Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE QUÍMICA DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ANALÍTICA TURMA: IQA368 BEATRIZ NASCIMENTO DE ARAUJO JULIA FERREIRA CANELLA LARISSA DE OLIVEIRA AUGUSTO FRAUDE DE VINHOS RIO DE JANEIRO 2021 INTRODUÇÃO De acordo com a BRC V7 Food, norma global para segurança de alimentos, fraude em alimentos é classificada como a “substituição, adição, diluição intencional de um alimento, matéria-prima ou a falsificação de um produto, com a finalidade de um ganho financeiro, pelo aumento do valor aparente ou pela redução de custos em sua produção”. [1] Segundo o projeto de lei nº 7.664 de 2017, fraudar, falsificar ou adulterar substâncias, produtos alimentícios ou bebidas destinadas ao consumo humano, tornando- os nocivos à saúde, é um crime passível de pena de reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, mais multa. Além disso, todo aquele que fabricar, vender ou entregar a consumo humano o produto fraudado, será condenado por crime culposo com pena de detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, mais multa. [2] Porém, como em qualquer outro tipo de comércio, que tem como objetivo o lucro, o mundo dos vinhos não está livre de adulterações. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, estima-se que 25% do álcool consumido em todo o mundo não seja registrado, podendo conter algum tipo de fraude. Na Europa, os vinhos estão entre os cinco principais setores com vendas perdidas por falsificações. [3] Vários tipos de falsificações são possíveis, passando pela simples troca de rótulos, diluição com água, adição de álcool e outras substâncias, até a substituição por vinhos de qualidade inferior. Os principais tipos de fraudes estão relacionados à diluição e substituição de matérias primas mais nobres por produtos de menor custo. Entretanto, também existem as fraudes consideradas perigosas, que ocorrem quando o produtor adiciona substâncias nocivas ao seu vinho, com o objetivo de acrescentar alguma característica não obtida durante a vinificação ou aumentar a porcentagem de lucros. [4] Dentre os aditivos utilizados, destacam-se o acetato de chumbo, dietilenoglicol, arsênico e metanol, substâncias altamente tóxicas que podem causar sérios danos à saúde e levar a morte [4]. Apesar de atualmente o controle destas substâncias ser bastante efetivo, devido à grande variedade de metodologias analíticas para atestar qualidade do vinho, ainda não foi possível eliminar totalmente o comerciante inescrupuloso. Assim, até hoje são noticiados casos trágicos envolvendo a ingestão de bebidas adulteradas, o que reforça a importância da discussão em torno desse tema. 1 ASPECTOS HISTÓRICOS 1.1 A origem do vinho Repleto de simbologia, impregnado de religiosidade e de misticismo, o vinho surge desde muito cedo na História da Humanidade, tornando-se fonte de lendas e inspiração de mitos. As expressões “dádiva de deuses”, “Sangue de Cristo”, e “essência da própria vida” atribuídas a este produto corroboram bem o papel do vinho na vertente cultural bem como a sua importância na nossa civilização. [5] Não se pode apontar precisamente o local e a época em que o vinho foi feito pela primeira vez, já que ele estava naturalmente presente onde quer que as uvas fossem colhidas e armazenadas em um recipiente capaz de reter seu suco. Os arqueólogos aceitam como evidência da elaboração de vinhos o acúmulo de sementes de uva. Então, ao longo dos anos, foram realizadas escavações em busca de vestígios que revelaram a presença de sementes de uvas da Idade da Pedra (Período Neolítico), cerca de 8000 a.C. As mais antigas sementes de uvas cultivadas foram descobertas na Georgia (Rússia) e datam de 7000 - 5000 a.C., sendo considerado o local onde provavelmente se produziu vinho pela primeira vez. [6] Egípcios, gregos e romanos foram os grandes impulsionadores da cultura e do desenvolvimento da bebida. No Egito, o consumo de vinho, datado desde 3000 a.C., cresceu e deu um grande impulso para o comércio externo. No período de 2500 a.C., os vinhos egípcios já eram exportados para a Europa, África Central e alguns reinos da Ásia. Mas floresceu entre 1000 a.C. a 900 a.C. na Grécia e em Roma, que difundiram as videiras por seus impérios, em especial na Hispânia e na Gália, onde pela primeira vez foi realizado o processo de envelhecimento da bebida, utilizando-se ânforas cobertas com resinas de madeira para dar ao vinho um sabor distinto. Essa técnica foi posteriormente adaptada pelos Romanos que desenvolveram os famosos barris de carvalho, usados até hoje para o armazenamento e conservação dos vinhos. Mais tarde, como efeito da expansão colonial europeia, a cultura da vinha chegou a longínquas regiões, onde quer que a natureza do solo e as condições climáticas favorecessem o seu crescimento. [5] 1.2 Fraude de vinhos na antiguidade A falsificação de vinhos é uma prática muito antiga e considerada ilegal desde 1.754 a.C., na antiga Mesopotâmia. Lá se tinha o chamado Código de Hamurabi, que representava um conjunto de leis, dos mais antigos já decifrados atualmente, responsáveis por controlar e organizar a sociedade. Esse código era composto por 282 leis, incluindo uma que punia a fraude na venda de vinhos. Os criminosos que fossem flagrados vendendo vinhos adulterados eram condenados à morte por afogamento.