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Responsabilidade civil


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É cabível a responsabilidade civil a responsabilização pelo desafeto?
Débora Juliane Damasceno 
Introdução
O presente trabalho busca fazer uma análise crítica sobre a aplicação da responsabilidade civil em casos de abandono afetivo de pais para com filhos. Para tal, será apresentado algumas modalidades de dano nas relações familiares, sendo estes os horizontais e verticais, o qual é passível se cogitar a possibilidade de conceder danos morais comprovada a sua existência. O motivo pelo qual tais danos, especificamente os danos por abandono afetivo, são vislumbrados jurisprudencialmente, com base nos escritos de Anderson Schreiber no livro Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil Da Erosão dos Filtros da Reparação à Diluição dos Danos Por fim, apresentar-se-á uma conclusão sobre o entendimento da responsabilidade civil em tais casos.
Modalidades de danos
Acerca das modalidades de dano nas relações familiares, podemos inferir a existência de duas, sendo estas as horizontais, que diz respeito a aquela que se dá entre os cônjuges e a vertical, que se verifica entre pais e filhos. Sobre a primeira, pode-se dizer que esta decorre do descumprimento de deveres matrimoniais, tais como, dever de fidelidade recíproca; vida em comum, no domicílio conjugal; mútua assistência, respeito e consideração mútuos, previstos no artigo 1.566 da Constituição Federal de 1988 (CF/88). Já a segunda decorre do descumprimento de deveres de cuidado previstos constitucionalmente, o qual preceitua no art. 1.634, que Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: I - dirigir-lhes a criação e a educação; II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada e na legislação espaça, o Estatuto da Criança e Adolescente, que prescreve em seu artigo 4° que é “dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” . 
Considerações sobre o aumento dos pedidos de dano moral a luz dos escritos de Anderson Schreiber
Em seu livro Schreiber apresenta que, como resultado direto da erosão dos filtros tradicionais da reparação um maior número de pretensões indenizatórias passou, gradativamente, a ser acolhido pelo Poder Judiciário. Nos atuais contextos, os pressupostos da responsabilidade civil relacionados à imputação do dever indenizar (culpa e nexo causal) perdem relevância em face de uma certa ascensão do elemento dano. Por décadas relegadas a um patamar secundário, advindo da sua fácil verificação sob a ótica materialista, este pressuposto vem, pouco a pouco, conquistando local de destaque na análise jurisprudencial, como elemento apto, por si só, a atrair a atuação das cortes em amparo as vítimas dos infortúnios mais diversos.
O aumento vertiginoso do dano moral se dá em parte, de fenômenos evidenciados, como, o ocaso da culpa e a flexibilização do nexo de causalidade, que geram como consequência um maior grau de aceitabilidade de pedidos ressarcitórios, em razão de que o afrouxar dos requisitos para a reparação resulta necessariamente na sua ampliação. Verifica-se uma expansão qualitativa, na medida em que novos interesses existenciais atinentes à pessoa humana, e, do outro lado, a verificação de danos demasiados abrangentes, identificados com interesse transindividuais ou supra-individuiais, que passam a ser considerados dignos de proteção.
No Brasil, registra-se que “seja pelo significativo desenvolvimento dos direitos da personalidade, seja pelas vicissitudes inerentes a um instituto que só recentemente tem recebido aplicação mais intensa, a doutrina vem apontando uma extensa ampliação do rol de hipóteses de dano moral reconhecidas jurisprudencialmente.
Abandono Afetivo e dano moral em relações familiares, análise do caso concreto 
Em seu livro Anderson Schreiber apresenta um exemplo de caso de abandono afetivo, trata-se de uma demanda pelo qual o filho requer do pai, que lhe deixa de dar “carinho e atenção” ao longo da formação de sua personalidade. Com base em seus conhecimentos investigativos do ordenamento o autor conclui que não existe um dever de amor e que cabe aos pais o dever de cuidado, resguardando o direito subjetivo de autodeterminação dos pais.
Conclusão
De acordo com o exposto, vale ponderar que a Responsabilidade Civil não poderia ser utilizada nessa situação aqui analisada (Teoria do “Desamor”), considerando que sentimentos não podem ser equiparados a pecúnia. Pois, como se trata de um dano moral tem a função de ressarcimento aos danos causados, fazendo com que a vítima fique em uma posição equitativa a que estava anteriormente. 
O que se observa é que o ressarcimento que é buscado através da Teoria do desamor, é um resgate a função punitiva que a Responsabilidade Civil tinha, apontando para sua função vingativa. Isso ocorre, a partir do momento que se transforma a falta de atenção e comprometimento dos pais na criação dos filhos em uma questão mensurável economicamente. Já que não é possível como explana Schreiber basear o dano moral tendo em vista a gravidade da ofensa e a dor sofrida.