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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO TRIÂNGULO MINEIRO – Campus Uberlândia CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM ALIMENTOS LUCIMAR GOMES OLIVEIRA DUARTE BACILLUS CEREUS UBERLÂNDIA, MG 2017 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 04 2 MÉTODOS DE DETECÇÃO DE BACILLUS CEREUS 05 3 SÍNDROME CAUSADA POR BACILLUS CEREUS 05 4 TRATAMENTO 06 5 CONTROLE E PROFILAXIA 07 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 09 3 1. INTRODUÇÃO Bacillus cereus é uma bactéria ubíqua que pertence à família Bacillaceae, se apresenta em forma de bastão, Gram positiva, aeróbica facultativa, móvel e formadora de esporos esféricos em presença de oxigênio. Esta bactéria tem uma temperatura mínima de crescimento de aproximadamente 4 a 5ºC, com máxima para germinação em torno de 48 a 50ºC, sendo tipicamente mesófila. O crescimento foi observado na faixa de pH entre 4,9 e 9,3 (HOLT et al, 2000). A resistência fisiológica aliada à sua habilidade de produzir uma vasta gama de enzimas que degradam diversos substratos orgânicos possibilita esta bactéria estar amplamente distribuída no meio ambiente, sendo o solo seu reservatório natural (BLACKBURN & MCCLURE, 2000; FRANCO & LANGRAF, 2002). Em virtude destas características, contamina facilmente diferentes tipos de alimentos, inclusive os cozidos, com o benefício da inativação da microflora competidora. É encontrado comumente em baixos níveis nos alimentos (<10² UFC/g) os quais em termos de saúde pública (BRASIL, 2001) são considerados aceitáveis. Os surtos de intoxicação geralmente estão associados à falhas na conservação dos produtos mediante exposição a tempos e temperaturas inadequadas, propiciando, assim, que estes microrganismos se multipliquem até níveis significativos (>10^5 UFC/g), ressaltando- se que, neste caso, o microrganismo não é responsável pela patologia, e sim as toxinas que este produz (FORSYTHE, 2002 ). 4 2. MÉTODOS DE DETECÇÃO DE BACILLUS CEREUS A maioria das técnicas de detecção de B. cereus faz uso de meios formulados contendo gema de ovo, os mais comumente usados são os descritos por Holbrook & Anderson (1980) conhecido como PEMBA. Este meio contém um baixo nível de peptona para estimular a esporulação, piruvato para reduzir o tamanho das colônias, polimixina como agente seletivo, gema de ovo para demonstrar a produção de lecitinase, manitol como agente diferencial e um pH indicativo (a produção de colônias manitol negativa, com uma forte reação de gema de ovo, caracterizada por um grande halo de precipitação, é característica de B. cereus, ao contrario de outros Bacillus ssp.). Neste meio de cultura o crescimento das colônias é visível com 24h, e os esporos formados podem ser observados em microscópio de contraste de fases (BLACKBURN & MCCLURE, 2000). Há também o meio MYP (Agar manitol gema de ovo polimixina) ou MYA (Agar manitol gema de ovo), autorizados pelos órgãos regulatórios internacionais. Caso se pretenda contar apenas os esporos, as células vegetativas devem ser mortas por tratamento térmico (diluição de 1:10, por 15 min, a 70ºC) ou tratamentos alcoólicos (diluição de 1:1 em álcool etílico 95%, 30 minutos à temperatura ambiente) (FORSYTHE, 2002). Para a confirmação de B. cereus, deve-se determinar a mobilidade (a maioria dos B. cereus é móvel), a presença de cristais de toxina (comum em B. thuringiensis), atividade hemolítica (a maioria dos B. cereus e outros são â- hemolíticos com exceção do B. anthracis) e o crescimento de rizóides típico em B. mycoides. (FORSYTHE, 2002). Em adição, temos que B. cereus é catalase positivo, oxidase variável e produtor de fosfolipases, além de diversas enzimas extracelulares degradadoras dos alimentos como: protease, amilases, lecitinases, sendo esta última utilizada na identificação do microrganismo em ensaios bioquímicos. (KONEMAN et al, 2001). 