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165
IVAN MENEZES
importância do Estudo de impacto de vizinhança (EIV) na concepção de projeto: estudo do CAso horto bela vista
SALVADOR - BAHIA
2017
IVAN MENEZES
importância do Estudo de impacto de vizinhança (EIV) na concepção de projeto para diminuição de riscos: estudo do CAso horto bela vista
Artigo Científico apresentado à Comissão de Estágio, do curso de Engenharia de Produção Civil da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, como parte dos requisitos para fins de aprovação na disciplina Estágio Supervisionado. 
Orientadora: Profª Tânia Regina Dias Silva Pereira
SALVADOR - BAHIA
2017
MENEZES, Ivan. Importância do Estudo de impacto de vizinhança (EIV) na concepção de projeto para diminuição de riscos: estudo do caso Horto Bela Vista
Resumo: O presente estudo analisa a importância do Estudo de Impacto de Vizinhança – EIV da concepção de projetos de grandes empreendimentos, tendo como referencial a edificação do Complexo Horto Bela vista. Permite o conhecimento do contexto histórico urbanístico soteropolitano, descrito como neoliberal, visando a compreensão de como os impactos urbano sociais ao entorno têm sido desprezados na gestão do desenvolvimento imobiliário. O EIV consiste em elemento cautelar, previsto no Estatuto das Cidades, a ser regulado por legislação municipal, embora muitas vezes desprezado pelo órgão fiscalizador do uso do solo. O projeto ora sob análise, inserido em região conhecida como acesso norte, é gerador de grande modificação na configuração urbana da localidade, contemplando 19 edifícios residenciais, 1 clube social privativo, 1 escola, 1 parque e 1 Shopping Center, e, corroborando com o cenário de segregação socioespacial, foi licenciado sem a exigência de apresentação de EIV. Entretanto, verifica-se que, a partir de iniciativa do Ministério Público do Estado da Bahia, firmou-se compromisso de realização do referido estudo, mesmo já tendo, o projeto da mega edificação, recebido alvará de licenciamento. Diante dos possíveis impactos negativos identificados, foi pactuado compromisso para adoção de diversas medidas mitigadoras, que totalizam uma quantia superior a 2,5 milhões de reais em custos não previstos inicialmente para o projeto.
Palavras-chave: EIV, Impactos urbanos, Impactos sociais, Segregação sociopespacial.
1. introdução
O presente artigo visa avaliar a importância do Estudo de Impacto de Vizinhança – EIV para a diminuição de possíveis riscos econômicos na concepção de projetos de grandes empreendimentos, igualmente, como instrumento balizador do desenvolvimento sustentável, na consecução de uma cidade mais democrática, livre e sustentável. O estudo toma como referência o empreendimento Complexo Horto Bela Vista, projetado pela Construtora JHSF Empreendimentos.
Inicialmente, traz-se uma retrospectiva histórica contemporânea, para compreensão do atual cenário urbanístico, político e social, com vistas a expor o panorama imobiliário e perfil dos principais atores do ordenamento do desenvolvimento urbano, a expressa priorização, na última década, dos interesses mercadológicos sobre a terra urbana na primeira capital do País (BALTRUSIS et al, 2017), a importância dos bairros na preservação do sentido da vida coletividade, que é a alteridade, intersubjetividade, intercambio. 
Em seguida, aborda-se os impactos urbanísticos sociais, com enfoque aos vinculados ao caso concreto analisado. Para então, no item subsequente, explanar sobre o Estudo de Impacto de Vizinhança - EIV, seus conceitos, normatização, classificação de empreendimento à que é exigido.
Adiante, é feito a descrição do empreendimento Complexo Horto Bela Vista, projetado pela Construtora JHSF Empreendimentos, do Estudo de Impacto de Vizinhança elaborado pela empresa Planarq, contratada pelo empreendedor, e as medidas de contrapartida pactuadas para mitigação dos possíveis impactos urbanísticos negativos a ser gerados pela implantação.
