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Apostila Recursos ESA OAB GO Julho 2010

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Prévia do material em texto

LUÍS ALEXANDRE RASSI E PEDRO PAULO MEDEIROS 
A D V O C A C I A C R I M I N A L 
 
pedropaulo@rassimedeiros.adv.br 
 
 
 
 
 
 
Apostila de 
Processo Penal III 
 
 
Recursos 
Prisões e Penas 
Prescrição 
Juizados Especiais Criminais 
Execução Provisória de Pena 
Tabela de Prazos 
 
 
07/2010
 2 
"Fe l iz aque le que t r ans fe r e o que sabe e apr e nde o 
que e ns ina" (Co r a Co r al ina, po e t i sa br as i l e i r a) 
 
 
CAPÍTULO II 
 
2 .1 . O S RECURSO S 
2 .1 .1 . O DUPLO GRAU DE J URISDIÇÃO 
2 .1 .2 . CLASSIFICAÇÃO DO S RECURSO S 
2 .1 .2 .1 . QUANTO À FO NTE 
2 .1 .2 .2 . QUANTO À INICIATIVA 
2 .1 .2 .3 . QUANTO AO S M O TIVO S 
2 .1 .2 .4 . QUANTO À NATUREZA 
2 .1 .2 .5 . QUANTO À IM PO RTÂNCIA 
2 .1 .3 . FUNDAM ENTO S 
2 .1 .4 . PRESSUPO STO S 
2 .1 .4 .1 . O BJ ETIVO S 
2 .1 .4 .2 . SUBJ ETIVO S 
2 .1 .5 . ATO S SUJ EITO S A RECURSO 
2 .1 .6 . PARTES 
2 .1 .7 . AUTO RIDADE A QUEM O RECURSO É 
DIRIGIDO 
2 .1 .8 . J UÍZO DE ADM ISSIBILIDADE O U 
J UÍZO DE PREL I BAÇÃO 
2 .1 .9 . EXTINÇÃO NO RM AL DO S RECURS O S 
2 .1 .1 0 . EXTINÇÃO ANO RM AL DO S 
RECURSO S 
2 .1 .1 1 . ACEITAÇÃO EXPRESSA O U TÁCITA 
DA SENTENÇA 
2 .1 .1 2 . EFEITO S DO S RECURSO S, EM 
GERAL 
2 .1 .1 3 . J UÍZO DE ADM ISSIBILIDADE O U DE 
PRELIBAÇÃO 
2 .1 .1 3 .1 . J UÍZO A QUO 
2 .1 .1 3 .2 . J UÍZO AD QUEM 
2 .1 .1 4 . J UÍZO DE M ÉRITO O U DELIBAÇÃO 
(PRO VIM ENTO PARCIAL/TO TAL O U 
IM PRO VIM ENTO ) 
2 .1 .1 5 . O M INISTÉRIO PÚBLICO E SUA 
O RGANIZAÇÃO . 
2 .2 . O S RECURSO S EM ESPÉCIE. 
2 .2 .1 . APELAÇÃO 
2 .2 .2 . RECURSO EM SENTIDO ESTRITO 
2 .2 .3 . EM BARGO S DE DECLARAÇÃO 
2 .2 .4 . EM BARGO S DE DIVERGÊNCIA 
2 .2 .5 . EM BARGO S INFRINGENTES E 
EM BARGO S DE NULIDADE 
2 .2 .6 . H ABEAS CORPUS 
2 .2 .7 . M ANDADO DE SEGURANÇA 
2 .2 .7 .1 . CO M PETÊNCIAS DA J USTIÇA 
CO M UM PARA J ULGAM ENTO S DE 
M ANDADO DE SEGU RANÇA E H ABEAS 
CORPUS E SEUS RECURSO S INERENTES 
2 .2 .8 . O (EXTINTO ) PRO TESTO PO R NO VO 
J ÚRI 
2 .2 .9 . DO S AGRAVO S 
2 .2 .9 .1 . AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL 
2 .2 .9 .2 . AGRAVO REGIM ENTAL 
2 .2 .9 .3 . AGRAVO DE INSTRUM ENTO 
CO NTRA DESPACH O DENEGATÓ RIO DE 
SEGUIM ENTO A RECURSO ESPECIAL O U A 
RECURSO EXTRAO RDINÁRIO 
2 .2 .9 .4 . RECURSO INO M INADO 
2 .2 .1 0 . CARTA TESTEM UNH ÁVEL 
2 .2 .1 1 . CO RREIÇÃO PARCIAL 
2 .2 .1 2 . RECLAM AÇÃO 
 3 
2 .2 .1 3 . REVISÃO CRIM INAL 
2 .2 .1 4 . RECURSO INO M INADO 
2 .2 .1 5 . RECURSO EXTRAO RDINÁRIO 
2 .2 .1 6 . RECURSO ESPECIAL 
2 .2 .1 7 . RECURSO O RDINÁRIO 
CO NSTITUCIO NAL 
 
2 .2 .1 8 . J UIZADO S ESPECIAIS CRIM INAIS 
 
2 .2 .1 9 . ATUAÇÃO NO S TRIBUNAIS 
SUPERIO RES; REPERCUSSÃO GERAL, 
SÚM ULAS VINCULAN TES E RECURSO S 
REPRESENTATIVO S DE CO NTRO VÉRSIA 
 
 
CAPÍTULO III 
 
 
3 .1 . PRISÃO 
3 .1 .1 . ASPECTO S GERAIS DA PRISÃO 
3 .1 .2 . AS M O DALIDADES DE PRISÃO NO 
BRASIL 
3 .1 .2 .1 . PRISÃO CO M PENA O U PRISÃO 
PENAL 
3 .1 .2 .1 .1 . FO RM AS DE M ANIFESTAÇÃO 
3 .1 .2 .2 . PRISÃO SEM PENA 
3 .1 .2 .2 .1 . M O DALIDADES DE PRISÃO SEM 
PENA 
3 .1 .2 .2 .1 .1 . PRISÃO EM FLAGRA N TE 
3 .1 .2 .2 .1 .1 .1 . NATUREZA J URÍDICA 
3 .1 .2 .2 .1 .1 .1 .1 . ESPÉCIES DE FLAGRANTE 
3 .1 .2 .2 .1 .1 .1 .2 . FLAGRANTE NAS VÁRIAS 
ESPÉCIES DE CRIM E 
3 .1 .2 .2 .1 .1 .1 .3 . SUJ EITO S DO FLAGRANTE 
3 .1 .2 .2 .1 .1 .1 .3 . PRO CEDIM ENTO S E 
FO RM ALIDADES 
3 .1 .2 .2 .1 .1 .2 . LIBERDADE PRO VIS Ó R I A 
3 .1 .2 .2 .1 .1 .2 .1 . E SPÉCIES 
3 .1 .2 .2 .1 .1 .2 .1 .1 . LIBERDADE PRO VISÓ RIA 
SEM FIANÇA E CO M VINC U LAÇÃO 
3 .1 .2 .2 .1 .1 .2 .1 .2 . LIBERDADE PRO VISÓ RIA 
SEM FIANÇA E SEM VI N CULAÇÃO 
3 .1 .2 .2 .1 .1 .2 .1 .3 . LIBERDADE PRO VISÓ RIA 
CO M FI ANÇA 
3 .1 .2 .2 .1 .1 .2 .2 . VEDAÇÃO EX LEGE DE 
CO NCESSÃO DE LIBERDADE PRO VISÓ RIA 
3 .1 .2 .2 .1 .1 .2 .2 .1 . VEDAÇÃO EX LEGE DE 
PRO GRESSÃO DE REGIM E DE 
CUM PRIM E N TO DE PENA 
3 .1 .2 .2 .1 .2 . PRISÃO TEM PO RÁRIA 
3 .1 .2 .2 .1 .3 . PRISÃO PREVENTIVA 
3 .1 .2 .2 .1 .3 .1 . PRISÃO PREVENTIVA PARA 
FINS DE EXTR ADIÇÃO 
3 .1 .2 .2 .1 .4 . PRISÃO DECO RRENTE DA 
DECISÃO DE PR O N Ú N C I A 
3 .1 .2 .2 .1 .5 . PRISÃO DECO RRENTE DA 
SENTENÇA PENAL CO NDENATÓ RIA 
RECO R RÍVEL 
3 .1 .2 .2 .1 .6 . PRISÃO CIVIL. 
3 .1 .2 .2 .1 .7 . PRISÃO ADM INISTRATIVA. 
3 .1 .2 .2 .1 .8 . PRISÃO DISCIPLINAR.
 
