Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Unidade I RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E AFRODESCENDÊNCIAAFRODESCENDÊNCIA Profa. Ms. Crislaine de Toledo Objetivos gerais da disciplina Caberá a disciplina Relações Étnico-raciais e Afro-descendência contribuir para: a formação de uma consciência crítica em relação às questões étnico-raciais no Brasil; o estudo das principais correntes teóricas brasileiras acerca do tema de africanidade e relações étnico-raciais; uma futura prática pedagógica de promoção da igualdade racial na escolapromoção da igualdade racial na escola e na comunidade. Para início de conversa... Pense nestas questões Negros e brancos são tratados igualmente em nossa sociedade? Negros e brancos possuem as mesmas oportunidades de acesso à educação, emprego, saúde e outros direitos sociais? Afinal, somos um povo racista ou não? Por que precisamos de uma Lei que afirme que “o racismo é crime inafiançável”?inafiançável ? E como podemos realizar uma educação das relações étnico-raciais? E então? Percebeu como questões complexas estão envolvidas com as relações étnico- raciais? 2011 – Ano Internacional dos Afrodescendentes pela ONU – Organização das Nações Unidas. Lei 10639/2003 – inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro- Brasileira”. Nossa disciplina já é um resultado de movimentos como esses! Então, vamos lá! Raça e etnia não são sinônimos! Raça: Construção social: tensas relações entre brancos e negros, muitas vezes simuladas como harmoniosas. Termo utilizado com frequência nas relações sociais brasileiras, para informar como determinadas características físicas, como cor de pele, tipo de cabelo, entre outras, influenciam, interferem e até mesmo determinam o destino e o lugar social dos sujeitos no interior dasocial dos sujeitos no interior da sociedade brasileira. (Brasil, Ministério da Educação) O conceito de raça: construção social, política e cultural Produzida no interior das relações sociais e de poder ao longo do processo histórico. Não significa, de forma alguma, um dado da natureza: contexto da cultura. Aprendemos a ser negros e brancos como diferentes na forma como somos educados e socializados a ponto dessas ditas diferenças serem introjetadas em nossa forma de ser e ver o outro, na nossa subjetividade, nas relações sociais mais amplas. (Nilma Bentes, apud Kabengele Munanga e Nilma Lino Gomes, 2006, p. 176) O conceito de etnia: principais aspectos da identidade étnica Atribuição categorial (Processo Sócio- Histórico): os atores identificam-se ou são identificados pelos outros (endógena ou exógena) Dimensão relacional e de fronteira (Processo Político) : implica a(Processo Político) : implica a dicotomização nós/ eles Origem comum (Processo Simbólico): necessidade dos atores de demonstrarem uma ancestralidade com o seu grupo étnico, através de símbolos identitários, Realce ou saliência (Processo Dinâmico): possibilidade dos sujeitos se posicionarem conforme a situação de interação social na qual se encontram. Interatividade Todas as alternativas condizem com os conceitos de raça e etnia estudados, exceto: a) O termo raça costuma ser indevidamente utilizado para designar unicamente características físicas e biológicas das pessoaspessoas. b) O conceito de raça deve ser compreendido no interior das relações sociais e processos históricos. c) A identificação étnica é um processo social dado por atribuição categorial dos sujeitosdado por atribuição categorial dos sujeitos envolvidos. d) Os conceitos de raça e etnia são sinônimos. e) Etnia é um grupo possuidor de algum grau de coerência e solidariedade. O racismo científico Doutrina científica que sustentou ideologicamente durante os séculos XIX e XX as políticas racistas e de exclusão comandadas pelos europeus: Naturalização: redução do cultural ao biológico Determinismos: Status social explicado por características naturais Justificação: missão justificadora das diferenças sociais, a fim de esconder suas causas reais e as relações de poder Hierarquização: diferenças entre as raças colocam as pessoas naturalmente umas superiores às outras O racismo à brasileira História do Brasil: sociedade hierarquizada e autoritária Heranças do Brasil colonial: brancos como colonizadores; índios como população original; negros como escravos Processo de estigmatização das raças na construção da identidade nacional A mistura de raças no Brasil era vista como um elemento negativo quecomo um elemento