupa menos dos objetos e mais de nosso modo de conhecer, na medida em que este deve ser a * É graduanda de Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão. 1 Immanuel Kant, século XVIII, posterior a Hobbes. Porém, é contemporâneo à Husserl, o responsável pela difusão da filosofia fenomenológica – o conhecimento é tal qual como foi produzido a priori pela estrutura da consciência (CHAUÍ, Marilena. 118). priori” (CHAUÍ, Marilena. 91). Já, a “matéria do conhecimento, por ser depois da experiência, vem depois desta e por isso é, no dizer de Kant, é a posteriori” (idem). Para ele, a razão pura é uma sensibilidade, isto é, a percepção que cada indivíduo tem do mundo. Deste modo, Kant lançou a diferença do que é o mundo em si e o mundo para si. No mundo em si, que ele chamou de noumeno onde há uma independência da experiência. Já o mundo para si, que ele chamou de fenômeno, existe o que se apresenta para nós. Kant, então, chega à conclusão de que o mundo em si é inacessível. Só podemos ter acesso ao mundo para si, pois é aquele que se apresenta pela nossa própria razão. Assim, poderíamos dizer que o mundo nos escapa até a nos mesmos, pois já o que conhecemos de nós mesmos é algo que nos apresenta para si. Assim traça-se um rompimento com o realismo para focar no idealismo. No realismo filosófico crer-se em uma realidade dada modelar o conhecimento, ou seja, a realidade é soberana ao conhecimento. Conhecer é registrar o real, o espírito se molda ao real. Já no idealismo filosófico, Kant propõe que o espírito participa ativamente da construção da realidade. O mundo é uma construção do próprio indivíduo, pois o objeto é a maneira de conhecer o mundo, assim é o homem quem o define. Kant denominou duas formas de juízos: juízo sintético e juízo analítico. Síntese é o predicado o qual acrescenta algo a ideia. E a análise é o que esmiuçar um conceito internamente sem trazer elementos novos. Logo, o que é a posteriori é sintético. E o que é a priori é analítico. Podemos partir para uma questão, será que o que se estuda do mundo são necessários? Se não se pode enxergar o que é necessário e universal (juízos analíticos) tem-se, então, que o conhecimento não é valido. Todavia, o juízo sintético - a posteriori - não pode ter validade, pois o que é a priori é o que é universal e necessário. O que o homem entende é, pois, o tempo, o espaço e a causalidade. A noção de tempo não é um dado do mundo (da experiência), mas uma categoria, condição de colhimento pessoal, a priori do conhecimento. Assim é possível organizar as experiências vividas, seletivas e simultâneas. A noção de espaço não é também o do mundo, mas do a priori a fim de organizar as experiências no espaço. Ou seja, a explicação do que está à direita à esquerda, embaixo ou em cima. E a noção de causalidade é a priori o que o homem entenderá do mundo como ele é (do mundo em si) a partir da perspectiva causal – causa e efeito. Isto é, o que é próprio do homem, o qual explica o mundo através de suas experiências. Por isso quando colocamos em um projeto cientifico “objeto científico”, o objeto não é o mundo, mas a experiência que se tem a priori. Para o conhecimento o mundo é importante, assim como o indivíduo. A forma imposta ao objeto pelo sujeito é invariável, pois as estruturas do conhecimento não mudam, a saber: a síntese que a razão realiza entre uma forma universal inata e um conteúdo particular oferecido pela experiência. “É aquela que tem como objeto a investigação dos conceitos usados pelas ciências – espaço, tempo, quantidade, qualidade, causalidade, substancialidade, universalidade, necessidade, etc. -, isto é, que tem como objeto o estudo das condições de possibilidade de todo conhecimento humano e de toda experiência humana possíveis, ou seja, o estuda das condições a priori da existência dos objetos do conhecimento [..] A metafísica é do conhecimento humano e da experiência humana, ou, em outras palavras, do modo como os seres humanos, enquanto manifestações do Sujeito Transcendental, definem e estabelecem realidades” (CHAUÍ, Marilena. 207). sobre a dialética de Marx Marx², para explicar a sociedade que se encontrava em processo de consolidação da sociedade capitalista no século XIX, parte da dialética materialista. Isto é, pela racionalização do conflito natureza e sociedade. Nela a dialética tenta mostrar que o que na verdade acontece, anexando-se assim ao pensamento de Kant, é que o homem se modifica, a sua perspectiva sobre a razão a priori se modifica conforme seu contexto histórico, cultural, social e político³ a qual ultrapassa a consciência a priori pela ideologia 4 . “Sou como sou, porque assim foi preciso que eu me tornasse assim. Se mudarem o todo, necessariamente eu também serei modificado 5” (KONDER, Leandro. 