3 .2 . AS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO . 
PENAS ALTERNATIVAS. 
3 .2 .1 . ABO RDAGEM H ISTÓ RICA DAS PENAS 
E O ESCO PO DAS PENAS PRIVATIVAS DE 
LIBER DADE 
3 .2 .2 . TEO RIA DAS PENAS 
 4 
3 .2 .3 . NÚM ERO S CARCERÁRIO S NO 
BRASIL E O S DISPO SITIVO S DE PENAS 
ALTER NATIVAS 
3 .2 .4 . PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO S 
EM SINTO NIA CO M O S DIREITO S 
H UM ANO S 
3 .2 .4 .1 . AS PENAS RESTRITIVAS DE 
DIREITO S NO BRASIL 
3 .2 .5 . CIRCUNSTÂNCIAS EM QUE INCIDEM 
A PENA RESTRITIVA DE DIREITO S. 
 
CAPÍTULO IV 
 
4 .1 . ALGUM AS CO NSIDERAÇÕ ES SO BRE A 
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELA 
PRESCR I ÇÃO 
4 .2 . CO NCEITO 
4 .3 . O RIGEM H ISTÓ RICA 
4 .4 . NATUREZA J URÍDICA 
4 .5 . IM PRESCRITIBILIDADE 
4 .6 . ESPÉCIES 
4 .6 .1 . PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO 
PUNITIVA PRO PRIAM ENTE D I TA 
4 .6 .1 .1 . INÍCIO DO CÔ M PUTO , CAUSAS 
INTERRUPTIVAS E SUSPENS I VAS DO 
FLUXO DO PRAZO PRESCRCIO NAL 
4 .6 .1 .1 .1 . A NO VA CAUSA INTERRUPTIVA 
DO FLUXO DO PRAZO PRE SC R I CIO NAL, 
INSERIDA NO ARTIGO 1 1 7 , IV DO CPB 
PELA LEI n
o
 1 1 .5 9 6 /0 7 
4 .6 .2 . PRESCRIÇÃO SUBSEQÜENTE À 
CO NDENAÇÃO 
4 .6 .3 . PRESCRIÇÃO RETRO ATIV A 
4 .6 .4 . PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO 
EXECUTÓ RIA 
4 .6 .5 . A PRESCRIÇÃO RETRO ATIVA PELA 
PENA EM CO NCRETO PERSPECTIVA NO 
DIREITO PENAL BRASILEIRO 
4 .7 . EFEITO S 
4 .8 . LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE 
4 .8 .1 . PRAZO S ESPECIAIS DE PRESCRIÇÃO 
4 .8 .1 .1 . PENA DE M ULTA 
4 .8 .1 .2 . CRIM ES FALIM ENTARES 
4 .8 .1 .3 . CRIM ES CO M ETIDO S ATRAVÉS DA 
IM PRENSA 
4 .8 .1 .4 . ABUSO DE AUTO RIDADE 
4 .8 .1 .5 . LEI N
O
 1 1 .3 4 3 /0 6 (LEI DE DRO GAS. 
USO PRÓ PRIO ) 
 
 
CAPÍTULO VI 
 
 
6 .1 . A EXECUÇÃO PRO VISÓ RIA DA PENA 
NO DIREITO PENAL BRASILEIRO . 
IM PRESCINDIBILIDADE DA ANUÊNCIA D O 
CO NDENADO SE AUSENTE NECESSIDADE 
DE PRISÃO CAUTELAR. 
 
TABELA CO M PRINCIPAIS PRAZO S D O 
PRO CESSO PENAL BRASILEIRO 
 
BIBLIO GRAFIA SUGERIDA 
 
 5 
2.1. OS RECURSOS. 
 
 A palavra recurso vem do vocábulo lat ino recursus , que significa 
corrida para t rás, caminho para voltar, volta‖, sintet izando recurso como 
sendo ‖o direito público subjet ivo de pedir o reexame de uma decisão‖. Já a 
palavra ―processo‖: Significa ir adiante, seguir em frente 
 
 É o meio processual voluntário ou obrigatório de impugnação de uma 
decisão, ut ilizado antes da preclusão (perda do prazo), apto a propiciar um 
resultado mais vantajoso na mesma relação jurídica processual, decorrente 
de reforma, invalidação, esclarecimento ou confirmação; Em suma, é o 
pedido de reexame e reforma de uma decisão jud icial. 
 
 A falha humana e o inconformismo natural daquele que é vencido 
(sucumbente) e deseja submeter o caso ao conhecimento de outro órgão 
jurisdicional;ele inst rumentaliza o princípio do ―duplo grau de jurisdição‖. 
 
 A finalidade principal é o reexame de uma decisão por órgão 
jurisdicional de superior instância (apelação, RESE etc.) ou pelo mesmo 
órgão que a prolatou (embargos de declaração, o extinto protesto por novo 
júri, RESE e Recurso de Agravo de Instrumento nos juízos de ret ratação 
etc.). 
 
 É a concret ização da regra do ―doble conforme‖, segundo a qual 
quando uma operação aritmét ica realizada duas vezes dá o mesmo resultado, 
há grandes possibilidades de que seja exata, acertada. 
 
―Esta garantia procesal, bien explicada, debe conducir 
necesariamente, a la exigência de que, para ejecutar 
 6 
uma ena contra uma persona, se necesita una doble 
conformidad judicial, si el condenado la requiere . . .‖ 1 
 
 Em matéria criminal, o recurso contra decisões de Tribunais e juízes 
deve ser entendido como uma garant ia p rocessual do condenado que tem 
direito a que sua sentença seja revisada por Tribunal Superior e, ao mesmo 
tempo, permit ir o exercício de meio de controle dos órgãos Judiciários 
Superiores do Estado sobre a tarefa cumprida pelos órgãos Judiciários 
inferiores
2
 (―justice retenue‖) 3. 
 
 Como o recurso é o remédio que atende a necessidade de efet ivação 
da just iça e da exata aplicação do direito e o fundamento do chamado 
princípio do duplo grau de jurisdição, a parte não deve ficar prejudicada se 
se equivoca no meio pelo qual deve ser efetuado o reexame da decisão. Há 
realmente situações em que existem dúvidas na doutrina e na jurisprudência 
quanto ao recurso adequado a certas situações. Assim, adota -se no processo 
penal o Princípio da Fungibilidade dos recursos, colocando-se acima da 
legit imidade formal o fim a que visa a impugnação. Dispõe o art igo 579 do 
CPP, que, "salvo hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela 
interposição de um recurso por outro". E assim tem se decidido na 
jurisprudência, admit indo-se o recurso interposto por outro em caso de 
evidente equívoco, onde não houver má-fé. Reconhecendo o juiz, desde 
logo, a impropriedade do recurso interpo sto pela parte, deve mandar 
 
1 FERRANTE, Marcelo, la garantia de impugnabilidade de la sentencia pena condenatoria ... citando como fonte 
CARNELUTTI, Francesco, Derecho procesal civil y penal. Ed. Jur. Europa-América, Buenos Aires, 1981, t. I 
(Derecho y proceso, trad. Sentis Melendo, Santiago),os 277 y s. 
No Direito alem~o, antes da revoluç~o liberal, havia ainda o “triple sentencia conforme”, porque entendia-se que 
a acusação estatal teria um direito independente de recurso, daí se falar em três vias de conformidade 
(conforme CALAMANDREI, Piero, La casación civil, Ed. Bibl, Arg., Buenos Aires, 1945, t. I, 1, página 264 e seg.) 
apud ABREGÚ, Martin et al. La aplicación de los tratados sobre derechos humanos por los tribunales locales 
/compilado por Martin Abregú e Chrsitian Courtis – 1ª Edição – Ciudad Autônoma de Buenos Aires: Del Puerto; 
Buenos Aires: Centro de Estudios Legales y Sociales – CELS, 2004, página 414. 
 
2 ABREGÚ, Martin et al. La aplicación de los tratados sobre derechos humanos por los tribunales locales /compilado 
por Martin Abregú e Chrsitian Courtis – 1ª Edição – Ciudad Autônoma de Buenos Aires: Del Puerto; Buenos 
Aires: Centro de Estudios Legales y Sociales – CELS, 2004, pagina 410. 
 
3 A França passou da “justiça retida” (justice retenue), vinculada ao Rei e ao Poder Moderador, { “justiça 
delegada” (justice déléguée). 
 7 
processá-lo, de acordo com o rito do recurso cabível (art . 579, parágrafo 
único, CPP). Quando o reconhecimento do equívoco ocorrer junto ao Juízo 
ad quem , este deverá, se for o caso, converter o julgamento em diligência 
para que se proceda de aco rdo com o que dispõe a lei a respeito da 
t ramitação do recurso admissível. 
 
