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Posição da EMBRAPA quanto aos milhos transgênicos liberados pela CTNBio

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Sete Lagoas, MG
Dezembro, 2008
102
ISSN 1518-4269
Autores
Posição da Embrapa com relação ao cultivo
dos milhos transgênicos aprovados pela
CTNBio no Brasil
Introdução
Segundo dados da FAO, nas regiões tropicais as perdas causadas pelo
complexo de pragas (plantas daninhas, doenças e insetos) nas culturas em
geral ultrapassam 30% (GALLO et al., 2002). Só na cultura do milho, os danos
causados pelos insetos-praga são de, aproximadamente, 19% e os prejuízos
anuais chegam a dois bilhões de reais (WAQUIL e VILELLA, 2004). Embora os
métodos culturais, biológicos e químicos sejam viáveis tecnicamente, a
adoção dessas estratégias tem sido limitada devido à extensão da área
cultivada, à diversidade (temporal e geográfica) dos agroecossistemas e ao
perfil dos produtores. A expansão da área cultivada com o plantio direto trouxe
inúmeros benefícios para o sistema de produção e para o ambiente, inclusive
para o controle de plantas daninhas, mas inviabilizou o seu controle mecânico.
Assim, o controle de plantas daninhas ficou altamente dependente do controle
químico.
Com o advento da transgenia, tem sido possível produzir cultivares de milho
tolerantes aos herbicidas glifosato e glufosinato e o milho Bt, com alta
resistência ao ataque de insetos-praga do milho (lepidópteros). O uso do
glifosato e do glufosinato, que apresentam ampla ação no controle de plantas
daninhas, e a utilização de cultivares de milho tolerante a esses herbicidas
permite o controle eficiente das plantas daninhas, evitando perdas por
competição e facilitando a expansão da área com o plantio direto.
Entre as principais espécies de insetos que causam danos à cultura do milho,
destacam-se os lepidópteros, tais como a lagarta-elasmo-LEL (Elasmopalpus
lignosellus), a lagarta-do-cartucho-LCM, (Spodoptera frugiperda), a lagarta-da-
espiga-LEM (Helicoverpa zea), a lagarta-rosca-LRS (Agrotis ipsilon) e a
broca-da-cana-de-açúcar-BCA (Diatraea saccharalis) (CRUZ et al., 1990).
Para o manejo dessas principais espécies-praga, têm sido utilizados o
tratamento de sementes e as aplicações de inseticidas, via pulverização ou
quimigação, a um custo anual de cerca de 23 milhões de dólares.
Mérito técnico
Os milhos transgênicos já liberados ou em processo de liberação para uso
comercial no Brasil constituem uma ferramenta potente para o manejo de
plantas daninhas e de insetos-praga na cultura do milho, podendo ser inserida
nos diferentes sistemas de produção, reduzindo os prejuízos ocasionados
pelos insetos-praga e pelas plantas daninhas.
O uso do milho resistente ao herbicida glifosato simplifica o manejo de espéci-
es invasoras, pois, onde antes se utilizavam vários herbicidas e misturas
formuladas, agora poderá ser aplicado apenas um ingrediente ativo com
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2 Posição da Embrapa com relação ao cultivo dos milhos transgênicos aprovados pela CTNBio no Brasil
Foto: Ramon C. Alvarenga
resultado ainda melhor. O herbicida glifosato
possui amplo espectro de ação, podendo ser
utilizado em diferentes estádios de desenvolvi-
mento das plantas daninhas.
O milho-Bt, expressando as toxinas Cry 1A(b)
(Guardian ou Yieldgard, Monsanto do Brasil e
Bt11, Syngenta Seeds Ltda) e Cry 1F (Herculex
1, Pioneer Sementes Ltda e Dow Agrosciences
Industrial Ltda), com resistência a insetos da
ordem Lepidóptera, podem controlar as espéci-
es-praga mais importantes na cultura do milho,
reduzindo as perdas a níveis desprezíveis, com
redução de custo e aumento da
competitividade da cadeia produtiva. Conside-
rando que, no Brasil, a principal praga-alvo na
cultura do milho é a lagarta-do-cartucho, o
milho Bt não deve apenas sofrer menos per-
das, mas também pode reduzir as perdas nos
milhos não Bt e nas outras culturas susceptí-
veis devido à redução geral na população
dessa espécie no agroecossistema pela menor
sobrevivência de larvas (WAQUIL et al., 2002;
ZHAO et al., 2003).
