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Resumo de Interpretação de Texto

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Interpretar Texto 
 
―O senhor... Mire veja: o mais 
importante e bonito, do mundo, é isto: que 
as pessoas não estão sempre iguais, 
ainda não foram terminadas, mas que 
elas vão sempre mudando. Afinam e 
desafinam. Verdade maior. É o que a vida 
me ensinou. Isso que me alegra, montão.‖ 
 
(em Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa) 
 
Escrever para matar o tempo. Escrever por obrigação. Escrever por profissão. Escrever 
para tornar presente a ausência. Escrever para manter próximos os elos distantes. Escrever 
para vencer o espaço e o tempo. Escrever para se encontrar ou se perder de vez. Escrever 
para dar vida eterna ao instante efêmero. Escrever para se sentir solitário, mas escrever 
para ter companhia na solidão. Escrever para se conhecer nas entranhas, mas escrever 
para romper a espessa crosta da individualidade. Escrever para criar pontes em busca do 
outro. Escrever para ter a marca registrada do ser pensante. Escrever para explodir ou 
domar a paixão. Escrever como treino de inteligência ou para admirar a loucura da lucidez. 
Escrever para criar um ritual em que o homem é a própria magia. Escrever para se firmar 
como uma voz distinta no mundo. Escrever para aceitar, negar e transformar o mesmo 
mundo. Escrever para se sentir vivo e renovar o grande estoque de palavras-mundo que há 
em nós. Daqui surgem os textos. 
 
A maioria das pessoas fala enquanto faz alguma coisa. Numa partida de futebol, os 
jogadores não só correm e chutam, mas gritam, advertem, perguntam. Difícil é ler e ao 
mesmo tempo fazer outra coisa. Ao lermos, a realidade em torno de nós tende a sumir de 
nossa atenção, porque ficamos concentrados naquilo que o texto nos diz. 
 
―Na leitura, é importante descobrir o que é relevante em cada texto e conseguir situar-
se convenientemente no ponto de observação escolhido pelo autor, compreendendo suas 
intenções e propósitos‖. 
 
A importância dada às questões de interpretação de textos deve-se ao caráter 
interdisciplinar, o que equivale dizer que a competência de ler texto interfere decididamente 
no aprendizado em geral, já que boa parte do conhecimento mais importante nos chega por 
meio da linguagem escrita. A maior herança que a escola pode legar aos seus alunos é a 
competência de ler com autonomia, isto é, de extrair de um texto os seus significados. 
Num texto, cada uma das partes está combinada com as outras, criando um todo que 
não é mero resultado da soma das partes, mas da sua articulação. Assim, a apreensão do 
significado global resulta de várias leituras acompanhadas de várias hipóteses 
interpretativas, levantadas a partir da compreensão de dados e informações inscritos no 
texto lido e do nosso conhecimento do mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Linguagem 
 
Como instrução geral, podemos dizer que uma hipótese interpretativa é aceitável 
sempre que o texto apresenta pista ou pistas que a confirmam e sustentam. O texto abaixo é 
bastante apropriado. 
 
―Aquela senhora tem um piano. 
Que é agradável, mas não é o correr dos rios. 
Nem o murmúrio que as árvores fazem... 
Por que é preciso ter um piano? 
O melhor é ter ouvidos 
E amar a Natureza.‖ 
 
Que simboliza o piano no poema? 
Dentro do contexto que se insere o piano, representa um bem cultural, o que se 
percebe pela oposição que o texto estabelece entre o som do piano (bem cultural) e o correr 
dos rios e o murmúrio das árvores (bens naturais). O poema descarta a necessidade do 
piano, dando preferência à fruição dos sons da Natureza. 
 
O que é a linguagem? 
 
É qualquer e todo sistema de signos que serve de meio de comunicação de ideias ou 
sentimentos através de signos convencionados, sonoros, gráficos, gestuais etc., podendo 
ser percebida pelos diversos órgãos dos sentidos, o que leva a distinguirem-se várias 
espécies ou tipos: visual, auditiva, tátil, etc., ou, ainda, outras mais complexas, constituídas, 
ao mesmo tempo, de elementos diversos. Os elementos constitutivos da linguagem são, 
pois, gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras, usados para representar conceitos de 
comunicação, ideias, significados e pensamentos. Embora os animais também se 
comuniquem, a linguagem verbal pertence apenas ao Homem. 
Não se devem confundir os conceitos de linguagem e de língua. Enquanto aquela 
(linguagem) diz respeito à capacidade ou faculdade de exercitar a comunicação, latente ou 
em ação ou exercício, esta última (língua ou idioma) refere-se a um conjunto de palavras e 
expressões usadas por um povo, por uma nação, munido de regras próprias (sua 
gramática). 
Noutra acepção (anátomo-fisiológica), linguagem é função cerebral que permite a 
qualquer ser humano adquirir e utilizar uma língua. 
Por extensão, chama-se linguagem de programação ao conjunto de códigos usados 
em computação. 
O estudo da linguagem, que envolve os signos, de uma forma geral, é chamado 
semiótica. A linguística é subordinada à semiótica porque seu objeto de estudo é a língua, 
que é apenas um dos sinais estudados na semiótica. 
A respeito das origens da linguagem humana, alguns estudiosos defendem a tese de 
que a linguagem desenvolveu-se a partir da comunicação gestual com as mãos. Posteriores 
alterações no aparelho fonador, os seres humanos passaram a poder produzir uma 
variedade de sons muito maior do que a dos demais primatas. 
De acordo com Kandel apesar das dificuldades de se apontar com precisão quando ou 
como a linguagem evoluiu há certo consenso quanto a algumas estruturas cerebrais 
constituírem-se como pré-requisitos para a linguagem e que estas parecem ter surgido 
precocemente na evolução humana. Segundo esse autor essa conclusão foi atingida após 
exame dos moldes intracranianos de fósseis humanos. Na maioria dos indivíduos o 
hemisfério esquerdo é dominante para a linguagem; a área cortical da fala do lobo temporal 
(o plano temporal) é maior no hemisfério esquerdo que no direito. Visto que os giros e sulcos 
importantes deixam com frequência impressões no crânio, o registro fóssil foi estudado 
buscando-se as assimetrias morfológicas associadas à fala nos humanos modernos. Essas 
assimetrias foram encontradas no homem de Neanderthal (datando de cerca de 30.000 a 
50.000 anos) e no Homo erectus (datado de 300.000 a 500.000 anos), o predecessor de 
nossa própria espécie. 
 
Para que serve a linguagem? 
 
(...) 
Ai, palavras, ai, palavras, 
que estranha potência, a vossa! 
Todo o sentido da vida 
principia à vossa porta; 
o mel do amor cristaliza 
seu perfume em vossa rosa; 
sois o sonho e sois a audácia, 
calúnia, fúria, derrota... 
 
A liberdade das almas, 
ai! Com letras se elabora... 
E dos venenos humanos 
sois a mais fina retorta: 
frágil, frágil como o vidro 
e mais que o aço poderosa! 
Reis, impérios, povos, tempos, 
pelo vosso impulso rodam... 
(...) 
 
Cecília Meireles. 
Romanceiro da Inconfidência. In: Obra poética. 
Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1985, p. 442. 
 
Esses versos foram extraídos do poema ―Romance LIII ou das palavras aéreas‖, em 
que Cecília Meireles fala sobre o poder da palavra. Mostram que a palavra, apesar de frágil, 
por ser constituída de sons, é ao mesmo tempo extremamente forte, porque, com seu 
significado, derruba reis e impérios; serve para construir a liberdade do ser humano e 
também para envenenar a sua vida; serve para sussurrar declarações de amor, para 
exprimir os sonhos, para impulsionar os desejos mais grandiosos, mas também para 
caluniar, para expor a raiva, para impor a derrota. 
 
- A linguagem é o traço definidor do ser humano, é a aptidão que o distingue dos 
animais. 
 
O provérbio popular ―Palavra não quebra osso‖, contrapondo a palavra à ação, insinua 
que a linguagem não tem nenhum poder: um golpe, mas não uma palavra, é capaz de 
quebrar osso. Ora podemos desfazer facilmente essa visão simplista das coisas, analisando 
para que serve a linguagem.- A linguagem é uma maneira de perceber o mundo. 
 
―Este deve ser o bosque‖, murmurou pensativamente (Alice), ―onde as coisas não têm 
nomes‖. (...) 
Ia devaneando dessa maneira quando chegou à entrada do bosque, que parecia muito 
úmido e sombrio. ―Bom, de qualquer modo é um alívio‖, disse enquanto avançava em meio 
às árvores, ―depois de tanto calor, entrar dentro do... dentro do... dentro do quê?‖ Estava 
assombrada de não poder se lembrar do nome. ―Bom, isto é, estar debaixo das... debaixo 
das... debaixo disso aqui, ora!‖, disse, colocando a mão no tronco da árvore. ―Como é que 
essa coisa se chama? É bem capaz de não ter nome nenhum... ora, com certeza não tem 
mesmo!‖ 
Ficou calada durante um minuto, pensando. Então, de repente, exclamou: - Ah, então 
isso terminou acontecendo! E agora quem sou eu? Eu quero me lembrar, se puder. 
 
Lewis Carroll. Aventuras de Alice. 
Trad. Sebastião Uchôa Leite. 
3ª ed. São Paulo, Summus, p 165-166 
 
Esse texto, reproduzido do livro ―Através do espelho e o que Alice encontrou lá‖, mostra 
que a protagonista, ao entrar no bosque em que as coisas não têm nome, é incapaz de 
apreender a realidade em torno dela, de saber o que as coisas são. Isso significa que as 
coisas do mundo exterior só têm existência para os homens quando são nomeadas. A 
linguagem é uma forma de apreender a realidade: só percebemos aquilo a que a língua dá 
nome. 
Roberto Pompeu de Toledo, articulista da Veja, comenta essa questão na edição de 26 
de junho de 2002 (p. 130), ao falar da expressão ―risco país‖, usada para traduzir o grau de 
confiabilidade de um país entre credores ou investidores internacionais: 
 
(...) As coisas não são coisas enquanto não são nomeadas. O que não se expressa 
não se conhece. Vive na inocência do limbo, no sono profundo da inexistência. Uma vez 
identificado, batizado e devidamente etiquetado, o ―risco país‖ passou a existir. E lá é 
possível viver num país em risco? Lá é possível dormir em paz num país submetido à 
medição do perigo que oferece com a mesma assiduidade com que a um paciente se tira a 
pressão? É como viajar num navio onde se apregoasse, num escandaloso placar luminoso, 
sujeito a tantas oscilações como as das ondas do mar, o ―risco naufrágio‖. 
 