 É necessário observar que a lei limita o princípio da fungibilidade. 
Não deve ser admit ido o recurso se ficar reconhecida a má -fé do recorrente. 
Não se permite ainda que se conheça do recurso indevido, ainda que no 
prazo a este concedido, se se esgotou o prazo do recurso devido. Caso 
contrário, possibilitar -se-ia a fraude daquele que, vendo ter -se esgotado o 
prazo do recurso adequado, impetrasse outro, cujo prazo ainda não estaria 
vencido. É de se notar, também, que o erro grosseiro na interposição de 
recurso inadequado é indicat ivo de má-fé, não se admit indo prova em 
contrário, e decidindo-se pelo não-conhecimento da impugnação. Em 
resumo, o princípio da fungibilidade recursal só tem incidência quando ficar 
evidente a inexistência de má-fé, tempest ividade e equívoco da parte ao 
manejar um recurso por outro. 
 
 No processo penal, para o acusado a fungibilidade é total, porque se 
t ratam de direitos indisponíveis. Já no processo civil a fungibilidade está 
vinculada a inexistência de erro grosseiro, além do fato de qu e o exercício a 
tempo certo é o essencial para aplicação desse princípio. 
 
 O reflexo lógico da ausência da dúvida objet iva acerca do recurso 
próprio para o inconformismo da parte, repercute diretamente na ocorrência 
de erro grosseiro. Pont ifica Nelson Nery Junior
4
 que ―configura erro 
grosseiro a interposição de recurso errado, quando o correto se encontra 
indicado expressamente no texto de lei‖ 
 
 
4 NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de processo civil comentado e legislação 
extravagante. 7. ed. São Paulo: RT, 2003. 
 
 8 
 
2.1.1. O DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO 
 
 
 Alguns doutrinadores entendem que esse Duplo Grau de Jurisdição 
não é obrigatório, ou seja, que não está expressamente previsto na 
Const ituição da República Federat iva do Brasil, promulgada em 1988, 
contudo tal previsão é implícita nessa Carta. Entretanto , o Pacto de San 
José da Costa Rica (art igo 8.2) e o Pacto Internacional d e Direitos Civis e 
Polít icos (art igo 14.5), dos quais o Brasil é signatário, t razem essa garant ia
5
 
aos acusados no processo penal. 
 
 Deve-se contudo, fazer uma diferenciação entre duplo grau de 
jurisdição e direito a reapreciação da decisão proferida pelo Órgão 
Jurisdicional. Na verdade, não há garant ia de que certa decisão será 
obrigatoriamente reexaminada por um grau jurisdicional superior. O que há, 
sim (ainda que implicitamente na Const ituição da República Federat iva do 
Brasil, promulgada em 1988 para os processos judiciais, e quanto aos 
procedimentos administ rat ivos ainda há controvérsias sobre sua existência), 
é o direito a ver a matéria reapreciada novamente pelo Poder J udiciário, 
ainda que pelo mesmo Órgão prolator da decisão que será reapreciada, não 
sendo obrigatório que seja por instância superior. 
 
 Sobre instância, observe-se que nem sempre o 1
o
 grau será a 1
a
 
instância. Em competência originária, o 1
o
 grau será o Tribunal (que pode 
ser de 2
a
 instância como o TJGO ou o TRF1, ou de instância super ior como 
STF ou STJ) competente originariamente para julgar. 
 
 
5 ABREGÚ, Martin et al. La aplicación de los tratados sobre derechos humanos por los tribunales locales /compilado 
por Martin Abregú e Chrsitian Courtis – 1ª Edição – Ciudad Autônoma de Buenos Aires: Del Puerto; Buenos 
Aires: Centro de Estudios Legales y Sociales – CELS, 2004, página 410. 
 
 9 
 E entrância é relat ivo ao tamanho da Comarca dentro do Estado. Ex. 
cidades pequenas são de Entrância Inicial, cidadesmédias, Entrância 
Intermediária, e a Comarca da Capital, Entrância Final (é para onde vão 
Juízes e Promotores, finalmente e caso assim queiram, depois de passarem 
algum tempo nas Entrâncias anteriores. Somente podem pleitear ascensão 
vert ical ao Tribunal de Apelação como Desembargadores ou Procuradores 
de Just iça após terem passado pela Entrância final). 
 
 Convém ler o conteúdo do Acórdão resultante do julgamento do 
Habeas Corpus (HC 88420) concedido pela Primeira Turma do Supremo 
Tribunal Federal (STF
6
): 
 
―.. . Voto do relator 
Para o Ministro Ricardo Lewandowski, a ação trata do 
confronto de dois preceitos legais. Por um lado, o 
duplo grau de jurisdição (conforme artigo 8º, II , ‗h‘, 
do Pacto de São José da Costa Rica – incorporado ao 
ordenamento jurídico brasileiro por força do artigo 5º, 
parágrafo 2º da Constituição Federal). De outro lado, 
a exigência de recolher-se o réu condenado à prisão 
para que sua apelação seja processada (de acordo com 
artigo 594 do Código de Processo Penal - CPP). O que 
a defesa pretende é interpor em favor do réu, 
condenado em 1º grau, recurso de apelaçã o, 
independentemente de seu recolhimento ao cá rcere. 
Lewandowski af irmou considerar que o direito ao duplo 
grau de jurisdição tem ―estatura constitucional, ainda 
que a Carta Magna a ele não faça menção direta‖. Isso 
porque, prossegue o ministro, o ‗due process of law‘, 
constante do artigo 5º, LXVI, contempla a possibilidade 
 
6 Notícias do STF. Terça-feira, 17 de Abril de 2007 – “Condenado pode apelar de sentença mesmo não estando 
preso”. 
 10 
de revisão por tribunal superior de sentença profer ida 
por juízo monocrático. 
Para ele, o ‗duplo grau‘ deve prevalecer sobre o artigo 
594 do CPP. ―Tal direito integra o sistema pátrio d e 
direitos e garantias fundamentais, conforme decidido 
pelo Supremo na ADI 1675‖, conf irmou. O relator 
ponderou que a incorporação desse direito foi posterior 
à edição do CPP (Decreto-Lei 689/41). Isso porque a 
ratif icação pelo Brasil da Convenção Interamericana 
de Direitos Humanos (o Pacto de São José) foi em 
1992. ―Assim, qualquer disposição em contrário da lei 
processual encontra-se, senão revogada, ao menos 
substancialmente mitigada‖.. .‖ 
 
 Contudo, como já mencionado ao início, o Duplo Grau de Juri sdição é 
previsto no âmbito penal, e os referidos textos dos Tratados assinados pelo 
Brasil exigem que um Juiz ou Tribunal superior diverso julgue o recurso, 
que é por sua vez um direito do acusado
7
. 
 
 O STF tem como jurisprudência clássica entender que não há duplo 
grau de jurisdição em competência originária. Já a Corte Interamericana de 
Direitos Humanos, afirma que mesmo em caso de competência originária 
todo Acusado tem direito a duplo grau, salvo se a condenação emana de 
Tribunal máximo do país (no caso do Brasil, STF). Portanto, der acordo 
com Luiz Flávio Gomes, se alguém é condenado em algum Tribunal 
originariamente, caberia Recurso Ordinário Const itucional ( pro reo , 
sempre), salvo se esse Tribunal que o condenou for o STF. E mesmo que se 
t rate de STF como competência originária, então deverá o STF aceitar uma 
 
 
7 MAIER, Julio B. J. Derecho procesal penal , t. I, Fundamentos, cit., página 726, apud ABRAMOVICH, Victor et al. La 
aplicación de los tratados sobre derechos humanos em el âmbito local: La experiencia de una década/compilado 
por Victor Abramovich; Christian Courtis; Alberto Bovino – 1ª Edição – Ciudad Autônoma de Buenos Aires: Del 
Puerto; Buenos Aires: Centro de Estudios Legales y Sociales – CELS, 2006, página 530. 
 
 11 
revisão criminal flexibilizada (para apr eciar de forma ampla as razões da 
insurgência). 
 
 Pela Corte, não importa se é outro Juiz, ou um Tribunal quem julga a 
insurgência, o importante é que haja o recurso, sendo que recurso a 
prest igiar o duplo grau de jurisdição deve ser o meio pelo qual se possam 
re-analisar fatos, provas e direito . 
 
