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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CAMPUS REGIONAL DO VALE DO IVAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA BRUNO FERREIRA FUREGATO TEMAS TRANSVERSAIS EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS COM O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO-CULTURAL IVAIPORÃ 2015 BRUNO FERREIRA FUREGATO TEMAS TRANSVERSAIS EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS COM O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO-CULTURAL Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia) apresentado à disciplina Seminário de Monografia da Universidade Estadual de Maringá - como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado em Educação Física. Orientadora: Prof. Ms Andréia Paula Basei IVAIPORÃ 2015 BRUNO FERREIRA FUREGATO TEMAS TRANSVERSAIS EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS COM O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO-CULTURAL Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia) apresentado à disciplina Seminário de Monografia da Universidade Estadual de Maringá - como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado em Educação Física. Aprovado em ______ / ______ / ______ COMISSÃO EXAMINADORA ____________________________________________ Prof. Me. Andréia Paula Basei Universidade Estadual de Maringá - UEM ____________________________________________ Prof. Dr. Eduard Ângelo Bendrath Universidade Estadual de Maringá - UEM ____________________________________________ Prof. Dr. Marcos Vinicius Francisco Universidade do Oeste Paulista - UNOESTE 3 À minha avó Alice (in memoriam), que sempre apoiou-me em minhas escolhas e incentivou-me a concluir este curso, dedico também aos meus pais que são minha base. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a minha mãe, Dionice, ao meu pai, Edson e meu irmão Douglas, pela compreensão e por estarem sempre ao meu lado, me dando forças nas horas que mais preciso e que precisei para a conclusão deste trabalho, vocês foram e são essenciais. Agradeço também ao restante de minha família pelo apoio. À minha orientadora Andréia Paula Basei, por todas as orientações, pela paciência e também pelos puxões de orelha, sem o seu auxílio este trabalho não se concretizaria. Ao meu amigo Leonardo pelo apoio e palavras de incentivo durante todo o processo de construção deste trabalho e nos momentos que pensei em desistir, obrigado. Ao meu amigo Felippe, que mesmo distante me ajudou nas correções com o resumo em inglês, e também a todos os meus amigos pelos momentos compartilhados. Aos meus amigos e colegas de turma que fiz durante esses quatro anos de curso, vocês fizeram todos os momentos felizes e desesperadores valerem a pena. Obrigado em especial a minha amiga Elen, que se tornou mais que uma amiga, uma irmã e esteve sempre comigo. Um agradecimento em especial aos professores membros da banca Eduard e Marcos que se dispuseram a ler e contribuir com o trabalho. Um obrigado aos outros excelentes professores que tive durante essa jornada, e ao conhecimento que pude adquirir, de alguma forma todos contribuíram para a realização desse trabalho. Obrigado também à todos que de forma direta ou indireta participaram para que esse trabalho se concretizasse. Agradeço a Deus por mais essa vitória! 5 “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.” Paulo Freire. 6 FUREGATO, Bruno Ferreira. Temas Transversais em Educação Física Escolar: aproximações e distanciamentos com o contexto sócio-histórico-cultural. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Educação Física) – Universidade Estadual de Maringá – UEM, 2015. RESUMO Os Temas Transversais são um conjunto de assuntos considerados necessários de serem incorporados ao currículo escolar observando as características das sociedades contemporâneas. Nesta pesquisa inclui-se os temas transversais apresentados nos PCN’s (1997) que são: Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo, além de incluir outros temas emergentes que são tratados relacionados às necessidades específicas de cada região e das características sociais mais atuais. Neste contexto, o objetivo desta pesquisa é analisar e compreender as aproximações e distanciamentos possibilitados por meio dos Temas Transversais entre o contexto sócio-histórico- cultural da Educação Física escolar no Ensino Médio nas cidades de Ivaiporã e Lunardelli, Paraná. Para a realização desta pesquisa foi utilizada a abordagem qualitativa, sendo uma pesquisa do tipo descritiva e de campo. Os participantes foram seis professores atuantes no Ensino Médio em colégios públicos e privados nos municípios selecionados. Como instrumentos para a coleta de dados foi utilizada a análise documental do projeto pedagógico, propostas curriculares da disciplina de Educação Física, apostilas das escolas, e uma entrevista semiestruturada com os professores. Para análise dos dados foi utilizado o método de análise de conteúdo. Como resultados obtidos desta pesquisa, evidenciou-se a pouca ou nenhuma concepção dos professores acerca dos Temas Transversais e dos PCN’s, como também o não uso deles em seus planejamentos. Compreende-se também que os Temas Transversais estão contemplados nos documentos das escolas, mas de forma inconsistente, faltam informações a respeito, abrangência de temas fundamentais e ações para auxiliarem os professores no tratamento destes temas. Consideramos, portanto, que a abordagem dos Temas Transversais nas aulas de Educação Física, com os temas se fazendo presente em seus conteúdos, é de estima importância e necessário tanto para a modificação de ideias e pensamentos dos alunos, quanto para que se tenha mudanças na Educação Física escolar. Palavras-chave: Educação Física escolar. Temas Transversais. Ensino Médio. 7 FUREGATO, Bruno Ferreira. Transversal themes in school physical education: similarities and differences between the context socio-cultural-historical. Work of Conclusion of Course (Graduation in Educação Física) – Universidade Estadual de Maringá – UEM, 2015. ABSTRACT The Transversal Themes are a set of issues deemed necessary to be incorporated into the school grade, due to observation on the contemporary societies. This research includes the transversal themes presented on PCN’s (1997), which are: Ethics, Environment, Cultural plurality, Health, Work and Consumption, and includes other emerging issues that are dealt with related to the specific needs of each region and of the current social features. In this context, the goal of analyze and understand the similarities and differences enabled via Transversal Themes between the context socio-cultural-historical of school Physical Education on High School in Ivaiporã and Lunardelli, Paraná. For this research it was used a qualitative approach, being a descriptive and field research. The volunteers were active teachers from High School in public and private schools in the mentioned counties. As instruments for the data collection, it was used a documentary analysis of the education program, curriculum proposal of Physical Education grade, school textbooks and a semi structured interview with the teachers. To the analysis of data, it was used the content analysis method. The resultsprovided by the research, are the clearly of almost any conception of the teachers about the Transversal Themes and PCN’s, as well as the non-use of them in their planning. It is also understandable that the Transversal Themes are included on the schools documents, but inconsistently, it is missing information about, the coverage of key issues and auxiliary actions to teachers on handling of these themes. Therefore, we consider that the use of Transversal Themes in Physical Education, with the themes is doing this in its contents it is estimated importance and need to improve ideas and thoughts of the students and also for the improvement of school Physical Education. Key-words: School Physical Education. Transversal Themes. High School. 8 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Caracterização dos professores participantes ....................... 47 Quadro 2 - Principais temas apontados pelos professores ..................... 91 9 LISTA DE APÊNDICES APÊNDICE A MODELO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA ENTREVISTA COM PROFESSORES................................................................ 124 APÊNDICE B ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA COM PROFESSORES...................................................... 126 10 LISTA DE ANEXOS ANEXO A AUTORIZAÇÃO DO NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE IVAIPORÃ .......................................................................... 117 ANEXO B AUTORIZAÇÃO DA ESCOLA ESTADUAL GEREMIA LUNARDELLI.............................................................................. 118 ANEXO C AUTORIZAÇÃO DO COLÉGIO MATER CONSOLATRIX.......... 119 ANEXO D AUTORIZAÇÃO DO COLÉGIO SANTA OLGA.......................... 120 ANEXO E AUTORIZAÇÃO DO COLÉGIO PANAMERICANO.................... 121 ANEXO F AUTORIZAÇÃO DO COLÉGIO OBJETIVO.............................. 122 11 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO..................................................................................... 13 1.1. JUSTIFICATIVA.................................................................................... 15 1.2. OBJETIVOS......................................................................................... 17 1.2.1. Objetivo Geral..................................................................................... 17 1.2.2. Objetivos Específicos........................................................................ 