negativo que explicaria, inclusive, o porquê de nossas mazelas sociais, de nosso fracasso político e de nossa dependência econômica O mito da democracia racial no Brasil 1933 – publicação do livro “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freire A partir de então, o racismo no Brasil toma outra configuração: bases para a construção do mito da democracia racial Miscigenação: ganha contornos positivos, com ênfase nas qualidades do povo brasileiro miscigenado e mestiço Suposta “convivência harmoniosa” entre as três raças: força e estatuto de umaas três raças: força e estatuto de uma ideologia dominante Cordialidade: outro mito, o brasileiro como “homem cordial” O “jeitinho brasileiro” Roberto DaMatta é o primeiro autor a definir esse conceito na formação da identidade brasileira “Homem cordial”: atos pautados pelas emoções e não pela razão Informalidade nas relações sociais Informalidade nas relações sociais, contrariando a atitude formalista, respeitadora e zelosa perante a Lei Falta de limites entre o público e o privado (o que gera atitudes próximas ao que se denominou “o jeitinho brasileiro”).q j ) O “jeitinho brasileiro”: para resolver nossos conflitos com a lei, sempre buscamos uma via intermediária, uma solução “mais ou menos”, portanto, um “jeitinho”... Afinal, o que é o racismo? Biologicamente, não existem “raças”, somos uma só raça humana! Raça é um conceito político O racismo pressupõe: Hierarquização Hierarquização Inferiorização Preconceito Discriminação Desigualdade Desigualdade Interatividade A respeito do racismo no Brasil, podemos afirmar que: a) As concepções científicas europeias a respeito de raça não influenciaram as relações étnico-raciais no Brasil. b) No Brasil não há racismo, aqui todos são tratados igualmente, independente de cor, raça, origem, sexo, classe social etc. c) Foi a cordialidade do nosso povo que fez diminuir o racismo entre nós, brasileiros. d) O i B il é l dd) O racismo no Brasil é velado e se mostra nas relações cotidianas e interpessoais. e) Todas as afirmações estão corretas. A Condição dos Afrodescendentes na Sociedade Brasileira Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): Censos: a cada 10 anos, levantamento completo sobre cada família brasileira PNAD (Pesquisa Nacional por AmostraPNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios): anualmente, seleciona apenas uma amostra dos domicílios brasileiros para um levantamento parcial Ambos trazem uma visão bastante representativa de nosso país e sãorepresentativa de nosso país e são importantes recursos para que sejam elaboradas políticas públicas que encontrem as melhores soluções para nossos principais problemas sociais A Condição dos Afrodescendentes na Sociedade Brasileira Dados do IBGE: Auto-denominação de cor/raça nos levantamentos censitários brasileiros, o próprio entrevistado escolhe entre branco, preto, pardo, amarelo ou indígena. São considerados negros os entrevistadosqueconsiderados negros os entrevistados que se denominam como pretos e pardos Pelos dados preliminares do Censo 2010, já somos mais de 190 milhões de brasileiros Entretanto, quando o assunto é aEntretanto, quando o assunto é a igualdade social entre brancos e negros, os números são bastante desoladores e o país ainda precisa melhorar muito em distribuição equitativa de direitos e oportunidades. Distribuição racial brasileira 48,3 44,0 48,2 44,2 30 0 40,0 50,0 60,0 Distribuição racial brasileira 2008 - 2009 (porcentagem) 2008 6,8 0,8 6,9 0,7 0,0 10,0 20,0 30,02009 Fonte: PNAD Distribuição racial brasileira As diferenças regionais Distribuição racial por região brasileira - 2009 (porcentagem) 78,5 56,748,2 50,6 71,2 34 6 62,7 60,0 80,0 100,0 28,8 8,1 41,7 23,6 6,9 3,6 7,7 6,7 4,7 44,2 17,3 34,6 0,7 0,7 0,9 0,9 0,4 0,30,0 20,0 40,0 Brasil Sul Sudeste Centro- Oeste Norte Nordeste Brancos Pretos Pardos Amarelos e indígenas Fonte: Pnad Desenvolvimento econômico: distribuição do PIB por regiões Desigualdades no mercado de trabalho: salário e oportunidades diferentes Rendimento-hora do trabalho principal das pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, com rendimento de trabalho, por cor ou raça, segundo os grupos de anos de estudo – Brasil - 2008 R$ 17,30 Total Até 4 anos 5 a 8 anos 9 a 11 anos 12 anos 8,30 4,70 4,40 3,30 5,10 3,70 6,50 5,00 11,80 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008 Total Até 4 anos 5 a 8 anos 9 a 11 anos 12 anos ou mais Distribuição de renda: o fosso social no