Por fim, expressa-se uma síntese do estudo de caso, com intuito de avaliar a importância do instrumento do EIV, para redução de riscos econômicos vinculados aos possíveis impactos negativos, bem como a proposta, durante a concepção, de medidas de contrapartida social, para sua minimização.
2. retrospectiva histórica, cenário urbanístico, TIPOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO URBANO, E a importância dos bairros para a vida coletiva
A cidade de Salvador foi fundada em 1594, em razão de necessidades político administrativas e mercantis na época colonial, permaneceu como capital do País até 1763. Na segunda metade do século XX, houve o surgimento de uma nova centralidade no município, resultante de investimentos públicos e privados, como a construção da Avenida Luís Viana Filho, o Centro Administrativo da Bahia, a nova rodoviária, o Shopping Center Iguatemi, o primeiro hipermercado da cidade e os modernos prédios de escritórios localizados principalmente na Avenida Tancredo Neves (RAMOS, 2013, p. 14)
Como resultado dessa nova centralidade, a região geograficamente central de Salvador, conhecida como Miolo, localizada entre a BR 324 e a Avenida Paralela, se tornou a localidade que concentrou a moradia da população mais pobre da cidade de Salvador, formada por trabalhadores das regiões próximas ao Centro Novo e também dos Polos Industriais (RAMOS, 2013, p. 15)
Em contrapartida, a região da Cidade Baixa, antigo centro urbano, e do Subúrbio Ferroviário, por onde iniciou-se a sua ocupação urbana de Salvador, tornaram-se cada vez mais pobres. Essas regiões estavam distantes dos dois centros urbanos e deixaram de ser alvo de políticas urbanas sendo privilegiadas as novas necessidades do Miolo.
Ressalta ainda, Ramos, que “os bairros da orla Norte, e localizados próximos ao Centro Novo se tornaram bairros habitados pela população de maior renda e onde houve maior dotação de equipamentos públicos urbanos”, tornando alvo do mercado imobiliário, em uma conexão direta dos investimentos de políticas públicas e a valorização de áreas (RAMOS, 2013, p. 14-15). 
É nestes bairros mais favorecidos que reside a população de melhor renda, político, social e culturalmente influentes, que, por sua vez, utilizam a cidade como moeda de troca, capitaneando infraestruturas, estruturas e serviços públicos para seus bairros, tornando-os, assim, ainda mais valorizados, em detrimento dos bairros mais afastados do centro e onde reside a população de menor renda.
Vislumbra-se então, que, a capital baiana retrata, um planejamento urbano semelhante ao da cidade de Rio de Janeiro, que, como estudado por Vainer (2011), apresentou um modelo de “planejamento urbano mercantil através de planejamento estratégico de zoneamentos e planos diretores”, pelo que se conhece como “amigável ao mercado” (market friendly) e “orientado pelo e para o mercado” (market oriented). 
Traz-se, ainda, os ensinamentos de Baltrusis et al (2017, p. 2), que demonstram o modus operandi da gestão do Município de Salvador:
O panorama da habitação em Salvador na última década indica a ascensão de uma agenda neoliberal na gestão do município, nota-se uma subversão dos princípios iniciais estabelecidos no arcabouço legal brasileiro, expressa pela priorização dos interesses mercadológicos sobre a terra urbana, marcada pelo forte incentivo ao aquecimento da construção civil, do mercado imobiliário e empreendimentos e operações de grandes grupos corporativos sobrepondo-se ao atendimento das demandas sociais, em especial a moradia.
Este detalhamento elucida o cenário soteropolitano, nas relações entre megaempreendimentos e planejamento estratégico municipal, como ferramenta de poder na cidade, na apropriação do espaço urbano como moeda de troca em detrimento da qualidade de vida de seus citadinos, uma vez que este tipo de desenvolvimento, com seus interesses voltados ao mercado e lucro, além do oblívio das áreas mais carentes e necessitadas de investimentos públicos,possibilita a execução de grandes empreendimentos de grande impacto urbano social na região inserida.