- A linguagem é uma forma de interpretar a realidade. 
 
O segundo projeto era representado por um plano de abolir completamente todas as 
palavras, fossem elas quais fossem (...). Em vista disso, propôs-se que, sendo as palavras 
apenas nomes para as coisas, seria mais conveniente que todos os homens trouxessem 
consigo as coisas de que precisassem falar ao discorrer sobre determinado assunto (...). 
...muitos eruditos e sábios aderiram ao novo plano de se expressarem por meio de coisas, 
cujo único inconveniente residia em que, se um homem tivesse que falar sobre longos 
assuntos e de vária espécie, ver-se-ia obrigado, em proporção, a carregar nas costas um 
grande fardo de coisas, a menos de poder pagar um ou dois criados robustos para 
acompanhá-lo (...). 
Outra grande vantagem oferecida pela invenção consiste em que ela serviria de língua 
universal, compreendida em todas as nações civilizadas, cujos utensílios e objetos são 
geralmente da mesma espécie, ou tão parecidos que o seu emprego pode ser facilmente 
percebido. 
Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. 
Rio de Janeiro/São Paulo, Ediouro/Publifolha, p. 194-195. 
 
Esse trecho do livro ―Viagens de Gulliver‖ narra um projeto dos sábios de Balnibarbi: 
substituir as palavras – que, no seu entender, têm o inconveniente de variar de língua para 
língua – pelas coisas. Quando alguém quisesse falar de uma cadeira, mostraria uma 
cadeira, quem desejasse discorrer sobre uma bolsa, mostraria uma bolsa, etc. Trata-se de 
uma ironia de Swift às concepções vulgares de que a compreensão da realidade independe 
da língua que a nomeia, como se as palavras fossem etiquetas aplicadas a coisas 
classificadas independentemente da linguagem, quando, na verdade, a língua é uma forma 
de categorizar o mundo, de interpretá-lo. 
O que inviabiliza o sistema imaginado pelos sábios de Balnibarbi não é apenas o 
excesso de peso das coisas que cada falante precisaria carregar: é o fato de que as coisas 
não podem substituir as palavras, porque a língua é bem mais que um sistema de 
demonstração de objetos ou mera cópia do mundo natural. As coisas não designam tudo 
que uma língua pode expressar. 
Mostrar um objeto, por exemplo, não indica sua inclusão numa dada classe. No léxico 
de uma língua, agrupamos os nomes em classes. Maçã, pera, banana e laranja pertencem à 
classe das frutas. Ao mostrar uma fruta qualquer, não consigo exprimir a ideia da classe 
fruta; não posso, então, expressar ideias mais gerais. Não produzimos palavras somente 
para designar as coisas, mas para estabelecer relações entre elas e para comentá-las. 
Mostrar um objeto não exprime as categorias de quantidade, de gênero (masculino e 
feminino), de número (singular e plural); não permite indicar sua localização no espaço 
(aqui/aí/lá), etc. A língua não é um sistema de demonstração de objetos, pois permite falar 
do que está presente e do que está ausente, do que existe e do que não existe; permite até 
criar novas realidades, mundos não existentes. 
A linguagem é uma atividade simbólica, o que significa que as palavras criam 
conceitos, e eles ordenam a realidade, categorizam o mundo. Por exemplo, criamos o 
conceito de pôr-do-sol. Sabemos que, do ponto de vista científico, o Sol não ―se põe‖, uma 
vez que é a Terra que gira em torno dele. Contudo esse conceito, criado pela linguagem, 
determina uma realidade que nos encanta a todos. Outro exemplo: apagar uma coisa escrita 
no computador é uma atividade diferente de apagar o que foi escrito a lápis, a caneta ou 
mesmo a máquina. Por isso, surgiu uma nova palavra para denominar essa nova realidade, 
deletar. No entanto, se essa palavra não existisse, não perceberíamos a atividade de apagar 
no computador como uma ação diferente de apagar o que foi escrito a lápis. Uma nova 
realidade, uma nova invenção, uma nova ideia exigem novas palavras, e estas é que lhes 
conferem existência para toda a comunidade de falantes. 
As palavras formam um sistema independente das coisas nomeadas por elas, tanto é 
que cada língua pode ordenar o mundo de maneira diversa, exprimir diferentes modos de 
ver a realidade. O inglês, por exemplo, para expressar o que denominamos carneiro, tem 
duas palavras: sheep, que designa o animal, e mutton, que significa a carne do carneiro 
preparada e servida à mesa. Em português, dizemos as duas coisas numa palavra só: Este 
carneiro tem muita lã e Este carneiro está apimentado, ou seja, não aplicamos a distinção 
que os falantes da língua inglesa têm incorporada à sua visão de mundo. Isso mostra que a 
linguagem é uma maneira de interpretar o universo natural e segmentá-lo em categorias, 
segundo as particularidades de cada cultura. Por essa razão, a linguagem modela nossa 
maneira de perceber e de ordenar a realidade. 
A linguagem expressa também as diferentes maneiras de interpretar uma ocorrência. 
Querendo desculpar-se, o filho diz para a mãe: O jarro de porcelana caiu e quebrou. A mãe 
replica: Você derrubou o jarro e, por isso, ele quebrou. Observe-se que, na primeira 
formulação, não existe um responsável pela queda e pela quebra do objeto. É como se isso 
se devesse ao acaso. Na segunda formulação, atribui-se a responsabilidade pelo 
acontecimento a um agente. 
 
- A linguagem é uma forma de ação. 
 
Existem certas fórmulas linguísticas que servem para agir no mundo. Quando um padre 
diz aos noivos ―Eu vos declaro marido e mulher‖, quando alguém diz ―Prometo estar aqui 
amanhã‖, quando um leiloeiro proclama ―Arrematado por mil reais‖, quando o presidente de 
alguma câmara municipal afirma ―Declaro aberta a sessão‖, eles não estão constatandoalguma coisa do mundo, mas realizando uma ação. O ato de abrir uma sessão realiza-se 
quando seu presidente a declara aberta; o ato da promessa realiza-se quando se diz 
―Prometo‖. Em casos como esses, o dizer se confunde com a própria ação e serve para 
demonstrar que a linguagem não é algo sem consequência, porque ela também é ação. 
 
Funções da Linguagem 
 
Quando se pergunta a alguém para que serve a linguagem, a resposta mais comum é 
que ela serve para comunicar. Isso está correto. No entanto, comunicar não é apenas 
transmitir informações. É também exprimir emoções, dar ordens, falar apenas para não 
haver silêncio. Para que serve a linguagem? 
 
- A linguagem serve para informar: Função Referencial. 
 
―Estados Unidos invadem o Iraque‖ 
 
Essa frase, numa manchete de jornal, informa-nos sobre um acontecimento do mundo. 
Com a linguagem, armazenamos conhecimentos na memória, transmitimos esses 
conhecimentos a outras pessoas, ficamos sabendo de experiências bem-sucedidas, somos 
prevenidos contra as tentativas mal sucedidas de fazer alguma coisa. Graças à linguagem, 
um ser humano recebe de outro conhecimentos, aperfeiçoa-os e transmite-os. 
Condillac, um pensador francês, diz: ―Quereis aprender ciências com facilidade? 
Começai a aprender vossa própria língua!‖ Com efeito, a linguagem é a maneira como 
aprendemos desde as mais banais informações do dia a dia até as teorias científicas, as 
expressões artísticas e os sistemas filosóficos mais avançados. 
A função informativa da linguagem tem importância central na vida das pessoas, 
consideradas individualmente ou como grupo social. Para cada indivíduo, ela permite 
conhecer o mundo; para o grupo social, possibilita o acúmulo de conhecimentos e a 
transferência de experiências. Por meio dessa função, a linguagem modela o intelecto. 
É a função informativa que permite a realização do trabalho coletivo. Operar bem essa 
função da linguagem possibilita que cada indivíduo continue sempre a aprender. 
A função informativa costuma ser chamada também de função referencial, pois seu 
principal propósito é fazer com que as palavras revelem da maneira mais clara possível as 
coisas ou os eventos a que fazem referência. 
 
- A linguagem serve para influenciar e ser influenciado: Função Conativa. 
 
―Vem pra Caixa você também.‖ 
 
Essa frase fazia parte de uma campanha destinada a aumentar o número de 
correntistas da Caixa Econômica Federal. Para persuadir o público alvo da propaganda a 
adotar esse comportamento, formulou-se um convite com uma linguagem bastante coloquial, 
usando, por exemplo, a forma vem, de segunda pessoa do imperativo, em lugar de venha, 
forma de terceira pessoa prescrita pela norma culta quando se usa você. 
Pela linguagem, as pessoas são induzidas a fazer determinadas coisas, a crer em 
determinadas ideias, a sentir determinadas emoções, a ter determinados estados de alma 
(amor, desprezo, desdém, raiva, etc.). Por isso, pode-se dizer que ela modela atitudes, 
convicções, sentimentos, emoções, paixões. Quem ouve desavisada e reiteradamente a 
palavra negro pronunciada em tom desdenhoso aprende a ter sentimentos racistas; se a 
todo momento nos dizem, num tom pejorativo, ―Isso é coisa de mulher‖, aprendemos os 
preconceitos contra a mulher. 
Não se interfere no comportamento das pessoas apenas com a ordem, o pedido, a 
súplica. Há textos que nos influenciam de maneira bastante sutil, com tentações e seduções, 
como os anúncios publicitários que nos dizem como seremos bem sucedidos, atraentes e 
charmosos se usarmos determinadas marcas, se consumirmos certos produtos. Por outro 
lado, a provocação e a ameaça expressas pela linguagem também servem para fazer fazer. 
Com essa função, a linguagem modela tanto bons cidadãos, que colocam o respeito ao 
outro acima de tudo, quanto espertalhões, que só pensam em levar vantagem, e indivíduos 
atemorizados, que se deixam conduzir sem questionar. 
Emprega-se a expressão função conativa da linguagem quando esta é usada para 
interferir no comportamento das pessoas por meio de uma ordem, um pedido ou uma 
sugestão. A palavra conativo é proveniente de um verbo latino (conari) que significa 
―esforçar-se‖ (para obter algo). 
 
