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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA QUÍMICA RUBENS MATHEUS SANTOS PRODUÇÃO DE VINHOS SÃO LUÍS - MA 2017 RUBENS MATHEUS SANTOS PRODUÇÃO DE VINHOS Trabalho apresentado à disciplina de Laboratório de Química Industrial como parte dos requisitos necessários para a obtenção da nota. Professor: Arão Filho Disciplina: Laboratório de Química Industrial SÃO LUÍS 2017 SUMÁRIO 1. Introdução ............................................................................................................................................ 01 2. Histórico do vinho nas civilizações antigas ..................................................................... 02 3. Histórco do vinho no Brasil ........................................................................................................ 03 4. Matéria-prima no processamento do vinho ...................................................................... 04 4.1. Principais uvas tintas comuns ......................................................................................... 05 4.2. Principais uvas tintas viníferas nobres……… ......................................................... 06 5. Classificação e tipos de vinhos ...................................................................................................... 06 5.1. Classes ...................................................................................................................................... 06 5.1.1. Vinhos de mesa ...................................................................................................................... 06 5.1.2. Leves ........................................................................................................................................... 07 5.1.3. Champanha ............................................................................................................................. 07 5.1.4. Vinhos licorosos ...................................................................................................................... 07 5.1.5. Composto ................................................................................................................................... 07 5.2. Teor de açúcar ........................................................................................................................ 07 5.2.1. Vinhos secos ........................................................................................................................... 07 5.2.2. Vinhos doces ........................................................................................................................... 08 5.2.3. Vinho suave ............................................................................................................................ 08 5.3. Quanto à cor ............................................................................................................................ 08 5.3.1. Tinto ............................................................................................................................................. 08 5.3.2. Rosado ........................................................................................................................................ 08 5.3.3. Branco ......................................................................................................................................... 08 6. Etapas do processamento do vinho ............................................................................................ 08 6.1. Vindima ..................................................................................................................................... 08 6.2. Recepção .................................................................................................................................. 09 6.3. Pesagem.................................................................................................................................... 09 6.4. Desengace................................................................................................................................ 09 6.5. Esmagamento ......................................................................................................................... 09 6.6. Sulfitagem do mosto ............................................................................................................ 10 6.7. Fermentação alcoólica ........................................................................................................ 10 6.8. Remontagem .......................................................................................................................... 11 6.9. Fermentação malolática ..................................................................................................... 12 6.10. Sulfitagem do vinho ............................................................................................ 12 6.11. Trasfegas ............................................................................................................. 13 6.12. Envelhecimento em barris ................................................................................. 13 6.13. Tratamento a frio ................................................................................................. 13 6.14. Clarificação .......................................................................................................... 14 6.15. Filtração ............................................................................................................... 14 6.16. Engarrafamento ....................................................................................... 14 6.17. Envelhecimento ........................................................................................ 