Além dos benefícios diretos com a redução de
perdas e custos com manejo, a utilização de
plantas resistentes tem vários efeitos indiretos.
Com base nos resultados já obtidos em países
onde culturas transgênicas já vêm sendo
utilizadas, a redução na aplicação de insetici-
das permitiu o restabelecimento de um melhor
equilíbrio biológico no agroecossistema. Por-
tanto, no caso do milho-Bt, no Brasil os ganhos
em controle seriam ainda maiores do que os
estimados diretamente.
Principais questões levantadas
para a introdução do milho
transgênico no Brasil
Por ser o cultivo de plantas transgênicas,
assim como o consumo humano e animal de
seus derivados, um evento relativamente
recente no mundo (iniciou-se na metade dos
anos 90), ele tem sido alvo de grande interesse
pela comunidade em geral. Neste sentido,
algumas das principais questões relacionadas às
plantas transgênicas são discutidas abaixo.
a) Abordagem de precaução (Precautionary
approach) – de acordo com o Principio 15 da
Declaração do Rio, mencionada no Artigo 1 do
Protocolo de Cartagena, ratificado pelo Brasil, a
abordagem de precaução deve ser utilizada nas
avaliações de produtos geneticamente
modificados. Nesse sentido, a Embrapa adere ao
princípio de que a biossegurança dos milhos
transgênicos a serem lançados comercialmente
no Brasil deve ser avaliada “caso a caso”,
determinando-se as implicações do seu plantio
comercial para o meio ambiente, para as saúdes
humana e animal e para os vários elos e atores
dos sistemas de produção dessa cultura no país.
A abordagem de precaução deve orientar as
avaliações de biossegurança com relação a
questões relevantes, que devem ser
selecionadas à luz do conhecimento existente
sobre o tema, de tal forma que essas questões
não sejam desconsideradas. Ao mesmo tempo, a
abordagem de precaução não deve ser utilizada
com o simples objetivo de inibir a utilização
comercial de OGMs que se mostrarem
criteriosamente mais desejáveis que alternativas
atualmente disponíveis.
b) Fluxo gênico – É a transferência de genes de
uma população para outra, sendo um processo
migratório de alelos entre populações. O efeito da
migração de alelos entre populações da mesma
espécie depende da proporção de indivíduos
migrantes e da diferença nas frequências do alelo
nas duas populações. A seleção natural poderá
atuar a favor de elevar frequências de alelos
introduzidos, caso eles confiram alguma
vantagem seletiva aos indivíduos portadores dos
mesmos.
O fluxo gênico pode ocorrer por meio da
dispersão de semente ou de pólen, podendo ser
vertical, quando envolve cultivares ou populações
da mesma espécie, ou horizontal, quando envolve
a hibridação entre espécies diferentes. O milho é
uma planta de fecundação cruzada, mas no
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Foto: Ramon C. Alvarenga
Foto: Ramon C. Alvarenga
Brasil o fluxo gênico só ocorrerá dentro da
mesma espécie, pois aqui não ocorrem outras
espécies que cruzam com o milho. Por ser uma
espécie de fecundação cruzada, o fluxo gênico no
milho sempre ocorreu e continuará a ocorrer
entre as variedades cultivadas pelo homem,
independentemente de serem crioulas ou
melhoradas por cruzamento convencional ou por
engenharia genética.
Entretanto, existem mecanismos para a
mitigação desse problema, pois métodos de
controle da polinização cruzada em milho em
campos isolados já são conhecidos desde o
início do século passado, quando se iniciou a
produção de milho híbrido. Por outro lado, no
caso do milho considerado crioulo, um projeto do
Probio (Conservação e Utilização Sustentável da
Diversidade Biológica Brasileira), financiado pelo
Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o
Bird (TEIXEIRA, 2006), visitou diversas iniciativas
de preservação “in situ” dessas variedades em
Minas Gerais (Zona da Mata e Vale do
Jequitinhonha), São Paulo (município de Dois
Córregos) e Santa
Catarina (região de Anchieta) e
comparou algumas variedades crioulas cultivadas
localmente com amostras das mesmas
variedades crioulas coletadas há mais de 30 anos
e mantidas geneticamente puras no Banco de
Germoplasma da Embrapa Milho e Sorgo em
Sete Lagoas-MG.
