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Campus Goiânia Faculdade de Letras Curso Língua Portuguesa e Literaturas CLÁSSICOS DA LITERATURA POR MEIO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS EURIDE GONCALVES Goiânia 2014 EURIDE GONCALVES CLÁSSICOS DA LITERATURA POR MEIO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS Trabalho de conclusão de curso elaborado junto ao Curso de Letras (modalidade EAD) da Universidade Estácio de Sá, como requisito necessários para a obtenção do grau de Licenciado em Letras - Língua Portuguesa. Orientadora: Profª Valéria Campos Muniz. Goiânia 2014 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho em memória da minha adorável mãe Alzira, a quem agradecerei eternamente por tudo, principalmente pela concretização deste sonho. Mãe, a senhora não está aqui presente comigo fisicamente, mas meu coração sente sua presença apoiando-me em todos os momentos. Amarei-te eternamente! AGRADECIMENTOS Agradeço a meu companheiro Roberto, por ter tido muita paciência comigo durante esta caminhada, pelos momentos em que virei à noite na frente do computador, passei finais de semana somente estudando, mas ele sempre compreensivo e me incentivando o tempo todo. Agradeço a meu pai Euclides, que contribuiu significativamente durante todo o curso, a fim de que eu pudesse ter minha formação superior. Não posso deixar de agradecer aqui, a Professora Doutora Valéria Campos Muniz, pela paciência nos momentos críticos que tive ao longo da elaboração desse trabalho. Com o auxílio de sua sabedoria e profissionalismo, pude concretizar mais esta etapa na minha vida. “A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê.” Arthur Schopenhauer 5 CLÁSSICOS DA LITERATURA POR MEIO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS O objetivo desse trabalho é mostrar a relação entre a literatura, o leitor e as histórias em quadrinhos. Serão apresentadas as principais dificuldades que os novos leitores encontram, impedindo-os de adquirirem o hábito pela leitura. Descobriremos alguns dos principais motivos dos jovens leitores em rejeitarem os cânones da literatura. Veremos também os possíveis entraves encontrados entre o ensinar e o aprender, numa relação professor e aluno em sala de aula e os métodos usados para conduzir o ensino por parte de alguns profissionais. Veremos também, que existem inúmeros motivos para levar as histórias em quadrinhos para a sala de aula, como fonte de incentivo a leitura. Será exposto um estudo de Dom Quixote em Quadrinhos, criado por Caco Galhardo, a partir do romance Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes. Em meio a tantas mudanças ocorridas até chegarmos aos tempos atuais, nos deparamos com um leitor com hábitos diferentes daqueles das nossas gerações passadas. Isso pode ocorrer devido às diversas transformações ocorridas ao logo das gerações, as mudanças sofridas com o passar dos anos devem-se também aos novos meios de comunicação que surgiram, novos meios de interagirmos no dia a dia, o que acaba fazendo com que nos tornemos mais seletivos em tudo. Na literatura não é diferente, em pleno século XXI, podemos escolher o que ler e como iremos ler, seja digital ou não, entre outras tantas possibilidades. Diante de novas tendências e gostos dos mais diversificados, o habito de lermos obras épicas pode tomar outros rumos. E por falarmos de literatura, obras importantes podem se perderem no velho dizer, de que as literaturas antigas são cansativas e que nada pode se aprender com elas, devido à linguagem de difícil compreensão ou a época em que foram escritas. Com tantas possibilidades encontradas, podemos nos perguntar, o que fazer para conscientizar esses novos leitores a interagirem com nossa história através da boa literatura histórica que diz muito sobre os povos antigos, as civilizações dos séculos passados, além de conhecer os costumes de nossos antepassados, o que acaba revelando muito de nós na atualidade, etc. Uma das possibilidades que possui forte influência na atual geração e com perspectivas para influenciar as futuras e que é capaz de amalgamar a linguagem escrita e a visual, torna-se necessária. Isso já é possível, como podemos verificar a seguir: 6 As figuras podem induzir sensações fortes no leitor, mas também podem carecer da especificidade das palavras. As palavras, por outro lado, oferecem essa especificidade, mas não contêm a carga emocional imediata das figuras, dependendo de um efeito cumulativo Gradual. MCCLOUD (2005, p. 135). Diante da contribuição do autor