14 7. Doenças e conservação .........................................................................................17 7.1. Alterações causadas por leveduras ......................................................... 17 7.1.1. Refermentação ......................................................................................... 17 7.1.2. Flor ........................................................................................................... 18 7.1.3. Produção de fenóis voláteis ...............................................................................18 7.2. Alterações causadas por bactérias ..................................................................19 7.2.1. Azedia ................................................................................................................... 19 7.2.2. Pico lático .............................................................................................................. 19 7.2.3. Manite ou agri-doce ............................................................................................. 20 7.2.4. Gordura .................................................................................................................20 7.2.5. Volta .......................................................................................................................21 7.2.6. Amargo ..................................................................................................................21Referências bibliográficas .....................................................................................................23 1. INTRODUÇÃO Entre as bebidas fermentadas, o vinho é a que apresenta maior valor cultural, além de ser a que mais valoriza a origem geográfica, isto é, o local onde é produzida a uva e elaborado o vinho. Vinho é a bebida obtida a partir da fermentação alcoólica parcial ou total do mosto da uva, com uma graduação alcoólica mínima de 8,5% v/v. Trata-se de uma das bebidas fermentadas mais antigas e que apresenta elevado valor cultural, por causa de a sua identidade com o clima e o solo e, até mesmo, com a população da região de onde provém. Geralmente, o vinho acompanha as refeições, conferindo sabor especial aos alimentos e valorizando o ambiente. O vinho, de modo geral, é elaborado com uvas maduras, frescas, sadias e isentas de resíduos de pesticidas e de metais pesados provenientes do material de contato durante o armazenamento e o transporte. No entanto, alguns vinhos especiais são elaborados com uvas atacadas pela Botrytis cinerea, agente responsável pelo dessecamento do grão, fenômeno conhecido como podridão nobre. Além disso, é fundamental processar a uva o mais rapidamente possível depois da colheita, de modo que não sofra nenhum processo de esmagamento e início de fermentação alcoólica, aspectos muito prejudiciais à qualidade do vinho. No setor vitivinícola brasileiro, predomina ainda uma estrutura em que muitas famílias de pequenos produtores rurais atendem à demanda de matéria-prima das agroindústrias instaladas, para a elaboração de vinhos e de suco de uva e outros derivados. Uma forma de promover o desenvolvimento equilibrado e seguro do setor é incentivar o surgimento de pequenas cantinas elaboradoras de vinho com sua própria produção. No entanto, em virtude do desconhecimento das boas práticas de elaboração de muitos produtores, o vinho tinto é feito sem os cuidados necessários, o que compromete a qualidade do produto final. A legislação brasileira classifica os vinhos em duas grandes categorias, que são os finos, elaborados com cultivares da espécie Vitis vinifera, ou das videiras européias, em que se destacam a Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot. E os vinhos de mesa ou comuns, elaborados com uvas do grupo das americanas pertencentes, principalmente, à espécie Vitis labrusca, como é o caso das cultivares Isabel e Bordô. 1 2. HISTÓRICO DO VINHO NAS CIVILIZAÇÕES ANTIGAS As origens do vinho são tantas que uma das coisas que podemos afirmar é que muitas vezes, a história do vinho se confunde com a história da própria humanidade. A bebida esteve presente na vida do homem desde as primeiras civilizações. Há seis mil anos atrás, os sumérios, civilização da região sul da Mesopotâmia, simbolizavam a existência humana com uma folha de videira, enquanto que os assírios podem ser vistos representados em cenas de banquetes onde os escravos serviam os vinhos em taças bem cheias aos mais nobres. Outro relato sobre a existência do vinho é a descrição no Antigo Testamento que atribui a Noé o primeiro plantio de uma vinha, considerando assim a videira “um dos bens mais preciosos do homem” e exaltando o vinho que “alegra o coração dos mortais”. Alguns hieróglifos egípcios que datam de 2500 aC já descrevem vários tipos de vinho. No antigo Egito, a prática de vinificação era tão consolidada que no funeral do rei Tutancâmon (1339 aC), o vinho foi levado em vasos antigos geralmente de forma ovoide, conhecidos com ânforas, e que mostravam a área de origem, a safra do vinho e o produtor. Do Egito, a prática de fazer o vinho se espalhou entre os judeus, os árabes e gregos. Estes últimos dedicaram o vinho a um Deus chamado Dionisio, conhecido na religião romana como Deus Bacco. Não há como negar a importância dos gregos na difusão do vinho na Antiguidade. A aplicação da resina em seus vinhos e ânforas mais resistentes contribuíram na conservação da bebida para atravessar longas jornadas e chegar a outras partes do mundo. Contemporaneamente, no coração do Mediterrâneo, a videira iniciou a sua viagem da Sicília (colônia grega) para toda a Europa, espalhando-se em primeiro lugar entre os sabinos e, em seguida, os etruscos que se tornaram cultivadores e fabricantes qualificados de vinho, expandindo o cultivo de uvas da região da Campania (Sul da Itália) até o “Vale del Po” (norte da Itália). Eram muitos os vinhos produzidos na bacia do Mediterrâneo, particularmente na Itália: branco, tinto, seco, doce, baixo e alto teor de álcool. No mundo romano as uvas eram colhidas e colocadas em um tanque (vinaria lacus), uma vez que o tanque estivesse cheio procedia-se à “piggiatura” ato de pisar as uvas. Depois deste procedimento era esperado que o mosto (suco da uva) se separasse do bagaço. 