- A linguagem serve para expressar a subjetividade: Função Emotiva. 
 
―Eu fico possesso com isso!‖ 
 
Nessa frase, quem fala está exprimindo sua indignação com alguma coisa que 
aconteceu. Com palavras, objetivamos e expressamos nossos sentimentos e nossas 
emoções. Exprimimos a revolta e a alegria, sussurramos palavras de amor e explodimos de 
raiva, manifestamos desespero, desdém, desprezo, admiração, dor, tristeza. Muitas vezes, 
falamos para exprimir poder ou para afirmarmo-nos socialmente. Durante o governo do 
presidente Fernando Henrique Cardoso, ouvíamos certos políticos dizerem ―A intenção do 
Fernando é levar o país à prosperidade‖ ou ―O Fernando tem mudado o país‖. Essa maneira 
informal de se referirem ao presidente era, na verdade, uma maneira de insinuarem 
intimidade com ele e, portanto, de exprimirem a importância que lhes seria atribuída pela 
proximidade com o poder. Inúmeras vezes, contamos coisas que fizemos para afirmarmo-
nos perante o grupo, para mostrar nossa valentia ou nossa erudição, nossa capacidade 
intelectual ou nossa competência na conquista amorosa. 
Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom de voz que empregamos, etc., 
transmitimos uma imagem nossa, não raro inconscientemente. 
Emprega-se a expressão função emotiva para designar a utilização da linguagem para 
a manifestação do enunciador, isto é, daquele que fala. 
 
- A linguagem serve para criar e manter laços sociais: Função Fática. 
 
__Que calorão, hein? 
__Também, tem chovido tão pouco. 
__Acho que este ano tem feito mais calor do que nos outros. 
__Eu não me lembro de já ter sentido tanto calor. 
 
Esse é um típico diálogo de pessoas que se encontram num elevador e devem manter 
uma conversa nos poucos instantes em que estão juntas. Falam para nada dizer, apenas 
porque o silêncio poderia ser constrangedor ou parecer hostil. 
Quando estamos num grupo, numa festa, não podemos manter-nos em silêncio, 
olhando uns para os outros. Nessas ocasiões, a conversação é obrigatória. Por isso, quando 
não se tem assunto, fala-se do tempo, repetem-se histórias que todos conhecem, contam-se 
anedotas velhas. A linguagem, nesse caso, não tem nenhuma função que não seja manter 
os laços sociais. Quando encontramos alguém e lhe perguntamos ―Tudo bem?‖, em geral 
não queremos, de fato, saber se nosso interlocutor está bem, se está doente, se está com 
problemas. A fórmula é uma maneira de estabelecer um vínculo social. 
Também os hinos têm a função de criar vínculos, seja entre alunos de uma escola, 
entre torcedores de um time de futebol ou entre os habitantes de um país. Não importa que 
as pessoas não entendam bem o significado da letra do Hino Nacional, pois ele não tem 
função informativa: o importante é que, ao cantá-lo, sentimo-nos participantes da 
comunidade de brasileiros. 
Na nomenclatura da linguística, usa-se a expressão função fática para indicar a 
utilização da linguagem para estabelecer ou manter aberta a comunicação entre um falante 
e seu interlocutor. 
 
- A linguagem serve para falar sobre a própria linguagem: Função Metalinguística. 
 
Quando dizemos frases como ―A palavra ‗cão‘ é um substantivo‖; ―É errado dizer ‗a 
gente viemos‘‖; ―Estou usando o termo ‗direção‘ em dois sentidos‖; ―Não é muito elegante 
usar palavrões‖, não estamos falando de acontecimentos do mundo, mas estamos tecendo 
comentários sobre a própria linguagem. É o que chama função metalinguística. A atividade 
metalinguística é inseparável da fala. Falamos sobre o mundo exterior e o mundo interior e 
ao mesmo tempo, fazemos comentários sobre a nossa fala e a dos outros. Quando 
afirmamos como diz o outro, estamoscomentando o que declaramos: é um modo de 
esclarecer que não temos o hábito de dizer uma coisa tão trivial como a que estamos 
enunciando; inversamente, podemos usar a metalinguagem como recurso para valorizar 
nosso modo de dizer. É o que se dá quando dizemos, por exemplo, Parodiando o padre 
Vieira ou Para usar uma expressão clássica, vou dizer que ―peixes se pescam, homens é 
que se não podem pescar‖. 
 
- A linguagem serve para criar outros universos. 
 
A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala também do que nunca existiu. 
Com ela, imaginamos novos mundos, outras realidades. Essa é a grande função da arte: 
mostrar que outros modos de ser são possíveis, que outros universos podem existir. O filme 
de Woody Allen ―A rosa púrpura do Cairo‖ (1985) mostra isso de maneira bem expressiva. 
Nele, conta-se a história de uma mulher que, para consolar-se do cotidiano sofrido e dos 
maus-tratos infligidos pelo marido, refugia-se no cinema, assistindo inúmeras vezes a um 
filme de amor em que a vida é glamorosa, e o galã é carinhoso e romântico. Um dia, ele sai 
da tela e ambos vão viver juntos uma série de aventuras. Nessa outra realidade, os homens 
são gentis, a vida não é monótona, o amor nunca diminui e assim por diante. 
 
- A linguagem serve como fonte de prazer: Função Poética. 
 
Brincamos com as palavras. Os jogos com o sentido e os sons são formas de tornar a 
linguagem um lugar de prazer. Divertimo-nos com eles. Manipulamos as palavras para delas 
extrairmos satisfação. 
Oswald de Andrade, em seu ―Manifesto antropófago‖, diz ―Tupi or not tupi‖; trata-se de 
um jogo com a frase shakespeariana ―To be or not to be‖. Conta-se que o poeta Emílio de 
Menezes, quando soube que uma mulher muito gorda se sentara no banco de um ônibus e 
este quebrara, fez o seguinte trocadilho: ―É a primeira vez que vejo um banco quebrar por 
excesso de fundos‖. A palavra banco está usada em dois sentidos: ―móvel comprido para 
sentar-se‖ e ―casa bancária‖. Também está empregado em dois sentidos o termo fundos: 
―nádegas‖ e ―capital‖, ―dinheiro‖. 
Observe-se o uso do verbo bater, em expressões diversas, com significados diferentes, 
nesta frase do deputado Virgílio Guimarães: 
 
―ACM bate boca porque está acostumado a bater: bateu continência para os militares, 
bateu palmas para o Collor e quer bater chapa em 2002. Mas o que falta é que lhe bata uma 
dor de consciência e bata em retirada.‖ 
(Folha de S. Paulo) 
 
Verifica-se que a linguagem pode ser usada utilitariamente ou esteticamente. No 
primeiro caso, ela é utilizada para informar, para influenciar, para manter os laços sociais, 
etc. No segundo, para produzir um efeito prazeroso de descoberta de sentidos. Em função 
estética, o mais importante é como se diz, pois o sentido também é criado pelo ritmo, pelo 
arranjo dos sons, pela disposição das palavras, etc. 
Na estrofe abaixo, retirada do poema ―A Cavalgada‖, de Raimundo Correia, a sucessão 
dos sons oclusivos /p/, /t/, /k/, /b/, /d/, /g/ sugere o patear dos cavalos: 
 
E o bosque estala, move-se, estremece... 
Da cavalgada o estrépito que aumenta 
Perde-se após no centro da montanha... 
 
Apud: Lêdo Ivo. Raimundo Correia: Poesia. 4ª ed. 
Rio de Janeiro, Agir, p. 29. Coleção Nossos Clássicos. 
 
Observe-se que a maior concentração de sons oclusivos ocorre no segundo verso, 
quando se afirma que o barulho dos cavalos aumenta. 
Quando se usam recursos da própria língua para acrescentar sentidos ao conteúdo 
transmitido por ela, diz-se que estamos usando a linguagem em sua função poética. 
 
Para melhor compreensão das funções de linguagem, torna-se necessário o estudo 
dos elementos da comunicação. 
Antigamente, tinha-se a ideia que o diálogo era desenvolvido de maneira 
"sistematizada" (alguém pergunta - alguém espera ouvir a pergunta, daí responde, enquanto 
outro escuta em silêncio, etc). Exemplo: 
 
Elementos da comunicação 
- Emissor - emite, codifica a mensagem; 
- Receptor - recebe, decodifica a mensagem; 
- Mensagem - conteúdo transmitido pelo emissor; 
- Código - conjunto de signos usado na transmissão e recepção da mensagem; 
- Referente - contexto relacionado a emissor e receptor; 
- Canal - meio pelo qual circula a mensagem. 
 
Porém, com os estudos recentes dos linguistas, essa teoria sofreu uma modificação, 
pois, chegou-se a conclusão que quando se trata da parole, entende-se que é um veículo 
democrático (observe a função fática), assim, admite-se um novo formato de locução, ou, 
interlocução (diálogo interativo): 
- locutor - quem fala (e responde); 
- locutário - quem ouve e responde; 
- interlocução - diálogo 
 
As respostas, dos "interlocutores" podem ser gestuais, faciais etc. por isso a mudança 
(aprimoração) na teoria. 
As atitudes e reações dos comunicantes são também referentes e exercem influência 
sobre a comunicação 
Lembramo-nos: 
 
- Emotiva (ou expressiva): a mensagem centra-se no "eu" do emissor, é carregada de 
subjetividade. Ligada a esta função está, por norma, a poesia lírica. 
- Função apelativa (imperativa): com este tipo de mensagem, o emissor atua sobre o 
receptor, afim de que este assuma determinado comportamento; há frequente uso do 
vocativo e do imperativo. Esta função da linguagem é frequentemente usada por oradores e 
agentes de publicidade. 
- Função metalinguística: função usada quando a língua explica a própria linguagem 
(exemplo: quando, na análise de um texto, investigamos os seus aspectos morfo-sintáticos 
e/ou semânticos). 
- Função informativa (ou referencial): função usada quando o emissor informa 
objetivamente o receptor de uma realidade, ou acontecimento. 
- Função fática: pretende conseguir e manter a atenção dos interlocutores, muito usada 
em discursos políticos e textos publicitários (centra-se no canal de comunicação). 
- Função poética: embeleza, enriquecendo a mensagem com figuras de estilo, palavras 
belas, expressivas, ritmos agradáveis, etc. 
Também podemos pensar que as primeiras falas conscientes da raça humana ocorreu 
quando os sons emitidos evoluiram para o que podemos reconhecer como ―interjeições‖. As 
primeiras ferramentas da fala humana. 
 
