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Sete Lagoas, MG Dezembro, 2008 102 ISSN 1518-4269 Autores Posição da Embrapa com relação ao cultivo dos milhos transgênicos aprovados pela CTNBio no Brasil Introdução Segundo dados da FAO, nas regiões tropicais as perdas causadas pelo complexo de pragas (plantas daninhas, doenças e insetos) nas culturas em geral ultrapassam 30% (GALLO et al., 2002). Só na cultura do milho, os danos causados pelos insetos-praga são de, aproximadamente, 19% e os prejuízos anuais chegam a dois bilhões de reais (WAQUIL e VILELLA, 2004). Embora os métodos culturais, biológicos e químicos sejam viáveis tecnicamente, a adoção dessas estratégias tem sido limitada devido à extensão da área cultivada, à diversidade (temporal e geográfica) dos agroecossistemas e ao perfil dos produtores. A expansão da área cultivada com o plantio direto trouxe inúmeros benefícios para o sistema de produção e para o ambiente, inclusive para o controle de plantas daninhas, mas inviabilizou o seu controle mecânico. Assim, o controle de plantas daninhas ficou altamente dependente do controle químico. Com o advento da transgenia, tem sido possível produzir cultivares de milho tolerantes aos herbicidas glifosato e glufosinato e o milho Bt, com alta resistência ao ataque de insetos-praga do milho (lepidópteros). O uso do glifosato e do glufosinato, que apresentam ampla ação no controle de plantas daninhas, e a utilização de cultivares de milho tolerante a esses herbicidas permite o controle eficiente das plantas daninhas, evitando perdas por competição e facilitando a expansão da área com o plantio direto. Entre as principais espécies de insetos que causam danos à cultura do milho, destacam-se os lepidópteros, tais como a lagarta-elasmo-LEL (Elasmopalpus lignosellus), a lagarta-do-cartucho-LCM, (Spodoptera frugiperda), a lagarta-da- espiga-LEM (Helicoverpa zea), a lagarta-rosca-LRS (Agrotis ipsilon) e a broca-da-cana-de-açúcar-BCA (Diatraea saccharalis) (CRUZ et al., 1990). Para o manejo dessas principais espécies-praga, têm sido utilizados o tratamento de sementes e as aplicações de inseticidas, via pulverização ou quimigação, a um custo anual de cerca de 23 milhões de dólares. Mérito técnico Os milhos transgênicos já liberados ou em processo de liberação para uso comercial no Brasil constituem uma ferramenta potente para o manejo de plantas daninhas e de insetos-praga na cultura do milho, podendo ser inserida nos diferentes sistemas de produção, reduzindo os prejuízos ocasionados pelos insetos-praga e pelas plantas daninhas. O uso do milho resistente ao herbicida glifosato simplifica o manejo de espéci- es invasoras, pois, onde antes se utilizavam vários herbicidas e misturas formuladas, agora poderá ser aplicado apenas um ingrediente ativo com Circ102.p65 27/2/2009, 10:471 2 Posição da Embrapa com relação ao cultivo dos milhos transgênicos aprovados pela CTNBio no Brasil Foto: Ramon C. Alvarenga resultado ainda melhor. O herbicida glifosato possui amplo espectro de ação, podendo ser utilizado em diferentes estádios de desenvolvi- mento das plantas daninhas. O milho-Bt, expressando as toxinas Cry 1A(b) (Guardian ou Yieldgard, Monsanto do Brasil e Bt11, Syngenta Seeds Ltda) e Cry 1F (Herculex 1, Pioneer Sementes Ltda e Dow Agrosciences Industrial Ltda), com resistência a insetos da ordem Lepidóptera, podem controlar as espéci- es-praga mais importantes na cultura do milho, reduzindo as perdas a níveis desprezíveis, com redução de custo e aumento da competitividade da cadeia produtiva. Conside- rando que, no Brasil, a principal praga-alvo na cultura do milho é a lagarta-do-cartucho, o milho Bt não deve apenas sofrer menos per- das, mas também pode reduzir as perdas nos milhos não Bt e nas outras culturas susceptí- veis devido à redução geral na população dessa espécie no agroecossistema pela menor sobrevivência de larvas (WAQUIL et al., 2002; ZHAO et al., 2003). Além dos benefícios diretos com a redução de perdas e custos com manejo, a utilização de plantas resistentes tem vários efeitos indiretos. Com base nos resultados já obtidos em países onde culturas transgênicas já vêm sendo utilizadas, a redução na aplicação de insetici- das permitiu o restabelecimento de um melhor equilíbrio biológico no agroecossistema. Por- tanto, no caso do milho-Bt, no Brasil os ganhos em controle