3. SÍNDROME CAUSADA POR BACILLUS CEREUS: 5 A contaminação de alimentos por B. cereus está associada à ocorrência de dois tipos de síndrome devido à ingestão de alimentos contaminados com cepas patogênicas produtoras de toxinas emética e diarréica. Quando a toxina é a emética, em geral, os alimentos implicados são pratos à base de arroz frio ou quente, cremes pasteurizados, espaguetes, purê de batata e brotos vegetais. Quando a toxina é a diarretogênica os alimentos veículos consistem em pratos à base de cereais, contendo milho e amido de milho, purê de batata, vegetais, carne moída, linguiça de fígado, bolinho de carne moída, leite, carne assada, pratos à base de arroz ao estilo indonésio, pudins, sopas e outros (JAY, 2005). Síndrome emética: é causada por uma toxina que é uma proteína de baixo peso molecular. Ela se assemelha à síndrome causada por uma enterotoxina produzida pelo Staphylococcus aureus e provoca no paciente náusea e vômito. Os sintomas normalmente surgem de uma a seis horas após a ingestão do produto contaminado. Síndrome diarreica: A toxina causadora dessa síndrome é uma proteína de grande peso molecular. Assemelha-se bastante a uma síndrome produzida pela enterotoxina de Clostridium perfrigens, uma vez que provoca diarreia, dores abdominais e, algumas vezes, vômito e náusea. Os sintomas surgem normalmente de 6 a 24 horas após a ingestão do alimento contaminado. Vale destacar que essa síndrome está associada a uma série de problemas com a manipulação dos alimentos. (SANTOS, Vanessa Sardinha dos.) Toda a população está associada ao grupo de riscos susceptível de intoxicação por B. cereus, mas a intensidade de sintomas varia de indivíduo para indivíduo, os sintomas são mais severos em crianças, em idosos e em indivíduos imunodeprimidos. (site quali.pt) 4. TRATAMENTO: O tratamento desse tipo de intoxicação alimentar é sintomático, ou seja, apenas para aliviar os sintomas, sendo necessária a reposição hidroeletrolítica. 5. CONTROLE E PROFILAXIA 6 Para evitar a intoxicação por Bacillus cereus, é importante guardar os alimentos de forma adequada e na temperatura correta. Além disso, é importante nunca deixar alimentos cozidos por mais de duas horas em temperatura ambiente, evitar guardar alimentos reaquecidos muitas vezes e, ao aquecer, elevar a temperatura além de 75°C. (SANTOS, Vanessa Sardinha dos.) B. cereus tem sido associado com intoxicações alimentares na Europa desde 1906. O primeiro pesquisador a descrever essa síndrome com precisão foi Plazikowski, e só apenas em 1950 este bacilo foi reconhecido como causador de enfermidades transmitidas por alimentos (ETA’s). O primeiro surto documentado nos EUA ocorreu em 1969, e na Grã-Bretanha em 1971. (JAY, 2005). Devido à subnotificação das ETA’s causadas por B. cereus, existe pouca precisão dos registros entre os surtos dos vários países. As intoxicações do tipo diarréicas têm sido registradas na Hungria, Finlândia, Bulgária e Noruega, com mais frequência que a síndrome emética. No Japão e Reino Unido esta última foi prevalente entre os anos de 1950 – 1985 (KRAMER & GILBERT, 1989). Entre 1973 - 1985 de todos os registros de intoxicação causados por bactérias, B. cereus foi responsável por: 17.8% dos casos na Finlândia, 11,5% nos Países Baixos, 0,8% na Escócia, 0,7% na Inglaterra e Pais de Gales, 2,2 % no Canadá, 0,7% no Japão e 15% (entre1960-1968) na Hungria (KOTIRANTA et al, 2000). Entre 1988 -1993 B. cereus foi responsável por 33% de todos os casos de ETA’s na Noruegae de 47% dos casos na Islândia entre 1985-1992. Em 1994 o Departamento de saúde de Taiwan registrou 74 casos de intoxicação, destas 14,9% foram causadas por B. cereus (GRANUM & LUND, 1997). Nesta mesma década foi registrado um caso de óbito causado B. cereus e o alimento envolvido foi espaguete contaminado com a toxina emética, o paciente manifestou sintomas da síndrome emética que resultou na falência do fígado causada por inibição da oxidação lipídica (MAHLER et al, 1997). Em 2005 foi registrado um caso de intoxicação de duas pessoas na Finlândia que se alimentaram de uma mistura de picadinhos de carne e massa, estas tiveram tanto os sintomas eméticos como os diarréicos, possivelmente porque estavam presentes duas linhagens genéticas diferentes (PIRHONENAN et al, 2005). A diversidade de países envolvidos em surtos por B. cereus reflete os diferentes hábitos alimentares e a diversidade de alimentos em que este pode se proliferar. 