Os empreendimentos de grande porte, associado à complacência e gestão neoliberal, representam ótima viabilidade econômica, com aquecimento da economia e confiável retorno financeiro para os investidores privados, através da valorização imobiliária, e pela concessão de serviços coletivos públicos, através da atividade Municipal discricionária direcionada, que geram mais-valias ampliadas, e, em decorrência disto, uma possessão dos equipamentos públicos, através da privatização seletiva e exclusividade no uso e consumo, que se verifica atualmente em Salvador (CARVALHO e PEREIRA, 2014)
Essa estrutura de planejamento e desenvolvimento dirigida pelo mercado econômico é refletida na divisão social da cidade em classes, e vislumbra-se nos bairros, onde retratam a luta pela terra, o valor da terra, o mercado fundiário de terras.
Pertinente à distribuição cultural dos bairros, é aí que estão os pequenos núcleos, onde tem vida, vibração. Nestes espaços encontram-se a fiel imagem da cultura de seus moradores, comerciantes e transeuntes, esculpidos, muitas vezes, desordenadamente, pela população, órfãos de políticas públicas de desenvolvimento sustentável, na busca por estratégias de sobrevivência.
 Traz-se aqui as palavras de Netto (2017), para deslindar sobre as conformações urbanas:
A rede de ruas é uma produção que tende a permanecer por séculos. A massa edificada é uma produção de anos e tende a permanecer por décadas, até ser substituída. Atividades têm durabilidade mais volátil, podendo durar meses, anos ou até séculos; padrões de localização de atividades podem levar anos ou décadas até se tornarem perceptíveis. O movimento pedestre emerge diariamente, rapidamente se estruturando em hierarquias e padrões. 
Infelizmente, vem se configurando o surgimento de "novos bairros", estes sem conteúdo, sem história, artificialmente criados para atender, através da proliferação de condomínios verticais e horizontais fechados, de uma demanda das camadas de alta e média renda. Com referência a esse assunto Carvalho e Pereira (2014) diz que:
Com a expansão dos enclaves fortificados e orientados para a homogeneidade social, algumas vezes com as características de megaempreendimentos que concentram mais de mil unidades residenciais, como o Horto Bela Vista, que pretende conjugar, no seu espaço, várias dimensões de vida urbana, como moradia, trabalho, consumo e lazer.   
A preocupação é latente e não deve ser desconsiderada pelo poder público municipal, na regulamentação, análise e fiscalização quando da implantação de grandes impactadores sociais, uma vez que estas mudanças vêm reproduzindo e reforçando os padrões de segregação e segmentação e as desigualdades que se conformaram historicamente nessa capital (CARVALHO e PEREIRA, 2014).
Esse tipo de desenvolvimento voltando ao ganho, utilizando as áreas urbanas como moeda de troca, sem qualquer atuação eficiente do Município é extremamente danosa, conforme preceituam os especialistas Carvalho e Pereira (2014, p. 256).
(...) a produção atual de megacondomínios verticais e horizontais, com seus aparatos de separação e distanciamento, os quais, além de propiciar uma homogeneidade social, impedem a porosidade urbana e asseguram que qualquer mistura social só poderá acontecer fora de suas fronteiras.
Deste modo, Salvador está perdendo o que tem de mais essencial que é alteridade, intersubjetividade, intercambio e o próprio sentido da vida coletiva, transformando-se em cidadelas de condomínios horizontais ou verticais, fechados e murados. 
3. IMPACTOS ao ENTORNO NO DESENVOLVIMENTO DE MEGAEMPREENDIMENTOS e o EIV
Dentre impactos sócio urbanos produzidos pelos grandes empreendimentos, pode-se destacar, como principais categorias: segregação sócioespacial, comprometimento da mobilidade urbana, comprometimento do conforto ambiental, danos ao patrimônio cultural e a paisagem, mal-uso da propriedade, abuso do direito de propriedade, que levam ao aumento de espaço inutilizados ou subutilizados na cidade e ausência de espaços públicos de convivência, sendo relevante destacar, como mais importante à este estudo, a segregação sócioespacial.
