Buscar

2016 EnANPAD EPQ372

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/304989394
O uso do método fenomenográfico na pesquisa científica em Administração no
Brasil
Conference Paper · June 2016
CITATIONS
0
READS
207
2 authors:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
The Ethics In Practice Is Something Else – Understanding The Moral Dilemmas Experienced In Public Management View project
Perspectivas epistemológicas no secretariado executivo View project
Fernanda Geremias Leal
Universidade do Estado de Santa Catarina
38 PUBLICATIONS   29 CITATIONS   
SEE PROFILE
Laís Silveira Santos
ESAG/UDESC
19 PUBLICATIONS   17 CITATIONS   
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by Fernanda Geremias Leal on 18 September 2016.
The user has requested enhancement of the downloaded file.
	
1 
	
O Uso do Método Fenomenográfico na Pesquisa Científica em Administração no Brasil 	
	
Autoria: Fernanda Geremias Leal, Laís Silveira Santos	
	
Resumo	
	
O pressuposto de que os indivíduos, baseados em suas vivências, têm maneiras 
qualitativamente diferentes de experienciar fragmentos da realidade ao seu redor faz da 
fenomenografia um método de pesquisa qualitativa que visa à apreensão das diversas 
concepções acerca de um fenômeno. Ainda que originalmente vinculada à educação, essa 
estratégia tem sido aplicada em outros campos do conhecimento. Nesses sentido, e diante do 
fato de que as abordagens metodológicas em si também se constituem como fenômeno de 
pesquisa, torna-se relevante analisar as possibilidades e as limitações de uso do método 
fenomenográfico nos estudos organizacionais. Este artigo visa a caracterizar a fenomenografia 
e seu uso na ciência da Administração no Brasil, por meio de um delineamento descritivo e 
qualitativo. Realizou-se um resgate teórico da fenomenografia, bem como uma revisão 
sistemática das teses, das dissertações e dos artigos científicos brasileiros que fizeram uso do 
método. Os resultados demonstraram que os estudos fenomenográficos no referido campo 
iniciaram aproximadamente em 2008, com os primeiros trabalhos stricto sensu publicados a 
partir de 2010. A principal limitação identificada nos trabalhos analisados está relacionada à 
sua aplicabilidade. Mesmo assim, o presente estudo nos permitiu considerar a fenomenografia 
como uma abordagem com potencial significativo na busca pela compreensão dos fenômenos 
sociais, a partir das diferentes formas pelas quais os indivíduos os concebem, constituindo-se 
como estratégia complementar a outras modalidades de pesquisa no campo da Administração. 
Refinamentos de fenomenógrafos experientes continuam sendo necessários; entretanto, a 
fenomenografia se configura como um método emergente com efetivas possibilidades de 
aplicação dentro na administração.	
	
Palavras-chave: Fenomenografia. Método Fenomenográfico. Métodos qualitativos. 	
	
1 INTRODUÇÃO	
	
O contexto de surgimento da pesquisa qualitativa é marcado por um processo 
multicultural, histórico, que teve a etnografia como um de seus fundamentos. Esse aspecto 
abrangente se manifesta nas suas características de posturas epistemológicas, nas tensões, 
limites e avanços metodológicos. Nas palavras de Denzin e Lincoln (2006, p. 21), “a pesquisa 
qualitativa, enquanto conjunto de práticas, envolve, dentro de sua própria multiplicidade de 
histórias disciplinares, tensões e contradições constantes em torno do projeto propriamente 
dito, incluindo seus métodos e as formas que suas descobertas e suas interpretações 
assumem”. 	
Schwandt (2006) reconhece como posturas epistemológicas da pesquisa qualitativa o 
interpretativismo, a hermenêutica filosófica e o construtivismo social, os quais enxergam seus 
fenômenos sociais a partir de pontos de vista por lentes diferentes, mas não antagônicas. Há, 
nessas três posturas, elementos em comum que garantem à pesquisa qualitativa a manutenção 
de sua essência, tais como a fidelidade em relação aos fenômenos, o respeito pela experiência 
de vida e a atenção aos detalhes do cotidiano.	
Contudo, o constante avanço da pesquisa qualitativa exige do pesquisador uma 
atenção ao rigor científico, com ética e respeito aos sujeitos ou fenômenos focalizados na 
investigação, com o correto uso das técnicas de coleta e análise de dados, entre outros fatores 
que, se desconsiderados, podem comprometer sua validação. Como bem falaram Gergen e 
Gergen (2006, p. 367), “não enxergamos as dúvidas e as discordâncias como as dores do parto 
	
2 
	
de um novo fundamento metodológico, mas, sim, como oportunidades para novas conversas e 
novas evoluções na prática”.	
Com a aproximação de novos desenvolvimentos de pesquisa, emergem técnicas e 
perspectivas de se trabalhar com dados qualitativos que podem contribuir para as necessidades 
de respostas à “crise da validade” que talvez represente a principal tensão desse campo. Para 
que o pesquisador qualitativo tenha um olhar mais aproximado do “todo” e para que seus 
resultados sejam mais confiáveis, é imprescindível que ele questione o papel da própria 
metodologia e dos critérios de avaliação e que ele se posicione como um “confeccionador de 
colchas”, que “costura, edita e reúne pedaços da realidade” (DENZIN; LINCOLN, 2006, p. 
19). 
Esses desafios e avanços parecem se justificar pela “juventude” da investigação 
qualitativa. Dado que seu delineamento enquanto método mais formal iniciou na década de 
1970, Silverman (2009) indica o desenvolvimento cada vez mais profundo deste método de 
investigação social, capaz inclusive de participar da criação de instituições, vistas enquanto 
comportamentos, e de reconstruções da realidade social. Além disso, o autor também destaca 
a aproximação com a pesquisa quantitativa como uma possibilidade de complementaridade 
entre os métodos (SILVERMAN, 2009).	
A partir dessas percepções, pesquisadores têm se dedicado ao estudo da abordagem 
em si, que também se constitui como um fenômeno de pesquisa nas ciências sociais e, mais 
especificamente, no campo da Administração (GERGEN; GERGEN, 2006). Esse fenômeno 
pode ser observado na divisão acadêmica “Ensino e Pesquisa em Administração e 
Contabilidade” da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração 
(ANPAD) e em temas contemplados pelo Encontro da ANPAD (EnANPAD), como 
“Ontologia, Epistemologias, Teorias e Metodologias nos Estudos Organizacionais” e 
“Estratégias e Métodos de Pesquisa Quantitativos e Qualitativos”. Além disso, Programas de 
Pós-Graduação em Administração têm inserido em seus conteúdos disciplinares a discussão 
de novos ou não tão habituais métodos de pesquisa, como parece ser o caso da estratégia de 
pesquisa fenomenográfica, foco de discussão neste artigo. 	
Em busca de discussões realizadas nos eventos da ANPAD acerca desse método, tanto 
em forma teórica quanto empírica, encontramos cinco artigos, sendo um exemplo recente o 
intitulado “Fenomenografia e a valoração do conhecimento nas organizações: Diálogo entre 
método e fenômeno” (CHERMAN; ROCHA-PINTO, 2015), apresentado e premiado no 
XXXIX EnANPAD.	
Inspiradas no trabalho de Cherman e Rocha-Pinto (2015) e em outros da mesma 
natureza, que nos possibilitaram conhecer a fenomenografia enquanto método de pesquisa 
qualitativa, objetivamos nesse artigo caracterizar o método fenomenográfico e suas 
perspectivas de uso na ciência da Administração no Brasil.	
Para alcançá-lo, optamos por um delineamento descritivo e qualitativo. Inicialmente, 
realizamos um resgate teórico do método em estudo, seguido de levantamento bibliográfico de 
teses e dissertações nos portais Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações e Banco 
de Teses da CAPES, de onde foram selecionados estudos publicados na área da administração 
que contemplassemo método, sem restrição temporal. 	
Em sequência, consideramos estudos empíricos que não constituíssem teses ou 
dissertações, mas que tivessem sido publicados em revistas científicas nacionais reconhecidas 
e indexadas à base de dados Spell e disponíveis nos anais dos eventos científicos da ANPAD. 
Esperava-se, com esses procedimentos, identificar as possibilidades de uso e desafios 
metodológicos do método fenomenográfico, sobretudo no contexto da Administração. 
	
