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CURSO: Licenciatura em Letras – Habilitação em Língua Portuguesa e suas Literaturas MÓDULO: I DISCIPLINA: Introdução aos processos de leitura, compreensão e produção de textos AUTORA: Profª. Wany Bernardete de Araújo Sampaio Rondônia – 2009 FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E NOVAS TECNOLOGIAS UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UNIDADE I APRESENTAÇÃO Leitura, Texto e Escrita. Vamos estudar, na UNIDADE I, noções de Leitura, Texto e Escrita. Trabalharemos em processos de interação constante, mediatizados pela leitura de textos de diferentes tipos. Assim, é necessário que você se dedique bastante à leitura dos textos propostos, pois ela é fundamental nesse processo. A nossa avaliação consistirá das Propostas de Atividades apresentadas ao final de cada SUBUNIDADE. Tais Atividades serão realizadas por você e compartilhadas com outros alunos de sua turma nos fóruns de discussão. Além disso, teremos uma atividade final desta UNIDADE I. Na UNIDADE I, teremos três SUBUNIDADES: SUBUNIDADE 1 – A Leitura; SUBUNIDADE 2 - O Texto; SUBUNIDADE 3 – A Escrita. Portanto, nesta UNIDADE I, você realizará três Propostas de Atividades (uma atividade em cada uma das SUBUNIDADES) mais a Atividade Final da UNIDADE I. Esperamos que a UNIDADE I possa auxiliar você a compreender os conceitos básicos necessários ao desenvolvimento deste Componente Curricular Vamos ao trabalho! UNIDADE I SUBUNIDADE 1 A Leitura INTRODUÇÃO É através da leitura que descobrimos um mundo novo, que compreendemos o mundo em que vivemos, a nossa sociedade. Pela leitura desenvolvemos nosso vocabulário, as nossas formas de expressão oral e escrita. Desenvolver o gosto pela leitura é um fator fundamental no processo ensinar/aprender. Steter (2001) diz que a leitura é, talvez, o meio mais importante para chegarmos ao conhecimento. Por isso, é preciso aprender a ler, mas interessa mais ler com profundidade do que em quantidade. Ler é dar sentido às coisas, ao mundo, à vida. Saber ler é o ponto de partida para dominar toda a riqueza que um texto, literário ou não, pode transmitir. Bom leitor é aquele que faz uma análise do texto lido, aprofundando-se na compreensão dos detalhes a fim de poder construir o seu próprio entendimento daquilo que leu. Vamos, então, mergulhar nesse mundo de Leitura? Convido você a iniciar esse mergulho, realizando os estudos propostos pela nossa SUBUNIDADE 1: A LEITURA. Bom trabalho! O QUE É LER? Para iniciar nosso trabalho, quero convidar você para uma reflexão. Pense um pouco sobre a sua história de leitura! ocê se lembra de como aprendeu a ler? Para você, o que significa LER? Qual a importância da leitura em sua vida? Depois de refletir sobre essas questões, tente escrever um pouco sobre sua história de Leitura. Escreva suas impressões e mande-as para o FÓRUM DE DISCUSSÂO. Leia o que seus colegas de turma dizem sobre suas histórias de leitura. PRONTO! Já fizemos, juntos, um bom exercício de Leitura e Escrita. Agora, convido você a ler um trecho da obra Alfabetização e Linguística, em que Luís Carlos Cagliari discorre sobre LEITURA. O QUE É LER A atividade fundamental desenvolvida pela escola para a formação dos alunos é a leitura. É muito mais importante saber ler do que saber escrever. O melhor que a escola pode oferecer aos alunos deve estar voltado para a leitura. Se um aluno não se sair muito bem nas outras atividades, mas for um bom leitor, penso que a escola cumpriu em grande parte sua tarefa. Se, porém, outro aluno tiver notas excelentes em tudo, mas não se tornar um bom leitor, sua formação será profundamente defeituosa e ele terá menos chances no futuro do que aquele que, apesar das reprovações, se tornou um bom leitor. A leitura é a extensão da escola na vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido através da leitura fora da escola. A leitura é uma herança maior do que qualquer diploma. A grande maioria dos problemas que os alunos encontram ao longo dos anos de estudo, chegando até a pós-graduação, é decorrente de problemas de leitura. O aluno muitas vezes não resolve problemas de matemática, não porque não saiba matemática, mas porque não sabe ler o enunciado do problema. Ele sabe somar, dividir etc., mas ao ler um problema não sabe o que fazer com os números e a relação destes com as realidades a que se referem. Não adianta dizer que o aluno não sabe nem sequer somar ou dividir números que não apresentam dificuldades, que ele não entende matemática... Porque de fato ele não entende mesmo é o português que lê. Não foi treinado para ler números, relações quantitativas, problemas de matemática. O professor de português não ensina isso porque diz que é obrigação do professor de matemática e o professor de matemática ou não desconfia do problema ou, quando muito, acha que ler e compreender um texto é um problema que o professor de português deve resolver na educação das crianças. E as crianças ficam sem as necessárias explicações. Mas a escola cobra que ela saiba isso e se vire com perfeição e rapidez. Quantos alunos se saem mal, nas provas de qualquer matéria, depois de terem estudado o assunto muito bem, de saberem a matéria como deviam, justamente porque não entendem, ou entendem errado o que lhes é perguntado! Uma coisa é estudar a matéria, outra coisa é saber responder a perguntas que a escola faz a respeito daquele assunto. Não falo de ensino programado, que reduz tudo a um condicionamento pelo texto, mas penso que a escola precisa ensinar os alunos a ler e a entender não só as palavras, as histórias das antologias, mas também os textos específicos de cada matéria, as provas de cada área, as instruções de como fazer algo etc. A leitura não pode ficar restrita à literatura e ao noticiário. Ler é uma atividade extremamente complexa e envolve problemas não só semânticos, culturais, ideológicos, filosóficos, mas até fonéticos. Podemos ler sequências de números de maneiras diferentes, dependendo daquilo a que eles se referem. Alguns alunos têm dificuldades na matemática porque não sabem ler os números correta-mente. Os números não são feitos só de algarismos. A combinação de algarismos expressa por si, no todo, realidades matemáticas que têm propriedades específicas. Por exemplo, nos números fracionários (dois quintos), o denominador é lido com numerais ordinais, mas a ordem característica típica, desses numerais na linguagem comum não tem nada a ver com a relação fracionária. Não basta ensinar só as relações matemáticas: é preciso ensinar também o português que a matemática usa. Tudo o que se ensina na escola está diretamente ligado à leitura e depende dela para se manter e se desenvolver. A leitura é a realização do objetivo da escrita. Quem , escreve, escreve para ser lido. O objetivo da escrita, como já disse inúmeras vezes, é a leitura. Como vimos, o mundo da escrita já é complicado e caótico no seu aspecto gráfico, quanto mais se juntarmos a isso o mundo dos significados carregados pela escrita. A leitura vai operar justamente nesse universo. Às vezes, ler é um processo de descoberta, como a busca do saber científico. Outras vezes requer um trabalho paciente, perseverante, desafiador, semelhante à pesquisa laboratorial. A leitura pode também ser superficial, sem grandes pretensões, uma atividade lúdica, como um jogo de bola em que os parti- cipantes jamais se preocupam com a lei da gravidade, a cinética e a balística, mas nem por isso deixam de jogarbola com gosto e perfeição. Como se observa, podemos ter várias atitudes perante a leitura. Ela é uma atividade profundamente individual e duas pessoas dificilmente fazem uma mesma leitura de um texto, mesmo científico. Ao contrário da escrita, que é uma atividadé de exteriorizar o pensamento, a leitura é uma atividadé de assimilação de conhecimento, de interiorização, de reflexão. Por isso, a escola que não lê muito para os seus alunos e não lhes dá a chance de ler muito está fadada ao insucesso, e não sabe aproveitar o melhor que tem para oferecer aos seus alunos. Há um dito popular que diz que a leitura é o alimento da alma. Nada mais verdadeiro. As pessoas que não lêem são pessoas vazias ou subnutridas de conhecimento. É claro que a experiência da vida não se reduz à leitura. A vida como tal é a grande mestra. Algumas pessoas analfabetas conseguem, às vezes, se sair bem economicamente, mas nem por isso deixam de ser pessoas vazias.Têm a riqueza externa, sabem se virar na sociedade, mas são pobres culturalmente, porque só a experiência da vida, por mais rica que possa ser, não é suficiente para fornecer uma cultura sólida e geral. Às vezes se referem à experiência da vida como "leitura do mundo". A leitura do mundo é obviamente uma metáfora, mas nem por isso deixa de ser algo tão importante para cada um quanto a própria filosofia de vida. A leitura a que me refiro de maneira particular é a leitura linguística, baseada na escrita, portanto, reveladora de uma interpretação que o leitor faz da interpretação que o escritor fez da sua "leitura do mundo". A leitura é, pois, uma decifração e uma decodificação. O leitor deverá em primeiro lugar decifrar a escrita, depois entender a linguagem encontrada, em seguida decodificar todas as implicações que o texto tem