[4] Plínio, o Velho, militar e historiador romano que viveu entre os anos 23 e 79 d.C., reclamava que na Roma antiga era impossível distinguir o bom vinho romano das diversas adulterações que eram colocadas à disposição da classe governante. Naquela época, o vinho Farleniano era considerado o melhor e mais caro do império Romano, sendo um grande alvo de falsificações, principalmente pelo consumo estimado da época ser de 180 milhões de litros de vinho, quase uma garrafa por cidadão por dia. [4,7] Na antiga Roma, um exemplo de adulteração muito comum, estava ligada ao interesse de corrigir e adoçar o vinho, devido à escassez de adoçantes. Para isso, era utilizado um xarope de açúcar chamado sapa, produzido através da fervura do suco de uva em potes de chumbo. Porém, quando esse xarope era adicionado ao vinho, formava- se acetato de chumbo, devido a dissolução do chumbo em ácido acético. O consumo excessivo dessa substância foi o responsável por causar graves intoxicações, insanidade e morte em várias figuras do Império Romano. [8] O chumbo não foi o único aditivo usado na adulteração. Na Inglaterra, em 1327, o rei Eduardo III, em uma carta ao prefeito e aos xerifes de Londres, reclamou que os vinicultores e taberneiros da cidade misturavam vinhos fracos e corruptos com outros vinhos e vendiam a mistura no mesmo preço de um vinho puro. Como medida preventiva, os taberneiros foram obrigados a manter seus barris visíveis aos clientes e as tabernas londrinas foram proibidas de estocar vinhos de diferentes origens numa mesma adega. A pena para quem fosse pego vendendo um vinho adulterado era severa e podia variar desde a obrigação de beber todo o estoque até ser enforcado.[9] As adulterações continuaram ocorrendo até o século XIX em toda a Europa. Nessa época, os métodos incluíam adicionar gesso ao vinho para mantê-lo durante longas viagens, assim como a manipulação dos rótulos e misturas de vinhos para suprir o aumento da demanda. [9] 1.3 Fraude de Vinhos no Brasil Depois da descoberta das terras brasileiras pelos portugueses, foi só em 1532 que a história do vinho nacional realmente começou a dar seus primeiros passos. As primeiras videiras do Brasil foram trazidas pela expedição colonizadora de Martim Afonso de Souza, com o objetivo de disseminar a agricultura na nova colônia. As mudas de Vitis vinifera foram plantadas na Capitania de São Vicente, mas as condições desfavoráveisde clima e solo impediram os planos de seguirem em frente. [10] Porém, um membro da expedição colonizadora de Martim Afonso de Souza, o jovem Brás Cubas, insistiu no cultivo das videiras, transferindo suas plantações do litoral para o Planalto Atlântico. Em 1551, ele conseguiu extrair o caldo das uvas Vitis viniferas, elaborando o primeiro vinho brasileiro. [10] Com a multiplicação das iniciativas em torno da vinicultura no Brasil, em 1785 a corte portuguesa proibiu o cultivo de uva no país como forma de proteger sua própria produção. A medida inibiu a comercialização do vinho na colônia e restringiu a atividade ao ambiente doméstico. Essa proibição só foi revogada com a chegada da família Real no Brasil em 1808 e a partir desse momento o vinho foi incorporado as refeições, reuniões sociais e às numerosas festividades religiosas. [10] O grande salto para a produção nacional de vinhos e sua comercialização ocorreu em 1785 com a chegada dos imigrantes italianos, que trouxeram de sua terra natal o conhecimento técnico de elaboração e a cultura do consumo, o que contribuiu para elevar a qualidade da bebida e conferir importância econômica à atividade. Entretanto, com o início da comercialização, também surgiram as fraudes. [10] As notícias sobre fraudes de vinho eram comumente estampadas nos jornais da época. Na grande São Paulo, no ano de 1942, o jornal Diretrizes fez uma reportagem denunciando uma ampla brecha na lei que favorecia os falsificadores. Essa brecha consistia na inexistência de uma lei que punisse com cadeia e processo os falsificadores de bebidas. Esses, quando surpreendidos, eram punidos apenas com uma simples multa, https://loja.famigliavalduga.com.br/Buscar/brasil?utm_source=post-a-historia-do-vinho-no-brasil-conheca-a-trajetoria-da-bebida-em-territorio-nacional&utm_medium=link seguida pela destruição do material utilizado para a confecção das bebidas. O jornal relata que o consumo de bebidas não era considerado pela lei como um gênero de primeira necessidade. Enquanto isso, a saúde do povo vivia ameaçada, a indústria sofria com a concorrência dos porões ilegais e a indústria estrangeira fugia dos mercados nacionais. [11] Na região sul do país também eram noticiados casos de fraudes. Em Porto Alegre, no ano de 1971, o Jornal do Brasil denunciou o uso de sacarina e água para adocicar e multiplicar o vinho gaúcho. Um laboratório volante montado em uma kombi e chefiado por um bioquímico foi utilizado para realizar a análise de vinhos e vinagres transportados por caminhões ou armazenados pelos engarrafadores. A média de apreensão no primeiro mês foi de 22 mil litros. [12] Em janeiro de 1923 surgiram as primeiras leis para evitar fraudes que, pela primeira vez, regulamentavam que o vinho apenas poderia ser elaborado a partir da fermentação alcoólica do suco de uvas frescas. Já em 1937, se estabeleceu um maior controle e fiscalização na importação e na elaboração de vinhos. A lei estabelecia que os vinhos nacionais ou importados, bem como os produtos líquidos da uva, só poderiam ser objeto de comércio e entregues a consumo depois de prévio exame em laboratório oficial competente autorizado. Sendo permitido somente a elaboração de vinhos nacionais por cantinas registradas e com comercialização restrita às pessoas naturais ou jurídicas registradas. [13] Porém, segundo o jornal Tribuna da Imprensa, foi apenas em 1982 que as fraudes de vinho começaram a ser punidas de uma forma mais severa, na tentativa de combater a grande máfia que havia se formado. Uma das normas estabelecidas foi tornar a condenação dos produtores e indústrias um evento público. Esse tipo de medida era mais eficaz do que a própria multa já que manchava a imagem das indústrias que estivessem operando indevidamente perante o consumidor. [14] Também foi aplicada como medida punitiva o aumento do valor das multas, que antes eram irrisórias, e a partir desse momento passaram a ser cobradas por amostra de produto fraudado. Além disso, os lotes de produtos falsificados, assim como toda a fábrica e vinícola eram destruídos. [14] 2 METODOLOGIA ANALÍTICA DO PASSADO A análise sensorial, apesar de ser uma metodologia também utilizada atualmente, era muito utilizada no passado para conferir a qualidade do vinho e precedia a análise clássica da qualidade dos vinhos que, apesar de serem técnicas datadas do século 19, ainda hoje são utilizadas e serão exploradas no tópico 4 deste trabalho. Dito isso, a análise sensorial é um método importante pois possibilitava a identificação