Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Assuntos da Rodada Dinâmica do curso Do micro para o macro: Escrevendo Frases Fundamentos Ordem direta x ordem inversa Voz ativa x voz passiva Elementos de coesão interna Rodada #1 Redação Professor Ricardo Wermelinger REDAÇÃO 2 Dinâmica do curso Nosso curso é voltado para aqueles alunos que já participaram da Turma Elite, quando ela ainda não incluía o curso de redação, e também para aqueles que não têm como contratar o produto completo atual, mas precisam melhorar sua escrita para essa prova. Irei corrigir pessoalmente duas redações de cada um de vocês. Uma no meio do curso, outra no fim. Vocês receberão instruções detalhadas de quando e como proceder para enviá-las e receber o feedback, fiquem tranquilos. As redações serão manuscritas, como em uma folha de prova. Vocês receberão um arquivo pautado em pdf para imprimir e usar como modelo. Se não tiverem como imprimir, há outras alternativas, não se preocupem. Vocês receberão uma pontuação e um espelho de prova, com nota, para poderem participar do ranking junto com o simulado das objetivas. Legal, né? Além disso, escreverei uma crítica qualitativa ao seu texto, apontando os pontos fortes e fracos, frisando especialmente o que precisa melhorar. Tudo de forma 100% individualizada. E sou eu, prof. Ricardo, pessoalmente, que corrijo todas. Para fechar: costumo trazer nas aulas trechos reais escritos por alunos, para estudarmos como exemplos. Tudo de forma anônima, claro. Depois que vocês fizerem a primeira redação, as aulas passarão a trazer seus próprios exemplos. Então, além de ter sua redação corrigida, você ainda “corre o risco” de ver um trecho dela dissecado em uma aula, reforçando ainda mais seu feedback. O curso é muito dinâmico, vai sendo construído conforme os resultados da turma. Além desses trechos nas aulas, trabalho com redações integrais em algumas rodadas, como em um estudo de caso. O pessoal tem gostado bastante. REDAÇÃO 3 Teoria Do micro para o macro – escrevendo frases 1. Nós estudaremos a organização do texto desde a formação de cada frase até a divisão dos assuntos por parágrafos. A chamada técnica de escrita se revela em cada etapa. É como uma empresa que, ao mesmo tempo, atua para obter resultados no curto e no longo prazo. 2. Acho que a melhor forma de começar o estudo é pelo micro: como transformar ideias em frases. 3. Uma das principais falhas em redação para concursos é a construção de frases longas. Eu poderia dizer para vocês simplesmente: evitem frases longas. Porém, elas muitas vezes são sintoma de algo pior. Costumam indicar falta de planejamento das ideias. 4. Cada frase deve transmitir uma mensagem. Essa mensagem deve ser curta, direta. É uma ideia pontual, parte de uma ideia maior. Antes de redigir uma frase, é importante saber qual mensagem se quer transmitir. 5. Vamos ver um exemplo. Digamos que eu esteja querendo escrever um parágrafo transmitindo justamente essa ideia: as frases muito longas costumam ser fruto da falta de planejamento, pois a pessoa começa a escrever sem saber como fechará o texto. 6. Sem planejamento algum, começo: Muitas vezes o uso de frases imensas 7. Esse foi um típico começo de redação de vestibular, que a gente escreve por impulso. Prosseguindo, resolvo conceituar e exemplificar frases imensas: Muitas vezes o uso de frases imensas, que, contendo digressões, exemplos, ou outras formas de poluição textual REDAÇÃO 4 8. Já ficou um pouco difícil seguir escrevendo. O uso daquele “que” me obriga a inserir mais um período sobre as frases imensas. Elas são frases que..... que o quê? Muitas vezes o uso de frases imensas, que, contendo digressões, exemplos, ou outras formas de poluição textual, tornam-se intermináveis, 9. Hora de retomar o sujeito. Ele é “o uso”. Nossa, ficou longe, não é? Muitas vezes o uso de frases imensas, que, contendo digressões, exemplos, ou outras formas de poluição textual, tornam-se intermináveis, é fruto da falta de planejamento do autor. 