2 Figura 1 - Pintura ilustrando a fabricação de vinho no Egito antigo. O mosto era colocado em outro tanque e o bagaço levado para ser ainda mais espremido, então nesse segundo tanque era novamente adicionado esse ocorrendo assim o que eles chamavam de fermentação tumultuosa. Depois de sete, oito dias essa mistura era colocada em grandes recipientes de barro, conhecidos como ”doli” e eram enterrados para concluírem o processo da fermentação. Já alguns enólogos dizem que a bebida surgiu por acaso, talvez por um punhado de uvas amassadas esquecidas num recipiente, que sofreram posteriormente os efeitos da fermentação. 3. HISTÓRICO DO VINHO NO BRASIL A história do vinho no Brasil se inicia em 1532, com a chegada do governador Martin Afonso de Souza, quando Brás Cubas planta as primeiras vinhas na capitania de São Vicente, com resultados desanimadores devido ao clima quente e úmido. Nessa época, e por muito tempo, apenas o vinho importado da Europa, principalmente de Portugal e França, foi aqui consumido. Apenas no final do século XVIII froam Introduzidas as primeiras videiras americanas, que se mostraram muito produtivas e bem adaptadas, determinando um padrão de produção e consumo local de vinhos que perdura até hoje. Entre 1870 e 1875 teve início a colonização italiana na Serra Gaúcha, instalando-se uma colônia com hábitos ligados ao vinho, que inicialmente elaborou vinhos de mesa para consumo próprio e em seguida avançou produzindo para o consumo de toda a região sul. 3 Figura 2 - Vinho brasileiro Apenas em 1970 , com a chegada ao Brasil das primeiras multinacionais do vinho, foram implantados vinhedos de uvas viníferas, sendo esta a data de início da vinicultura fina em nosso país. Apesar dos investimentos e do trabalho, os resultados não foram de grande qualidade, pois as técnicas de cuidado com os vinhedos europeus em nosso território tiveram de ser desenvolvidas ao longo do tempo. Nos anos 80 ocorreu um grande desenvolvimento tecnológico, com melhoria de vinhedos e técnicas de cultivo, e muito progresso em técnicas modernas de vinificação. Na década de 90, com os investimentos em tecnologia já consolidados, tem início uma busca de qualidade e ao mesmo tempo se nota uma popularização do consumo. Mais e mais vinícolas abandonam a produção de brancos e se dedicam aos espumantes, que se mostram competitivos em qualidade e preço, capitaneando um renascimento na cansada indústria nacional. A virada do século assistiu à consolidação dos novos investimentos em vinhedos e em tecnologia de elaboraçãode vinhos tintos, com a reputada safra de 1999 apresentando diversos vinhos de qualidade jamais vista em nossa vinicultura. De 2000 em diante esse progresso não parou mais, com mais e mais vinícolas apresentando produtos de alta qualidade, mas nem sempre de preço popular. Diversos empresários de outros setores têm investido na produção de vinhos de alto nível, objetivando um mercado de exportação onde a presença brasileira tida como exótica vem crescendo em volume e prestígio. 4. MATERIA-PRIMA NO PROCESSAMENTO DE VINHOS A uva, usada como matéria-prima do vinho, é fruto da vinha (ou videira). Cada espécie de vinha possui variedades nomeadas cepas ou castas. As uvas que 4 Figura 3 – Variedades de uvas de vinho produzem os melhores vinhos são da espécie vitis vinífera, de origem européia, que possui diferentes castas como a Cabernet Sauvignon, a Merlot e a Chardonnay. Existem aproximadamente três mil variedades de uvas viníferas, entre as quais 150 são plantadas comercialmente, ou seja, em maior quantidade. As espécies americanas não são muito apropriadas para a fabricação do vinho e são mais consumidas como frutas de mesa. Algumas uvas são destinadas à produção de vinho tinto, enquanto outras são ideais para os vinhos brancos. A Cabernet Sauvignon, por exemplo, é uma das mais clássicas e usadas na produção do tinto, sendo responsável pelos melhores rótulos do planeta. Já a Merlot é mais suave, com um paladar mais macio e aroma mais frutado. Quando colhida com a maturação certa, pode até desenvolver um aroma de chocolate e frutas vermelhas. A Chardonnay, por exemplo, está entre as uvas mais usadas na fabricação do vinho branco e também é um ingrediente importante na produção do champagne. 4.1. Principais uvas tintas comuns Isabel - uva tinta produzida no Brasil, famosa por seu gosto e aroma característico chamado " foxê". Resulta num vinho de cor intensa. Concord - Uva tinta reconhecida como a melhor para fazer suco de uva. 5 4.2. Principais uvas tintas viníferas nobres Cabernet Sauvignon - Uva tinta resistente a podridão e de produtividade média. Produz os vinho s de maior longevidade, robustez e estrutura. É a principal variedade do afamado Château-Margaux Cabernet Franc - Este foi o primeiro varietal conhecido pelo consumidor, produz em condições normais um vinho tinto refinado, relativamente ligeiro e elegante. Em safras com pouca chuvas, produz um vinho extraordinário , nobre, complexo, com estrutura e muita personalidade. Merlot - variedade tinta menos popular, produz um vinho de guarda de excelente qualidade. Em safras menos chuvosas produz um vinho encorpado, robusto, de buquê intenso e gosto aveludado e harmônico. Esta variedade é a base para o vinho Château-Pétrus, um dos mais valorizados vinhos do mundo. Pinot Noir - Uva tinta originária da Borgonha francesa, de baixa produção e sensível aos excessos de umidade, adapta-se somente a algumas regiões. Variedade precoce que amadurece no início de mês de janeiro e com potencial para produzir vinhos tintos para consumo rápido. 