citado, podemos dizer que, o caminho que precisamos para chamar os novos leitores a interagirem com o mundo literário e ganharem gosto pelas obras clássicas, sem grandes resistências; é apresentarmos a eles uma obra que já faz parte de seu mundo. Estamos falando das tão conhecidas histórias em quadrinhos. Essas obras são capazes de levarem seus adeptos a um mundo de conhecimento e cultura, além de possuir uma riqueza visual através das formas diversificadas, da linguagem cinematográfica, das narrativas que também fazem parte de tais obras, e o que faz com que essas histórias em quadrinhos as tornem tão importantes, é que as mesmas fazem com que os leitores adquiram o gosto pela leitura e até mesmo o interesse em conhecer as obras originárias dos quadrinhos que leem, já que há uma tendência de transformarem as tão conhecidas como clássicas em histórias em quadrinhos, pois as obras que foram adaptadas têm agradado um grande público. Através dessa nova proposta literária, a resistência em ler será deixada de lado, onde ler não será mais um sacrifício, e aquela visão de que liam por imposição da escola, passará a ser recebida como algo que contribuirá para a vida toda e não apenas algo necessário somente enquanto estiverem estudando, sendo “forçados” a lerem. Nesse contexto, os clássicos passarão a fazer parte do cotidiano dos jovens sem grandes resistências por parte deles. Diante de tal proposta, poderemos refletir que a resistência em ler determinadas obras por parte dos adolescentes pode ser por causa do estilo das obras, ou de quem esteja conduzindo-o ao universo encantado da literatura, que em muitas situações, não considera a bagagem que muitos jovens já trazem consigo desde sua infância. É importante que o leitor saiba sobre a história da literatura, os períodos em que diversas obras foram escritas, o significado delas para os povos da época em que foram escritas e os autores que empenharam em produzi-las, entre outros fatores que possam contribuir para uma informação mais detalhada daquilo que o leitor busca conhecer através da literatura. Mas em muitos casos, o leitor carrega consigo um excesso de cobrança por fatores como os períodos em que as obras 7 foram lançadas, etc., que acabam perdendo outros aspectos importantes de ser conhecido também, como o texto propriamente dito. É importante que seja observado, que quando falarmos em literatura, mesmo que seja um cânone, não podemos ignorar seus autores, homens e mulheres dotados de infinita sabedoria, que foram capazes de deixar uma gama inesgotável de cultura e conhecimentos como herança para a atualidade, mas que continuarão sendo fonte de conhecimento paragerações posteriores. Esses autores foram e serão sempre, capazes de fazer seus leitores sentirem emoções diversas, levando-os a chorar, rir, odiar e se apaixonar ou simplesmente não ter nenhum tipo de reação perante aquilo que leram; o que de fato importa nessa situação, é a interação entre autor e leitor, independente da reação emocional que sentirem. Ler é sempre empolgante, no início um novo leitor pode não ter tanta empolgação, mas quando vão se aprofundando com a mensagem transmitida pela obra, o então resistente leitor passa a interagir com o conteúdo, e é aí que o profissional que estiver à frente de tamanha responsabilidade, que é o de auxiliar esse leitor, deve entrar em ação, conduzindo-o por diferentes obras, sejam elas um cânone ou não. Como vimos anteriormente à literatura é capaz de produzir inúmeras reações, conforme veremos a seguir. Uma obra literária também desperta expectativas que precisa cumprir, senão deixará de ser lida. As mais profundas ansiedades da literatura são literárias; na verdade, em minha opinião, elas definem o literário e se tornam quase idênticas a ele. BLOOM (1995, P. 27). Através do proposto por BLOOM, percebemos que o profissional conforme mencionamos anteriormente; deverá ser despido de qualquer sentimento preconceituoso que possa surgir sobre as diversas obras que encontramos no mercado atualmente, ele na verdade deve utilizá-las, a fim de aproximar seus alunos do universo mágico da leitura, as diversas formas encontradas não atrapalha o objetivo do profissional, pelo contrário, enriquece e muito suas aulas, e as histórias em quadrinhos são capazes de cumprirem seu papel, atuando não somente na escrita, mas também no visual, o qual é diversificado e leva a imaginação do leitor a viajar por um mundo encantador, sendo possível através dessas obras, trilharem o principal objetivo, o interesse pelas obras e pela leitura. Para Harold Bloom (1995, p. 491), “Os motivos para ler, como para escrever, são muitos diversos, e muitas vezes não claros mesmo para leitores ou escritores mais autoconscientes”. 