2 O MÉTODO QUALITATIVO EM EVIDÊNCIA: A FENOMENOGRAFIA	
	
	
3 
	
 Desenvolvida durante a década de 1970 por um grupo de pesquisa composto por 
Ference Marton, Roger Säljö, Lars-Öwe Dahlgren e Lennart Svensson, no Departamento de 
Educação da University of Gothenburg (Suécia), a fenomenografia é um método de pesquisa 
qualitativa que visa à apreensão das diversas concepções dos indivíduos acerca de um 
fenômeno. Seu pressuposto essencial é de que os indivíduos, baseados em suas experiências e 
vivências, têm maneiras qualitativamente diferentes de experienciar, conceituar, perceber e 
compreender aspectos do mundo – concebidos como fragmentos da realidade – ao seu redor 
(MARTON, 1986, BOWDEN, 2000, SANTOS; SILVA, 2015, CHERMAN; ROCHA-
PINTO, 2015). 
Trata-se, portanto, de uma pesquisa que tem como preocupação central as relações 
existentes entre os seres humanos e o mundo e cujo objetivo é a descrição, a análise e a 
compreensão das formas como as pessoas interpretam aspectos significativos da sua 
realidade, os quais são supostamente compartilhados entre os membros de um tipo de 
sociedade em particular (MARTON, 1981. 1986). 
 Uma série de pontos positivos pode ser evidenciada nas pesquisas amparadas nesse 
método. Para Marton (1981, p. 178), descobrir as diferentes maneiras pelas quais as pessoas 
“experienciam, interpretam, entendem, apreendem, percebem ou conceituam vários aspectos 
da realidade”, além de ser interessante por si só, tem um significativo potencial pedagógico. 
Além disso, as descrições emergentes da fenomenografia são autônomas.	Entretanto, alguns 
aspectos desfavoráveis também podem ser pontuados. Segundo Bowden (2000), a crítica à 
fenomenografia está principalmente relacionada à sua dificuldade de validação, à falta de 
poder de previsão, aos vieses dos pesquisadores e à negação da voz do indivíduo através da 
categorização.	
É relevante mencionar que o método fenomenográfico está predominantemente 
associado à pesquisa sobre ensino e aprendizagem, no campo da psicologia educacional 
(MARTON, 1986; BOWDEN, 2000). Nas palavras de Marton (1986, p. 141), 
“fenomenografia é uma abordagem de pesquisa projetada para responder a certas perguntas 
sobre o pensamento e a aprendizagem”. De acordo com Amaro e Brunstein (2011), o método 
foi concebido para compreender por que alguns estudantes aprendem melhor determinados 
conteúdos do que outros. Santos e Silva (2015, p. 2) complementam que o uso da 
fenomenografia no contexto da Educação “propõe um olhar mais amplo para compreender e 
descrever o impacto do processo de aprendizagem no aluno, por meio de suas experiências”. 	
Como Cherman e Rocha-Pinto (2015, p. 1) realçam, “a conscientização sobre os 
diferentes conceitos, resultado das diversas percepções dos modos de experimentar esse 
fenômeno, permite sistematizar as formas de pensamento em uma estrutura lógica, inclusiva e 
hierárquica”. A totalidade dessas categorias descritivas - que são relacionais, experienciais, 
qualitativas e orientadas para o conteúdo -, nesses termos, representa uma espécie de intelecto 
coletivo, assim como uma ferramenta evolutiva no desenvolvimento contínuo (MARTON, 
1981. 1986). 	
	
2.1 PRINCIPAIS ETAPAS	
	
Assim como nos outros tipos de pesquisa qualitativa, no caso da fenomenografia os 
pesquisadores precisam ter clareza dos objetivos do estudo e das estratégias que lhes 
permitirão alcançar os resultados em que estão interessados (BOWDEN, 2000). Poucas obras 
fornecem detalhes sobre suas etapas. Conforme Lopes (2012, p. 85) argumenta, apesar do 
desenvolvimento da fenomenografia ter iniciado na década de 1970, “somente no final da 
década de 1990 começou a ser desenvolvida uma literatura que descrevesse os requisitos 
metodológicos apropriados do método”. Marton (1986) e Bowden (2000) são dois dos autores 
que descrevem em termos mais concretos como ela é conduzida. De modo geral, o processo 
	
4 
	
engloba quatro principais etapas: planejamento, coleta, análise e interpretação dos dados.	Os 
objetivos da pesquisa, elaborados na etapa de planejamento, devem ser articulados de modo a 
nortear todas as ações subsequentes do processo. 	
 A entrevista tem sido a principal fonte para a coleta de dados fenomenográficos 
(MARTON, 1986; SANTOS, SILVA, 2015). Segundo Marton (1986) e Bowden (2000), as 
perguntas em si, bem como a forma de perguntá-las, são aspectos significativos ao uso 
adequado da fenomenografia. Elas representam um diagnóstico, que deve revelar as maneiras 
qualitativamente diferentes pelas quais um fenômeno é compreendido em determinado 
contexto.	
Nesse sentido, as questões devem ser tão abertas quanto possível, para que os 
indivíduos tenham a liberdade de escolher as dimensões que eles desejam abordar em suas 
respostas, pois tais dimensões traduzem aspectos relevantes de sua estrutura e, por isso, 
também são consideradas dados (MARTON, 1986). Assim, os conceitos norteadores das 
questões não são necessariamente explicitados nelas (BOWDEN, 2000). 	
 Santos e Silva (2015), recomendam, além de entrevistas, instrumentos de coleta 
complementares, como: grupos de discussão; desenhos; observação; análise documental. No 
seu entendimento, é importante que o instrumento de coleta de dados incentive o diálogo em 
torno do fenômeno.	
Conforme Marton (1986) argumenta, não é possível especificar técnicas exatas de 
análise para a pesquisa fenomenográfica. Da mesma forma, não há algoritmos que permitam 
desvendar as maneiras qualitativamente diferentes pelas quais as pessoas conceituam um 
fenômeno. Com base nisso o autor descreve três etapas gerais a serem seguidas (MARTON, 
1986): 	
A primeira etapa da análise diz respeito a uma espécie de processo de seleção, feita 
com base em critérios de pertinência. Enunciados relevantes para a questão a ser investigada 
são selecionados e marcados. Na segunda etapa, o fenômeno em análise é estreitado e 
interpretado a partir das citações selecionadas de todas as transcrições, considerando os seus 
contextos. Tais citações compõem o conjunto de dados que forma a base da etapa seguinte. 
Na terceira etapa, a atenção do pesquisador é deslocada dos sujeitos da pesquisa para os 
significados embutidos em suas citações. Assim, os limites que separam os indivíduos são 
abandonados e o interesse passa a estar centrado no “conjunto de significados” (ou pool of 
meanings) descoberto nos dados. Trata-se de uma descontextualização, considerando que 
cada citação pertence a dois contextos: a própria entrevista e seu “conjunto de significados” 
(MARTON, 1986).	
Nesse sentido, a interpretação é um procedimento interativo, que se dá entre esses dois 
contextos. Como resultado do trabalho interpretativo, as citações são reunidas conforme suas 
similaridades em categorias (diferenciadas umas das outras em termos de discrepâncias) 
(MARTON, 1986), as quais são dispostas hierarquicamente (SANTOS; SILVA, 2015). 	
O mapeamento da relação entre as concepções dá origem a o que Marton (1981, p. 
198) denomina “intelecto coletivo”, um conjunto estruturado de ideias, concepções e crenças 
subjacentes às possíveis interpretações ou construções da realidade. Tal conjunto é 
continuamente aprimorado, pois novas possibilidades são continuamente acrescentadas. 	
Uma diferença a ser destacada em relação à análise de conteúdo tradicional é que 
neste caso as categorias descritivas são determinadas antecipadamente. O procedimentodescrito por Marton (1986), por sua vez, requer uma análise dialética, caracterizada pela 
classificação e reclassificação contínua, de modo que as definições para as categorias são 
testadas em contraste aos dados, ajustadas, reanalisadas e ajustadas novamente. Os 
significados são desenvolvidos durante o processo de comparação e categorização: quando os 
significados das categorias começam a se formar, eles próprios determinam quais enunciados 
	
