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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Gestão da Produção Industrial Mapeamento de Processos Aula 3 Prof. Roberto Candido Pansonato CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 CONVERSA INICIAL Neste momento, você já é capaz de conhecer e diferenciar o que é gestão por processos, mapeamento de processos e modelagem de processos. Também já conheceu as principais notações para modelagem de processos (BPMN, fluxograma, SIPOC, cadeia de valor e mapeamento do fluxo de valor). Você aprendeu como ocorrem as dificuldades de se identificar as entradas e saídas de um processo, bem como os tipos de abordagem (efeito chuveiro e efeito bidê), e, por fim, você conheceu os dez passos para mapear e modelar um processo (utilize estas informações sempre que tiver que mapear um processo), assunto sobre qual foi proposto um exercício básico. Já que recapitulamos o conteúdo estudado na aula anterior, assista à videoaula a seguir para conhecer os assuntos que discutiremos agora. Adiantamos apenas que nesta aula serão discutidos assuntos relativos a geração de valor para o cliente e desperdício. Acesse o material on-line confira o vídeo introdutório do professor Roberto! CONTEXTUALIZANDO Problematização Façamos o mapeamento do processo de “fazer pipoca na panela”. Confira uma das possíveis respostas a esse exercício: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Utilizando o exemplo da pipoca, em que foram identificados os principais elementos de um processo, é possível constatar que na ponta final do “mapa” estão os clientes. Note que são três clientes distintos: O estudante, que no intervalo das aulas se alimenta da pipoca para sanar sua fome. O frequentador de cinema, que antes do início do filme adquire o produto para consumi-lo durante a sessão. A “turma do sofá”, que geralmente são pessoas que se agrupam para conversar, assistir filmes, futebol ou outro programa na televisão enquanto comem pipoca. Do ponto de vista da perspectiva de valor dos clientes mencionados no exercício, podemos dizer que: a. Os clientes estão consumindo o produto devido às informações obtidas referentes aos benefícios nutricionais. b. O frequentador de cinema compra o produto porque é o mais adequado, barato e nutritivo para se consumir dentro do cinema. c. A “turma do sofá”, consome este produto como forma de substituição de uma refeição tradicional, como o jantar, por exemplo. d. O estudante, o frequentador de cinema e a turma do sofá têm valores diferenciados quanto ao consumo do produto. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 e. A pipoca é um produto tradicional e todos possuem uma definição de valor similar. Acesse o material on-line para ver o comentário do professor sobre essa questão! PESQUISE Desperdícios e Valores O objetivo do mapeamento de processos é buscar um melhor entendimento dos processos atuais e dos processos futuros para melhorar o nível de satisfação do cliente e aumentar desempenho do negócio. Até aí, tudo bem, este conceito já é de seu conhecimento. No entanto, como proceder após mapear um processo no estado atual (As-Is)? Parece fácil, mas propor melhorias que realmente agreguem valor ao processo não é tão simples, pois, além de enxergar os desperdícios, é necessário que se crie nas empresas uma cultura de combate a eles – e é aí que as coisas complicam um pouco, principalmente no que diz respeito à cultura brasileira. Antes de entrar na discussão concernente a desperdício, esteja ciente de que há uma diferença entre desperdício e perda. Embora pareçam sinônimos, existe uma diferença peculiar entre ambos. Segundo o Dicionário Aurélio, os termos significam, respectivamente: Desperdício Despesa inútil e censurável, esbanjamento. Perda Carência, privação do que se possuía. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 Para ilustrar melhor esses significados, observe essas duas figuras que vão ajudar a entender melhor: Balde simbolizando perda Balde simbolizando desperdício Podemos deduzir, então, que o primeiro balde mostra que existe perda pelos diversos furos por onde se desvia a água, necessitando ser recomposto para se manter a condição de cheio. O segundo balde recebe mais água do que pode comportar, resultando no desperdício. A equivalência entre os dois é que ambos consomem mais água do que o supostamente necessário. A diferença entre as duas situações é que para o caso de perda é necessário encher mais o balde para compensar a água que vazará pelos furos. Isso quer dizer que não se conseguirá atingir o nível máximo do balde. Com relação ao caso de desperdício, é despejado mais água do que o balde consegue acomodar. Isso quer dizer que está sendo fornecido mais água do que seria o necessário para encher o balde. Para a tomada de decisões no modelamento do estado futuro (To-Be), ambos dão sinais que precisam ser eliminados. O objetivo desta reflexão é entender qual abordagem deve ser considerada. Se considerarmos o balde como uma representação dos ativos (máquinas, instalações etc.) de uma fábrica e a água como os recursos financeiros da empresa, vemos que essas duas situações podem ter soluções diferentes. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 Em linhas gerais, ambientes com muitas perdas pedem uma abordagem Kaizen mais focada na gestão de ativos, buscando atingir o nível máximo de desempenho (como o projeto de Total Productive Maintenance – TPM, por exemplo), enquanto ambientes com muito desperdício pedem uma abordagem Kaizen mais focada em fluxo de materiais ou informações, buscando a eliminação dos esforços extras e desnecessários dispendidos pela empresa. Voltando ao tema desperdício – que é o nosso grande problema – é fato verificar-se como essa situação ocorre de Norte a Sul do Brasil. Exemplos não faltam – desde os serviços públicos, construção civil, consumo de alimentos nas grandes cidades e até os desperdícios de água e energia elétrica, que estão afetando diretamente o dia-a-dia dos cidadãos. Invariavelmente, esta cultura, com algumas exceções, migra para as empresas e causa grandes prejuízos a todos, acarretando perda de competitividade em relação a empresas no exterior e custos mais altos também no mercado doméstico. Acesse o material on-line e confira o vídeo do professor Roberto! Histórico STP A indústria automobilística foi (e ainda é) um grande laboratório no que diz respeito ao emprego de conceitos e técnicas de administração da produção. Começando por Henry Ford, que concebeu o modelo “T” em 1908 e deu o início a produção em massa, passando por Frederick Taylor, que criou o “taylorismo” (estudo científico da tarefa, também conhecido como Administração Científica) até chegar ao Sistema Toyota de Produção (STP), que será o foco dos estudos relativos a desperdícios e valor. Vale ressaltar que os conceitos e os trabalhos realizados anteriormente (Ford, Fayol, Taylor etc.) formam a base de muitos conceitos administrativos que se utilizam atualmente, inclusive o STP. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 Após a Segunda Guerra Mundial, o Japão passava por dificuldades econômicas. No ano de 1950, Eiji Toyoda, então presidente da Toyota, visita os Estados Unidos com o objetivo de verificar o modelo americano de fabricação de automóveis, que na época trabalhava com volumes de produção altíssimos. Parase ter uma ideia, na visita realizada em uma das plantas da Ford, ele recebe a informação de que a planta visitada chegou a produzir 7.000 veículos em um só dia, enquanto a Toyota naquele ano produziria 2.685 carros. A Ford, naquela época, possuía dinheiro e um grande mercado, tanto doméstico como internacional. Um dos principais objetivos era produzir veículos em grande escala e com número limitado de modelos. Essa é uma das razões para os modelos “T” originariamente serem da cor preta. Em contrapartida, a Toyota precisava fabricar pequenos volumes de modelos diferentes utilizando a mesma linha de montagem, pois a demanda dos consumidores era muito baixa para sustentar linhas de montagem dedicadas a um só modelo de veículo. De volta ao Japão, Eiji Toyoda e Taiichi Ohno chegam à conclusão de que o sistema de produção americano jamais funcionaria no Japão. A partir daí, inicia-se na Toyota vários estudos que mais tarde se tornariam os princípios do Sistema Toyota de Produção, entre eles: kanban, sistema “just in time”, 5S, fluxo unitário de peças, células de trabalho e principalmente, o combate incansável aos desperdícios, também conhecido como “muda” no idioma japonês. A seguir, observe um exemplo de um diagrama conhecido como “Casa do STP”. A incorporação de uma casa como um diagrama é devido ao fato de a casa ser um sistema estrutural. A casa só é forte se o telhado, as colunas e as fundações forem igualmente fortes. Uma conexão fraca fragiliza todo sistema. Há várias versões da casa, porém, os princípios fundamentais permanecem os mesmos. Para associar o diagrama a seguir com o tema “desperdícios e perdas”, basta verificar que este termo aparece em duas posições na casa: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Um dos objetivos do mapeamento (além de identificar