17 2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................... 18 2.1. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E SUAS RELAÇÕES COM O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO-CULTURAL.................................... 18 2.2. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO........................ 22 2.2.1. Objetivos da Educação Física no Ensino Médio............................. 25 2.3. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E OS TEMAS TRANSVERSAIS....... 30 2.3.1. Ética..................................................................................................... 32 2.3.2. Pluralidade Cultural............................................................................ 34 2.3.3. Meio Ambiente.................................................................................... 36 2.3.4. Orientação Sexual.............................................................................. 37 2.3.5. Saúde.................................................................................................. 40 2.3.6. Trabalho e Consumo......................................................................... 41 2.3.7. Temas Emergentes............................................................................ 42 3. METODOLOGIA.................................................................................. 46 3.1. TIPO DE ESTUDO............................................................................... 46 3.2. PARTICIPANTES DA PESQUISA........................................................ 47 3.3. INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS................................... 48 3.4. PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS.................................. 49 3.5. ANÁLISE DE DADOS........................................................................... 50 4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS................... 52 4.1. OS TEMAS TRANSVERSAIS NOS DOCUMENTOS DOS COLÉGIOS........................................................................................... 52 4.1.1. Os projetos pedagógicos dos colégios: abordagem dos Temas Transversais........................................................................................ 52 4.1.1.1. Concepções dos Temas Transversais................................................. 53 4.1.1.2. Temas Mencionados............................................................................ 54 4.1.1.3. Importância atribuída aos temas.......................................................... 56 12 4.1.1.4. Ações.................................................................................................... 58 4.1.2. A abordagem dos Temas Transversais na Proposta Curricular da Educação Física dos colégios pesquisados.............................. 64 4.1.2.1. Concepção de Temas Transversais..................................................... 65 4.1.2.2. Temas Mencionados............................................................................ 67 4.1.2.3. Importância destacada pela disciplina.................................................. 68 4.1.2.4. Ações propostas para Educação Física............................................... 71 4.1.3. Análise geral sobre os documentos apresentados......................... 73 4.2. COMPREENSÃO DOS PROFESSORES SOBRE OS TEMAS TRANSVERSAIS.................................................................................. 75 4.2.1. A Educação Física no Ensino Médio sob a percepção docente.... 75 4.2.2. A escola no contexto sócio-histórico-cultural e as relações com a Educação Física............................................................................... 80 4.2.3. Conhecimento dos docentes sobre os Temas Transversais......... 86 4.2.4. Planejamento docente e abordagem dos Temas Transversais..... 91 4.2.5. Importância e dificuldades para tratar os Temas Transversais..... 96 4.2.6. Estratégias para trabalhar com os temas nas aulas....................... 103 4.2.7. Vivências relacionadas aos Temas Transversais........................... 106 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................. 109 REFERÊNCIAS.................................................................................... 112 13 1. INTRODUÇÃO A Educação Física na escola tem seus fundamentos pautados nas concepções de corpo e movimento. Compreendendo que os trabalhos em aula desenvolvidos pelos professores possuem íntima relação com o entendimento que se tem desses dois conceitos. Atualmente a análise crítica busca a superação dessa concepção apontando a necessidade de que além daqueles, a disciplina considere também as dimensões cultural, social, política e afetiva, presentes no corpo vivo e nas inter-relações dos cidadãos em meio a sociedade (BRASIL, 1997a). Assim a área de Educação Física contempla múltiplos conhecimentos produzidos a respeito da cultura corporal do movimento. A disciplina pode estruturar situações de ensino e aprendizagem que garantam aos alunos o acesso a conhecimentos práticos e conceituais. Para isso, é necessário mudar a ênfase da disciplina que muitas vezes é voltada apenas para aptidão física, esportes e jogos. A Educação Física deve contemplar uma concepção mais abrangente, que considere todas as dimensões envolvidas em cada prática corporal dando oportunidade a todos para que desenvolvam suas potencialidades. Independente de qual seja o conteúdo que o professor escolha para trabalhar, os processosde ensino e aprendizagem devem considerar as características dos alunos em todas as suas dimensões (cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética, de relação interpessoal e inserção social) contribuindo com suas construções de ideias e valores, oferecendo instrumentos para que evoluam criticamente (BRASIL, 1997a). No Ensino Médio as práticas pedagógicas mais observadas nas aulas de Educação Física, ainda são aquelas que enaltecem o ensino dos esportes. Sendo que, por vezes, o professor acaba valorizando este conteúdo e conscientemente ou não privilegiando os mais aptos nas práticas esportivas, corroborando com a exclusão de alguns alunos e enaltecimento de outros. Sendo no Ensino Médio a Educação Física colocada a serviço do esporte e não o contrário (BARNI; SCHNEIDER, 2003). Barni e Schneider (2003) ainda dizem que as aulas de Educação Física no Ensino Médio são frequentadas em sua quase totalidade por alunos que se encontram na fase da adolescência. E que nesta fase da vida, o aluno sofre grandes transformações de ordem física, cognitiva e psicossocial. Outro aspecto importante 14 da adolescência é a formação da identidade, a construção da personalidade. Surgindo nesta época da vida vários questionamentos com relação ao seu corpo, aos valores existentes, às escolhas que deve fazer. Ao que se exige dele e ao seu lugar na sociedade. E na solução dos questionamentos que aparecem neste período do desenvolvimento humano, três grupos sociais influenciam o adolescente na construção da sua identidade: a família, o grupo de amigos e a escola, sendo que na escola o professor, deve estar apto para tratar destes e outros questionamentos dos alunos. É possível verificar que a Educação Física como parte integrante da escola, tem a sua responsabilidade na construção do ser humano em desenvolvimento. O aluno do Ensino Médio necessita de uma Educação Física que possa através de seus conteúdos, colaborar na formação de sua personalidade e ampliar sua participação ativa em meio a sociedade. Uma Educação Física que possa aprimorar a amplitude do conhecimento dos alunos sobre temas atuais que se fazem presentes em seu cotidiano e que colaborem na sua formação como cidadão são essenciais. Pensando nos grandes problemas sociais e como influenciam a educação escolar, surgiram em 1997 os Temas Transversais, nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Os Temas Transversais nada mais são que os temas que contemplam os problemas da sociedade brasileira, e necessitam de esclarecimentos a população e em especial aos alunos, por isso são ou deveriam ser trabalhados na escola, de forma que contemplasse todas as disciplinas curriculares (DARIDO, 2012). Os Transversais propostos pelos PCN’s são: Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo e Temas Locais, que são temas de interesse, de acordo com o contexto específico de uma região ou grupo social (BRASIL, 1997a). Dessa forma o trabalho com os Temas Transversais na Educação Física é mais do que ensinar, exige posicionamento dos professores diante de tais problemas da sociedade, que reflitam sobre o ensino e aprendizagem de seus conteúdos, assim como os valores e concepções a eles relacionados, os temas transversais, dão sentido social a conceitos próprios das áreas convencionais, visando superar o “aprender pelo aprender” reconhecendo os valores por trás das práticas ou valores que surgem diante de determinadas práticas (RUY; RAMOS, 2007). Diante disso, surge a necessidade dos professores, que além dos Temas Transversais incluam em seus planejamentos outros temas, denominados de Temas 15 Emergentes, questões mais atuais e que surgem do cotidiano como: bullying, as novas tecnologias, machismo, feminismo, homofobia, violência os diferentes tipos de preconceitos, sejam eles de cor, raça, religião, classe social, gênero e também outros assuntos referentes ao uso de anabolizantes e mídia. É de grande importância, que o professor em seu planejamento não os negligencie, estando disposto a criar situações para utilizar destes e até mesmo sabendo como abordar quando algum emergir durante a sua aula. Atualmente a necessidade em tratar sobre estes temas é de imensa importância, fazendo com que o aluno pense e discuta sobre os temas que permeiam e afetam nossa sociedade, estes temas juntamente com os elementos articuladores, os temas transversais e os emergentes, dão essa abertura para o professor poder discutir e criar situações durante sua aula para que esses assuntos sejam trabalhados. No entanto para discutir ou ter concepções sobre estes temas é necessário que o professor esteja atualizado cientificamente e mais do que isso, integrado ao mundo do aluno, que ele tenha conhecimentos suficientes para contemplar tais temáticas, uma vez que integrado a este mundo, o professor conseguirá fazer com que todos participem e criem autonomia para analisar e criticar os diversos assuntos veiculados no meio social (MENEZES; VERENGUER, 2006). Pensando nisso surgiu o questionamento em saber quais as concepções dos professores de Educação Física acerca dos Temas Transversais e as aproximações e distanciamentos possibilitadas entre o contexto sócio-histórico-cultural e as práticas pedagógicas dos professores para Educação Física escolar no Ensino Médio. 