Brasil Distribuição do rendimento familiar per capita segundo cor/ raça 28 7 82,588,4 62,9 64,8 60 80 100 28,7 1,1 1,8 8 25,4 9,48 14,2 0 20 40 Entre 1% mais ricos (1999) Entre 1% mais ricos (2009) Entre 10% mais pobres (1999) Entre 10% mais pobres (2009) Branca Preta Parda Fonte: Portal G1 Desigualdade racial no sistema educacional Acesso restrito ao ensino superior Proporção das pessoas de 25 anos ou mais de idade com ensino superior concluído, por cor ou raça, nas regiões Nordeste e Sudeste – 1998/2008 % 11,2 14,3 16,2 Preta ou PardaBranca 9,7 7,7 11,2 10,2 2,2 1,7 2,5 4,7 3,8 5,0 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1998/2008. Nota: Inclusive graduação, mestrado e doutorado. (1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. Quanto mais estudo, maior a renda Rendimento-hora do trabalho principal das pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, com rendimento de trabalho, por cor ou raça, segundo os grupos de anos de estudo – Brasil - 2008 R$ 17,30 Total Até 4 anos 5 a 8 anos 9 a 11 anos 12 anos 8,30 4,70 4,40 3,30 5,10 3,70 6,50 5,00 11,80 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008 Total Até 4 anos 5 a 8 anos 9 a 11 anos 12 anos ou mais A questão de gênero e a condição feminina da mulher negra População negra no Brasil: tripla desigualdade – social, econômica e racial Mulher negra: experimentam situações de exclusão, marginalidade e/ou discriminação socioeconômica maiores que as mulheres brancas e que os homens bancos e negros Em todas as estatísticas, a mulher negra é aquela que ocupa os piores lugares, desempenha as atividades mais desvalorizadas socialmente, recebe os piores tratamentos etc. A saúde das mulheres negras Em 1993, o risco relativo de morte de mulheres foi 7,4 vezes maior nas pretas, quando comparadas com as brancas. Ainda neste estudo, na população de mulheres negras, apenas 2,2% eram pretas, porém 8,2% dos óbitos maternos foram destas. Quanto mais pobre, piores as condições de vida, menor o acesso aos serviços de saúde, bem como ao pré-natal, consequentemente maior o risco de doenças durante a gravidez e, portanto, maior a incidência de mortalidade materna. Famílias negras são quase 70% das populações moradoras em favelas Fonte: PINHEIRO, Luana. [et al]. Retrato das Desigualdades de gênero e raça. 3. ed. Brasília: Ipea; SPM; UNIFEM, 2008, p. 28. Entre as empregadas domésticas, as mulheres negras são maioria Pop lação das m lheres de cor o raça pretaPopulação das mulheres de cor ou raça preta e parda na população total e das mulheres de cor ou raça preta e parda na categoria de trabalhadoras domésticas, segundo as Grandes Regiões - 2008 % Mulheres de cor ou raça preta e parda na população total Mulheres de cor ou raça preta e parda na categoria de trabalhadoras domésticas Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008 Interatividade A partir da análise dos dados do IBGE apresentados, assinale a alternativa correta: a) Os dados do IBGE não mostram nenhuma correspondência entre população, pobreza e cor/raça no Brasil. b) As mulheres negras são mais excluídasb) As mulheres negras são mais excluídas social e economicamente em relação às mulheres brancas e aos homens brancos e negros. c) Os negros são maioria entre a população mais rica do país. d) Depois da abolição da escravidão, o negro deixou de ser vítima de discriminação no Brasil. e) No Brasil, vivemos a igualdade e a democracia racial. Movimentos Sociais e Ações Afirmativas: é possível acelerar o processo de mudança? Após tantos dados comprovando a condição desfavorável em que se encontram os negros na sociedade brasileira, você deve estar se perguntando: mas, afinal, será possível reverter esse processo perverso?reverter esse processo perverso? Pois a nossa tese é: sim, isso é possível! Vamos apresentar algumas dessas possibilidades, partindo dos movimentos negros que atualmente lutam contra o racismo e por uma outra condição afrodescendente, passando à definição sobre ações afirmativas e suas principais implicações. “Explicações” ou “motivos” para a escravização e condição do negro “Durante o processo de colonização do Brasil feita pelos portugueses, a escravização do negro foi ‘preferível’ à do índio, pois o negro sempre fora mais ‘passivo’, ‘aceitando’ de forma mais mansa a sua própria escravização!”mansa a sua própria escravização!” “O negro, por ser mais ‘preguiçoso’, se acomodava à sua condição de escravo, o que fez com que permanecesse nela por quase 400 anos!” “Os