tarefas, atividades e processos) é a de proporcionar melhoria na modelagem, e nesta etapa os desperdícios devem ser identificados. Mais adiante veremos os significados das palavras muda, muri e mura e seu respectivo impacto nas organizações. Produção Enxuta De acordo com WOMACK, JONES e ROOS (1992), após a Segunda Guerra Mundial a indústria japonesa desenvolveu um conjunto de novas práticas de manufatura que alavancaram sua competitividade global: trata-se das técnicas da produção enxuta. Para WOMACK e JONES (1998), a palavra alvo da produção enxuta é “desperdício”, definida como qualquer atividade que absorve recursos e não cria valor. O renomado executivo da Toyota, Taiichi Ohno (1912-1990), classificou os desperdícios em sete categorias, que serão vistas em breve! Princípios Enxutos CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Para o combate aos desperdícios, felizmente existe uma arma poderosa: o pensamento enxuto. Segue abaixo os princípios que dão sustentação ao pensamento enxuto, definidos por WOMACK e JONES. Valor A produção enxuta busca eliminar as fontes de desperdícios e criar valor, portanto, o ponto de partida do pensamento enxuto é o valor. O valor só pode ser definido pelo cliente; caso contrário, corre-se o risco de fornecer eficientemente para o cliente algo que ele efetivamente não deseja. Cadeia de valor A cadeia de valor implica em enxergar o todo. Em geral, o mapeamento da cadeia de valor mostra que ocorrem três tipos de atividades ao longo de sua extensão, ou seja, as atividades que certamente criam valor; as atividades que não criam valor, mas que são necessárias e as atividades que não criam valor e que não são necessárias, devendo, portanto, ser imediatamente eliminadas. Produção puxada Na produção puxada um processo será acionado somente quando o processo seguinte solicitar. O objetivo é construir um processo para fazer somente o que o próximo processo necessita e quando necessitar, ou seja, o cliente é quem deve puxar o produto, puxar a produção e puxar o valor; caso contrário, os processos fornecedores tenderão a fazer o que os clientes não precisam naquele momento, levando com essa prática ao excesso de produção, à formação de estoques desnecessários, à produção empurrada e, consequentemente, ao desperdício. Fluxo de valor enxuto Especificado o valor com exatidão, mapeada a cadeia de valor e estabelecida a produção puxada, é necessário fazer com que as atividades que criam valor fluam em um fluxo de valor contínuo e estável, o chamado fluxo de valor enxuto. Nessa concepção, os produtos deveriam sempre fluir CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 em fluxo enxuto da matéria prima ao cliente final, sem movimentos inúteis, sem interrupções e sem lotes intermediários. Perfeição À medida que os princípios anteriores sejam alcançados, ocorrerá a todos os envolvidos que as oportunidades de redução de esforço, de tempo e de custo sejam infinitas, permitindo à empresa fornecer produtos do mais alto nível e mais próximo daquilo que o cliente almeja. Agora, vamos concluir este tema assistindo à videoaula do Professor Roberto Candido. Acesse o material on-line! Os “oito” Desperdícios Conforme citado anteriormente, a Toyota identificou sete grandes tipos de desperdícios sem agregação de valor nos processos administrativos ou produtivos. O reconhecimento por parte do engenheiro e do gestor de produção destas sete categorias é de suma importância no procedimento de mapeamento de processos. Esse conhecimento permite que tenhamos o poder de discernimento entre o que é valor e o que é desperdício. Segundo ROTHER e SHOOK, o mapeamento do fluxo de valor ajuda a identificar mais do que os desperdícios. Mapear ajuda a identificar as fontes de desperdício no fluxo de valor. Algumas literaturas adicionaram um oitavo desperdício aos já catalogados pelo STP (conforme descrito na sequência). Vejamos, então, quais são os oito desperdícios: Transporte: Movimento de estoque em processo em longas distâncias, criação de transporte ineficiente ou desnecessária movimentação de materiais, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 peças ou produtos acabados para dentro do estoque, fora do estoque ou entre processos. Estoque: Excesso de matéria-prima, de estoque em processo ou de produtos acabados, causando longos lead times, obsolescência, produtos danificados, custos com transporte, armazenagem e atrasos. Além disso, o estoque em excesso oculta problemas, como desbalanceamento de produção, entregas atrasadas dos fornecedores, equipamentos em conserto e longo tempo de setup (preparação). Movimento: Qualquer movimento inútil que os funcionários têm que fazer durante o trabalho, tais como procurar, pegar ou empilhar peças, ferramentas etc. Caminhar também é perda. Espera: Funcionários que servem apenas para vigiar uma máquina automática ou que ficam esperando pelo próximo passo no processamento, suprimento, peça etc., ou que simplesmente não têm trabalho para fazer devido a uma falta de estoque, atrasos no processamento, interrupção de funcionamento de equipamento e gargalos de capacidade (desbalanceamento). Excesso de Processo: Passos desnecessários para processar peças ou serviços. Processamento ineficiente devido a uma ferramenta ou projeto de baixa qualidade do produto, causando movimento desnecessário e produzindo defeitos. Geram-se perdas quando se oferecem produtos com características superiores as que são necessárias. Superprodução: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 Produção de itens para os quais não há demanda, o que gera perda com excesso depessoal e de estoque e com custos de transporte e armazenagem devido ao estoque excessivo. Defeitos: Produção de peças defeituosas ou correção. Consertar ou retrabalhar, descartar ou substituir a produção por inspeção significam desperdícios com manuseio, tempo e esforço. Desperdício de criatividade: Perda de ideias, habilidades, melhorias e oportunidades de aprendizagem devido ao não ouvir os funcionários. Este item não faz parte dos tipos de desperdícios catalogados pela Toyota. Por mais paradoxal que seja para um gestor (principalmente o da produção), Ohno considerava o desperdício relativo à superprodução como sendo o principal deles, pois gera a maioria dos outros tipos de desperdícios. A figura a seguir mostra um processo de transformação muito simples ode é possível verificar a disparidade entre tempos de valor agregado e valor não agregado. É possível também notar que o ponto de valor agregado mal pode ser reconhecido. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 Os gestores que trabalham na Toyota ou baseiam-se na filosofia STP utilizam com frequência o termo “muda”, que como foi mencionado é um termo japonês que significa desperdício. No entanto, dentro do foco de eliminação de perdas (os oito desperdícios), poder-se-ia eventualmente estar prejudicando outros fatores, como a produtividade das pessoas e o sistema de produção. Conheça a definição mais detalhada de “muda” e de mais dois termos, o “muri” e o “mura”, que devem dar sustentação ao processo de eliminação de perdas: Muda: nenhuma agregação de valor. O M mais conhecido inclui os oito desperdícios mencionados anteriormente. Tratam-se de atividades desnecessárias que aumentam os tempos lead time (tempo de entrada da matéria prima até a entrega ao cliente), causam movimentos e transportes extras, criam excesso de estoques ou resultam em alguma forma de espera. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Muri: sobrecarga de pessoas ou de equipamentos. Não seria inteligente concentrar-se totalmente na eliminação das perdas e colocar uma máquina ou uma pessoa além dos seus limites naturais. A sobrecarga de pessoas resulta em problemas de segurança e de qualidade. A sobrecarga em equipamentos causa interrupções e defeitos. Mura: desnivelamento. Pode ser visto como a resposta aos outros dois “Ms”. Em sistemas de produção normais, às vezes há mais trabalho do que as pessoas ou máquinas podem realizar e outras vezes há falta de trabalho. O desnivelamento pode ser proveniente de um programa de produção irregular, de volumes de produção flutuantes devido a problemas internos tais quais paralizações, falta de peças ou defeitos. O nivelamento da produção talvez seja o ponto mais difícil a ser alcançado pelas empresas. Agregação de valor e lead time Já constatamos que o que agrega valor é o que realmente importa ao cliente. A esse fator é atribuído o termo de valor agregado, ou seja, o conjunto dos elementos que efetivamente transformem o produto ou serviço de uma maneira que o cliente esteja disposto a pagar. Outro elemento, o lead time, refere-se ao tempo que um produto ou um serviço leva para mover-se ao longo de todo um processo ou um fluxo de valor, desde o começo até o fim. O terceiro elemento, o tempo de processamento, é o tempo que um produto ou um serviço é realmente completado em um processo. Para entendermos melhor este conjunto de elementos, vejam o exemplo: Fagundes foi ao banco pagar uma conta. Do momento em que ele entrou no banco até a sua saída, passaram-se 45 minutos. O tempo de atendimento foi de 5 minutos. 