seriam ainda maiores do que os estimados diretamente. Principais questões levantadas para a introdução do milho transgênico no Brasil Por ser o cultivo de plantas transgênicas, assim como o consumo humano e animal de seus derivados, um evento relativamente recente no mundo (iniciou-se na metade dos anos 90), ele tem sido alvo de grande interesse pela comunidade em geral. Neste sentido, algumas das principais questões relacionadas às plantas transgênicas são discutidas abaixo. a) Abordagem de precaução (Precautionary approach) – de acordo com o Principio 15 da Declaração do Rio, mencionada no Artigo 1 do Protocolo de Cartagena, ratificado pelo Brasil, a abordagem de precaução deve ser utilizada nas avaliações de produtos geneticamente modificados. Nesse sentido, a Embrapa adere ao princípio de que a biossegurança dos milhos transgênicos a serem lançados comercialmente no Brasil deve ser avaliada “caso a caso”, determinando-se as implicações do seu plantio comercial para o meio ambiente, para as saúdes humana e animal e para os vários elos e atores dos sistemas de produção dessa cultura no país. A abordagem de precaução deve orientar as avaliações de biossegurança com relação a questões relevantes, que devem ser selecionadas à luz do conhecimento existente sobre o tema, de tal forma que essas questões não sejam desconsideradas. Ao mesmo tempo, a abordagem de precaução não deve ser utilizada com o simples objetivo de inibir a utilização comercial de OGMs que se mostrarem criteriosamente mais desejáveis que alternativas atualmente disponíveis. b) Fluxo gênico – É a transferência de genes de uma população para outra, sendo um processo migratório de alelos entre populações. O efeito da migração de alelos entre populações da mesma espécie depende da proporção de indivíduos migrantes e da diferença nas frequências do alelo nas duas populações. A seleção natural poderá atuar a favor de elevar frequências de alelos introduzidos, caso eles confiram alguma vantagem seletiva aos indivíduos portadores dos mesmos. O fluxo gênico pode ocorrer por meio da dispersão de semente ou de pólen, podendo ser vertical, quando envolve cultivares ou populações da mesma espécie, ou horizontal, quando envolve a hibridação entre espécies diferentes. O milho é uma planta de fecundação cruzada, mas no Circ102.p65 27/2/2009, 10:472 3Posição da Embrapa com relação ao cultivo dos milhos transgênicos aprovados pela CTNBio no Brasil Foto: Ramon C. Alvarenga Foto: Ramon C. Alvarenga Brasil o fluxo gênico só ocorrerá dentro da mesma espécie, pois aqui não ocorrem outras espécies que cruzam com o milho. Por ser uma espécie de fecundação cruzada, o fluxo gênico no milho sempre ocorreu e continuará a ocorrer entre as variedades cultivadas pelo homem, independentemente de serem crioulas ou melhoradas por cruzamento convencional ou por engenharia genética. Entretanto, existem mecanismos para a mitigação desse problema, pois métodos de controle da polinização cruzada em milho em campos isolados já são conhecidos desde o início do século passado, quando se iniciou a produção de milho híbrido. Por outro lado, no caso do milho considerado crioulo, um projeto do Probio (Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira), financiado pelo Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o Bird (TEIXEIRA, 2006), visitou diversas iniciativas de preservação “in situ” dessas variedades em Minas Gerais (Zona da Mata e Vale do Jequitinhonha), São Paulo (município de Dois Córregos) e Santa Catarina (região de Anchieta) e comparou algumas variedades crioulas cultivadas localmente com amostras das mesmas variedades crioulas coletadas há mais de 30 anos e mantidas geneticamente puras no Banco de Germoplasma da Embrapa Milho e Sorgo em Sete Lagoas-MG. Na maioria dos casos, observou-se que as cultivares crioulas apresentavam diferenças genéticas com relação à coleta original devido ao cruzamento natural dessas cultivares com híbridos comerciais ou variedades comerciais de polinização aberta e com outras variedades crioulas cultivadas em áreas vizinhas, indicando que o processo de mistura dos genes é inevitável, com ou sem a presença das cultivares geneticamente modificadas. Nesse ponto, vale a pena lembrar que as variedades crioulas mantidas pelos indígenas estarão menos afetas ao cruzamento com variedades geneticamente modificadas, uma