148). Sobre a ótica do materialismo histórico a dialética ganha a versão de Hegel 6 , a qual parte do princípio da identidade de opostos. Ela se inspira na dialética aristotélica que compõe três unidades: tese, antítese e síntese. A tese pode ser entendida como o momento da afirmação; a antítese é o momento da negação da afirmação, gerando a tensão que origina a síntese, o último momento que corresponde à negação da negação, ou seja, é o resultado da antítese anterior, no qual suspende a oposição entre a tese e a antítese. A síntese representa uma nova realidade. Em Hegel a dialética aristotélica ganhou o nome de aufhebenque em alemão quer dizer “suspender”. Suspender traz três sentidos, a saber: 1) anular, cancelar; 2) proteger e 3) promover a passagem. “Para ele, a superação dialética é simultaneamente a negação de uma 2 Karl Marx, século XIX. Posterior a Hegel. 3 Conceito similar, mas contrário, à teoria Crítica – Escola de Frankfurt – a qual nos diz que a razão é a força histórica que cria a própria sociedade, a política, a cultura (CHAUÍ, Marilena. 99). 4 Ideologia é uma ideia de que a realidade é uma construção intelectual, cultural, política e social que parte do ponto de vista da classe dominante (idem. 176). 5 Citação de Denis Diderot, século XVIII. 6 Georg Wilhelm Friedrich Hegel, século XVIII e XIX. determinada realidade, a conservação de algo de essencial que existe nessa realidade negada e a elevação dela a um nível superior” (idem, 154). Isto marca o que Hegel chamou de Razão Absoluta, ou seja, da consciência de si, da autoconsciência. A dialética é, portanto, o movimento contraditório dentro de unidades que a cada nova etapa nega e supera a etapa anterior, num fluxo contínuo de superação-renovação. Hegel sustenta a ideia de que um princípio não basta em si mesmo, pois carrega em si a contradição e a luta de opostos. Esse processo de superação-renovação é o que Hegel chama de processo de explicitação. Mas onde se encontra Marx? Marx surge justamente para desenvolver esse pensamento. Ele está convencido de que os fenômenos sociais, os quais são visíveis, não se explicam por si só. Tudo na sociedade tem uma causa oculta, por isso, é preciso buscar pelos métodos da dialética materialista da história para poder entendê-los. Para tanto, tomou como objeto, a relação do homem com a natureza pelo trabalho. Ou seja, o próprio trabalho. “Foi com o trabalho que o ser humano desgrudou um pouco da natureza e pode, pela primeira vez, contrapor-se como sujeito do mundo dos objetos naturais. Se não fosse o trabalho, não existiria a relação sujeito-objeto” (idem, 153). O objeto de Marx é o trabalho, pois o trabalho explica todas as relações do homem com o mundo. Aí será o lugar onde se evidencia, como diz Hegel, a luta dos contrários. Para entender o que é racional no mundo é preciso entender as causas profundas. Para entender as causas profundas é preciso entender a relação entre a superestrutura e infraestrutura. A superestrutura é tudo que esta ao alcance dos sentidos na sociedade. É o resto em relação à infraestrutura (isto é um conceito tautológico 7 ). Já a infraestrutura é o lugar no qual se pode encontrar as verdadeiras causas de tudo. E o que compõe a infraestrutura? Tudo que se relaciona, direta ou indiretamente, com a produção de bens materiais na sociedade, ou seja, com uma economia. Economia a qual é constituída por forças de produção e relações de produção. As forças de produção são competentes por todos os elementos materiais que participam da produção de bens. São as forças as quais agem sobre o objeto (bruto ou prima) do trabalho. O trabalhador age segundo uma ação sobre um dado do mundo para transforma- lo com finalidade estabelecida. Assim, vê Marx, o que importa é o trabalhador, pois ele é a energia de trabalho (força de trabalho). Resumindo o processo; o trabalho é fundamentado por um processo de produção, o qual considera três elementos: 1) objeto (pode ser bruto – o qual sai da natureza para ser transformado – e primo – o qual já foi transformado previamente), 2) 7 Retórica tautológica consiste em algo pela mesma ideia, mas de forma diferente: “o ser é, o ser não é”. meio (instrumento entre o trabalho e o trabalhador) e 3) atividade humana necessária. Nesse processo tem-se o produto - resultado da ação do trabalho – e a mercadoria - produto para comercialização. As relações de trabalho são as condições que o processo de trabalho se dá, pela cultura, política, etc., na qual o homem age na natureza desde que ele existe, mas não sempre da mesma maneira, já que as condições culturais e politicas se modificam ao longo do tempo. O que caracteriza as relações capitalistas de produção de bens são, então, os meios de produção os quais controlam a propriedade privada. Assim pode-se dizer que na produção capitalista existem dois grupos: os proprietários dos meios de produção, e não proprietário 7 . Como é a relação entre os proprietários