Na maioria dos casos, observou-se que as
cultivares crioulas apresentavam diferenças
genéticas com relação à coleta original devido ao
cruzamento natural dessas cultivares com
híbridos comerciais ou variedades comerciais de
polinização aberta e com outras variedades
crioulas cultivadas em áreas vizinhas, indicando
que o processo de mistura dos genes é inevitável,
com ou sem a presença das cultivares
geneticamente modificadas. Nesse ponto, vale a
pena lembrar que as variedades crioulas
mantidas pelos indígenas estarão menos afetas
ao cruzamento com variedades geneticamente
modificadas, uma vez que a Medida Provisória
306, de novembro de 2006, proibiu o plantio de
qualquer variedade geneticamente modificada em
reservas indígenas.
c) Coexistência – a coexistência dos milhos Bt e
não Bt é possível, desde que sejam utilizadas
estratégias de isolamento espacial e temporal. É
assim que têm sido produzidas e preservadas as
variedades com pureza genética. Para facilitar
essa coexistência, podem-se criar zonas de
exclusão onde predominem produtores
interessados em não utilizar os milhos
transgênicos. Trabalhos de monitoramento
podem indicar as áreas contaminadas
acidentalmente para que novas sementes puras
sejam reintroduzidas.
d) Segurança alimentar – está vinculada aos
efeitos colaterais sobre os consumidores.
Embora os estudos de segurança alimentar
abordem principalmente os casos agudos, pois
os efeitos crônicos demandam maior tempo de
observação, nenhum efeito relevante tem sido
registrado na literatura. As proteínas em questão
são facilmente inativadas pelo calor utilizado no
processamento do milho para o consumo
humano. Essas proteínas não apresentaram
propriedades associadas a cadeias protéicas
alergênicas. Adicionalmente, a administração das
proteínas recombinantes em avaliação nesse
processo, mesmo em doses elevadas, não
demonstrou efeitos tóxicos em camundongos
nem em seres humanos dos países onde o milho
transgênico vem sendo comercializado
(CENARGEN, 2006).
O uso de milho transgênico expressando a toxina
VIP3A não apresentou efeitos deletérios em
frangos nem afetou o seu rendimento de carcaça
(BRAKE et al., 2005). Igualmente, o Health
Council of the Netherland (1999) e o Health &
Consumer Protection Directorate General, da
Comissão Européia (2000), relatam que o gene
GA-21, que confere resistência ao herbicida
glifosato em milho, está livre de efeitos
pleiotrópicos e é seguro para o consumo
humano.
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4 Posição da Embrapa com relação ao cultivo dos milhos transgênicos aprovados pela CTNBio no Brasil
e) Seleção de resistência ou quebra da eficiência
– esse conceito está vinculado ao uso intensivo
de uma única tecnologia sem uma boa prática de
manejo da resistência. A resistência, tanto de
plantas daninhas aos herbicidas como de
espécies-praga às toxinas do Bt, é resultado da
seleção de espécies ou biótipos resistentes.
Repetidas aplicações ou o uso intensivo de um
mesmo produto ou de produtos diferentes com
um mesmo mecanismo de ação, tanto em
cultivos do milho convencional como do
geneticamente modificado, selecionarão tipos
resistentes. Um manejo apropriado pode permitir
diminuir esses efeitos.
I) Resistência das plantas daninhas aos
herbicidas - os herbicidas podem ser
classificados segundo seu mecanismo de ação
(hormonais, inibidores da fotossíntese, inibidores
da divisão celular ou inibidores de enzimas
diversas), pelas características das plantas que
controlam (folha larga ou estreita), pela época de
sua aplicação (pré-plantio, pré-emergente ou pós-
emergente) e se são seletivos ou não seletivos.
Mais recentemente, tornou-se exigência que se
inclua a análise do mecanismo de ação dos
herbicidas antes da sua recomendação para uso
nas lavouras. Uma planta invasora pode
apresentar resistência a uma única linha de
produtos - cujos mecanismos de ação sejam
semelhantes - ou pode ter resistência múltipla,
subsistindo à aplicação de herbicidas com
distintos mecanismos de ação.
O monocultivo, o plantio direto, a densidade das
plantas invasoras e o tipo e a frequência do uso
de herbicidas podem aumentar os riscos de
ocorrência de resistência nas plantas daninhas.