vez que a Medida Provisória 306, de novembro de 2006, proibiu o plantio de qualquer variedade geneticamente modificada em reservas indígenas. c) Coexistência – a coexistência dos milhos Bt e não Bt é possível, desde que sejam utilizadas estratégias de isolamento espacial e temporal. É assim que têm sido produzidas e preservadas as variedades com pureza genética. Para facilitar essa coexistência, podem-se criar zonas de exclusão onde predominem produtores interessados em não utilizar os milhos transgênicos. Trabalhos de monitoramento podem indicar as áreas contaminadas acidentalmente para que novas sementes puras sejam reintroduzidas. d) Segurança alimentar – está vinculada aos efeitos colaterais sobre os consumidores. Embora os estudos de segurança alimentar abordem principalmente os casos agudos, pois os efeitos crônicos demandam maior tempo de observação, nenhum efeito relevante tem sido registrado na literatura. As proteínas em questão são facilmente inativadas pelo calor utilizado no processamento do milho para o consumo humano. Essas proteínas não apresentaram propriedades associadas a cadeias protéicas alergênicas. Adicionalmente, a administração das proteínas recombinantes em avaliação nesse processo, mesmo em doses elevadas, não demonstrou efeitos tóxicos em camundongos nem em seres humanos dos países onde o milho transgênico vem sendo comercializado (CENARGEN, 2006). O uso de milho transgênico expressando a toxina VIP3A não apresentou efeitos deletérios em frangos nem afetou o seu rendimento de carcaça (BRAKE et al., 2005). Igualmente, o Health Council of the Netherland (1999) e o Health & Consumer Protection Directorate General, da Comissão Européia (2000), relatam que o gene GA-21, que confere resistência ao herbicida glifosato em milho, está livre de efeitos pleiotrópicos e é seguro para o consumo humano. Circ102.p65 27/2/2009, 10:473 4 Posição da Embrapa com relação ao cultivo dos milhos transgênicos aprovados pela CTNBio no Brasil e) Seleção de resistência ou quebra da eficiência – esse conceito está vinculado ao uso intensivo de uma única tecnologia sem uma boa prática de manejo da resistência. A resistência, tanto de plantas daninhas aos herbicidas como de espécies-praga às toxinas do Bt, é resultado da seleção de espécies ou biótipos resistentes. Repetidas aplicações ou o uso intensivo de um mesmo produto ou de produtos diferentes com um mesmo mecanismo de ação, tanto em cultivos do milho convencional como do geneticamente modificado, selecionarão tipos resistentes. Um manejo apropriado pode permitir diminuir esses efeitos. I) Resistência das plantas daninhas aos herbicidas - os herbicidas podem ser classificados segundo seu mecanismo de ação (hormonais, inibidores da fotossíntese, inibidores da divisão celular ou inibidores de enzimas diversas), pelas características das plantas que controlam (folha larga ou estreita), pela época de sua aplicação (pré-plantio, pré-emergente ou pós- emergente) e se são seletivos ou não seletivos. Mais recentemente, tornou-se exigência que se inclua a análise do mecanismo de ação dos herbicidas antes da sua recomendação para uso nas lavouras. Uma planta invasora pode apresentar resistência a uma única linha de produtos - cujos mecanismos de ação sejam semelhantes - ou pode ter resistência múltipla, subsistindo à aplicação de herbicidas com distintos mecanismos de ação. O monocultivo, o plantio direto, a densidade das plantas invasoras e o tipo e a frequência do uso de herbicidas podem aumentar os riscos de ocorrência de resistência nas plantas daninhas. No entanto, o agricultor precisa tomar cuidado para não confundir falha de controle com resistência das plantas invasoras. Embora já tenham sido identificadas espécies de plantas invasoras resistentes ao glifosato no Brasil, o processo da seleção pode ser mitigado de varias formas, tais como: a) através da utilização de sementes com alto grau de pureza; b) realizando a limpeza de máquinas e de implementos; c) fazendo rotação de cultivos e de herbicidas; d) monitorando a dinâmica das populações das plantas invasoras; e) monitorando os resultados das aplicações dos herbicidas; f) seguindo criteriosamente as instruções de uso dos herbicidas; g) utilizando, quando permitido, misturas de herbicidas com mecanismos diversos de controle; h) fazendo o manejo integrado das plantas