e não proprietários? Logicamente, não se dão bem, pois possuem interesses distintos. Os proprietários objetivam o lucro, e os trabalhadores apenas desejam sobreviver por seus salários. O que caracteriza um desequilíbrio, gerando a dinâmica dos contrários, a luta de classe. Na luta fica evidente dois elementos: a exploração do trabalho, pois o burguês controla as condições materiais do trabalho, pagando menos do que ele vale, e segundo, uma alienação 8 , já que as condições do trabalho faz com que o trabalho se torne estranho a ele mesmo, ou seja, o objeto se separa do seu produtor assim como o próprio trabalho. Nesta luta quem sempre ganha é o burguês porque ele dita as regras do jogo. Ai está o método científico de Marx ao lançar que o objeto é trabalho, pois é ele que modela o homem. Na dialética, então, pode-se perceber que o produto passa pela tese, ou seja, a definição o reconhecimento de ele existe – mostrar que o trabalho é a ação racional do homem sobre sua existência/sobrevivência. Em segundo lugar, passa pela negação do objeto – o trabalho como produto vendável para troca da sobrevivência. E em terceiro, se torna um novo que é justamente a alienação – algo que o homem não reconhece, nem como dele, mas como algo novo e totalmente autônomo. sobre a psicanálise em Freud Se em Kant a realidade são experiências as quais os homens impõem valores a ela e para Marx a realidade vem de uma ideologia predominante, de uma classe superior para uma classe inferior, para Freud 9 a realidade é uma “força invisível, de um poder – que é psíquico social – o qual atua sobre nossa consciência sem que ela o saiba. A esse poder que domina e controla invisível e profundamente nossa vida consciente ele deu o nome de inconsciente” (CHAUÍ, Marilena. 62). 8 Alienus (Feuberbach) é a projeção de um ser superior que é dotado de qualidades melhores, onisciente e onipotente, sabe tudo e faz tudo, o qual os humanos criaram, mas se esqueceram que o criaram acabando por não mais se reconhecerem em sua criação – se alienam. 9 Sigmund Freud, século XIX e XX. É posterior aos escritos do Manifesto (1848) de Marx. 10 para Kant há uma repulsa a tudo que é desejo, tudo que originário da natureza humana. O inconsciente é “o nome que se dá a um sistema lógico que, por necessidade teórica, supomos que opere na mente das pessoas, sem no entanto afirmar que, em si mesmo, seja assim ou assado. Dele só sabemos pela interpretação” (HERRMANN, Fábio. 69). O inconsciente foi descoberto por Freud na hipnose. Na hipnose Freud percebeu que haviam duas consciências, uma que se realiza na hipnose a qual também não é visível, e que mais tarde através da psicanálise chamou de inconsciência, e outra a qual é visível que se realiza fora da hipnose – consciência em si. O que havia antes do conceito freudiano do inconsciente? Na filosofia o inconsciente não existia, ele era apenas um conceito contrário à consciência, o inconsciente era algo inalcançável, pois era obscuro. Na verdade é na psicanalise que inconsciente adquire forma. Kant inspirou Freud, pois para Kant 10 era possível ao homem ter ideia e representação de coisas não imediatas como na consciência, mas há fatos imediatos pelo pensamento – o que gera uma pré-noção da inconsciência. Então, para nos dizer o que é o inconsciente Freud faz uma cisão, uma separação comDescartes. “Penso, logo existo”, diz Descartes, mas para Freud não é de todo verdade, pois para ele há um poder inconsciente que implica profundamente na relação do homem com a realidade. Temos assim, então, que a inconsciência é o produto da experiência do homem. Ao passo em que experimentamos, ou seja, conhecemos o mundo certas informações são armazenadas em nós. O que fazemos depois de conhecermos a realidade é manifestado pela nossa consciência. Mas se vivemos em sociedade não podemos fazer tudo que nos vem por desejo 11 . Ou seja, o convívio social se impõe a nós por uma repressão aos nossos impulsos inconscientes, já que estes desconhecem barreiras e limites de suas satisfações. Observa-se disso que o inconsciente limita o poder soberano da razão (avesso a Kant). Assim sendo, somos nada mais do que um ventríloquo controlado pela consciência e inconsciência? Freud nos explica que nossa psique é um espaço de conflito entre o desejo e a censura. Pois o id ou libido sexual é como o desejo 11 , já o superego ou censura moral que é como a vontade 12 e se expressa pelos valores de cada sociedade. A psique é o que produz sentido as coisas humanas, sejam individuais ou coletivas (HERRMANN, Fábio. 112). Mas ela não é individual nem social em si mesma (idem. 114). Se a id vence acontece atos violentos que destrói os outros. Se o superego vence acontece a violência sobre o sujeito, o sujeito moral. Quando o id é superior ao superego, ou quando o superego é superior ao id, há neuroses e psicoses. O eu (freudiano) é o todo. O eu é o id, o superego e a consciência. A consciência é 11 Segundo a lógica kantiana o desejo é o que vem do corpo, portanto parte da natureza humana. 