e, finalmente, refletir sobre isso e formar o próprio conhecimento e opinião a respeito do que leu. A leitura sem decifração não funciona adequadamente, assim como sem a decodificação e demais componentes referentes à interpretação, se torna estéril e sem grande interesse. A leitura é uma atividade estritamente linguística e a linguagem se monta com a fusão de significados com significantes. É falso dizer que se pode ler só pelo significado ou só pelo significante, porque só um ou outro jamais constituem uma realidade linguística. Acho incrível que até linguistas digam coisas desse tipo, esquecendo-se deste aspecto lógico, elementar, da própria natureza da linguagem humana. Os signos linguísticos atuam pela convencionalidade social. A escrita atua pela convencionalidade da representação gráfica dos signos, e a leitura também tem a sua convencionalidade guiada não só pelos elementos linguísticos, mas também pelos elementos culturais, ideológicos, filosóficos etc., do leitor. Para falantes de uma mesma língua, ler um mesmo texto pode gerar interpretações diferentes, baseadas na estrutura de conhecimento de cada um. Uma criança não lê como um adulto. Sendo de um meio social pobre, não lê do mesmo jeito que uma criança de um meio social rico; nenhuma delas provavelmente lerá da mesma maneira que a professora. Também aqui não se deve concluir que uma lê bem e a outra lê mal; todas lêem de maneiras diferentes. O significado de um texto para um menino pobre de periferia não precisa ser idêntico ao significado do mesmo texto para um aluno de classe alta da cidade. Lembro-me de uma ocasião em que um órgão do governo estava fazendo campanha nas escolas através de leituras para que o povo aprendesse a se alimentar melhor. No texto dizia que - comer carne é bom porque a carne contém muita proteína, que comer peixe também é excelente pela mesma razão etc. Alguns alunos acharam o texto banal, porque afinal de contas eles sempre comeram essas coisas. Outros alunos acharam um ultraje, porque o problema era a falta de dinheiro, de condições para obter o próprio alimento. Diante das mesmas histórias, certas crianças ficam revoltadas, outras apavoradas, outras, ainda, acham graça e algumas até não entendem o fantástico. Cada uma lê a seu modo.- E isso não é mal, mas é o que deve acontecer, e a escola deve respeitar a leitura de cada um. Embora a leitura participe de uma certa convencionalidade, como foi dito anteriormente, é sempre uma obra aberta, jamais fechada. Por mais que um escritor se esforce para restringir a leitura de sua obra a limites bem definidos e controláveis, jamais isso será possível na sua totalidade. Caberá sempre ao leitor interferir na leitura que fará de acordo com seu mundo interior. Portanto, se a leitura é na sua essência uma atividade individual, a escola não pode torná-la um mero pretexto para avaliar outros elementos, como pronúncia, rapidez de decifração etc. Porque a leitura é uma atividade ligada essencialmente à escrita e, como há vários tipos de escrita, assim também haverá os correspondentes tipos de leitura. Um sistema de escrita baseado no significado terá um tipo de leitura diferente da leitura de um sistema de escrita baseado no significante, como já se disse antes. Um sistema baseado no significante pode estar mais próximo de um sistema de transcrição fonética do que de um sistema ortográfico. Cada um desses tipos de escrita requerum tipo de leitura próprio. Uma transcrição fonética exige uma leitura baseada na representação que os símbolos fazem das possibilidades articulatórias do homem, de tal modo que permite um único modo de leitura comrelação ao significante. Porém, uma escrita ortográfica permite a leitura de um texto com todas as possibilidades de variação dialetal que a língua oferece. A escola em geral passa aos alunos a falsa ideia de que a ortografia só permite a leitura do significante segundo a fonética do dialeto-padrão que ela usa. Ao escrever, escolhem-se elementos do conjunto que constitui o sistema da língua. Por isso, toda leitura deve ser feita não só sintagmaticamente, como também paradigmaticamente. A escolha de uma palavra e não de outra é significativa, e um bom leitor sabe entender isso. Algumas pessoas fazem em geral uma leitura muito sintagmática e pouco paradigmática e outros ao contrário. Algumas pessoas não percebem que certas palavras foram usadas, e não outras, porque se queria conseguir efeitos especiais com a escolha. Outras pessoas têm uma série de dificuldades em entender um texto porque esquecem o óbvio, o literal, e se emaranham numa floresta de considerações que tentam ligar com qualquer pretexto ao texto. Controlar devidamente essas coordenadas é realmente uma tarefa difícil. Um texto escrito nem sempre é montado sintagmaticamente, apesar da aparência linear das letras e das pala vras. Um bom exemplo disso são os dicionários. Um outro exemplo típico é a apresentação de dados. Quando analisados e interpretados em tabelas e gráficos, sua leitura é em grande parte dirigida, tendo pontos de partida e chegada mais ou menos bem definidos. Porém, os dados brutos são um conjunto de coisas escritas que não podem ser lidas linearmente. O leitor deve ligar as par- tes que julgar pertinentes como se resolvesse um quebra-cabeça. Tenho encontrado alunos que diante de uma coletânea de dados não sabem "ler nada", porque o único tipo de leitura cujo conteúdo são capazes de entender é a leitura de textos lineares. A leitura de dados não se realiza só linearmente, mas interpretativamente, de maneira um tanto semelhante à que ocorre com a leitura de sistemas de escrita baseados no significado e não no significante. Fonte: CAGLIARI, L. C. Alfabetização e Linguística. 5 ed. São Paulo. Scipione, 1992. p. 148-153 Faça, agora, uma síntese do texto de CAGLIARI em seu caderno de anotações, para fixar o conteúdo. Como você pôde perceber durante a leitura do texto, Cagliari expõesuas opiniões sobre o que é a leitura, sua importância na vida das pessoas e qual o papel da escola em relação ao ensino dessa ferramenta. Reflita sobre o seguinte pensamento: O leitor é alguém de cuja vida social a escrita passou a fazer parte. É através da escrita que ele faz contato com as coisas do mundo. (Telma Weisz) Refletindo sobre sua história de leitura, interagindo com seus colegas de turma - através de suas histórias de leitura, lendo o texto de Cagliari e o pensamento de Weisz, acima, você pode considerar que, se somos socialmente diferentes, somos leitores diferentes. Isso se dá porque a leitura, por ser uma atividade complexa, envolve questões de significação, valores e aspectos culturais, além dos aspectos ideológicos, filosóficos e até fonéticos. Para nos constituirmos enquanto leitores, nos nossos atos de leitura, todos esses fatores estão articulados em relação àquilo que conseguimos compreender e interpretar a partir do texto que lemos. Não podemos esquecer, também, de que, ao produzirmos um texto, nele estamos colocando a interpretação que temos do mundo, pois também somos leitores do mundo e o interpretamos através da palavra escrita (ou falada). Assim como há diferentes leitores, diferentes tipos de textos, também há diferentes tipos de leitura. É sobre isso que vamos falar no próximo tópico. OS DIFERENTES TIPOS DE LEITURA Pense um Pouco: Como foi o seu primeiro contato com a leitura? Em nossa vida escolar, aprendemos que a leitura pode ser feita de forma silenciosa ou oral. Vamos refletir um pouco sobre isso. Como se dá o nosso primeiro contato com a leitura, seja em casa ou na escola? Geralmente, o nosso primeiro contato com a leitura se dá de forma OUVIDA. Alguém lendo uma história para nós. Quando alguém lê oralmente (Leitura ORAL), está decifrando o texto escrito através da fala, não é? Então, a leitura ORAL é uma leitura FALADA. Ela não faz parte do nosso dia-a-dia. É mais utilizada para as ocasiões públicas, em que lemos para outros ouvirem: na escola, na igreja, em eventos Quando ainda não sabemos decodificar a palavra escrita, lemos OUVINDO alguém que lê ORALMENTE, não é verdade? Esse processo acontece com a maioria das pessoas. Então, ouvir uma história é uma maneira de ler. Por isso a leitura pode ser OUVIDA. sociais, culturais etc. É uma leitura largamente utilizada em algumas situações, como por exemplo, nos telejornais, em que os apresentadores lêem as matérias para os telespectadores. A leitura oral necessita de boa entonação, ritmo, melodia, para que o texto lido seja muito bem compreendido pelo ouvinte. Ela dever ser não artificializada, isto é, ao lermos oralmente, devemos dar naturalidade ao texto, pois não estamos lendo somente para nós e sim para alguém que ouve e necessita, também, LER o texto através da audição. Temos, ainda, a leitura silenciosa VISUAL, que é a mais comum. É uma leitura de caráter mais individualizada, em que lemos apenas para nós próprios. Deciframos e decodificamos a escrita através da nossa visão. É a leitura que realizamos a todo momento em nossas vidas: nas ruas, nos letreiros, nas embalagens, nos romances, nos livros, no mundo, enfim. A leitura silenciosa visual nos possibilita uma maior introspecção no texto, favorecendo, por isso uma melhor reflexão sobre o que lemos. Consideramos, agora, a leitura de IMAGENS. Imagine