3.1 SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL
Segregação significa separar, afastar, expelir, e, na análise urbanística social é vinculado à tendência contemporânea de criação de condomínios fechados, planejados, edificados e comercializados através do medo da insegurança, como forma de separar, deixar de fora, as pessoas e coisas indesejáveis, materializando-se “em cidades privadas, condomínios fechados, guetos pobres e ricos claramente separados no extenso espaço das cidades” (BALBIM, 2016, p. 38).
A Segregação Sócioespacial está associada à capacidade de dominar através do poder econômico, por apropriação, o espaço, material ou simbolicamente, de bens raros públicos ou privados, aproximar-se de pessoas e coisas desejáveis, com redução, assim, do gasto (principalmente em tempo) necessário para apropriar-se deles, na medida em que também mantêm à distância as pessoas e coisas indesejáveis.
A proximidade do espaço físico permite que a proximidade no espaço social produza todos os seus efeitos facilitando ou favorecendo a acumulação de capital social (...) inversamente, os que não possuem capital são mantidos à distância, seja física, seja simbolicamente, dos bens socialmente mais raros e condenados a estar ao lado das pessoas ou dos bens mais indesejáveis e menos raros (BOUDIER, 1993, p. 164).
 Bourdier (1993) nos ensina ainda que os ganhos de espaço (de localização), podem ser analisados em função de: proximidade com agentes e de bens raros ou cobiçados (equipamentos educacionais, culturais ou de saúde) e ganhos de posição ou de classe, vinculados aos ganhos simbólicos de distinção.
O poder resultante das proximidades físicas na luta pela terra podem ser medidas segundo unidade métrica, mas, também como unidade temporal, uma vez que a proximidade com estes bens supramencionados reduz o tempo de trânsito a estes, por meio de transporte público ou privado, facilitando a posse pelo usufruto do equipamento.
4. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA (EIV) NO COMBATE AOS MALES DO DESENVOLVIMENTO “MARKET FRIENDLY”
O Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) é um dos instrumentos para enfrentamento dos possíveis impactos sociais negativos, tanto no sistema de mobilidade quanto socialmente, aos moradores do entorno. O Estudo é exigido quando da implantação de grandes empreendimentos residenciais ou centros comerciais (shoppings centers), para consecução de uma cidade sustentável, democrática e menos desigual, de forma preventiva, previsto no art. 4º, IV, do Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257/2001.
O EIV, como instrumento indispensável no desenvolvimento imobiliário sustentável, deve analisar “os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades”, contemplando, no mínimo, a análise do adensamento populacional, equipamentos urbanos e comunitários, uso e ocupação do solo, valorização imobiliária, geração de tráfego e demanda por transporte público, ventilação e iluminação, paisagem urbana e patrimônio natural e cultural (art. 37 do Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257/2001).
Ainda, além de detectar, deve-se estimar tais efeitos indesejados, mitigar e compensá-los, como dito por FENKER (2007, p. 9):
Todos os danos (diferença entre custo e benefício, ou resultado entre impactos negativos e positivos) não aceitos pela sociedade deveriam ser reparados. A pressão da sociedade é de que estes danos sejam ZERADOS, na equação, eliminando o dano. 
Faz-se necessário, portanto, quando da implantação de empreendimento de grande porte que destoe do padrão ora encontrado, avaliar os impactos que irão ser provocados na dinâmica local, de forma a minimizar e preservar o modo de vida e a cultura local, através de Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) pautados nos princípiosda função social da cidade e da propriedade urbana, a fim de mediar os interesses entre empreendedores, gestão pública e cidadãos, tornando possível a adoção de medidas minimizadoras ou compensatórias dos impactos negativos gerados pelo crescimento urbano.