invasoras. II) Resistência de insetos-praga - as proteínas do Bt, pelas características dos promotores gênicos dos eventos que estão sendo submetidos para avaliação nesse processo, são expressas continuamente nas plantas transgênicas, aumentando a exposição das espécies-praga à proteína com propriedades inseticidas. Isso pode favorecer a seleção de populações de insetos resistentes, comprometendo essa nova tática de controle de pragas e reduzindo a vida útil das proteínas Bt (OMOTO et al, 2004). A presença de variabilidade genética conferindo resistência a algumas proteínas Bt tem sido demonstrada em várias espécies de insetos em trabalhos de seleção com pulverizações de Bt em condições de laboratório e de campo. Portanto, o processo determinante no desenvolvimento da resistência é a pressão de seleção, ou seja, o uso frequente de um mesmo agente de controle em espécies com reduzido número de hospedeiros. No início da exposição da espécie- alvo à toxina, estima-se que a frequência de alelos resistentes na população seja baixa, da ordem de 10-2 a 10-13 (ROUSH & MCKENZIE, 1987). Como parte da introdução comercial de plantas transgênicas resistentes a insetos, é necessário o desenvolvimento de estratégias apropriadas para prevenir ou retardar o desenvolvimento da resistência na praga-alvo. Entre as várias estraté- gias, destacam-se a expressão da toxina em alta dose, a utilização de áreas de refúgio para os insetos suscetíveis e o monitoramento da resis- tência (GOULD 1998; ILSI, 1998). As mudanças nas frequências de resistência de pragas às proteínas Bt devem ser acompanhadas através de estudos em laboratório. Assim, com o trabalho Circ102.p65 27/2/2009, 10:474 5Posição da Embrapa com relação ao cultivo dos milhos transgênicos aprovados pela CTNBio no Brasil de monitoramento da suscetibilidade de pragas é possível avaliar se o programa implementado está sendo efetivo ou não. Entretanto, para que os dados do monitoramento possam ser compa- rados com os da população original da espécie- alvo, é fundamental que a linha básica de suscep- tibilidade seja previamente estabelecida, confor- me proposto por MARÇON et al. (1999). As espécies de insetos-praga do milho, no Brasil, ao contrário das espécies predominantes nos EUA, são polífagas (têm vários hospedeiros) e, portan- to, exercem uma pressão de seleção de tipos resistentes significativamente menor. f) Impacto sobre os organismos não alvos e os inimigos naturais – como as plantas daninhas, em geral, competem com as plantas cultivadas, o alvo é menos específico. Mas no caso do controle dos insetos-praga, a espécie-alvo é muito bem definida e o impacto sobre outras espécies de insetos que participam da comunidade tem muita importância. Alguns estudos conduzidos no Brasil, em condições de campo, não conseguiram detectar efeito significativo do milho Bt expressando a toxina Cry 1A(b) sobre os diferentes grupos de insetos, inclusive os inimigos naturais (HILBECK et al., 1998; FERNANDES, 2003; FRIZZAS, 2003;SIQUEIRA et al., 2004). g) Contaminação ambiental - As linhagens de milho resistentes a insetos e as tolerantes a herbicidas em exame foram avaliadas quanto à segurança ambiental por diversos cientistas independentes, de empresas e de agências de regulamentação, em países onde esses materiais foram aprovados para cultivo comercial. Nesses países, os materiais derivados dessas linhagens de milho transgênico passaram a ocupar dezenas de milhões de hectares ao longo dos últimos sete anos (JAMES, 2006). Como o milho é uma planta altamente domesticada, é incapaz de sobreviver no ambiente sem a proteção do homem, não tendo chances de se tornar uma planta daninha no agroecossistema. h) Impactos socioeconômicos - a análise econômica da adoção do milho geneticamente modificado deve levar em conta cinco fatores principais: a produtividade dos genótipos a serem utilizados; o custo das sementes; a taxa a ser cobrada pelo uso da tecnologia; o preço de venda dos grãos transgênicos; e os custos de controle dos insetos-praga e das plantas daninhas nos sistemas convencional e transgênico. Com relação ao potencial de produtividade, não se espera diferença entre os genótipos convencionais e transgênicos, pois esses genes são apenas defensivos. Nesse aspecto, é importante considerar a adaptação desses genótipos, convencionais ou transgênicos, à região onde