8 Há diversas maneiras interessantes que são capazes de atraírem os alunos para que entrem em contato com a literatura, sendo exemplo expressivo disso, as tão conhecidas minisséries que são transmitidas em canal aberto que faz uso das diversas linguagens capazes de proporcionar uma forte interação com o telespectador, essas minisséries são na grande maioria inspiradas nos grandes clássicos da nossa literatura, como obras produzidas por Machado de Assis, Jorge Amado, entre tantos outros. Tais obras não ficam somente na dramaturgia cinematográfica, são inseridas também nos quadrinhos, uma tendência atual e que reflete também em um crescimento ainda maior no futuro. Atualmente, nos deparamos com inúmeras instituições que visa focar seus alunos em obras que são tendências a comporem provas de vestibulares e concursos, não se importando no prazer que a obra pode proporcionar a seus alunos. Isso torna um ciclo vicioso, já que os alunos passam a serem “treinados” com esse erro institucional. A partir desse pressuposto muitos continuarão a buscarem por livros e fragmentos de textos que são capazes apenas de saciar um desejo profissional, sendo portando o prazer de ler por cultura ou por novos saberes, deixados de lado, transformando nossos jovens “adestrados” por causa das competições de interesse individualista de muitas organizações educacionais. Com esse foco errôneo, surgirá a pergunta, para que ler os clássicos da literatura? Essas obras não são solicitadas apenas nos vestibular ou em algum concurso? Perguntas como as apresentadas, predominam no pensamento dos nossos jovens leitores, que usam sempre da tão comentada “linguagem complexa” das obras antigas, para justificarem o não desejo em ter contato com as mesmas. Ler e não ter compreensão da mensagem que o texto transmite, não adiantará de nada, isso já está fixado na mente da grande parcela dos alunos. Outros motivos que os levam a rejeitarem o contato com a leitura, deve-se ao fato de na maioria das situações se verem forçados a ler e interpretar textos, sem se quer ter tido alguma orientação de como proceder diante da atividade que é proposta, cobranças como essas e que, quase sempre não vem acompanhadas de orientações adequadas, acaba levando-os a rejeitarem o que lhes é proposto. A seguir, veremos um exemplo passível de reflexão sobre o assunto. A leitura não é tarefa apenas da escola. É por isso também que a formação dos professores deve incluir contato com os pais, com a biblioteca de bairro 9 e de empresa, com associações, de maneira a estabelecer intercambio entre as ações de informação e formação. FOUCABERT (1997, p.11). Assim sendo, deveremos nos conscientizar que uma educação de fato, só será possível com a participação dos pais, onde os mesmos devem ser presentes no processo de aprendizagem de seus filhos. Quanto ao professor, ele deve buscar sempre, novos caminhos, a fim de cumprir seu papel em uma tarefa que a cada dia parece mais complexa, o ato de conduzir ao caminho da educação, o fator ensinar. É necessário que o profissional esteja continuamente em um processo de aperfeiçoamento, buscando fazer uma articulação de eficiência e afetividade com aquilo que faz, ou seja, sendo capazes de produzirem uma educação de verdade. Veremos na sequência o que BORDINI & AGUIAR nos falam sobre esse assunto. Quando se trata de literatura, a experiência de leitura e o senso crítico do professor não podem ser substituídos pelo aparato metodológico, por mais aperfeiçoado e atualizado que este esteja. Uma aula de literatura bem planejada parte não da metodização das atividades, mas do próprio conteúdo dos textos a serem estudados. BORDINI & AGUIAR (1993, p. 28). Diante do exposto, os professores são ferramentas fundamentais nessa trajetória que os alunos percorreram, sendo esse educador, pautado de conhecimentos específicos daquilo que ensinam; se assim não for, diversas metodologias usadas não ajudarão muito nesse processo de transmissão de conhecimento. Uma aula bem planejada vai além da metodologia, é preciso que o conteúdo a ser usado seja selecionado, capaz de atender as necessidades dos alunos de forma individual, já que sabemos que há alunos que apresentam maiores dificuldades de compreensão do conteúdo em relação aos demais, por isso a necessidade de uma boa seleção dos textos e materiais a serem