negros estão na situação em que estão hoje porque querem, porque não têm ‘competência’ para ‘conquistar’ o que os brancos conquistaram!” Argumentos esdrúxulos! Perdoem o excesso de pontos de exclamação, mas não pudemos deixar de expressar nossa indignação diante de tais explicações tão esdrúxulas, mas que infelizmente todos nós já ouvimos pelo menos uma delas uma vez na vida!menos uma delas uma vez na vida! História da resistência negra propositalmente esquecida pelos historiadores Inúmeras organizações negras nunca citados nos livros de História do Brasil Desigualdades como reflexo de uma sociedade desigual, aristocrática e racista na qual vivemos O papel do movimento negro contemporâneo na luta contra as desigualdades raciais no Brasil Promoção de uma outra condição do afrodescendente Tomada de consciência da importância dessas questões Implantação de ações afirmativasImplantação de ações afirmativas Resultado de um longo processo histórico – período pré-abolicionista (séculos XVI ao XIX) Os negros de fato nunca foram “passivos” “pacíficos” oupassivos , pacíficos ou “acomodados”. A importância dos quilombos Importante demonstração de que os negros pretendiamconstruir no Brasil um outro modelo de associação entre os homens: aberta a todos que pudesse desmontar a estruturaque pudesse desmontar a estrutura escravocrata Implantação de “uma outra forma de vida, uma outra estrutura política na qual se encontraram todos os tipos de oprimidos”oprimidos (MUNANGA, Kabengele; GOMES, Nilma Lino. O Negro no Brasil de Hoje. São Paulo: Global, 2006, p. 71) Movimentos negros pós-abolição 1888 – Lei Áurea Desigualdades sociais entre brancos e negros continuaram a existir, mesmo após a “libertação” dos escravos Libertação “na força da lei” – efeitosLibertação na força da lei efeitos diretos na continuidade da condição do negro “Longo e árduo processo de construção de igualdade e de acesso aos diversos setores sociais”setores sociais (Munanga e Gomes, 2006, p. 107) A realidade após a Lei 10639/2003 As crianças precisam aprender uma outra História do Brasil Esta Lei torna obrigatório que a perspectiva africana e afro-brasileira seja considerada no ensino de História Apagar o estigma do negro apenas como “escravo”: é preciso ensinar esse outro lado da história! Após a Lei, grande incentivo à produção de material didático e pedagógico sobrede material didático e pedagógico sobre a História da África e dos negros no Brasil Façam uma pesquisa e confiram! Principais consequências do movimento negro Legislação Penal, que pune todo ato discriminatório, considerando o racismo como “crime inafiançável” Ações Afirmativas, que visam promover a igualdade de oportunidades a grupos desfavorecidos socialmente Mas o que buscam as ações afirmativas? Uma “reparação” às perdas de oportunidades vividas pelos negros em consequência de políticas segregacionais Uma “aceleração” na lentidão histórica para a inclusão social a curto prazo dessa população, bem como a ascensão de minorias étnicas, raciais e sexuais Seria, portanto, “remediar” uma situação socialmente indesejável? Medida paliativa, transitória e, portanto, temporária Por que as ações afirmativas são realmente necessárias? Acelerar um processo histórico Combater a “inércia histórica” Assumir o “racismo institucional” presente no sistema social Desmontar o “mito da democracia racial” Desmontar o “mito da democracia racial” Promover uma “discriminação positiva” - facilidade temporária para um acesso mais rápido aos direitos sociais básicos que lhes foram por tanto tempo sistematicamente negadossistematicamente negados A polêmica das cotas para negros nas empresas e universidades – sugerimos que aprofundem suas pesquisas sobre esse assunto tão importante Interatividade O movimento negro foi e continua sendo um elemento essencial na conquista e garantia de direitos fundamentais a essa população. Sobre esse assunto, assinale a alternativa incorreta: a) A principal consequência do movimento negro tem sido a implantação de ações afirmativas.p ç ç b) Os quilombos podem ser considerados a maior expressão da resistência negra na História do Brasil. c) A história da resistência negra foi propositalmente esquecida pelos historiadores e e cl ídas dos li ros escolarese excluídas dos livros escolares. d) No Brasil, o racismo é considerado crime inafiançável pela Legislação vigente. e) Não houve movimentos negros no Brasil até a abolição da escravidão, em 1888. ATÉ A PRÓXIMA!
Compartilhar