5 
	
devem ser incluídos ou excluídos. Portanto, “trata-se de um processo tedioso, demorado, 
trabalhoso e interativo” (MARTON, 1986, p. 42, tradução livre das autoras).	
Sobre esse último processo, Walsh (2000) argumenta que os vieses dos pesquisadores 
podem interferir nos resultados da pesquisa quando as categorias são extraídas dos dados. 
Bowden (1994) também concorda que, pelo fato de os investigadores individuais trabalharem 
por conta própria, sua análise pode ser fortemente influenciada pelos seus vieses no início do 
desenvolvimento das categorias descritivas. Até certo ponto, esse problema pode ser superado 
por meio do trabalho em equipe, de modo que uma série de pesquisadores – intitulados 
“desafiadores” (challengers) – apoie o pesquisador principal, lendo as categorias em contraste 
com os dados, a fim de chegar a um acordo sobre o conjunto refinado de categorias 
(BOWDEN, 1994; WALSH, 2000). Nas palavras de Sangberg (1995, p. 157, tradução livre 
das autoras): “quanto mais fiéis os pesquisadores forem em relação às concepções individuais 
acerca de um aspecto da realidade, mais perto eles estarão de compreender o ensino, a 
aprendizagem ou outros tipos de interação humana na sociedade”. 
 A Figura 1 sintetiza as principais ações do método:	
	
	
Figura 1 - Principais ações do método fenomenográfico	
Fonte: Elaborado pelas autoras com base em MARTON, 1981. 1986, BOWDEN, 2000, CHERMAN; ROCHA-
PINTO, 2015, SANTOS; SILVA, 2015.	
 
3 A PRÁTICA DO MÉTODO EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 
	
Para alcançar o objetivo proposto, optamos por um delineamento descritivo e 
qualitativo. A fim de analisar a produção acadêmica sobre o método de pesquisa qualitativa 
em questão, a principal estratégia utilizada para a coleta de dados foi o levantamento 
bibliográfico das teses, dissertações e artigos científicos publicados sobre o tema no Brasil, 
sem restrição temporal.	
O levantamento das teses e dissertações foi realizado por meio dos portais Banco de 
Teses da CAPES, no período de 21 a 26 de fevereiro de 2016, e Biblioteca Digital Brasileira 
de Teses e Dissertações, no período de 29 a 30 de março de 2016. Foram selecionados 
estudos publicados na área da Administração (critério 1) que tivessem indexadas uma das 
seguintes palavras-chaves (critério 2): fenomenografia, método fenomenográfico e estudo 
fenomenográfico. 	
Apesar de não ter havido restrição temporal nas buscas, o banco de Teses da CAPES 
apresentou estudos relativos somente aos anos de 2011 e 2012, pois, para garantir 
fidedignidade dos dados disponíveis, a equipe desse portal estava realizando uma análise 
dos dados informados e identificando registros que, por algum motivo, não haviam sido 
informados de forma completa à época da sua coleta. Assim, no momento da coleta, apenas 
trabalhos defendidos em 2012 e 2011 estavam disponíveis. Por este motivo, estendemos 
nossa pesquisa para a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, que não tem essa 
restrição temporal. 	
Após uma leitura prévia dos resumos, os trabalhos foram analisados na íntegra e 
foram selecionados aqueles que, de fato, haviam utilizado o método fenomenográfico. O 
levantamento resultou em 21 ocorrências de estudos strictu sensu relacionadas às palavras-
Realização 
das 
entrevistas 
Transcrição 
das 
entrevistas 
Seleção das 
citações 
Interpretação 
das citações 
conforme seus 
contextos 
Organização 
das citações 
em categorias 
descritivas 
Organização 
das categorias 
descritivas no 
"espaço de 
resultados", 
que origina o 
"intelecto 
coletivo" 
	
6 
	
chaves fenomenografia, método fenomenográfico e estudo fenomenográfico (dez teses e 
onze dissertações, sendo três de mestrado profissional). Dessas, duas se repetiram quatro 
vezes, uma se repetiu três vezes e três se repetiram duas vezes, de modo que, no total, foram 
encontrados nove estudos (três teses e seis dissertações).	
O levantamento bibliográfico de artigos, por sua vez, foi primeiramente realizado a 
partir da base Spell, entre 21 e 22 de fevereiro de 2016. Trata-se de um repositório brasileiro 
de artigos que, no momento da pesquisa, contemplava 103 diferentes periódicos das áreas de 
Administração, Contabilidade e Turismo. Limitou-se a pesquisa ao campo da Administração 
(critério 1) e em artigos de periódicos classificados no Qualis da CAPES como A1 a B2 
(critério 2). O uso dessa base se justifica tanto pela sua possibilidade de selecionar a área de 
conhecimento na busca, quanto pela significativa quantidade de periódicos da área de 
Administração indexados, que contempla todos os periódicos brasileiros qualificados como 
A1 a B2 disponíveis também na SciELO Brasil. 	
Sequencialmente, entre 29 a 30 de março de 2016, foram realizadas buscas nos anais 
dos eventos científicos da ANPAD. Nesses casos, também se utilizaram as mesmas 
palavras-chaves (critério 3). A pesquisa resultou em oito ocorrências, sendo que não houve 
repetição mediante a troca da palavra-chave. 
Após essas pesquisas, os títulos das teses e dissertações foram buscados no Google 
para verificar se eles haviam sido publicados em outros meios de veiculação contemplados 
pelo recorte da pesquisa, mas que por algum motivo não tivessem sido encontrados 
anteriormente. Essa ação resultou na ocorrência de mais um artigo, oriundo de dissertação, 
que foi apresentado em evento científico da ANPAD. Portanto, totalizaram nove artigos.	
 Diante desses critérios, os resumos dos trabalhos foram analisados para serem 
selecionados os que se apropriaram da fenomenografia como estratégia. A partir dessa 
leitura, elaboramos a Figura 2, que expõe os trabalhos que constituíram o foco de análise 
para o alcance do objetivo. 
 