uma criança, que ainda não sabe ler a palavra escrita, lendo um livro só com gravuras. Essa criança não é capaz de contar a história? Então, ler as imagens é também uma leitura visual. Podemos pensar, ainda, nos diferentes gêneros midiáticos que utilizamos para nossas leituras visuais silenciosas em nosso cotidiano PARA INTERPRETAR OUTROS TIPOS DE MENSAGENS COMPLEXAS QUE NÃO O TEXTO ALFABÉTICO, tais como: ideogramas, diagramas, mapas, esquemas, filmes, vídeos, televisão, internet etc. Assim, podemos dizer que a leitura pode ser OUVIDA, FALADA (oral) ou VISTA (visual). Todo ato de leitura exige de nós uma relação com a realidade da qual fazemos parte: nossos conhecimentos, cultura, história. É isso que nos faz atribuir sentidos àquilo que lemos. Escutar, olhar, ler, equivale a construir-se. Enquanto leitores, nós fazemos leituras com diferentes finalidades e temos diferentes interesses ao realizar um ato de leitura. Reflitamos mais uma vez: Com que finalidade fazemos uma leitura? Para que serve a leitura? Para que você está lendo este texto agora? Como você está se sentido ao ler? Você está gostando ou não? Você está lendo por obrigação ou por prazer? Você está adquirindo alguma informação? Nem sempre a leitura é um prazer. Ela também pode ser dolorosa! Ler um romance por nossa própria escolha é sempre maravilhoso, mas quando o professor manda ler o romance para fazer um trabalho acadêmico... Ah! Essa leitura, muitas vezes, se torna um terror! Quem já não passou por uma experiência desse tipo? Nós lemos com as mais diversas finalidades, de acordo com as diferentes situações individuais ou sociais com as quais nos deparamos. Assim, praticamos vários tipos de leitura: a) Leitura informativa – lemos para nos informar, para conhecer aspectos da vida cotidiana: jornais, revistas, instruções, normas, regimentos etc. Geralmente essa leitura é rápida e sem envolvimento afetivo pessoal. b) Leitura de consulta – consultamos textos e materiais para procurar uma informação em particular: dicionários, enciclopédias, catálogos, etc. Esta leitura exige uma exploração visual específica e seletiva para localizar a informação de que precisamos. c) Leitura para a ação - é a leitura que fazemos para orientar ou modificar nosso comportamento ou realizarmos uma ação, como por exemplo: placas de sinalização, de orientação, avisos, cartazes, receitas de bolo, regras de um jogo, manuais técnicos etc. d) Leitura reflexiva – caracteriza-se por ser uma leitura mais densa, pois requer a apreensão do conteúdo do texto, bem como reflexão sobre o lido. Está vinculada ao estudo, à pesquisa, ao trabalho intelectual. É a leitura de textos escolares, teóricos, didáticos, trabalhos acadêmicos, filosóficos e literários etc. e) Leitura fruição – É a leitura que fazemos pelo nosso próprio gosto, para relaxar, distrair. É a leitura de evasão: romances, poesia, revistas, literatura em geral. É a leitura que se faz apenas pelo prazer de ler. Todos esses tipos de leitura estão a nossa disposição no mundo da leitura/escrita, contribuindo para nossa formação enquanto leitores. Consideremos, ainda, que, atualmente, dispomos também de um mundo virtual, na internet, em que podemos exercer as nossas práticas de leitura, acessando uma diversidade enorme de textos, das mais diversas configurações. Reflita sobre o que lemos. Anote em seu caderno os conceitos apresentados. Caro(a) aluno(a), Agora, depois que você já leu o texto-base da SUBUNIDADE 1, fez várias reflexões e anotações, procure desenvolver as seguintes atividades, buscando avaliar-se em termos da compreensão do estudo realizado: a) Releia o texto-base; b) Reveja suas anotações; c) Procure organizar suas anotações em um pequeno texto, sintetizando o conteúdo estudado e troque e-mails com seu grupo de estudo. Isto o ajudará muito a fazer a avaliação desta SUBUNIDADE 1. CONCLUSÃO Chegamos ao final da SUBUNIDADE1. Até aqui, falamos um pouco sobre a leitura, seu conceito e tipologia. Reflita sobre tudo o que vimos e, antes de realizar a avaliação desta SUBUNIDADE 1, aprofunde seus estudos lendo o material indicado no link SABER MAIS. Para você saber mais sobre o conteúdo apresentado, leia: GOULART, C. M. Ler, escrever e teclar. Disponível em: <http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2001/epc/epctxt2.htm>. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Leitura>. PROPOSTA DE ATIVIDADE PARA A SUBUNIDADE 1 Você leu o texto-base da SUBUNIDADE 1 e fez anotações. Além disso, você leu os textos indicados na seção SABER MAIS. Com base nesses textos (e em outros que você pode pesquisar, inclusive textos na internet) e na sua experiência como leitor, comente o seguinte trecho: Não nascemos leitores. A formação de leitores é uma tarefa de vida toda. Ler não é um simples fato biológico. Apesar de envolver visão, neurônios e outros aspectos fisiológicos, é um ato eminentemente cultural, é produção de significados. Daí implicar, necessariamente, opções e ações políticas, mobilização pública, além de recursos que vão dos materiais aos saberes e competências diversas e especializadas. [...] Se continuamos a ler em livros, jornais, revistas, lemos também em outros e novos suportes que abrem possibilidades até então inexistentes para a escrita. Num mundo onde espocam mensagens de todo lado, é preciso aprender a ler os suportes tradicionais, como também, as telas dos computadores, o visor dos celulares, os outdoors nas ruas e muitos outros veículos contemporâneos que alteram a escrita e nossas relações com ela. Por outro lado, como no nosso tempo as mensagens escritas agregam outras linguagens, é preciso estabelecer conexões entre linguagem escrita e as linguagens orais, audiovisuais, gestuais, num processo dinâmico de mobilização e conexão multimidiática. Atentos à especificidade e às exigências de cada tipo de linguagem, é preciso colocá-las, todavia, em relação umas com as outras.” Fonte: PERROTI, E. LeituraS, 01. MEC/SEB, 2006. p.17. Não esqueça de enviar esta atividade para o Fórum de Discussão de sua turma. UNIDADE I SUBUNIDADE 2 O Texto INTRODUÇÃO Na SUBUNIDADE 1, estudamos concepção e tipologia de leitura. Vimos que a leitura pode ser falada, ouvida ou vista. Na SUBUNIDADE 2, vamos conhecer mais de perto o que é o objeto chamado TEXTO. Também estudaremos Tipologia Textual, revendo a constituição dos textos: Narrativo, Descritivo e Dissertativo. É importante que você leia com muita atenção e resolva as atividades propostas, com vistas a desenvolver a sua própria prática de produção dessa tipologia textual. Bom trabalho!!! O TEXTO O QUE É UM TEXTO? A palavra TEXTO origina-se do latim TEXTU e significa TECIDO. Para se obter um tecido, é necessário que se realize o ato de tecer, ou seja: tramar os fios de forma apropriada, conveniente, urdida. O tecido não é um amontoado de fios desorganizados. Ele se constitui a partir da disposição planejada e organizada, de uma combinação harmônica e coesa entre os fios. Assim também um texto não é um amontoado de frases desconexas. Antes de mais nada, um texto é uma ocorrência linguística falada ou escrita, de qualquer extensão, datada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal. (VAL, 1994, p.3) Segundo Fiorin (1997, p. 7): O texto é um todo organizado de sentido, o que significa que ele possui uma estrutura. Além de ser um objeto linguístico, é um objeto histórico. Isso quer dizer que o sentido do discurso se constrói por meio de mecanismos intra e interdiscursivos, ou seja, o sentido organiza-se por meio de urna estruturação propriamente discursiva e pelo diálogo que mantém com outros discursos a partir dos quais se constitui. Na nossa vida social, nos constituímos histórica e culturalmente na relação com o outro. Os textos fazem parte da nossa vida cotidiana, em nossos processos de interação. A todo momento produzimos textos orais; por muitas vezes, somos solicitados a produzir textos escritos com diferentes finalidades, seja na escola, no trabalho, numa correspondência familiar etc. É necessário também considerarmos que a vida social exige de nós a leitura de diferentes tipos de textos, como: ideogramas, logomarcas, imagens, mapas, etc, os quais não se constituem como textos alfabéticos, mas são também textos em circulação na sociedade. A nossa individualidade, enquanto membros de uma sociedade, se constitui, então, pelas relações sociais; não nos fazemos sozinhos. Os nossos textos (que lemos e produzimos) trazem as nossas marcas particulares. Mas essas marcas são o reflexo de muitos textos que lemos, ouvimos, vimos, interpretamos. A respeito disso, reflitamos sobre o que diz PERRONE-MOISÉS(1993, p. 48): O texto não é o discurso de um sujeito imutável e pleno, prévio ou posterior ao discurso. O texto é o lugar onde o sujeito se produz com risco, onde o sujeito é posto em processo e, com ele, toda a sociedade, sua lógica, sua moral, sua economia. "O texto como produtividade: perturba a cadeia comunicativa e im- pede a constituição do sujeito; remonta ao germe do sentido e do sujeito; rede de diferenças; multiplicidade de marcas e de intervalos não centrada; exterioridade do signo assumindo o próprio signo." O texto é o lugar da escritura, um lugar onde o sujeito se arrisca numa situação de crítica radical, e não o produto acabado