1.1. JUSTIFICATIVA Tratar as questões que afligem a sociedade contemporânea, o bullying, o preconceito, a exclusão, a diversidade, as questões de gênero, a tecnologia, a influência da mídia, entre tantos outros, por vezes não é tarefa fácil. A escola contribui como um dos espaços possíveis para informação dos alunos em relação a estes temas e também na formação do cidadão crítico, autônomo, reflexivo, sensível e participativo. “Alertando a importância de se discutir questões graves que se 16 apresentam como obstáculos para a concretização da plenitude da cidadania” (BRASIL, 1997, p.30). Abordar estas questões sociais emergentes, indicam dilemas gerados a partir da realidade social, que necessitam ser problematizados, criticados e refletidos (DARIDO, et al., 2001). Com o surgimento dos PCN’s e dos Temas Transversais estas questões começaram a ganhar mais espaço e reconhecimento, tanto na produção científica, quanto na escola, onde também começaram a fazer parte do projeto político pedagógico, a fim de que professores iniciassem um trabalho em com estes temas em suas disciplinas. Enquanto componente curricular, a Educação Física deve participar do trabalho com os Temas Transversais, uma vez que a mesma deve estar integrada à proposta pedagógica da escola, assim como estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB (BRASIL, 1996 apud RUY; RAMOS, 2007, p.02). Na Educação Física o trato com os Temas Transversais visa ultrapassar o ensinar dos conteúdos da cultura corporal do movimento em seus fundamentos e técnicas (dimensão procedimental), e inclui também os seus valores, ou seja, quais atitudes os alunos devem ter nas atividades corporais (dimensão atitudinal), para finalmente garantir o direito do aluno em saber o porque ele está realizando este ou aquele movimento, isto é, quais os conceitos estão ligados àqueles procedimentos (dimensão conceitual) (DARIDO, et al., 2001). A proposta dos PCN’s com os Temas Transversais então passa a ser de grande valia para os professores de Educação Física e de outras disciplinas, uma vez que, é seu objetivo nortear o trabalho dos professores, além de inserir nas aulas, conceitos que deem mais sentido e significado às mesmas (RUY; RAMOS, 2007). Diante disso surgiu o interesse do pesquisador, em aprofundar-se no assunto e buscar saber quais são as concepções dos professores de Educação Física de Colégios Privados e de um Colégio Público, na região do Vale do Ivaí, e como eles abordam as questões referentes aos TemasTransversais ou quaisquer outros temas em seus planejamentos ou planos de aula, levando em conta o contexto sócio- histórico-cultural dos colégios. A importância desta pesquisa para os professores como também para os alunos, para a escola e o pesquisador, se dará na forma de mostrar que é importante, desenvolver conteúdos relacionados aos Temas Transversais de maneira que, questões sociais emergentes sejam incluídas e problematizadas no 17 cotidiano, ampliando a contribuição da Educação Física escolar para o pleno exercício da cidadania, adotando uma perspectiva metodológica de ensino e aprendizagem que busque o desenvolvimento da autonomia, da cooperação, da participação social, da criticidade, do respeito e a afirmação de valores e princípios democráticos (BRASIL, 1997a). 1.2. OBJETIVOS 1.2.1. Objetivo Geral Analisar e compreender as aproximações e distanciamentos possibilitadas por meio dos Temas Transversais entre o contexto sócio-histórico-cultural e a Educação Física escolar no Ensino Médio nas cidades de Ivaiporã e Lunardelli - PR. 1.2.2. Objetivos Específicos Identificar nos documentos da escola, como são tratados os temas transversais e questões emergentes; Verificar o entendimento dos professores de Educação Física atuantes no ensino médio com relação aos temas transversais e questões emergentes; Diagnosticar as concepções dos professores acerca das possíveis relações entre o contexto sócio-histórico-cultural e as aulas de Educação Física, Diagnosticar os principais dilemas sociais e culturais que necessitam ser tratados nas aulas; Identificar se os temas transversais e outras questões emergentes perpassam os conteúdos trabalhados nas aulas de Educação Física. 18 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E AS TRASNFORMAÇÕES NO CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO-CULTURAL Nossa sociedade é composta por indivíduos que pensam e agem de maneiras distintas, o primeiro grupo social que fazemos parte é nossa família é com ela que aprendemos várias regras onde devemos respeitá-las. Outro grupo social em que o indivíduo pertence é a escola, que tem a função de introduzir elementos novos no desenvolvimento dos educandos, no qual devem estar vinculados as necessidades e o tipo de sociedade que se deseja construir (SOUZA, 2013). Escola e a família não são as únicas instâncias sociais que cumprem com esta função de introduzir novos elementos e conhecimentos as pessoas, os grupos sociais e os meios de comunicação muito presente na vida das pessoas nos dias atuais, são grandes disseminadoras de ideias, formas de agir e pensamentos na sociedade. A escola, no entanto ainda é parte fundamental na construção destas ideias, conhecimentos, nas concepções e nos modos de comportamento dos alunos que a sociedade adulta requer, seja pela forma em que ela desenvolve seus diversos conteúdos e assuntos ou por meio dos seus sistemas de organização. Esses diversos pensamentos que adquirimos ao decorrer dos anos na escola, contribuem para nossa formação como cidadão e em nossa interiorização de valores das normas da comunidade (PEREZ GÓMEZ, 1999). O termo educação sempre existiu em todos os grupos sociais e de diferentes formas, pois sempre houve a necessidade dos adultos em transmitir conhecimentos aos mais jovens. Na origem da humanidade o termo “Escola e sala de aula” não existia, o adulto ensinava com atividades práticas e exemplos às crianças, e essas crianças observavam e imitavam os mais velhos. As diferenças dos ensinamentos antigos e dos atuais consistem no fato de como se dava a aprendizagem de cada um, atualmente à escola se caracteriza pela organização dos conhecimentos, por sistemas, progressão de conteúdos e diversas disciplinas, sendo que no passado era apenas por transmissão das ideias, conhecimentos e crenças dos adultos para os mais novos. Deste modo, a possibilidade de “evoluir” em meio à sociedade, 19 depende da aquisição de conhecimentos, que as crianças, alunos ou qualquer outro indivíduo teve acesso em um determinado espaço de tempo, conhecimentos estes que foram julgados necessários para a atuação dos indivíduos no contexto em que vivem (SOUZA, 2013). O conservadorismo alinhado ao tradicionalismo, presente na comunidade social, reproduz ideias, comportamentos, valores herdados de gerações e em casos se mostra contrária as inovações políticas e sociais, conflitando diretamente com a tendência, que busca modificar estes pensamentos que são por vezes preconceituosos e discriminatórios em relação a religião, sexualidade, gênero, direitos iguais, etc. Estes que são desfavoráveis para certos indivíduos e grupos sociais. O equilíbrio necessário requer tanto pensamentos conservadores quanto a mudança destes pensamentos, para que haja uma tolerância maior e uma melhor relação entre os indivíduos em sociedade como dentro da escola. A escola deve propor uma política para atenuar os seus efeitos diminuindo e homogeneizando as diferenças e promovendo o respeito a elas (PEREZ GÓMEZ, 1999). Mesmo com limitações, a escola participa da formação moral de seus alunos. Valores e regras são transmitidos pelos professores, pelos livros didáticos, pela organização institucional, pelas formas de avaliação, pelos comportamentos dos próprios alunos e assim por diante. Então, ao invés de deixá-las ocultas, é melhor que tais questões recebam tratamento explícito. (BRASIL, 1997, p. 73). Bracht et. al (1992), traz que a escola se apropria do conhecimento científico, dando para tal um tratamento metodológico para que o mesmo fique de fácil compreensão para o aluno. A escola desenvolve a reflexão e capacidade intelectual do aluno sobre esse conhecimento. Relacionando-se ao eixo curricular que é diretamente vinculado aos seus fundamentos sociológicos, filosóficos, antropológicos, psicológicos e biológicos. Colocando em destaque a função social de cada uma delas, buscando estabelecer a sua contribuição particular para explicação da realidade social e natural para um pensamento/reflexão do aluno. A Educação Física também apoia-se aos fundamentos sociológicos, filosóficos, antropológicos, psicológicos e biológicos como objeto de estudo. Manifesta-se no condensado social através de práticas sociais com interesses e enfoques filosóficos, científicos e pedagógicos diferenciados, que podem ser analisados epistemologicamente em decorrência das visões explicita ou implicitamente, colocadas sobre o homem, o mundo e a sociedade (PALAFOX, et al., 1997). 