A função biológica e cerebral da linguagem é aquilo que mais profundamente distingue 
o homem dos outros animais. 
Podemos considerar que o desenvolvimento desta função cerebral ocorre em estreita 
ligação com a bipedia e a libertação da mão, que permitiram o aumento do volume do 
cérebro, a par do desenvolvimento de órgãos fonadores e da mímica facial 
Devido a estas capacidades, para além da linguagem falada e escrita, o homem, 
aprendendo pela observação de animais, desenvolveu a língua de sinais adaptada pelos 
surdos em diferentes países, não só para melhorar a comunicação entre surdos, mas 
também para utilizar em situações especiais, como no teatro e entre navios ou pessoas e 
não animais que se encontram fora do alcance do ouvido, mas que se podem observar entre 
si. 
 
Potencialidades da Linguagem 
 
Depois de analisar as funções da linguagem, conclui-se que ela é onipresente na vida 
de todos nós. Cerca-nos desde o despertar da consciência, ainda no berço, segue-nos 
durante toda a vida e acompanha-nos até a hora da morte. Sem a linguagem, não se pode 
estruturar o mundo do trabalho, pois é ela que permite a troca de informações e de 
experiências e a cooperação entre os homens. Sem ela, o homem não pode conhecer-se 
nem conhecer o mundo. Sem ela, não se exerce a cidadania, porque os eleitores não podem 
influenciar o governo. Sem ela não se pode aprender, expressar os sentimentos, imaginar 
outras realidades, construir as utopias e os sonhos. No entanto, a linguagem parece-nos 
uma coisa natural. Não prestamos muita atenção a ela. Nem sempre dedicamos muito 
tempo ao seu estudo. Conhecer bem a língua materna e línguas estrangeiras é uma 
necessidade. 
Queé saber bem uma língua? Evidentemente, não é saber descrevê-la. A descrição 
gramatical de uma língua é um meio de adquirir sobre ela um domínio crescente. Saber bem 
uma língua é saber usá-la bem. No entanto, o emprego de palavras raras e a correção 
gramatical não são sinônimos do uso adequado da língua. Falar bem é atingir os propósitos 
de comunicação. Para isso, é preciso usar um nível de língua adequado, é necessário 
construir textos sem ambiguidades, coerentes, sem repetições que não acrescentam nada 
ao sentido. 
O texto que segue foi dito por um locutor esportivo: 
 
―Adentra o tapete verde o facultativo esmeraldino a fim de pensar a contusão do filho 
do Divino Mestre, mola propulsora do eleven periquito.‖ 
(Álvaro da Costa e Silva. In: Bundas, p.33.) 
 
O que o locutor quis dizer foi: Entra em campo o médico do Palmeiras a fim de cuidar 
da contusão de Ademir da Guia (filho de Domingos da Guia), jogador de meio de campo do 
time do Parque Antártica. Certamente, aquele texto não seria entendido pela maioria dos 
ouvintes. Portanto não é um bom texto, porque não usa um nível de língua adequado à 
situação de comunicação. Outros exemplos: 
 
―As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A 
decisão atende a uma portaria de dezembro de 1991, do Juizado de Menores, que proíbe 
que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de 18 
anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios sem a 
companhia ou autorização dos pais.‖ 
(Jornal Folha do Sudoeste) 
 
Certamente a portaria não deveria obrigar os pais a acompanhar os filhos aos motéis 
nem a dar-lhes uma autorização por escrito para ser exibida na entrada desse tipo de 
estabelecimento. 
O jornal da USP publicou uma série de textos encontrados em comunicados de 
paróquias e templos. Todos são mal escritos, embora neles não se encontrem erros de 
ortografia, concordância, etc.: 
 
- Não deixe a preocupação acabar com você. Deixe que a Igreja ajude. 
- Terça-feira à noite: sopão dos pobres, depois oração e medicação. 
- (...) lembre-se de todos que estão tristes e cansados de nossa igreja e de nossa 
comunidade. 
- Para aqueles que têm filhos e não sabem, nós temos uma creche no segundo andar. 
- Quinta-feira às 5h haverá reunião do Clube das Jovens Mamães. Todos aqueles que 
quiserem se tornar uma Jovem Mamãe, devem contatar padre Cavalcante em seu escritório. 
(...) 
(Jornal da USP, 9, p. 15) 
 
Humor à parte, esses exemplos comprovam que aprender não só a norma culta da 
língua, mas também os mecanismos de estruturação do texto. 
 
A palavra texto é bastante usada na escola e também em outras instituições sociais 
que trabalham com a linguagem. É comum ouvirmos expressões como ―O texto 
constitucional desceu a detalhes que deveriam estar em leis ordinárias‖; ―Seu texto ficou 
muito bom‖; ―O texto da prova de Português era muito longo e complexo‖; ―Os atores de 
novelas devem decorar textos enormes todos os dias‖. Apesar de corrente, porém, o termo 
não é de fácil definição: quando perguntamos qual é o seu significado, percebemos que a 
maioria das pessoas é incapaz de responder com precisão e clareza. 
Texto é um todo organizado de sentido, delimitado por dois brancos e produzido por 
um sujeito num dado tempo e num determinado espaço. 
O texto é um todo organizado de sentido, isso quer dizer que ele não é um amontoado 
de frases simplesmente colocadas umas depois das outras, mas um conjunto de frases 
costuradas entre si. Por isso o sentido de cada parte depende da sua relação com as outras 
partes, isto é, o sentido de uma palavra ou de uma frase depende das outras palavras ou 
frases com que mantêm relação. Em síntese, o sentido depende do contexto, entendido 
como a unidade maior que compreende uma unidade menor, a oração é contexto da 
palavra, o período é contexto da oração e assim sucessivamente. O contexto pode ser 
explícito (quando é exposto em palavras) ou implícito (quando é percebido na situação em 
que o texto é produzido). Observe os três pequenos textos abaixo: 
 
- Todos os dias ele fazia sua fezinha. Na noite de segunda-feira sonhou com um 
deserto e jogou seco no camelo. 
- Nos desertos da Arábia, o camelo é ainda o principal meio de transporte dos 
beduínos. 
- O camelo aqui carrega a família inteira nas costas, porque lá ninguém trabalha. 
 
Em cada uma dessas frases a palavra camelo tem um sentido diferente. Na primeira, 
significa ―o oitavo grupo do jogo no bicho, que corresponde ao número 8 e inclui as dezenas 
29, 30, 31 e 32‖; na segunda, ―animal originário das regiões desérticas, de grande porte, 
quadrúpede, de cor amarelada, de pescoço longo e com duas saliências no dorso‖; na 
terceira, ―pessoa que trabalha muito‖. O que determina essa diferença de sentido da palavra 
é exatamente o contexto, o todo em que ela está inserida. No texto, portanto, o sentido de 
cada parte não é independente, tudo são relações. Aliás, a palavra texto significa ―tecido‖, 
que não é um amontoado de fios, mas uma trama arranjada de maneira organizada. O 
sentido não é solitário, é solidário. Vejamos outros dois períodos: 
 
- Marcelinho é um bom atacante, mas é desagregador. 
- Marcelinho é desagregador, mas é um bom atacante. 
 
Esses períodos relacionam diferentemente as orações. No primeiro, a oração é 
―desagregador‖ é introduzida por ―mas‖, enquanto no segundo é a oração ―é um bom 
atacante‖ que é iniciada por essa conjunção. O sentido é completamente diferente, pois o 
―mas‖ introduz o argumento mais forte e, por conseguinte, determina a orientação 
argumentativa da frase. Isso significa que, quando afirmo, ―não quero o jogador no meu 
time‖; quando digo, ―acredito que todos os seus defeitos devem ser desculpados‖. 
Observe agora o poema ―Canção do Exílio‖ de Murilo Mendes: 
 
Minha terra tem macieiras da Califórnia 
onde cantam gaturamos de Veneza. 
Os poetas da minha terra 
são pretos que vivem em torres de ametista, 
os sargentos de exército são monistas, cubistas, 
os filósofos são polacos vendendo a prestações. 
A gente não pode dormir 
com os oradores e os pernilongos. 
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda. 
Eu morro sufocado 
em terra estrangeira. 
Nossas flores são mais bonitas 
nossas frutas mais gostosas 
mas custam cem mil réis a dúzia. 
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade 
e ouvir um sabiá com certidão de idade! 
 
Poesias (1925-1953). Rio de Janeiro, 
José Olympio, 1959, p. 5. 
 
Tomando apenas os dois primeiros versos, pode-se pensar que esse poema seja uma 
apologia do caráter universalista e cosmopolita da brasilidade: macieiras e gaturamos 
representam a natureza vegetal e animal, respectivamente; Califórnia e Veneza são a 
imagem do espaço estrangeiro, e minha terra, a do solo pátrio. No Brasil, até a natureza 
acolhe o que é estrangeiro. 
Pode-se ainda acrescentar, em apoio a essa tese, que esses versos são calcados nos 
dois primeiros do poema homônimo de Gonçalves Dias, que é uma glorificação da terra 
pátria: 
 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá; 
 
Apud: Manuel Bandeira. 
Gonçalves Dias: Poesia. 7ª ed. Rio de Janeiro 
Agir, 1976, p. 18. Coleção Nossos Clássicos. 
 