12 Ainda pela ótica kantiana a vontade é o produto da razão. 13 A síntese de Durkheim inspira-se na síntese kantiana, isto é, aquela a qual o predicado acrescenta algo à ideia.*Durkheim (1858-1917) teve estudos filosóficos, religiosos do Direito á Economia. É considerado o primeiro sociólogo devido aos seus estudos a fim de comprovar uma coerção social como formadora da consciência social. resultado do equilíbrio do id e do superego. É o que traz o ser humano a convivência, a realidade e a sociabilidade (CHAUÍ, Marilena. 283). A psicanálise, ou seja, o método científico de Freud é a investigação do que é a realidade sem a intromissão da consciência, isto é, sem a maquinação a cerca da própria realidade traduzida pela interpretação da consciência. Segundo a psicanálise (Freud) a consciência é um poder que controla o que para nós é invisível, mas afeta a nossa relação com a realidade. “A psicanálise mostra que somos resultado e expressão de nossa história de vida. [...] Não somos autores nem senhores de nossa história, mas efeito dela” (idem). sobre a moral de Durkheim Em sua busca pela construção da ciência Sociologia, Émilie Durkheim* parte do princípio de que a realidade é social. O social é uma construção da “consciência” coletiva que nada mais é “do que a soma, é a síntese13 e, por isso, não se encontra em cada um desses elementos, assim como os diferentes aspectos da vida não se acham decompostos nos átomos contidos na célula: a vida está no todo e não nas partes. As almas individuais agregadas geram um fenômeno sui generis 14 , uma vida psíquica de um novo gênero 15 . Os sentimentos que caracterizam este ser têm uma força e uma peculiaridade que aqueles puramente individuais não possuem. Ele é a sociedade” (QUINTANEIRO, Tania. 62) Durkheim é muito influenciado pelas ideias de moral e ética de Aristóteles. Para o filosofo grego a moral é o esforço que tomarmos para discernir entre as melhores decisões. Com isso, expõe o grego, o ato tem sua dimensão própria, pois cada indivíduo, cada um precisa ter liberdade de escolha. O ato 16 é a escolha, a melhor decisão, a qual inclui uma consciência individual do que lhe seja o certo – equivalente as regras de conduta de uma consciência coletiva em Durkheim. Assim, para Aristóteles a moral não tem a ver com o olhar do outro ou o que se faz sem que o outro veja, para ele isso não faz diferença. A conduta moral tem haver com que o indivíduo faz, mas não pelo que a ele é externo, mas a uma neutralidade repressiva. A neutralidade repressiva significa uma limitação do comportamento, pois objetiva um fim social, uma consciência moral. Por isso, se diz que mesmo se as pessoas fossem invisíveis elas teriam as mesmas atitudes. A moral, para Aristóteles é o contrario a coação. A moralidade aristotélica tem muito mais a ver com uma liberdade deliberativa, do que com uma coação. Pois, quanto mais vivemos em um meio no qual a coerção é maior menos espaço há para a moral. 14 O conceito de sui generis (do latim, de seu próprio gênero) refere-se a o que Durkheim diversas vezes frisa: “a sociedade só pode ser explicada pela sociedade” e está estritamente ligada a sua necessidade de objetividade na construção da ciência sociológica. Isto é metafísica “o Ser enquanto o Ser”. 15 O conceito de gênero parte de Aristóteles. São características universais as quais os indivíduos conhecem pelo que há de comum 16 Ato é a atualização da matéria da potência. Como exemplo; a árvore é o ato da semente. A moral é como a liberdade deliberativa. A liberdade deliberativa, permiti-nos que o individuo tenha um paradoxo a sua frente a fim de que ele possa deliberar sobre aquilo que é a correta conduta moral para ele. Imaginemos: sabemos que para andarmos em uma certa condução, para nos deslocamos de um lugar ao outro usamos veículos coletivos os quais são pagos. Porém, em alguns lugares, ou em outros países, alguns desses veículos não possuem um alguém que regularize uma cobrança para o uso, um fiscal. Mas é sabido que para utiliza- lo existe uma taxa, um valor. Notemos que se não existe um personagem, um objeto de coerção ali o qual esteja regulando a cobrança dessa taxa o individuo esta à frente de uma possibilidade de moral. Pagar ou não pagar? Se não há quem o fiscalize, porque pagar? Nesta reflexão sobre a escolha de uma correta conduta moral encontra-se a própria moral. Assim temos noção de que uma sociedade mais opressiva é menos moral e uma sociedade menos opressiva é mais moralizada, pois a moral só existe na sociedade, no coletivo. A consciência moral desenvolvida é suficiente para o individuo não atentar contra o coletivo a partir de vantagens pessoais cogitadas. A ética