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑎𝑡𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = 5 𝑚𝑖𝑛. 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑓𝑖𝑙𝑎 + 𝑎𝑡𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = 𝑙𝑒𝑎𝑑 𝑡𝑖𝑚𝑒 𝑑𝑒 45 𝑚𝑖𝑛. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑎𝑔𝑟𝑒𝑔𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑜 𝑐𝑙𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 = 5 𝑚𝑖𝑛. % 𝑑𝑜 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑎𝑔𝑟𝑒𝑔𝑎𝑑𝑜 = 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑃𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝐿𝑒𝑎𝑑 𝑇𝑖𝑚𝑒 × 100 Para este caso específico, 5 𝑚𝑖𝑛. 45 𝑚𝑖𝑛. × 100 = 11,1%, ou seja, de todo tempo gasto neste processo, apenas 11,1% agregaram valor ao que o cliente realmente queria, que era pagar a sua conta. Conclusão Os conceitos de valor e desperdícios muitas vezes levam os gestores a recorrerem erroneamente sobre literaturas e publicações de que o STP é um conjunto de ferramentas que levam a operações mais eficientes. De maneira mais ampla, o STP está relacionado a princípios. O foco está na fábrica; porém, os princípios são amplos e aplicam-se tanto em áreas como engenharia e administração quanto a serviços. Tempo de espera na fila Tempo de atendimento 40 min. 5 min. 45 min. = Lead Time: tempo de fila + atendimento CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Fonte: LIKER, 2005, p. 83. Agora, vamos concluir este tema assistindo à videoaula do Professor Roberto Candido. Acesse o material on-line! Cadeia de Valor Antes de iniciarmos as considerações referentes ao conceito de cadeia de valor, seria interessante e agregador fazermos a seguinte reflexão: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 Num pensamento mais amplo, devemos considerar a premissa de que nenhuma empresa sobrevive sem lucro. Para alcançar o lucro há dois caminhos a serem percorridos: Aumentar o preço de venda Reduzir o custo Nos dias de hoje, com a competitividade entre as empresas cada vez maior e com um consumidor mais crítico quando ao custo e a qualidade, torna- se quase que impossível optar simplesmente por aumentar o preço de venda. Resta então a segunda opção, que é a de reduzir o custo. Para que isto ocorra, é necessário a redução dos desperdícios, a percepção do que é valor para o cliente e o entendimento de como funciona a cadeia de valor. Definição de Cadeia de Valor O conceito de cadeia de valor foi introduzido por Michael Porter em 1985 e diz respeito ao conjunto de atividades desempenhadas por uma organização desde as relações com os fornecedores e ciclos de produção e de venda até a fase da distribuição final. O objetivo desse modelo é identificar os principais fluxos de processos dentro de uma organização. O modelo é essencialmente um fluxograma de processos específicos de alto nível, interligados para mostrar fluxos de processo, os quais podem, ainda, ser divididos em sub-processos e suas atividades de apoio. A cadeia de valor de uma organização insere-se num contexto mais amplo de atividades e constitui um sistema de valores onde também estão integradas as cadeias de valor de fornecedores e de distribuidores. Portanto, não se limita à própria organização em si. Identificação da Cadeia de Valor Uma forma eficiente de identificar as atividades que compreendem uma cadeia de valores é analisar que quanto mais pessoas e áreas funcionais CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 participarem de um processo ou quanto mais níveis de aprovação existirem, maior a probabilidade desse processo conter alta proporção de trabalhos que não agregam valor. Em muitos casos, os processos administrativos e de apoio têm mais atividades que não agregam valor do que os processos diretamente ligados à fabricação de um produto ou de prestação de um serviço a um cliente. Quanto mais demorados os processos, maior a probabilidade de eles conterem etapas que não agregam nenhum valor. Classificação da Cadeia de Valor A cadeia generalista de Porter é compostapelos conjuntos de atividades primárias e de atividades de apoio desempenhadas por uma organização, pela margem de valor acrescentado em cada uma das atividades e pelas relações estabelecidas entre elas (DIAS et al. 2005, p. 81). Atividades Primárias As atividades primárias relacionam-se diretamente com a elaboração física de um determinado bem, venda, manutenção e suporte de um produto ou serviço. As atividades primárias são as seguintes: Logística de entrada: Concerne os processos relacionados com recepção, controle de inventário, armazenagem de insumos etc. Nesse ponto, as