Essa hipótese de leitura, se não é absurda quando isolamos os versos em questão, 
não encontra amparo quando os confrontamos com o restante do texto. Murilo Mendes 
mostra, na verdade, que as características da brasilidade não têm valor positivo, não 
concorrem para a exaltação da pátria: o poeta denuncia que a cultura brasileira é postiça, é 
uma miscelânea de elementos advindos de vários países. Ele mostra que os ―poetas são 
pretos que vivem em torres de ametista‖, alienados num mundo idealizado, evitando as 
mazelas do mundo real, sem se preocupar com os negros, que vivem, em geral, em 
condiçõesmuito precárias (trata-se de uma referência irônica ao Simbolismo e, 
principalmente, a Cruz e Sousa); que ―os sargentos do exército são monistas, cubistas‖, ou 
seja, em vez da preocupação com seu ofício de garantir a segurança do território nacional, 
têm pretensões de incursionar por teorias filosóficas e estéticas; que ―os filósofos são 
polacos vendendo a prestações‖, são prostituídos (polaca é termo designativo de prostituta) 
pela venalidade barata; que ―os oradores‖ se identificam com ―os pernilongos‖ em sua 
oratória repetitiva; que o romantismo gonçalvino estava certo ao afirmar que a natureza 
brasileira é pródiga, só que essa prodigalidade não é acessível à maioria da população. A 
exclamação do final é, ao mesmo tempo, a manifestação do desejo de ter contato com 
coisas genuinamente brasileiras e um lamento, pois o poeta sabe que não se tornará 
realidade. 
O texto de Murilo faz referência ao de Gonçalves Dias, mas, diferentemente do poema 
gonçalvino, não celebra ufanisticamente a pátria. Ao contrário, ironiza-a, lamenta a invasão 
estrangeira. O exílio é a própria terra, desnaturada a ponto de parecer estrangeira. 
Desse modo, os dois primeiros versos não podem ser interpretados como um elogio ao 
caráter cosmopolita da cultura brasileira. Ao contrário, devem ser lidos como uma crítica ao 
caráter postiço da nossa cultura. Isso porque só a segunda interpretação se encaixa 
coerentemente dentro do contexto. 
Por exemplo, comprova-se que o significado das frases não é autônomo. Num texto, o 
significado das partes depende do todo. Por isso, cada frase tem um significado distinto, 
dependendo do contexto em que está inserida. 
Que é que faz perceber que um conjunto de frases compõe um texto? O primeiro fator 
é a coerência, ou seja, a compatibilidade de sentido entre elas, de modo que não haja nada 
ilógico, nada contraditório, nada desconexo. Outro fator é a ligação das frases por certos 
elementos que recuperam passagens já ditas ou garantem a concatenação entre as partes. 
Assim, em ―Não chove há vários meses. Os pastos não poderiam, pois, estar verdes‖, a 
palavra ―pois‖ estabelece uma relação de decorrência lógica entre uma e outra frase. O 
segundo fator, entretanto, é menos importante que o primeiro, pois mesmo sem esses 
elementos de conexão, um conjunto de frases pode ser coerente e, portanto, um todo 
organizado de sentido. 
 
Tipos de Linguagem 
 
Linguagem é a capacidade que possuímos de expressar nossos pensamentos, ideias, 
opiniões e sentimentos. Está relacionada a fenômenos comunicativos; onde há 
comunicação, há linguagem. Podemos usar inúmeros tipos de linguagens para 
estabelecermos atos de comunicação, tais como: sinais, símbolos, sons, gestos e regras 
com sinais convencionais (linguagem escrita e linguagem mímica, por exemplo). Num 
sentido mais genérico, a linguagem pode ser classificada como qualquer sistema de sinais 
que se valem os indivíduos para comunicar-se. 
A linguagem pode ser: 
 
- Verbal: aquela que faz uso das palavras para comunicar algo. 
 
 
 
As figuras acima nos comunicam sua mensagem através da linguagem verbal (usa 
palavras para transmitir a informação). 
 
- Não Verbal: aquela que utiliza outros métodos de comunicação, que não são as 
palavras. Dentre elas estão a linguagem de sinais, as placas e sinais de trânsito, a 
linguagem corporal, uma figura, a expressão facial, um gesto, etc. 
 
 
 
Essas figuras fazem uso apenas de imagens para comunicar o que representam. 
 
A Língua é um instrumento de comunicação, sendo composta por regras gramaticais 
que possibilitam que determinado grupo de falantes consiga produzir enunciados que lhes 
permitam comunicar-se e compreender-se. Por exemplo: falantes da língua portuguesa. 
A língua possui um caráter social: pertence a todo um conjunto de pessoas, as quais 
podem agir sobre ela. Cada membro da comunidade pode optar por esta ou aquela forma de 
expressão. Por outro lado, não é possível criar uma língua particular e exigir que outros 
falantes a compreendam. Dessa forma, cada indivíduo pode usar de maneira particular a 
língua comunitária, originando a fala. A fala está sempre condicionada pelas regras 
socialmente estabelecidas da língua, mas é suficientemente ampla para permitir um 
exercício criativo da comunicação. Um indivíduo pode pronunciar um enunciado da seguinte 
maneira: 
 
A família de Regina era paupérrima. 
 
Outro, no entanto, pode optar por: 
 
A família de Regina era muito pobre. 
 
As diferenças e semelhanças constatadas devem-se às diversas manifestações da fala 
de cada um. Note, além disso, que essas manifestações devem obedecer às regras gerais 
da língua portuguesa, para não correrem o risco de produzir enunciados incompreensíveis 
como: 
 
Família a paupérrima de era Regina. 
 
Não devemos confundir língua com escrita, pois são dois meios de comunicação 
distintos. A escrita representa um estágio posterior de uma língua. A língua falada é mais 
espontânea, abrange a comunicação linguística em toda sua totalidade. Além disso, é 
acompanhada pelo tom de voz, algumas vezes por mímicas, incluindo-se fisionomias. A 
língua escrita não é apenas a representação da língua falada, mas sim um sistema mais 
disciplinado e rígido, uma vez que não conta com o jogo fisionômico, as mímicas e o tom de 
voz do falante. No Brasil, por exemplo, todos falam a língua portuguesa, mas existem usos 
diferentes da língua devido a diversos fatores. Dentre eles, destacam-se: 
 
- Fatores Regionais: é possível notar a diferença do português falado por um 
habitante da região nordeste e outro da região sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma 
região, também há variações no uso da língua. No estado do Rio Grande do Sul, por 
exemplo, há diferenças entre a língua utilizada por um cidadão que vive na capital e aquela 
utilizada por um cidadão do interior do estado. 
- Fatores Culturais: o grau de escolarização e a formação cultural de um indivíduo 
também são fatores que colaboram para os diferentes usos da língua. Uma pessoa 
escolarizada utiliza a língua de uma maneira diferente da pessoa que não teve acesso à 
escola. 
- Fatores Contextuais: nosso modo de falar varia de acordo com a situação em que 
nos encontramos: quando conversamos com nossos amigos, não usamos os termos que 
usaríamos se estivéssemos discursando em uma solenidade de formatura. 
- Fatores Profissionais: o exercício de algumas atividades requer o domínio de certas 
formas de língua chamadas línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, essas 
formas têm uso praticamente restrito ao intercâmbio técnico de engenheiros, químicos, 
profissionais da área de direito e da informática, biólogos, médicos, linguistas e outros 
especialistas. 
- Fatores Naturais: o uso da língua pelos falantes sofre influência de fatores naturais, 
como idade e sexo. Uma criança não utiliza a língua da mesma maneira que um adulto, daí 
falar-se em linguagem infantil e linguagem adulta. 
 
Fala 
 
É a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato individual, pois cada indivíduo, 
para a manifestação da fala, pode escolher os elementos da língua que lhe convém, 
conforme seu gosto e sua necessidade, de acordo com a situação, o contexto, sua 
personalidade, o ambiente sociocultural em que vive, etc. Desse modo, dentro da unidade 
da língua, há uma grande diversificação nos mais variados níveis da fala. Cada indivíduo, 
além de conhecer o que fala, conhece também o que os outros falam; é por isso que somos 
capazes de dialogar com pessoas dos mais variados graus de cultura, embora nem sempre 
a linguagem delas seja exatamente como a nossa. 
Devido ao caráter individual da fala, é possível observar alguns níveis: 
 
- Nível Coloquial-Popular: é a fala que a maioria das pessoas utiliza no seu dia a dia, 
principalmenteem situações informais. Esse nível da fala é mais espontâneo, ao utilizá-lo, 
não nos preocupamos em saber se falamos de acordo ou não com as regras formais 
estabelecidas pela língua. 
- Nível Formal-Culto: é o nível da fala normalmente utilizado pelas pessoas em 
situações formais. Caracteriza-se por um cuidado maior com o vocabulário e pela obediência 
às regras gramaticais estabelecidas pela língua. 
 
Signo 
 
É um elemento representativo que apresenta dois aspectos: o significado e o 
significante. Ao escutar a palavra ―cachorro‖, reconhecemos a sequência de sons que 
formam essa palavra. Esses sons se identificam com a lembrança deles que está em nossa 
memória. Essa lembrança constitui uma real imagem sonora, armazenada em nosso cérebro 
que é o significante do signo ―cachorro‖. Quando escutamos essa palavra, logo pensamos 
em um animal irracional de quatro patas, com pelos, olhos, orelhas, etc. Esse conceito que 
nos vem à mente é o significado do signo ―cachorro‖ e também se encontra armazenado em 
nossa memória. 
Ao empregar os signos que formam a nossa língua, devemos obedecer às regras 
gramaticais convencionadas pela própria língua. Desse modo, por exemplo, é possível 
colocar o artigo indefinido ―um‖ diante do signo ―cachorro‖, formando a sequência ―um 
cachorro‖, o mesmo não seria possível se quiséssemos colocar o artigo ―uma‖ diante do 
signo ―cachorro‖. A sequência ―uma cachorro‖ contraria uma regra de concordância da 
língua portuguesa, o que faz com que essa sentença seja rejeitada. Os signos que 
constituem a língua obedecem a padrões determinados de organização. O conhecimento de 
uma língua engloba tanto a identificação de seus signos, como também o uso adequado de 
suas regras combinatórias. 
 