dos parâmetros e eventuais defeitos a partir dos sensores visual, olfativo, gustativo e tátil. A partir do sensor visual, era possível obter informações sobre a cor, limpidez, textura, efervescência e viscosidade do vinho; em relação ao sensor olfativo, era possível avaliar o aroma e seus eventuais defeitos; o sensor gustativo permite detectar gostos doces, salgados, amargos e ácidos; e, por último, o sensor tátil possibilita a detecção da estrutura do vinho devido o contato do vinho às mucosas da boca [15]. Dessa forma, é possível verificar que a análise sensorial é uma boa metodologia que antecede a análise química dos vinhos, inclusive as análises do passado, atualmente ultrapassadas, que serão explicitadas. No Brasil do século XIX, era comum notícias de vinhos falsificados circulando nos periódicos da época e, em razão disso, podemos listar algumas técnicas analíticas utilizadas nessa época, hoje ultrapassadas, que determinavam as falsificações de vários tipos. Na época, considerava-se vinhos falsificados aqueles cuja composição é alterada pela adição de materiais estranhos ao vinho, que podem ser de origem vegetal e/ou mineral [20]. 2.1 Métodos de identificação da presença de enxofre, alumínio e chumbo Para identificar a presença de enxofre, eram utilizadas duas metodologias: imersão de um ovo claro na solução de vinho e adição de nitrato de prata. A técnica da imersão de um ovo claro consistia em deixá-lo imerso no vinho durante 24 horas, se o ovo estivesse coberto por uma película amarela ao final do tempo, havia enxofre no vinho. Isso ocorria porque a casca do ovo é composta por carbonato de cálcio e de magnésio. Quando o carbonato de cálcio reage com o íon sulfato (Reação 1), forma-se um sal parcialmente solúvel de coloração branca a amarela, o que explica a formação da película amarelada no ovo. [21] CaCO3 + SO42- → CaSO4 + H2O(l) + CO2(g) Reação 1: Reação do carbonato de cálcio com sulfato em solução aquosa, originando sulfato de cálcio de água e gás carbônico A adição de nitrato de prata no vinho para determinar a presença de enxofre resultava em um precipitado de cor preta, caso o vinho contivesse enxofre [22]. Isso ocorre devido a reação do cátion prata com o sulfeto, demonstrado na Reação 2. Reação 2: Reação do cátion prata com ácido sulfídrico, resultando em um precipitado preto. Para identificar a presença de alumínio (alumen), composto que era utilizado para fixar a cor do vinho, adicionava-se à amostra de vinho uma solução de potassa (hidróxido de potássio) que formaria um precipitado de coloração acinzentada caso o vinho estivesse contaminado com alumínio. Esse precipitado é o hidróxido de alumínio (Reação 3), que possui coloração branca, porém na solução de vinho, o aspecto era acinzentado. [23] Reação 3: Reação do cátion alumínio com o ânion hidroxila, resultando do hidróxido de alumínio, um precipitado branco. Para identificar a presença de chumbo, que era utilizado para corrigir o sabor do vinho, eram adicionadas gotas de sulfeto de cálcio, resultando num precipitado de coloração preta (Reação 4); também era adicionado a amostra de vinho, ácido sulfúrico ou sulfato de sódio, resultando no mesmo precipitado esbranquiçado (Reação 5). CaS + Pb2+ → PbS(s) + Ca2+ Reação4: Reação de íon chumbo II com sulfeto de cálcio, dando origem a sulfeto de chumbo, um precipitado de coloração preta Na2SO4 + Pb2+ → PbSO4(s) + 2Na+ Reação 5: Reação de íon chumbo II com sulfato de sódio, resultando no sulfato de chumbo, um precipitado branco 2.2 Métodos de identificação de presença de corantes de origem vegetal No século XIX, as bagas da planta Phytolacca decandra eram amplamente utilizadas para a falsificação do vinho em Portugal e Espanha, países em que essa planta é nativa. Para identificar a presença dessa planta, existe um procedimento que consiste em empregar carbonato de sódio e alumen na amostra de vinho, realizar uma filtração e, ao líquido rosáceo que escoa do funil após a filtração, adicionar algumas gotas de carbonato de sódio diluído. Caso o vinho contivesse Phytolacca, o líquido rosáceo iria descorar após o aquecimento. Isso ocorre porque a substância corante não se fixa ao vinho. Um outro tipo de baga utilizada para fraudar a coloração do vinho no século XIX era a baga de sabugueiro, amplamente utilizada na França. O perigo dessa baga é que, em concentrações elevadas, o seu suco atua como laxante, podendo causar desidratação nos consumidores. O método para identificar a sua presença, é o tratamento do vinho com alumen e carbonato de cálcio, assim como no ensaio da Phytolacca, o resultado de um vinho que contém baga de sabugueiro é uma incrustação violeta ou azul de coloração bem forte. [21] 3 CASOS ATUAIS DE FRAUDE Em relação às fraudes nos vinhos, percebe-se que essa prática perdura na atualidade em razão dos inúmeros casos que continuam ocorrendo e que, muitas vezes, resultam na prisão dos fraudadores e dos envolvidos na prática. Essas fraudes, em geral, têm dois mecanismos: alteração dos rótulos e embalagem dos vinhos e adulteração do conteúdo a ser ingerido. A seguir, são listados casos específicos atuais de fraudes de vinho com seus respectivos locais e ano de ocorrência. 3.1 Estados Unidos, 2013 Foi nos Estados Unidos que ocorreu o maior caso de falsificação na história do vinho, visto que o fraudador, de nome Rudy Kurniawan, lucrou milhões de dólares em vinhos falsificados que se passavam por raros e colecionáveis. Esse episódio resultou na prisão do autor do crime, condenado a 10 anos, sendo a primeira pessoa a ser julgada e condenada por vender vinho falso no território estadunidense. O esquema de falsificação de Rudy foi comprovado visto que em sua casa foram encontrados, no dia de sua detenção, rótulos impressos, garrafas e centenas de rolhas [16] (Figura 1). Figura 1: Material apreendido pelas autoridades na casa do falsificador. 3.2 Itália, 2020 Na Itália, uma quadrilha produzia réplicas perfeitas de garrafas e caixas de um vinho cujo rótulo é nomeado Sassicaia (Figura 2), um dos rótulos mais conhecidos na Itália e que chega a custar, no Brasil, R$ 4.000. Além dos rótulos fielmente produzidos, também foi encontrado nesses rótulos selos de qualidade utilizados pelo conselho regulador da Toscana. [17] Figura 2: Réplicas das caixas e garrafas do rótulo do vinho encontrados pelas autoridades italianas. 