de um sujeito pleno. Assim, o sentido do texto é criado no jogo interno de dependências estruturais e nas relações com o que está fora dele. Na escola, a nossa função é ajudar nossos alunos a serem leitores e produtores de textos competentes e que tenham autonomia. Esta não é uma tarefa fácil, pois exige que as práticas de leitura e produção de textos sejam realmente efetivadas em sala de aula. Pare um pouco! Considere o que dizem os autores citados no texto que acabamos de ler. O que você pensa sobre o que eles dizem? Para você, o que é um texto? TIPOLOGIA TEXTUAL Reflitamos: Se a leitura pode ser ouvida, falada ou vista, então temos, em princípio, textos que podem ser ouvidos, falados e vistos. Você concorda? Observe: Texto Falado Texto Visto Texto Ouvido Tradicionalmente, temos aprendido que a tipologia textual se limita a textos narrativos, descritivos e dissertativos, não é? Esses são alguns tipos de textos possíveis, trabalhados pela escola, em nível básico, considerando-se a produção escrita dos alunos. Mas o ESCRITO não é o único suporte do texto: existem textos “na rua” assim como existem textos nos livros. Dentro das diferentes modalidades de textos (falada, ouvida e vista), há uma vasta tipologia textual em uso na sociedade a nossa disposição: textos mais comuns, com os quais temos contato mais cotidianamente, como piadas, anedotas, textos literários (esses textos podem envolver processos narrativo- descritivos); bulas de remédio, receitas culinárias, manuais de instrução (que são textos instrucionais); obras acadêmicas, científicas e filosóficas (que são textos de caráter dissertativo). Como já dissemos anteriormente, também dispomos de muitas imagens que exigem a nossa leitura interpretativa: charges, rótulos, ilustrações, placas de sinalização, mapas, quadros etc. Dentre os textos vistos/ouvidos, não podemos esquecer daqueles veiculados pela Televisão. Ao desfrutar desse recurso áudiovisual, estamos também na condição de leitores de textos: jornais, novelas, filmes, documentários,programas de humor, desenhos animados, programas de auditório, propagandas etc. Os textos de propaganda, por sua vez, ocupam uma grande parte da nossa “tele-visão-audição”. Quando nos conectamos à internet, temos acesso a uma gama enorme de textos, instantaneamente. Podemos entrar em galerias de arte, assistir vídeos, ouvir músicas, poesia, ler obras literárias, revistas, visitar bibliotecas, enfim... Podemos também conversar (teclar) com pessoas dos mais distantes e diferentes lugares do globo terrestre. Podemos participar de comunidades virtuais, fazer amigos e até mesmo “arrumar” um casamento! O mundo todo se transforma em um HIPERTEXTO que pode ser, digamos, “manipulado” por nós, com um toque no teclado do computador. O texto, assim, está em todas as partes do mundo, mas é preciso observar que nem tudo é texto. Ao ler/produzir um texto, estamos assumindo uma posição crítica com relação ao mundo, ao contexto em que nos situamos; portanto, é preciso que saibamos ler criticamente todos os textos com os quais temos contato. Vamos fazer uma pequena pausa na leitura. Pesquise em revistas, jornais, internet etc., pelo menos três diferentes tipos de textos (EX: piada, charge, receita...). Depois compare os textos entre si e escreva suas impressões sobre as características de cada texto. Mande suas impressões para o Fórum de discussão. Leia as impressões de seus colegas de turma!!!! Vamos, agora, estudar alguns diferentes tipos de textos: O TEXTO NARRATIVO É aquele em que narramos um fato, contamos uma história. Eles fazem parte do nosso cotidiano. Quando narramos um fato, devemos situá-lo no tempo (cronológico ou físico) e no espaço (local), bem como apresentar as personagens. O NARRADOR Um texto narrativo sempre é contado por um NARRADOR. a) Pode ser uma PERSONAGEM que participa do fato narrado. Então, a narrativa é feita em PRIMEIRA PESSOA. Veja o seguinte fragmento: Você pode observar que, no trecho lido, o narrador é PARTICIPANTE, pois os verbos estão em primeira pessoa: ESTOU CHEGANDO, FUI, FOMOS... b) Pode ser alguém que não participa da história e se comporta como um OBSERVADOR do fato narrado. Aqui, os verbos são utilizados na TERCEIRA PESSOA. Observe: Estou chegando dum final de semana emocionante. Fui, com mais dez pessoas, pruma fazenda. No maior segredo. Saímos de madrugada, no sábado. Escuríssimo. Sem avisar ninguém pra onde íamos. Sem poder levar roupa pra trocar. Sem ter idéia do lugar onde fomos. Maior clima de mistério. Fonte: ABRAMOVICH, F. As voltas do meu coração. São Paulo: Atual, 1989. Clarice não teve remédio senão aceitar o convite. Mas, enquanto cumprimentava os dois velhos, sentiu um aperto no coração: o avô de Leopoldo tinha o mesmo aspecto de seu pai, dias antes de morrer. Tinha já bastante experiência para conhecer uma pessoa realmente doente. Como seu pai. . . Mas calou. Talvez não houvesse motivo para preocupação. Talvez o avô pudesse viver até a chegada do bisneto... Fonte: LEAL, I. S. Mistério na Morada do Sol. São Paulo: Moderna, 1982. Como você pode verificar, no trecho lido, o NARRADOR se comporta como alguém que está fora da história, observando os acontecimentos. O FOCO NARRATIVO De acordo com o modo pelo qual o narrador se comporta, situando-se em relação ao fato narrado, temos o FOCO NARRATIVO QUE PODE SER EM PRIMEIRA OU EM TERCEIRA PESSOA. São exemplos de textos narrativos: piadas, fábulas, contos, crônicas, romances, novelas, filmes, etc. Nós podemos ter textos narrativos em prosa ou em versos. Você já leu alguma história de literatura de cordel? Geralmente elas são textos narrativos em versos. Outros bons exemplos de narrativas em versos encontradas na literatura são: Os Lusíadas (Camões ), Uruguai (Basílio da Gama ), Caramuru (Santa Rita Durão), I Juca-Pirama (Gonçalves Dias), O Caçador de Esmeraldas (Olavo Bilac) O Romance da Inconfidência (Cecília Meireles). O TEMPO O texto narrativo se caracteriza, ainda, pelo desenrolar da ação, pelo passar do tempo. O TEMPO, na narrativa, pode ser CRONOLÓGICO OU PSICOLÓGICO. a) Na narrativa de TEMPO CRONOLÓGICO, nós percebemos o seu desenrolar com a marcação de horas, datas, acontecimentos históricos. Observe: b) Na narrativa de TEMPO PSICOLÓGICO, o passar do tempo é marcado pela vivência subjetiva, tempo de consciência da personagem; é um tempo indeterminado. Agora, o dia está claro, a chuva tinha ido embora com a noite. Eram onze horas da manhã, quando o pessoal da colônia, sabedor da notícia, começou a se reunir à volta da casa. Todos deviam vir para o almoço, naquele aniversário do dono da casa. Ali estavam todos os colonos, que, pela boca do mais velho, vinham oferecer seus votos de felicidades e dizer que compreendiam porque, naquelas circunstâncias, não haveria o almoço. Fonte: LEAL, I. S. Mistério na Morada do Sol. São Paulo: Moderna, 1982. COLOCAR EXEMPLO QUADRO SÍNTESE DOS ELEMENTOS DO TEXTO NARRATIVO Agora é sua vez! Construa um texto narrativo e disponibilize-o para seus colegas de turma no Fórum de Discussão. Pode ser uma piada, uma fábula, um acontecimento relacionado ao seu dia-a-dia. Boa escrita!!! A rechina é grande, sufoca, mas Dois Cavalos não leva pressa, dá-se ao gosto de parar nas sombras, então saem José Anaiço e Joaquim Sassa a perscrutar o horizonte, esperam o tempo que for preciso, enfim lá vêm, nuvem única no céu, estas paragens não seriam precisas se os estorninhos soubessem voar em linha recta, mas, sendo tantos, e tantas as vontades, mes- mo gregariamente reunidas, não se podem evitar dispersões e distracções, uns quiseram pousar, outros beber água ou provar de frutos, enquanto um único querer não prevalece perturba-se o conjunto e confunde-se o itinerário. Pelo caminho, além das aves milhanas, solitárias caçadoras, e outras de menor congregação, foram vistos pássaros da espécie, mas não se juntaram à companhia, talvez por não serem pretos, mas malhados, ou terem outro destino na vida. José Anaiço e Joaquim Sassa entravam no carro, Dois Cavalos metia-se à estrada, e assim, andando e parando, parando e andando, chegaram à fronteira. Então disse Joaquim Sassa, E agora, se não me deixam passar, Vai tu seguindo, pode ser que os estorninhos. Fonte: SARAMAGO, J. A Jangada de Pedra. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. QUADRO SÍNTESE DOS ELEMENTOS DO TEXTO NARRATIVO O FATO O acontecimento; a história contada. AS PERSONAGENS Pessoas que atuam na narrativa, além do narrador. O NARRADOR Aquele que narra o fato (participante ou observador). O FOCO NARRATIVO Modo pelo qual o narrador se comporta, situando- se em relação ao fato narrado (primeira pessoa ou terceira pessoa). O TEMPO Extensão de tempo cronológico ou psicológico em que a narrativa acontece. O ESPAÇO Local onde os fatos ou as cenas acontecem. O ENREDO OU AÇÃO Sequência dos fatos ou acontecimentos. O CLÍMAX Parte alta e emotiva do texto. TEXTO DESCRITIVO O processo de descrição ajuda-nos a caracterizar personagens, espaços, objetos, cenários... Nós podemos utilizar descrições em textos narrativos, é claro! Toda vez que precisamos descrever algo, a ação da narrativa é interrompida. Por isso, os textos de caráter mais descritivo são textos sem ação: Veja: Podemos utilizar a descrição para: Nomear ou identificar: é dar existência a um ser. Isso nos permite reconhecer a pessoa ou objeto descrito, com suas características genéricas ou específicas. A identificação pode ser realizadasegundo aspectos físicos, psicológicos, comportamentais. Localizar/Situar: é determinar o lugar que aquilo que descrevemos ocupa no espaço e no tempo. Qualificar: é dispor a visão do observador sobre aquilo que descreve. A qualificação ocorre no plano objetivo (aspectos visuais, auditivos, olfativos, gustativos, táteis) e/ou no plano subjetivo (aspectos psicológicos, sentimentos, emoções etc.). Agora, releia o trecho de Tezzari e veja que a autora nomeou o objeto descrito (VESTIDO), depois descreveu suas características objetivas (azul marinho, drapeado, justo, forrado etc.); localiza o objeto (está no guarda- roupa); em seguida, ela deixa transparecer a sua subjetividade (É lindo! Simboliza um sonho realizado). A descrição, então, pode enriquecer uma narrativa, permitindo que o leitor “veja” e “sinta” como são as personagens, os É um vestido todo azul marinho, com o corpo tomara-que-caia drapeado, bem justo, a saia na altura do joelho, bem franzida, farta, de renda, forrado de um tecido comum, com um bolerinho feito só com renda, sem forro. É lindo! Está lá no meu guarda-roupa desde muito tempo. Simboliza os meus sonhos já realizados. Não me deixa esquecer aqueles que ainda estão como sonhos, lá no alto, esperando a vez. Fonte: TEZZARI, N. dos S. Parceiros de Jornada. Porto Velho: EDUFRO, 2001. objetos, o espaço; o leitor pode, assim, imergir no texto, tomando com ele maior intimidade. Agora é sua vez! Construa um texto descritivo e disponibilize-o para seus colegas de turma no Fórum de Discussão. O TEXTO DISSERTATIVO É um texto em que defendemos ou contestamos uma ideia, um ponto de vista ou um questionamento sobre um determinado assunto. Nesse tipo de texto, trabalhamos com argumentos, com fatos, com dados, com vistas a reforçar ou justificar o desenvolvimento de nossas ideias; por isso, o texto dissertativo necessita de que utilizemos uma linguagem referencial, exata, porque buscamos convencer o leitor pela força e qualidade dos argumentos que apresentamos. Convém salientá-lo que a dissertação é a discussão organizada de um problema. Para discuti dessa forma, é necessário que tenhamos informações, conhecimento para formar nossa própria opinião sobre o tema que vamos discutir. Nesse sentido, é muito importante que façamos leituras sobre o tema a ser desenvolvido para que possamos construir um bom texto dissertativo. O texto dissertativo pode ser elaborado de duas maneiras: Dissertação Objetiva - usa-se a 3ª pessoa do singular, a impessoalidade, a função referencial da linguagem, falando-se a respeito de um referente, dando informações, opiniões, colocando em discussão um tema. Dissertação Subjetiva – usa-se a 1ª pessoa do singular, a linguagem emotiva e apela-se para os sentimentos e as emoções do leitor, para tentar convencê-lo. Exemplos típicos são os discursos políticos e religiosos. Leia o texto abaixo. Ele é um bom exemplo de uma Dissertação Objetiva: A TELEVISÃO E A VOLTA ÀS CAVERNAS Roberto Pompeu de Toledo Tende-se a esquecer, nestes tempos, que o melhor meio de comunicação já inventado é a palavra. Qual é a minha porta? Está o leitor, ou a leitora, diante dos toaletes de um restaurante, um teatro ou hotel, e com freqüência experimentará um momento de vacilação. Não que tenha dúvida quanto ao próprio sexo. A dúvida é com relação àqueles sinais inscritos sobre cada uma das duas portas — que querem dizer? Olha-se bem. Procura-se decifrar seu significado profundo. Enfim, vem a iluminação: ah, sim, este é um boneco de calças. Sim, parece ser isso. E aquela silhueta, ali ao lado, parece ser uma boneca de saia. Então, esta é a minha porta, concluirá o leitor. E aquela é a minha, concluirá a leitora. A humanidade demorou milhões de anos para inventar a linguagem escrita e vêm agora as portas dos toaletes e a desinventam. Por que não escrever “homens” e ‘mulheres”, reunião de letras que proporciona a segurança da clareza e do entendimento imediato? Não. Algumas portas exibem silhuetas de calças e saias. Outras, desenhos de cartolas, luvas, bolsas, gravatas, cachimbos e outros adereços de uso supostamente exclusivo de um sexo ou outro. Milhões de anos de progresso da humanidade, até a invenção da comunicação escrita, são jogados fora, à porta dos toaletes. E no entanto a palavra, a palavra escrita especialmente, continua sendo um estupendo meio de comunicação. Deixa-se um bilhete para um colega de trabalho dizendo “Fui para casa”, e vazado nesses termos, com o uso dessas três singelas palavrinhas, será, sem dúvida, de entendimento mais fácil e unívoco do que se se desenhar uma casinha de um lado, um hominho de outro, e uma flecha indicando o movimento de uma para outra. Vivemos um tempo de culto da imagem. Esquece-se o valor inestimável da palavra. A comunicação escrita é muito eficiente, inclusive porque tem o dom de atravessar os séculos. Tomemos Camões. Claro que se algum cinegrafista amador tivesse registrado o náufrago do poeta, perto da foz do Rio Mekong, nos confins da Ásia, e as cenas em que ele, como diz a lenda, procurava a salvação simultânea da própria vida e da obra, nadando com um braço e com outro segurando os originais dOs Lusíadas, acima da linha d’água para mantê- los secos, seria um documento de grande valor. Teríamos uma edição de gala do Jornal Nacional. Mas o filme só despertaria esse interesse, porque Camões é Camões. Ou seja, porque é o autor de uma obra escrita que atravessou os séculos. Camões comunica-se conosco, quatro séculos depois de sua morte, porque se utilizou dessa ferramenta insubstituível que é a palavra gravada num papel, ou num papiro, ou numa prensa. O pensador italiano Norberto Bobbio, em seu último livro publicado no Brasil (O Tempo da Memória), afirma que se irrita em falar ao telefone. Bobbio cita outro italiano, Guido Ceronetti, que escreveu: “Sempre que posso (...) faço apaixonada apologia de escrever cartas entre seres pensantes, ainda não embrutecidos, que se comunicam apenas pelo telefone, ou então por fax ou telefone celular. (...) O homem que pensa de verdade escreve cartas aos amigos”. O homem do século XX acostumou-se a pensar que o século XX é maravilhoso. Em matéria de ciência e tecnologia, suas conquistas seriam inigualáveis. Vá lá, o telefone representou um avanço. Mas consideremos, por um momento, o que ele pôs a perder. O hábito de escrever cartas, como diz Ceronetti, e o exercício de inteligência que isso representa. A conversa direta, olho no olho. O hábito de fazer visitas, de procurar diretamente as pessoas. Com telefone, não teria havido este ponto alto da criação humana que é o romance do século XIX. Os enredos têm base em visitas, encontros inesperados, notícias que chegam tarde. Com telefone, não há história de Dostoievski, Balzac, Dickens ou Eça de Oueiroz que resista. A desvalorização da comunicação escrita, em nosso tempo, começa numa banalidade como as portas dos toaletes, e culmina neste símbolo do século que é o culto das conquistas tecnológicas do rádio ao telefone celular, no caso das comunicações. Ora, conquista por conquista, continua insuperável, no mesmo ramo das comunicações,em primeiro lugar a invenção de uma língua comum, em cada determinada comunidade, e em segundo a reprodução dessa língua em signos escritos. Lorde Thomson of Monifieth, um inglês que já presidiu a lndependet Broadcastinsg Authority, órgão de supervisão do sistema de rádio e televisãona Grã-Bretanha, disse certa vez, numa conferência, que lamenta não ter surgido na história da humanidade primeiro a televisão, e depois os tipos móveis de Gutenberg. ‘Penso que imprimir e ler representam formas mais avançadas de comunicação civilizada do que a transmissão de TV”, afirmou. Esse lúcido inglês confessou que, em seus momentos sombrios, se sente incomodado com o pensamento de que a humanidade caminhou milhões de anos para voltar ao ponto de partida. Começou magnetizada pelos desenhos nas paredes das cavernas e terminou magnetizada diante das figuras de alta definição nas paredes onde se embutem os aparelhos de televisão. Fonte: TOLEDO, R. P. de. A televisão e a volta às cavernas. Veja, jun. 1997. Veja, agora, um exemplo de Dissertação Subjetiva: CRIATURINHA DE DEUS COLOCA OS PINGOS NOS IS Bárbara Garcia Folha de São Paulo 01/06/1994 Uma minha comadre de trinta e quatro anos acaba de comer o pão que o diabo amassou. Durante três semanas ela agonizou em uma cama do Hospital Sírio-Libanês, acometida por uma misteriosa infecção nos nervos. Injetaram-lhe gamaglobolina (conta: dez mil dólares), morfina e cortisona, enfiaram-na duas vezes naquela claustrofóbico aparelho de ressonância magnética, efetuaram três punções para extrair seu líquido cérebro-espinhal, enfim, fizeram gato e sapato da coitada. Só não descobriram o que há de errado com ela e o que fazer para restabelecer sua saúde. Para concluir o pesadelo com chave de ouro, na saída do hospital o neurologista apresentou à família a nota pelos serviços prestados. Valor: cinco mil dólares. Quando meu compadre, marido da enfermeira, pediu alguns dias para pagar a conta, o médico retorquiu: “nada feito”. Paga-se caro para passar por porquinho-da-índia nas mãos