trabalhados em sala de aula, e as histórias em quadrinho vem ganhando espaço nesse contexto, por trabalhar diversas possibilidades de aprendizado durante as aulas. Com toda essa problemática que estamos nos referindo, o cânone concorre com inúmeras obras, para que não seja abandonado pelas gerações. Harold Bloom (1995, p. 491) afirma que “sempre haverá (espera-se) leitores incessantes, que continuarão a ler apesar da proliferação de novas tecnologias de distração”. Nas séries do Ensino Médio, acontecem momentos de mudanças profundas na formação educacional dos nossos alunos, podendo haver uma profunda negação em relação a 10 determinadas obras devido sua difícil linguagem. Com essa situação é preciso estimular o lado curioso dos alunos através de códigos linguísticos, utilizando de outras metodologias, o que acabará provocando um sentimento de decisão, onde a maiorias dos adolescentes acabam compreendendo o real valor da literatura e conscientizando-se da importância de terem o habito de ler outras obras que inclui também os clássicos. A seguir temos uma reflexão do que estamos falando. Os clássicos são livros que exercem uma influencia particular quando se impõe como inesquecíveise também quando nas dobras da memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo e individual. Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer. Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes). CALVINO (2001, p. 11). Sobre o que diz CALVINO, notamos que os clássicos não são meramente uma obra como outra qualquer, tais obras fazem parte de um legado importante da nossa literatura, sendo capaz de perdurar várias gerações, pelo seu importante papel, em exercer marcas de linguagem e costumes. Se refletirmos a fundo, notaremos que até mesmo na atualidade, as obras que se surgem, acabam em sua maioria, seguindo os traços de escritores que fizeram parte do cânone, de uma forma ou de outra, as obras do presente só foram possíveis, devido às obras de nossas gerações passadas, que serviram de inspiração para muitos escritores, já que os clássicos nunca terminaram de dizer o que queria na época em que foram escritos, nossos autores contemporâneos, continuam com o papel em transmitir aquilo que ficou por dizer. Já que vivemos em um mundo onde a comunicação se estabelece por meio da comunicação através das múltiplas linguagens, não podemos então seguir um caminho que possa dificultar a comunicação, independente do ambiente em que estivermos inseridos. No ambiente escolar, por exemplo, a linguagem deve ser facilitadora, levando os alunos a compreenderem melhor, aquilo que lhes são transmitidos, o que não quer dizer que a linguagem usada possa ser qualquer uma, mas deve ser aquela que considere a bagagem que os alunos trazem consigo, herança de toda uma trajetória e costumes de suas famílias. Nessa perspectiva, as histórias em quadrinhos é uma arma que se faz possível na compreensão da leitura, 11 reunindo diversas formas de linguagem em um único texto, como podemos refletir a seguir: A história em quadrinhos lida com dois importantes dispositivos de comunicação, palavras e imagens. De certo trata-se de uma separação arbitrária, Mas parece válida, já que no moderno mundo da comunicação esses dispositivos são tratados separadamente. Na verdade, eles derivam da mesma origem, e no emprego habilidoso de palavras e imagens encontra-se o potencial expressivo do veiculo. EISNER (1998, p. 13). O uso das imagens existe desde a pré-história, essa relação com seu uso, contribuía com a comunicação da época, e muitas existem até hoje, onde diversos pesquisadores confirmam que as imagens foram bastante utilizadas no processo de comunicação da época; os hieróglifos egípcios que eram formados por uma combinação de palavras e desenhos, foram usados na época para contar histórias; os palácios monumentais da Grécia com inúmeras imagens desenhadas em alto relevo foram capazes de trazer a nosso conhecimento, a existência dos jogos olímpicos daquele período. Há também diversos desenhos sequenciais nas paredes de várias igrejas católicas, em que esses desenhos se encarregavam de narrar a história de Jesus Cristo, tais desenhos cumprem essa função na atualidade também. Com esse histórico de informações, vimos que os desenhos foram de suma importância no papel de contribuir com a comunicação no passado; onde as diversas motivações podem ter sido surgidas através das ilustrações e acontecimentos a fim de que as futuras gerações conhecessem esses fatos sobre o uso da linguagem. Com o passar