 Com relação aos processos que t ramitam perante Tribunais, em razão 
de competência originária – quando o Acusado possui foro por 
prerrogativa de função , ou o caso comporta essa competência originária, o 
acusado será processado originalmente já em um Tribunal de Instância 
superior – observa-se que os recursos eventualmente cabíveis serão aqueles 
previstos no Regimento int erno do respect ivo Tribunal, bem como aqueles 
previstos na legislação a serem manejados contra decisão emanada daquele 
Tribunal – não necessariamente um recurso ordinário (apelação etc.). 
Questão interessante será quando alguém for processado originariamen te 
perante o Pleno do Supremo Tribunal Federal (a mais alta Instância do 
Poder Judiciário do Brasil) , e da decisão algum interessado se encontrar 
sucumbente. A quem recorrerá? Embargos Declaratórios seriam cabíveis, 
mas são eles ―Recurso‖, considerando -se o fato de que pela sua 
característ ica essencial, não visam precipuamente a modificação do julgado 
(efeitos infringentes), e nem são julgados por outro órgão não -vinculados à 
decisão recorrida? E a garant ia do Duplo Grau de J urisdição, mencionado 
acima? Não há resposta objet iva nem precedente. 
 
 Contudo, há precedente da just iça Argent ina (Corte Suprema de 
Just icia de la Nación, CSJN, Fallos , 323:4130,por maioria) afirmando que o 
julgamento originário por Tribunais de últ ima instância não ofenderia o 
art igo 8.2 do Pacto de San José da Costa Rica
8
, decisão essa contestada 
 
8 ABRAMOVICH, Victor et al. La aplicación de los tratados sobre derechos humanos em el âmbito local: La 
experiencia de una década/compilado por Victor Abramovich; Christian Courtis; Alberto Bovino – 1ª Edição – 
 12 
pelos doutrinadores argent inos, em especial frente ao teor dos Tratados 
Internacionais de Direitos Humanos
9
. 
 
―.. . puede ser que la conciliación de la norma de la 
CADH com el juzgamiento orig inario y exclusivo por la 
Corte de los casos penales que satisf agan las 
condiciones del art. 117, párr. 2, de la CN no resultaba 
fácil, pero auélla no podia ser resultado del sacrif ício 
del recurso contra la condena que, como garantia 
mínima, la primera expresamente prescribe . . . decisión 
de outro órgano acuredo com las normas vigentes, para 
revisar la atuación y decisión de outro órgano judicial. 
Se trata de uma cuestión de distribuición de 
competências y no de subordinación jerárquica, por lo 
demás contraria a la nota de ―independência‖ 
instrumental dela garantia de imparcialidad, 
reconocida expresamente por los mismos pactos -v. gr. , 
art. 8.1, CADH; 14.1, PIDCP – Precisamente debido a 
esta garantia, no seríaa constitucionalmente admissible 
que las mismas personas (juez o juezes) que dictaron la 
sentencia impugnada, uma ver interpuesto el recurso 
garantizado al imputado, sena quienes la revisen . . .‖10 
 
 Regist re-se que o Enunciado 74
11
 do Fórum Permanente de Ju ízes 
Coordenadores dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Brasil somente 
 
Ciudad Autônoma de Buenos Aires: Del Puerto; Buenos Aires: Centro de Estudios Legales y Sociales – CELS, 
2006, página 529. 
 
9 BIDART CAMPOS, Germán J. la doble instancia em el proceso penal (la Convención sobre Derechos Humanos deSan José da Costa Rica), El Derecho, Buenos Aires, t. 118, p.879 e SAGÜÉS, Néstor Pedro. La instancia judicial 
plural penal Ella Constitución Argentina y en el Pacto de San José de Costa Rica, “La Ley”, Buenos Aires, t.1988-E, 
III, p.160, apud ABREGÚ, Martin et al. La aplicación de los tratados ... página 411. 
 
10 ABRAMOVICH, Victor ... página 529. 
 
11 A prerrogativa de foro na esfera penal não afasta a competência dos Juizados Especiais Cíveis. 
 
 13 
demonstra – em que pese não exatamente esse o teor de sua red ação - que 
se aplicaria o rito dos Juizados em eventual processo, mas a competência 
cont inua sendo originária tal como previsto na norma que regulamenta essa 
prerrogat iva, sob pena de se obrigar um ente público a ser julgado perante 
um Juízo não invest ido de Poder Revisor, como aqueles que compõem os 
Tribunais. Portanto, será julgado no Tribunal originariamente competente, 
mas sob o rito dos Juizados, quanto comportável. 
 
 O certo é que o foro por prerrogat iva de função visa a proteger o 
cargo e não a pessoa que momentaneamente o exerce, pois caso contrário 
estaríamos diante de um verdadeiro foro privilegiado, o que é 
expressamente vedado pelo texto const itucional. 
 
 Observa-se que ainda temos em vigor (mas sem validade) a regra 
segundo a qual "se o réu condenado fugir depois de haver apelado, será 
declarada deserta a apelação." (art . 595, CPP). Referido art igo foi 
finalmente reconhecido como não -recepcionado pela Carta Magna brasileira 
de 1988 (STF – RHC 83810/RJ – julgado em 05-03-2009). 
 
 Da mesma forma, igualmente soava est ranho para nós não se permit ir 
ao acusado o acesso ao duplo grau de jurisdição, quando não seja primário 
e não tenha bons antecedentes. 
 
 O devido processo legal deve garant ir a possibilidade de revisão dos 
julgados. A falibilidade humana e o natural inconformismo de quem perde 
estão a exigir o reexame de uma matéria decidida em primeira instância, a 
ser feito por juízes colet ivos e magist rados mais experientes. 
 
 14 
 Em França, segundo Ét ienne Vergès, " l´article préliminaire du Code 
de procédure pénale dispose in f ine que ´toute personne condamnée a le 
droit de faire examiner sa condamnation par une autre juridiction`. "
12
 
 
 A Const ituição da República Federat iva do Brasil, promulgada em 
1988, prevê o duplo grau de jurisdição no seu art . 93, III (" acesso aos 
tribunais de segundo grau") e pressupõe, evidentemente, uma decisão 
judicial e a sucumbência (prejuízo). 
 
 Há mais de vinte anos, o jurista baiano Calmon de Passos mostrava a 
sua preocupação com "a tendência, bem visível entre nós, em virtude da 
grave crise que atinge o Judiciário, de se restringir a admissibilidade de 
recursos, de modo assistemático e simplório, em detrimento do que 
entendemos como garantia do devido processo legal, incluída entre as que 
são asseguradas pela nossa Constituição. " 
 
 Neste mesmo t rabalho, nota o eminente Mestre que " o estudo do 
duplo grau como garantia constitucional desmereceu, da parte dos 
estudiosos, em nosso meio, considerações maiores. Ou ele é simplesmente 
negado como tal ou, embora considerado como ínsito ao sistema, f ica sem 
fundamentação mais acurada, em que pese ao alto saber dos que o 
af irmam, certamente por força da larga admissibilidade dos recursos em 
nosso sistema processual, tradicionalmente, sem esquecer sua 
multiplicidade."
13
 
 
 Não se pode esquecer que a "adoção do duplo grau de jurisdição 
deixa de ser uma escolha eminentemente técnica e jurídica e passa a ser, 
num primeiro instante, uma opção política do legislador ."
14
 
 
 
12 Procédure Pénale, Paris: LexisNexis Litec, 2005, p. 49. 
13 Estudos Jurídicos em Homenagem à Faculdade de Direito da Bahia, São Paulo: Saraiva, 1981, p. 88. 
14 Moraes, Maurício Zanoide de, Interesse e Legitimação para Recorrer no Processo Penal Brasileiro, São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2000, p. 29. 
 15 
 Como vimos, o duplo grau de jurisdição tem caráter de norma 
materialmente const itucional, mormente porque o Brasil rat ificou a 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa 
Rica) que prevê em seu art . 8º. , 2, h, qu e todo acusado de delito tem 
"direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior ", e tendo-se 
em vista o estatuído no § 2º. , do art . 5º. , da CF/88, segundo o qual " os 
direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros 
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. " 
Rat ificou a República Brasileira , também, o Pacto Internacional sobre 
Direitos Civis e Polít icos de Nova Iorque que no seu art . 14, 5, estatui que 
"toda pessoa declarada culpada por um del ito terá o direito de recorrer da 
sentença condenatória e da pena a uma instância superior, em 
conformidade com a lei ." 
 
 É bem verdade que a doutrina se debate a respeito da posição 
hierárquica que ocupam as normas advindas de t ratado internacional. Parte 
dela entende que caso a norma internacional t rate de garant ia individual, 
terá ela status const itucional, até por força do referido § 2º. 
 