5. CLASSIFICAÇÃO E TIPOS DE VINHOS No Brasil, os vinhos são classificados quanto a sua classe, teor de açúcar e cor. Cada uma dessas combinações resulta em um tipo de vinho diferente 5.1. Classes 5.1.1. Vinhos de mesa: Esta classe abriga a maior parte dos vinhos produzidos no mundo e seus rótulos são resultados da fermentação alcoólica da uva fresca e madura. Seguindo a legislação brasileira, o teor alcoólico desses vinhos deve ser entre 8,6% e 14%. Os vinhos de mesa classificados como doce ou muito doce (de acordo com o teor de açúcar) são excelentes acompanhamentos para a sobremesa. É o vinho com graduação alcoólica de 10° a 13° GL. Classificam-se em: 6 Vinhos Finos ou Nobres: Os vinhos produzidos somente de uvas viníferas. Vinhos Especiais: Os vinhos mistos produzidos de uvas viníferas e uvas híbridas ou americanas. Vinhos Comuns: São os vinhos com características predominantes de variedades híbridas ou americanas. Vinhos Frisantes ou Gaseificados: São os vinhos de mesa com gaseificação mínima de 0,5 atmosferas e máxima de 2 atmosferas 5.1.2. Leves: Estes vinhos têm seu teor alcoólico entre 7% e 8,5% e são obtidos através da fermentação dos açúcares presentes nas uvas. No Brasil não são produzidos muitos exemplares devido ao baixo teor alcoólico desta categoria. Um bom exemplo de vinhos que costumam entrar nesta classificação são os vinhos alemães. 5.1.3. Champanha: É o vinho espumante, cujo Anidrido Carbônico seja resultante unicamente de uma segunda fermentação alcoólica de vinho com graduação alcoólica de 10° a 13° G.L. 5.1.4. Vinhos licorosos: Aquele tipo de vinho que recebe aguardente em seu processo de produção e por isso se torna mais alcoólico. Seus níveis de teor alcoólico variam de 14% a 18% aqui no Brasil. Por este motivo, são chamados de “fortified wine” (em inglês), ou vinhos fortificados. Por conta da quantidade de álcool presente em sua composição, este tipo de vinho geralmente é servido como aperitivo no caso dos secos e meio secos, ou digestivos no caso dos doces ou muito doces. 5.1.5. Composto: É bebida com graduação alcoólica de 15° a 18° G.L., obtida pela adição ao vinho de macerados e/ou concentrados de plantas amargas ou aromáticas, substâncias de origem animal ou mineral, álcool etílico potável e açúcares. São o vermute, o quinado, o gemado, a jurubeba, a ferroquina e outros. 5.2. Teor de açúcar 5.2.1. Vinhos secos: São elaborados com uvas nobres, como a Cabernet Sauvignon e o açúcar presente no vinho provém naturalmente da uva. Estes chegam a ter até 5 gramas de açúcar por litro. 7 Figura 4 – Variedades de vinhos. 5.2.2. Vinhos doces: Os vinhos que tem teor de açúcar entre 5 e 20 gramas por litro. Ainda sem adição de açúcar, mas produzidos a partir de uvas que tiveram sua colheita tardia, provocando um aumento em sua doçura. 5.2.3. Vinho suave: Estes vinhos são os mais doces porque em seu processo de produção é adicionado açúcar a parte. Estes são produzidos com uvas comuns e não apresentam aquele grande leque de aromas que somente os peritos em vinhos podem sentir. O teor de açúcar destes vinhos ultrapassa 20 gramas por litro. 5.3. Quanto a Cor 5.3.1. Tinto: Elaborado a partir de variedades de uvas tintas. A diferença de tonalidade depende de tipo de fruto e maturidade. 5.3.2. Rosado: Produzido de uvas tintas, porém após breve contato, as cascas que dão a pigmentação ao vinho são separadas. Obtém-se também um vinho rosado pelo corte, isto é, pela mistura, de um vinho branco com um vinho tinto. 5.3.3. Branco: Produzido a partir de uvas brancas ou tintas, a fermentação é feita com a ausência das cascas. 6. ETAPAS DO PROCESSAMENTO DO VINHO 6.1. Vindima A elaboração do vinho se inicia com a vindima, a qual é a operação da colheita de uva para a vinificação, e a qualidade do mesmo depende essencialmente da qualidade da matéria-prima, tanto no seu aspecto de variedade bem como no estado de sanidade e maturação. Para que as uvas cheguem ao local de fabricação sãs e maduras deve-se ter alguns cuidados: Transportar de forma a evitar o esmagamento das mesmas (oxidação e maceração prejudiciais a qualidade do vinho; e o mosto resultante do 8 esmagamento entraantecipadamente em fermentação), ou seja, vários recipientes com pouca quantidade em cada (caixas de colheita); Transporte rápido; Ser processada logo que chegar ao ambiente onde será produzido. Deve-se ter também cuidado quanto ao grau de maturação das uvas. Nos últimos dias de amadurecimento o grão de uva sofre um aumento quanto à quantidade de açúcares e redução dos ácidos, isto ocorre devido a salificação dos ácidos orgânicos e combustão intracelular. A determinação da concentração de açúcar é feita com auxílio de um refractómetro manual ou densímetro. Ao mesmo tempo que se faz uma escolha das uvas sãs e das uvas de má qualidade, devem despojar-se os cachos de folhas, terra, pós de enxofre, entre outros. 6.2. Recepção Neste processo é importante que sejam mantidas as condições higiénicas adequadas nos tanques de recebimento das uvas e deve efetuar um registo de dados relativo ao peso, data, hora, fornecedor, região da colheita, tipo de uva e conteúdo de açúcares. 6.3. Pesagem Ao chegarem ao local onde as uvas vão ser processadas faz-se uma pesagem das mesmas, anotando todos os dados obtidos. 6.4. Desengace O desengaçar tem por fim separar o engaço dos bagos antes de entrarem no recipiente de fermentação, visto que estes trazem um sabor desagradável. A principal ação do engace reside na sua influência sobre a temperatura de fermentação e sobre a acidez do mosto. 