de médicos cada vez mais impotentes diante de doenças contagiosas. Qualquer que tenha se tratado com um dermatologista sabe muito bem do que eu estou falando. E o que dizer da “bactéria assassina” recém divulgada nos jornais ingleses, o estreptococo do Grupo A que destrói os tecidos subcutâneos à velocidade de três centímetros por hora e mata em menos de vinte e quatro horas? Ninguém sabe explicar como essa criaturinha de Deus, uma bacteriazinha das mais rastaqueras – que, na maioria das vezes, causa apenas faringite e febre reumática – adquiriu tanto poder. Já imaginou o que deve ser abotoar o paletó com grangrena generalizada? A pessoa simplesmente apodrece, bate as botas, perece como uma manga chupada. Não tem nem tempo de ligar para se despedir dos amigos. Já pensou? “Alô?” e vapt! Cai a língua! “Como vai?” e vupt! Vão-se os braços, os dedos e os anéis! A vida é isso. Quando a gente pensa que não existe nada pior do que os militantes profissionais que organizam as invasões dos sem-terra, surge um novo microorganismo para nos lembrar que nada, nada mesmo, pode ser mais aterrorizante do que a ignorância da medicina. Fonte: GARCIA, B. Criaturinha de Deus Coloca os pingos nos IS. Folha de São Paulo, jan. 1994. PARTES DA DISSERTAÇÃO Os textos dissertativos tradicionalmente são estruturados a partir de parágrafos assim distribuídos: Introdução, Desenvolvimento do tema (ou Argumentação) e Conclusão. a) INTRODUÇÃO: é a parte em que o autor apresenta o assunto que vai discutir. Há diversas maneiras de se fazer a introdução de um texto dissertativo. Vejamos algumas: Apresentação de uma declaração inicial: o autor afirma ou nega alguma idéia, para, em seguida, justificar ou fundamentar. Alusão a fatos históricos: o autor faz alusão a fatos históricos, lendas, tradições, crendices, anedotas ou a acontecimentos. Interrogação: o autor inicia o texto com uma pergunta intrigante, que ele buscará responder, esclarecer. Uso de dado(s) estatístico(s): o autor pode iniciar uma discussão com base em um dado estatístico forte; assim, no desenvolvimento do texto, poderá fazer uma boa análise, baseando-se no dado utilizado. Uso de provérbios ou ditos populares: o autor pode iniciar a dissertação utilizando um provérbio ou dito popular a partir do qual poderá fundamentar suas idéias. Uso de citação: o autor pode aproveitar a fala de alguém importante ou famoso, ou que seja ligado ao assunto em discussão. b) DESENVOLVIMENTO OU ARGUMENTAÇÃO: é a parte em que o autor desenvolve seu ponto de vista, argumentando, citando exemplos, fornecendo dados; posicionando-se em relação ao tema. O Desenvolvimento constitui a parte mais extensa do texto, fundamentando a idéia inicial apresentada na introdução. Os argumentos usados no Desenvolvimento visam convencer o leitor a respeito daquilo que foi afirmado. Há vários recursos para se fazer isso: apresentando detalhes, definições, exemplos, dados estatísticos, comparações, oposições, pontos positivos e negativos, causas, conseqüências, perspectivas, histórico, opiniões diversas, ilustrações, comparações etc. c) CONCLUSÃO: é a parte em que o autor conclui o seu texto, de forma coerente com o desenvolvimento e com os argumentos apresentados. Vale lembrar que as partes do texto dissertativo a que nos referimos permitem certa liberdade de manipulação; entretanto, elas sempre estarão presentes na estrutura de uma dissertação. Para que você desenvolva bons textos dissertativos, é importante considerar que: Cada parágrafo que compõe as partes de uma dissertação deve ser claro, preciso, conectado aos outros com COESÃO e COERÊNCIA, pois é necessário que haja um encadeamento lógico das idéias, a fim de que o leitor acompanhe o raciocínio do autor; Cada parágrafo também possui em si essa estrutura, cujo tamanho varia de acordo com as intenções do autor; A estrutura de um texto dissertativo reproduz, em escala maior, a estrutura interna de um parágrafo. É necessária a elaboração de um plano de desenvolvimento, em que que o autor delimite o tema ou a idéia central, os argumentos de apoio e as conclusões. Caro(a) aluno(a), Agora, depois que você já leu o texto-base da SUBUNIDADE 2, fez várias reflexões e anotações, procure desenvolver as seguintes atividades, buscando avaliar-se em termos da compreensão que você teve do estudo realizado: d) Releia o texto-base; e) Reveja suas anotações; f) Organize suas anotações em um pequeno texto, sintetizando o conteúdo. Isto ajudará muito você a fazer a sua avaliação. CONCLUSÃO Chegamos ao final da SUBUNIDADE 2. Aqui discutimos sobre O que é um texto e a sua tipologia. Reflita sobre tudo o que vimos e, antes de realizar a avaliação da SUBUNIDADE 2, aprofunde seus estudos lendo o material indicado no link SABER MAIS. Para você saber mais sobre o conteúdo apresentado, leia: GUIMARÃES, Elisa. A articulação do texto. 3. ed., São Paulo: Ática, 1993. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Tipologias_textuais>. <http://www.eps.ufsc.br/disserta99/berger/cap2.html - 59k -pt.wikipedia.org/wiki/Comunicação - 49k –>. Você leu o texto-base da SUBUNIDADE 2 e tomou anotações. Além disso, você leu aqueles indicados na seção SABER MAIS. A partir de suas leituras, redija um texto dissertativo comentando o de Bárbara Gancia (Criaturinha de Deus coloca os pingos nos is) apresentado em nosso módulo. Considere a estrutura e os argumentos utilizados pela autora. Atente para a clareza, a coesão, a coerência e também para a correção ortográfica. Não esqueça de citar as fontes que você consultar. Não esqueça de enviar esta atividade para o Fórumde Discussão de sua turma, pois ela será objeto de avaliação. UNIDADE I SUBUNIDADE 3 A Escrita INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), O ato de escrever está profundamente ligado ao ato de ler. Produzimos e lemos textos em todos os momentos de nossas vidas. Mesmo quando pensamos ou falamos, estamos produzindo textos. Quando ouvimos, estamos, de certa forma, lendo textos. Porém a escrita fundamentalmente se presta à comunicação a distância. Por isso, requer uma linguagem diferente da linguagem oral, visto que ao escrever devemos considerar que o nosso interlocutor está longe de nós. Nas duas Subunidades anteriores, estudamos Leitura e Texto. Nesta Subunidade, vamos conhecer algumas concepções sobre o que é a ESCRITA. Bom trabalho!!! O QUE É ESCRITA A História da Civilização Humana inclui, necessariamente a ESCRITA. Ouso dizer que ela é a mais importante criação das sociedades humanas, pois dela nos servimos para registrar a ciência e a tecnologia, os conhecimentos, as descobertas, as impressões que temos do mundo, a literatura, as artes de modo geral. Convido você a conhecer a opinião de dois autores sobre o que é a escrita. Leia os dois textos com muita atenção. Primeiro vamos conhecer o que diz o linguista Luiz Carlos Cagliari (1992): A ESCRITA A escrita, seja ela qual for, tem como objetivo primeiro permitir a leitura. A leitura é uma interpretação da escrita que consiste em traduzir os símbolos escritos em fala. Alguns tipos de escrita se preocupam com a expressão oral e outros simplesmente com a transmissão de significados específicos, que devem ser decifrados por quem é habilitado. Nesse caso, os aspectos fonológico, lexical, sintático, que marcam a linearidade do discurso linguístico, não têm indicação específica, ficando a cargo do leitor encontrar a maneira mais adequada de realizá- los. Muitas vezes esse tipo de escrita se serve de palavras--chave para a sua decifração. Seus exemplos mais comuns são os sinais de trânsito. Uma placa com um triângulo tem uma palavra-chave atribuída convencionalmente à sua interpretação: PREFERENCIAL. Porém, essa placa pode ser lida de outras maneiras, todas elas exprimindo exatamente o que a placa significa: ‘Você está entrando numa estrada (rua) cujo tráfego tem prioridade de movimento sobre você"; "Cuidado com o próximo movimento de seu veículo, por causa do fluxo de tráfego da estrada (rua) para onde você está se dirigindo"; ou simplesmente "Deixe os veículos da estrada à sua frente passarem primeiro"; "Estrada mais importante à sua frente" etc. A placa se constitui numa escrita que procura não ter relação direta com a expressão sonora linguística, apresentando compromisso apenas com o valor semântico da mensagem. Por essa razão, esse sistema pode ser usado internacionalmente, de maneira igual, em regiões de cultura e línguas completamente diferentes. Em outras palavras, esse tipo de escrita se baseia só no significado e não no significante dos signos linguísticos, ou até mesmo em fatos que não precisam estar diretamente relacionados com o fenómeno linguístico propriamente dito. Nesse momento a escrita sai da expressão linguística, referindo-se a um pensamento não necessariamente de natureza linguística. Algo semelhante pode acontecer quando se dá o inverso, ou seja, quando a escrita representa o significante sem revelar nada do significado. Uma transcrição fonética de uma língua desconhecida evidencia esse fato. Quer num caso extremo, quer noutro, a escrita permite uma leitura, mas seu valor como código linguístico desaparece, uma vez que nesses casos não ocorre mais o signo linguístico, mas somente parte dele, ou seja, só o significado ou só o significante. Obviamente