3.3 Brasil, Curitiba, 2020 Esse caso trata-se de uma adulteração química, em que substâncias são adicionadas a mistura para fraudar o vinho. Nesse caso específico, a fraude foi descoberta porque os consumidores denunciaram os comerciantes envolvidos à Polícia Federal após passarem mal em razão do consumo do suposto vinho. A análise laboratorial dos produtos apreendidos, realizada pela Universidade Federal do Paraná, identificou que havia na composição do produto vinho diluído com etanol combustível, ácido cítrico, corantes e estabilizantes. Dessa forma, infere-se que a bebida não era um vinho, mas sim um produto que o imitava a fim de enganar os consumidores e que poderia ser prejudicial à saúde de quem consumisse [18]. A Figura 3 mostra as garrafas apreendidas do vinho falsificado. Figura 3: Garrafas apreendidas dos vinhos adulterados. 3.4 Brasil, Rio Grande do Sul, 2014 Nesse caso, empresas de vinho foram autuadas e tiveram os seus lotes retirados do mercado devido a comprovação da utilização de antibiótico para conservar o vinho, visto que antibióticos são substâncias germicidas. O antibiótico encontrado em questão foi a natamicina, um antifúngico poderoso que serve para prevenir bolores, mofo e atua como antibiótico no controle de bactérias. Porém, é preciso considerar que a presença de antibióticos em bebidas como o vinho, pode causar alterações e resistência a outros medicamentos que o consumidor possa estar utilizando, bem como propiciar o aparecimento de superbactérias em razão da resistência conferida. Essa prática, vale ressaltar, é ilegal de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) [19]. 4 METODOLOGIAS ANALÍTICAS ATUAIS PARA ATESTAR A QUALIDADE DO VINHO De acordo com a legislação brasileira, o vinho é uma bebida obtida da fermentação alcoólica do mosto simples da uva fresca e madura. Sua definição bioquímica é caracterizada como bebida proveniente da fermentação alcoólica dos açúcares de suco de uva pelas leveduras e, em alguns casos, pelas bactérias láticas. Do ponto de vista de sua composição química, o vinho é uma solução ácida, com teor alcoólico de 7% a 20% em volume, contando com centenas de substâncias orgânicas e minerais em quantidades mínimas. As principais substâncias que constituem o vinho são: açúcares, álcoois, ácidos orgânicos, sais de ácidos minerais e orgânicos, compostos fenólicos, substâncias nitrogenadas, pectinas, gomas e mucilagens, ésteres, aldeídos, cetonas, vitaminas e anidrido sulfuroso [24] [25]. No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é o órgão responsável por criar e fiscalizar leis e normas que definem, regularizam e controlam a elaboração e circulação dos vinhos. A Lei que trata sobre a produção, circulação e comercialização do vinho e derivados da uva e do vinho é a de nº 7.678, de 8 de novembro de 1988. Sendo alterada pela Lei nº 10.970/2004, que teve como objetivo harmonizar a legislação brasileira com o Regulamento Vitivinícola do Mercosul, e a Lei nº 12.320/2010, que adequa a redação da definição de vinho composto. Além disso, a regulamentação dessa lei já passou por várias atualizações, o decreto em vigor é o de nº 8.198/2014, que já sofreu algumas modificações pelo decreto nº 9.348/2018 [24][26][27][28][29][30]. A classificação correta dos vinhos, de acordo com a Tabela 1, está estabelecida no Art. 8º da lei 7.678/1988, que teve modificações realizadas pela lei nº 10.970/2004 [24][26]. Tabela 1: Classificação dos vinhos [24][26]. Quanto a classe a) de mesa; b) leve; c) fino; d) espumante; e) frisante; f) gaseificado; g) licoroso; h) composto; Quanto a cor a) tinto; b) rosado, rosé ou clarete; c) branco; Quanto ao teor de açúcar a) nature; b) extra-brut; c) brut; d) seco, sec ou dry; e) meio doce, meio seco ou demi-sec; f) suave; g) doce. Os resultados de análises clássicas utilizando os métodos físico-químicos vão classificar os vinhos e apontar possíveis alterações negativas. Essas determinações analíticas básicas, quando efetuadas nos vinhos, além de serem uma exigência legal, do ponto de vista de verificar as conformidades quanto a uma lei, portaria ou regulamento que rege este produto e são fundamentais para o controle de qualidade e para a detecção de eventuais falhas que podem ocorrer em toda a cadeia produtiva do vinho, verificando onde o processo de produção da bebida pode ser aperfeiçoado ou modificado [31][32]. A Instrução Normativa nº 14, de 8 de fevereiro de 2018, estabelece valores limites para os parâmetros: Graduação alcoólica, em % vol/vol,a 20ºC; Acidez volátil, e total em meq/L; Sulfatos totais, expressos em K2SO4, em g/L; Cloretos totais, expresso cloreto de sódio, g/L; Cinzas, em g L-1; Álcool metílico, em mg L-1, edulcorantes e corante artificial, de acordo com as especificidades de cada vinho. Já o Regulamento Vitivinícola do Mercosul, resolução n° 45/96, estabelece quais os métodos analíticos usuais e expressões dos resultados para cada parâmetro, sendo que a responsabilidade pela realização das análises referidas, conforme mencionado no artigo 5.3, fica a cargo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) [26][33]. Visando um controle adequado nas análises, a Organização Internacional da Uva e do Vinho – “Organisation Internationale de la Vigne et du Vin” – OIV e a Associação Oficial de Químicos Analíticos – “Association Official of Analytical Chemistry” – AOAC, estabeleceram procedimentos de análises específicos para a determinação de alguns parâmetros em vinhos, que estão descritos nas normas CEE2676/90 e CEE2870/2000 [31][34][35]. 