10. Nem ficou tão ruim esse exemplo, mas está muito longe de ser um bom texto. O ritmo está muito quebrado. Vamos reescrever essa frase, agora com planejamento. 11. Primeiro, qual mensagem principal quero passar? Que o uso de frases imensas é fruto de falta de planejamento. O que mais preciso transmitir? Exemplificar frases imensas para vocês saberem do que estou falando. 12. Duas mensagens, duas frases. O uso de frases imensas costuma ser fruto da falta de planejamento do autor. Essas frases são pontuadas por digressões, exemplos excessivos ou outras formas de poluição textual, afetando a transmissão da mensagem. 13. Não ficou bem melhor esse segundo trecho? 14. Vimos assim como é importante planejar as frases, pensá-las antes de começar a redigir. 15. Ao colocar uma palavra no papel, você traça os caminhos da sua frase. No exemplo acima, o uso do “que” entre vírgulas depois de “imensas” amarrou o resto da frase. Se a pessoa escreve isso sem saber o que fazer com o “que”, fica sem saída. O texto começa a girar em espiral até conseguir REDAÇÃO 5 achar um fechamento. Sem contar que, nesse tipo de frase, é muito comum que a concordância se perca no meio do caminho. 16. Sabendo da importância de planejar, vamos passar para as ferramentas de planejamento. A primeira delas é: conhecer os tipos de construção textual, para poder escolher o mais adequado para cada caso. Fundamentos 17. Nos esportes, costumamos chamar de fundamentos as habilidades básicas do jogo. No futebol seria o chute, o passe, o drible, a cabeçada. No vôlei teríamos o saque, a manchete, a cortada, o bloqueio, etc. 18. Não irei aqui estudar pontuação, acentuação e uso do hífen com vocês. Porém, alguns fundamentos de gramática são muito úteis para que vocês consigam aproveitar esse curso de redação. São aqueles que dizem respeito à estrutura da frase e à colocação da ideia central em cada período. Coisa simples. Ordem direta x ordem inversa 19. A ordem direta é a tradicional, a frase vai do sujeito para o predicado. Por mais “penduricalhos” que haja na frase, a mensagem é passada nessa sequência. 20. Já a ordem inversa, naturalmente, é o contrário. O predicado vem antes do sujeito. Exemplos: Ordem direta Ordem inversa Nós queremos comer o bolo. Comer o bolo nós queremos. A delegacia estava deserta. Estava deserta a delegacia. Eu vou te amar. Te amar eu vou. Caso anômalo O importante é vencer. Vencer é o importante. REDAÇÃO 6 21. A ordem inversa parece o estilo de falar do Yoda, de Guerra nas Estrelas, para quem conhece. 22. Qualquer frase, praticamente, pode ser construída na ordem direta ou na ordem inversa. A exceção é esse último caso na tabela, em que a inversão de termos mantém a frase na ordem direta, invertendo quem é o sujeito e quem é o predicado (na primeira, o sujeito é “o importante”; na segunda, é “vencer”). 23. A ordem inversa é um recurso que deve ser usado com muita cautela. A grande maioria das frases da sua redação deve estar na ordem direta. Sabendo disso, vejamos algumas aplicações. 24. Ao utilizar a ordem inversa, a ação é trazida para o início, recebendo ênfase. Existem ideias em que o mais importante não é o sujeito, mas o predicado. Nesses casos, usa-se ordem inversa. 25. Digamos que você esteja escrevendo um parágrafo sobre a chegada dogoverno em uma comunidade: A delegacia foi instalada logo na entrada da comunidade. O corpo de bombeiros passou a patrulhar a região, em conjunto com a defesa civil. Água e luz foram instaladas onde antes mal havia coleta de esgoto. 26. Por outro lado, vamos descrever a cena de um terremoto: Correram para onde puderam todos que estavam na rua. Abrigavam-se em locais planos, longe de prédios, aqueles que estavam na área rural. Os bombeiros faziam o caminho oposto. Para o meio da confusão eles rumavam. 27. Reparem que, no primeiro trecho, cada unidade do Estado é a ideia central de cada frase. São os sujeitos. Já no segundo, as atitudes diante da tragédia são o mais importante. Os verbos, os predicados. Fora na citação REDAÇÃO 7 aos bombeiros. Ali, o que importava era o sujeito. Por ser bombeiro, o sujeito agia diferente. Usei, então, ordem direta. 