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Aula bioética e formação em saude

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Bioética e Formação em Saúde 
 
 
 
 
 
 
Aula 5 
 
 
 
 
 
 
Prof. William Bellani 
 
 
 
 
Comitês de Ética 
O desenvolvimento tecnológico e a necessidade criada pela sociedade moderna 
do profissionalismo efetivo e do sistema de excelência da qualidade total 
provocaram o aparecimento nas organizações de saúde dos comitês de ética, 
estes surgiram inicialmente na medicina, seguidos pelos comitês profissionais 
de enfermagem e odontologia, depois no segundo momento surge os comitês 
de ética em pesquisa, e por fim, os atuais comitês de bioética (FERRER, 2003). 
Os comitês de bioética conceitualmente são grupos de cidadãos 
necessariamente com origem multidisciplinares, independentes e localizados em 
hospitais, clínicas, institutos de pesquisa ou laboratórios de experimentação, 
onde se reúnem, em um contexto plural e com uma metodologia própria, os 
diversos componentes de vários setores de atividades conexas com a vida, 
bioética e a saúde do ser humano (URBAN, 2003). 
O papel dos comitês de bioética na Declaração Universal sobre Bioética e 
Direitos Humanos / Unesco, inciso III, artigo 19, ressalta: 
Devem ser criados, encorajados e adequadamente apoiados 
comitês de ética independentes, multidisciplinares e pluralistas, 
com vista a: (a) avaliar os problemas éticos, jurídicos, científicos 
e sociais relevantes no que se refere aos projetos de 
investigação envolvendo seres humanos; (b) dar pareceres 
sobre os problemas éticos que se levantam em contextos 
clínicos; (c) avaliar os progressos científicos e tecnológicos, 
formular recomendações e contribuir para a elaboração de 
princípios normativos sobre as questões do âmbito da presente 
Declaração; (d) promover o debate, a educação e bem assim a 
sensibilização e a mobilização do público em matéria de bioética 
(UNESCO, 2005). 
 
Os comitês de bioética devem respeitar os direitos humanos, reconhecer a 
dignidade dos cidadãos e respaldar os programas educativos de bioética 
(ORGANIZACION, 2006). As funções de um comitê de ética hospitalar ou 
bioética são: 
1) Revisar casos para confirmar o diagnóstico ou o prognóstico de pacientes; 
2) Revisar as decisões tomadas pelo médico ou responsável legal quanto 
aos aspectos éticos dos tratamentos e procedimento realizados; 
3) Tomar decisões dentro da bioética sobre tratamentos adequados para 
pacientes incapazes; 
4) Promover, para todos os membros da instituição, programas educacionais 
gerais relacionados à identificação e solução de questões éticas; 
5) Formular políticas a serem seguidas pelos integrantes da instituição em 
alguns casos específicos; 
6) Servir como auxiliar e consultor para médicos, pacientes e familiares 
quando da tomada de decisões éticas específicas (DEBLOIS et al, 1995). 
 
O comitê de bioética deverá ser formado por interdisciplinaridade, ou seja, deve 
conter entre seus membros profissionais da área de saúde (médicos de diversas 
especialidades, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, farmacêuticos, 
fisioterapeutas, entre outros), assim como membros da área de humanas como 
advogados, filósofos, teólogos, bem como outros profissionais (professores, 
jornalistas, engenheiros, secretarias, arquitetos, entre outros), e algum membro 
da sociedade civil, não especificamente ligado à área da saúde, representando 
os usuários e a comunidade. Preferível também é ter na equipe alguém com 
formação em bioética para auxiliar na condução dos processos. O ideal é que 
este comitê contenha também os gêneros feminino e masculino de preferência 
o mínimo de 7 (sete) membros. (ALMEIDA, 2002; GAUER et al, 2008). 
 