Entretanto, verifica-se, que o legislador, na redação da Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo do Município de Salvador – LOUOS, Lei nº 9.148 /2016, deixa brecha ao não determinar, claramente, que empreendimentos enquadrariam-se em “Empreendimentos Geradores de Impacto de Vizinhança – EGIV”, uma vez que é necessário um estudo para comprovar o potencial de impacto.
5. METODOLOGIA DE ANÁLISE DO EMPREENDIMENTO HORTO BELA VISTA
Será realizada coleta de informações a cerca da implantação do Empreendimento Complexo Horto Bela Vista, se foi desenvolvido Estudo de Impacto de Vizinhança quanto da elaboração do projeto, se foram identificados impactos que seriam provocados pelo empreendimento e, adiante, se foram adotados planos e projetos para mitigá-los, e se estas foram efetivamente executadas, bem como o custo destas. 
A presente pesquisa utilizará, como principais instrumentos o Inquérito Civil nº 003.0.176305/2008, que tramitou no Ministério Público do Estado da Bahia e o “Estudo de Impacto Urbanoambiental”, elaborado pela empresa Planarq, por extensa equipe de 18 especialistas de diversas áreas (arquitetura, engenharia química, economia, assistência Social, engenharia civil e ambiental e engenharia sanitária), que resultou em um detalhado relatório de caracterização e diagnóstico e relatório de avaliação de impactos que contam, ao todo, com 951 folhas.
6. O EMPREENDIMENTO HORTO BELA VISTA
O Projeto do Empreendimento Horto Bela Vista está localizado na Rua dos Rodoviários no bairro do Cabula, Acesso Norte, às margens da BR-324, na Cidade de Salvador/Bahia, na congruência das principais avenidas da cidade do Salvador. É composto, em sua totalidade, de 19 edifícios residenciais com 32 a 34 pavimentos cada, distribuídas em 7 glebas condominiais, totalizando 3.046 unidades residenciais e 6.100 vagas de estacionamento, 3 edifícios comerciais com 1.280 unidades comerciais e 1hotel/flat com 448 unidades hoteleiras agrupadas em um único grupo de edifícios totalizam 4.047 vagas de estacionamento, 1 clube social privativo, 1 escola, 1 parque e 1 Shopping Center, distribuídos numa propriedade de área de 329.911,96 m², uma área útil de 213.340,00 m² e, com uma área construída de 1.050.314,20 m².
Para implantação do empreendimento, quando da análise, pelo Município, da solicitação de alvará de construção, não foi exigido a apresentação de Estudo de Impacto Urbano e Ambiental pela Superintendência de Uso e Controle do Solo (SUCOM), órgão responsável à época em avaliar se este enquadrar-se-ia em “Empreendimentos Geradores de Impacto de Vizinhança – EGIV”, como preceitua a Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo do Município de Salvador – LOUOS (Lei nº 9.148 /2016), não tendo sido exigido, quando do pedido de concessão de alvará construtivo, tal instrumento de protetivo.
Entretanto, verificando-se o porte do empreendimento proposto, o Ministério Público do Estado da Bahia, através da Promotoria de Justiça de Urbanismo, iniciou processo dialogal técnico com a empreendedora, e veio a firmar três Termos de Ajustamento de Conduta (TAC), para mitigação dos impactos urbanoambientais identificados.
A principal medida de compromisso consignada nestes acordos foi o compromisso de contratação de equipe multidisciplinar para a elaboração de Estudo de Impacto de Urbanoambinetal (EIUA), também conhecido como Estudo de Impacto de Vizinhança, laborado, como dito, pela Planarq, onde identificou e quantificou tanto os impactos negativos quanto positivos, bem como os planos e projetos que poderiam ser adotados para mitigar os impactos negativos e potencializar os impactos positivos.
O minucioso estudo detalhou as condições prévias, a localidade, e de todos os tipos de alterações que o empreendimento viria a ensejar, identificando exatamente que medidas poderiam ser adotadas para mitigar os impactos negativos ensejados pela mega edificação.