TESES – 3 ESTUDOS 
Ano Autor Título 
2012 Rubens de Araujo Amaro 
Concepções de empreender e o desenvolvimento da 
competência empreendedora: um estudo à luz da 
fenomenografia 
2012 Ana Luiza Szuchmacher Verissimo Lopes 
Autonomia no trabalho na perspectiva de um grupo de 
profissionais especializados: um estudo fenomenográfico 
2013 Andrea Cherman Valoração do conhecimento nas organizações: percepções dos indivíduos e impactos nas práticas organizacionais 
DISSERTAÇÕES – 6 ESTUDOS 
Ano Autor Título 
2010 Rafael Sabbagh Armony Fatores críticos para a prática de valores ágeis em equipes de Tecnologia da Informação 
2010 Bianca Snaiderman A contribuição do coaching executivo para o aprendizado individual: a percepção dos executivos 
2011 Gustavo Leonette de Moura Estevão 
O Novo Papel de Recursos Humanos: O que é RH Estratégico e 
qual é a sua contribuição para os negócios 
2011 Silvia Bertossi Heidrich Concepções de fair play e as competências dos gestores para um jogo limpo nas organizações: uma análise fenomenográfica 
2011 Betânia Dumoulin dos Reis 
A gestão de mudanças em organizações brasileiras de interesse 
público: uma perspectiva dos consultores 
2012 Alexandre Spiguel Fernandes de Sant Anna 
Aprendizagem no ciclo-de-vida de projetos em empresas 
públicas e organizações governamentais: a percepção dos 
gestores de projetos 
ARTIGOS CIENTÍFICOS – 9 ESTUDOS 
Ano Autor Título 
2008 Jorge Alberto dos Santos Practice Firms and Networked Learning: Matches and 
	
7 
	
Mismatches 
2011 
Sandra Regina da Rocha 
Pinto, Gisele Rosenda 
Araujo Mello Del Carpio 
Fatores críticos para a implantação do balanced scorecard: a 
visão de consultoresorganizacionais 
2011 
Rubens de Araujo 
Amaro, Janette 
Brunstein 
As Contribuições da Fenomenografia para o Desenvolvimento 
da Competência Profissional nas Organizações 
2011 
Sandra Regina da Rocha 
Pinto, Bianca 
Snaiderman 
A Contribuição do coaching Executivo para o Aprendizado 
Individual: A Percepção dos Executivos 
 
2012 
Sandra Regina da Rocha 
Pinto, Paulo Roberto 
Maisonnave 
Inovação e investimentos no setor elétrico brasileiro sob a ótica 
de Gestores de P & D 
2012 
Rubens de Araujo 
Amaro, Janette 
Brunstein 
Concepções de Empreender e o Desenvolvimento da 
Competência Empreendedora: um Estudo à Luz da 
Fenomenografia 
2013 
Rubens de Araújo 
Amaro, Janette 
Brunstein. 
Implicações das concepções de empreender para o 
desenvolvimento da competência empreendedora 
2015 
Gabriela Tavares dos 
Santos, Anielson 
Barbosa da Silva 
A Fenomenografia como Estratégia de Pesquisa para a Educação 
em Administração 
2015 Andrea Cherman, Sandra Regina da Rocha-Pinto 
Fenomenografia e a Valoração do Conhecimento nas 
Organizações: Diálogo entre Método e Fenômeno 
Figura 2 - Trabalhos que constituíram o foco de análise 
Fonte: Elaborado pelas autoras	
	
Após a definição das teses, das dissertações e dos artigos que constituíram o foco de 
análise neste estudo, chegamos ao total de dezoito trabalhos que seriam analisados, 
conforme Figura 3.	
	
 Teses	 Dissertações	 Artigos	 Total	
3	 6	 9	 18	
Figura 3 - Trabalhos que foram foco do estudo 
Fonte: Elaborado pelas autoras	
	
 Para a análise completa dos trabalhos, definimos algumas categorias de análise que 
pudessem guiar a avaliação. Elas são oriundas tanto da revisão teórica realizada sobre o 
método em discussão, quanto de dados gerais sobre as publicações. A Figura 4 expõe as 
categorias definidas:	
	
Categoria	 Critérios de análise	
Aspectos gerais do 
trabalho	
a. Instituição de origem 
b. Orientador (teses e dissertações) / Revista (artigos) 
c. Ano de publicação 
Fundamentos teórico-
empíricos	
a. Principais autores utilizados para definir/orientar a aplicação do método 
b. Linha de pesquisa (teses e dissertações) 
c. Justificativa para uso do método 
d. Forma de aplicação do método - etapas 
e. Campo de aplicação 
Avaliação	 a. Limitações encontradas com o uso do método 
b. Aspectos favoráveis quanto ao uso do método 
c. Repercussão do estudo (quantidade de citações / Qualis do Periódico) 
Figura 4 - Categorias e critérios de análise	
Fonte: Elaborado pelas autoras	
 
	
8 
	
 Com a categoria “aspectos gerais do trabalho”, buscamos trazer dados gerais que 
representassem uma contextualização geral dos trabalhos em termos de origem. 
Investigamos a instituição a que os autores pertenciam no período em que os trabalhos 
foram realizados; o orientador (no caso de teses e dissertações) ou a revista na qual o artigo 
foi publicado e o respectivo ano de publicação. 
 Em “fundamentos teórico-empíricos”, buscamos apresentar os principais autores 
utilizados para definir e orientar a aplicação do método, o que nos possibilitou verificar se 
há outros autores que vêm discutindo a fenomenografia e quais parecem ter maior destaque 
ou repercussão. Também apresentamos a linha de pesquisa a qual pertencem as teses e 
dissertações, objetivando traçar uma característica de como os trabalhos se situam. Na 
sequência, investigamos as justificativas para o uso do método, ou seja, o motivo para sua 
escolha. Ainda em relação à investigação metodológica, tentamos verificar quais técnicas de 
coleta e análise predominaram e dentro de quais etapas de aplicação do método. Assim, foi 
possível aprofundar este tema que ainda parece pouco claro dentro da revisão teórica 
realizada. Ainda nesta categoria, identificamos os principais campos de aplicação do 
método. Para isso, precisávamos de uma proposta de categorização que fosse representativa, 
conhecida e compartilhada por colegas da área e que não se limitasse em nossa 
categorização, que poderia ser influenciada por nossos próprios pressupostos. Assim, 
optamos por utilizar as divisões acadêmicas organizadas pela ANPAD, de modo que os 
trabalhos foram classificados em um desses temas. 
 Por fim, apresentamos a categoria “avaliação”, a qual não representa uma avaliação 
nossa a respeito dos trabalhos analisados, mas sim uma avaliação que os próprios autores 
realizaram sobre a utilização do método. Aqui também pudemos traçar um paralelo com o 
referencial teórico encontrado, para que fossem apresentadas as limitações e os aspectos 
favoráveis da fenomenografia. Como avaliação complementar, a qual pretendeu apresentar 
formas de avaliar a repercussão dos estudos, identificamos a quantidade de citações que os 
trabalhos tiveram, por meio do Google Acadêmico e o Qualis CAPES do periódicos nos 
quais or artigos foram publicados. 
 
3.1 ASPECTOS GERAIS DOS TRABALHOS ANALISADOS 
 
 Buscamos trazer nesta sessão uma contextualização geral dos trabalhos analisados, 
iniciando por suas instituições originárias. Dos nove trabalhos strictu sensu que utilizaram 
a fenomenografia, o levantamento permitiu identificar que: das três teses, uma estava 
vinculada à PUC-RIO, uma à UFRJ e uma à Universidade Presbiteriana Mackenzie, cujos 
três campi estão localizados no estado de São Paulo. Das seis dissertações, cinco estavam 
vinculadas à PUC-RIO e uma à Universidade Presbiteriana Mackenzie. Esses trabalhos são, 
portanto, provenientes de apenas três instituições brasileiras, todas localizadas na região 
Sudeste. As instituições a que os autores dos nove artigos estavam vinculados no momento 
da publicação, por sua vez, foram cinco: PUC-RIO; Universidade Presbiteriana Mackenzie; 
UFES, (UFPB e Lancaster University (Reino Unido), sendo que, novamente, as duas 
primeiras instituições tiveram a maioria das autorias (três artigos cada). 
 A respeito do ano de publicação, todos os trabalhos são publicações atuais. As teses 
datam de 2012 e 2013 e as dissertações de 2010 a 2012. Os artigos – com a exceção de um, 
de 2008 – foram publicados ou apresentados entre 2011 e 2015. Essa informação, 
juntamente com a identificação dos autores de alguns trabalhos, levaram-nos a considerar 
que a origem de alguns artigos publicados em revistas e em anais de eventos estava 
vinculada com o período de elaboração de teses e dissertações ou a sua respectiva 
conclusão, como será reforçado a seguir. 
	