dos tempos tais desenhos foram tornando formas capazes de dialogarem com outras linguagens, simplificando ainda mais a comunicação. Vejamos: [...] a história contada por sucessão de imagens. A fim de traduzir comunicar uma mensagem verbal que por ventura devesse ser transmitida por um personagem da história, duas soluções foram encontradas no decorrer dos séculos: Palavras abaixo das ilustrações como legendas e palavras saindo da própria boca de quem fala. ANSELMO (1975, p. 40). A junção das imagens e da escrita é usada até hoje, principalmente nas histórias em quadrinhos, sendo possível comunicar com nossos jovens leitores, já que se trata de algo que eles gostam. As palavras, gestos e imagens inseridas nos quadrinhos, são capazes de produzir uma forma de sentimento para aquele leitor que ainda não está familiarizado com o mundo da literatura. Os quadrinhos 12 cumprem um importante papel levando o leitor ao mundo da linguagem verbal e não verbal (desenhos e imagens). Os desenhos das histórias em quadrinhos possuem clareza, trazendo formas diversas no comportamento e sentimento de cada personagem ali inserido. Os personagens épicos têm uma forma e estilo diferente de interagir com o leitor em relação aos personagens dos dias de hoje, com isso o leitor passará a aprender e diferenciar um estilo do outro e uma época da outra. As histórias em quadrinhos é um gênero recente na sociedade, seu reconhecimento é mais lento com relação a outras obras, sua aparição ficou mais evidente a partir do século XIX, quando sua aparição passou a ser divulgada em veículos de comunicação de maça. Pelo fato de trazerem uma linguagem que interage com crianças e adolescentes, os quadrinhos estão sendo mais divulgados nas escolas, sendo capazes de produzirem o desejo pela leitura entre os alunos; muitas escolas passaram a inserir o estilo nas aulas de literatura pelo fato dos quadrinhos trazerem fatores capazes de formarem leitores, como já vimos, o cânone está incorporando o estilo dessas histórias. É importante notarmos que os quadrinhos vêm sendo também, fonte de pesquisa por diversas instituições. Quando surgiram as histórias em quadrinhos, o que predominava naquela época era o fator humorístico. As primeiras obras faziam uma conjunção de piadas fazendo uma junção de dois temas que envolvia as crianças e a fantasia. Os quadrinhos surgiram nos Estados Unidos da América, passando a serem conhecidos mundialmente e sendo usados com intensidade até hoje, seja ele através das novas tecnologias ou na versão antiga, impressa. Aqui no Brasil, as histórias em quadrinhos são conhecidas como gibi, principalmente pelas crianças e adolescentes. Inicialmente eram inseridas em jornais como tablóides, em publicações dominicais, mas surgiram diversos fatores que mudaram a sua forma de publicação para um estilo mais cômico, com o surgimento de novos desenhistas, a expansão começou a ser renovada. Os donos de jornais da época queriam algo que trouxesse uma maior aproximação da realidade da população infantojuvenil. IANNONE ralata que: No novo formato, as tiras cômicas transferiam-se dos suplementos dominicais pra as páginas internas dos jornais, tornando-se diárias. Foram reduzidas a três ou quatro quadrinhos e deixaram de ser impressas em cores. Criaram-se histórias em capítulos, sempre com uma situação de suspense no último quadro. Assim, o leitor ficava na expectativa da próxima tira e era obrigado a comprar o jornal no dia seguinte. Os capítulos duravam 13 algumas semanas e as tiras acabaram convertendo-se em seção fixa nos periódicos norte-americanos. IANNONE (1994, P. 42). Com a proliferação das tiras, novos artistas passaram a usarem o novo estilo, porém a expansão das historinhas no novo formato ficou meio que aprisionada, já que sua publicação era condicionada a jornais, o que impediam a publicação em grande escala de forma imediata. No Brasil, a circulação de O Tico Tico, uma revista produzida em nossa terra, era publicada pelo gênero em quadrinhos, foi a primeira do mundo que publicavam as histórias por completo,seu lançamento foi em 1905, através do então jornalista Luiz Bartolomeu de Souza e Silva. Sua obra trazia temas variados, todos destinados ao público infantil. O personagem central da trama recebeu o nome de Chiquinho. A sobrevivência da revista Tico Tico durou apenas até o ano de 1956. Nos Estados Unidos da América, o principal percussor do estilo quadrinhos foi o jornalista e autor Adolfo Aizen, ele é apontado também, como o principal incentivador dos quadrinhos no