28. Cada frase começa pela sua ideia central, seja sujeito ou predicado. Vejam como isso é verdade: isolando os primeiros termos de cada uma, ainda é possível captar algum sentido: Tema é presença do Estado: Delegacia. Corpo de bombeiros. Água e luz. Tema é terremoto: Correram. Abrigaram-se. Bombeiros para o meio da confusão. 29. Por outro lado, o “resto” de cada frase não faz sentido algum: Foi instalada na entrada. Passou a patrulhar junto com defesa civil. Foram instaladas onde mal havia esgoto. Todas as pessoas. Aqueles na área rural. Faziam o caminho oposto. Eles rumavam. 30. É claro que a frase começar pela ideia central não é uma regra absoluta. Naturalmente, conforme evoluirmos nas questões de estilo, veremos situações em que se deseja colocar a ideia central no fim da frase. Nesses casos, as frases antes e depois indicarão essa mudança de ênfase ao leitor. 31. Mas isso é papo para outra aula. 32. Aplicações práticas para guardar: - Via de regra, a ideia central vem primeiro em uma frase. - Se tal ideia é o sujeito, usa-se ordem direta. REDAÇÃO 8 - Usa-se ordem inversa, se é o predicado. - Ordem inversa é um recuso delicado, importante usar com cautela. Escreva quase sempre na ordem direta. - É possível que a ideia central venha no fim da frase, especialmente no fechamento de um parágrafo. É um recurso de estilo que estudaremos. Voz ativa x voz passiva 33. As vozes ativa e passiva dizem respeito à relação entre o sujeito e a ação. O sujeito faz a ação, ou sofre a ação? Reparem que, na ordem direta ou inversa, vimos a posição entre sujeito e predicado, não importando se o sujeito fazia o predicado ou se sofria o predicado. Aqui é outro questionamento. 34. Na voz ativa, mais comum, o sujeito é autor da ação. Na voz passiva, é o que se chama de paciente. É quem sofre a ação. Vejamos: Voz ativa Voz passiva Eu comi o bolo. O bolo foi comido por mim. A equipe inventariou cada um dos processos. Cada um dos processos foi inventariado pela equipe. Os torcedores invadiram o campo. O campo foi invadido pelos torcedores. 35. Na voz ativa, percebe-se uma atitude de execução, de controle da ação, por parte do sujeito. Na voz passiva, ao contrário, o sujeito é colocado em alguma circunstância. 36. Isso traz a primeira aplicação prática: os sujeitos inanimados são bons para voz passiva. As pessoas são boas para voz ativa, apesar de também REDAÇÃO 9 poderem figurar na voz passiva tranquilamente. Reveja os exemplos do quadro para perceber nossos objetos inanimados pacientes. 37. Além disso, a voz ativa denota controle, iniciativa. A voz passiva indica o oposto. Se o sujeito é uma pessoa, mas está sem controle, ou especialmente, se ele discorda do que está sofrendo, se é uma consequência indesejada: voz passiva. Além desse caso, quando o foco não é o sujeito, a voz passiva pode ser útil. Vamos a alguns exemplos. Dagoberto foi submetido a muitos sofrimentos na prisão. 38. O sujeito está encarcerado, não tem controle do que sofre. Repare que, se trocarmos para voz ativa, teremos uma sutil alteração de sentido. Dagoberto submeteu-se a muitos sofrimentos na prisão. Parece que foi de propósito, por exemplo, para expiar seus pecados, ou talvez conseguir algum favor dos guardas ou de outros detentos. Armando submeteu-se aos piores martírios por amor. 39. Aqui temos um romântico, que se joga de corpo e alma nas relações. Ele faz de tudo pela pessoa amada, mesmo que isso envolva sacrifício. Vamos inverter: Armando foi submetido aos piores martírios por amor. Sentiram a variação? Parece que estamos falando de um “capacho”. Armando amava uma pessoa abusiva, que lhe fazia sofrer. Godofredo assumiu o cargo de diretor. Ele é economista formado na UFRJ. Godofredo foi indicado para o cargo de diretor. Ele é sobrinho do deputado Aristóteles Sobral. 