para Aristóteles é o domínio desses princípios da consciência moral desenvolvida os quais são cognitivos, reflexivos e intelectivos nos indivíduos. O que temos de Aristóteles foi o que seus alunos escreveram em suas aulas. Em Ética a Nicômanco, livro no qual Aristóteles fala sobre a polis, e como viver em sociedade em um todo organizado. O objetivo é discutir sobre as condutas humanas a partir do seu valor, sejam por causas psicológicas, ou sociológicas 17 . Aristóteles nos faz crer que a ética não é uma mera investigação sobre o ato, mas sobre o valor da conduta, sobre o dever de agir, e não sobre o que fazemos em si. A esse respeito, a ética é um discurso filosófico e não cientifico, pois reflete sobre a melhor conduta possível. A ética moral não é uma investigação particular ela atribui valores às condutas independentemente das ocorrências. Se a ética moral não é cientifica, como Durkheim explica a sociedade pela moral? O que é a sociologia para Durkheim? Sociologia, em Durkheim, é a ciência que estuda o que a sociedade é, e não que ela pode ser, através do objeto: fatos sociais. Para ele a sociedade é formada de indivíduos os quais geram entre si representações coletivas as quais se expressam nos fatos sociais. “as consciências particulares,unindo-se, agindo e reagindo umas sobre as outras, fundindo-se, dão origem a uma realidade nova que é a consciência da sociedade. [...] Uma coletividade tem as suas formas específicas de pensar e de sentir, às quais os seus membros se sujeitam, mas que diferem daquelas que eles praticariam se fossem abandonados a si mesmos. Jamais o indivíduo, por si só, poderia ter constituído o que quer que fosse que se assemelhasse à ideia dos deuses, 17 Psicológico e sociológico são conceitos modernos, portanto é preciso considerar como uma interpretação. aos mitos e aos dogmas das religiões, à ideia do dever e da disciplina moral etc.” (DURKHEIM. In QUINTANEIRO, Tania. 62). Logo, percebe-se que para Durkheim a sociologia é uma ciência das instituições, pois dizer que os fatos são representações coletivas é como se a realidade (o social) fosse algo que sai do indivíduo, como se houvesse duas esferas independentes o que ele chamou de consciência individual e consciência coletiva. Os fatos sociais “são estabelecidos pela síntese 13 exterior de uma pluralidade de ações individuais, e que uma vez estabelecidas adquirem a capacidade de comandar essas ações sem, no entanto, se confundir com elas” (GALLIANO, Guilherme. 61). Considerando isto, existem fatos sociais mais fluídos e outros mais cristalizados no interior da dinâmica social. A essas características Durkheim chamou de Morfologia e Fisiologia 18 . À morfologia refere-se a maneira de agir e ao que é fluído. Podem simbolizar correntes sociais, movimentos coletivos. Esses fenômenos interpelam as pessoas de maneiras diferentes e assim são elementos sintéticos os quais variam conforme cada sociedade e entre os indivíduos. Já a fisiologia remete-se à maneira de ser e são formas cristalizadas na sociedade. São regras jurídicas, morais, dogmas religiosos. São como Durkheim chama de “regras técnicas utilitárias” e conferem uma análise dos atos. Morfologia e fisiologia são termos retirados das Ciências Naturais. Durkheim claramente nos mostra uma relação entre essas duas ciências, uma já bem aceita e outra ainda embrionária. O objetivo do autor é elaborar um conceito fundamentado segundo os princípios do que era “ciência” de sua época. Assim ele separou o que é o objeto da Sociologia, já dito anteriormente. Mas nas ciências naturais em seu método de investigação científica havia uma “separação” entre o sujeito (cientista) e o objeto. Ora, nós vivemos em sociedade, sendo assim, teremos nós de nos separarmos da sociedade para poder estuda-la? Claro que não. Por isso, Durkheim nos orienta: “Os fatos sociais são coisas” (DURKHEIM. 1). São coisas, pois os fatos sociais são o objeto da Sociologia. Na sociologia é o objeto que se separa do sujeito e não o contrário. “A coisa se opõe à ideia. [...] É coisa todo objeto do conhecimento que a inteligência não penetra de maneira natural [...] tudo o que o espírito não pode chegar a compreender senão sob a condição de sair de si mesmo, por meio da observação e da experimentação, passando progressivamente dos caracteres mais exteriores e mais imediatamente acessíveis para os menos visíveis e profundos” (DURKHEIM. In QUINTANEIRO, Tania. 66). Aqui vemos que Durkheim parte da oposição entre coisa e ideia. Essa oposição quer dizer a dualidade entre razão e natureza. Isto é, dualidade metafísica. A investigação metafísica é orientada por aquilo que explica como as coisas são como são; matéria, potência 17 Tanto Psicológico como sociológico são conceitos modernos. Tratar como interpretação. 