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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CURSO DE DANÇA - LICENCIATURA Dança na Escola Livia Marafiga Monteiro Santa Maria, abril de 2016. Dança na Escola: A introdução da Dança como disciplina obrigatória nas escolas marca uma mudança sem dúvida, digna de amplos aspectos positivos no desenvolvimento integral de crianças e jovens. Aliás, a dança no contexto geral e atual já é percebida por seu valor em si, ultrapassando as barreiras de conceitos pré-estabelecidos como sendo apenas passatempo ou um divertimento. Um dos pontos de divergência no surgimento da Dança nas escolas foi junto aos profissionais da Educação Física, onde muitos não viram com bons olhos a novidade. Porém a Educação Física trata mais especificamente dos esportes, visando quase sempre à competição o que no caso da dança, quando falamos em competir, torna-se algo bastante questionável por inúmeros fatores. Mesmo a dança sendo vista, muitas vezes, de forma equivocada como apenas um subsídio para ser utilizado nas escolas somente em datas comemorativas e na forma de reproduções de coreografias prontas, e ainda que os aspectos artísticos, históricos e filosóficos da Dança, não tenham sido suficientemente explorados, podemos afirmar que no âmbito da educação já está comprovado os benefícios que uma criança sentirá quando participa de aulas de dança desde a educação infantil, passando pelas séries iniciais, finais e finalmente pelo ensino médio. A Dança no enfoque escolar torna-se um veículo de incentivo no afloramento de muitos outros aspectos que ultrapassam a dimensão puramente física ou de qualificar os indivíduos como sendo melhores ou piores uns que os outros. Ela está voltada para o desenvolvimento global da criança e do adolescente, favorecendo a todo tipo de aprendizado como, por exemplo, a expressão corporal dos mesmos, valorizando, sobretudo o processo criativo em detrimento de resultados artísticos. Na dança também podemos compreender, problematizar e transformar as relações entre etnias, gêneros, idades, classes sociais e religiões dentro da sociedade. Falando especificamente sobre a docência, em meu entendimento creio ser fundamental a participação efetiva do professor nas aulas no sentido da busca em obter a maior aproximação possível dos alunos, despertando a confiança através da afetividade e atenção. O professor de Dança nas escolas deve mergulhar nas aulas juntamente com os alunos, participando ativamente de todas as atividades propostas e não somente instruindo oralmente sobre como devem realizar essas atividades. Outro aspecto que considero relevante, e deve ser alvo de uma atenção especial por parte dos professores, é a questão de gênero na dança, especialmente o masculino. Em uma sociedade machista como a nossa, o sexo masculino ainda é rotulado em muitas ocasiões, onde dançar é sinônimo de “coisa de mulher”, “efeminação”, ou “homossexualidade”. Para isso a contribuição da dança nas escolas é fundamental, trabalhando desde cedo o olhar dos indivíduos em relação às pessoas que se expressam através da dança, independente de seu gênero, desconstruindo assim preconceitos enraizados, até porque elas mesmas irão vivenciar a dança em seus corpos. No processo ensino/aprendizagem o professor deve ser além de educador, um intermediador do processo Dança/Arte, onde o prazer pelo movimento e pela interação do corpo e da mente se torna evidente, numa tentativa de fazer de um aluno, um intérprete de seus movimentos próprios, estimulando a descoberta pessoal de suas habilidades, dando livre curso a uma expressividade livre, resultando no rompimento de qualquer distinção entre os movimentos cotidianos e aqueles considerados "bonitos" pelo senso comum. O corpo e a dança estão diretamente ligados, mesmo assim a sociedade impõe tipos de corpos para cada tipo de dança, os ditos “corpos ideais” e o ensino da dança nas escolas poderá desmistificar a ideia equivocada de que existem corpos ideais para se dançar. O corpo historicamente e, dentro de um contexto geral e atual, sempre foi visto e analisado sob uma perspectiva de diversos tabus e preconceitos, sendo assim o ensinar dança nas escolas, desde as séries iniciais, contribui para que os alunos vivenciem e adquiram consciência do próprio corpo, favorecendo para a construção de seres humanos futuramente bem resolvidos com seus próprios corpos, afastando possibilidades de serem adultos reprimidos, que não se autoconhecem. Também é papel do professor explorar os tipos de corpos existentes em cada escola, sendo eles diferentes por seu período histórico, localização geográfica, crenças e valores de uma época ou religião. Sendo assim a Dança como prática pedagógica favorece a criatividade, além de favorecer no processo de construção íntima e intransferível de conhecimento dos alunos sendo o professor um facilitador desse processo. Enfim, acredito que a arte, especialmente a Dança na Escola, tem um grande potencial para contribuir decisivamente nas mudanças de paradigmas e desconstrução de preconceitos, contribuindo assim para a manifestação de novas realidades. Certamente ainda existe um longo caminho para a dança ser reconhecida como forma de conhecimento, e muitos aspectos para serem aprimorados, explorados e vivenciados nessa área tão nova de dança no contexto escolar. Na vida nunca cessamos o aprendizado, estamos sempre evoluindo, ressignificando e redescobrindo coisas que achávamos que já havíamos atingido o patamar máximo do saber. E especialmente quando optamos por ser professor devemos estar cientes de que estaremos contribuindo de maneira decisiva para a formação de cidadãos críticos autônomos e conscientes de seus atos, visando à transformação social que tanto ansiamos por ver concretizada. Referências: CORTEZ, José Xavier. Estágio: diferentes concepções. IN: Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, Maio. 2010. MARQUES, Isabel A. A dança criativa e o mito da criança feliz. Revista Mineira de Educação Física, Viçosa, n. 5, v.1, p. 28-39, 1997. MARQUES, Isabel A. Dançando na escola. MOTRIZ - Revista de Educação Física – UNESP, v.3, n.1, p.20-28. jun. 1997. STRAZZACAPPA, Márcia. A Educação e a Fábrica de Corpos: a dança na escola. in Cad. CEDES vol.21 no. 53 Campinas Abr. 2001. TOMAZZONI, Airton. A escola e o aluno de dança: desafios da contemporaneidade. In: Icle, Gilberto. (Org.). Pedagogia da arte: entre lugares de criação. 1ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010, v, p. 23-34. VARGAS, Lisete Arnizaut Machado de. Aspectos Educativos da Dança. IN: Escola em dança: movimento, expressão e arte. Porto Alegre: Mediação, 2007.
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