4.1 Graduação alcoólica O álcool etílico é proveniente da fermentação alcoólica do açúcar do mosto, portanto, seu conteúdo está em relação direta com a porcentagem de açúcar na uva em maturidade [36]. A medida do grau alcoólico do vinho corresponde ao número de litros de álcool etílico em 100 litros da bebida, a uma temperatura de 20º C [34]. Álcool etílico ou etanol, representa entre 7 e 20% do volume de um vinho, conforme os limites permitidos para cada classe de vinho, de acordo com a Tabela 2 [26]. Tabela 2: Limites permitidos de graduação alcoólica de acordo com a classe de vinho [26]. Classe Graduação alcoólica (% vol/vol,) a 20ºC Mínimo Máximo a) de mesa e c) fino 8,6 14,0 b) leve 7,0 8,5 d) espumante 10,0 13,0 e) frisante e f) gaseificado 7,0 14,0 g) licoroso 14,0 18,0 h) composto 14,0 20,0 Segundo o Regulamento Vitivinícola do Mercosul o método usual para determinação da graduação alcoólica consiste na destilação do vinho e posterior medida do grau alcoólico por densimetria [26]. Rizzon (2010) descreveu o procedimento nas seguintes etapas [32]: 1. Transferir 50 mL da amostra de vinho (aferido a temperatura de 20 ºC) para um balão destilatório. 2. Adicionar ao balão de destilação 10 mL da solução de óxido de cálcio, para neutralizar a acidez do vinho e evitar a passagem dos ácidos voláteis ao destilado, o que provocaria um aumento da densidade e consequente diminuição do grau alcoólico. 3. Conectar o balão de destilação ao condensador e colocar um balão de 50 mL com 2 mL de água destilada na extremidade do condensador para receber o destilado, mantendo-o em um recipiente com gelo para evitar a perda do álcool. 4. Recolher três quartos do volume inicial. Completar o volume com água destilada ajustando-a à mesma temperatura inicial e agitar. 5. Determinar a densidade do destilado a 20 ºC no densímetro Anton Paar DMA 45 e fazer a leitura do grau alcoólico do vinho na Tabela 3. A empresa Anton Paar introduziu o primeiro medidor digital de densidade do mundo. Hoje, oferecem uma série completa de densímetros, exemplos de densímetros Anton Paar se encontram na Figura 4, que abrangem a maioria dos requisitos em várias indústrias e P&D, desde instrumentos com precisão de três dígitos até o densímetro de seis dígitos mais preciso do mundo, contando com instrumentos portáteis até os de bancada [37]. Figura 4: Densímetros Anton Paar, desde instrumentos portáteis até os de bancada [37]. Tabela 3: Percentagem de álcool em relação à densidade da solução hidroalcoólica a 20 ºC [32]. 4.2 Acidez total A acidez total corresponde à soma dos ácidos tituláveis quando se neutraliza o vinho até pH 7,0 com solução alcalina [9]. O ácido tartárico é o principal constituinte no vinho e, portanto, indispensável à sua qualidade. Durante a maturação do vinho ocorre um decréscimo na concentração de diversos ácidos [26]. Na legislação brasileira é estabelecido um nível ótimo de acidez que varia com as diferentes classes de vinho, de acordo com a Tabela 4. É importante ressaltar que a acidez do vinho modifica o sabor (quanto maior a acidez, mais fresco é o sabor); a cor (quanto maior a acidez, mais intensa e viva a cor) e a estabilidade microbiológica (quanto maior a acidez, mais difícil é para o desenvolvimento de bactérias) [34]. Para efeitos de correções na acidez total podem ser utilizados: carbonato de cálcio, bicarbonato de potássio ou tartarato neutro, todos usados para baixar a acidez total em ácido tartárico. A importância da determinação da acidez total nos vinhos está baseada nos seguintes pontos [31]: ▪ Importante para a caracterização dos vinhos e padronização; ▪ Reconhecimento de fraudes; ▪Controle de alterações indesejáveis por microrganismos; ▪ Acompanhamento da fermentação malolática; ▪ Acompanhamento da estabilização tartárica. Tabela 4: Limites de acidez total de acordo com a classe de vinho [33]. Classe Acidez total (meq/L) Mínimo Máximo a) de mesa; c) fino e h) composto 40,0 130,0 b) leve; d) espumante; e) frisante e f) gaseificado 55,0 130,0 g) licoroso 50,0 130,0 Segundo o Regulamento Vitivinícola do Mercosul, o método usual para determinação da acidez total consiste na acidimetria usando azul de bromotimol [26]. Rizzon (2010) descreveu o procedimento através da titulação de 5 mL de vinho com 100 mL de água destilada, com hidróxido de sódio 0,1 N, utilizando o azul de bromotimol como indicador do final da reação, até o aparecimento de cor azul, obtendo o volume gasto (mL) [9]. O cálculo do resultado da acidez total em meq L-1 pode ser obtida por meio da seguinte fórmula: onde: n = mililitros de hidróxido de sódio gastos na titulação N = normalidade do hidróxido de sódio V = volume de vinho utilizado em mL. 4.3 Acidez volátil Acidez volátil corresponde à soma dos ácidos graxos da série acética presentes no vinho no estado livre ou salificado, basicamente, são os ácidos acético, fórmico, propanoico e butílico. Os vinhos novos contêm acidez volátil mínima, que foi produzida na fermentação alcoólica e na malolática. A partir disso, ocorre uma elevação significativa, principalmente devido a bactérias acéticas, que degradam o álcool produzindo ácido acético e gás carbónico. As bactérias acéticas são aeróbicas, então, quando um recipiente não é mantido completamente cheio de vinho (esgotamento do recipiente), as condições são favoráveis para as bactérias crescerem e produzirem aumentos na acidez volátil [31][34][36]. Segundo o Regulamento Vitivinícola do Mercosul, o limite de acidez volátil é de 20,0 meq/L para todas as diferentes classes de vinho, sendo que o método usual para determinação da acidez volátil consiste no chamado Método de Jaulmes, em que é realizada a titulação dos ácidos voláteis, separados do vinho por meio da destilação por arraste de vapor da água, tirando o anidrido sulfuroso e o ácido sórbico quando for necessário [26][32][34]. Na Figura 5 se encontra um exemplo de modelo de destilador de vinho em conformidade com as normas OIV, CEE2676/90 E CEE2870/2000 [37]. Figura 5: Destilador de vinho em conformidade com as Normas OIV, CEE2676/90 E CEE2870/2000. Realiza a determinação de acidez volátil, pela titulação dos ácidos voláteis, separados do vinho pelo método de arraste de vapor [38]. Rizzon (2010) descreveu o procedimento nas seguintes etapas [32]: 1. Colocar 250 mL a 300 mL de água no balão do aparelho e colocar um erlenmeyer de 250 mL na saída do condensador. 