20 O vínculo da Educação Física com a cultura corporal do movimento e a sociedade ocorreu ao longo da história da humanidade, decorrência da relação do homem com a natureza e com outros homens, de fato sendo historicamente construída, resultado de conhecimentos socialmente produzidos e acumulados pela humanidade. Estes que necessitam ser elucidados e transmitidos para os alunos na escola, contribuindo para o desenvolvimento da noção de historicidade da cultura corporal de movimento, compreendendo que o homem não nasceu correndo, nadando, saltando, lançando, jogando, etc. Sendo atividades que com o passar das épocas foram sendo construídas, consequência de determinados estímulos, desafios ou necessidades humanas. O conhecimento traçado desde sua origem, possibilita ao aluno a visão de historicidade, permitindo-lhe compreender-se enquanto sujeito histórico, com capacidade de interferir nos rumos de sua vida privada e de suas atividades sociais (BRACHT, et. al. 1992). A Educação Física escolar, que parte de um pensamento sobre cultura e sociedade, contribui para uma reflexão pedagógica sobre valores como solidariedade contrapondo-se ao individualismo, cooperação confrontando a disputa, distribuição em confronto com apropriação, sobretudo enfatizando a liberdade de expressãoe de movimentos, negando submissão, proporcionando um conteúdo que colabore para além e promova refletir sobre valores na prática social capitalista a quão os alunos estão sujeitos desde quando nascem. Pensando nessa perspectiva o esporte na escola, ficaria em evidência pelo seus sentidos e seus significados de valores dentro do contexto sócio-histórico, o conhecimento seria organizado de maneira plural não priorizando apenas o domínio dos elementos técnicos e táticos que também possui sua importância, como conteúdos únicos da aprendizagem. No jogo o objetivo não será apenas vencer, mas compreender as múltiplas determinações no desempenho de um jogo (BRACHT, et al. 1992). Palafox et. al (1997, p. 05), relata que: Na Educação Física/Esporte (assim como em outras práticas educacionais), o conhecimento produzido, explicita ou implicitamente, sustenta visões de homem, mundo, sociedade, assim como diversas formas de interação humana e papéis sociais que refletem uma forma de organização sócio político-econômica. Ela aparece, não como uma prática social única e restrita mas sim, como várias práticas sociais materializadas na forma de propostas de ensino e de treinamento de habilidades, que contêm seus próprios interesses e fontes de análise filosófica, científica e pedagógica. Na escola o desenvolvimento das práticas sociais, são movimentos que buscam por modificações educacionais, que orientam o horizonte dos educadores 21 comprometidos com a democracia do país. Na Educação Física, isso se expressa na vontade política dos mesmos em construir uma teoria geral que consolide uma prática transformadora (BRACHT, et al. 1992). Pensando em transformações, levamos em conta a transformação no contexto sócio-histórico-cultural e também da disciplina de Educação Física. Com a ascensão da cultura corporal do movimento nos últimos anos, tornando-se um dos fenômenos mais importantes nos meios de comunicação de massa e na economia, pode-se dizer que a atividade física atualmente é um dos assuntos mais vistos e comentados na televisão e internet (BETTI; ZULIANI, 2002). O esporte, a ginástica a dança, as artes marciais, as práticas de aptidão física, tornam-se cada vez mais produtos de consumo e objetos de conhecimento e informação que constantemente é divulgado ao grande público em jornais, revistas, videogames, rádio, televisão e internet, difundindo ideias sobre a cultura corporal do movimento auxiliando assim em sua transformação e expansão. Essa evolução não é somente boa, junto a ela o estilo de vida das pessoas também passa por modificações, se adaptando as novas condições socioeconômicas (urbanização, consumismo, desemprego, informatização e automatização do trabalho, deterioração dos espaços públicos de lazer, violência, poluição) tudo isso contribui para o aumento de pessoas sedentárias alinhado também a uma má alimentação (fast- foods, doces, refrigerantes), estresse, etc. O aumento do número de pessoas em frente à televisão e as novas tecnologias (celulares, tablets, computadores), especialmente utilizada por crianças e adolescentes, também são fatores que consequentemente diminuem a prática de atividade motora, substituindo a experiência de praticar esporte pela de assistir o esporte (BETTI; ZULIANI, 2002). Betti e Zuliani (2002, p. 74) ainda dizem que “Nesse novo contexto histórico, a concepção de Educação Física e seus objetivos na escola devem ser repensados, com a correspondente transformação de sua prática pedagógica.” É responsabilidade da Educação Física introduzir e integrar o aluno na cultura corporal do movimento e formar um cidadão capaz de posicionar-se criticamente diante das novas formas de cultura. Para isso não basta apenas aprender habilidades motoras e desenvolver capacidades físicas que são indispensáveis, mas não suficientes, o aluno deve aprender a organizar-se socialmente para a prática de um esporte coletivo, e não apenas as técnicas e táticas, compreender e interpretar as regras como um elemento que torna o jogo possível tanto dentro como fora da 22 quadra, aprender a respeitar o adversário como um companheiro e não como um inimigo, pois sem ele não há competição. Prepará-lo para ser um consumidor consciente do esporte espetáculo e com uma visão crítica do sistema esportivo profissional. Que o professor forneça informações significativas, sobre política, história e sociedade para que ele possa analisar criticamente a violência (no futebol ou em outra modalidade), o doping, e os interesses políticos e econômicos ligados ao esporte. Enfim, que este aluno saiba analisar criticamente as informações que recebe dos meios de comunicação sobre a cultura corporal do movimento. Os autores ainda dizem que, Por isso, num processo de longo prazo, a Educação Física deve levar o aluno a descobrir motivos e sentidos nas práticas corporais, favorecer o desenvolvimento de atitudes positivas para com elas, levar à aprendizagem de comportamentos adequados à sua prática, levar ao conhecimento, compreensão e análise de seu intelecto os dados científicos e filosóficos relacionados à cultura corporal de movimento, dirigir sua vontade e sua emoção para a prática e a apreciação do corpo em movimento (BETTI; ZULIANI, 2002, p. 75). A Educação Física não precisa se transformar em um discurso de ser apenas cultura corporal de movimento e perder a riqueza de suas especificidades, mas deve constituir-se como uma ação pedagógica para a cultura onde está inserida. Pois ainda é possível notar que a atual prática pedagógica da Educação Física escolar é tratada com descaso por parte dos alunos, onde muitos não veem mais significado na disciplina, mostram-se cada vez mais desinteressados e acabam valorizando mais as práticas corporais realizadas fora da escola (academias, clubes, escolinhas) do que as próprias aulas. Sendo um fenômeno que ocorre com maior frequência no Ensino Médio, onde ainda se perpetua um modelo pedagógico de Educação Física idealizado para o Ensino Fundamental (BETTI; ZULIANI, 2002). 2.2 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO A Educação Física Escolar no Ensino Médio tende a ser um ciclo, em que o aluno irá aprofundar e sistematizar o seu conhecimento adquirido dos anos anteriores. Nessa fase o aluno já percebe e compreende as propriedades individuais de cada objeto podendo explicá-las, é o ciclo em que o aluno pode se tornar 23 produtor de conhecimento científico quando submetido à atividade de pesquisa (BRACHT, et. al. 1992). Assim como no documento elaborado pela CENP (1993), o documento elaborado por uma comissão do Conselho Estadual de Educação ressalta que o ensino médio não pode ser concebido como uma repetição, um pouco mais aprofundada, do programa de Educação Física do ensino fundamental, mas deve apresentar características próprias, que considerem o contexto sócio-histórico destes alunos. (DARIDO, et al. 1999). Quando falamos de Educação Física no âmbito escolar, por diversas vezes nos vem à mente, às atividades recreativas e a prática esportiva de modalidades tradicionalmente conhecidas. Alguns professores e muitos alunos ainda perpetuam com essa ideia perante a disciplina, mesmo ela sendo regular e integrante do projeto político pedagógico da escola (REIS, 2007). Essa ideia de Educação Física para os alunos, se dá desde o início, durante o Ensino Fundamental, onde algumas escolas não possuem professores com formação específica na área, fazendo com que as aulas sejam ministradas pelos professores pedagogos, onde acabam por vezes não passando para o aluno um conteúdo de Educação Física que a criança realmente necessita ou conteúdos que sejam adequados para sua idade, juntamente a isso, acarretando durante os anos uma falta no seu desenvolvimento motor tanto quanto cognitivo e afetivo (REIS, 2007). No Ensino Médio, a Educação Física é vista em algunscasos, pelos alunos como uma disciplina sem demasiada importância. Os adolescentes se encontram descontentes