 Fábio Comparato, por exemplo, informa que " a tendência 
predominante, hoje, é no sentido de se considerar que as normas 
internacionais de direitos humanos, pelo fato de expressarem de certa 
forma a consciência ét ica universal, estão acima do ordenamento jurídico 
de cada Estado. (. . . ) Seja como for, vai -se af irmando hoje na doutrina a 
tese de que, na hipótese de conf litos entre regras internacionais e internas, 
em matéria de direitos humanos, há de prevalecer sempre a regra mais 
favorável ao sujeito de direito, pois a proteção da dignidade da pessoa 
 16 
humana é a f inalidade última e a razão de ser de todo o sistema jurídico "
15
: 
é o chamado princípio da prevalência da norma mais favorável
16
. 
 
 Ada, Dinamarco e Araújo Cintra, após admit irem a indiscut ível 
natureza polít ica do princípio do duplo grau de jurisdição ("nenhum ato 
estatal pode f icar imune aos necessários controles ") e que ele "não é 
garantido constitucionalmente de modo expresso, entre nós, desde a 
República", lembram, no entanto, que a atual Const ituição " incumbe-se de 
atribuir a competência recursal a vários órgãos da jurisdição (art. 102, II; 
art. 105, II; art. 108, II), prevendo expressamente, sob a denominação de 
tribunais, órgãos judiciários de segundo grau (v.g. , art. 93, III). "
17
 
 
 Com a Emenda Const itucional nº. 45, temos uma nova disposição 
const itucional, cont ida no art . 5º. , § 3º. , da Const ituição Brasileira, 
segundo a qual "os tratados e convenções internacionais sobre direitos 
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em 
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão 
equivalentes às emendas const itucionais ." 
 
 Aliás, segundo Luiz Flávio Gomes, em razão "d o pensamento do 
Estado Moderno, da Revolução Francesa, do código napoleônico, onde 
reside a origem da confusão entre lei e Direito; os direito s e a vida dos 
direitos valeriam (exclusivamente) pelo que está escrito na lei; quando o 
correto é reconhecer que a lei é só o ponto de partida de toda 
interpretação (que deve sempre ser conforme a Constituição). A lei pode 
até ser, também, o ponto de chegada, mas sempre que conf lita com a Carta 
Magna, perde sua relevância e primaz ia, porque, nesse caso, devem ter 
incidência(prioritária) as normas e os pri ncípios constitucionais. A lei, 
 
15 Apud Sylvia Helena de Figueiredo Steiner, A Convenção Americana sobre Direitos Humanos e sua Integração 
ao Processo Penal Brasileiro, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 91. 
16 "Este princípio, perseguido pelo direito internacional geral, e vigorosamente defendido por setores da 
doutrina brasileira, parece não haver ganho, até o presente, expressiva concreção na jurisprudência brasileira, 
devendo ser lembrada a questão do depositário infiel." (Bahia, Saulo José Casali, Tratados Internacionais no 
Direito Brasileiro, Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 116). 
 17 
como se percebe, foi destronada. Mesmo porque, ao contrário do que 
pensava Rousseau, o legislador não é Deus e nem sempre representa a 
vontade geral, ao contrário, com freqüência atua em favor de interesses 
particulares (ou mesmo escusos). Lei vigente, como se vê, não é lei válida. 
Sua validez decorre da coerência com o text o constitucional."
18
 
 
 Observações de Dante Bruno D'Aquino: 
 
"Como sua própria designação denota, a interpretação 
conforme a Constituição pressupõe um trabalho de 
exegese da norma infraconstitucional. Fundamenta -se, 
em primeiro plano, na superioridade hierárquica das 
normas constitucionais. Ou seja, no princípio pelo qual 
todas as normas devem se compatibilizar com a 
Constituição, encontrando nela, como já ressaltado por 
Kelsen, o seu fundamento de validade. Ao lado do 
primado da superioridade hierárquica das normas 
constitucionais está a presunção de legalidade da 
atividade legiferante do poder público. Esta presunção 
de legalidade, que, ressalte-se, admite prova em 
contrário, é o outro alicerce de alçada da 
interpretação conforme a Constituição. Noutro diz er, a 
superioridade hierárquica da Constituição Federal e a 
presunção de legalidade das leis demandam que, no 
exercício da atividade interpretativa, dê -se preferência 
ao sentido normativo que esteja consentâneo com a 
Carta Constitucional. (. . . ) Importante constatar que a 
interpretação conforme a constituição, para além de 
uma categoria interpretativa distinta das modalidades 
clássicas, constitui um ef icaz mecanismo de controle de 
 
17 Teoria Geral do Processo, São Paulo: Malheiros Editores, 1999, 15ª. ed., p. 74. 
 18 
constitucionalidade das leis e atos normativos. Ao 
identif icar a interpretação mais harmônica com a 
Constituição, afasta da norma a possibilidade de 
interpretações que surtam efeitos inconstituci onais."
19
 
 
 
 Se temos a garant ia const itucional da presunção de inocência, é 
evidente que não pode ser efeito de uma sentença condenatória recorrível, 
pura e simplesmente, um decreto prisional, sem que se perquira quanto à 
necessidade do encarceramento. 
 
 Como sabemos, entre nós, cabível será a prisão prevent iva desde que 
fundamentada a necessidade concreta da decisão, evidenciando o fumus boni 
iuris (fumus comissi delicti – prova da existência do crime e indício 
suficiente de autoria), assim como periculum in mora (periculum libertatis 
– garant ia da ordem pública20, da ordem econômica, por conveniência da 
inst rução criminal, para assegurar a aplicação da lei pena – 312 do CPP -, 
 
18 "Ser diplomado (já) não significa ter emprego ou sucesso profissional" - www.ultimainstancia.ig.com.br - 21 
de junho de 2005. 
19 "Interpretação conforme a Constituição" - especial@parana-online.com.br (19/06/2005). 
20 Conceito por demais genérico e, exatamente por isso, impróprio para autorizar uma custódia provisória que, 
como se sabe, somente se justifica no processo penal como um provimento de natureza cautelar (presentes o 
fumus commissi delicti e o periculum libertatis). Há mais de dois séculos Beccaria já preconizava que "o réu não 
deve ficar encarcerado senão na medida em que se considere necessário para o impedir de escapar-se ou de 
esconder as provas do crime" (Dos delitos e das penas, São Paulo: Hemus, 1983, p. 55), o que coincide com dois 
outros requisitos da prisão preventiva em nosso País (conveniência da instrução criminal e asseguração da 
aplicação da lei penal). Decreta-se a prisão preventiva no Brasil, muitas vezes, sob o argumento de se estar 
resguardando a ordem pública, quando, por exemplo, quer-se evitar a prática de novos delitos pelo imputado ou 
aplacar o clamor público. Não raras vezes vê-se prisão preventiva decretada utilizando-se expressões como 
"alarma social causado pelo crime" ou para "aplacar a indignação da população", e tantas outras frases (só) de 
efeito. A respeito, veja-se a preocupação dos juristas espanhóis Gimeno Sendra, Moreno Catena e Cortés 
Dominguez: "Tampoco puede atribuirse a la prisión provisional un fin de prevención especial: evitar la 
comisión de delitos por la persona a la que se priva de libertad. La propia terminología más frecuentemente 
empleada para expresar tal idea - probable comisión de ´otros´ o ´ulteriores´ delitos - deja entrever que esta 
concepción se asienta en una presunción de culpabilidad. (?) Por las mismas razones no es defendible que la 
prisión provisional deba cumplir la función de calmar la alarma social que haya podido producir el hecho 
delictivo, cuando aún no se ha determinado quién sea el responsable. Sólo razonando dentro del esquema lógico 
de la presunción de culpabilidad podría concebirse la privación en un establecimiento penitenciario, el 
encarcelamiento del imputado, como instrumento apaciguador de las ansias y temores suscitados por el delito. 
(?) La vía legítima para calmar la alarma social - esa especie de ´sed de venganza´ colectiva que algunos parecen 
alentar y por desgracia en ciertos casos aflora - no puede ser la prisión provisional, encarcelando sin más y al 
mayor número posible de los que prima facie aparezcan como autores de hechos delictivos, sino una rápida 
sentencia sobre el fondo, condenando o absolviendo, porque sólo la resolución judicial dictada en un proceso 
puede determinar la culpabilidad y la sanción penal." (Derecho Procesal Penal, Madrid: Colex, 3ª. ed., 1999, pp. 
522/523). 
 19 
para garant ir a execução das medidas protet ivas de urgência previstas na 
Lei n
o
 11.340/06 – 313, IV do CPP -,em razão da magnitude da lesão 
evidenciada em crimes contra o sistema financeiro nacional previstos na Lei 
7.942/86
21
 - art igo 30 dessa lei referida – ou mesmo no caso de crimes 
falimentares previstos na Lei 11.101/05
22
 – art igo 99, VII do diploma legal 
mencionado)
23
. São estes os requisitos da prisão prevent iva e que 
configuram exatamente o periculum libertatis . Estes requisitos, portanto, 
representam a necessidade da prisão prevent iva, que não é outra coisa senão 
uma medida de natureza flagrantemente cautelar, pois visa a resguardar, em 
últ ima análise, "a ordem pública", a inst rução criminal ou a aplicação da lei 
penal (há, ainda, os pressupostos desta pr isão, que não nos interessam no 
presente tópico
24
). 
 