2. Adicionar 10 mL de vinho sem dióxido de carbono e alguns cristais de ácido tartárico no tubo borbulhador. O vinho é acidificado por uma pequena quantidadede ácido tartárico, aproximadamente 0,25 g para 10 mL, antes do arraste pelo vapor, para evitar a passagem de ácido lático. 3. Aquecer com a torneira de vapor aberta, para retirar o gás carbônico que se encontra no aparelho. 4. Quando a água começar a ferver, fechar a torneira. Assim, o vapor d’água borbulha na amostra, arrastando os ácidos voláteis. Parar o aquecimento quando forem recolhidos 100 mL do destilado no erlenmeyer. 5. Acrescentar algumas gotas de fenolftaleína ao destilado do Erlenmeyer e titular com hidróxido de sódio 0,1 N, até o aparecimento da cor rosada. O cálculo do resultado da acidez volátil em meq L-1 pode ser obtida por meio da seguinte fórmula: onde: n = mililitros de hidróxido de sódio gastos na titulação N = normalidade do hidróxido de sódio V = volume de vinho utilizado em mL. 4.4 Análise do pH O pH representa o grau de dissociação dos ácidos na amostra, refletido na quantidade liberada de íons de hidrogênio, este valor varia para cada ácido presente na amostra. Por exemplo, o ácido tartárico é um ácido mais forte do que o málico e libera mais íons H+ em solução [36]. O valor é expresso em logaritmo negativo (base 10) da concentração de H+, conforme identificado na fórmula: pH = - log [H+] Esta fórmula mostra que à medida que existem mais ácidos dissociados ou uma concentração mais elevada de H+ na amostra, o pH da amostra diminui. No caso dos vinhos brasileiros, é variável de 3,0 até 3,8, dependendo do tipo de vinho (branco ou tinto), da cultivar e da safra [32]. A aferição deste valor é muito importante, pois influencia os aspectos sanitários e organolépticos do vinho. Valores baixos de pH são melhores para a conservação de vinhos e possuem cores mais vibrantes. Valores altos predispõem ao ataque de microrganismos indesejáveis, que diminuem a quantidade de dióxido de enxofre ativo ou molecular; a vivacidade da cor vermelha é reduzida neles e aumenta a predisposição à oxidação [36]. Segundo o Regulamento Vitivinícola do Mercosul, o método usual para determinação do pH é através de um potenciômetro de leitura digital com precisão de 0,01 unidades. Na Figura 6 se encontra um exemplo de pHmetro de bancada [38]. O princípio deste método baseia-se na diferença de potencial entre dois eletrodos mergulhados na amostra de vinho em análise. Um eletrodo de referência com um potencial constante e outro de medida, com um potencial determinado pelo pH do meio, onde o resultado da leitura do pH é feita diretamente, com duas casas decimais. O aparelho deve ser calibrado com soluções tampão à temperatura de 20 ºC [26] [32]. Figura 6: pHmetro de bancada Ohaus ST2100F Bivolt [39]. 4.5 Extrato seco O extrato seco total é o conjunto de todas as substâncias que em condições físicas determinadas não se volatilizam [34]. O valor do extrato seco pode ser alterado pela adição ilícita de álcool ou água ao vinho, bem como outras práticas legais, como o envelhecimento. Alguns processos, como a oxidação de corantes ou polifenóis, a fermentação de açúcares residuais e certas doenças, também modificam os valores do extrato seco [36]. A legislação brasileira não estabelece limites para o extrato seco total em vinhos. Segundo o Regulamento Vitivinícola do Mercosul, o método usual de determinação do extrato seco é indireto através de densimetria, é expresso em gramas por litro e deve ser determinado com uma aproximação de 0,5 g. É calculado indiretamente a partir do valor da densidade do resíduo sem álcool, vinho cujo álcool foi eliminado e cujo volume foi reconduzido ao valor inicial, com água. O extrato seco assim obtido corresponde à quantidade de sacarose que, dissolvida numa quantidade de água suficiente para um litro, corresponde a uma solução de mesma densidade que o resíduo sem álcool [26] [32]. Essa quantidade é fornecida pela Tabela 5. Rizzon (2010) descreveu o procedimento nas seguintes etapas [32]: 1. Determinar o conteúdo de álcool do vinho por destilação usando a Tabela 4 (álcool/densidade). Anotar o valor encontrado, na mesma tabela da densidade relativa de uma solução hidroalcoólica de etanol com a mesma concentração de etanol no vinho. 2. Determinar a densidade relativa do vinho a 20 ºC utilizando um densímetro ou o densímetro Anton Paar DMA 45. 3. Calcular a densidade do resíduo pela fórmula de Tabarié. Converter os valores da densidade do resíduo sem álcool da destilação (dr) para a quantidade de extrato seco (g L-1) com auxílio das Tabelas 5 e 6 (extrato/densidade). A densidade do resíduo sem álcool a 20/20 (dr) é calculada pela fórmula de Tabarié: dr = dv - da + 1.000 onde: dv = densidade relativa do vinho a 20 ºC obtida por meio do densímetro Anton Paar DMA 45. da = densidade a 20 ºC da mistura hidroalcoólica, (com o mesmo grau do vinho), esse valor é obtido na Tabela 4, indicada no procedimento do teor alcoólico do vinho. Tabela 5: Tabela de Ackemann para o cálculo do extrato seco (g L-1) em vinhos secos [32]. Tabela 6: Tabela de Windisch para o cálculo do extrato seco (g L-1) em vinhos suaves [32]. 4.6 Relação álcool em peso/extrato seco reduzido A importância da determinação do extrato seco se salienta pelo uso da legislação europeia e americana, já que a legislação brasileira não estabelece limites para o extrato seco total em vinhos, mas determina valores máximos para a relação álcool/extrato reduzido. Essa relação é utilizada para detectar a adição de álcool, água ou açúcar ao vinho antes do engarrafamento [31]. O extrato seco reduzido é obtido através da diferença do extrato seco total e do açúcar, este diminuído de um (quando o teor de sulfato for maior que um este deve ser considerado no cálculo) [32]. A tabela 7 apresenta os valores mínimos de extrato seco reduzido de acordo com a classe e cor do vinho. Não há especificações em valores máximos permitidos ou recomendados. O resultado é expresso em g/ L, de acordo com a equação [32]: Extrato seco reduzido (g/L) = Extrato seco (g L-1) - [Açúcares totais (g /L) - 1,0] Tabela 7: Extrato seco reduzido de acordo com a classe cor de vinho [33]. Classe Quanto a cor Extrato seco reduzido (g/L) Mínimo Máximo a) de