6.5. Esmagamento A etapa de esmagamento refere-se ao processo de trituração de uvas, resultando na libertação de mosto pela ruptura das películas, pois sem esta operação, a fermentação não se iniciaria. As uvas quando intactas não fermentam. 9 6.6. Sulfitagem do mosto O anidrido sulfuroso ou dióxido de enxofre é, há muito tempo empregado como desinfetante. O enxofre é acrescentado ao mosto antes de sua fermentação, com algumas finalidades: Inibir crescimento de bactéria e leveduras indesejáveis; Antioxidante protege o mosto do ar ; Efeito seletivo da flora microbiana. O enxofre inibe o crescimento das leveduras não produtoras de álcool, deixando o campo aberto para as produtoras de álcool; Facilita a dissolução das matérias corantes, permitindo obter vinhos mais coloridos; Ativação da reação de transformação do açúcar em álcool e dióxido de carbono, quando empregado em doses baixas, favorecendo a produção de um vinho com maior teor alcoólico e com menos açúcar. 6.7. Fermentação alcoólica A fermentação é a parte mais complexa e importante do processo de fabricação do vinho. Nesta etapa, é necessário um controle rígido da temperatura, bem como a presença correta de microrganismos responsáveis pela fermentação. Dentre eles, o mais comum é uma levedura, a Saccharomyces cerevisae, e o controle da temperatura é fundamental para o crescimento e cultura dos fungos, não devendo exceder os 25 a 30 °C. O contato com o ar deve ser evitado, pois ocorreria a oxidação do vinho, bem como também poderia ocorrer parada de fermentação, uma vez que, quando as leveduras possuem oxigênio disponível, podem respirar ao invés de fermentar. No processo de fermentação alcoólica de açúcares, os principais produtos, álcool etílico e gás carbônico, são produzidos em proporções equimolares, conforme a equação de Gay-Lussac: C6H12O6 → 2 CH3CH2OH + 2 CO2 + 33 calorias Entretanto, a molécula da glicose passa em processo anaeróbio através de doze etapas intermediárias, antes de ser transformada em etanol e gás carbônico. Ao lado de etanol e gás carbônico, formam acetaldeído, glicerol, butil-2,3-enoglicol, ácido lático, ácido succínico, ácido cítrico, como produtos resultantes, os quais contribuem para o sabor e o aroma do vinho. Os ésteres, como o acetato de etila, 10 são também formados pela esterificação de ácidos orgânicos fixos, como os ácidos tartárico e málico, também catalisados pelas enzimas de levedura. 6.8. Remontagem A aeração é necessária para a multiplicação de leveduras. Normalmente os processos de esmagqamento, desengaçamento de uva e o bombeamento do mosto na cuba de fermentação exercem a aeração necessária. As leveduras se multiplicam vigorosamente noosto até que a maior parte do oxigênio dissolvido seja consumido e então fermentam os açúcares. Essa operação é realizada com a remontagem. A remontagem consiste em escorrer o mosto em fermentação, através da torneira situada na parte inferior da cuba, dentro de uma tina ou recipiente semelhante, deixando cair de uma certa altura. A pressão da queda produz uma emulsão, que facilida a dissolição do ar. Recomenda-se ainda, que o mosto escorra ao londo de uma prancha, para aumentar a superfície de contato com o ar. O msto arejado é entao remontado atravpes de bomba para a parte superor da cuba ou sobre o chapéu do bagaço, em forma de chva, estabelecendo assim um circuito contínuo. A duração da remontagem é calculada em relação ao volume da cuba aremontar. Admite-se que a remontagem de ⅓ ou ½ do volume do mosto da cuba é necessária e suficiente. A remontagem deve ser realizada no início da fermentação, quando a multiplicação das leveduras estiver na fase exponencial, a qual corresponde a mais ou menos o segundo da de fermentação. Nesse momento, a levedura pode aproveitar o emlhor oxigêno oferecido. A remontagem apresenta outros efeitos como: Homogeneizar as diferentes zonas da cuba em fermentação, uniformizandi o teor de açúcar e a temperatura, muito irregular nas diferentes partes da cuba, principalmente no início da fermentação; Distribuir as leveduras em toda a massa; Intensificar a maceração e, em consequência, extrair melhor o suco interstcial da casca, e solubilizar as matérias orantes (antocianinas) e taninos. Além dos fatores que afetam a boa fermentação, o mosto deve conter substâncias nutritivas para as leveduras em quantidade suficiente. As substâncias nitrogenadas são indispensáveis à levedura de vinificação. Para supir eventuais deficiências em mostos, emprega-se fosfato de amônio. 11 6.9. Fermentação malolática A fermentação malolática consiste na descarbozilação bacteriana do ácido málico em ácido lático, com a liberação de gás carbônico. Esse fenômeno ocorre naturalmente em muitos vinhos tintos de mesa, com pequena frequência em vinhos brancos e muito raramente em vinhos licorosos. Ela pode ocorrer durante ou logo após a fermentação alcoólica, ou ser tardia, ou seja, após meses ou mesmo um ano. Para que ocorra a fermentação malolática, é necessário que se coloque o viho em ambiente de temperatura amena, realizar trasfega tardia, adição moderada de SO2, elevar o pH pela adição de carbonato de cálcio, ou adicionar borra de vinho qe tenha concluído recentemente a fermentação malolática. A inoculação de bactérias láticas apropriadas pode influir favoravelmente na fermentação malolática. Atualmente existem bactérias láticas comerciais para emprego em vinho tito e vinho branco. As bactérias lpaticas responsáveis pela fermentação malolática são dos gêneros Lactobacillus, Leuconostoc e Pediococcus. O metabolismo do ácido málico pelas bactérias lática pode ser realizado de duas maneiras: As bactérias que possuem a enzima lática transformam o ácido málico inicialmente em ácido pirúvico e gás carbônico na presença da co-enzima nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD); em seguida, o ácido pirúvico é imediatamente reduzido a ácido lático pela desidrogenase lática (LDH) com a associação de nicotinamida difosfato reduzida (NADH); Uma trans-hidrogenasemalica foi verificada em Micrococcus, que transforma os ácidos málico e pirúvido em ácidos oxalacético elático. É possível que ácido oxalacético seja m intermediário em alguns casos de bactérias. 