com os conteúdos durante as aulas ou com a forma de atuação dos professores. Ano após ano são sempre os mesmos conteúdos, sendo por diversas vezes, muitas aulas, focadas apenas nos esportes coletivos ou jogo pelo jogo. Juntamente com as experiências acumuladas dos anos do Ensino Fundamental, o aluno cada vez menos se sente interessado pela disciplina (BARNI; SCHNEIDER, 2003). O maior desafio da Educação Física no Ensino Médio, neste mundo contemporâneo, é a convivência nos ambientes escolares com turmas de alunos que pensam e agem de maneiras distintas. Torna-se cada vez mais difícil fornecer uma Educação Física com participação universal, e verifica- se a utilização desenfreada da prática esportiva nos ambientes escolares, supervalorizando o espetáculo através da fala da mídia, o que influi significativamente no comportamento dos alunos dentro e fora do ambiente escolar (MONTAGNER; RODRIGUES, 2003 apud. REIS, 2007, p.02). A aula de Educação Física, é obrigatoriedade dentro da escola, segundo a LDBEN de 2014, Art.26, 3 – Lei 9394/96, relata que: 24 A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a 6 (seis) horas; maior de 30 (trinta) anos de idade; que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; amparado pelo Decreto-Lei nº 1.044, de 21 de outubro de 1969; (vetado), ou que tenha prole. (BRASIL, 2014, p.19). A Educação Física, trata-se de um conhecimento cientifico universal que precisa ser assimilado pelo o aluno, ele precisa compreender a importância disso para sua vida, à dispensa das aulas, priva o aluno de receber estes conhecimentos, a expressão corporal também é uma linguagem e um conhecimento universal, que igualmente precisa ser apresentado e assimilado pelos alunos na escola (BRACHT, et al. 1992). Segundo os PCN’s para o Ensino Médio, a Educação Física, deve reaproximar o aluno com a disciplina, usando de conteúdos que contribuam para o aprofundamento dos seus conhecimentos, pensando assim em uma continuidade do que o aluno aprendeu no Ensino Fundamental, o aluno pratica as modalidades, suas técnicas e táticas, mas também aprende sobre outras, adentrando em seus diversos conteúdos. Outra questão, é que os alunos, por vezes, frequentam as aulas de forma descompromissada com o que está sendo ensinado, por não sentirem afinidade com os conteúdos que são desenvolvidos, no caso os esportes que é usado de maneira exaustiva pelos professores, podendo assim, constatar uma forte evasão de alunos às aulas. A influência do esporte sempre esteve e está fortemente presente na Escola, e isso acaba por subordinar a Educação Física a ser apenas “esporte” e não algo a mais (BRASIL, 2000). [...] Enquanto as demais áreas de estudo dedicam-se a aprofundar os conhecimentos dos alunos, através de metodologias diversificadas, estudos do meio, exposição de vídeos, apreciações de obras de diversos autores, leituras de texto, solução de problemas, discussão de assuntos atuais e concretos, as aulas do “mais atraente” dos componentes limita-se aos já conhecidos fundamentos do esporte e jogo. A influência do esporte no sistema escolar é de tal magnitude que temos não o esporte da escola, mas sim o esporte na escola (BRASIL, 2000, p. 34). Darido et al., (1999), diz que a Educação Física no Ensino Médio, deve proporcionar ao aluno conhecimento sobre a cultura corporal do movimento, que implica compreensão, reflexão, análise crítica, etc. Devendo para tal conhecimento, que os alunos tenham relações com as vivências das atividades corporais com objetivos ligados aos lazer, saúde/bem estar e expressão de sentimentos. Este objetivo garantido para todos os alunos, permitirá que eles possam desfrutar das 25 várias formas culturais do movimento. Promover discussões no Ensino Médio sobre as manifestações dessas práticas corporais como reflexos da sociedade em que vive, pensando criticamente nos seus valores, levará os alunos a compreenderem as possibilidades e necessidade de transformar ou não esses valores. 2.2.1. Objetivos da Educação Física no Ensino Médio Pensando nos objetivos da Educação Física no Ensino Médio, segundo os PCN’s o objetivo da disciplina é aproximar o aluno novamente à Educação Física, de forma lúdica, educativa e contributiva para o processo de aprofundamento dos conhecimentos (BRASIL, 2000). Bracht et. al., (1992) relata que é necessário estruturar um programa de Educação Física e selecionar os seus conteúdos metodológicos básicos, uma vez que quando se aponta o conhecimento e os métodos para sua assimilação, se evidencia a natureza do pensamento teórico que se pretende desenvolver nos alunos. Podemos dizer que o programa é o pilar da disciplina e que seus elementos principais são: 1) o conhecimento de que trata a disciplina, sistematizado e distribuído, que geralmente se denomina de conteúdos de ensino; 2) o tempo pedagogicamente necessário para o processo de apropriação do conhecimento; e 3) os procedimentos didático-metodológicos para ensiná-lo (BRACHT, et al., 1992, p. 41). O estudo da cultura corporal visa apreender a expressão corporal como linguagem. O aluno deve atribuir um sentido próprio às atividades que o professor lhe propõe. Considerando isto, podemos dizer que os temas da cultura corporal que são tratados na escola, possuem sentidos e expressam significados que se relacionam dialeticamente à intencionalidade e aos objetivos dos homens e suas intenções em meio à sociedade, pois o seu sentido pessoal em uma determinada atividade possui relação com a realidade de sua própria vida, com suas motivações. Tratar desse sentido/significado abrange a compreensão das relações de interdependência que jogo, esporte, ginástica e dança, ou outros temas que venham a compor um programa de Educação Física, têm com os grandes problemas sócio-políticos atuais como: ecologia, papéis sexuais, saúde pública, relações sociais do trabalho, preconceitos sociais, raciais, da deficiência, da velhice, distribuição do solo urbano, distribuição da renda, dívida externa e outros (BRACHT et al., 1992, p. 42). 26 É necessária a reflexão desses problemas sociais por parte dos alunos, se o professor quer possibilitar ao aluno entender a realidade social em que ele está inserido. Deve utilizar-se dessas ferramentas interpretando-as e explicando-as. “Isso quer dizer que/cabe à escola promover a apreensão da prática social. Portanto, os conteúdos devem ser buscados dentro dela”. (BRACHT, et al., 1992, p.42). As Diretrizes Curriculares do Paraná (2008), propõem que a Educação Física seja fundamentada nas reflexões sobre as necessidades atuais de ensino perante os alunos, valorizando a educação e superando contradições. Sendo de essencial importância considerar os contextos e experiências de diferentes regiões, alunos, escolas, professores e da comunidade. Podendo o professor também desenvolver uma interlocução com outras disciplinas que permitam entender a Cultura Corporal em sua diversidade e em suas relações com as múltiplas dimensões da vida humana, tratadas tanto pelas ciências humanas, sociais, da saúde e da natureza. Nas Diretrizes Curriculares os conteúdos da Cultura Corporal, foram definidos como Conteúdos Estruturantes, devendo esses ampliar a dimensão meramente motriz. Ficando a critério do professor, enriquecer os conteúdos com experiências corporais das mais diferentes culturas priorizando as particularidades de cada comunidade. Os Conteúdos Estruturantes propostos para a Educação Física são os esportes, jogos e brincadeiras, ginástica, lutase dança (PARANÁ, 2008). Ao trabalhar o conteúdo Esporte com os alunos do Ensino Médio o professor deve considerar os determinantes históricos-sociais responsáveis pela constituição do esporte ao longo dos anos. Este é entendido como uma atividade teórico-prática e um fenômeno social, que em suas várias manifestações e abordagens, pode ser uma ferramenta de aprendizado para o lazer, para o aprimoramento da saúde e para integrar os sujeitos em suas relações sociais. O ensino do esporte ainda, deve fornecer ao aluno uma leitura de sua complexidade sócia, histórica, e política. Portanto ensinar o esporte nas aulas de Educação Física deve sim contemplar o aprendizado das técnicas, táticas e regras básicas das modalidades, mas não limitando-se em ser apenas isso (PARANÁ, 2008). Com os Jogos e Brincadeiras é interessante reconhecer as formas particulares que estas tomam em distintos contextos históricos, de modo que caiba a escola valorizar pedagogicamente as culturas locais e regionais que identificam em determinada sociedade. Este conteúdo é de relevante importância para o desenvolvimento humano, pois atua como maneiras de representação do real 27 através de situações imaginárias, permitindo para os pais e por outro lado a escola promover e criar as condições apropriadas para as brincadeiras e jogos, compondo um conjunto de possibilidades que ampliam a percepção e a interpretação da realidade (PARANÁ, 2008). A Ginástica deve dar condições ao aluno de reconhecer as possibilidades de seu corpo, espera-se que com o conteúdo os alunos tenham subsídios para questionar os padrão estéticos, a busca exacerbada pelo culto ao corpo e aos exercícios físicos, e também os modismos que atualmente se fazem presentes nas diversas práticas corporais, inclusive na ginástica. As Lutas devem fazer parte do contexto escolar, pois se constituem das mais variadas formas de conhecimento da cultura humana, são repletas de simbologias e historicamente enriquecidas. Quando houveram situações em que o professor pode teorizar acerca dos conteúdos da dança, ele poderá aprofundar com os alunos uma consciência crítica e reflexiva sobre seus significados, criando situações em que a