Os especialistas, concluíram, como se verifica na Matriz de Interação de Impactos (Planarq, 2012), (Anexo B), que os dois principais impactos mobilidade urbana e a segregação sócio espacial estabelecida pelo empreendimento, especialmente em relação aos bairros do cabula, Pernambués e Saramandaia, dificultando a permeabilidade social, e a capilaridade econômica.
A construtora e incorporadora JHSF, ao final das edições e adições dos três Termos de Ajustamento de Conduta firmado no Ministério Público do Estado da Bahia, assumiu o compromisso de implantar/executar diversas medidas mitigadoras, pelo que destacamos, como mais significativas no que concerne aos impactos urbano sociais, as seguintes:
Realização de Estudo de Impacto Urbano e Ambiental, mediante contratação de equipe multidisciplinar. Status: Finalizada.
Elaboração do Plano Urbanístico do Centro Municipal Retiro Acesso Norte, com investimento de até R$ 200.000,00. Status da medida: Finalizada.
Elaboração de estudo de alternativas viárias para interseção da Rua Silveira Martins, Ladeira dos Rodoviários, Rua Tomaz Gonzaga e Rua Cristiano Buys, com inclusão de diversos cenários, e análise de viabilidade técnica e econômica das alternativas, bem como a elaboração de estudo para aferir a necessidade de implantação de um mergulhão ou substituição por semáforo, além do compromisso de implantação de rampas de acessibilidade de pedestres, pavimentação das calçadas, piso tátil, adequação e equipamento dos pontos de ônibus, instalação de paraciclos, criação de ciclovias e ciclo faixas, iluminação pública, arborização e sinalização de trânsito, comunicação e de transportes, entre outros itens. Status da medida: Finalizada.
Implantação de projeto elaborado pela Planarq de requalificação, melhorias paisagísticas e infraestrutura da Praça Arthur Lago, no bairro de Pernambués, incluindo rampas de acessibilidade, piso tátil e sinalização obrigatória, com investimento de R$ 500.000,00; Status da medida: Finalizada.
Utilização de gradis, para delimitação das divisas frontais e voltadas a logradouro público, ao invés de muros de alvenaria anteriormente projetados, a fim de mitigar a auto segregação do empreendimento; Status da medida: Finalizada.
Construção de acesso para pedestres ao longo da encosta entre a Av. Luis Eduardo Magalhães e a Rua Silveira Martins articulando-se com o trecho da Rua Belchior Maia de Athayde. Status da medida: Finalizada.
Oferta de curso de capacitação profissional/lideranças comunitárias e educação ambiental para mil pessoas, com investimento máximo de R$ 250.000,00. Status da medida: Finalizada.
Revitalização do Centro Social Urbano de Pernambués, com investimento de R$ 300.000,00. Status da medida: Finalizada. 
Implantação de praça pública no bairro de Saramandaia, em área de 5 mil metros quadrados, com investimento total de R$ 1.500.00000, contemplando os valores destinados à indenização de poses e benfeitorias da área pública onde será construída a praça; a contratação de estudos complementares e a efetiva implantação dos respectivos projetos. Status da medida: Em andamento.
Consta-se, também, nos acordos firmados entre a empresa construtora e o órgão fiscalizador, diversos outros compromissos de cunho ambiental, em que a empresa assegurou o uso de “tecnologias limpas”, tanto durante a construção, quanto na fase de funcionamento dos edifícios, que não foram discriminados aqui por destoarem do foco desta pesquisa.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De ante de todo o conteúdo apresentado, verifica-se que a gestão do Município de Salvador apresenta um desenvolvimento urbano neoliberal, com licenciamentos claramente causadores de impactos urbanísticos, sem fazer uso do instrumento cautelar do Estudo de Impacto de Vizinhança, quando do licenciamento construtivo de empreendimentos causadores de possíveis grandes impactos negativos aomeio ambiente urbano e social.