6.10. Sulfitagem do vinho O uso de SO2, anidrido sulfuroso ou dióxido de enxofre é considerado benéfico por muitos enólogos, pois serve para estabilizar o vinho, e evita que haja uma adulteração da sua qualidade. Quando adicionado ao vinho, diminui a cor ao início, que volta depois mais intensa e viva quando o SO2 se volatiliza. Esta intensificação é consequência da ação corrosiva do gás sobre as paredes das células que contém a matéria corante. As dosagens de enxofre usadas em enologia não são nocivas ao consumidor, pois quando adicionado ao vinho, divide-se em partes: uma parte combina-se com o açúcar, aldeídos, etc. outra oxida-se sob a forma de sulfatos; outra é absorvida por 12 microrganismos do meio e somente a parte livre é que poderá provocar algum problema. 6.11. Trasfegas Esta operação consiste apenas em passar o vinho para vasilhas/recipientes mais pequenos, com objetivo de separá-lo das precipitações que ao término da fermentação, devido ao esgotamento do açúcar e a consequente paralização da liberação de gás carbónico, decantam por acção da gravidade. Este depósito recebe o nome de borra e é composto de vestígios da casca da uva, pequenas sementes, leveduras, pectinas, terra, ácidos e outras substâncias sólidas que compuseram o mosto. 6.12. Envelhecimento em barris Adstringência é a sensação provocada pela reação dos taninos do vinho com as proteínas da boca, quando perdemos momentaneamente o poder lubrificante da saliva (provocada pela possível presença do engaço e de grainhas). Esta sensação é desagradável, quando muito intensa e é própria dos vinhos novos e imaturos. Por isto, é necessário o amadurecimento dos vinhos tintos, que é feito com a finalidade de transformar os taninos fortes, adstringentes, em suaves, “aveludados”, transmitindo ao vinho resultante, a característica de “macio” e fácil de tomar. O amadurecimento produz-se através da polimerização dos taninos, que se intensifica com a oxigenação ou arejamento do vinho. Esse arejamento é feito passando o vinho de pipa para pipa ou com o uso das barricas de carvalho de pequeno volume, geralmente de 225 litros. Esta fase dura de 6 a 12 meses. 6.13. Tratamento a frio O tratamento a frio visa atingir a estabilidade tartárica que um vinho adquire quando submetido a baixas temperaturas. Trata-se da insolubilização dos sais de bitartarato de potássio, que em vinhos não tratados são muito encontrados no fundo das garrafas. A mais importante função da precipitação destes sais é a redução da acidez total dos vinhos. A redução da acidez ocorre devido à separação do sal de bitartarato de potássio, o qual tem sua origem no ácido tartárico que é um dos principais componentes ácidos da uva. Na fermentação maloláctica a precipitação destes sais acarreta uma diminuição da acidez total do vinho, melhorando significativamente sua qualidade. O tempo necessário para que a estabilização física 13 se concretize, dependendo da forma de obtenção das baixas temperaturas, pode variar de 10 a 30 dias. 6.14. Clarificação A clarificação é a operação que tem por fim eliminar todas as substâncias em suspensão e outras em dissolução existentes nos vinhos, para os tornar límpidos e cristalinos. Normalmente, os vinhos sãos e que sofreram uma vinificação racional estão limpos e espelhados no mês de Dezembro; o repouso e os frios do Inverno foram o bastante para os clarificar. Mas também há vinhos que, por causas várias, se apresentam empoeirados ou até turvos nessa época do ano. Um vinho turvo não deixa apreciar a cor e pode apresentar um sabor defeituoso, devido à sensação que as partículas sólidas nos deixam na língua. A clarificação é feita também através de colas – colagens. 6.15. Filtração É a operação mecânica por meio da qual um vinho turvo, passado através de corpos porosos, se desembaraça das partículas que tinha em suspensão e de grande número de maus fermentos. Como resultado obtém-se a sua clarificação. A filtração substitui ou completa a acção das trasfegas e das colagens. 6.16. Engarrafamento Nenhum vinho deve ser bebido imediatamente após ter sido engarrafado. Este deve ser deixado repousar de um a três meses dependendo do tipo de vinho, para reencontrar o seu equilíbrio. O engarrafamento por mais cuidadoso que tenha sido, causa um choque ao vinho. Quando o efeito oxidante do ar cessa o seu efeito, o vinho reencontra o seu equilíbrio. Determinados vinhos finos passam por um envelhecimento adicional na garrafa, mais ou menos longo, antes de serem comercializados. A finalidade da rolha de cortiça é garantir o suprimento de ar na quantidade exacta para que o vinho amadureça no ritmo certo. A cor das garrafas deve ser preferencialmente escura, verdes ou castanhas, de modo a impedir que a incidência de luz possa exercer uma acção negativa sobre a estabilidade do vinho. 6.17. Envelhecimento O envelhecimento na garrafa só acrescenta qualidade em vinhos que possuem potencial para isto. É na garrafa que o vinho encontra um meio redutor onde 14 realmente se verifica a transformação do aroma em bouquet, devido principalmente ao fenômeno de esterificação. No que diz respeito a cor, também ocorrem mudanças, pois a polimerização parcial das antocianinas (corante que a baixo pH são avermelhadas) em ambiente redutor modifica a coloração de vinhos de tons avermelhados para tons acastanhados. Quanto ao sabor, os vinhos envelhecidos beneficiam-se de um arredondamento, salientando a harmonia de suas qualidades. Figura 6 – Produção do vinho branco. Figura 5 – Produção do vinho tinto. 