representação simbólica, peculiar a cada modalidade de dançar, seja contemplada (PARANÁ, 2008). Outro ponto importante que pode ser explorado pelo profissional, são as danças que retratam a cultura afro-brasileira, também aliado aos aspectos culturais e regionais específicos, e as vivências desses diferentes estilos de dança, possibilitando a liberdade de recriação coreográfica e a expressão livre de movimentos. As lutas, assim como os demais conteúdos, devem ser trabalhados de maneira reflexiva, direcionada a propósitos mais abrangentes do que somente desenvolver capacidades e potencialidades físicas. Sendo de fundamental importância para refletirmos criticamente sobre a realidade que nos cerca, contrapondo-se ao senso comum (PARANÁ, 2008). Nos exemplos pode-se perceber que os conteúdos da cultura corporal a serem apreendidos na escola devem emergir da realidade dinâmica e concreta do mundo do aluno. Tendo em vista uma nova compreensão dessa realidade social, um novo entendimento que supere o senso comum (BRACHT et al., 1992, p. 62). Os alunos devem ser orientados para um conteúdo que lhes apresentem a necessidade de solução/reflexão de um problema nele implícito. É o aluno se atentar a fatos que o cerca. Um exemplo que Bracht et. al. (1992) nos coloca, é o do professor organizar com seus alunos uma atividade de lazer em áreas verdes (caminhada, acampamento) e no decorrer da atividade gerar o confrontar-se do aluno com as questões da devastação ou preservação do meio ambiente, do homem 28 no intermédio dessas práticas, tanto pelo bem quanto para o mal. “O aprofundamento sobre a realidade através da problematização de conteúdos desperta no aluno curiosidade e motivação, o que pode incentivar uma atitude científica.” (BRACHT, et. al. 1992, p.43). Acredita-se que o aluno do Ensino Médio traz para o ambiente escolar um conhecimento sobre determinado assunto e que no decorrer das aulas esse conhecimento possa ser modificado e melhorado, respeitando sempre o contexto social, a individualidade e o desenvolvimento do educando. O ambiente escolar, mais especificamente as aulas de Educação Física não devem ser voltadas ao rendimento e perfeição, porque cada indivíduo ali inserido possui suas características e individualidade, que devem ser respeitadas durante o processo de desenvolvimento (BARNI; SCHNEIDER, 2003). Operando a crítica da Educação Física a partir de sua contextualização na sociedade capitalista, emerge as abordagem críticas, incluindo a Crítico-superadora. “Vinculadas às discussões da pedagogia crítica brasileira e às análises das ciências humanas, sobretudo da Filosofia da Educação e Sociologia, estão as concepções críticas da Educação Física” (PARANÁ, 2008, p.44). A abordagem Crítico-superadora valoriza, na construção do processo pedagógico, a influência que diversos elementos possuem sobre determinadas ações e pensamentos dos indivíduos, sejam eles: professores, funcionários, seus pais e comunidade, sendo alguns dos pontos dessa concepção de ensino. Chama- se assim porque tem à concepção histórico-crítica, como ponto de partida e inspiração no materialismo histórico dialético de Karl Marx. Seus Idealizadores são: Valter Bracht juntamente ao Coletivo de Autores. Estuda a cultura corporal e parte dela para seu desenvolvimento, relata que a cultura corporal é parte essencial da realidade social complexa do aluno (OLIVEIRA, 1997). Olhando por meio de uma abordagem Crítico-superadora, a escola deve fazer uma seleção dos conteúdos da Educação Física. Os conteúdos devem ser selecionados, organizados e coerentes, para que promova aos alunos uma leitura da realidade. Para isso, deve-se analisar a origem do conteúdo e reconhecer o que gerou a necessidade em se explanar sobre tal. Atentando-se a realidade local em que esta escola está inserida e aos seus materiais. São conhecimentos necessários na construção e desenvolvimento sócio-histórico do indivíduo e as suas significações objetivas perante determinada ação (BRACHT, et al. 1992). 29 Utiliza-se dos conteúdos que compõem a cultura corporal do movimento como a ginástica, o jogo, a dança, a capoeira e os esportes. O aluno deve construir demonstrar e compreender para poder explicar e intervir. Tem de qualificar o conhecimento do aluno, sobre aquela mesma realidade, questionando-o, para dotá- lo de maior complexidade (OLIVEIRA, 1997). Esta abordagem ainda propõe a estruturação em ciclos. Nos ciclos os conteúdos são tratados simultaneamente, constituindo-se referências que vão se ampliando no pensamento do aluno de forma espiralada, como um mesmo conteúdo podendo ser tratado em todos os níveis escolares como processo de evolução. Dessa forma, os ciclos não se organizam por etapas. Os alunos podem lidar com diferentes ciclos ao mesmo tempo, dependendo dos dados que estejam sendo tratados. Os ciclos buscam construir um melhora na forma do professor ensinar e o aluno apreender, mas não abandonando a referência das séries (BRACHT, et al. 1992). O professor pode se deparar a um certo despreparo para enfrentar estas abordagens, seja por falta de interesse, conhecimento, comodismo, medo de não saber utilizar corretamente em suas aulas, ou até mesmo por dúvidas que possam gerar aos alunos e o profissional não saber argumentar sobre, seria um risco a correr, onde no entendimento tradicional o professor tem que “saber tudo” e o aluno apenas ouvir e aprender (OLIVEIRA, 1997). A Educação Física como parte integrante da Escola, colabora na construção do ser humano em desenvolvimento. Os alunos do Ensino Médio necessitam de uma Educação Física com múltiplos conteúdos, de atividades desenvolvidasque colaborem na formação de sua personalidade e em sua participação nos meios sociais (BARNI; SCHNEIDER, 2003). Tratar dos grandes problemas sócio-políticos atuais não significa um ato de doutrinamento, mas sim organizar e selecionar os conteúdos exigindo coerência com o objetivo de promover a leitura da realidade. Não significa abordar somente o conteúdo “teórico”, mas, sobretudo construir uma metodologia que tenha como eixo central a construção do conhecimento pela práxis. Proporcionando a expressão corporal, o aprendizado das técnicas e a reflexão sobre o movimento corporal, utilizando-se de uma complexidade crescente, em que o mesmo conteúdo possa ser discutido tanto no Ensino Fundamental como também no Ensino Médio (BRASIL, 2008). 30 2.3. A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E OS TEMAS TRANSVERSAIS Os temas foram escolhidos em função das urgências que a sociedade brasileira apresenta, pensando nas grandes dimensões do Brasil e as diversas realidades que o compõem. Para atender a algumas dessas necessidades, de se falar sobre estes temas, foram criados os Temas Transversais que estão integrados aos PCN’s e são de fundamental importância para a formação crítica e social do aluno. É papel do professor que ele conheça e saiba da importância desses temas e que consiga transpor conhecimentos relacionados a eles durante as aulas, utilizando um conteúdo que perpasse essas questões para os alunos (BRASIL, 1997a). Os temas transversais a partir dos PCN’s abordam: Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo, podendo conter outros relacionados aos Temas Locais, que são os temas de interesse específico de uma determinada realidade a serem definidos no âmbito da cidade ou da escola em que se está trabalhando (BRASIL, 1997a). A intervenção dos Temas Transversais nas áreas não é uniforme, pois deve respeitar as singularidades de uns e de outras. Certos temas têm mais afinidade com uma área do que com outra, e essas especificidades precisam ser respeitadas para não se incorrer em um “formalismo mecânico” (BRASIL, 1997a, p. 41). Foram propostos para toda a escola, ou seja, que todas as disciplinas devem tratar sobre, inclusive a Educação Física. É como se fossem as principais ruas do currículo escolar que devem ser atravessados/cruzados, por causa disso recebem o nome de transversais (DARIDO, 2012). Na Educação Física, por exemplo, vários autores mencionam a necessidade e a importância de tratar os grandes problemas sociais nas aulas, tais como: ecologia, papéis sexuais, saúde pública, relações sociais do trabalho, preconceitos sociais, raciais, da deficiência, da velhice, distribuição de solo urbano, distribuição da renda, dívida externa; e outros, relacionados ao jogo, esporte, ginástica, lutas e dança (DARIDO, 2012, p. 78). Optando por incluir os temas transversais nas aulas de Educação Física, o professor estará contribuindo para um conhecimento do indivíduo relacionado aos problemas de nossa sociedade, pensando em uma formação voltada à formação do cidadão crítico. Com isso o indivíduo conheceria os benefícios de tais práticas, os diversos tipos de manifestações da cultura corporal do movimento, aprendendo a relacionar as atividades e saber como isto está relacionado aos meios de 31 comunicação, mídia televisiva, internet, rádio, se tornando um indivíduo com maior conhecimento sobre tais assuntos, e ainda aprendendo a relacionar estes conteúdos com os colegas, reconhecendo os valores por trás das práticas e não apenas a prática em si. Também podendo propiciar um maior interesse dos alunos para com as aulas de Educação Física (DARIDO, 2012). Também preocupado com essas questões, as Diretrizes Curriculares do Paraná (2008) em seu documento cita diversos conteúdos a serem desenvolvidos pelos professores na Educação Física, a fim de ampliar horizontes acerca destes temas dentro da escola e das aulas. Nas diretrizes da Educação Física são nomeados de Elementos Articuladores, que visam romper com a maneira tradicional de como os conteúdos tem sido