18 Os termos Morfologia e Fisiologia claramente se remetem a uma fortíssima influencia na ciência durkheimiana, a Ciência Natural. Durkheim tinha uma visão do homem mais ligado à um animal. Para ele o que diferencia o homem dos outros animais é o seu conhecimento social da realidade. e ato. É isto estudar “o ser enquanto ser”. O dualismo metafisico orienta dois tipos de conhecimento: o ideal e a experiência. Para a experiência o conhecimento é empírico, ou seja, uma experiência através da prática. Para o ideal (formas perfeitas) o conhecimento é referente à abstração progressiva (assim como a matemática). Devido a isso, Durkheim está sempre nós lembrando: sui generis – isto é, explicar a sociedade pela sociedade14 (GALLIANO, Guilherme. 62) seja empiricamente ou pela concretização ideológica. Então, a noção que a sociedade se coloca para nós é de algo que nos é exterior e superior. Ou seja, ela é o que é. Como diria Kant, ela é a realidade em si. Como explica-la? “Ocorre apenas que a sociedade é algo mais que uma potência material: é uma grande potência moral. Ela nos ultrapassa não apenas fisicamente, mas material e moralmente. A civilização é devida a cooperação dos homens associados e das gerações sucessivas: é portanto, uma obra essencialmente social” (DURKHEIM In Sociologia e Filosofia) Durkheim nos diz que as consciências individuais são um objetivo transcendente. Então para Durkheim, é a sociedade que se impõe ao indivíduo, ou a consciência coletiva é um produto de uma experiência a priori (Kant)? O que o indivíduo conhece da sociedade? Se a sociedade (como consciência coletiva) é transcendental 19 ao indivíduo, então, ela não é produto individual, nem psicológico, mas é o sujeito universal da razão humana. A sociedade é o juízo que dispõe a realidade de alguma coisa ao indivíduo (sociedade = objeto/objetivo do indivíduo). A qual também é a própria idealização do indivíduo. Logo, entende-se que Durkheim parte do pensamento kantiano, como também do pensamento aristotélico, utilizando o naturalismo metodológico a fim de explicar a dinâmica social como objeto de defesa da ciência sociológica, isto é, distinguir o que é âmbito da psicologia, da biologia e assim “mostrar que a compreensão ordinária que temos do homem com um ser autônomo e responsável depende de fatores sociais cuja investigação esta ao alcance de uma ciência natural como a Sociologia” (MASSELLA, Alexandre. 257). sobre o niilismo de Nietzsche Para falar de Friedrich Wilhelm Nietzsche20 trago um recorte do livro Nietzsche em 90 minutos, Paul Strathem, o qual explica, de maneira muito bem o surgimento e o contexto deste incrível pensador do século XX. Leiamos a seguir. “No início da era cristã, a filosofia adormeceu. Seus cochilos acabaram por produzir o sonho filosófico conhecido como escolástica, que tinha por base Aristóteles e os ensinamentos da Igreja. A filosofia foi rudemente despertada desses devaneios medievais no século XVII pela chegada de Descartes, com a sua declaração Cogito, ergo sum (Penso, logo existo). Uma era de esclarecimento havia começado: o conhecimento baseava- 19 O transcendental, inspiração de Kant. Para o filósofo alemão o transcendente é “todo conhecimento que, em geral, se ocupa menos dos objetos e mais de nosso modo de conhecer, na medida em que este deve ser a priori”. Então se Durkheim nos diz que a sociedade é transcendente ao indivíduo é porque ele quer nos dizer que a consciência que temos de sociedade é um conhecimento a priori. Isto é, a sociedade foi criada por nossa própria consciência individual e assim nos realizamos nela. Algo analógico como o Leviatã de Hobbes. 20 Filosofo nascido na Prússia em 1844. Foi bastante influenciado pelas ideias de Shopenhauer, o que lhe trouxe uma visão pessimista do mundo. É anterior à Freud, portanto, suas ideias o influenciaram. se na razão. Mas Descartes despertou mais do que os sonolentos eruditos. Também acordou os britânicos, que logo responderam à sua asserção racional, insistindo em que nosso conhecimento não se baseia na razão, mas na experiência. No seu entusiasmo, os empiristas britânicos logo destruíram todotraço de razão – reduzindo a filosofia a uma série de sensações cada vez menores. A filosofia corria o risco de adormecer mais uma vez. Foi então que, em meados do século XVIII, Kant despertou de seu sono dogmático e formulou um sistema filosófico ainda maior do que o que condenara a filosofia à inércia durante a Idade Média. Parecia que a filosofia estava prestes a de novo emular Rip van Winkle. Hegel reagiu a essa situação soporífera construindo para si mesmo um enorme leito sistemático de quatro colunas. Schopenhauer decidiu tentar outro método e jogou um jato da fria filosofia oriental no leito kantiano. Isso provocou o despertar do jovem Nietzsche, que se lançou na rajada fria e passou a proclamar uma ruidosa filosofia, que manteria a humanidade acordada por muito