9 
	
 Quanto aos meios de veiculação, quatro dos nove artigos foram publicados nos 
seguintes periódicos: Cadernos EBAPE; Revista de Administração e Contabilidade da 
Unisinos; Revista de Administração e Inovação (RAI) e Revista de Administração FACES 
Journal. Os outros cinco foram apresentados em eventos científicos da ANPAD, sendo três 
no EnANPAD e dois no EnGPR. 
 Em relação à autoria dos trabalhos, observou-se certa correlação entre os autores 
das teses, das dissertações e dos artigos. Três artigos são resultantes de pesquisas de 
doutorado conduzidas por dois diferentes autores: Rubens de Araújo Amaro, cuja tese data 
de 2012, apresentou dois artigos com sua orientadora, Janette Brustein, sendo um em 2011 e 
um em 2012; enquanto Andrea Cherman, cuja tese data de 2013, apresentou um artigo com 
sua orientadora, Sandra Regina da Rocha-Pinto, em 2015. Além disso, Bianca Snaiderman, 
cuja dissertação data de 2010, apresentou um artigo com sua orientadora, Sandra Regina da 
Rocha-Pinto, em 2011. Os meios não permitiram verificar se a dissociação de autoria entre 
os demais trabalhos stricto sensu e os artigos se justifica por outras possíveis publicações 
em periódicos ou eventos não contemplados pelo recorte da pesquisa. 
 Na análise dos orientadores das teses e dissertações, também verificou-se 
centralização significativa. Sandra Regina da Rocha-Pinto, da PUC-RIO, orientou a maioria 
desses trabalhos (uma das três teses e trêsdas seis dissertações). Janette Brunstein, da 
Universidade Presbiteriana Mackenzie, por sua vez, orientou dois deles (uma tese e uma 
dissertação). Essas mesmas orientadoras colaboraram com a maioria dos artigos, sendo que 
a primeira é autora de quatro e a segunda é autora de três dos nove artigos encontrados. 
Além dos trabalhos strictu sensu orientados, Sandra Regina da Rocha-Pinto participou de 
uma banca de tese na UFRJ e de uma banca de dissertação na PUC-RIO. Nesse sentido, 
pode-se considerar seu envolvimento na maioria dos trabalhos strictu sensu produzidos com 
enfoque nesse método, seja como orientadora ou membro de banca (sete de nove). 
 Tanto a participação de poucas IES brasileiras quanto a reduzida quantidade de 
autores e orientadores envolvidos demonstram, além de uma polarização significativa em 
relação ao uso da fenomenografia na produção de trabalhos do campo da Administração, 
que se trata de um método ainda pouco usado nos estudos organizacionais, como já 
evidenciaram Amaro (2012) e Cherman e Rocha-Pinto (2015). 
 A contemporaneidade dos estudos, por sua vez, evidencia que o uso da 
fenomenografia nesse campo no Brasil, além de limitado, é bastante recente e focado em 
algumas áreas, como apresentaremos na sessão seguinte. Cabe lembrar que o método foi 
desenvolvido somente na década de 1970, na Suécia e na Educação. Dessa forma, pode-se 
inferir que seu uso não tem longa tradição mesmo em seu campo de origem. 
 O fato de que cinco dos nove artigos foram apresentados em eventos científicos da 
ANPAD sugere uma abertura relativa do campo da Administração em relação a novas 
estratégias qualitativas de pesquisa. A contemplação da divisão “Ensino e Pesquisa em 
Administração e Contabilidade” e dos temas “Ontologia, Epistemologias, Teorias e 
Metodologias nos Estudos Organizacionais” e “Estratégias e Métodos de Pesquisa 
Quantitativos e Qualitativos” pelo EnANPAD pode ser fator contributivo para isso. 
 
3.2 FUNDAMENTOS TEÓRICO-EMPÍRICOS 
 
Inicialmente, buscamos identificar os principais autores usados para definir e 
orientar a aplicação do método nos trabalhos selecionados. Evidentemente, o autor que mais 
se destacou foi o professor Ference Marton, líder do grupo de pesquisa da University of 
Gothenburg (Suécia) responsável pela criação do método e pelas primeiras publicações a seu 
respeito. Nesse sentido, destacam-se citações aos seus dois artigos clássicos 
“Phenomenography: describing conceptions of the world around us”, de 1981, no qual ele 
	
10 
	
apresenta a fenomenografia e seus pressupostos essenciais; e “Phenomenography: a research 
approach to investigating different understandings of reality”, de 1986, no qual os aspectos 
de operacionalização começam a ser detalhados. Além disso, as demais publicações deste 
autor com seus colegas de trabalho são frequentemente mencionadas. Ainda quanto às 
especificidades do método, as obras de Bowden e colaboradores foram utilizadas para sua 
conceituação. 
O artigo de Akerlind (2005), “Variation and commonality in phenomenography 
research methods”, também foi largamente utilizado quando os autores buscavam caracterizar 
o caminho metodológico ao qual percorreram, principalmente quanto aos aspectos de coleta 
de dados e sujeitos participantes. 
Já para a caracterização da fenomenografia dentro dos estudos organizacionais, 
praticamente todos os trabalhos fizeram menção aos estudos de Sandberg sobre a 
compreensão da competência humana e de seu desenvolvimento nas organizações. No caso 
das teses, os estudos de Dall’Alba também foram referenciados para esse fim. 
 As linhas de pesquisa dos Programas de Pós-Graduação aos quais os autores dos 
trabalhos strictu sensu pertenciam foram: “Estudos organizacionais e relações de trabalho em 
ambiente de mudança” (uma tese); “Gestão humana e social nas organizações” (uma tese e 
uma dissertação); “Organizações, estratégias, estruturas, processos e sistemas” (uma tese); 
“Comportamento e estratégia organizacional em ambiente de mudança” (duas dissertações de 
mestrado acadêmico e três dissertações de mestrado profissional). Portanto, os temas de todas 
as teses e dissertações contempladas pelo recorte da pesquisa estiveram relacionados aos 
estudos organizacionais e temas relacionados ao comportamento humano nas organizações. 
Os autores das teses foram os únicos que explicitaram de forma argumentativa, 
justificativa e coerente com sua pesquisa a corrente epistemológica adotada. Nos três casos, 
eles consideraram sua postura interpretativa e construtivista e sua ontologia relacional ou não-
dualista. Seu posicionamento, portanto, veio ao encontro do que pressupõe o método 
fenomenográfico. Segundo Amaro e Brunstein (2011, p. 12), a fenomenografia tem uma 
epistemologia interpretativa (“o fenômeno estudado pode ser compreendido a partir dos 
significados que lhes são atribuídos pelos sujeitos envolvidos”) e uma ontologia relacional. 
Santos e Silva (2015, p. 4), baseados em Pheralli (2011), também concordam que o 
posicionamento epistemológico da fenomenografia “pressupõe a construção do conhecimento 
a partir de uma abordagem sócio-construtivista-interpretativa, que utiliza as descrições de 
experiências ou concepções para explorar a natureza do conhecimento” e que a ontologia 
fenomenográfica é “não dualista” (no sentido integrativo do sujeito com o fenômeno). 	
 Quanto à justificativa para uso do método, de maneira geral, poucos dos artigos 
selecionados especificaram claramente e coerentemente a justificativa. Contudo, entendemos 
que, talvez, isso se deva ao formato mais reduzido do conteúdo apresentado neste tipo de 
trabalho. Entretanto, em um julgamento particular nosso, acreditamos que essa conexão entre 
o fenômeno de estudo e método empregado seja essencial, principalmente considerando a 
especificidade interpretativa do método fenomenográfico e sua ontologia não dualista entre 
fenômeno e sujeito (SANTOS; SILVA, 2015). Há também a ressalva de quem um artigo 
caracteriza-se como um ensaio teórico, para o qual a justificativa não foi para a aplicação do 
método, mas sim a razão para seu estudo, mostrando como a fenomenografia pode assumir 
lugar importante nos estudos sobre a competência, na linha dos trabalhos de Sandberg 
(AMARO; BRUNSTEIN, 2011). 
 Das justificativas apresentadas em artigos, os autores baseavam-se, geralmente, suas 
explicações apresentando os conceitos de fenomenografia de Marton, sem proporcionar uma 
relação explicita com os objetivos da pesquisa e o fenômeno pesquisado. Na análise dos 
trabalhos de pós-graduação stricto sensu, pouco se observou de justificativa para aplicação do 
método nas dissertações analisadas. A relação, quando feita, limitava-se à objetivo do estudo, 
	