No entanto, o agricultor precisa tomar cuidado
para não confundir falha de controle com
resistência das plantas invasoras. Embora já
tenham sido identificadas espécies de plantas
invasoras resistentes ao glifosato no Brasil, o
processo da seleção pode ser mitigado de varias
formas, tais como: a) através da utilização de
sementes com alto grau de pureza; b) realizando
a limpeza de máquinas e de implementos; c)
fazendo rotação de cultivos e de herbicidas; d)
monitorando a dinâmica das populações das
plantas invasoras; e) monitorando os resultados
das aplicações dos herbicidas; f) seguindo
criteriosamente as instruções de uso dos
herbicidas; g) utilizando, quando permitido,
misturas de herbicidas com mecanismos
diversos de controle; h) fazendo o manejo
integrado das plantas invasoras.
II) Resistência de insetos-praga - as proteínas do
Bt, pelas características dos promotores gênicos
dos eventos que estão sendo submetidos para
avaliação nesse processo, são expressas
continuamente nas plantas transgênicas,
aumentando a exposição das espécies-praga à
proteína com propriedades inseticidas. Isso pode
favorecer a seleção de populações de insetos
resistentes, comprometendo essa nova tática de
controle de pragas e reduzindo a vida útil das
proteínas Bt (OMOTO et al, 2004).
A presença de variabilidade genética conferindo
resistência a algumas proteínas Bt tem sido
demonstrada em várias espécies de insetos em
trabalhos de seleção com pulverizações de Bt em
condições de laboratório e de campo. Portanto, o
processo determinante no desenvolvimento da
resistência é a pressão de seleção, ou seja, o
uso frequente de um mesmo agente de controle
em espécies com reduzido número de
hospedeiros. No início da exposição da espécie-
alvo à toxina, estima-se que a frequência de
alelos resistentes na população seja baixa, da
ordem de 10-2
 
a 10-13 (ROUSH & MCKENZIE,
1987).
Como parte da introdução comercial de plantas
transgênicas resistentes a insetos, é necessário
o desenvolvimento de estratégias apropriadas
para prevenir ou retardar o desenvolvimento da
resistência na praga-alvo. Entre as várias estraté-
gias, destacam-se a expressão da toxina em alta
dose, a utilização de áreas de refúgio para os
insetos suscetíveis e o monitoramento da resis-
tência (GOULD 1998; ILSI, 1998). As mudanças
nas frequências de resistência de pragas às
proteínas Bt devem ser acompanhadas através
de estudos em laboratório. Assim, com o trabalho
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5Posição da Embrapa com relação ao cultivo dos milhos transgênicos aprovados pela CTNBio no Brasil
de monitoramento da suscetibilidade de pragas é
possível avaliar se o programa implementado
está sendo efetivo ou não. Entretanto, para que
os dados do monitoramento possam ser compa-
rados com os da população original da espécie-
alvo, é fundamental que a linha básica de suscep-
tibilidade seja previamente estabelecida, confor-
me proposto por MARÇON et al. (1999). As
espécies de insetos-praga do milho, no Brasil, ao
contrário das espécies predominantes nos EUA,
são polífagas (têm vários hospedeiros) e, portan-
to, exercem uma pressão de seleção de tipos
resistentes significativamente menor.
f) Impacto sobre os organismos não alvos e os
inimigos naturais – como as plantas daninhas,
em geral, competem com as plantas cultivadas, o
alvo é menos específico. Mas no caso do controle
dos insetos-praga, a espécie-alvo
é muito bem
definida e o impacto sobre outras espécies de
insetos que participam da comunidade tem muita
importância. Alguns estudos conduzidos no
Brasil, em condições de campo, não
conseguiram detectar efeito significativo do milho
Bt expressando a toxina Cry 1A(b) sobre os
diferentes grupos de insetos, inclusive os
inimigos naturais (HILBECK et al., 1998;
FERNANDES, 2003; FRIZZAS, 2003;SIQUEIRA et
al., 2004).