tempo” (STRATHEM, Paul. 6). Em quê Nietzsche acreditava? Para ele a realidade é um subproduto da psique, é aquilo que vem à nossa mente. A psique é infinitamente maior a nossa consciência, já que a consciência é um recorte casual da psique (inconsciente em Freud). Quem traz a consciência casual é a vontade, o estado de consciência que a pessoa se encontra. Para Nietzsche o que passa por nossa consciência é o que nos motiva a agir, e isso é algo externo. Assim, tudo que pensamos tem haver com o que acontece conosco. Nietzsche não pensa o mundo pela metafísica, de forma organizada, mas pelo o que vem à sua mente, muitas vezes por meio de aforismos. Pois ele considerava que o que ele escreve não tem pretensão de ser uma verdade válida a todos. Assim sendo, para Nietzsche é impossível isolar a moral, como se faz em Kant e Durkheim. O homem, como demostra Nietzsche, persegue sua vontade, o que ele chama de niilismo. O niilismo no sentido comum é entendido pela negação, o nada, o vazio, a falta. É como conduzir a vida sem ideias, sem valores superiores. É gerir a vida desamarrada de sentido de vida a qual se principiam a ela. O niilismo é a vida sem a existência de valores superiores, sem ser guiado por uma moral, religião, ou ética, no sentido geral. Assim, o niilista age por dois tipos de procedimento: 1) esperançar-se, e guiar-se por um valor (o qual pode ser moral), desde modo ele perderia oportunidades (sentido de negação), e 2) orientando-se a fazer o que quiser de tal modo que o niilista ganharia oportunidades, mas negaria a moral. Para Nietzsche o niilismo tem o sentido contrário. O niilista nietzschiano é aquele que pauta a vida por valores, por princípios e assim vive conforme ao que esses valores lhe impõem – igual ao primeiro procedimento do niilismo supracitado. Mas o que é o nada para Nietzsche? O nada é a negação da vida, pois o niilista é aquele que nega as oportunidades da vida para servir a valores superiores (algo parecido com a moral, não?). O pensamento niilista por ter ideais e valores absolutos faz com que o homem troque o mundo das experiências, dos corpos, do objeto pela ideia do que elas sejam. Deste modo há sempre uma dualidade entre o que é aquilo que é e o que há para ser negado. O niilismo interessa-se, pois, pela crítica à filosofia tradicional a fim de buscar bases para a elaboração de seu método científico. A exemplo de Platão, no qual o mundo é sensível e inteligível (dualidade) – para Nietzsche existe a negação de um pelo outro, isto é, uma supremacia das coisas inteligíveis em detrimento do que é material. Para Aristóteles o cosmo é a negação do homem, a negação da eudaimonia 21 , ou seja, o cosmo escraviza o homem, pois, ele reduz que o homem só pode ser feliz pela idealização do que seria o mundo organizado. Escraviza o homem porque escraviza a vida por conta de um modelo mental. O monoteísmo é outro exemplo da filosofia tradicional. O monoteísmo para Nietzsche é a negação do que é a vida, vida social. Já o ideal é a negação do real, etc. A democracia é niilista, pois a democracia parte da premissa de igualdade. Para ele, isto é degenerado, pois esta forma iguala desigual. É notável que há uns os quais são melhores que outros e uns mais virtuosos que outros. Desde modo a democracia organiza a sociedade privilegiando o que é pior ao dar o mesmo valor para todos. O melhor exemplo nietzschiano é o indivíduo religioso. Para ele a religião existe para tornar a vida mais suportável o que faz dela um mal. Porque a religião é niilista? Porque a crença no além tem consequências sobre a vida social, isto quer dizer que ela só é alcançada após a morte. Então, o pensamento religioso não contribui para a vida social se para ela o objetivo é a vida eterna, fora da vida, o indivíduo não fará forças para melhorar a vida de agora. Isto tudo, para Nietzsche são exemplos de negação e por tanto niilismo. Para Nietzsche é preciso que haja um antiniilismo, uma crítica ao niilismo, o qual está presente em todas as suas obras. Para este pensador "os homens inventaram o ideal para melhorar o real". Deste modo Nietzsche elabora sua “Filosofia do Martelo” a fim de martelar toda a filosofia que escraviza a vida, como a filosofia tradicional, como as ciências que escravizam o conhecimento. “O que é verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo solida, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas quê se tornaram gastas e sem forças sensível, moedas que perderam sua efigie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas” (NIETZSCHE, Friedrich. 56). 