40. Repararam como o uso da voz correta no primeiro trecho ajuda a enfatizar a ideia que se quer transmitir em seguida? No primeiro caso, Godofredo tem méritos, conseguiu o cargo por uma postura ativa. O texto poderia seguir falando de seu currículo ou projetos futuros. No segundo, Godofredo é um apadrinhado político, conseguiu o cargo vítima (paciente) REDAÇÃO 10 das circunstâncias. O texto pode seguir questionando o fisiologismo ou o nepotismo na política. 41. A frase padrão, aquela que deve dominar sua redação, é escrita na ordem direta e na voz ativa. Quando usar alguma coisa diferente, use com consciência. 42. Ao tirar uma frase da ordem direta ou da voz ativa, você deve ter uma intenção clara para fazê-lo. Quer mesmo enfatizar o predicado? Quer mesmo enfatizar a passividade do sujeito? Caso não queira, não faça. 43. A voz passiva, além de ser boa para uso com sujeitos inanimados, e com ações indesejadas, também é um recurso útil para tratar de consequências. Algumas construções são clássicas: Se o aquecimento global não for reduzido, várias cidades poderão ser alagadas por causa da elevação do nível nos oceanos. Sem um planejamento bem feito, o projeto será mal executado. Apesar de fazer muita força, o vovô foi passado pra trás (aqui, um trecho de música, nem é exatamente consequência, mas algo próximo). 44. Importante não confundir voz passiva com ordem inversa ok? Cada fenômeno é próprio, sendo possível juntar os dois na mesma frase. 45. Apesar de ser possível, entretanto, voz passiva não combina com ordem inversa de jeito nenhum. Fica uma coisa MUITO Yoda. Vejam: Por mim o bolo foi comido. Inventariado pela equipe cada um dos processo foi. Pelos torcedores o campo foi invadido. REDAÇÃO 11 46. Para fechar: pense antes de escrever. Pense na mensagem, na ideia. Ela é focada em sujeito ou verbo? É uma ação, ou uma sofrência (ação sofrida)? Rsrs. Aplicações práticas para guardar: - A voz ativa indica uma execução, combina com pessoas. A voz passiva indica alguém que sofre uma ação, útil para objetos inanimados. - Voz ativa dá ideia de controle. Se na sua ideia a pessoa não tem controle do que está acontecendo, especialmente se não concorda com o que sofre, a voz passiva vai bem. - Voz passiva também é útil para consequências. - Voz passiva não vai bem na ordem inversa, use ordem direta. Elementos de coesão interna. 47. Até agora estamos estudando os períodos simples, formados por apenas uma oração. Um sujeito, um verbo, podendo ter ou não complementos. Essas frases são ótimas, dificilmente ficam longas, a concordância é mantida, a leitura é simples. Porém, um texto composto inteiramente por elas pode ter um aspecto “Tarzan”. MimTarzan. Você Jane. Sabem? Como as dublagens estereotipadas dos índios americanos também. Esses períodos simples seguidos prejudicam a coesão textual. O texto deve ser fluido, cada ideia deve impulsionar a seguinte, conectando-se sucessivamente, rumo à conclusão. 48. Como o Tarzan, saltando de cipó em cipó. REDAÇÃO 12 49. O fundamento a estudar aqui fará todos vocês torcerem o nariz: orações coordenadas e orações subordinadas. Lembram-se disso? 50. Fiquemos apenas com o que é prático, por favor. Orações coordenadas são aquelas que possuem sentido de maneira independente, mas também possuem uma conexão. Alguns exemplos: Relação Exemplo de construção Conjunções mais comuns Ideia de adição Eles se cumprimentaram e trocaram telefones. E, nem, mas também. Ideia de adversidade Ele estudou muito, mas não foi aprovado. Mas, contudo, todavia, no entanto, entretanto. Ideia de alternância Ou arrume um emprego, ou passe no vestibular. Ou...ou, quer...quer, ora...ora. Ideia de explicação Ele foi aprovado, pois estudou muito. Pois, porque, que. Ideia de conclusão Ele estudou muito, logo foi aprovado. Logo, então, portanto, por isso. 51. Nas orações subordinadas, uma depende da outra, não tendo sentido sozinha. Exemplo: “ela gosta que lhe façam cafuné”. Isoladamente “ela gosta que” não diz nada, e muito menos “lhe façam cafuné”. Não trabalharemos com orações subordinadas hoje. 52. As orações coordenadas devem ser as favoritas por vocês ao usar períodos compostos. Essas ideias são ferramentas de convencimento, de retórica, de argumentação. É preciso ter isso em mente, pois as provas de concurso são dissertações argumentativas. 