7 Refeições a base de arroz frio ou cozido, cremes pasteurizados, espaguetes, purê de batata e brotos vegetais, são comuns no Japão, Grã-bretanha, Finlândia, e EUA onde prevalecem os sintomas da intoxicação emética. Já alimentos como sopas, leite e derivados, pratos que contenham carne e temperos são comumente consumidos nos Países da Europa e América do Norte, onde predomina a intoxicação diarréica (BLACKBURN & MCCLURE, 2000). Em 2016 na Microregião de Viçosa, Minas Gerais foi relatado por Barreto a ocorrência de B. cereus em produtos lácteos. A Secretaria de Saúde de Guaratinguetá, a 177 km da capital paulista, recebeu do Instituto Adolfo Lutz um laudo confirmando que a merenda escolar foi a causa da intoxicação por pais e alunos. As amostras foram enviadas ao instituto, e apontou a presença da bactéria Bacillus Cereus como causadora de distúrbios alimentares (O GLOBO, 2009). Foi suspensa a comercialização de três tipos de recheios de esfirras da rede de comida árabe Habib's, em Porto Alegre, recheios de queijo, espinafre e carne oriundos de uma central localizada em Canoas. A vigilância fiscalizou a rede e colheu material encaminhado para o Laboratório Central do Estado (Lacen), que apontou a presença de três tipos de bactérias patogênicas nos recheios: Listeria monocytogenes, Escherichia coli e Bacillus cereus (MAZUI, 2012). 8 REFERÊNCIAS BARRETO, J.M.O.; Ocorrência de Bacillu cereus em produtos lácteos comercializados na microrregião de Viçosa, Minas Gerais, determinação de genes de Virulência e produção de Toxina. 2016. Disponível em <http://www.locus.ufv.br/handle/123456789/7766>. Acesso em 05 de Abril de 2017. BLACKBURN, C.; Mc CLURE, P. Foodborne pathogens: Hazards, risk analysis and control. England: Cambridge; 2000. 513 p BRASIL, Ministério da Saúde. RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001. Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Diário Oficial da União, Brasília, 2001 FORSYTHE, S.J. Microbiologia da Segurança Alimentar. Porto Alegre: Artmed; 2002. 424p GRANUM, P.E.; LUND, T. MiniReview: Bacillus cereus and its food poisoning toxins. FEMS Microbiology Letters 1997; 157: 223–228 HOLBROOK, R; ANDERSON, J M. An improved selective diagnostic medium for the isolation and enumeration of Bacillus cereus in foods, Canadian Journal of Microbiology 1980; 26: 753–759. HOLT, J. G.; KRIEG, N.K.; SNEATH, P.H.A.; STARLEY, J.T.; WILLIAMS, S.T. Bergey’s Manual of Determinative Bacteriology, 9th edition. Philadelphia, USA: Lippindoff Willians e Wiekins; 2000. 789p JAY, J.M. Microbiologia de Alimentos. Porto Alegre: Artmed; 2005. 771p. KRAMER J. M.; GILBERT R. J.; IN DOYLE M. P. (Ed.). Foodborne Bacterial Pathogens, Marcel Dekker, New York 1989, 21-70. KOTIRANTA, A.; KARI, L. A.; HAAPASALO, M.. Epidemiology and pathogenesis of Bacillus cereus infections. Microbes and Infection 2000; 2: 189"198. MAHLER, H.; PASI, A.; KRAMER, J.; SCHULTE, P.; SCOGING, A.; BAER, W.; KRAEHENBUEHL, S. Fulminant liver failure in association with theemetic toxin of Bacillus cereus New England. Journal of Medicine 1997; 336: 1143– 1148. 9 MAZUI, G. Surto de intoxicação em rede de comida árabe é um dos 23 casas apurados neste ano na Capital. Laudos apontaram três tipo de bactérias no recheio das esfirras de lojas de Porto Alegre, 2012, ZH Notícias. Disponível em : <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2012/05/surto-de-intoxicacao-em-rede-de- comida-arabe-e-um-dos-23-casos-apurados-neste-ano-na-capital-3754337.html.>. Acesso em 05 de Abril de 2017. O GLOBO, 2009. Laudo confirma que merenda causou intoxicação alimentar em São Paulo. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/brasil/laudo-confirma-que-merenda- causou-intoxicacao-alimentar-em-sao-paulo-3155871#ixzz4dQWhSuO9 >. Acesso em 05 de Abril de 2017. PIRHONENAN, T.; ANDERSSONB, M.; JAASKELAINENB, E.; SALKINOJA- SALONENB, E.; HONKANENBUZALSKIA, T.; JOHANSSONA, T. Biochemical and toxic diversity of Bacillus cereus in a pasta and meat dish associated with a food- poisoning case. Food Microbiology 2005; 22: 87–91 QUALI, site: Quali.pt. 2017, Disponível em: <http://www.quali.pt/microbiologia/473- bacillus-cereus>. Acesso em 31 de março de 2017. SANTOS, Vanessa Sardinha dos. "Bacillus cereus"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/saude/bacillus-cereus.htm>. Acesso em 31 de março de 2017.
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