15 FLUXOGRAMA DE PRODUÇÃO DE VINHO Uvas Vindima Recepção Pesagem Desengace Esmagamento Sulfitagem do mosto Fermentação alcoólica Remontagem Fermentação malolática Sulfitagem do vinho Trasfegas Envelhecimento Filtração Engarrafamento Envelhecimento Garrafa de vinho tinto 16 7. DOENÇAS E CONSERVAÇÃO Os vinhos podem sofrer alterações microbianas por bactérias (láticas ou acéticas) ou a leveduras (fungos unicelulares). As doenças causadas por tais microorganismos são evidenciadas dnas seguintes condições: Elevado teor de açúcares residuais; Temperatura elevada; pH elevado; Acondicionamento precário (falta de higiene, falta de atesto dos depósitos, etc.); Riqueza em azoto e mau estado sanitário das uvas que originaram os vinhos. 7.1. Alterações causadas por leveduras 7.1.1. Refermentação Caracterizada pela produção de gás (dióxido de carbono) e ocorrência de turvação, verifica-se em vinhos doces ou secos com açúcares residuais (> 2g L-1), nos quais permanecem algumas leveduras ativas, muitas vezes, mesmo após o engarrafamento. As leveduras responsáveis podem ser de fim de fermentação, como Saccharomyces spp. (Fig.1), ou de contaminação, nomeadamente Zygosaccharomyces bailli e de Saccharomycodes ludwigii. Para evitar a sua atuação e o consequente desenvolvimento da doença, deve-se efetuar uma higienizaçãocuidada dos depósitos e do restante equipamento com que o vinho entra em contato (dando especial atenção às linhas de engarrafamento) e aplicar doses convenientes Figura 7 - Levedura Saccharomyces cerevisiae, principal responsável pela fermentação alcoólica e consequente transformação de mostos em vinhos, mas que também pode ser responsável pela refermentação. 17 de dióxido de enxofre. Além disso, no caso dos vinhos secos, é importante levar a fermentação alcoólica até ao fim, reduzindo assim o teor em açúcares residuais que as leveduras da refermentação utilizam como substrato. 7.1.2. Flor Ocasionada por leveduras de metabolismo aeróbio, como Candida spp. e Pichia spp., esta doença desenvolve-se, sobretudo, em vinhos jovens e com baixo teor alcoólico, ocorrendo em depósitos mal atestados ou em garrafas com excessiva camada de ar. Caracterizada pelo aparecimento da chamada “flor”: véu esbranquiçado, constituído por leveduras, que surge à superfície do vinho e se vai tornando cada vez mais espesso, acabando por cair quando se torna demasiado pesado. A sedimentação do véu origina turvação do vinho. As alterações produzidas consistem na perda de grau alcoólico e na diminuição da acidez fixa, resultantes da degradação de ácidos orgânicos, de glicerol e, sobretudo, de etanol. Como principal produto secundário da degradação deste último, verifica-se a produção de acetaldeído que, ao combinar-se com os polifenóis, o que confere à cor amarelada aos vinhos brancos. A doença que, quando no início, tem como medidas de prevenção a realização de uma colagem seguida de filtração, pode ser sanada, evitando o contato do vinho com o oxigênio, quer através do atesto dos depósitos, quer pela utilização de um gás inerte. No caso dos vinhos engarrafados, além de evitar excessivas camadas de ar, é importante aplicar doses convenientes de dióxido de enxofre e usar rolhas boa qualidade. 7.1.3. Produção de fenóis voláteis Ocorre em condições de má higienização (sobretudo associada a vinhos de armazenados em barricas de madeira, mais difíceis de higienizar), proteção de dióxido de enxofre deficiente e na presença de baixos teores de oxigênio, bem como de pequenas quantidades de açúcares residuais. Os fenóis voláteis consistem em 4-etil-fenol e 4-etil-guaiacol, no caso dos vinhos tintos, e em 4-vinil-fenol e 4-vinil-guaiacol, no caso dos vinhos brancos. Eles são produzidos por leveduras do gênero Dekkera/Brettanomyces, a partir de ácidos cinâmicos, e conferem, aos vinhos, odores frequentemente desagradáveis. 18 A prevenção passa pela sulfitação adequada dos vinhos, bem como por cuidados de desinfecção, em especial no caso de vasilhas de madeira. 7.2. Alterações causadas por bactérias 7.2.1. Azedia Caracterizada pelo desenvolvimento de um cheiro a azedo, que lhe dá o nome, a azedia está também associada a uma diminuição da cor do vinho e à formação de uma película superficial esbranquiçada ou acinzentada, semelhante à que ocorre na doença da flor. Trata-se, no entanto, de uma película mais suave, que nunca atinge peso suficiente para sedimentar, e não ocorre turvação do vinho. As principais alterações produzidas resultam da degradação do etanol, que é transformado em dióxido de carbono, água e ácido acético, tendo como consequência o aumento da acidez volátil. Parte do ácido acético produzido forma acetato de etilo que confere o sabor e cheiro azedo. Ocorre também a produção de ácido glucónico, a partir da degradação da glicose. Sendo causada por bactérias acéticas (sobretudo Acetobacter spp). A doença é favorecida nas condições de baixa acidez fixa, falta de atesto das vasilhas ou má qualidade das rolhas, permitindo o contacto do vinho com o oxigênio, deficiente higienização do equipamento e reduzidas doses de dióxido de enxofre. A temperatura ótima para o desenvolvimento das bactérias acéticas é de 25-30ºC. A prevenção da doença faz-se minimizando as condições favoráveis ao seu desenvolvimento, conservando o vinho a baixas temperaturas e em vasilhas bem atestadas ou com a proteção de um gás inerte. É importante ainda ter cuidados de higienização das instalações e de todo o equipamento com o qual o vinho entra em contato. Nos casos de doença constatada, um vinho com azedia só pode ser encaminhado para a destilaria ou ser aproveitado para produzir vinagre, a menos que a doença esteja ainda no início e a acidez volátil do vinho não tenha subido muito. Neste caso, pode-se recorrer a alguns tratamentos, nomeadamente ao loteamento com mosto fresco, provocando-se depois uma nova fermentação, ou à pasteurização do vinho. 