53. Em uma dissertação desse tipo, os argumentos devem ser expostos claramente, concluindo-se de maneira propositiva. O candidato precisa dar opinião, dar solução para um problema. Isso pode ser feito de algumas REDAÇÃO 13 formas. Uma delas é usando argumentos vencedores e perdedores. A famosa tese, antítese, síntese, mas com um viés de que não pode haver empate. Começamos por um argumento, trabalhamos um contraponto, e concluímos dando preferência a um deles. Às vezes são três argumentos, dois em um mesmo sentido e outro no sentido contrário. 54. Para isso, usamos as ferramentas de retórica. Ao escrever um parágrafo com um argumento que, na conclusão, será retomado como “vencedor”, é natural usar orações coordenadas aditivas. Os motivos vão se somando, convencendo o leitor. Na última frase, pode-se dar uma ideia alternância, algo como “ou esse argumento é posto em prática, ou as consequências serão ruins”. E no parágrafo seguinte, trata-se dessas consequências ruins como um argumento “perdedor”. 55. Ao escrever um argumento perdedor, por outro lado, o uso da ideia de adversidade já deixa contradições plantadas, fragilizando propositalmente a argumentação. Um parágrafo perdedor com idas e vindas, certa indecisão (bem medida), expõe sua própria fragilidade, fazendo que com a conclusão surja mais naturalmente em favor do argumento oposto. Não fica parecendo que o autor sorteou um argumento pra ganhar, ele demonstra que esse argumento era mais fraco que o outro mesmo. 56. Veremos detalhadamente cada uma dessas estruturas mais à frente. Eu não podia deixar de adiantar esse conteúdo, entretanto, porque vocês precisam saber qual a aplicação prática de cada coisa que estudam, para estudar de maneira objetiva, focada no resultado. 57. Vamos voltar o foco, então, para o agora. Construção de orações coordenadas. 58. Uma coisa que não pode acontecer na sua prova é a tentativa de conectar duas ideias opostas por uma conjunção aditiva, Ou então ligar causa e consequência por conjunção alternativa. A relação lógica entre as ideias deve ser respeitada. É um importante critério de coesão textual, ao trabalhar com REDAÇÃO 14 recursos vejo aos montes perda de pontos por falhas nítidas nessas relações. Vamos ver alguns exemplos de usos corretos, errados, e outros delicados. Frase inadequada Motivo Versão correta Estudou muito e não passou. A consequência não era a esperada, mas o oposto. Estudou muito, mas não passou. Fez a prova correndo, porque estava muito inseguro. O contexto pode justificar, mas a conclusão também não é natural. Fez a prova correndo, apesar de estar muito inseguro. Não sabia o que queria, mas pediu orientação. Essa, na literatura, é um bom recurso. Em provas, porém, também não é uma combinação esperada. Não sabia o que queria, então, pediu orientação. Ou ele trabalhará mais, ou ganhará mais dinheiro. Pode ser um recurso de estilo, dependendo do contexto, para demonstrar o absurdo da situação. Porém, se isso não for bem indicado, a frase soará mal. Ele trabalhará mais, mas perderá dinheiro. (essa é a versão que parece mais próxima da ideia ambígua que se quer passar. Abaixo outras opções mais claras) Apesar de trabalhar mais, ele não ganhará mais dinheiro. Ele trabalhará mais, contudo, não ganhará mais dinheiro. REDAÇÃO 15 59. Deu pra pegar a ideia geral do uso das ideias coordenadas, correto? Vamos, porém, dar uma esmiuçada e exemplificada em cada uma, apesar de os nomes serem autoexplicativos. Ideia de adição 60. Super útil em construções de paralelismo, ações semelhantes, feitas em sequência ou simultaneamente. Ele fez a barba e cortou o cabelo. Correu na praia e fez abdominais. O desafio é reduzir a pobreza e combater a desigualdade. 