g) Contaminação ambiental - As linhagens de
milho resistentes a insetos e as tolerantes a
herbicidas em exame foram avaliadas quanto à
segurança ambiental por diversos cientistas
independentes, de empresas e de agências de
regulamentação, em países onde esses materiais
foram aprovados para cultivo comercial. Nesses
países, os materiais derivados dessas linhagens
de milho transgênico passaram a ocupar
dezenas de milhões de hectares ao longo dos
últimos sete anos (JAMES, 2006). Como o milho
é uma planta altamente domesticada, é incapaz
de sobreviver no ambiente sem a proteção do
homem, não tendo chances de se tornar uma
planta daninha no agroecossistema.
h) Impactos socioeconômicos - a análise
econômica da adoção do milho geneticamente
modificado deve levar em conta cinco fatores
principais: a produtividade dos genótipos a serem
utilizados; o custo das sementes; a taxa a ser
cobrada pelo uso da tecnologia; o preço de venda
dos grãos transgênicos; e os custos de controle
dos insetos-praga e das plantas daninhas nos
sistemas convencional e transgênico.
Com relação ao potencial de produtividade, não
se espera diferença entre os genótipos
convencionais e transgênicos, pois esses genes
são apenas defensivos. Nesse aspecto, é
importante considerar a adaptação desses
genótipos, convencionais ou transgênicos, à
região onde serão utilizados e o sistema de
produção a ser adotado pelo produtor.
O preço da semente dos genótipos transgênicos
deverá ser superior aos convencionais, como
aconteceu inicialmente no caso da soja
transgênica. Essa situação poderá ser
normalizada com uma maior diversidade de
empresas ofertando genótipos de milho
geneticamente modificados. Assim, recomenda-
se a utilização de estratégias que permitam que
instituições brasileiras de pesquisa possam ter
acesso a esses genes de forma a incorporá-los
em um número significativo de genótipos de
milho, evitando-se a formação de oligopólios.
Adoção da tecnologia de transgênicos pelo
agronegócio na vigência da Lei de Biossegurança
nº 11.105 / 2005
Vinte e três países plantaram e comercializaram
produtos de culturas transgênicas na safra 2007/
08 e outros 29 países autorizaram a importação e
a utilização de grãos e de produtos transgênicos
derivados dos mesmos para alimentação huma-
na ou animal. O milho, segunda cultura
transgênica em área cultivada no mundo (atrás
apenas da soja), apresentou em 2007 uma área
cultivada global de 35,2 milhões de hectares,
correspondente a uma taxa de crescimento de
40% em relação à safra de 2006. Atualmente, já
foram liberados mundialmente para cultivo e
comercialização 45 eventos transgênicos de
milho. Pela primeira vez, em 2007, eventos
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6 Posição da Embrapa com relação ao cultivo dos milhos transgênicos aprovados pela CTNBio no Brasil
transgênicos de milho com duas ou três caracte-
rísticas “piramidadas” na mesma planta ocupa-
ram uma área de cultivo global maior do que
aquela cultivada com eventos transgênicos
contendo uma única característica.
No Brasil, em 2007 foram liberados pela Comis-
são Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNBio) para plantio comercial dois eventos de
milhos transgênicos: milho LL, da Bayer, resisten-
te ao herbicida glufosinato de amônia; e milho
MON 810, da Monsanto, resistente a inseto. Em
2008, foram liberados o evento de milho Bt11, da
Syngenta, resistente a insetos, dois eventos de
milho resistentes ao herbicida glifosato (RR, da
Monsanto, e GA21, da Syngenta) e o evento de
milho Herculex da Du Pont/Pioneer, com os
genes de resistência a insetos e tolerância ao
herbicida glufosinato piramidado na mesma
planta. Após interposição de recursos pela Agên-
cia de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama), nos autos dos
processos nº 01200.002109/2000-04, nº
01200.002995/99-54 e nº 01200.005154/98-36,
respectivamente, os pareceres técnicos nº 1.255/
2008, nº 1100/2007 e nº 987/2007, relativos à
aprovação comercial dos eventos de milho Bt11,
MON810 e T25, foram devidamente ratificados
pelo Conselho Nacional de Biossegurança, em
2008, de acordo com as prerrogativas da lei.