7.2.2. Pico lático Ocorre em condições de temperatura e de pH elevados e em casos de amuos da fermentação alcoólica, consistindo a sintomatologia da doença na produção de 19 gás e na ocorrência de turvação, associadas a aumentos da acidez volátil e da acidez fixa. As alterações produzidas, que são da responsabilidade de bactérias lácticas, normalmente pertencentes ao gênero Lactobacillus, consistem na degradação de açúcares residuais dos vinhos (hexoses e pentoses), com produção de ácido acético, ácido D-láctico, dióxido de carbono e etanol, entre outros compostos. As condições favoráveis à doença, nomeadamente temperatura e pH elevados e existência de açúcares residuais nos vinhos, que servem de substrato às bactérias, devem ser minimizadas para prevenir o desenvolvimento do pico láctico. Além disso, importa proteger o vinho com doses adequadas de dióxido de enxofre. Nos casos em que a acidez volátil ainda se encontre em baixas concentrações pode ser realizada um colagem seguida de filtração como medida de prevenção. 7.2.3. Manite ou Agri-doce Muito semelhante ao pico láctico, distingue-se dele pelo aparecimento de um sabor agri-doce devido à produção de manitol (sabor doce) a pela produção dos ácidos acético e D-láctico. É resultado da degradação da frutose pelas bactérias lácticas. 7.2.4. Gordura Trata-se de uma manifestação especial da fermentação maloláctica, em que, paralelamente à degradação do ácido málico, há um aumento da viscosidade do vinho. Este aumento ocorre devido à agregação de moléculas de glucose num polissacarídeo, criando-se uma espécie de rede, dentro da qual se encontram as bactérias lácticas responsáveis pela doença. Ocorre principalmente em vinhos brancos com baixo teor alcoólico e pH elevado (e poucos taninos), embora também possa ocorrer em vinhos tintos. A qualidade organoléptica não é afetada, a cor e o aroma do vinho mantêm-se e a acidez volátil também não sofre alteração. O que se nota, no caso da doença da gordura, é que o vinho, ao cair no copo, produz um som característico, que se assemelha ao cair de um fio de azeite. Para prevenir o aparecimento da doença é importante minimizar as condições favoráveis, baixando o pH e a temperatura. Além disso, aplicar dióxido de enxofre em doses adequadas para garantir o caráter anti-séptico do vinho. 20 Quando constatada a doença, a situação é totalmente reversível, devendo-se, para tal, aplicar taninos que ajudam à precipitação dos constituintes da viscosidade, reforçar a aplicação de dióxido de enxofre e agitar violentamente o vinho para quebrar os polímeros de glucose. Por fim, deve-se efetuar uma colagem (preferencialmente com bentonite) seguida de uma filtração, se necessário. 7.2.5. Volta Tem sido, atualmente, uma doença frequente, que pode ser controlada por uma melhor higienização de vasilhas, equipamentoe instalações em geral, bem como a correção da acidez e a sulfitação convenientes. São favoráveis à ocorrência da doença condições de temperatura e pH elevados, presença de açúcares residuais e de matérias azotadas, fraca proteção pelo dióxido de enxofre e má higienização de vasilhas, equipamentos e instalações em geral. A volta manifesta-se pelo aumento da acidez e do pH, pelo aparecimento de nuvens tênues, com o aspecto de algodão, que se movem lentamente no vinho, pela produção de gás, pelo surgimento de um aroma desagradável e pela alteração da cor dos vinhos, que se tornam acinzentados, no caso dos tintos, e adquirem tonalidades verde acastanhadas, no caso dos brancos. As alterações resultam, sobretudo, da degradação do ácido tartárico, produzindo-se dióxido de carbono e ácido acético, associados, ou não, à produção de ácido láctico ou de ácido succínico. Secundariamente, as bactérias lácticas responsáveis pela volta (normalmente pertencentes ao género Lactobacillus) podem atacar o glicerol, o ácido cítrico e os açúcares, para além de realizarem a fermentação maloláctica. 7.2.6. Amargo Sendo uma doença pouco frequente, o amargo está associado a vinhos tintos velhos, pouco ácidos, pouco alcoólicos e com algum teor em taninos. Caracteriza-se pelo aparecimento de um sabor amargo pronunciado, por uma ligeira libertação de gás e por uma perda de cor. Da responsabilidade de bactérias lácticas como Pediococcus parvulus, Lactobacillus cellobiosus e Leuconostoc mesenteroides, o amargo resulta, sobretudo, da degradação do glicerol, que é transformado em ácido 21 acético, ácido láctico, dióxido de carbono e água. Como produtos secundários formam-se acroleína, 1-3 propenodiol e ácido succínico, sendo a combinação da acroleína com os taninos que dá origem ao amargor característico da doença. A prevenção faz-se, minimizando as condições favoráveis de temperatura e pH elevados e protegendo o vinho com sulfuroso. Em estados avançados da doença, o vinho torna-se impróprio para consumo. 22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GROS, François; SALVIAT, Béatrice. Pasteur e as doenças do vinho. Fondation De Coopération Scientifique Pour L'éducation À La Science. Disponível em: <http://bit.ly/2kLq0hu> Acesso em: 20/01/2017 ALMEIDA LIMA, U. De; AQUARONE, E.; BORZANI, W.; SCHMIDELL, W. Biotecnologia Industrial – Volume IV: Biotecnologia na produção de alimentos. São Paulo: Blucher, 2001. FONSECA, Moreira da. Abc da Vinificação pela palavra e pela imagem. Porto: Instituto do vinho do Porto, 2003. RIZZON, L. A.; Dall’Agnol, I. Vinho Tinto. Embrapa Informação Tecnológica Brasília, 2007. DINIZ , Iaponira. Os Seis Passos para se Tornar um Expert em Vinhos. 2015 23
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