mesa; c) fino a) tinto; 21 - b) rosado, rosé ou clarete e c) branco; 16 - b) leve; e) frisante; f) gaseificado a) tinto; 21 - b) rosado, rosé ou clarete; 19 c) branco; 16 - d) espumante a) tinto; 21 - b) rosado, rosé ou clarete e c) branco; 15 - g) licoroso a) tinto; 15 - b) rosado, rosé ou clarete e c) branco; 13 - h) composto a) tinto; 13 - b) rosado, rosé ou clarete e c) branco; 10 - Já a relação extrato seco reduzido/álcool é obtida multiplicando a graduação alcoólica por oito e dividindo pelo extrato seco reduzido [32]. A legislação brasileira estabelece valores máximos dessa relação para os diferentes tipos de vinho, dados representados na Tabela 8. De acordo com a seguinte equação: Á𝑙𝑐𝑜𝑜𝑙 (% 𝑣 𝑣) ∗ 8 𝐸𝑥𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜 𝑠𝑒𝑐𝑜 𝑟𝑒𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑜 Tabela 8: Valores máximos da relação álcool em peso/extrato seco reduzido [32]. Quanto a classe Quanto a cor c) fino; Demais classes a) tinto; 5,2 4,8 b) rosado, rosé ou clarete; 6,5 6 c) branco; 6,7 6,5 4.7 Teor de cinzas As cinzas correspondem ao conjunto de produtos da incineração do extrato seco do vinho conduzida entre 500 ºC e 550 ºC até a combustão completa do carbono [33]. Compreendem a todos os compostos inorgânicos do vinho e são provenientes, principalmente, da parte sólida da uva [31]. Os limites admitidos constam no Regulamento Vitivinícola do Mercosul, que determina que o valor mínimo seja de 1,50 g/L em vinhos tintos e 1,00 g/L para vinhosrosados e vinhos brancos [26]. Não há especificações em valores máximos permitidos ou recomendados. Normalmente as cinzas dos vinhos são brancas ou acinzentadas, e o aparecimento de uma coloração verde que passa à vermelha com a adição de um ácido indica presença de manganês em teor elevado. A cor amarelada das cinzas é um indicativo de teor elevado de ferro [32]. Rizzon (2010) descreveu o procedimento nas seguintes etapas: 1. Colocar 20 mL da amostra de vinho em uma capsula de platina, previamente tarada. 2. Evaporar até secar em banho-maria ou na chapa aquecedora. 3. Queimar o resíduo em bico de Bunsen e passar a capsula para a mufla a 525 ºC ± 25 ºC até que o resíduo fique completamente branco. 4. Esfriar a cápsula no dessecador e pesar rapidamente numa balança de precisão. As cinzas são expressas em g L-1 de amostra pela seguinte fórmula: 4.8 Demais parâmetros Na tabela 10 estão descritos alguns outros componentes do vinho e seus respectivos métodos analíticos usuais, métodos de referência, limite admitido e expressão dos resultados, que constam no Regulamento Vitivinícola do Mercosul, na Instrução Normativa N° 14, de 8 De fevereiro De 2018 e estão descritos nas Normas OIV, CEE2676/90 [26][33][34]. Tabela 10: Parâmetros analíticos, métodos analíticos usuais, métodos de referência, limite admitido e expressão dos resultados [26][33][34]. Componente Método usual Método referência Limite admitido Anidrido sulfuroso total Iodometria (Ripper) Método O.I.V Máximo: 250,0 mg/L Metanol Colorimetria con reagente de Schiff ou ácido cromotrópico Cromatografia Gasosa Máximo: 300,0 mg/L Ácido Cítrico Turbidimétrico com Bromo HPLC Máximo: 1,0 g/L Ácido sórbico Arrastamento com vapor e determinação por espectrofotometria HPLC Máximo: 250,0 mg/L expresso em Ácido Sórbico Cloretos totais Argentimetria Método O.I.V Máximo: 0,2 g/L expresso em Cloreto de Sódio Sulfatos totais Turbidimetria Método O.I.V Máximo: 1,2 g/L expresso em Sulfato de Potássio Cálcio Gravimetria Espectrofotometria de absorção atômica Máximo: 300,0 mg/L expresso em Óxido de Ca. Cobre Colorimétrico Espectrofotometria de absorção atômica Máximo: 1,0 mg/L Zinco Colorimétrico Espectrofotometria de absorção atômica Máximo: 5,0 mg/L Chumbo Colorimétrico Espectrofotometria de absorção atômica com forno de grafita Máximo: 0,3 mg/L Cádmio Espectrofotometria de absorção atômica O mesmo Máximo: 0,01 mg/L Arsênico Espectrofotometria de absorção atômica com formação de hidretos O mesmo Máximo: 0,2 mg/L Boro Espectrofotometria (O.I.V.) O mesmo Máximo: 80,0 mg/L expressos em ácido bórico REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] MACHADO, C. Fraudes em alimentos: conheça os principais alvos de adulteração. Eali. Disponível em: < https://www.eali.com.br/post/fraudes-em- alimentos-conhe%C3%A7a-os-principais-alvos-de-adultera%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 2 mar. 2021. [2] BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de lei nº 7.664, de 2017. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=7AAE1D 24C068C90B1A74E86728DF3F2C.proposicoesWebExterno2?codteor=1564518&filen ame=Avulso+-PL+7664/2017>. Acesso em: 2 mar. 2021. [3] SITTA, R. O vinho falsificado e os riscos à saúde. V ao Cubo. Disponível em: <https://vaocubo.com/2019/12/15/fakewinerisks> Acesso em: 2 mar. 2021. [4] PINHEIRO, J.C. Fraudes, enganos e trapaças no vinho. O boletim do vinho. Disponível em: < https://oboletimdovinho.com.br/2016/05/24/fraudes-enganos-e- trapacas-no-vinho/> Acesso em: 2 mar. 2021. [5] HISTÓRIA do Vinho. Portal São Francisco. Disponível em:< https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-geral/historia-do-vinho>. Acesso em: 2 mar. 2021. [6] JOHNSON, H. A história do Vinho. Londres: Editora Mitchell-Beazley, 1989. [7] GRIZZO, A. Servido nos banquetes de Júlio César, o Falerno é o vinho mais famoso do Império Romano. Revista Adega. Disponível em: < https://revistaadega.uol.com.br/artigo/grand-cru-romano_9694.html>. Acesso em: 2 mar. 2021. [8] WEOR, S. Medicina oculta de Samael Aun Weor. 1. ed. Edisaw, 2011. p. 56. [9] HOLMBERG, L. Wine fraud. International Journal of Wine Research, v. 2, p. 105-113, out. 2010. [10] SILVANO, C. História do vinho no Brasil e sua evolução até os dias de hoje. Enovírtua. Disponível em: <https://www.enovirtua.com/enocultura/historia-do-vinho- no-brasil-e-sua-evolucao-ate-os-dias-de-hoje/>. Acesso em: 2 mar. 2021. [11] Jornal Diretrizes, p. 16-17, mai. 1942. [12] Jornal do Brasil, 20 nov. 1971. [13] Brunch K.L. A História do Direito do Vinho no Brasil. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2018. [14] Jornal Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, mar. 1982. [15] EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Metodologia para análise de vinhos. 1. ed. Brasília: Embrapa, 2010, 126 p. Disponível em < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/887323/1/Metodologiaa nalisevinhotintoed012010.pdf >. Acesso em: 2 mar. 2021. [16] OBSERVADOR. Rudy Kurniawan: a história do falsificador de vinhos que saiu da prisão. Observador. Disponível em: < https://observador.pt/2020/11/10/rudy- kurniawan-a-historia-do-falsificador-de-vinhos-que-saiu-em-liberdade/ >. Acesso em: 2 mar. 2021. [17] R7. Polícia da Itália descobre negócio milionário de vinhos falsificados. Notícias R7. Disponível em: < https://noticias.r7.com/internacional/policia-da-italia-descobre- negocio-milionario-de-vinhos-falsificados-14102020 >. Acesso em: 2 mar. 2021. [18] GAZETA DO POVO. Vinho “batizado” com etanol é apreendido, depois que clientes passam mal. Gazeta do Povo. Disponível em: < https://www.gazetadopovo.com.br/curitiba/vinho-colonial-etanol-curitiba-apreensao/ >. Acesso em: 2 mar. 2021. [19] G1. Mapa divulga marcas de vinho com suspeita de adição de antibiótico. G1 globo. Disponível em: < http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2014/05/mapa- divulga-lista-de-vinhos-investigados-por-fraude-no-rs.html >. Acesso em: 2 mar. 2021. [20] O GLOBO, ano 8, n. 843, 18 dez. 1876. [21] O AUXILIAR DA INDÚSTRIA NACIONAL. Anos 1879 e 1880. [22] VOGEL, A. I. Química analítica qualitativa. 5. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1905. p. 228. [23] VOGEL, A. I. Química analítica qualitativa. 5. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1905. p. 277 [24] BRASIL. Lei nº 7.678, de 8 de novembro de 1988. Dispõe sobre a produção, circulação e comercialização do vinho e derivados da uva e do vinho, e da outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 9 nov. 1988. p. 21561. [25] AQUARONE, E.; BORZANI, W.; SCHIMIDELL, W.; LIMA, U.D.A. Biotecnologia Industrial. V. 4. São Paulo: Edgar Blücher, 2001. [26] MERCOSUL/GMC. Regulamento Vitivinícola do Mercosul. Buenos Aires, 1996. 24 p. Disponível em: <https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inspecao/produtos- vegetal/legislacao-1/biblioteca-de-normas-vinhos-e-bebidas/resolucao-mercosul-gmc- no-45-de-1996.pdf/view > Acesso em: 2 mar. 2021. [27] BRASIL. Lei nº 10.970, de 12 de novembro de 2004. Altera dispositivos da lei nº 7.678, de 08/11/1988, que dispõe sobre a produção, circulação e comercialização do vinho e derivados da uva e do vinho, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 nov. 2004. Seção 1, p. 1. [28] BRASIL. Lei nº 12.320, de 06 de setembro de 2010. Dá nova redação ao caput do art. 15 da lei nº 7.678, de 8 de novembro de 1988, que dispõe sobre a produção, circulação e comercialização do vinho e derivados da uva e do vinho, na forma que especifica. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 8 set. 2010. Seção 1, p. 1. [29] BRASIL. Decreto nº 8.198, de 20 de fevereiro de 2014. Regulamenta a lei nº 7.678,de 8 de novembro de 1988, que dispõe sobre a produção, circulação e comercialização do vinho e derivados da uva e do vinho. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 21 fev. 2014. Edição extra, Seção 1, p. 1. [30] BRASIL. Decreto nº 9.348, de 17 de abril de 2018. Altera o decreto nº 8.198, de 20 de fevereiro de 2014, que regulamenta a lei nº 7.678, de 8 de novembro de 1988, que dispõe sobre a produção, circulação e comercialização do vinho e derivados da uva e do vinho. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 abr. 2018. Seção 1, p. 8. [31] LOPES, R. V. S. Análise de parâmetros físico-químicos de vinhos tintos brasileiros. 2017. 62 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Química) - Centro de Ciência e Tecnologia, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, 2017. [32] RIZZON, L. A. Metodologia para análise de vinho. 1. ed. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2010. [33] BRASIL. Ministério Da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n° 14, de 8 de fevereiro de 2018. Estabelece a Complementação dos Padrões de Identidade e Qualidade do Vinho e Derivados da Uva e do Vinho. 2018. Disponível em: <https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inspecao/produtos- vegetal/legislacao-1/biblioteca-de-normas-vinhos-e-bebidas/instrucao-normativa-no-14- de-8-de-fevereiro-de-2018.pdf/view > Acesso em: 2 mar. 2021. [34] COMISSÃO EUROPEIA. Regulamento (CEE) nº 2676/90 da Comissão de 17 de setembro de 1990. Determina os métodos de análise comunitários aplicáveis no sector do vinho. Jornal Oficial das Comunidades Europeias. 3 out. 1990. Disponível em: <https://op.europa.eu/pt/publication-detail/-/publication/6528497d-1ece-4355-ab08- c73b3242f7ee#:~:text=para%20o%20Conte%C3%BAdo- ,Regulamento%20(CEE)%20n%C2%BA%202676%2F90%20da%20Comiss%C3%A3o %20de%2017,aplic%C3%A1veis%20no%20sector%20do%20vinho> Acesso em: 2 mar. 2021. [35] COMISSÃO EUROPEIA. Regulamento (CEE) nº 2870/20 da Comissão de 19 de dezembro de 2000. Estabelece métodos de análise comunitários de referência aplicáveis no sector das bebidas espirituosas. Jornal Oficial das Comunidades Europeias. 29 dez. 2000. Disponível em: <https://op.europa.eu/de/publication-detail/- /publication/b858d9a9-7fd3-4b3b-9cdf-31f1e2e499f0/language-pt > Acesso em: 2 mar. 2021. [36] NAZRALA, J. J. B. ; VILA, H. F. ; PALADINO; S.C.; LUCERO, C.C. Manual de técnicas analíticas para mostos y vinos. 1 ed. Mendoza: Ediciones Inta, 2009. [37] ANTOON PAAR. Densímetros digitais. Antoon paar. Disponível em: <https://www.anton-paar.com/br-pt/produtos/grupo/densimetro-digital/> Acesso em: 2 mar. 2021. [38] MANTECH. Destilador de vinho. Mantech. Disponível em: < http://www.mantechequipamentos.com.br/produtos/destilador-de-vinho.html > Acesso em: 2 mar. 2021. [39] CHEESELAB. pHmetro de bancada Ohaus ST2100F Bivolt. Cheeselab. Disponível em: <https://www.cheeselab.com.br/phmetro-de-bancada-ohaus-st2100f- bivolt/p?idsku=317&gclid=Cj0KCQiAvvKBBhCXARIsACTePW- y17wXTvcbMpfjcrcnApMk7YWD6kI9gCWI8pakOK7ycus1oFhHkJUaAtI5EALw_wc B > Acesso em: 2 mar. 2021.
Compartilhar