meio da população infantojuvenil na década de 1930.o autor notou nessa época que, as histórias em quadrinhos eram repletas de temas cômicos, levando-o a fazer uma implementação em jornais aqui no Brasil, onde lançou na cidade do Rio de Janeiro o Suplemento Juvenil. Adolfo Aizen começou na época a promover inúmeros concursos, capazes de revelarem novos talentos. A tão conhecida como a era de ouro das histórias em quadrinhos, por volta do início dos anos de 1950, ano em que passou a vigorar o então conhecido “Comics Code Autority”, um tipo de código responsável por regulamentar os quadrinhos nos Estados Unidos da América, sendo capaz de fazer censura ao estilo, mas o congresso na época, fez com que as indústrias dos quadrinhos passassem a ganhar mais apoio na publicação, sendo a censura, ficando incapaz de provocar prejuízos para os quadrinhos, já que ela era exageradamente taxativa, alegando que o estilo quadrinhos seria capaz de provocarem problemas graves de desvio na juventude, incluindo desde as formas de desvios sexuais ao aumento da criminalidade e delinquência, mas como o congresso interveio a favor das publicações, o “Comics Code Autority” não prosseguiu adiante com a ideia de censura. Vejamos o que dizia tal código: 14 Os “intelectuais” acreditavam que as histórias em quadrinhos seriam capazes de afastar crianças e jovens do hábito da leitura de livros tradicionais e do estudo de assuntos “sérios”, diminuindo o rendimento escolar e podendo trazer prejuízos mais graves ao seu desenvolvimento, tais como o “embotamento do raciocínio lógico, a dificuldade para apreensão de ideias abstratas e o mergulho em um ambiente imaginativo prejudicial ao relacionamento social afetivo de seus leitores”. RAMA & VERQUEIRO (2005, P. 16). Com todas as dificuldades impostas na época, as histórias em quadrinhos foram ganhando espaço até mesmo em universidades, pesquisadores passaram a interagir com o gênero e pesquisarem sobre o assunto, com o intuito de inseri-lo como mais um recurso pedagógico de grande relevância nas salas de alfabetização. Com toda essa trajetória que os quadrinhos percorreram, o importante é observarmos que o estilo prevaleceu e com mais força ainda e aos poucos foram sendo aceitos, sendo destaque mundialmente, como um sistema de comunicação que une múltiplas linguagens; além de ser um elemento que produz diversas manifestações com sua própria característica. Com o reconhecimento, no mundo inteiro as histórias em quadrinhos vão percorrendo diversas maneiras de serem trabalhadas, sendo encorpadas em inúmeros ambientes educacionais, com o objetivo de produzirem efeito entre os jovens leitores. Como falamos anteriormente que os Estados Unidos quem expandiu a modalidade, foram lá também que tiveram início às adaptações para serem usados em sala de aula. As histórias em quadrinhos possuem diferentes formas, para que possa haver de fato uma comunicação sem complicações, sendo os quadrinhos o veículo encarregado da ação que leva a interação com o leitor, possibilitando assim a mensagem com o seu leitor através das imagens. A imagem toma conta do papel de fazer a junção entre uma cena e outra, levando meios que facilite o entendimento do que está ocorrendo na narrativa, tornando possível o entendimento da ação que está acontecendo naquele instante. Essa interação entre a imagem e o leitor é muito importante, por esse motivo, o artista usa de temas que na maioria das vezes já está fixado na memória de quem está lendo a obra. Eisner (1998, p. 44), destaca que, o “sucesso ou fracasso desse método de comunicação depende da facilidade com que o leitor reconhece o significado e o impacto emocional da imagem”. Com a utilização de dois elementos indispensáveis, o visual e o linguístico. Em algumas histórias o elemento mais usado é o visual que passa a encorpar a trama existente no texto, 15 isso ocorre sempre nas histórias muda. Para interpretar essas histórias mudas, é preciso que o leitor busque um sentimento de profunda apreciação para com o texto. Sobre o uso da narrativa visual nos textos, Eisner (1998, p. 28) diz que “existem dois “quadrinhos” nesse sentido: a página total, que pode conter vários quadrinhos, e o quadrinho em si, dentro do qual se desenrola a ação narrativa”. Para o autor isso é um fato normal. Para se criar uma história em quadrinho, é importante que haja uma escolha minuciosa dos elementos que irão compor o texto: os desenhos a serem criados, a composição que deverá ser inserida, e o alcance que a narrativa poderá abranger. Só poderá