tratados, trazendo novas formas para que esses elementos comecem a integrar e se interligar as práticas corporais em uma forma mais contextualizada e reflexiva (PARANÁ, 2008). Estes elementos, não podem ser entendidos como conteúdos paralelos, trabalhados apenas teoricamente ou de maneira isolada. Estes conteúdos devem ser incluídos dentro da Educação Física a fim de transformar o seu ensino, mostrando o valor de tais elementos, suas transformações e importância no ambiente escolar e em sociedade. Os elementos articuladores alargam a compreensão das práticas corporais, indicam múltiplas possibilidades de intervenção pedagógica em situações que surgem no cotidiano escolar. São, ao mesmo tempo, fins e meios do processo de ensino/aprendizagem, pois devem transitar pelos Conteúdos Estruturantes e específicos de modo a articulá-los o tempo todo (PARANÁ, 2008, p.54). As diretrizes descrevem esses Elementos Articuladores sendo eles: corpo, ludicidade, saúde, mundo do trabalho, lazer, diversidade e mídia (PARANÁ, 2008). Durante as aulas de Educação Física, tratar sobre os Temas Transversais e Elementos Articuladores, será de grande valia para os alunos, atrelado aos conteúdos que compõem à aula e aos elementos da cultura corporal de movimento, que incluem o jogo, o esporte, as atividades rítmicas e expressivas, dança, luta, ginástica e a capoeira são exemplos de conteúdos, que o professor pode utilizar para criar uma aula com um conceito que aborde algum determinado tema (DARIDO, 2012). Estes temas possibilitam aos professores que desenvolvam um conteúdo em suas práticas pedagógicas de real importância e necessidade aos alunos, fornecendo informações para o seu desenvolvimento e sua construção de ideias e 32 pensamentos. Um ponto que se destaca nessa nova significação atribuída à Educação Física é que a área ultrapassa a ideia única de estar voltada para o ensino do gesto motor correto. Cabe ao professor mostrar que a disciplina de Educação Física é muito mais que isso, cabe a ele problematizar, interpretar, relacionar, compreender junto a seus alunos as amplas manifestações da cultura corporal de tal forma que os alunos compreendam os sentidos e significados impregnados nas práticas corporais. Cabe a escola e aos professores estarem por dentro destas questões e darem o suporte necessário para que esses temas recebam a devida atenção (DARIDO, 2012). 2.3.1 Ética Ética deve apresentar para os alunos atividades que possibilitem que eles reflitam acerca da convivência humana nas suas relações com as diferentes dimensões da vida social: o ambiente, o trabalho, o lazer, o consumo, a sexualidade e a saúde (DARIDO, 2012). O que se quer ressaltar é a possibilidade de construir formas operacionais de praticar e refletir sobre esses valores, a partir da constatação de que apenas a prática das atividades e o discurso verbal do professor resultam insuficientes na sua transmissão e incorporação pelo estudante. O respeito mútuo, a justiça, a dignidade e a solidariedade podem, portanto, ser exercidos dentro de contextos significativos, estabelecidos em muitos casos de maneira autônoma pelos próprios participantes. (BRASIL 1997a, p. 34- 35). Fazer com que haja essa relação e discussão durante as aulas é de essencial importância, incluir essa dimensão, atribuir às atitudes certas e erradas, positivas ou negativas. Ainda atribuir o valor da dimensão social da ética, juntamente a valores às atitudes sociais das pessoas, em momentos o aluno pode querer transferir a responsabilidade do seu ato para o grupo em que ele está inserido, sendo que a responsabilidade moral de suas atitudes é consequência do ato em si, sendo responsabilidade apenas do indivíduo (BRASIL, 1997a). A ética é, portanto, entendidacomo pensamento ou reflexão sobre os valores e as normas que norteiam as condutas dos homens na sociedade. Mas, para os Temas Transversais, ela possui ainda uma dimensão histórica, pois tanto as sociedades quanto os homens mudam com o passar do tempo, mudando, também, os dilemas éticos e as respostas dadas para eles (SILVEIRA, 2009, p. 697). 33 De acordo com os PCN’s os objetivos específicos da Ética na escola são: compreender a justiça como equidade e sensibilizar-se para a construção de uma sociedade justa; respeitar as diferenças entre as pessoas, atitude necessária à convivência democrática; praticar a solidariedade, a cooperação e o repúdio às injustiças e às discriminações; utilizar os conhecimentos adquiridos na escola para a construção de uma sociedade democrática e solidária; adotar o diálogo como forma de solucionar conflitos e tomar decisões coletivas; legitimar as normas morais mediante a construção de uma autoimagem positiva e do respeito próprio; assumir posições de acordo com seu próprio julgamento, levando em conta diferentes pontos de vista e aspectos envolvidos em cada questão (BRASIL, 1997a). A prática de atividade física de modo geral, segundo Darido (2012), é onde os alunos expressam comportamentos de excitação, cansaço, medo, vergonha, prazer, satisfação, entre outros. Por meio deles os alunos são afetados pela intensidade e pela qualidade dos estados afetivos vivenciados corporalmente. Durante uma aula de Educação Física, na prática esportiva é propício ocorrerem situações afetivas e de interação social, sendo um ambiente ideal esse para explicitação, discussão e reflexão a respeito de atitudes e valores considerados éticos ou não, para si e para os outros. Acedo (2009) relata que a escola é um ambiente que permite aos jovens expandir os conhecimentos e relacionamentos durante grande parte da vida. A Educação Física pode colocar em discussão o “como ser?” a dimensão das atitudes durante a prática de movimentos, jogos, lutas e danças, construídos historicamente pelo ser humano (cultura corporal do movimento) expandindo não somente as possibilidades de movimentos, mas também oferecendo para os mesmos um embasamento teórico. Questionando também quais seriam os valores vinculados a essas práticas? O autor ainda cita o fair play ou “jogo limpo” como um exemplo de boa conduta no esporte, onde os atletas devem possuir durante uma partida. Levar essas discussões para o ambiente de aula podem ter pontos positivos, mostrando a importância do bom comportamento para com os adversários e demais pessoas do jogo, e também através da imagem que isso causa ao expectador. Estimulando no aluno uma reflexão entre o que ocorre no esporte e no meio social em que ele está presente. 34 Reconhecer de fato que a escola possui um papel importante na formação ética dos alunos é essencial, que deve ser não somente a única, mas a referência mais implícita para essa formação. Silveira (2009) ainda nos diz que os argumentos apresentados em favor da abordagem transversal para a ética, parecem não ser suficientes para justificá-la. Para ele o melhor caminho, levando em consideração as condições atuais da escola pública brasileira, seria tratar a Ética como disciplina escolar, deixando de ser apenas um tema transversal, com um professor em particular com formação adequada para essa tarefa e de forma interdisciplinar. 2.3.2 Pluralidade Cultural Trabalhar a diversidade cultural, durante a aula, tem por objetivo, que os alunos conheçam, respeitem e valorizem as diversas culturas existentes no Brasil, contribuindo para uma convivência mais harmoniosa em nossa sociedade, sem repúdios ou discriminação. Utilizando para isso vivências das diferentes “manifestações da cultura corporal”, os esportes, as danças e as lutas, como forma de conhecê-las e valorizá-las (DARIDO, 2012). Cultura corporal e diversidade visam o reconhecimento e a ampliação da diversidade nas relações sociais. A aula de Educação Física é um momento onde ocorre a oportunidade de um relacionamento conjunto de todos os indivíduos, onde possa ocorrer o respeito entre as diferenças individuais de cada um (DARIDO, 2012). Danças, culinária, hábitos, jogos, cantigas, religiões e crenças são apenas alguns exemplos de componentes da cultura brasileira, criados a partir dos povos que se encontraram nesta terra (índios, africanos, europeus e asiáticos – para resumir, porém enfatizando a diversidade de culturas dentro desses grupos), que elucidam a variedade de manifestações existentes no Brasil (ACEDO, 2009, p. 38). Valorizar as experiências corporais do campo e dos povos indígenas, e ás práticas corporais de cada segmento social e cultural nas escolas. Estes universos devem dialogar entre si para que os alunos convivam com as diferenças e estabeleçam relações corporais ricas em experimentações. Experimentar a cultura do outro, as diferenças do outro, as suas dificuldades é algo a se trazer para os 35 alunos, um exemplo seria a experimentação de esportes adaptados, em um jogo de futebol com os olhos vendados utilizando uma bola com guizo e no final discutir com os alunos as dificuldades encontradas por eles durante a prática (PARANÁ, 2008). “Destaca-se que a inclusão não representa caridade ou assistencialismo, mas condição de afirmar a pluralidade, a diferença, o aprendizado com o outro, algo que todos os alunos devem ter como experiência formativa.” (PARANÁ, 2008 p. 61). Por meio da dança, conhecer as diferentes danças típicas existentes, danças de origem africana e os diversos grupos étnico-culturais, fazendo com que se conheça um pouco mais das regiões do Brasil. Junto com as ginásticas e às lutas que conseguem manter suas raízes ligadas aos locais de origem, possibilita aos alunos o conhecimento desses locais e da diversidade cultural de cada um deles. O esporte diretamente não possibilita nos dar essa diversidade de expressões culturais, pois os esportes mais conhecidos não possuem