11 
	
apresentando-o e tentando traçar alguns comentários com os conceitos de fenomenográfia. 
Por outro lado, nos trabalhos oriundos de cursos de Doutorado, as justificativas foram 
substancialmente mais bem trabalhadas e apresentadas, também relacionando aos objetivos da 
pesquisa. Interessante destacar que duas das três teses analisadas explicaram que 
consideraram utilizar outras abordagens, tais como grounded theory, fenomenologia 
interpretativa e fenomenologia descritiva, mas que acabaram por optar pela fenomenografia 
devido ao objetivo da pesquisa, sempre vinculado ao foco na experiência sobre determinado 
fenômeno. 
 Precisamente dentro do capítulo ou sessão de procedimentos metodológicos das teses 
e dissertações, fomos buscar como os pesquisadores aplicaram o método (critério: forma de 
aplicação do método do nosso quadro de análise), mantendo o foco na descrição das etapas 
conduzidas para o alcance dos objetivos e técnicas utilizadas. No caso dos artigos, essas 
informações poderiam estar presentes também na descrição da própria análise dos dados. 
Cabe destacar que, no caso das teses, encontramos descrições detalhadas do caminho 
metodológicofenomenográfico; nas dissertações tal descrição é mais breve; e, nos artigos, o 
caminho metodológico é muito sucinto e sem descrições detalhadas. Como inferência dessas 
considerações, podemos ter em mente que os autores de teses já possuem uma inserção e 
conhecimento mais profundo da atividade de pesquisa científica, assim, o método foi descrito 
em detalhes (tanto a teoria quanto as etapas conduzidas no trabalho) e houve mais rigor 
metodológico. As dissertações, de modo geral, não seguiram o mesmo perfil, talvez pelos 
alunos de mestrado estarem iniciando nesta atividade científica. 
 Em relação aos sujeitos participantes das pesquisas, em todos os trabalhos analisados 
eles estavam de acordo com o preconizado pelo método fenomenográfico, ou seja, sujeitos 
que experienciam diretamente o fenômeno em estudo. Santos e Silva (2015) sugerem que 
sejam apresentadas as características dos participantes e assim foi realizado nos trabalhos; 
alguns mais detalhadamente, em forma de figuras, e outros mais sucintamente. Geralmente o 
número de sujeitos estava de acordo com o sugerido por Bowden (1996), quinze a vinte 
entrevistas, tendo uma variação de cinco para mais ou para menos, com exceção de dois 
artigos que possuíam somente cinco e nove sujeitos. Os sujeitos foram, de forma geral, 
escolhidos de forma intencional, mas com critérios de escolha que permitissem o aumento da 
variedade das percepções sobre a experiência de autonomia no trabalho. 
Sobre as técnicas utilizadas, foi unânime nos trabalhos o uso de entrevistas, 
entretanto, em alguns o uso foi mais adequado ao que orientou Marton em seu artigo 
“Phenomenography: a research approach to investigating different understandings of 
reality” de 1986. Também sobre a realização de entrevistas, Santos e Silva (2015), baseadas 
em suas pesquisas sobre o método fenomenográfico, identificam que seus principais autores 
sugerem a realização das entrevistas em três tempos (para contribuir com o processo de 
reflexão). Desta forma, os pesquisadores realizaram entrevistas individuais, normalmente com 
roteiros semiestruturados, mas baseados em poucas perguntas centrais e abertas (de uma a 
cinco perguntas). 
Em relação à etapa de análise dos dados, identificamos uma dificuldade dos 
pesquisadores em detalhar sua execução. Talvez a razão para esta situação esteja na própria 
estratégia de pesquisa que, sendo recente e engatinhando nos estudos organizacionais, careça 
de trabalhos que enfatizem este aspecto. Na percepção de Dunkin (2000), os desafios de 
aplicação da fenomenografia no estudos organizacionais giram principalmente em torno da 
falta geral de familiaridade com a abordagem, da linguagem (que difere da utilizada pelos 
pesquisadores em Administração) e dos conceitos fora do campo original de investigação. 
Além disso, há falta de clareza sobre como operacionalizar a fenomenografia. Portanto, há 
necessidade de que os fenomenógrafos experientes continuem a refinar essas questões 
(DUNKIN, 2000). 
	
12 
	
Além disso, Marton (1986) já havia salientado que não é possível especificar técnicas 
exatas de análise para a pesquisa fenomenográfica, uma vez que não há algoritmos que 
permitam desvendar as maneiras qualitativamente diferentes pelas quais as pessoas 
experenciam ou conceituam um fenômeno. No entanto, ele aponta para três etapas gerais, que 
se iniciam com a transcrição das entrevistas. Nos trabalhos analisados, os autores ressaltaram 
a realização desse procedimento; praticamente todos realizaram a transcrição das gravações 
de entrevistas na íntegra. Posteriormente, identificamos uma dificuldade dos pesquisadores 
em explicar como, a partir das transcrições, chegaram às primeiras categorias ou ao “conjunto 
de significados”, sendo que apenas alguns conseguiram demonstrar, por meio de figuras, os 
primeiros significados que, com novas diferenciações, deram origem as categorias finais as 
quais corresponderam aos resultados da pesquisa ou o “espaço de resultados”. 
Autores como Marton (1986), Santos e Silva (2015) e Cherman e Rocha-Pinto (2015) 
destacam que, após a diferenciação das categorias umas das outras, elas devem ser dispostas 
hierarquicamente. Este procedimento de hierarquização foi realizado, de forma geral, pelos 
pesquisadores em suas teses e dissertações, entretanto, não foi verificado em todos os artigos. 
Considerando que dos nove, dois são ensaios teóricos, não houve categorias para serem 
hierarquizadas, mas os autores destacaram esta etapa na análise. Dos sete artigos teórico-
empíricos, quatro não realizaram ou não apresentaram a hierarquia no espaço de resultado; 
enquanto que outros três sim, sendo que dos três, dois eram dos mesmos autores e 
correspondem a um artigo publicado anteriormente nos anais do EnANPAD e, 
posteriormente, em uma revista científica. 
Em relação à validação da análise, Bowden (2000) destaca que esse é um aspecto que 
pode suscitar críticas à fenomenografia devido à falta de poder de previsão, aos vieses dos 
pesquisadores e à negação da voz do indivíduo através da categorização. Assim, algumas 
pesquisas utilizaram outras fontes de dados, como documentos, para auxiliar na análise, ou se 
assumiram como realizando uma postura de triangulação a fim de validar as categorias 
emergentes por meio de grupos focais. 
 Por fim, em relação ao campo de aplicação do método, que representa o principal 
campo de pesquisas ao qual o trabalho pode ser vinculado dentro das divisões acadêmicas 
organizadas pela ANPAD, inserimos os nove trabalhos stricto senso na divisão temática 
“Gestão de Pessoas e Relações do Trabalho”. Nesse grupo, destacam-se os temas, em teses, 
de competência, autonomia no trabalho e valoração do conhecimento, todos aparentemente 
próximos. Também no grupo das dissertações aparecem trabalhos com temas similares, 
acrescentando-se a aprendizagem individual, papel estratégico de recursos humanos, prática 
de valores e gestão de mudanças. 
 Os artigos seguem a mesma caracterização, com alguns acréscimos. Quatro, dos nove, 
são posicionados como “Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho”, abordando temas, 
principalmente, de competência e aprendizagem. Três são localizados dentro da divisão 
“Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade”, pois, embora dois deles tenham 
realizado um estudo teórico-empírico, focaram na dimensão metodológica e de aprendizagem 
e formação acadêmica; enquanto que o terceiro foi exclusivamente teórico. Os outros dois 
foram relacionados ao campo de “Estratégia em Organizações” e “Gestão de Ciência, 
Tecnologia e Inovação. 
 