 Se assim o é a prisão será uma decorrência de uma sentença 
condenatória recorrível sempre que, in casu , for cabível a prisão prevent iva 
contra o réu, independentemente de sua condição pessoal de primário e de 
ter bons antecedentes; ou seja, o que definirá se o acusado aguardará preso 
ou em liberdade o julgamento final do processo é a comprovação da 
presença de um daqueles requisitos acima referidos. 
 
 Conclui-seque a necessidade é o fator determinante para alguém 
aguardar preso o julgamento final do seu processo, já que a Const ituição 
 
 
21 A magnitude da lesão (artigo 30 da Lei 7.942/86) não é critério suficiente para determinação da preventiva, 
ademais é norma absolutamente aberta e indefinida, pois não se sabe o que é magnitude da lesão. Nessa 
situação, seria caso de preventiva com base nos artigo 312 do CPP (garantia da ordem econômica), mas não 
com fulcro neste artigo em que se refere a magnitude da lesão. 
 
22 A previsão da Lei de Falências é vaga e não demonstra a necessidade da determinação de prisão preventiva, 
apenas mencionando o óbvio: caberá a medida também nos crimes previstos nessa lei anômala. Mas a 
necessidade de sua aplicação deverá ser apreciada com base na complementação feita pelas normas extraídas 
dos textos dos artigos 312 e 313 do CPPB. 
 
23 GOMES, Luiz Flávio. Direito penal: comentários à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos:Pacto De 
San José Da Costa Rica/ Luiz Flávio Gomes, Valério de Oliveira Mazzuoli, volume 04. São Paulo: Editora Revista 
dos Tribunais, 2008, página 48. Nesse mesmo sentido, LIMA, Renato Brasileiro de. Rede. Aulas expositivas de 
processo penal brasileiro ministradas na Rede LFG de Ensino. São Paulo, 2008. 
 
24 Fumus commissi delicti: indícios da autoria e prova da materialidade do crime. 
 20 
garante que "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado 
de sentença penal condenatória ." 
 
 Por outro lado, como a ampla defesa (e no seu bojo a garant ia do 
duplo grau de jurisdição) também está absolutamente tutelada pela Carta 
Magna, não se pode condicionar a admissibilidade da apelação ao 
recolhimento do réu à prisão, mesmo que ele não seja primário e não tenha 
bons antecedentes. Aqui, vamos, inclusive, mais além: mesmo que a prisão 
seja necessária (e se revista, portanto, da cautelaridade t ípica da prisão 
provisória), ainda assim, admit ir -se-á o recurso, mesmo que não tenha sido 
preso o acusado, ou que, após ser preso, venha a fugir. 
 
 Observa-se que, agora, mesmo sendo cabível o encarceramento 
provisório (por ser, repita-se, necessário), o não recolhimento do acusado 
não pode ser obstáculo à interposição de eventual recurso da defesa, e se 
recurso houver, a fuga posterior não lhe obstará o regular andamento (não 
pode ser considerado deserto), pois "a garantia do duplo grau de 
jurisdição assegura o conhecimento e o julgamento da apelação mesmo que 
o Estado não alcance êxito na recaptura do acusado. "
25
 
 
 Não se pode concordar , outrossim, que a exigência da prisão para 
recorrer fosse uma "regra procedimental condicionante do processamento 
da apelação", como pensa Mirabete
26
, pois, como contrapõe Luiz Flávio 
Gomes, "se não ofende a presunção de inocência ou a ampla defes a, 
indiscutivelmente ofende o princ ípio da necessidade de fundamentação da 
prisão, inscrito no art. 5º , LXI"
27
, mesmo porque "os princípios que 
disciplinam o cabimento das prisões cautelares são radicalmente distintos 
dos princípios que regulam a interposição, a admissibilidade, o 
conhecimento e o julgamento dos recursos. "
28
 
 
25 José Antonio Paganella Boschi, "A sentença penal", Revista de Estudos Criminais, Porto Alegre, n. 05/2002. 
26 Processo Penal, São Paulo: Atlas, 10ª. ed., 2000, p. 649. 
27 Direito de Apelar em Liberdade, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2ª. ed., p. 32. 
28 José Antonio Paganella Boschi, "A sentença penal", Revista de Estudos Criminais, Porto Alegre, n. 05/2002. 
 21 
 
 Vê-se que não optamos pela interpretação literal do art . 595
29
, o que 
seria desastroso, tendo em vista as garant ias const itucionais acima vistas. 
Por outro lado, ut ilizamo -nos do critério da interpretação conforme a 
Const ituição, procurando adequar o texto legal com o Texto Maior e 
evitando negar vigência ao disposit ivo, mas, antes, admit indo -o válido a 
part ir de uma interpretação garant idora e em consonância com a 
Const ituição. Relembremos que "não se pode interpretar a Constituição 
conforme a lei ordinária (gesetzeskonformen Verfassunsinterpretation). O 
contrário é que se faz."
30
 
 
 Segundo Jacinto Nelson de Miranda Cout inho, " a questão é tentar 
quase o impossível: compatibilizar a Consti tuição da República, que impõe 
um Sistema Acusatório, com o Direito Processual Penal brasileiro atual e 
sua maior referência legislativa, o CPP de 41, cópia malfeita do Codice 
Rocco de 30, da Itália, marcado pelo princípio inquisitivo nas duas fases 
da persecutio criminis, logo, um processo penal regido pelo Sistema 
Inquisitório. (. . . ) Lá, como é do conhecimento geral, ninguém duvida que o 
advogado de Mussolini, Vincenzo Manzini, camicia nera desde sempre, foi 
quem escreveu o projeto do Codice com a cara do regime (. . .) "
31
 
 
 Afinal, como já escreveu Cappellet t i, "a conformidade da lei com a 
Constituição é o lastro causal que a torna válida perante todas ."
32
 
 
 Devemos interpretar as leis ordinárias em conformidade com a Carta 
Magna, e não o contrário! Como magist ralmente escreveu Frederico 
Marques, a Const ituição Federal "não só submete o legislador ordinário a 
 
29 "A interpretação jurídica, insista-se, não pode ser meramente literal. No dizer do jurista italiano Dellogu, a 
letra da lei é ponto de partida, não é ponto de chegada!" (Luiz Vicente Cernicchiaro, Escritos em Homenagem a 
Alberto Silva Franco, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 290). 
30 STJ, Rel. Min. ADEMAR MACIEL, DJU 3.4.95, p.8.149. 
31 O Núcleo do Problema no Sistema Processual Penal Brasileiro, Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências 
Criminais, nº. 175, junho/2007, p. 11. 
32 Apud José Frederico Marques, in Elementos de Direito Processual Penal, Campinas: Bookseller, 1998, Vol. I, p. 
79. 
 22 
um regime de estrita legalidade, como ainda subordina todo o sistema 
normativo a uma causalidade constitucional, que é condição de 
legitimidade de todo o imperativo jurídico. A conformidade da lei com a 
Constituição é o lastro causal que a torna válida perante todos. "
33
 
 
 Devemos atentar que o art . 595 foi inserido em nosso código 
processual penal pela Lei n
o
 5.941/73, época em que vigiam em nosso País a 
Const ituição anterior a 1988 (que não t razia o princípio da presunção de 
inocência) e um regime polít ico não democrát ico. Referido art igo foi 
finalmente reconhecido como não -recepcionado pela Carta Magna brasileira 
de 1988 (STF – RHC 83810/RJ – julgado em 05-03-2009). 
 
 Naquele contexto histórico, portanto, fácil era entender que uma lei 
ordinária viesse a dificultar o direito ao recurso e a prever a prisão 
automática decorrente de sentença condenatória recorrível. Bastava a 
sentença condenatória e a prisão impunha-se automaticamente, por força de 
lei, presumindo-se a culpabilidade ou a periculosidade do réu
34
. 
 