as escritas que se colocam nesses extremos são muito restritivas e têm um uso bastante específico e limitado. Um desenho não participa necessariamente de um tipo de escrita. A escrita, para ser qualificada como tal, precisa de um objetivo bem definido, que é fornecer subsídios para que alguém leia. Um desenho não precisa ser feito necessariamente para que alguém o leia. É evidente que se pode estender o valor dos termos leitura, ler, dizendo que se pode "ler" a natureza, o mundo, as pessoas etç. Nesse sentido, qualquer desenho ou fotografia pode ser decifrado, comentado lingüisticamente, sem que seja necessariamente um sistema de escrita, sem que ocorra uma leitura propriamente dita. A escrita deve ter como objetivo essencial o fato de alguém ler o que está escrito. Ler é um ato linguístico diferente da produção espontânea de fala sobre um assunto qualquer. Ler é condicionado pela escrita, mesmo que a restrição seja somente semântica. É exprimir um pensamento estruturado por outra pessoa, não pelo leitor falante. Um desenho pode se transformar facilmente num tipo de escrita. Muitas placas de trânsito se baseiam em desenhos. A indicação de banheiros masculinos e femininos em geral é feita por desenhos, o que pressupõe que os usuários leiam essas placas. Uma placa desse tipo e outros sinais só são considerados escrita quando alguém os interpreta e relaciona expressões de fala às formas gráficas, motivado pelo que interpretou. A simples indicação é uma representação semiótica, mas não é escrita. Escrita se refere especificamente ao signo linguístico e à atividade de fala. A escrita se diferencia de outras formas de representação do mundo, não só porque induz à leitura, mas também porque essa leitura é motivada, isto é, quem escreve, diferentemente por exemplo de quem desenha, pede ao leitor que interprete o que está escrito, não pelo puro prazer de fazê-lo, mas para realizar algo que a escrita indica. Por exemplo, separar o banheiro dos homens do das mulheres; no caso das placas de trânsito, disciplinar o tráfego, evitando acidentes; no caso de um texto tradicional, informar o leitor a respeito de seu conteúdo etc. A motivação da escrita é sua própria razão de ser; a decifração constitui apenas um aspecto mecânico de seu funcionamento. Assim, a leitura não pode ser só decifração; deve, através da decifração, chegar à motivação do que está escrito, ao seu conteúdo semântico e pragmático completo. Por isso é que a leitura não se reduz à somatória dos significados individuais dos símbolos (letras, palavras etc.), mas obriga o leitor, a enquadrar todos esses elementos no universo cultural, social, histórico etc. em que o escritor se baseou para escrever. Quando se faz um desenho de uma casa para representar o objeto casa, não se produz uma escrita. Mas, ao desenhar uma casa para que se diga casa, então está se escrevendo a palavra casa. Aí está claramente exemplificada a diferença entre desenhar e escrever. Historicamente muitos sistemas de escrita desenvolveram a partir de desenhos. A escrita começou a existir no momento em que o objetivo do ato de representar pictoricamente tinha como endereço a fala e como motivação fazer com que através da fala o leitor se informasse a respeito de alguma coisa. É claro que as motivações da escrita não se restringem apenas à informação do leitor. A função informativa é a primeira cronologicamente, mas não é a única e nem sempre a principal. O caminho que a criança percorre na alfabetização é muito semelhante ao processo de transformação pelo qual a escrita passou desde a sua invenção. Assim como os povos antigos, as crianças usam o desenho como forma de representação gráfica e são capazes de contar uma história longa como significação de algunstraços por elas desenhados... Elas também podem utilizar "marquinhas'', individuais ou estabelecidas por um consenso de grupo, para representar aquilo que ainda não sabem escrever com letras. Fonte: CAGLIARI, L. C. Alfabetização e Linguística. 5 ed. São Paulo. Scipione, 1992. p.103-106. Pare um pouco. Releia e faça uma síntese do texto de CAGLIARI em seu caderno de anotações. Envie-o para o fórum de discussão de sua turma. Leia, a seguir, o fragmento escrito por Sérgio Laia (1997): A ESCRITA De um modo mais geral, a escrita pode ser definida simplesmente como o que se processa no ato de escrever , de um modo mais concreto, como o resultado desse ato. Então, ela é passível de ensino e de aprendizagem, comporta uma sintaxe, se faz conforme uma gramática, segue um determinado alfabeto e torna possível uma comunicação que, inclusive, poderá muitas vezes ser considerada mais efetiva e veraz do que aquela veiculada pela palavra falada. Tendo em vista esses aspectos, torna-se possível investigar uma origem da escrita, traçar uma história do escrever e mesmo criar diferentes propostas e/ou métodos pedagógicos que visam a sua aquisição (por aqueles que ainda não a têm) ou seu aprimoramento (por aqueles que já fazem uso dela). No que concerne este texto, o que designo por escrita não se circunscreve apenas a essa faceta social do ato de escrever. Pretendo abordar aqui algumas circunstâncias nas quais a escrita pode recusar, abalar e estilhaçar ou transbordar sua vinculação com as exigências sociais e generalizantes que normalmente incidem sobre o escrever limitando-o a uma atividade de comunicação, de circulação de mensagens. Trata-se, por conseguinte, de apreender a escrita como um exercício que excede as regras convencionais do escrever, como prática de um rigor que, no entanto, não se confunde com o formalismo de regras gramaticais ou com o iideal de uma ortografia. Nessa direção, a escrita se afasta das carteiras escolares, das mesas de escritório, dos livros de contabilidade e de escrituração, dos veículos da mídiia, enfim, dessas atividades por demais padronizadas. A escrita, portanto, passa a ser muito mais o que resultado de exercícios e tarefas aos quais se dedicam os artistas, os escritores, os poetas, os calígrafos orientais e os matemáticos – mais do que mera reprodução conforme certos formatos previamente estabelecidos, a escrita aparece como invenção, marca de um acontecimento inaudito, singular e surpreendente. Enquanto um resultado do ato de escrever que não se circunscreve a parâmetros por demais comprometidos com a ordem social, a escrita encarna o fim de uma tarefa, de um exercício e, como tal, ao longo de um tempo, esse resultado poderá até - contrariando o que se dá no seu advento - servir de referência para o estabelecimento de padrões e para a definição de normas. Porém, enquanto mobilizada por uma tarefa, um exercício, a escrita é um processo marcado pelo rigor na medida em que é infinita. Fonte: LAIA, Sérgio. A escrita não serve. In: ALMEIDA, M. I. Para que serve a escrita. São Paulo: EDUC, 1997. p. 137-156. Pare um pouco. Releia e faça uma síntese do texto de LAIA em seu caderno de anotações. Envie-o para o fórum de discussão de sua turma. Como você pôde observar, após a leitura dos dois textos, os autores, Cagliari e Laia, escrevem sobre a escrita enfocando-a de diferentes modos. A Escrita pode ser compreendida como um produto do ato de escrever, ou seja, um texto; para escrevê-lo, precisamos conhecer a ortografia, a gramática, a sintaxe etc. A Escrita também pode ser compreendida como um processo rigoroso, mobilizado por um objetivo. No ato de produção textual, além de precisar conhecer os aspectos formais da escrita, o autor também precisa envolver o leitor em seu universo cultural, social, histórico. A Escrita, enquanto invenção das sociedades humanas, possibilita-nos REDIGIR. Geralmente as pessoas sentem receio quando se trata de fazer uma redação. É muito comum ouvirmos alunos dizerem; “ODEIO REDAÇÃO”. Ora, a Redação não é um “bicho-de-sete-cabeças”! O QUE É REDIGIR? Redigir é simplesmente ESCREVER. Ninguém precisa ter medo de escrever! Para escrever bons textos, de qualquer tipo, basta-nos REFLETIR, planejar e ser original. Aprendemos a escrever, escrevendo. Podemos aperfeiçoar nossa escrita com a ajuda de boas leituras. Todos os tipos de textos em circulação na sociedade são bem-vindos. A leitura nos auxilia na aquisição de conhecimentos e informações que facilitam o desenvolvimento do nosso raciocínio e também do nosso senso crítico. Portanto, ao ler um texto, devemos procurar analisá-lo e buscar compreender muito bem as ideias do autor. A produção escrita exige do escritor um grande esforço: escolha de palavras, ideias, construção dos parágrafos etc., pois o texto deverá ser compreendido pelo leitor. POR ISSO, O TEXTO DEVE SER UM TODO COERENTE E NÃO UM AMONTOADO DE SENTENÇAS. Ao redigir um texto, devemos nos preocupar com dois aspectos que devem estar em equilíbrio: a forma e o conteúdo. A FORMA consiste na utilização da gramática normativa, da estruturação da frase e dos recursos estilísticos que a língua oferece. O CONTEÚDO se refere aos pensamentos, ideias, sentimentos, fatos ou impressões que possibilitam ao leitor a compreensão e interpretação do tema desenvolvido. O texto deve conseguir apresentar um equilíbrio entre forma e conteúdo: boas ideias numa linguagem clara, correta, simples e elegante. Vale salientar que a leitura nos ajuda a conhecer temas, formas de escrita, tipos de