haver uma compreensão completa através das histórias em quadrinhos, quando é possível conhecer os inúmeros elementos que figuram tal narrativa. Existe nesta modalidade de gênero uma característica peculiar passível de entendimento e compreensão, tais elementos são o tempo e o “Timinng”. Com esses elementos o texto fica claro para que não haja confusão de interpretação por parte do leitor, conforme relatado a seguir: Uma história em quadrinhos torna-se “real” quando o tempo e o timing tornam-se componentes ativos na criação. Na música ou em outras formas de comunicação auditiva, onde se consegue ritmo ou “cadência”, isso é feito com extensões reais de tempo. Nas artes gráficas, a experiência é expressa por meio de ilusões e símbolos e do seu ornamento. EISNER (1998, p. 26). O balão é um importante elemento que faz um apanhado geral, dando a noção de tempo na narrativa. As imagens e os textos são os itens que compõem os balões, tornando possível o diálogo dos personagens ali inseridos, reproduzindo elementos como o som, possibilitando uma visão ampla e compreensiva da narrativa exposta nas histórias em quadrinhos. São variados os modelos de balões existente, encarregados da função de causar expressões como dor, amor, grito, medo, choro, etc. Com tantos elementos contidos nos quadrinhos, não há mais motivos para classificá-los como apenas um gibi, mas sim, como um elemento literário rico, que traz consigo inúmeros motivos passíveis de inseri-los nas aulas de literatura. O elemento que marcará uma história em quadrinhos adaptada de outra obra, seja ela um cânone ou não, é a essência da obra original, capaz de permancer na nova obra, mesmo ela tendo sofrido drásticas transformações. Nessas adaptações, os quadrinhos devem ser capazes de unir a imagem e a escrita, tornando possível uma leitura clara dos elementos ali contidos, para que a obra principal a qual foi 16 fonte de inspiração, não pareça algo que não serviu de base para a criação das histórias em quadrinhos. Sabemos que uma adaptação ou “recriação” de determinada obra por alguns autores, tentam expor uma ideia diferenciada que não foi exposta anteriormente, porém isso ocasionará um erro, já que a essência principal ficará comprometida. Muitas vezes fazemos julgamento das obras que outras pessoas leem, o que é um erro tal comportamento, devemos respeitar, já que sabemos da afinidade existente entre uma obra e o seu leitor, ou seja, cada leitor se identifica com determinada temática e busca através da mesma, fazer uma viagem pela poética de seus textos. Na verdade não existe uma obra pior, ou melhor,apenas há obras diferentes, que foram criadas por escritores que pensam diferente um do outro e direcionadas para um público que é oposto do outro, mesmo assim como vimos anteriormente, que em muitas situações, o leitor se depara lendo aquilo que não deseja, já que foi imposta a ele tal situação, seja numa escola ou por outros fatores diversos. É perceptível a capacidade que as histórias em quadrinhos têm em aproximar o leitor da leitura, esse gênero é eficiente, pois inicialmente o leitor poderá aderir por acreditar que é um fascículo, descobrindo em seguida que sua riqueza vá além daquilo que esperava anteriormente. Através de uma análise minuciosa da obra “Dom Quixote”, adaptada em quadrinhos pelo escritor Caco Galhardo, nota-se que o autor acredita fielmente que o estilo possibilita uma oportunidade para os leitores aderirem ao desejo de terem contato com as obras originais que deram origem as adaptações dos quadrinhos. Através de “Dom Quixote” adaptado, o leitor pode conferir que há uma tonalidade humorística, o que faz parte da característica do gênero. Nas páginas iniciais da adaptação, há um foco nas características do fidalgo, que por vez possui um desejo incontrolável por novelas de cavalaria, além de um mundo que existe somente na imaginação do protagonista, proporcionado pela loucura. Sendo esse o principal fator para que Dom Quixote buscasse em suas coisas, uma velha armadura e se pusesse no mundo em busca das aventuras idealizadas. É interessante perceber como o traço caricato faz uma divisão do mundo da razão e do mundo da loucura, que é apresentado através do olhar de um cavaleiro andante e a do visto pelo leitor. Através das ilustrações, percebe-se o mundo da loucura, essa sequencia de requadros desprovidas de balões na obra tem a intenção de mostrar a loucura do protagonista, numa visão que não condiz à 17 realidade. Através das inúmeras características existentes nos desenhos, torna