 Ocorre que desde 1988 temos outra Const ituição, com outros 
princípios, muitos dos quais expressamente previstos (o que não impede a 
existência de princípios const itucionais implícitos, como, v.g. , o da 
proporcionalidade). A lei anterior, então, tem que ser interpretada segundo 
este crit ério , ou seja, em conformidade com a nova ordem const itucional 
(sob pena de ser considerada não recepcionada e, logo, inválida), 
evidentemente sem ult rapassar o seu sent ido literal, apenas conformando -a 
com a Constituição. 
 
 Hoje, contudo, conforme ensina Boschi, "o réu tem o direito 
subjetivo público de apelar em liberdade - mesmo não sendo primário e de 
 
33 Elementos de Direito Processual Penal, Vol. I, Campinas: Bookseller, 1998, p. 79. 
34 Ocorre que "nenhuma presunção emanada do legislador infraconstitucional pode prevalecer sobre a 
presunção constitucional", como diz Luiz Flávio Gomes, ob. cit., p. 26. 
 23 
bons antecedentes - , porque a suspensividade é uma qualidade ínsita aos 
recursos criminais da defesa ."
35
 
 
 Como dissemos, no tempo em que foi inserida em nosso sistema 
jurídico, a lei t raduzia, em verdade, o momento histórico em que vivia o 
País, cabendo, por isso mesmo, atentarmos, agora, para o elemento 
histórico-teleológico (concepção subjet ivista da interpretação, ou teoria da 
vontade), segundo o qual a lei obedece ao tempo em que foi 
intencionalmente (finalist icamente) concebida, devendo ser interpretada 
preferencialmente em confo rmidade com aquela realidade. 
 
 James Goldshimidt
36
 já afirmava no clássico "Problemas Jurídicos e 
Políticos del Proceso Penal" que a est rutura do processo penal de um país 
indica a força de seus elementos autoritários e liberais
37
. 
 
 Devemos, então, buscar abrigo neste elemento histórico, acomodando 
a lei às "novas circunstâncias não previstas pelo legislador", especialmente 
aos "princípios elevados a nível constitucional"
38
. 
 
 Só poderíamos interpretar este art igo literalmente se este mo do 
interpretat ivo fosse possível à luz da Const ituição. Por outro lado, não 
entendemos ser o caso de, simplesmente, reconhecer inválida a norma 
insculpida naquele art igo de lei. A nós nos parece ser possível interpretá -la 
em conformidade com o texto const itucional, sem que se o declare inválido 
 
35 Ob. cit. 
36 Para Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, "nunca foi tão importante estudar os Goldschmidt, mormente agora 
onde não se quer aceitar viver de aparências e imbrogli retóricos." (O Núcleo do Problema no Sistema 
Processual Penal Brasileiro, Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, nº. 175, junho/2007, p. 12). 
37 Apud José Frederico Marques, in Elementos de Direito Processual Penal, Vol. I, Campinas: Bookseller, 1998, p. 
37. 
38 "Estes são, sobretudo, os princípios e decisões valorativas que encontram expressão na parte dos direitos 
fundamentais da Constituição, quer dizer, a prevalência da 'dignidade da pessoa humana' (...), a tutela geral do 
espaço de liberdade pessoal, com as suas concretizações (...) da Lei Fundamental." (Larenz, Karl, Metodologia da 
Ciência do Direito, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 3ª. ed., 1997, p. 479). 
 24 
e sem "ultrapassar os limites que resultam do sentido literal e do contexto 
signif icativo da lei."
39
 
 
 Se verdade é que "por detrás da lei está uma determinada intenção 
reguladora, estão valorações, aspirações e ref lexões substantivas, que nela 
acharam expressão mais ou menos clara", também é certo que "uma lei, 
logo que seja aplicada, irradia uma acção que lhe é peculiar, que 
transcende aquilo que o legislador tinha intentado. A lei intervém em 
relações da vida diversas e em mutação, cujo conjunto o legislador não 
podia ter abrangido e dá resposta a questões que o legislador ainda não 
tinha colocado a si próprio. Adquire, com o decurso do tempo, cada vez 
mais como que uma vida própria e afasta -se, deste modo, das idéias dos 
seus autores." (grifo nosso): teoria o bjet ivista ou teoria da interpretação 
imanente à lei
40
. 
 
 A interpretação literal efet ivamente deve ser o início do t rab alho, mas 
não o completa sat isfatoriamente
41
. Como nos ensina o Professor Miguel 
Reale, "a norma é sempre momento de uma realidade histórico -cultural, e 
não simples proposição af irmando ou negando algo de algo. (. . . ) Se a 
regra jurídica não pode ser entendida sem conexão necessária com as 
circunstâncias de fato e as exigências axiológicas, é essa complexa 
condicionalidade que nos explica por que uma mesma norma de direito, 
sem que tenha sofrido qualquer alteração, nem mesmo uma vírgula, 
adquire signif icados diversos com o volver dos anos, por obra da doutrina 
e da jurisprudência. É que seu sentido autêntico é dado pela estimativa dos 
fatos, nas circunstâncias em que o intérprete se encontra. (. . . ) Dizemos, 
assim, que uma regra ou uma norma, no seu sentido autêntico, é a sua 
interpretação nas circunstâncias históricas e sociais em que se encontra no 
momento o intérprete. Isto não quer dizer que sejamos partidários do 
Direito Livre. (. . . ) Assim, o Juiz "não pode deixar de valorar o conteúdo 
 
39 Idem, p. 481 
40 idem, ibidem, p. 446. 
 25 
das regras segundo tábua de estimativas em vigor no seu tempo. (. . . ) E, 
concluindo, arremata o nosso f ilósofo: "o reajustamento permanente das 
leis aos fatos e às exigências da justiça é um dever dos que legislam, mas 
não é dever menor por parte daqueles que têm a missão de interpretar as 
leis para mantê-las em vida autêntica ."
42
 
 
 Carlos Maximiliano, a propósito , ensinava: 
 
"(. . .) Em se tratando de normas formuladas 
por gerações anteriores, o juiz, embora 
dominado pelo intuito sincero de lhes 
descobrir o sentido exato, cria, malgrado seu, 
uma exegese nova, um alcance mais amplo, 
consentâneo com a época. (. . . ) Ante a 
imobilidade dos textos o progresso jurídico se 
realiza graças à interpretação evolutiva, 
inspirada pelo progredir da sociedade."
43
 
Vê-se que "las leyes son e deben ser la 
expresión más exacta de las necesidades 
actuales del pueblo, habida consideración del 
conjunto de las contingencias históricas, en 
medio de las cuales fueron promulgadas ."
44
 
(destaques inexistentes no original) 
 
 
 Atenta-se, com Maximiliano, que o "Direito objetivo não é um 
conglomerado caótico de preceitos; constitui vasta unidade, organ ismo 
regular, sistema, conjunto harmônico de normas coordenadas, em 
 
41 "Toda a interpretação de um texto há-de iniciar-se com o sentido literal" (idem, p. 450). 
42 Filosofia do Direito, São Paulo: Saraiva, 7ª. ed., 1975, pp. 508 e ss. (apud Luiz Flávio Gomes, Estudos de Direito 
Penal e Processo Penal, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 217). 
43 Hermenêutica e Aplicação do Direito, Rio de Janeiro: Forense, 1961, 9ª. ed., pp. 122 e ss. (apud Luiz Flávio 
Gomes, Estudos de Direito Penal e Processo Penal, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 218). 
 26 
interdependência metódica, embora f ixada cada uma no seu lugar 
próprio."
45
 
 
 Portanto, encontra-se inteiramente superada o Enunciado 267 da 
Súmula do Superior Tribunal de Just iça editou a Súmula 267, segundo a 
qual "a interposição de recurso, sem efeito suspensivo, contra decisão 
condenatória não obsta a expedição de mandado de prisão ". 
 
 O mesmo se diga quanto ao art . 27, § 2º da Lei nº. 8.038/90, dando 
efeito apenas devolut ivo aos recursos especial e extraordinário. Neste 
sent ido, atentemos para a lição de Ada Pellegrini Grinover, segundo a qual 
esta norma "visa a regulamentar os recursos de forma genérica, não sendo 
aplicável, quanto aos efeitos prisionais, à esfera penal. "
46
 Neste mesmo 
sent ido, Paganella Boschi, para quem este parágrafo " endereça-se 
unicamente aos processos c íveis,porque nestes a execução provisória da 
sentença, mediante caução pelo autor, é perfeitamente admissível. Jamais 
as sentenças proferidas nos processos criminai s, por implicar ofensa 
aberta, direta e frontal à garantia da presunção de inocência, antes 
citada."
47
 
 
 Aliás, não é mesmo possível admit ir -se o efeito somente devolut ivo 
do recurso especial (e mesmo do extraordinário) na esfera penal, pois 
estaríamos contrariando o princípio const itucional da presunção de 
inocência. 
 