Não obstante tal omissão, verificou-se que, no caso em análise, o Ministério Público do Estado da Bahia, através da Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo, ao perceber as proporções do empreendimento, logrou êxito em firmar acordo com o empreendedor para elaboração do referido estudo.
Diante de tal documento, foi possível o auferir, estimativamente, qual poderia ser os impactos ao entorno do projeto como se encontrava no projeto inicial, tendo sido acordado a alteração de pequenos pontos arquitetônicos minimizadores, e execução de projetos urbano sociais para as comunidades mais afetadas (Pernambués e Saramandaia), que gerou um custo adicional não planejado de mais de 2,5 milhões de reais.
Ademais, verificou-se o consistente postura de compromisso social da empresa empreendedora JHSF, que, diante das conclusões do estudo dos impactos às comunidades, pactuou diversas medidas para mitigá-las.
Como sugestão para futuros trabalhos, recomenda-se diligência de campo para verificação sobre os reais efeitos das medidas adotadas, com nova pesquisa à comunidade.
	Deste modo, observa-se que é imprescindível a realização do EIV na concepção de projetos de grandes empreendimentos, para a diminuição possíveis riscos econômicos. Ademais, o EIV é instrumento indispensável para o desenvolvimento sustentável, na consecução de uma cidade mais democrática, livre, justa, menos desigual e sustentável.
8. REFERÊNCIAS
BALBIM, R. Mobilidade: uma Abordagem Sistêmica. In: Cidade e movimento: mobilidades e interações no desenvolvimento urbano / organizadores: Renato Balbim, Cleandro Krause, Clarisse Cunha Linke. Brasília: Ipea: ITDP, 2016.
BALTRUSIS, N.; et al. Salvador, do pioneirismo da implementação da Política Nacional de Habitação à gestão corporativa. In: Desenvolvimento, crise e resistência: Quais os caminhos do Planejamento Urbano e Regional? São Paulo. XVII ENANPUR, 2017. 
BOURDIEU, P. Efeitos de lugar, in Pierre Bourdieu (Coord.) A miséria do mundo. Petrópolis: Editora Vozes. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 159-166
CARVALHO, I.M.M.; PEREIRA, G. C. Salvador, uma metrópole em transformação. In: Inaiá Maria Moreira de Carvalho; Gilberto Corso Pereira. (Org.). Salvador: transformações na ordem urbana. 1ed. Rio de Janeiro: Letra Capital / Observatório das Metrópoles, 2014, v. 1, p. 236-261.
FENKER, E. Impacto Ambiental e Dano Ambiental. 2º Seminário sobre Sustentabilidade. UNIFAE – Centro Universitário São Francisco. Curitiba, 2007.
NETTO, V.M. A cidade como resultado: consequências de escolhas arquitetônicas. In: V.M. Netto, R.T. Saboya, J.C. Vargas, T. Carvalho. (Org.). Efeitos da Arquitetura: Os Impactos da Urbanização Contemporânea no Brasil. 1ed. Brasília: FRBH, 2017, v. 1, p. 25-50.
PLANARQ. Estudo de Impacto Urbanoambiental (EIUA) para o empreendimento Horto Bela Vista, localizado em Salvador/BA. Salvador, JHSF Salvador Empreendimentos e Incorporações S/A, Salvador, 2010. v. 2.
RAMOS, D. L. Desigualdade urbana e interações espaciais nos preços de imóveis na cidade de Salvador. Salvador, 2013.
VAINER, C. Cidade de Exceção: Reflexões a Partir do Rio de Janeiro. Anais do XIV Encontro Nacional da Associação Nacional de Planejamento Urbano (ANPUR), vol. 14. Rio de Janeiro, 2011.
ANEXO A – Mapa locacional do Empreendimento Horto Bela Vista – Planarq
ANEXO B – Matriz de Interação de Impactos – Planarq
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA I
COLEGIADO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO CIVIL

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