Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Gengivite Ulcerativa Necrosante Drª Aline Cristina Senna Babosa (Infecção de Vincent, Boca de Trincheira) A gengivite ulcerativa necrosante (GUN) apresenta um padrão distinto de alterações gengivais patologias que tem sido reconhecidas por centenas de anos. Até recentemente, o nome para esse processo era acrescido do termo aguda (p. ex., GUNA); entretanto, vários pesquisadores descontinuaram o uso dessa palavra por não haver forma crônica desta doença. por volta de 1890, o medico francês Jean Hyacinthe Vincent identificou uma bactéria fusiforme, o Bacillus fusiformis (atualmente fusobacterium nucleatum), e um espiroqueta, borrelia vincentii, após observações em microscópio de amostras de placa de sítios afetados. Vincent acreditava que a bateria fusiforme era a principal responsável por essa condição, e que os espiroquetas eram principalmente oportunistas saprófitas. A associação de bactérias fusiformes e espiroquetas continuam verdadeira ate hoje, porém técnicas mais sofisticadas também implicaram fusobacterium nucleatum, Prevotella intermedia, porphyromonas gingivalis, Treponema spp. e Selenomonas spp. Embora a associação das bactérias seja forte, pesquisas controversas tem sugerido que o envolvimento de virar como o citomegalovírus, o Epstein-Barr e o herpes simples pode contribuir para o desenvolvimento e progressão do processo. A infecção frequentemente ocorre na presença de estresse psicológico. Pessoas em serviço militar exibem GUN com mais frequência; essa doença foi tao comum nas trincheiras dos campos de batalha da 1ª Guerra Mundial que o apelido boca de trincheira se tornou bem conhecido. Barbosa A.C.S. Acredita-se que hormônios corticosteroides relacionados ao estresse alteram a taxa de linfócitos T4/T8 e podem causar a diminuição da quimiotaxia e da resposta fagocitária dos neutrófilos observadas em pacientes com GUN. A epinefrina relacionada ao estresse pode resultar em isquemia localizada, que predispõe a gengiva à GUN. Além do estresse, outros fatores podem estar relacionados ao aumento da frequência de GUN: Imunossupressão Tabagismo Trauma local Deficiencia Nutricional Higiene bucal deficiente Sono inadequado Doenças recentes O estado de imunocomprometimento, especialmente o observado em associação com a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) e mononucleose infecciosa, tem sido relacionada ao desenvolvimento do GUN. A lista dos Fatores predisponentes sustenta claramente a associação entre a depressão da imunidade sistêmica e o aparecimento dessa condição. Barbosa A.C.S. Características Clinicas A GUN pode ocorrer em qualquer idade, porém, nos EUA ou Europa, é vista com maior frequência em adultos jovens e de meia-idade. Diversas publicações tem relatado uma frequência maior em brancos. A prevalência na população normal é menor que 0,1%, entretanto, em populações estressadas (p. ex., recr utas mi l i tares ) f requência aumenta para 7% . Em países em desenvolvimento, GUN ocorre tipicamente em crianças muito jovens que sofrem com desnutrição. Variações sazonais na prevalência tem sido relatadas por alguns pesquisadores, no entanto, têm sido inconsistentes em diferentes áreas do mundo. Em um caso classico de GUN, as papilas interdentais estão altamente inflamadas, edematosas e hemorrágicas. Em geral as palas afetadas estão rombas e demonstram áreas deprimidas de necrose crateriforme, que são cobertas por uma pseudomembrana cinzenta. Casos iniciais podem não ser diagnosticados porque a ulceração começa acometendo apenas a ponta da papila interdental. Odor fétido, dor intensa, hemorragia espontânea e acumulo de tecido necrosado são observados. Barbosa A.C.S. Embora o odor fétido nem sempre seja notado, sua ausência em pacientes sem fatores predisponentes deve aumentar a preocupação com outras doenças, como a gonorréia. Outras características clinicas ocasionais incluem linfadenopatia, febre e mal estar. O processo as vezes pode levar a perda de inserção e desenvolvimento de periodontite associada (periodontite ulcerativa necrosante) ou estender-se aos tecidos moles adjacentes (Mucosite ulcerativa necrosante, estomatite necrosante). Se a infecção necrosante se estender através da mucosa até a pele da face, então é normalmente chamada noma (cancrum oris). Muitos pesquisadores tem sugerido que o GUN, periodontite ulcerativa necrosante e estomatite necrosante são um processo único conhecido como gengivoestomatite necrosante. Evidencias apresentadas por inumeros autores tem mostrado que essas doenças são clinica, histopatológica e bacteriologicamente similares, diferindo apenas nos fatores de base sistêmicos e na extensão anatomiaa da necrose. Barbosa A.C.S. Características Histopatológicas As características histopatológicas da GUN não são específicas. Normalmente, as papilas gengivas afetadas demonstram superfícies ulceradas cobertas por uma membrana fibrinopurulenta espessa. A lamina própria subjacente demonstra um intenso infiltrado inflamatório agudo ou misto e extensa hiperemia. Em áreas de epitélio afetado não ulcerado, em geral ocorre a perda de ceratinização superficial típica. material necrótico e extensa colonização bacteriana estão normalmente incluídos no material enviado para observação microscópica. Tratamento e Prognóstico Ao contrario da maioria das formas de doenças periodontal, a GUN demonstra uma resolução rápida após a remoção das bactérias desencadeadoras. Mesmo com terapia conservadora, a regeneração da gengiva afetada é normalmente observada. A área acometida é mais bem tratada com o debridamento obtido com a raspagem, curetagem ou instrumentação com o ultrassom (exceto quando contra-indicada, como em pacientes HIV-positivos). Anestesia tópica ou local é frequentemente necessária antes que o clinico execute o debridamento dos tecidos de maneira adequada. Bochechos frequentes com clorexidina, agua morna com sal ou peróxido de hidrogênio diluído são benéficos no aumento da resposta ao tratamento. Barbosa A.C.S. Antibióticos (metronidazol e penicilina tem sido sugeridos como os medicamentos de escolha) são auxiliares úteis, especialmente na presença de febre ou linfadenopatia. O tratamento deve incluir instruções sobre higiene bucal e motivação do paciente; também é vantajoso a identificação e resolução de qualquer fator predisponente. Terapia de suporte (p. ex., repouso, ingestão adequada de fluidos, dieta nutritiva liquida/pastosa) normalmente melhora a resposta clinica. Consultas de acompanhamento e manutenção são necessárias para reforçar as instruções de cuidado caseiros e para excluir a recorrência da doença. Em casos resistentes ao tratamento, é prudente realizar avaliações adicionais para afastar a hipótese de infecção por HIV e mononucleose. O clinico deve estar sempre vigilante na busca por outros sinais e sintomas de imunossupressão. Candidíases palatinas discretas ou leucoplasia pilosa oral relacionada ao HIV podem ser facilmente negligenciadas em pacientes com GUN. Deve ser direcionada a atenção adequada ao exame dos tecidos moles orais, especialmente em pacientes com infecção como a GUN que são relacionadas a imunossupressão. Além disso, uma investigação meticulosa das causas de base da imunossupressão deve ser executada em pacientes resistentes a terapia normal. Barbosa A.C.S.Fonte : Patologia Oral e Maxilofacial - Neville
Compartilhar