Signo: elemento representativo que possui duas partes indissolúveis: significado e 
significante. Significado (é o conceito, a ideia transmitida pelo signo, a parte abstrata do 
signo) + Significante (é a imagem sonora, a forma, a parte concreta do signo, suas letras e 
seus fonemas). 
Língua: conjunto de sinais baseado em palavras que obedecem às regras gramaticais. 
Fala: uso individual da língua, aberto à criatividade e ao desenvolvimento da liberdade 
de expressão e compreensão. 
 
Estudo do Significado 
 
O papel essencial da linguagem, em quaisquer das suas formas, é a produção de 
significado: ao se relacionar com as coisas, o homem faz uso de sinais que as representam. 
A linguagem pode ser usada pelo homem para múltiplas finalidades: para ajudá-lo a 
compreender a si mesmo, o mundo físico e as pessoas que o rodeiam, para influenciar o 
outro e até para trapacear, fingindo uma intenção para esconder outra. A linguagem pode 
também manifestar-se sob grande variedade de formas: 
- Sons produzidos pela voz (linguagem verbal) 
- Cores, formas e volumes (linguagem visual) 
- Moviemtnos do corpo (linguagem corporal, dança) 
- Sons produzidos por instrumentos (linguagem musical) 
- Imagens em movimento (cinema), etc. 
 
Para resumir, costumamos distinguir duas grandes divisões para definir as formas de 
linguagem: 
- Linguagem Verbal: mais especificamente constituída pela língua, seja ela oral, seja 
escrita. 
- Linguagens não-verbais: constituídas por todas as outras modalidades diferentes da 
língua: pintura, escultura, música, dança, cinema, etc. 
 
Hoje em dia, graças sobretudo à facilidade de reprodução de sons, cores, movimentos 
e imagens, é muito comum a exploração conjunta de várias formas de linguagem: a 
linguagem do cinema e da televisão é uma demonstração eloquente da exploração conjunta 
de sons musicais e da voz humana, de cores, de imagens em movimento. 
Qualquer que seja a forma de manifestação, toda linguagem tem um ponto em comum: 
nenhuma opera com a realidade tal que ela é, mas com representações da realidade. 
Dizendo de outra maneira, toda linguagem é constituída de signos. E o que são signos? 
São qualquer forma material (sons, linhas, cores, volumes, imagens em movimento) 
que representam alguma coisa diferente dela mesma. Em outras palavras, todo signo é 
constituído de algo material, perceptível pelos órgãos dos sentidos (ouvido, olho) e de algo 
imaterial, uma representação mental, inteligível. A dimensão material do signo costuma ser 
designada por dois nomes: plano de expressão ou significante. 
A dimensão imaterial e inteligível é chamada por dois nomes: plano de conteúdo ou 
significado. Por uma questão de simplificação, usaremos a seguinte nomenclatura: 
 
Signo: qualquer tipo de sinal material usado para representar algo, isto é, tornar 
presente alguma coisa ausente. 
 
Uma árvore plantada no bosque não é um signo, porque não passa de uma árvore, não 
representa nada além de si mesma. Prova disso é que não podemos trazer para este livro a 
árvore real, apenas uma representação dela, formada de cores e formas sobre uma 
superfície de papel. 
Que o signo não passa de representação da realidade é um tema que tem sido objeto 
de debate entre os homens. O célebre pintor surrealista belga René Magritte (1898-1967), 
pintou um cachimbo com requintes de pormenores, dando a máxima impressão de realismo. 
Surpreendentemente, num jogo de ironia, escreveu abaixo da pintura a frase Ceci n‘est pás 
une pipe (―Isto não é um cachimbo‖). 
Aos que o contestavam, achando absurda a ideia de negar que aquilo fosse um 
cachimbo, conta-se que ele desafiava: 
 
__ Então acenda-o e comece a fumá-lo. 
 
Após essas considerações, vamos fazer duas observações de ordem terminológica: 
- a representação do cachimbo é um signo do cachimbo, não o objeto cachimbo; 
- ao objeto chamamos de referente, ou a coisa real. 
 
Podemos, então, após esses dados, montar um esquema daquilo que os estudiosos 
chamam de signo: 
 
Signo: é qualquer objeto, forma ou fenômeno material que representa a ideia de algo 
diferente dele mesmo. 
 
Assim sendo, o signo apresenta três dimensões: 
 
- Significante (ou plano de expressão): é a parte material do signo (um objeto, uma 
forma ou um fenômeno perceptível pelos sensores do corpo humano). 
- Significado (ou plano de conteúdo): é o conceito, ou a forma mental criada no 
intelecto pelo significante. 
- Referente: é a coisa representada pelo signo. É dado de realidade trazido à mente 
por meio do signo. 
 
São os signos que nos permitem trazer para a lembrança referentes que já deixaram 
de existir. As palavras, por exemplo, são signos e, por meio delas, podemos trazer para o 
presente pessoas e fatos que já desapareceram. Tomemos, por exemplo, uma palavra como 
Camões. 
Trata-se de um signo, pois o referente (o poeta em carne e osso) não existe mais. 
Significante: uma conjunto de sons, representado pelo espectro de uma onda sonora. 
Significado: o conceito associado no intelecto quando ouvimos essa combinação de sons. O 
referente é o famoso poeta português Luís Vaz de Camões, que, como se sabe, morreu faz 
tempo. 
Observação: A rigor, não é exato usar um retrato de Camões para ilustrar o significado 
da palavra Camões, pois este, na verdade, é de instância intelectual. Excluindo esse 
inconveniente, a pintura, serve para sugerir o conceito que a combinação de sons (k – a – m 
– õ – e – s) cria no nosso intelecto. 
A conclusão mais importante de tudo isso é que usamos os signos no lugar das coisas 
e, pela linguagem, construímos um universo paralelo ao universo real. Se levarmos em 
conta que as relações entre os homens são determinadas mais pelas representações que 
fazemos das coisas do que pelas coisas em si, vamos compreender que interpretar e 
produzir significados é a competência de maior importância para quem deseja dominar os 
segredos da linguagem. 
Relacionando o aprendizado do português com esses dados preliminares, podemos 
encadear os seguintes raciocínios: 
- A principal função de qualquer forma de linguagem é a construçãode significados 
para atingir certos resultados planejados pelo construtor. 
- O português é uma forma de linguagem. 
- Portanto a competência mais importante para os falantes da língua portuguesa é 
saber construir significados e decifrar os significados produzidos por meio dela. 
 
Esse é um dado de extrema importância tanto para quem ensina quanto para quem 
aprende não só o português como qualquer outra língua com o propósito de usá-la para o 
mundo do trabalho, para o exercício da cidadania e para a quisição de novos 
conhecimentos. 
Para quem aprende uma língua com esse tipo de interesse, o que mais importa é 
adquirir a capacidade de compreender, com a máxima proficiência, os significados 
direcionados para atingir os resultados programados. 
Resumindo tudo, para quem estuda uma língua do ponto de vista de quem vai conviver 
e trabalhar com ela, o que mais importa é a capacidade de produzir e compreender 
significados. 
Todos os demais tipos de aprendizado linguístico estão subordinados a essas duas 
competências mais amplas e mais altas. 
A Semântica é um ramo da Linguística que se ocupa do significado das formas 
linguísticas em geral. Por formas linguísticas vamos entender tanto as mínimas unidades de 
significado constituintes das palavras (os prefixos e sufixos, por exemplo) quanto enunciados 
maiores, como orações e períodos. Analisar, pois, uma palavra ou uma frase sob o ponto de 
vista semântico equivale a tentar decifrar o que elas significam ou o que querem dizer. 
Dado que a finalidade última de qualquer linguagem é a produção de significado, não é 
preciso destacar a importância fundamental da Semântica dentro dos estudos linguísticos. 
Nem é preciso também falar da importância desse tópico nas provas de concursos na 
matéria de língua portuguesa em geral. 
Para facilitar a compreensão de certas particularidades relativas ao significado das 
palavras e das formas linguísticas em geral, uma noção primária se impõe como necessária: 
a de que o significado de um signo não é constituído por uma peça única, mas por um 
punhado de significados menores que se combinam entre si para criar a noção com que 
representamos as coisas ou os eventos do mundo. 
Dizemos de outra maneira, o significado das palavras não é simples, mas complexo, 
constituído de um feixe de unidades menores a que os estudiosos chamam de traços 
semânticos ou traços de significado. 
São os trços semânticos que usamos para definir o significado das palavras. Tomemos 
um exemplo que já ficou clássico nos estudos de Semântica, usado pelo linguista francês 
contemporâneo Bernard Pottier. Segundo ele, a palavra ―cadeira‖ é um móvel doméstico que 
contém os seguintes traços semânticos: 
- com encosto. 
- sobre pernas. 
- para uma só pessoa. 
Para sentar-se. 
 
Se aos quatro traços da palavra ―cadeira‖ acrescentarmos mais um, ―com braços‖, 
teremos a palavra ―poltrona‖. Uma mesma palavra pode, num dado contexto, trocar um traço 
semântico por outro e ganhar novo sentido. É o que acontece, por exemplo em: 
 
Peixe não vive fora d‘água. 
 
A palavra ―peixe‖ é marcada, nesse contexto, pelo traço semântico ―não humano‖. Esse 
traço pode ser trocado, por exemplo, por um traço ―humano‖, noutro contexto como este: 
 
Na festa de aniversário da minha prima, eu era um peixe fora d‘água. 
 
―Peixe‖, nesse contexto, não fará sentido se não trocarmos o traço semântico ―não 
humano‖ por ―humano‖. 
Em síntese, concluímos que, por ser constituído de feixes de traços semânticos, o 
sentido da palavra não é estável, podendo sofrer variações de época para época, de lugar 
para lugar, de contexto para contexto. 
Há contexto em que uma palavra não pode ser interpretada com todos os traços 
semânticos que comumente a definem. Por isso é que os bons dicionários costumam dar os 
diferentes sentidos possíveis de uma palavra, acompanhados do contexto em que ela 
adquire cada um dos seus vários sentidos. 
Tomemos como exemplo uma palavra como ―cadeia‖ e alguns de seus múltiplos 
sentidos no português: 
 
- Prisão: Sonegar imposto dá cadeia. 
- Rede, conjunto de emissoras: O presidente falará em cadeia nacional. 
- Sequência: As ruínas são cercadas por uma cadeia de montanhas. 
 