textos, vocabulário, ortografia; entretanto, para escrever é preciso praticar a escrita. A escrita não é um dom; a escrita exige de nós um trabalho rigoroso e, para tanto, precisamos ter interesse em desenvolver tal atividade. Quanto mais produzirmos escrita, melhores escritores nos tornaremos. Caro(a) aluno(a), Depois lido o texto-base da SUBUNUIDADE 3 e fazer várias reflexões e anotações, procure desenvolver as seguintes atividades, buscando avaliar-se em termos da compreensão que do estudo realizado: g) Releia o texto-base; h) Reveja suas anotações; i) Busque, no dicionário, as palavras que você não compreendeu. j) Procure organizar suas anotações em um pequeno texto, sintetizando o conteúdo desta unidade e depois poste na Biblioteca do polo. Isso ajudará muito você a fazer a avaliação da SUBUNIDADE 3. CONCLUSÃO Chegamos ao final da SUBUNIDADE 3. Reflita sobre tudo o que lemos sobre ESCRITA e, antes de realizar a avaliação da SUBUNIDADE, aprofunde seus estudos lendo o material indicado no link SABER MAIS. Leia sobre a História da Escrita em: <http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/historiadaescrita.htm> <http://pt.wikipedia.org/wiki/Escrita> <http://www.lendo.org/a-historia-da-lingua-escrita/> Você leu o texto-base da SUBUNIDADE 3 e tomou anotações. Além disso, você leu os textos indicados na seção SABER MAIS e outros que você pesquisou em livros, revistas e internet. Com base nas suas leituras, produza um texto com o seguinte título: a) A Escrita: da pedra ao computador Atente para a clareza, a coesão, a coerência do texto e também para a correção ortográfica. Não esqueça de citar as fontes que você consultar. Não esqueça de enviar esta atividade para o Fórum de Discussão de sua turma, pois ela será objeto de avaliação. ATIVIDADE FINAL DA UNIDADE I – LEITURA/TEXTO/ESCRITA Após o estudo da Unidade I, releia suas atividadesanteriores e faça um esquema ou mapa conceitual, integrando os conceitos básicos que você estudou nas três subunidades da Unidade I: LEITURA-TEXTO-ESCRITA. Bom trabalho! UNIDADE II APRESENTAÇÃO Constituição e Funcionamento do Texto Vamos estudar, na UNIDADE II, alguns aspectos da Constituição e Funcionamento do Texto. Trabalharemos em processos de interação constante, mediatizados pela leitura de textos de diferentes tipos. Assim, é necessário que você se dedique bastante à leitura dos textos propostos, pois ela é fundamental nesse processo. A nossa avaliação consistirá das Propostas de Atividades apresentadas ao final de cada SUBUNIDADE. Tais Atividades serão realizadas por você e compartilhadas com outros alunos de sua turma nos fóruns de discussão. Além disso, teremos uma atividade final dessa UNIDADE II. Na UNIDADE II, teremos Três SUBUNIDADES: SUBUNIDADE 1 – OS GÊNEROS TEXTUAIS SUBUNIDADE 2 - TEXTO E TEXTUALIDADE - I SUBUNIDADE 3 – TEXTO E TEXTUALIDADE - II Portanto, nessa UNIDADE I, você realizará TRÊS Propostas de Atividades (uma atividade em cada uma das SUBUNIDADES) mais a Atividade Final da UNIDADE I. Esperamos que a UNIDADE I possa auxiliar você a compreender os conceitos básicos necessários ao desenvolvimento deste Componente Curricular Vamos ao trabalho! UNIDADE II SUBUNIDADE 1 Os Gêneros Textuais INTRODUÇÃO Caro (a) Aluno(a), Vivemos num mundo letrado. Enquanto leitores e produtores de textos devemos ser competentes e eficazes usuários da língua escrita, pois estamos envolvidos em diferentes práticas sociais, em diferentes situações comunicativas. Dispomos de diferentes tipos de textos, como já vimos, e também dispomos de diferentes gêneros textuais (ou discursivos). Esses gêneros é que nos permitem reconstruir os sentidos de textos que lemos ou produzimos. Isso quer dizer que cada gênero textual tem uma diferente função nas nossas práticas sociais. Para que possamos reconstruir os sentidos de um texto, não podemos ser leitores e escritores que apenas dominam o código escrito para decifrar ou cifrar palavras, frases e textos. O texto, assim, deve ser pensado em conformidade com as metas comunicativas das diferentes práticas sociais. Nessa SUBUNIDADE, trataremos dos gêneros textuais e sua aplicação em situações comunicativas. Convido você a iniciar os estudos propostos pela nossa SUBUNIDADE 1: OS GÊNEROS TEXTUAIS Bom trabalho!!! OS GÊNEROS TEXTUAIS Quando tratamos de LEITURA, nós vimos que dispomos de textos ouvidos, falados ou vistos, Quando tratamos de TIPOLOGIA TEXTUAL, na Subunidade 1, dissemos que, no aspecto estrutural (formal, organizacional), os textos podem ser descritivos, narrativos e dissertativos. Você lembra? Nas nossas práticas sociais, fazemos uso da linguagem oral ou escrita: seja para ouvir e produzir textos orais, seja para ler e produzir textos escritos. Dessa forma interagimos socialmente e atendemos a diferentes objetivos comunicativos demandados pelas mais diversas situações e atividades sociais. Os textos que produzimos e compreendemos, portanto, são socialmente situados e, por isso, se constituem como atividades de linguagem. Isso quer dizer que praticamos a linguagem em determinados contextos sociais, em determinadas condições de produção discursiva, com determinadas finalidades comunicativas entre os interlocutores. É claro que todo texto é marcado por características formais e também pelo estilo daquele que o produz. São as características formais, temáticas e estilísticas que vão caracterizar os textos como pertencentes a um determinado GÊNERO TEXTUAL. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (p.23), “os textos organizam-se sempre dentro de certas restrições de natureza temática, composicional e estilística, que os caracterizam como pertencentes a este ou aquele gênero”. As propriedades temáticas, formais e estilísticas comuns e recorrentes, então, é que situam um texto dentro de um determinado gênero. Os Gêneros Textuais ou discursivos possibilitam a comunicação porque eles caracterizam situações habituais cristalizadas nas práticas sociais de linguagem. Leia, agora, alguns fragmentos do texto “Letramento e diversidade textual”, escrito por ROXANE ROJO, disponível em: <http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/ale/tetxt5.htm>: [...] os gêneros, enquanto formas historicamente cristalizadas nas práticas sociais, fazem a mediação entre a prática social ela própria e as atividades de linguagem dos indivíduos. Os locutores sempre reconhecem um evento comunicativo, uma prática de linguagem, como instância de um gênero (a ação de telefonar como um telefonema; a ação de ensinar na escola como uma aula; a ação de escrever um texto como este para um programa de formação de professores como um artigo de divulgação e assim por diante). O gênero funciona, então, como um modelo comum, como uma representação integrante que determina um horizonte de expectativas para os membros de uma comunidade confrontados às mesmas práticas de linguagem. Os gêneros, portanto, intermedeiam e integram as práticas às atividades de linguagem. São referências fundamentais para a construção das práticas de linguagem. [...] as relações entre os parceiros da enunciação não se dão num vácuo social. São estruturadas e determinadas pelas formas de organização e de distribuição dos lugares sociais nas diferentes instituições e situações sociais de produção dos discursos. É o que Bakhtin/Volochínov designam por esferas comunicativas, divididas em dois grandes estratos: as esferas do cotidiano (familiares, íntimas, comunitárias, etc.), onde circula a ideologia do cotidiano, e as esferas dos sistemas ideológicos constituídos (da moral social, da ciência, da arte, da religião, da política, da imprensa, etc.). Em cada uma dessas esferas comunicativas, os parceiros da enunciação podem ocupar determinados lugares sociais e essabelecer certas relações hierárquicas e interpessoais; selecionar e abordar certos temas, e não outros; adotar certas finalidades ou intenções comunicativas, a partir de apreciações valorativas sobre o tema e sobre a parceria. [...] certos gêneros essabeleceram, ou não, historicamente, relações de textualidade com certas modalidades de linguagem (oral, escrita, não verbal, etc.). Bakhtin (1979) aproxima os gêneros primários da modalidade oral da linguagem e das esferas do cotidiano, enquanto que relaciona os gêneros secundários do discurso às esferas dos sistemas ideológicos constituídos que surgem em situações sociais mais complexas e evoluídas, muitas vezes relacionados complexamente à modalidade escrita da linguagem. [...] Os conteúdos das práticas que constituem o eixo do USO da linguagem dizem respeito aos aspectos que caracterizam o processo de interlocução. São eles: historicidade da linguagem e da língua; constituição do contexto de produção, representações de mundo e interações sociais: sujeito enunciador; interlocutor; finalidade da interação; lugar e momento da produção; implicações do contexto de produção na organização dos discursos: restrições de conteúdo e forma decorrentes da escolha de gêneros e suportes; implicações do contexto de produção no processo de significação: representações dos interlocutores no processo de construção dos sentidos; articulação entre texto e contexto no processo de compreensão; relações intertextuais.” [...] os letramentos
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