61. Por ser a ideia mais pobre, deve ser usada residualmente. Caso não caiba nenhuma das outras, usa-se essa. Deixo essa dica porque o erro mais comum dos candidatos é o oposto, usar “e” toda hora, no lugar das outras ideias, como o exemplo da primeira linha do quadro anterior. Ideia de adversidade 62. Aqui o óbvio é: a segunda oração é o oposto da primeira. Também pode ser o oposto do que se esperava que ela mesma fosse, como numa consequência inesperada. Existe uma inversão de sentido, uma surpresa. No mínimo, se mostra um efeito colateral. Também pode ser uma exceção da primeira oração. O país trabalhou para universalizar o acesso à educação, mas os resultados quantitativos não foram acompanhados pelo incremento da qualidade. Ele trabalhou corretamente, entretanto, o pagamento não foi o combinado. REDAÇÃO 16 A obesidade é fruto de um estilo de vida descuidado, contudo, também decorre da predisposição genética de alguns indivíduos. 63. Deve-se usar com cautela, pois tem potencial para enfraquecer o argumento, ou indicar uma contradição. 64. Por outro lado, é uma construção interessante para fechar certos parágrafos já fazendo a ponte para o seguinte: [....] o Brasil precisa crescer para reduzir a pobreza de sua população, porém, não pode descuidar do meio ambiente. Com efeito, os recursos naturais não renováveis são finitos, e sua exploração desordenada traz sérias consequências presentes e para as futuras gerações. Ideia de alternância 65. A ideia de alternância se decompõe em algumas possibilidades. As alternativas podem ser excludentes, em que se escolhe necessariamente uma delas (conjunção ou). Podem ser irrelevantes, digamos assim, quando se demonstra que não há escolha (conjunção quer). Podem ser aditivas negativas, em que nenhuma opção é válida (nem). Nãosei se caso, ou se compro uma bicicleta. O Brasil precisa crescer, ou então não conseguirá reduzir a pobreza da população. (dois caminhos, ou crescer, ou não reduzir a pobreza) Quer beba vinho, quer beba cerveja, ele sempre termina a noite passando mal. O aquecimento global nem é uma catástrofe apocalíptica, nem uma mera ilusão criada por cientistas alarmistas. 66. Essa ideia possui uso especial em parágrafos de introdução e conclusão. Na introdução, demonstra a alternância de argumentos num e noutro REDAÇÃO 17 sentido. Na conclusão, serve para a clássica conclusão condicional, que exemplifiquei na frase: o Brasil precisa crescer, ou... Ou faz isso, ou terá consequências ruins. É um dos estilos possíveis. Em linhas gerais: o autor, em vez de dizer apenas que “o caminho é x”, tem uma postura mais “ranzinza”, falando “ou segue o caminho x, ou vai ser ruim”. Quase que deixando plantada a sementinha pra, no futuro, poder dizer “eu não falei?”. Rsrs. 67. Tal como a ideia de adversidade, também é útil em frases finais de parágrafos, quando uma das alternativas expostas será o tema do seguinte. Ideias de explicação e de conclusão 68. Ao trabalhar a ideia de explicação, a primeira oração é consequência, e a segunda é causa. Foi aprovado, pois estudou. 69. Ao trabalhar a conclusão, temos o oposto. Primeiro a causa, depois a consequência. Estudou, logo, foi aprovado. 70. A primeira coisa a dizer é que essas relações precisam ser verdadeiras, lógicas e necessárias. Um fato realmente tem que ser diretamente motivo do outro. Um erro comum nas provas é suprimir etapas. Exemplo: A corrupção precisa de rígido combate, pois a população sofre com a carência de serviços públicos. 71. Beleza, as duas orações são verdadeiras, e uma decorre da outra, mas não diretamente. Faltou uma ideia de ligação. A corrupção precisa de rígido combate, pois os recursos desviados seriam usados na prestação de serviços públicos. A carência de tais serviços leva sofrimento à população. REDAÇÃO 18 72. O segundo ponto é: o que tem mais importância, a causa ou a consequência? Para o texto, qual merece ênfase? 73. A opção natural é começar pelo mais importante, assim não tem erro. Estudo porque foi aprovado ou foi aprovado porque estudou? Seu texto foca na preparação para o concurso, ou no momento da aprovação? É um texto sobre luta, ou glória? Desculpem-me, muito drama, mas quando se fala em concurso, mexe comigo. 