Levando esses dados em consideração, torna-se mais fácil compreender as 
particularidades sobre o significado das palavras. 
 
Delimitações e Sujeito do Texto 
 
O texto é delimitado por dois brancos. Se ele é um todo organizado de sentido, ele 
pode ser verbal, visual (um quadro), verbal e visual (um filme), sonoro (uma música), etc. 
Mas em todos esses casos ele será delimitado por dois espaços de não-sentido, dois 
brancos, um antes de começar o texto e outro depois. É o branco do papel; é o tempo de 
espera para que um filme comece e o que está depois da palavra FIM; é o silêncio que 
precede os primeiros acordes de uma melodia e que sucede às notas finais, etc. 
O texto é produzido por um sujeito num dado tempo e num determinado espaço. Esse 
sujeito, por pertencer a um grupo social que vive num dado tempo e num certo espaço, 
expõe em seus textos as ideias, os anseios, os temores, as expectativas desse grupo. Todo 
texto, assim, relaciona-se com o contexto histórico e geográfico em que foi produzido, 
refletindo a realidade apreendida por seu autor, que sobre ela se pronuncia. 
O poema de Murilo Mendes que comentamos anteriormente mostra o anseio de uma 
geração, no Brasil, em certa época, de conhecer bem o país e revelar suas mazelas para 
transformá-lo. 
Não há texto que não reflita o seu tempo e o seu lugar. Cabe lembrar, no entanto, que 
uma sociedade não produz uma única forma de ver a realidade, um modo único de analisar 
os problemas estabelecidos num dado contexto. Como a sociedade é dividida em grupos 
sociais, que têm interesses muitas vezes antagônicos, ela produz ideias divergentes entre si. 
A mesma sociedade que gera a ideia de que é preciso pôr abaixo a floresta amazônica para 
explorar suas riquezas, produz a ideia de que preservá-la é mais rentável. É bem verdade, 
no entanto, que algumas ideias, em certas épocas, exercem domínio sobre outras. 
É necessário entender as concepções correntes na época e na sociedade em que o 
texto foi produzido, para não correr o risco de entendê-lo de maneira distorcida. Como não 
há ideias puras, todas as ideias estão materializadas em textos, analisar a relação de um 
texto com sua época é estudar a sua relação com outros textos. 
É preciso que fiquem bem claras estas conclusões: 
- No texto, o sentido não é solitário, mas solidário. 
- O texto está delimitado por dois espaços de não-sentido. 
- O texto revela ideais, concepções, anseios, expectativas e temores de um grupo 
social numa determinada época, em determinado lugar. 
 
Denotação e Conotação 
 
Esses dois conceitos têm sido definidos por oposição mútua. 
Denotação é o componente do significado da palavra que nos remete àquilo que ela 
representa, sem levar em conta impressões motivadas por circunstâncias ocasionais. Nesse 
sentido, entende-se por denotação apenas o conjunto de traços semânticos estáveis da 
palavra, aqueles que servem para indicar dominantemente a que objeto ou noção a palavra 
nos remete. 
A Conotação resulta dos traços semânticos ocasionais que se superpõem ao 
significado denotativo por causa sobretudo de impressões provocadas por motivação social 
ou razões de natureza subjetiva. 
As palavras sinônimas são o melhor exemplo para salientar a diferença entre 
denotação e conotação. No plano da denotação, os sinônimos são praticamente iguais, já 
que nos remetem aos mesmos dados de realidade ou às mesmas noções; no plano 
conotativo, porém, os sinônimos podem distinguir-se por diferenças marcantes, pois 
provocam impressões adicionais muito nítidas. 
Tomemos, por exemplo, as palavras ―inexperiente‖ e ―otário‖, que os dicionários 
registram comosinônimos. 
No âmbito da denotação podem ter significados aproximados: ambas indicam a 
característica de um indivíduo que não tem malícia, que é inocente. Sob o ponto de vista da 
conotação, porém, há diferenças marcantes entre os dois significados: otário tem uma 
conotação muito mais depreciativa que um simples inexperiente. Leva-nos a criar a imagem 
de uma pessoa idiota, de um bobalhão que se deixa enganar por qualquer um, sem 
nenhuma competência para reagir contra a exploração dos outros. 
Do que se disse sobre conotação e denotação depreende-se que a escolha acertada 
da palavra deve levar em conta não apenas o significado denotativo, mas também o 
conotativo. Exemplos: 
 
―O racionamento de energia, para felicidade do país, foi uma medida peremptória do 
governo, não para toda a vida.‖ 
 
A escolha da palavra peremptória não está adequada ao contexto. Peremptória é 
sinônimo de categórico, decisivo, determinante. Nesse caso, o significado denotativo da 
palavra não é compatível com a noção que se quer transmitir. O redator pensou uma coisa e 
escreveu outra. Talvez ache que peremptório seja sinônimo de passageiro, momentâneo, 
provisório. Isso se dá com pessoas que se arriscam a usar palavras que não fazem parte do 
seu repertório. 
 
―Com delicadeza e muita sensibilidade, o professor fez a seguinte solicitação: os alunos 
mais ignorantes terão aula de recuperação.‖ 
 
Nesse caso, a palavra mal escolhida é, sem dúvida, ignorantes, e a má escolha, no 
caso, não se deve ao significado denotativo. Afinal, ignorante é aquele que ignora, que 
desconhece algo. Os alunos que devem ser chamados para uma recuperação são os que 
conhecem menos as lições. Mas ignorantes tem conotação muito negativa, causa impressão 
de desacato ao outro, é ofensiva. Nesses casos, apela-se para palavras ou expressões 
polidas, menos agressivas, tais como: os alunos com mais dificuldade, mais defasados com 
a matéria... 
 
Sinônimos e Antônimos 
 
Sinônimos são palavras de sentido igual ou aproximado. Exemplo: 
- Alfabeto, abecedário. 
- Brado, grito, clamor. 
- Extinguir, apagar, abolir, suprimir. 
- Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial. 
 
As mais das vezes não é indiferente usar um sinônimo pelo outro. Embora irmanados 
pelo sentido comum, os sinônimos diferenciam-se, entretanto, uns dos outros, por matizes 
de significação e certas propriedades que o escritor não pode desconhecer. 
Com efeito, estes têm sentido mais amplo, aqueles, mais restrito (animal e 
quadrúpede); uns são próprios da fala corrente, desataviada, vulgar, outros, ao invés, 
pertencem à esfera da linguagem culta, literária, científica ou poética (orador e tribuno, 
oculista e oftalmologista, cinzento e cinéreo). 
A contribuição Greco-latina é responsável pela existência, em nossa língua, de 
numerosos pares de sinônimos. Exemplos: 
 
- Adversário e antagonista. 
- Translúcido e diáfano. 
- Semicírculo e hemiciclo. 
- Contraveneno e antídoto. 
- Moral e ética. 
- Colóquio e diálogo. 
- Transformação e metamorfose. 
- Oposição e antítese. 
 
O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se sinonímia, palavra que também 
designa o emprego de sinônimos. 
 
Antônimos são palavras de significação oposta. Exemplos: 
- Ordem e anarquia. 
- Soberba e humildade. 
- Louvar e censurar. 
- Mal e bem. 
 
A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido oposto ou negativo. Exemplos: 
Bendizer, maldizer / simpático, antipático / progredir, regredir / concórdia, discórdia / 
explícito, implícito / ativo, inativo / esperar, desesperar / comunista, anticomunista / simétrico, 
assimétrico / pré-nupcial, pós-nupcial. 
 
Parônimos 
 
São palavras parecidas na escrita e na pronúncia: Coro e couro, cesta e sesta, 
eminente e iminente, tetânico e titânico, atoar e atuar, degradar e degredar, cético e séptico, 
prescrever e proscrever, descrição e discrição, infligir (aplicar) e infringir (transgredir), osso e 
ouço, sede (vontade de beber) e cede (verbo ceder), comprimento e cumprimento, deferir 
(conceder, dar deferimento) e diferir (ser diferente, divergir, adiar), ratificar (confirmar) e 
retificar (tornar reto, corrigir), vultoso (volumoso, muito grande: soma vultosa) e vultuoso 
(congestionado: rosto vultuoso). 
 
Homônimos 
 
São palavras que têm a mesma pronúncia, e às vezes a mesma grafia, mas 
significação diferente. Exemplos: 
- São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo). 
- Aço (substantivo) e asso (verbo). 
 
Só o contexto é que determina a significação dos homônimos. A homonímia pode ser 
causa de ambiguidade, por isso é considerada uma deficiência dos idiomas. 
O que chama a atenção nos homônimos é o seu aspecto fônico (som) e o gráfico 
(grafia). Daí serem divididos em: 
 
- Homógrafos Heterofônicos: iguais na escrita e diferentes no timbre ou na 
intensidade das vogais. 
- Rego (substantivo) e rego (verbo). 
- Colher (verbo) e colher (substantivo). 
- Jogo (substantivo) e jogo (verbo). 
- Apoio (verbo) e apoio (substantivo). 
- Para (verbo parar) e para (preposição). 
- Providência (substantivo) e providencia (verbo). 
- Às (substantivo), às (contração) e as (artigo). 
- Pelo (substantivo), pelo (verbo) e pelo (contração de per+o). 
 
Observação: Palavras como as dos cinco últimos exemplos, a rigor, não são 
homógrafas, visto que o acento gráfico desfaz a homografia. Razões de ordem didática, 
porém, nos levam a incluí-las neste grupo de homônimos. 
 
- Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e diferentes na escrita: 
- Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir). 
- Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar). 
- Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato de consertar). 
- Cegar (tornar cego) e segar (cortar, ceifar). 
- Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar (acelerar). 
- Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar). 
- Censo (recenseamento) e senso (juízo). 
- Cerrar (fechar) e serrar (cortar). 
- Paço (palácio) e passo (andar). 
- Hera (trepadeira) e era (época), era (verbo). 
- Caça (ato de caçar), cassa (tecido) e cassa (verbo cassar = anular). 
- Cessão (ato de ceder), seção (divisão, repartição) e sessão (tempo de uma reunião 
ou espetáculo).H 
 
- Homófonos Homográficos: iguais na escrita e na pronúncia: 
- Caminhada (substantivo), caminhada (verbo). 
- Cedo (verbo), cedo (advérbio). 
- Somem (verbo somar), somem (verbo sumir). 
- Livre (adjetivo), livre (verbo livrar). 
- Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr). 
- Alude (avalancha), alude (verbo aludir). 
 
Polissemia 
 
Uma palavra pode ter mais de uma significação. A esse fato linguístico dá-se o nome 
de polissemia. Exemplos: 
- Mangueira: tubo de borracha ou plástico para regar as plantas ou apagar incêndios; 
árvore frutífera; grande curral de gado. 
- Pena: pluma, peça de metal para escrever; punição; dó. 
- Velar: cobrir com véu, ocultar, vigiar, cuidar, relativo ao véu do palato. 
Podemos citar ainda, como exemplos de palavras polissêmicas, o verbo ―dar‖ e os 
substantivos ―linha‖ e ―ponto‖, que têm dezenas de acepções. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apreensão e Compreensão do Texto e 
Sentido 
 
Quando Lula disse a Collor no primeiro debate do segundo turno das eleições 
presidenciais de 1989: ―Eu sabia que você era collorido por fora, mas caiado por dentro.‖ 
Os brasileiros colocaram essa frase no âmbito dos ―discursos da campanha 
presidencial‖ e entenderam não ―Você tem cores fora, mas é revestido de cal por dentro‖, 
mas ―Você apresenta um discurso moderno e de centro-esquerda, mas é um reacionário‖. 
Observe que há duas operações diferentes no entendimento do texto. A primeira é a 
apreensão, que é a captação das relações que cada parte mantém com as outras no interior 
do texto. No entanto, ela não é suficientepara entender o sentido integral. Uma pessoa que 
conhecesse todas as palavras da frase acima, mas não conhecesse o universo dos 
discursos da campanha presidencial, não entenderia o significado da frase. Por isso, é 
preciso colocar o texto dentro do universo discursivo a que ele pertence e no interior do qual 
ganha sentido. Alguns teóricos chamam ―conhecimento de mundo‖ ao universo discursivo. 
Na frase acima, collorido e caiado não pertencem ao universo da pintura, mas da vida 
política: a primeira palavra refere-se a Collor e ao modo como ele se apresentava, um 
político moderno e inovador; a segunda diz respeito a Ronaldo Caiado, político conservador 
que o apoiava. A essa operação chamamos compreensão. 
 
Apreensão + Compreensão = Entendimento do texto 
 
Para ler e entender um texto é preciso atingir dois níveis de leitura: informativa e de 
reconhecimento. 
A primeira deve ser feita cuidadosamente por ser o primeiro contato com o texto, 
extraindo-se informações e se preparando para a leitura interpretativa. Durante a 
interpretação grife palavras-chave, passagens importantes; tente ligar uma palavra à ideia 
central de cada parágrafo. 
A última fase de interpretação concentra-se nas perguntas e opções de respostas. 
Marque palavras como não, exceto, respectivamente, etc., pois fazem diferença na escolha 
adequada. 
Retorne ao texto mesmo que pareça ser perda de tempo. Leia a frase anterior e 
posterior para ter ideia do sentido global proposto pelo autor. 
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias seletas e organizadas, através 
dos parágrafos que é composto pela ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a 
conclusão do texto. 
A alusão histórica serve para dividir o texto em pontos menores, tendo em vista os 
diversos enfoques. Convencionalmente, o parágrafo é indicado através da mudança de linha 
e um espaçamento da margem esquerda. 
Uma das partes bem distintas do parágrafo é o tópico frasal, ou seja, a ideia central 
extraída de maneira clara e resumida. 
Atentando-se para a ideia principal de cada parágrafo, asseguramos um caminho que 
nos levará à compreensão do texto. 
Produzir um texto é semelhante à arte de produzir um tecido. O fio deve ser trabalhado 
com muito cuidado para que o trabalho não se perca. O mesmo acontece com o texto. O ato 
de escrever toma de empréstimo uma série de palavras e expressões amarrando, 
conectando uma palavra uma oração, uma ideia à outra. O texto precisa ser coeso e 
coerente. 
 
Coesão 
 
É a amarração entre as várias partes do texto. Os principais elementos de coesão são 
os conectivos, vocábulos gramaticais, que estabelecem conexão entre palavras ou partes de 
uma frase. O texto deve ser organizado por nexos adequados, com sequência de ideias 
encadeadas logicamente, evitando frases e períodos desconexos. Para perceber a falta de 
coesão, a melhor atitude é ler atentamente o seu texto, procurando estabelecer as possíveis 
relações entre palavras que formam a oração e as orações que formam o período e, 
finalmente, entre os vários períodos que formam o texto. Um texto bem trabalhado sintática 
e semanticamente resultam num texto coeso. 
 
Coerência 
 
A coerência está diretamente ligada à possibilidade de estabelecer um sentido para o 
texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para quem lê, devendo, portanto, 
ser entendida, interpretada. Na avaliação da coerência será levada em conta o tipo de texto. 
Em um texto dissertativo, será avaliada a capacidade de relacionar os argumentos e de 
organizá-los de forma a extrair deles conclusões apropriadas; num texto narrativo, será 
avaliada sua capacidade de construir personagens e de relacionar ações e motivações. 
 
Tipos de Composição 
 
Descrição: é representar verbalmente um objeto, uma pessoa, um lugar, mediante a 
indicação de aspectos característicos, de pormenores individualizantes. Requer observação 
cuidadosa, para tornar aquilo que vai ser descrito um modelo inconfundível. Não se trata de 
enumerar uma série de elementos, mas de captar os traços capazes de transmitir uma 
impressão autêntica. Descrever é mais que apontar, é muito mais que fotografar. É pintar, é 
criar. Por isso, impõe-se o uso de palavras específicas, exatas. 
 
Narração: é um relato organizado de acontecimentos reais ou imaginários. São seus 
elementos constitutivos: personagens, circunstâncias, ação; o seu núcleo é o incidente, o 
episódio, e o que a distingue da descrição é a presença de personagens atuantes, que estão 
quase sempre em conflito. A narração envolve: 
- Quem? Personagem; 
- Quê? Fatos, enredo; 
- Quando? A época em que ocorreram os acontecimentos; 
- Onde? O lugar da ocorrência; 
- Como? O modo como se desenvolveram os acontecimentos; 
- Por quê? A causa dos acontecimentos; 
 
Dissertação: é apresentar ideias, analisá-las, é estabelecer um ponto de vista baseado 
em argumentos lógicos; é estabelecer relações de causa e efeito. Aqui não basta expor, 
narrar ou descrever, é necessário explanar e explicar. O raciocínio é que deve imperar neste 
tipo de composição, e quanto maior a fundamentação argumentativa, mais brilhante será o 
desempenho. 
 
Sentidos Próprio e Figurado 
 
Comumente afirma-se que certas ocorrências de discurso têm sentido próprio e sentido 
figurado. Geralmente os exemplos de tais ocorrências são metáforas. Assim, em ―Maria é 
uma flor‖ diz-se que ―flor‖ tem um sentido próprio e um sentido figurado. O sentido próprio é 
o mesmo do enunciado: ―parte do vegetal que gera a semente‖. O sentido figurado é o 
mesmo de ―Maria, mulher bela, etc.‖ O sentido próprio, na acepção tradicional não é próprio 
ao contexto, mas ao termo. 
O sentido tradicionalmente dito próprio sempre corresponde ao que definimos aqui 
como sentido imediato do enunciado. Além disso, alguns autores o julgam como sendo o 
sentido preferencial, o que comumente ocorre, mas nem sempre. 
O sentido dito figurado é o do enunciado que substitui a metáfora, e que em leitura 
imediata leva à mesma mensagem que se obtém pela decifração da metáfora. 
O conceito de sentido próprio nasce do mito da existência da leitura ingênua, que 
ocorre esporadicamente, é verdade, mas nunca mais que esporadicamente. 
Não há muito o que criticar na adoção dos conceitos de sentido próprio e sentido 
figurado, pois ela abre um caminho de abordagem do fenômeno da metáfora. O que é 
passível de crítica é a atribuição de status diferenciado para cada uma das categorias. 
Tradicionalmente o sentido próprio carrega uma conotação de sentido ―natural‖, sentido 
―primeiro‖. 
Invertendo a perspectiva, com os mesmos argumentos, poderíamos afirmar que 
―natural‖, ―primeiro‖ é o sentido figurado, afinal, é o sentido figurado que possibilita a correta 
interpretação do enunciado e não o sentido próprio. Se o sentido figurado é o ―verdadeiro‖ 
para o enunciado, por que não chamá-lo de ―natural‖, ―primeiro‖? 
Pela lógica da Retórica tradicional, essa inversão de perspectiva não é possível, pois o 
sentido figurado está impregnado de uma conotação desfavorável. O sentido figurado é visto 
como anormal e o sentido próprio, não. Ele carrega uma conotação positiva, logo, é natural, 
primeiro. 
A Retórica tradicional é impregnada de moralismo e estetização e até a geração de 
categorias se ressente disso. Essa tendência para atribuir status às categorias é uma 
constante do pensamento antigo, cuja índole era hierarquizante, sempre buscando uma 
estrutura piramidal para o conhecimento, o que se estende até hoje em algumas teorias 
modernas. 
Ainda hoje, apesar da imparcialidade típica e necessária ao conhecimento científico, 
vemos conotações de valor sendo atribuídas a categorias retóricas a partir de considerações 
totalmente externas a ela. Um exemplo: o retórico que tenha para si a convicção de que a 
qualidade de qualquer

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