serão utilizados e o sistema de produção a ser adotado pelo produtor. O preço da semente dos genótipos transgênicos deverá ser superior aos convencionais, como aconteceu inicialmente no caso da soja transgênica. Essa situação poderá ser normalizada com uma maior diversidade de empresas ofertando genótipos de milho geneticamente modificados. Assim, recomenda- se a utilização de estratégias que permitam que instituições brasileiras de pesquisa possam ter acesso a esses genes de forma a incorporá-los em um número significativo de genótipos de milho, evitando-se a formação de oligopólios. Adoção da tecnologia de transgênicos pelo agronegócio na vigência da Lei de Biossegurança nº 11.105 / 2005 Vinte e três países plantaram e comercializaram produtos de culturas transgênicas na safra 2007/ 08 e outros 29 países autorizaram a importação e a utilização de grãos e de produtos transgênicos derivados dos mesmos para alimentação huma- na ou animal. O milho, segunda cultura transgênica em área cultivada no mundo (atrás apenas da soja), apresentou em 2007 uma área cultivada global de 35,2 milhões de hectares, correspondente a uma taxa de crescimento de 40% em relação à safra de 2006. Atualmente, já foram liberados mundialmente para cultivo e comercialização 45 eventos transgênicos de milho. Pela primeira vez, em 2007, eventos Circ102.p65 27/2/2009, 10:475 6 Posição da Embrapa com relação ao cultivo dos milhos transgênicos aprovados pela CTNBio no Brasil transgênicos de milho com duas ou três caracte- rísticas “piramidadas” na mesma planta ocupa- ram uma área de cultivo global maior do que aquela cultivada com eventos transgênicos contendo uma única característica. No Brasil, em 2007 foram liberados pela Comis- são Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para plantio comercial dois eventos de milhos transgênicos: milho LL, da Bayer, resisten- te ao herbicida glufosinato de amônia; e milho MON 810, da Monsanto, resistente a inseto. Em 2008, foram liberados o evento de milho Bt11, da Syngenta, resistente a insetos, dois eventos de milho resistentes ao herbicida glifosato (RR, da Monsanto, e GA21, da Syngenta) e o evento de milho Herculex da Du Pont/Pioneer, com os genes de resistência a insetos e tolerância ao herbicida glufosinato piramidado na mesma planta. Após interposição de recursos pela Agên- cia de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), nos autos dos processos nº 01200.002109/2000-04, nº 01200.002995/99-54 e nº 01200.005154/98-36, respectivamente, os pareceres técnicos nº 1.255/ 2008, nº 1100/2007 e nº 987/2007, relativos à aprovação comercial dos eventos de milho Bt11, MON810 e T25, foram devidamente ratificados pelo Conselho Nacional de Biossegurança, em 2008, de acordo com as prerrogativas da lei. Com o intuito de melhor implementar a Lei de Biossegurança, a CTNBio aprovou a Resolução Normativa nº 05, de 12 de março de 2008, com as “Normas para liberação comercial de organis- mos geneticamente modificados e seus deriva- dos” publicada no Diário Oficial da União de 13/ 03/2008. Nos anexos I a IV da referida resolução, estão listados os requisitos que devem ser informados à comissão quando da solicitação de uma liberação comercial de organismos genetica- mente modificados (OGM), incluindo o “monitoramento pós-liberação comercial”, as “informações relativas ao OGM”, os dados sobre a “avaliação de risco à saúde humana e animal” e os dados sobre a “avaliação de risco ao meio ambiente”. Para instruir o monitoramento dos diferentes milhos geneticamente modificados, a CTNBio editou especificamente a Resolução Normativa nº 3, de 16 de agosto de 2007, que contém “Normas de monitoramento de milho geneticamente modifi- cado em uso comercial”, indicando que o plano será aprovado pela comissão considerando a proposta apresentada pelo titular do processo, o qual deve ser elaborado com base em metodologias científicas que se atenham às hipóteses de riscos levantadas na avaliação para decisão técnica. Além disso, e para dar aos agricultores o poder de escolha sobre a tecnologia a ser adotada por ocasião do plantio do milho, a CTNBio editou a Resolução Normativa nº 4, de 16 de agosto de 2007, que dispõe sobre as “Distâncias mínimas entre os cultivos de milho geneticamente modifi- cado e não geneticamente modificado visando a coexistência entre os sistemas de produção”, indicando