possível a representação hiperbólica que se assemelha aos humanos, através dos traços com cores fortes e uma pitada humorística, atraindo adolescentes e adultos. Assim, mesmo aqueles que nunca leram a obra original, sentirão tentados ao convite através das imagens expostas no livro. Pelas concepções inseridas ao longo do trabalho, podemos afirmar que o êxito do leitor se dará pelo equilíbrio entre esses dois aspectos de ler: o gosto e a necessidade. No entanto, a escola tem falhado na obtenção desse equilíbrio e, consequentemente, desmotivando os prováveis leitores. Ao consideramos a utilização dos quadrinhos em sala de aula como um valioso recurso literário, que permite ao professor trabalhar suas diversas possibilidades no intuito de obter resultados positivos, através da construção dos personagens, será possível a análise expressiva e as características que envolva a cada um em um nível estético, moral e intelectual. Hoje em dia, é impossível abandonarmos as possibilidades proporcionadas pelas novas tecnologias, onde surgem inúmeros meios para ensinar e aprender. Com tantas oportunidades existentes, ao mesmo tempo em que o professor ensina, o mesmo está aprendendo um pouco a mais daquilo que está ensinando. Pode-se dizer que este estudo não teve a pretensão de apresentar uma versão determinante sobre o tema. Tem-se a convicção de que os resultados apresentados na pesquisa exigem a continuidade desses estudos. As histórias em quadrinhos são a expressão artística do momento presente e que podem sim contribuir em muito para a cultura e para o aprendizado da literatura. Enfim, o professor tradicional deve reconsiderar novas possibilidades e métodos, já que ensinar literatura em um país no qual o hábito da leitura não é comum se torna um trabalho árduo. Faz-se necessário rever conceitos tradicionais, elaborar estratégias de trabalho e, sobretudo conseguir que para o aluno o conteúdo aplicado faça sentido. Por fim, fica registrado que o esforço empreendido na realização do presente trabalho é mais uma busca de uma aprendizagem significativa de um processo de formação continuada e profissional, que não termina nesse trabalho. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através deste trabalho, é possível considerar que as histórias em quadrinhos é um gênero importantíssimo para ser usado em sala de aula, devido a seu 18 grandioso valor no contexto formativo do leitor. Os quadrinhos cativam todos os públicos, desde o infantil ao juvenil, apresentando diferentes caminhos na criação textual e nas diversas maneiras de leitura. O gênero história em quadrinhos é uma forma de ensinar diferenciada, a junção de imagem e palavras, “prende” mais a atenção do leitor, sendo eficaz no aprendizado. Além de desenvolver o hábito de leitura, o aluno também amplia o vocabulário, fazendo uso da própria imaginação nas histórias ali narradas; devido a gama de possibilidades nas diferentes linguagens que as histórias em quadrinhos utilizam. O professor também acaba ganhando, ao utilizar o gênero história em quadrinhos em suas aulas. Ao fazer uso dessa ferramenta, o profissional da educação perceberá o desenvolvimento e a criatividade de seus alunos. Enfim, as histórias em quadrinhos são capazes de formarem leitores amadurecidos. 19 Referências Bibliográficas: ANSELMO, Zilda Augusta. Histórias em Quadrinhos. Petrópolis: Vozes, 1975. BLOOM, Harold. O Cânone Ocidental: Os livros e a Escola do Tempo. Trad. Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995. BORDINI, Maria da Glória & AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura - a formação do leitor. Alternativas metodológicas. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. CALVINO, Ítalo. "Por que ler os clássicos". Trad. de Nilson Moulin. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. EISNER, Will. Quadrinhos e arte sequencial. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. FOUCAMBERT, Jean. A criança, o professor e a leitura. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. GALHARDO, Caco. Dom Quixote em quadrinhos. 2. ed. São Paulo: Petrópolis, 2005. IANNONE, Rentroia, IANNONE, Roberto. O Mundo Das Histórias em Quadrinhos, São Paulo: Moderna, 1994. MCCLOUD, Scott. Desvendando os quadrinhos: história, criação, desenho, animação, roteiro. São Paulo: M. Books, 2005. VERGUEIRO, Waldomiro. O uso das HQS no ensino. In: RAMA, Angela, VERQUEIRO, Waldomiro (Orgs.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2005. p. 16-17.
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