Os membros do comitê de bioética devem ter no seu perfil os seguintes valores: 
a tolerância, o respeito ao próximo, a paciência, a compaixão, o bom senso, a 
gentileza, a educação, o juízo, a bondade, a honestidade, a sinceridade, a 
generosidade, a liberdade, o comprometimento, o autocontrole, a solidariedade, 
o interesse, a empatia, coragem, assiduidade, presteza, cordialidade, 
pontualidade, sensibilidade, boa-fé, tempestividade, prudência, humildade, 
integridade, e ter a capacidade de cooperação e comunicação (GILLIGAN, 
1982). 
As atribuições incluem educar a comunidade interna e externamente a respeito 
da dimensão moral do exercício das profissões ligadas à área da saúde. 
Também deve construir e submeter à homologação da administração do hospital 
normas e diretrizes que proporcionem maior proteção da dignidade das pessoas, 
tanto para pacientes como profissionais da saúde e membros da comunidade, 
além de oferecer consultoria a todos os profissionais e pacientes ou seus 
representantes que necessitem que um conflito de natureza moral seja avaliado 
e equacionado, ou como apoio psicológico, quando de uma tomada de decisão 
difícil do ponto de vista moral (FLETCHER; SIEGLER, 1996; FRANCISCONE et 
al, 2002; GAUER et al, 2008). 
As questões de Bioética normalmente são levadas ou pelas equipes de saúde, 
ou pelos pacientes, ou seus familiares ou pela própria instituição em que se 
localiza o comitê. Algumas podem ser protocoladas de forma oficial, e outras são 
de natureza informal. Dentre as inúmeras possibilidades de solicitações para 
dirimir conflitos bioéticos, destaca-se mais comumente a recusa por parte do 
paciente (ou familiares) do tratamento e procedimento indicado pelos 
profissionais de saúde, assim como questionamentos da equipe sobre limitações 
de investimento terapêutico e/ou uso de cuidados paliativos em casos 
determinados, bem como a necessidade de quebra de confidencialidade, além 
de dúvidas sobre a capacidade de autonomia dos pacientes, também motivos 
religiosos, como no caso de Testemunhas de Jeová, que se recusam a 
 
transfusões sanguíneas muitas vezes consideradas como essenciais pela 
ciência médica, e alguns conflitos de interesse (GAUER et al, 2008). 
Vollmann (2013) escreveu importantes recomendações práticas e didáticas 
através de seis etapas no processo de fundação e implementação do comitê, 
sendo possíveis as adaptações para cada situação real, história e objetivo das 
diferentes instituições e comissões. 
A etapa 1 do programa de implantação está direcionada ao setor da 
administração do hospital, esta deverá proporcionar a ação quando existir a 
demanda, identificando se há um pedido formal de fundação do comitê ou não. 
Na criação é fundamental a definição das normas e objetivos do comitê, assim 
como de horas trabalhadas na carga horária do funcionário, dos recursos 
materiais e de infraestrutura que viabilizem sua implantação. 
A etapa 2 é direcionada para as atividades iniciais de um coordenador que busca 
na instituição os profissionais que se interessam em participar do comitê. A isso 
segue a divulgação interna dos objetivos, criação de uma equipe de trabalho que 
discuta temas de interesse da comunidade, inclusão de estruturas existentes no 
ambiente hospitalar, além de convocar também membros do comitê de ética 
profissional e de comitê de ética em pesquisa. 
Já a etapa 3 está direcionada para a equipe de trabalho, com a organização do 
comitê em termos de definição de membros permanentes e de diferentes grupos 
profissionais do hospital, bem como a participação de membros externos. Faz-
se necessário também definir a periodicidade das reuniões, possibilitando a 
inclusão do comitê no fluxo institucional, provocando assim o início da reflexão 
sobre o método de discussão com base nas referências conceituais e de 
princípios da bioética. 
Durante a etapa 4, em que ocorrerá propriamente a fundação do comitê de 
bioética clínica, que pode estar vinculada a algum outro evento que tenha uma 
dimensão forte e presente no calendário
anual da instituição. Neste momento 
 
pode-se apresentar alguns temas práticos e de interesse especial. Com a 
existência oficial do comitê no hospital, através de portarias ocorre a nomeação 
dos membros, e publicação do estatuto do comitê, em que deverá estar 
estabelecido o prazo para a vigência do comitê, bem como seus aspectos de 
renovação, que podem ser de dois a três anos, com um número viável de 
participantes, sendo fundamental a criação e o registro do estatuto que regule 
procedimentos e regras. 
Após a fundação, inicia-se a etapa 5, em que há o desenvolvimento do trabalho 
conceitual e comunicativo. Devem-se realizar palestras sistemáticas sobre 
temas sensíveis relacionados à prática dos profissionais, provocar o debate e a 
educação e capacitação que auxiliem a tomada de decisão pelos profissionais, 
forçando a reflexão do ponto de vista bioético. 
Por fim, a etapa 6 é a da especialização do comitê, com a provocação de 
consulta ética por especialidades clínicas, porque os conflitos dentro do comitê 
tendem a variar bastante de uma determinada especialidade para outra. Logo, 
deve-se também adaptar os procedimentos estabelecidos a áreas da medicina 
especifica, como pediatria, psiquiatria, medicina intensiva, obstetrícia, 
neonatologia, geriatria, cuidados paliativos, áreas que envolvam o início e o fim 
da vida. O autor também exorta a importância do sigilo (discussão sobre 
segurança e confidencialidade), bem como criar mecanismos para pesquisa 
científica em relação aos comitês de bioética clínica, assim também 
corroborando para a cooperação internacional e troca de experiências. 
Estudo de Caso 
1) A criança MJF está internada no Hospital do Sol há três meses na ala de 
pediatria conveniada ao SUS. O serviço atrasou no repasse das medicações 
para esta ala do hospital, esta precisa de ciclosporina para o tratamento de sua 
doença, o que o gestor hospitalar deverá fazer? 
 