21 Eudaimonia estar ligado ao sentido de objetivar a vida pelo prazer e por ele ter felicidade. Para Nietzsche, é preciso desconstruir e destruir as verdades absolutas, pois, para ele as coisas não são verdades absolutas. Por isso ele nos diz que Deus morreu, pois o arcabouço religioso do pensamento representa a oposição entre bem e mal, verdade e mentira, a qual é a principal responsável por orientar o conhecimento do existir humano, criando estruturas hierárquicas na realidade. Quando Nietzsche diz Deus morreu ele quer dizer que o que está morrendo é uma maneira de pensar guiada pela igreja e que orienta toda outra gama de conhecimentos. Quando deus morre tudo que deus orienta morre com ele, e isso passa tanto pelo que é religioso como pelo laico. Às vezes Nietzsche se refere aos antigos filósofos como deuses, isto acontece em todas as suas obras, entre outras, O crepúsculo dos ídolos, a mais evidente. A sociedade sem classe é igual a vida eterna, que é igual ao cosmo, que é igual a supremacia do inteligível. Portanto, morre a filosofia moral que orienta o que é certo e errado. Morre a filosofia política, a utopia, a sociedade sem classe, pois não existe o que é bom ou ruim. O que Nietzsche faz é abrir nossos olhos para nos denunciar uma ditadura, aquela que nos faz vê que andamos sustentados por muletas metafísicas e precisamos superar as "maldades", e o que se tem de "ruim", ou seja, tudo que é possível crer através da metafisica, esta é, a construção de uma realidade pautada na ideologia, na divisão hierárquica e, portanto, desigual. Viver sobre as muletas metafisicas é um equivoco, pois ao invés de conhecermos a vida como ela é passamos a viver uma vida inteira idealizando como ela poderia ser melhor. O que é o mundo da vida? Se o niilismo é a negação o que é negado? O mundo da vida é energia, energia em corpos vivente, natureza, vida. Às nossas atitudes, a nossa motivação, a qual Nietzsche chama de vontade de potência – é o agir. O que caracteriza o vivente e a vontade de potência? Nada mais é do que buscar mais vontade (motivação) de potência atéquando é barrada pela energia contrária. Tomamos como exemplo a atividade física, mais especificamente a corrida. O atleta que corre 10 quilômetros verdadeiramente deseja correr 20 quilômetros, mas ele é barrado pela energia contrária, ou seja, é o próprio consumo de suas forças físicas. Quer dizer que ao mesmo tempo em que há a força ativa há a força reativa. A força ativa pode ser considerada por aquela a qual existe por si só. Já a força reativa é aquela considerada como oposição à força ativa preexistente. Nietzsche nos diz que somos todos nós movidos por essas forças, as duas de igual forma e dependentemente de nossas situações. Um forte é aquele que se move pela força ativa um fraco pela força reativa. A arte é o modelo por excelência de força ativa, pois a arte, segundo Nietzsche, é tudo o que o homem faz movido por sua potência, por sua motivação. A pessoa que está sempre interrompendo os outros, por exemplo, deixa-se levar por forças retroativas. O reativo é aquele cuja existência depende da existência de outro, como por exemplo, a burocracia. A moral é a produção das forças reativas, pois a moral existe para conter as forças ativas (analógico à Hobbes). Assim temos que a moral racionalista foi criada para representar e não garantir o exercício da liberdade. A moral transformou tudo o que é natural e espontâneo no homem, em nome de virtudes e deveres, o que oprime a natureza humana. A moral foi criada para conter e dominar os fortes, cujos fracos condenam as paixões e desejos, submeteram a vontade à razão, inventaram o dever e impuseram castigos aos transgressores. BIBLIOGRAFIA CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia (sobre Kant p. 90-95, 115-118, 205-207, 210 e 211, 275 e 281; sobre Marx p. 61 e 62, 173-177; sobre Freud p. 62, 171-173, 282-284; sobre Nietzsche p. 195 e 282). São Paulo: Ática, 2010. ________________. O que é Ideologia Col. Primeiros Passos: 6. São Paulo: Circulo do Livro S. A., 1980. PRADO JR, Caio. O que é Filosofia Col. Primeiros Passos: 6. São Paulo: Circulo do Livro S. A., 1981. KONDER, Leandro. O que é Dialética Col. Primeiros Passos: 6. São Paulo: Circulo do Livro S. A., 1981. HERRMANN, Fábio. O que é Psicanálise Col. Primeiros Passos: 9. São Paulo: Circulo do Livro S. A., 1989. GALLIANO, Guilherme. Introdução à Sociologia. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1981. STRATHEM, Paul. Marx em 90 minutos. Rio de Janeiro: edição Digital, Jorge Zahar, 2011. ________________. Nietzsche em 90 minutos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. QUINTANEIRO, Tania. Um Toque de Clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte: Editora UFMG - 2° ed. Revista, 2002. DURKHEIM, Emile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martins Fontes – 3° ed., 2007. MASSELLA, Alexandre. O Naturalismo Metodológico de Émile Durkheim. São Paulo: Editora UFG, 2006. NIETZSCHE, Friedrich. Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral In: Obras Incompletas. São Paulo: Abril Cultural.
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