que, para permitir a coexistência, a distância entre uma lavoura comercial de milho geneticamente modificado e outra de milho não geneticamente modificado localizada em área vizinha deve ser igual ou superior a 100m ou, alternativamente, 20m, desde que acrescida de bordadura com, no mínimo, 10 fileiras de plantas de milho convencional de porte e ciclo vegetativo similares aos do milho geneticamente modificado. Das 302 cultivares de milho aprovadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen- to para plantio na safra 2008/2009, 19 são varie- dades híbridas transgênicas contendo o gene Bt que confere resistência a lagartas. De acordo com dados publicados pela Céleres Consultoria em novembro de 2008, estima-se que, no primeiro ano de cultivo, a área ocupada pelo milho transgênico nas duas safras (verão e safrinha) deverá ser de aproximadamente 1,35 milhão de hectares, correspondendo a 10,6% da área cultivada com este cereal no país. A colheita da primeira safra se iniciará em fevereiro de 2009, com boas perspectivas de produção e aceitação comercial segundo informações do setor especi- alizado. Circ102.p65 27/2/2009, 10:476 7Posição da Embrapa com relação ao cultivo dos milhos transgênicos aprovados pela CTNBio no Brasil Rotulagem dos produtos transgênicos A rotulagem dos alimentos está prevista no Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 11/09/90 _ art. 6º, III e art. 8º). Trata-se de uma norma para garantir ao cidadão a informação sobre um produto, permitindo-lhe o direito de escolha entre consumir ou não alimentos provenientes de culturas transgênicas. Além disso, ela possibilita a rastreabilidade, pois em casos de efeitos na saúde humana os produtos rotulados seriam facilmente identificados e recolhidos. Conclusões O uso da transgenia tem se firmado como uma tendência crescente da agricultura mundial e deve impactar de forma positiva e crescente o agronegócio brasileiro. Após 16 anos de uso comercial de lavouras transgênicas em todo o mundo, não se observou qualquer efeito significativo do uso dessa tecnologia sobre o meio ambiente ou sobre a saúde dos consumidores. No Brasil especificamente, como não existem outras plantas nativas que se cruzam com o milho, o efeito ambiental do fluxo gênico horizontal é negligível. A coexistência entre milhos transgênicos e não transgênicos pode ser obtida utilizando-se técnicas já conhecidas desde o inicio do século passado. Essas técnicas, como mencionado acima e indicado pela própria CTNBio, incluem o uso de barreiras temporais (escalonamento de plantios e uso de cultivares assíncronas), barreiras espaciais (uso de espaçamento entre lavouras) ou a combinação dessas com barreiras físicas. Literatura citada BRAKE, J.; FAUST, M.; STEIN, J. Evaluation of transgenic hybrid corn (VIP3A) in broiler chickens. Poultry Science, v. 84, p. 503–512, 2005 CENARGEN, Estudos de segurança alimentar e ambiental de plantas transgênicas contendo características de interesse agrícola. Cenargenda On Line, ano II, n. 90, p. 1-7 p., 2006. http:// www.cenargen.embrapa.br/cenargenda/ opiniao.html CRUZ, I. ; WAQUIL, J M ; VIANA, P A . Manejo de pragas de milho. Informe Agropecuário (Belo Horizonte), Belo Horizonte - MG, v. 14, n. 164, p. 21-26, 1990. EUROPEAN COMMISSION. 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MG 424 km 45 - Caixa Postal 151 Fone: (31) 3027-1100 Fax: (31) 3027-1188 E-mail: sac@cnpms.embrapa.br 1a edição 1a impressão (2008): 200 exemplares Presidente: Antônio Álvaro Corsetti Purcino Secretário-Executivo: Paulo César Magalhães Membros: Andrea Almeida Carneiro, Carlos Roberto Casela, Cláudia T. Guimarães, Clenio Araujo, Flavia França Teixeira, Jurandir Vieira Magalhães Revisão de texto: Clenio Araujo Editoração eletrônica: Tânia Mara Assunção Barbosa Comitê de publicações Expediente Circular Técnica, 102 HEALTH COUNCIL OF THE NETHERLANDS: COMMITTEE ON THE SAFETY ASSESSMENT OF NOVEL FOODS: Herbicide-resistant maize (GA-21). The Hague: Health council of the Netherlands, 1999, publication no. 199/1VNV (http://www.brd.agro.nl/uk/docs/nwvoeding/ GA21en.pdf) HILBECK, A.; BAUMGARTNER, M.; FRIED, P. M.; BIGLER, F. Effects of transgenic Bacillus thuringiensis corn-fed prey on mortality and development time of immature Chrysoperla carnea (Neuroptera: Chrysopidae). Environ. 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