 
2) O Sr. LCA, 60 anos, é admitido no Hospital do Amanhã com diabetes 
descompensada e em coma alcoólico, depois de 24 horas sai da UTI e vai para 
a enfermaria de endocrinologia e com suporte da psiquiatria. Após 15 dias o 
médico assistente sente cheiro de cerveja no quarto e as taxas do paciente não 
tem melhorado. A enfermeira vai ao quarto do paciente e encontra dentro do 
lixeiro três latas de cerveja e um saco com resto de feijoada, ela não fala nada 
ao paciente, mas junto com o médico organizam a identificação do 
funcionário envolvido neste caso, eles ficam na espreita e pegam no flagrante o 
técnico de enfermagem chegando com a comida e bebida escondidas 
numa sacola. Depois da surpresa o funcionário confessa tudo diante do 
gestor hospitalar. 
 
3) O Sr. KLS, 72 anos, agropecuarista, deu entrada no Hospital Abençoado 
e é internado na UTI. Menos de 24 horas falece com falência múltipla dos órgãos. 
O setor de contas do hospital emite um relatório que foi gasto 2000 litros de 
soro fisiológico, 15000 pacotes de gazes, entre inúmeras coisas absurdas, o 
gestor observa a conta e não faz nada. A viúva paga, no entanto, o sobrinho que 
é médico auditor quando sabe da cobrança vem conversar com a gestão. 
 
4) O Sr. LP, 40 anos, chega a emergência do Hospital Central vítima de 
acidente automobilístico com fratura de bacia e de várias costelas de ambos 
hemitórax, hemorragia interna, hemogolobina de 4,5 mg/dl, ou seja, em franca 
perda sanguínea. No entanto, sua esposa diz que ele é testemunha de jeová e 
mostra um documento assinado pelo paciente, em cartório, dizendo que ele não 
quer reposição de sangue em caso de acidentes. O médico alega que fará a 
reposição sanguínea e comunica sua decisão ao gestor hospitalar e ao diretor 
médico. 
 
 
 
Referências 
ALMEIDA; F. Comissões de Ética para Saúde: Sua Natureza e Tarefas. IN: 
Neves MCP. Comissões de Ética: das bases teóricas à actividade quotidiana. 2. 
ed. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 2002. 
DEBLOIS, J; NORRIS, P; O'ROURKE; K. A primer for health care ethics. 
Washington: Georgetown University Press, 1995 
FRANCISCONE, C.F; GOLDIM, J.R; LOPES, M.H.I; O papel dos comitês de 
bioética na humanização da assistência à saúde. Bioética. 2002 
FERRER, J.J. Historia y fundamentos de los comités de ética. IN: Martinez JL. 
(ed.) Comités de Bioética. Madrid: Comillas, 2003. 
FLETCHER, J.C; SIEGLER, M; What are the goals of ethics consultation? A 
consensus statement. J Clin Ethics, 1996. 
GAUER, G.J.C; LOCH, J.A; KIPPER, D.J; DIAS, H.Z.J; BORGES, G.S; RUBIN, 
R; KILIAN, G. Breve reflexão a propósito dos Comitês de Bioética. In: Loch 
JA, Gauer GJC, Casado M. (org.) Bioética, interdisciplinaridade e prática clínica. 
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008 
GILLIGAN, C. In a different voice: psychological theory and womens 
development. Cambridge: Harvard University Press; 1982. 
ORGANIZACIÓN de las Naciones Unidas para la educación, la ciencia y la 
cultura División de ética de la ciencia y la tecnología. Guía Nº 2 Funcionamiento 
de los comités de bioética: procedimientos y políticas. Publicado por la 
Organización de las Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura 
7, Place de Fontenoy, 75352 París 07 SP Francia. 2006. 
 
VOLLMANN, J. The implementation process of clinical ethics consultation: 
concepts, resistance, recommendations. Revista Romana de Bioetica, Vol. 11, 
Nr.3, iulie – septembrie, 2013. 
UNESCO. Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos. 2005. 
URBAN, C.A. Modelo do Comitê de Bioética do Hospital Nossa Senhora das 
Graças em Curitiba. In: Urban CA. Bioética Clínica. Rio de Janeiro: Revinter, 
2003.

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