Com o intuito de melhor implementar a Lei de
Biossegurança, a CTNBio aprovou a Resolução
Normativa nº 05, de 12 de março de 2008, com
as “Normas para liberação comercial de organis-
mos geneticamente modificados e seus deriva-
dos” publicada no Diário Oficial da União de 13/
03/2008. Nos anexos I a IV da referida resolução,
estão listados os requisitos que devem ser
informados à comissão quando da solicitação de
uma liberação comercial de organismos genetica-
mente modificados (OGM), incluindo o
“monitoramento pós-liberação comercial”, as
“informações relativas ao OGM”, os dados sobre
a “avaliação de risco à saúde humana e animal” e
os dados sobre a “avaliação de risco ao meio
ambiente”.
Para instruir o monitoramento dos diferentes
milhos geneticamente modificados, a CTNBio
editou especificamente a Resolução Normativa nº
3, de 16 de agosto de 2007, que contém “Normas
de monitoramento de milho geneticamente modifi-
cado em uso comercial”, indicando que o plano
será aprovado pela comissão considerando a
proposta apresentada pelo titular do processo, o
qual deve ser elaborado com base em
metodologias científicas que se atenham às
hipóteses de riscos levantadas na avaliação para
decisão técnica.
Além disso, e para dar aos agricultores o poder
de escolha sobre a tecnologia a ser adotada por
ocasião do plantio do milho, a CTNBio editou a
Resolução Normativa nº 4, de 16 de agosto de
2007, que dispõe sobre as “Distâncias mínimas
entre os cultivos de milho geneticamente modifi-
cado e não geneticamente modificado visando a
coexistência entre os sistemas de produção”,
indicando que, para permitir a coexistência, a
distância entre uma lavoura comercial de milho
geneticamente modificado e outra de milho não
geneticamente modificado localizada em área
vizinha deve ser igual ou superior a 100m ou,
alternativamente, 20m, desde que acrescida de
bordadura com, no mínimo, 10 fileiras de plantas
de milho convencional de porte e ciclo vegetativo
similares aos do milho geneticamente modificado.
Das 302 cultivares de milho aprovadas pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen-
to para plantio na safra 2008/2009, 19 são varie-
dades híbridas transgênicas contendo o gene Bt
que confere resistência a lagartas.
De acordo com dados publicados pela Céleres
Consultoria em novembro de 2008, estima-se
que, no primeiro ano de cultivo, a área ocupada
pelo milho transgênico nas duas safras (verão e
safrinha) deverá ser de aproximadamente 1,35
milhão de hectares, correspondendo a 10,6% da
área cultivada com este cereal no país. A colheita
da primeira safra se iniciará em fevereiro de 2009,
com boas perspectivas de produção e aceitação
comercial segundo informações do setor especi-
alizado.
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7Posição da Embrapa com relação ao cultivo dos milhos transgênicos aprovados pela CTNBio no Brasil
Rotulagem dos produtos
transgênicos
A rotulagem dos alimentos está prevista no
Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078,
de 11/09/90 _ art. 6º, III e art. 8º). Trata-se de uma
norma para garantir ao cidadão a informação
sobre um produto, permitindo-lhe o direito de
escolha entre consumir ou não alimentos
provenientes de culturas transgênicas. Além
disso, ela possibilita a rastreabilidade, pois em
casos de efeitos na saúde humana os produtos
rotulados seriam facilmente identificados e
recolhidos.
Conclusões
O uso da transgenia tem se firmado como uma
tendência crescente da agricultura mundial e
deve impactar de forma positiva e crescente o
agronegócio brasileiro. Após 16 anos de uso
comercial de lavouras transgênicas em todo o
mundo, não se observou qualquer efeito
significativo do uso dessa tecnologia sobre o
meio ambiente ou sobre a saúde dos
consumidores. No Brasil especificamente, como
não existem outras plantas nativas que se
cruzam com o milho, o efeito ambiental do fluxo
gênico horizontal é negligível.
A coexistência entre milhos transgênicos e não
transgênicos pode ser obtida utilizando-se
técnicas já conhecidas desde o inicio do século
passado. Essas técnicas, como mencionado
acima e indicado pela própria CTNBio, incluem o
uso de barreiras temporais (escalonamento de
plantios e uso de cultivares assíncronas),
barreiras espaciais (uso de espaçamento entre
lavouras) ou a combinação dessas com barreiras
físicas.
Literatura citada
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8 Posição da Embrapa com relação ao cultivo dos milhos transgênicos aprovados pela CTNBio no Brasil
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Comitê de
publicações
Expediente
Circular
Técnica, 102
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Circ102.p65 27/2/2009, 10:478

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