3.3 AVALIAÇÕES E REPERCUSSÕES 
 
 Apresentamos, por fim, a última categoria analisada nos trabalhos selecionados. 
Ressaltamos, novamente, que os aspectos aqui expostos não se tratam de nossa avaliação dos 
estudos mas, sim, da própria exposição realizada pelos autores sobre o método 
fenomenográfico. Cabe ressaltar, no entanto, que nem todos os trabalhos faziam menção de 
	
13 
	
forma explícita aos critérios aqui investigados. Em relação aos artigos, principalmente, nem 
de forma implícita foram encontradas menções à alguns aspectos, como esclarecemos nos 
parágrafos seguintes. 
Inicialmente, percebemos que nenhum dos artigos mencionou quaisquer limitações ou 
aspectos favoráveis em relação à operacionalização do método fenomenográfico. O mesmo 
padrão foi observado nas dissertações, que descreveram apenas alguns fatores limitadores da 
fenomenografia segundo a própria teoria, sem relacioná-los à sua experiência empírica com o 
método. 
Os autores das três teses, por outro lado, o fizeram. As limitações relatadas com mais 
frequência neste caso estiveram relacionadas aos seguintes aspectos: falta de experiência 
pessoal prévia com o método (resultando em insegurança para tomar certas decisões 
metodológicas); dificuldade no processo de aprendizagem de operacionalização; dificuldade 
no processode análise dos dados (que é lento, cansativo, tedioso e estressante); ausência de 
especialistas da área no Brasil para discutir sobre as categorias descritivas elaboradas e outras 
questões; problema de explorar outros tópicos relativos ao objeto em estudo (devido do 
aprofundamento de análise da fenomenografia); dificuldade na representação da 
complexidade dos dados analisados; falta de detalhes metodológicos e excesso de 
contradições encontradas na própria literatura (resultando em conflitos entre o que a teoria diz 
e a necessidade prática dos pesquisadores). 
Como Lopes (2012, p. 220), autora de uma das teses, reconhece, “todo o processo de 
pesquisa foi difícil e permeado de impressões e sentimentos ambíguos”. Essa mesma autora 
(2012, p. 107) faz um comentário sobre a ausência de literatura com informações sobre os 
procedimentos metodológicos da fenomenografia: 
 
a análise de dados na fenomenografia é um estágio da pesquisa bastante criticado no 
final da década de 1990 pela ausência de publicações com informações sobre os 
procedimentos para a realização desta tarefa e pela ausência de critérios para a 
realização de uma análise crítica dos procedimentos utilizados e resultados 
apresentados. 
 
 Esse aspecto metodológico pode ser observado na elaboração dos trabalhos e na 
descrição de seus procedimentos metodológicos, como ressaltado na categoria anterior 
(fundamentos teórico-empíricos). 
Relativamente aos aspectos positivos, não houve detalhamento relacionado às etapas e 
à aplicação do método em si, mas algumas menções estiveram relacionadas ao fato de que a 
fenomenografia permitiu aos autores alcançar os objetivos propostos, viabilizando novas 
definições em relação ao objeto de estudo e lhes confirmando que o mesmo fenômeno pode 
ser experienciado de diferentes formas. Cherman (2013), por exemplo, relata que a o método 
revelou a construção social acerca da valoração do conhecimento, por meio das narrativas das 
vivências dos entrevistados. 
Essa mesma autora, em seu artigo de 2015 (p. 2), argumenta sobre a “capacidade do 
método fenomenográfico em capturar a dinâmica de movimento bidirecional dos sujeitos em 
experimentar o fenômeno; o continuum ininterrupto entre as concepções; e a trajetória 
dinâmica e flexível dos indivíduos pelas concepções do fenômeno no tempo e espaço em 
relação ao contexto”. Tais elementos foram indicados pela autora como “achados fortuitos” de 
seu estudo fenomenográfico que não foram, segundo ela, relatados pela literatura. Dessa 
forma, apontou como aspectos positivos “a capacidade do método em capturar a fluidez de 
trânsito dos sujeitos pelas diferentes categorias descritivas encontradas no fenômeno, até o 
nível de sua consciência focal” (CHERMAN, 2015, p. 2). No entanto, ela ressalta a 
importância de discutir se os seus achados fortuitos estão associados diretamente ao método 
	
14 
	
fenomenográfico ou se são aspectos referentes ao fenômeno que estudou (valoração do 
conhecimento no contexto do trabalho). 
 Quanto às repercussões dos estudos, nenhum deles apresentou quantidade 
significativa de citações no Google Acadêmico. A tese mais citada foi “Valoração do 
conhecimento nas organizações: percepções dos indivíduos e impactos nas práticas 
organizacionais”, de Andrea Cherman (PUC-RIO, 2013), e a dissertação mais citada foi “A 
contribuição do coaching executivo para o aprendizado individual: a percepção dos 
executivos” de Bianca Snaiderman (PUC-RIO, 2010). Ambos os trabalhos foram orientados 
por Sandra Regina da Rocha-Pinto e tiveram duas citações. Quantitativamente falando, o 
artigo que parece ter sido mais influente foi “Fatores críticos para a implantação do 
balanced scorecard: a visão dos consultores organizacionais”, de Sandra Regina da Rocha 
Pinto e Gisele Rosenda Araújo Mello Del Carpio, publicado na Revista de Administração e 
Contabilidade da Unisinos e citado sete vezes. Em nenhum dos casos as citações eram dos 
próprios autores. 
Em termos qualitativos, cabe mencionar que a tese de Andrea Cherman, recebeu 
menção honrosa do Prêmio CAPES de Tese, em 2014. Seu artigo, oriundo deste mesmo 
trabalho e desenvolvido com Sandra Regina da Rocha-Pinto, também foi premiado no 
XXXIX EnANPAD, em 2015. 
Dos periódicos que veicularam os artigos, um é atualmente classificado como Qualis 
A2 e três como B2. 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 	
	