relações com os fornecedores são um fator decisivo para a criação de valor. Operações: Diz respeito às atividades relacionadas com a transformação das matérias-primas em componentes ou produtos finais. Inclui maquinaria, embalagens, montagens e outras atividades de criação de valor que CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 transformam inputs no produto final (outputs), para ser vendido aos clientes. Logística de saída: São as atividades associadas à entrega do produto ou serviço ao cliente. Inclui sistemas de recolhimento, armazenamento e distribuição e podem ser internos ou externos à organização. Marketing e Vendas: Atividades relacionadas à comercialização e promoção do produto. São os processos que a empresa utiliza para convencer os clientes a adquirirem os seus produtos ou serviços. As fontes de criação de valor aqui são os benefícios que se oferecem e o modo como esses benefícios são transmitidos. Serviço: Atividades relacionadas com o serviço pós-venda que acrescentam valor ao produto oferecido. Referem-se a atividades que mantêm e aumentam o valor dos produtos ou serviços após a compra. Aqui incluem-se o apoio ao cliente, serviços de reparação e/ou instalação, formação, atualizações etc. Atividades de apoio ou suporte As atividades de apoio ou suporte, como o próprio nome diz, têm a função de suportar as atividades primárias. São as seguintes: Infraestrutura Atividades relacionadas à gestão global e à gestão da rede de relacionamentos da organização (Planejamento, Gestão da Qualidade, Administração, Contabilidade, Finanças etc.). Gestão de Recursos Humanos Atividades associadas a recrutamento, desenvolvimento (educação e treinamento), retenção e compensação de colaboradores e gestores. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 Uma vez que as pessoas são uma fonte de valor significativa, as empresas podem criar grandes vantagens se utilizarem boas práticas de RH. Desenvolvimento Tecnológico Investimento aplicado em tecnologias que contribuem para a melhoria dos produtos ou processos. Inclui o desenvolvimento tecnológico para apoiar as atividades da cadeia de valor, como Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), automação de processos, design etc. Aquisição Atividades relacionadas com a compra de matérias-primas e outros inputs. Abrange todos os processos que a empresa realiza para adquirir os recursos necessários para se trabalhar: aquisição de matérias- primas, serviços, edifícios, máquinas etc. Aqui também inclui encontrar fornecedores com qualidade e negociar os melhores preços. Como mencionado anteriormente, a formação do preço de um produto passa obrigatoriamente pelo entendimento de valor do cliente. Não vamos entrar CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 no detalhamento entre lucro (valor que sobra após todas os custos e despesas, sendo este positivo) e margem (diferença entre o valor de compra ou de produção de um produto e o valor de venda). No entanto, na cadeia de valor de Porter, margem é o valor que consiste no montante que os compradores estão dispostos a pagar pelo produto que uma organização oferece. Uma organização é rentável se o valor que o produto representa para o comprador é superior ao valor envolvido na sua criação. A margem é a diferença entre o valor total e o custo coletivo da execução das atividades de valor (DIAS et al. 2005, p. 145). Atividades Primárias Conforme a estratégia adotada, as atividades da cadeia de valor de uma empresa podem ser caracterizadas como: Atividades estratégicas: São imprescindíveis à implementação da estratégia, uma vez que afetam diretamente o desempenho da empresa nos fatores críticos de sucesso do negócio. Por isso, devem poder usufruir de todos os recursos requeridos, tanto em quantidade quanto em qualidade. Atividades táticas: São necessárias, mas não suficientes para a implementação da estratégia, na medida em que complementam ou suportam a ação das atividades estratégicas. Por isso, devem ser asseguradas numa perspectiva de optimização da relação custo/benefício. Atividades de base: São necessárias ao funcionamento da empresa, qualquer que seja a sua estratégia, mas têm um impacto muito reduzido no seu desempenho competitivo. Por isso, devem ser asseguradas com um mínimo de custos para o nível de qualidade desejado. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 Como utilizar a cadeia de valor de Porter Os seguintes passos são necessários para identificação e compreensão da cadeia de valor em uma empresa: 1. Identificar as subatividades para cada atividade primária e determinar que subatividades específicas criam valor. Deve ter em conta que existem 3 tipos diferentes de subatividades: • Atividades diretas: criam valor por si próprias • Atividades indiretas: permitem que as atividades diretas funcionem sem problemas • Atividades de garantia de qualidade: asseguram que as atividades anteriores cumprem os padrões necessários. 2. Identificar as subatividades para cada atividade de apoio. Determinar as subatividades que criam valor dentro de cada atividade primária. Por exemplo, como é que a gestão de recursos humanos pode criar valor na logística de entrada, operações, logística de saída etc. Também aqui deve tentar encontrar atividades diretas, indiretas e de garantia de qualidade. Depois identifique as subatividades que criam valor na infraestrutura da empresa. 3. Identificar ligações. Encontrar as ligações entre todas as atividades de valor identificadas. Vai demorar tempo, mas estas ligações são cruciais no aumento da vantagem competitiva da estrutura da cadeia de valor. 4. Procurar oportunidades para aumentar o valor. Rever cada uma das subatividades e ligações identificados e pense como é que pode mudá-las ou melhorá-las de modo a maximizar o valor que oferece aos seus clientes. Análise do Fluxo de Valor Para análise do fluxo de valor em uma empresa, devemos identificar e separar os processos (tanto externos quanto internos) que efetivamente geram valor para o cliente daqueles que não agregam valor. Os processos que agregam valor devem ser maximizados e os demais, minimizados. Os que não geram CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 valor e não são necessários para manutenção dos negócios da empresa devem ser eliminados. Após a identificação, separação e eliminação dos processos que agregam e não agregam valor, tem-se como premissa que os processos devam fluir dentro das organizações de uma maneira contínua, ou seja, obter uma “fluidez”. A visão de fluidez e continuidade dos processos organizacionais é comparada com a água que corre num rio, pelos autores Tapping e Shuker no livro “Lean Office: Gerenciamento do Fluxo de Valor para áreas Administrativas”. O fluxo de valor pode ser comparado ao fluxo de um rio em q ue não haja restrições e curvas acentuadas, de modoque a água corra tranquilamente e sempre num só sentido (sem retorno). Algumas empresas de origem japonesa fazem o uso do termo “Nagarê” (que em japonês significa correnteza, movimento ininterrupto) e é isso que um sistema de fluxo de valor consiste. O que quer que esteja abaixo na corrente, receberá, sem grande esforço, o fluxo vindo de cima. Cada processo da organização pode ser encarado como parte do rio na medida em que passa o resultado de seu trabalho (saída) para o próximo cliente interno da corrente. No gerenciamento do fluxo de valor é desejável que as unidades de trabalho fluam até os consumidores tão tranquilamente quanto possível. No entanto, o que ocorre na prática (pelo menos na grande maioria das empresas) é existência de curvas acentuadas e restrições no processo que impedem um fluxo tranquilo e contínuo. Nesta aula mencionamos o caso da fila de um banco como exemplo de não agregação de valor. Para complementação dos nossos estudos, leia o artigo sobre “Estudo de Modelagem e Simulação de uma Fila em uma Empresa Salineira”: http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2014_TN_STO_195_101_26172.pdf Agora, assista a este vídeo sobre desperdício na construção civil! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 24 http://globotv.globo.com/tv-tem-interior-sp/tem-noticias-1a-edicao- sorocabajundiai/v/desperdicio-de-materiais-na-construcao-civil-tem-dados- alarmantes-em-sorocaba/2986884/ Agora, vamos concluir este tema assistindo à videoaula do Professor Roberto Candido. Acesse o material on-line! NA PRÁTICA Analisemos juntos um estudo de caso referente à aplicação de ferramentas para identificação de desperdícios em uma empresa de eletrodomésticos na cidade de Curitiba. http://www.abenge.org.br/CobengeAnteriores/2005/artigos/PR-15- 96166118953-1117845317378.pdf Depois, identifique nesta aula conceitos que se associam ao texto proposto e realize as atividades a seguir! 1. No estudo de caso apresentado, o autor cita que foi realizado um mapeamento do fluxo de valor. A partir desse conceito, o fluxo pode ser mapeado, percorrendo o caminho de todo o processo de transformação de material e informação do produto. O mapeamento completo do fluxo de valor abrange não só a empresa, mas outras empresas e unidades produtivas. Baseado no estudo de caso, podemos afirmar que: a. Os fluxos de informação, de processo e de materiais devem ser vistos como formas isoladas do processo macro, cada um com sua função específica. b. O mapeamento do fluxo de valor, deve ser realizado dentro da própria empresa, conforme conceito da cadeia de valor de Porter. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 25 c. Tanto o fluxo de material como o fluxo de informações devem se relacionar entre si, sendo este último um fluxo de visualização complexo. d. Desperdício e valor não são itens inerentes à utilização do mapeamento de fluxo de valor, sendo exclusivos da abordagem STP. e. A abordagem do mapeamento não foi realizada de forma correta. Acesse o material on-line para verificar as considerações do professor quanto a esse exercício! 2. No texto são evidenciados problemas com o abastecimento de matéria prima, principalmente dos fornecedores nacionais, que respondem por 60% da demanda. Também é mencionado que a rede varejista deste setor não se interessa por um dos tipos de desperdício do STP que é o: a. Excesso de produção. b. Erro de comunicação. c. Má utilização do pessoal. d. Excesso de estoque. e. Espera. Acesse o material on-line para verificar as considerações do professor quanto a esse exercício! 3. Algumas melhorias foram alcançadas na implantação do estado futuro (To- be). Quais foram elas? a. Maior facilidade no controle da matéria-prima em processo, evitando acúmulos desnecessários (estoques intermediários). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 26 b. Redução do lead time (tempo entre a entrada da matéria prima até o produto final) de aproximadamente 6%. c. Centralização da informação da produção na linha principal que agora puxa o material dos estágios anteriores conforme necessidade, gerando um controle mais fácil. d. Todas as alternativas anteriores. Acesse o material on-line para verificar as considerações do professor quanto a esse exercício! SÍNTESE Desperdício e valor no contexto de mapeamento de processos estão em posições opostas. Por que o que parece tão óbvio – como distinguir o que é valor para o cliente e o que é desperdício – normalmente deixa de ser atacado pelas empresas? As respostas poderiam ser: falta de foco, ausência de uma cultura de combate aos desperdícios, não reconhecimento das reais necessidades dos clientes etc. O exemplo do forte trabalho de eliminação de desperdícios executado pela Toyota reforça a necessidade de se inserir este item como uma das metas do gestor. Mais além do que isso, vale ressaltar que não basta apenas combater o desperdício, é necessário também verificar onde ele ocorre e eliminá-lo de forma sistêmica, para que não volte a ocorrer. Por experiência, muitas vezes as empresas tentam iniciar um programa baseado na cultura STP (ou lean manufacturing, ou produção enxuta, como queiram denominar); no entanto, o que acontece é uma abordagem totalmente ineficaz, pela qual se ataca pontos isolados de um processo macro e os resultados prosperam por um período curto de tempo. Como o resultado não atende aos objetivos imediatistas da empresa, o programa é abandonado e CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 27 normalmente se houve o seguinte: “os conceitos do TPS não funcionam nesta empresa”. Entender o que o cliente de fato deseja e trabalhar para que seus desejos sejam realizados também é crucial na gestão de uma organização. É neste ponto que se começa a entender o conceito de valor e como ele se relaciona com o cliente. De posse dos conhecimentos de como eliminar os desperdícios e de como gerar valor aos clientes, fica muito mais fácil e agradável partir para o mapeamento de processos. Segundo Rother e Shook, no livro “Aprendendo a Enxergar” (2003 / 2009), sempre que há um produto para um cliente, há um fluxo de valor. O desafio é enxergá-lo. Vamos recapitular o que aprendemos nesta aula? Acesse o material on- line! Referências PAVANI JUNIOR, O.; SCUCUGLIA, R. Mapeamento e Gestão por Processos – BPM. São Paulo: M. Books, 2011. PORTER, M. P. Vantagem Competitiva: Criando e Sustentando um Desempenho Superior. 27. ed. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1989. ROTHER, M.; SHOOK, J. Aprendendo a Enxergar (mapeando o fluxo de valor para agregar valor e eliminar o desperdício). São Paulo: Lean Institute Brasil, 2009. LIKER, J. K. O Modelo Toyota: 14 Princípios de Gestão do Maior Fabricante do Mundo. Ed. Bookman, 2005. STADLER, A.; MUNHOZ, A.; GUERREIRO, K.; FERREIRA, P. Gestão de Processos com Suporte em Tecnologia da Informação. Curitiba: Intersaberes, 2013.
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