74. Escrever bem exige pensar bem. Expor suas ideias, não sair “falando qualquer coisa”. Reparem que, nesse tópico, o uso da língua está diretamente relacionado ao conteúdo. 75. No exemplo da frase sobre corrupção e serviços públicos, o problema estava na ideia, na mensagem, mas causava danos diretamente à estrutura do texto. 76. E aí vem o pulo do gato. 77. Ao analisar com cuidado a formação do texto, o candidato consegue identificar esses danos, e diagnosticar suas falhas de ideias. Por exemplo: ao escrever duas orações ligadas por “pois”, o candidato esperto vai se perguntar: “opa, haverá realmente uma relação de causa e consequência aqui, ou escrevi bobagem?”. Caso tenha escrito bobagem, corrigirá seu texto, recuperando pontos preciosos. 78. Não pare agora! Vá direto para os exercícios. O curso é de RE–DA–ÇÃO, não de leitura. Rsrs. REDAÇÃO 19 Exercícios O objetivo desse exercício é praticar o relacionamento entre ideias. Pegar duas ideias e ver se elas são aditivas, adversativas, alternativas, etc. Claro que não existe uma única resposta; dentro de um contexto, relações que naturalmente não caberiam tornam-se possíveis. Nós queremos, porém, relações expressas somente pela própria frase, sem depender de contexto. Vocês não podem, portanto, deduzir que o examinador conhece algo que não é senso comum. Vale pegar duas ideias e tentar relacionar de mais de uma maneira, para ver qual encaixa melhor. Algumas delas possuem mais de uma opção válida. A habilidade que quero que vocês desenvolvam é a de avaliar as relações lógicas entre orações coordenadas, ver quais são adequadas e quais “soam mal”. Isso se ganha com a prática. Talvez algumas conexões que soaram naturais no início pareçam estranhas ao final do exercício, quando você estiver com a perícia mais apurada. A frase “estudou muito e não passou” soa natural para muitas pessoas. Para quem está mais acostumado com a escrita, é estranha. Para professores de português, é um absurdo. A missão é, na prova, avaliar com sucesso suas próprias frases, corrigindo aquelas cujas relações podem ser questionadas pelo examinador. REDAÇÃO 20 Associe as orações com a conjunção adequada, expressando as relações possíveis: 1. Não duvide de nada. Neste mundo tudo é possível. Não duvide de nada, pois nesse mundo tudo é possível. Conjunção explicativa. 2. Vocês estudam. Deverão passar. 3. Carlota não vai à praia. Carlota não vai ao cinema. 4. Plante. O governo garante. 5. O lavrador semeia. A lavradeira, tempos depois, colhe. 6. O espetáculo foi bom. Não agradou ao público. 7. Todos falam em eleições. Ninguém faz eleições. 8. Nadando, ele é grande atleta. Jogando futebol, ele é grande atleta. 9. Está fazendo frio. Levarei uma blusa. 10.As crianças brincam. As crianças brigam. 11.Ela ia viajar. Desistiu. 12.Pague-me hoje. Irei cobrá-lo amanhã. 13.O rapaz bebia. O rapaz comia. 14.Ninguém queria falar. Poderia vir castigo. 15.Não o queremos mais aqui. Dê o fora! 16.Alguns inventam a moda. O povo os segue 17.Trovejou. Não choveu. REDAÇÃO 21 18.A luz aparecia. A luz desaparecia. 19.O lago está na minha fazenda. O lago me pertence. 20.A máquina lava. A máquina enxuga as roupas. Dê a ideia que a conjunção coordenativa estabelece ao associar as orações: 1. Você está preparado para o vestibular, por isso não se preocupe! Por isso = relação de conclusão 2. A garotinha não chorava nem reclamava. 3. “Em briga de marido e mulher não se mete a colher, pois o demônio já lá andou metendo o garfo.” 5. Não recebi nenhum presente dela, mas ganhei dois beijos. 7. Não corra, que é pior! 9. Quer queira, quer não queira, viajarei amanhã. 10.“Penso, logo, existo.” 12.“Não case com mulher rica, porque seus filhos seriam inimigos natos do trabalho.” 13.“O homem veio do barro; por isso é que alguns deles se sentem muito bem na lama.” 15.Consulte o mapa ou peça informações aos patrulheiros. 16.O bom aluno não só aprende, mas também ensina. 17.Tínhamos juventude, no entanto não tínhamos dinheiro. Gabaritos na próxima aula.
Compartilhar