	 Por meio deste artigo, buscamos caracterizar o método fenomenográfico e seu uso na 
ciência da Administração no Brasil. Para alcançarmos o objetivo proposto, optamos por um 
delineamento de pesquisa descritivo e qualitativo. 
A primeira parte da pesquisa consistiu no resgate histórico desse método, de modo que 
foram abordados seus pressupostos essenciais; suas principais etapas e uma síntese 
comparativa com a fenomenologia, haja vista as dúvidas ainda existentes entre ambos os 
métodos. Ressaltamos que não foi nossa principal intenção realizar uma vasta e profunda 
abordagem teórica sobre o método, uma vez que este empreendimento já foi realizado por 
outros pesquisadores. Assim, nossa principal contribuição onstitui-se no segundo momento de 
realização deste estudo: o levantamento de trabalhos que fizeram uso da abordagem no campo 
da Administração no Brasil. O levantamento resultou em três teses, seis dissertações e nove 
artigos. 
Os resultados demonstraram que os estudos fenomenográficos no Brasil, no campo da 
administração, tiveram início aproximadamente em 2008, com os primeiros trabalhos de pós-
graduação stricto sensu publicados a partir de 2010. Não temos dados sobre como tem se 
dado a aceitação desse tema em revistas científicas nacionais, entretanto, haja vista as 
publicações encontradas, acreditamos que este método está tendo uma aceitação 
representativa dentro de nosso campo de estudos. Tal indicativo também parece significativo 
nos eventos da ANPAD, onde o tema tem se propagado desde 2011 e revelam os que têm sido 
os principais campos de atuação dos estudos fenomenográficos na administração: estudos 
sobre competência e aprendizagem individual e organizacional. 
O que surgiu como principal carência nos trabalhos analisados, como já esperado e até 
mesmo sugerido pela literatura, foi em relação à sua aplicabilidade. Os pesquisadores, de 
forma geral, dedicaram-se ao estudo do método para compreendê-lo, entretanto, mais 
importante do que conceituá-lo, é compreender a relação entre sujeito e fenômeno e como o 
método é capaz de fazer a sua devida correlação entre eles, garantindo sua cientificidade e 
rigor metodológico, como visto nas teses de doutorado, que mais bem representaram 
	
15 
	
justificativas ontológicas, epistemológicas e metodológicas para o uso da fenomenografia. 
Possivelmente devido ao alto nível de exigência e ineditismo atribuído às pesquisas doutorais, 
esses mesmos estudos foram os mais cuidadosos em relação à descrição das etapas que 
constituíram a aplicação do método, inclusive quanto às dificuldades enfrentadas ao longo do 
processo, oriundas sobretudo da falta de orientação ou das contradições encontradas na 
literatura, bem como do seu recente uso no campo da Administração. Em nossa percepção, a 
descrição de tais etapas representa um fator crucial à questão da validade, que talvez 
represente a principal tensão da pesquisa qualitativa. 
O presente estudo nos permitiu considerar a fenomenografia como uma abordagem 
com potencial significativo na busca pela compreensão dos fenômenos sociais, a partir das 
diferentes formas pelas quais os indivíduos os experenciam. Sua abertura quanto à 
complementaridade de outros métodos de pesquisa é um fator contributivo ao seu uso nas 
ciências sociais e, mais especificamente, no campo da Administração, uma vez que a 
integração entre diferentes abordagens pode auxiliar o pesquisador qualitativo a ter um olhar 
mais aproximado do “todo”. Em relação aos aspectos do“todo”, Chanlat (1996) nos lembra 
que o ser humano produz representações do mundo que lhe confere significação, uma vez que 
está inserido numa dimensão de espaço, tempo e elementos contextuais. Dentro dessa 
dimensão, o método fenomenográfico permite captar tais representações e coloca o 
pesquisador numa postura de “confeccionador de colchas”, que “costura, edita e reúne 
pedaços da realidade” (DENZIN; LINCOLN, 2006, p. 19). 
Entretanto, como bem reconheceu Dunkin (2000, p. 149), “a aplicação de uma 
abordagem fenomenográfica fora do campo da investigação educacional não é isenta de 
dificuldades”. Há, ainda, falta de clareza como operacionalizá-la mesmo em seu campo de 
origem. Portanto, é evidente que refinamentos de fenomenógrafos experientes continuam 
sendo necessários e, ao mesmo tempo, que a aplicação desse método em outros campos 
precisa ser estudada. 
Concluimos reafirmando que nosso artigo não procurou ser exaustivo em relação à 
abordagem fenomenográfica no campo da Administração, mas, sim, que buscou representar 
um método emergente, com efetivas possibilidades de aplicação, e uma sinalização de sua 
ainda necessidade de estudo, avaliação e tentativas de aplicação. Nesse sentido, destacamos o 
mérito dos pesquisadores que se arriscaram a realizar tal feito, mesmo diante das dificuldades 
encontradas no percurso metodológico. 
 
REFERÊNCIAS	
	
AMARO, Rubens de Araújo. BRUNSTEIN, Janette. As contribuições da fenomenografia 
para o desenvolvimento da competência profissional nas organizações. III Encontro de 
Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho, João Pessoa, 2011.	
	
AMARO, Rubens de Araújo. Concepções de empreender e o desenvolvimento da 
competência empreendedora: um estudo à luz da fenomenografia. Tese (Doutorado). 
Universidade Presbiteriana Mackenzie. 2012. 
	
BOWDEN, John. The nature of phenomenographic research. In: BOWDEN, John. WALSH, 
Eleanor. Qualitative research methods: Phenomenography. Australia: RMI Publishing, 
2000. 
 
________. Phenomenographic research: some methodological issues. In: DALL’ALBA, G. 
HASSELGREN, B. Reflections on Phenomenography: towards a methodology? Sweden: 
ACTA Universitatis Gothoburgensis, 1996. pp. 49-66. 
	
16 
	
 
CHANLAT, J. F. Por uma Antropologia da condição humana nas organizações. In: 
CHANLAT, J. F. (Coord.). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. 3.ed. São 
Paulo: Atlas, 1996 (v.1) p.21-45. 
 
CHERMAN, Andrea; ROCHA-PINTO, Sandra Regina. Fenomenografia e a valoração do 
conhecimento nas organizações: diálogo entre método e fenômeno. XXXIX EnANPAD, Belo 
Horizonte, 2015.	
	
DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. Introdução: A disciplina e a prática da pesquisa 
qualitativa. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. O planejamento da pesquisa qualitativa: 
teorias e abordagens. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 15-42.	
	
DUNKIN, Ruth. Using Phenomenography to study organizational change. In: In: BOWDEN, 
John. WALSH, Eleanor. Qualitative research methods: Phenomenography. Australia: 
RMI Publishing, 2000. 
	
GERGEN, M. M.; GERGEN, K. J. Investigação qualitativa – tensões e transformações. In: 
DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e 
abordagens. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.	
	
MARTON, Ference. Phenomenograpy: describing conceptions of the world around us. 
Instructional Science. n. 10, p. 177-200. Amsterdam, 1981.	
	
________. Phenomenography: a research approach to investigating different understandings 
of reality. In: SHERMAN, Robert. WEBB, Rodman. Qualitative research in Education: 
focus and methods. London: Falmer Press, 1986.	
 	
SANDBERG, J. Are phenomenographic results reliable? Nordisk Pedagogic. v. 15. 1995.	
	
SANTOS, Gabriela T.; SILVA, Anielson B. A fenomenografia como estratégia de pesquisa 
para a educação em administração. XXXIX EnANPAD, Belo Horizonte, 2015.	
	
SCHWANDT, T. A. Três posturas epistemológicas para a investigação qualitativa: 
interpretativismo, hermenêutica e construcionismo social. In: DENZIN, N. K. e LINCOLN, 
Y. S. (Orgs.). O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. 2. ed. Porto 
Alegre: Artmed, 2006. p. 193-217.	
	
SILVERMAN, D. Interpretação de dados qualitativos: métodos para análise de entrevistas, 
textos e interações. Tradução Magda França Lopes. Porto Alegre: Artmed, 2009.	
	
WALSH, Eleanor. Phenomenographic analysis of interview transcripts. In: Qualitative 
research methods: Phenomenography. Australia: RMI Publishing, 2000.	
	
View publication statsView publication stats

Outros materiais