características regionais, podendo se pedir aos alunos que pesquisem a origem e suas modificações durante os anos, o esporte ainda pode ser muito relacionado à diversidade étnica e cultural, pois está sempre ligada a mídia que a maioria tem acesso, revelando os conflitos existentes (DARIDO, 2012). As regras dos jogos, as adaptações dos esportes, assim como as expressões regionais, ganham um sentido maior quando vivenciadas dentro de um contexto significativo, que permita, por exemplo, comparar a capoeira que se pratica na Bahia com a capoeira que se pratica em São Paulo. Pode- se, ao contextualizar aspectos relativos à expressão cultural e ao treinamento para competição, explicitar a trajetória da imigração de uma cultura, sua apropriação por outras culturas, trazendo à tona os valores e usos dados por seus protagonistas (BRASIL, 1997d, p. 39). Este Tema Transversal é também a mencionado na Lei 10.639/03 que foi sancionada no dia 09 de janeiro de 2003, alterando a Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelecia que as Diretrizes e Bases da Educação Nacional têm como obrigatoriedade a inclusão no currículo oficial das redes de ensino o tema “História e Cultura Afro Brasileira”, sendo obrigatório no ensino fundamental e médio e em ensinos particulares. Incluindo no calendário escolar o dia 20 de Novembro como Dia Nacional da Consciência Negra. Em 10 de março de 2008, a Lei 10.639/03 foi ampliada sendo também aprovada a Lei 11.645/08 que acrescenta no currículo escolar obrigatório o ensino, além da Cultura Afro Brasileira e Afro descendente, também a Cultura Indígena, buscando resgatar a omissão histórica em relação à contribuição cultural desses povos originários da Terra Brasilis. Em 2009, vários Ministérios e Secretarias elaboraram o Plano Nacional das Diretrizes Curriculares 36 Nacionais para Educação das RelaçõesÉtnico Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana com objetivo de promover mecanismos mais eficazes para a uma prática mais abrangente da Lei. Convocando diversas instâncias a se envolverem de forma mais efetiva, na luta por uma educação em que crianças sejam instruídas contra o racismo (CHAVES; SHAUN, 2013). Darido (2012) ainda diz que o professor durante as aulas, deve estar sempre preparado para coibir a prática de atividades e atitudes discriminatórias e excludentes, no momento da sua ocorrência, através do diálogo e de um trabalho em específico com os alunos. Devendo prestar atenção e refletir em suas atitudes como profissional, se mesmo de maneira involuntária, está realizando atitudes discriminatórias, que acabam por influenciar os seus alunos. 2.3.3 Meio Ambiente Como formas de se desenvolver a Educação Ambiental, são empregados vários meios para ajudar na compreensão dos mesmos, como rádio, jornal, os meios de comunicação em geral e principalmente, a escola. A Escola como disseminadora de ideias e entidade formadora de opinião é fator primordial nesse processo. A educação para com o meio ambiente se faz presente nas escolas, fazendo parte em muitos tópicos de programas e em algumas disciplinas (ANDRIGHETTO, 2010). Nossa sociedade atual se encontra cada vez mais envolvida com as novas tecnologias e por ventura está perdendo a relação natural que tinha com a Terra e suas culturas, deixando de prestar atenção na natureza ao seu redor e da essencial importância dela. A Educação Ambiental se propõe a atingir todos os cidadãos por meio de um processo pedagógico participativo permanente, que busca imprimir no educando que o mesmo se alerte sobre a devastação no meio ambiente, captando a evolução dos problemas ambientais compreendendo-as e mostrando posicionamento e um maior engajamento com relação a este assunto (ANDRIGHETTO, 2010). Os rápidos avanços tecnológicos viabilizaram formas de produção de bens com consequências indesejáveis que se agravam com igual rapidez. A exploração dos recursos naturais passou a ser feita de forma demasiadamente intensa, a ponto de pôr em risco a sua renovabilidade. Sabe-se agora da necessidade de entender mais sobre os limites da 37 renovabilidade de recursos tão básicos como a água, por exemplo. De onde se retirava uma árvore, agora retiram-se centenas. Onde moravam algumas famílias, consumindo escassa quantidade de água e produzindo poucos detritos, agora moram milhões de famílias, exigindo a manutenção de imensos mananciais e gerando milhares de toneladas de lixo por dia (BRASIL, 1997b, p. 173-174). Atualmente em regiões mais industrializadas, constata-se uma maior diminuição na qualidade de vida das pessoas, que afeta tanto a saúde física quanto a saúde psicológica, devido à poluição e outros fatores que culminam em grandes cidades (ANDRIGHETTO, 2010). Desenvolver em determinada disciplina, atividades relacionadas ao meio ambiente, alertando da importância de se preservar o planeta, relacionando-os com as catástrofes naturais e o aquecimento global se caracteriza como essencial. Esse tema trabalhado juntamente com a Educação Física visa possibilitar ao aluno conhecer um pouco mais sobre as atividades corporais praticadas em ambientes abertos e próximos da natureza, assim fazendo com ele relacione a importância da natureza estar preservada para que tal esporte possa ser praticado. Alguns exemplos de esportes esses como: o surf, o alpinismo, o bice-cross, o jet-ski, e também os esporte radicais, o montanhismo, as caminhadas, o mergulho e exploração de cavernas, e várias outras atividades de lazer relacionadas ao meio ambiente possibilitam essa relação. Essas atividades não são suficientes para que haja uma melhor compreensão dos alunos acerca dos problemas ambientais emergentes, mas possibilitam a eles de uma certa maneira que tenham um maior envolvimento com o assunto. (BRASIL, 1997b). 2.3.4 Orientação Sexual Sexualidade não é apenas uma questão pessoal, mas é social e política, sendo construída ao longo de toda vida, de muitos modos, por todos os sujeitos. Consideram que a sexualidade é algo que nós, homens e mulheres, possuímos “naturalmente”. Pensando dessa maneira, seria algo que já nascemos destinados a ter, no caso homem se atrair por mulher e mulher se atrair por homem na heterossexualidade, como existem diversos outros casos em que homens se atraem por homens e mulheres por mulheres sendo a homossexualidade e também várias 38 outras orientações sexuais. Quando se aceita esta ideia fica sem sentido argumentar a respeito de sua dimensão social e política ou a respeito de seu caráter construído. A sexualidade seria algo “dado” pela natureza, inerente ao ser humano. No entanto podemos entender, que a sexualidade envolve diversos fatores, linguagens, fantasias, representações, símbolos, processos profundamente culturais e plurais. Nessa perspectiva não se configura como “natural” e sim cultural e social, sendo respectivo de cada indivíduo. Gênero nos corpos, pode ser definido como feminino ou masculino, e está relacionado no contexto de cultura. As identidades de gênero e sexuais, são portanto compostas e definidas por relações sociais, elas são moldadas pelos indivíduos de uma sociedade (LOURO, 2000). As conceituações em torno da homossexualidade ainda são bastante díspares. O autor considera exatamente essa inexatidão e assume com os esforços sobre esta tema que a homossexualidade se apresenta como: indivíduos do mesmo sexo que estabelecem relações sexuais e afetivas (CUNHA JUNIOR; MELO, 1996). Ao abrangermos discursos de preconceito e discriminação no decorrer do tempo, pode-se traçar paralelos com a situação brasileira contemporânea, encontrando apontamentos diretamente ligados às atividades físicas/esportivas (CUNHA JUNIOR; MELO, 1996). [...] precisamos entender que existem diferentes formas de viver as masculinidades e feminilidades, e isso precisa ser respeitado. A escolha, por exemplo, de um menino em não jogar futebol não implica naturalmente que deixe de ser masculino ou que seja gay (OLIVEIRA et. al, 2014, p.05). Alunos de diferentes classes, grupos sociais e orientações sexuais estão presentes na escola, dentre estes, podemos destacar os homossexuais que muitas vezes sofrem preconceitos e discriminação por se desviar da sexualidade considerada padrão. A discussão sobre discriminação de pequenos grupos nas escolas, principalmente homossexuais, vem ganhando certo espaço em pesquisas na área de educação e, especificamente, na Educação Física (OLIVEIRA et al, 2014). Louro (1999) apud. Oliveira et. al (2014, p.05) afirma que: A escola é com certeza um dos locais mais difíceis para que alguém “assuma” sua condição de homossexual ou bissexual. A escola nega e ignora a homossexualidade, por supor que só pode haver um tipo de desejo sexual, qual seja, a heterossexualidade. Desse modo, a escola oferece poucas chances para que adolescentes ou adultos gays assumam, sem culpa ou vergonha, seus desejos. O lugar do conhecimento, ou seja, a 39 escola, passa a ser, então, o lugar do desconhecimento em relação à sexualidade. Como sugestões de metodologia para que auxiliem os professores na abordagem desse assunto com seus alunos nas aulas de Educação Física, se daria com a realização de seminários, debates, dramatizações e coreografias de músicas que tratam desse tema, dinâmicas de grupo, etc. Para o educador, sabemos que abordar um tema polêmico como este nem sempre é tarefa fácil. Porém se configura como uma necessidade dos tempos atuais, uma vez que alunos e alunas homossexuais estão inseridos dentro de nossas escolas e também nas aulas de Educação Física (OLIVEIRA et al, 2014). Se a escola for capaz de incluir essa discussão sobre sexualidade no seu projeto
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