 Para finalizar, recorremos, mais uma vez, a Larenz: 
 
 
44 Fiore, Pascuale, De la Irretroactividad e Interpretación de las Leyes, Madri: Reus, 1927, p. 579 (tradução do 
italiano para o espanhol de Enrique Aguilera de Paz). 
45 Idem, p. 165. 
46 Apud Roberto Delmanto Junior, in As modalidades de prisão provisória e o seu prazo de duração, Rio de 
Janeiro: Renovar, 1998, p. 206. 
47 Revista de Estudos Criminais nº. 05, Porto Alegre: Editora NotaDez, 2002. 
 27 
"Mediante a interpretação 'faz-se falar' o 
sentido disposto no texto, quer dizer, ele é 
enunciado com outras palavras, expressado 
de modo mais claro e preciso, e tornado 
comunicável. A esse propósito, o que 
caracteriza o processo de interpretação é que 
o intérprete só quer fazer falar o texto, sem 
acrescentar ou omitir o que quer que seja. 
Evidentemente que nós sabemos que o 
intérprete nunca se comporta aí de modo 
puramente passivo."
48
 
 
 
2.1.2. CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS 
 
2.1.2.1. QUANTO À FONTE 
 
- constitucionais – são aqueles previstos no próprio texto da 
CRFB/88 (ex.: Habeas Corpus , recurso especial, recurso 
extraordinário etc.). 
- legais – são aqueles previstos no CPP (ex.: Apelação, R ESE, o 
ext into protesto por novo júri, embargos de declaração, 
infringentes ou de nulidade, revisão criminal, carta testemunhável 
etc.) ou em leis especiais (ex.: agravo em execução etc.). 
- regimentais – são aqueles previstos no regimento interno dos 
t ribunais (ex.: agravo regimental). 
 
 
2.1.2.2. QUANTO À INICIATIVA 
 
 
 
48 Ob. cit., p. 441. 
 28 
- voluntários – são aqueles em que a interposição do recurso fica 
a critério exclusivo da parte que se sente prejudicada pela decisão 
do juiz; é a regra no processo penal. 
 
- necessários (ou ―de ofício‖ ou anômalos) – em determinadas 
hipóteses, o legislador estabelece que o juiz deve recorrer de sua 
própria decisão, sem a necessidade de ter havido impugnação por 
qualquer das partes; se não for interposto a decisão não t ransitará 
em julgado (ex.: da sentença que concede HC - art . 574, I , CPP-, 
da sentença que absolve sumariamente o Acusado - art . 411 - leia-
se 415, CPP -; da decisão que arquiva IP ou da sentença que 
absolve o Acusado de crime contra a economia popular ou contra 
a saúde pública, da que concede reabilitação e da decisão que 
nega liminarmente revisão criminal no Tribunal cabe essa remessa 
obrigatória para o Colegiado). Como o recurso objet iva a reforma 
de uma decisão, deve ficar na dependência da parte sucumbente, 
ou seja, daquela que foi lesada por ela. Em princípio somente a 
essa parte deve ser conferida ampla liberdade para interpor à 
recurso, demonstrando, assim, sua concordância ou não com o 
pronunciamento jurisdicional. Por isso se fala em recurso 
voluntário. Evidentemente, pode ser ele interposto também pelo 
Ministério Público, quer como representante da parte (Estado), 
quer como custus legis, como já visto. É seu direito e dever a 
interposição quando, como t itular da ação pe nal ou fiscal da lei, 
discordar da decisão. É um ônus das demais partes, que recorrem 
se quiserem. 
Mas a esse princípio, da voluntariedade do recurso, a lei abre 
exceções, prevendo o denominado recurso de ofício (recurso 
obrigatório, recurso necessário). Apresenta-se o recurso ex 
of f icio como uma providência imposta por lei no sent ido do 
reexame de sentenças e decisões pelos órgãos judiciários 
superiores, quando versem determinadas matérias e segundo a 
 29 
decisão adotada. Por isso, o recurso de ofício é chamad o de 
recurso anômalo, sendo considerado por muitos como uma 
extravagância judiciária e arcaica, hoje totalmente desnecessária. 
A remessa ex of f icio não é recurso, ao revés, é condição 
suspensiva da eficácia da decisão , assim o reexame necessário é 
mero complemento do julgado ou medida acautelatória para evitar 
um desgaste culposo ou doloso do erário ou da coisa pública (STJ 
- EREsp 823.905/SC). São recursos que obrigatoriamente devem 
ser interpostos pelo juiz, na decisão, não t ransitando em julgado a 
sentença em que t iver sido omit ido (Súmula Não -Vinculante do 
STF, Enunciado 423,). Dispõe, assim, o art igo 574: "Os recursos 
serão voluntários, excetuando -se os seguintes casos, em que 
deverão ser interpostos, de ofício, pelo juiz: I - da sentença que 
conceder habeas corpus; II - da que absolver desde logo o réu 
com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime 
ou isente o réu da pena, nos termos do art. 411‖ (411=415 pela 
nova redação do CPP, e não confunda essa absolvição sumária 
com aquela mencionada no art igo 397 do CPP). Não cabe recurso 
de ofício da decisão que julga ext inta a punibilidade ante a 
prescrição da ação penal, que não se confunde com a hipótese de 
absolvição sumária. Por exclusão implícita do art igo 574, não 
cabe recurso de ofício da decisão que denega o writ . Quanto ao 
recurso da decisão que concede habeas corpus , não tem ele efeito 
suspensivo, ex vi do disposto no art igo 584, mas simplesmente 
devolut ivo. Tinha efeito suspensivo, porém, o recurso da sentença 
de absolvição sumária no processo do júri, conforme disposição 
expressa (art . 411, in f ine). Contudo , com a nova redação do 
CPP (lei n
o
 11.689/08), o recurso cabível contra a absolvição 
sumária no Júri é a Apelação (artigo 416 do CPP), e não há 
nesse artigo qualquer referência a ser ela recebida com efeito 
suspensivo, daí aplicar-se a regra geral do artigo 593 do CPP. 
Referindo-se ao art igo 411 (leia-se 415), o art igo 574, II, não tem 
 30 
aplicação quando se t rata de absolvição nos processos de 
competência do juiz singular ou dos pr ocessos especiais. 
Há, porém outras hipóteses de cabimento de recurso de ofício 
além dos mencionados no art igo 574. São também hipóteses de 
interposição obrigatória de recurso as de sentenças absolutórias 
referentes aos crimes contra a economia popular ou a saúde 
pública bem como os despachos que determinarem o arquivamento 
dos autos do inquérito policial referentes a esses crimes (art . 72 
da Lei n
o
 1.521, de 26-12-51). Incluem-se nessa regra os crimes 
referentes à incorporação imobiliária previstos na Lei n º 4.591, de 
1964. Todavia, referindo -se apenas a "crimes", a lei não inclui na 
obrigatoriedade o recurso no processo das contravenções contra a 
economia popular. No que se relaciona com os crimes contra a 
saúde pública, é jurisprudência pacífica que não ca be o recurso de 
ofício nas decisões a respeito do comércio clandest ino de 
entorpecentes, embora sejam eles dessa espécie, já que o processo 
penal a eles relat ivos está disciplinado integralmente em lei 
especial (então vigente Lei nº 6.368, de 21 -10-76, hoje 
11.343/06). 
Também são hipóteses de cabimento do recurso de ofício o 
indeferimento in limine da revisão pelorelator que dará recurso 
para as Câmaras Reunidas ou para o Tribunal (art . 625, § 3
o
, do 
CPP) e a decisão que conceder a reabilitação (art . 746 d o CPP). 
Quanto a esta últ ima hipótese, não têm razão os que o consideram 
abolido pela Lei nº 7.210/84, já que ela não revogou o art igo 746 
do Código de Processo Penal, apesar de se encontrar ele no Livro 
IV deste Estatuto, que t rata de execução penal, por serem 
compat íveis os disposit ivos referentes à reabilitação e a Lei de 
Execução Penal. 
Tratando-se de recurso de ofício, desnecessário é que seja ele 
fundamentado, ou seja, o juiz não precisa dizer das razões que o 
levam a recorrer. Também não se deve int imar as partes para o 
 31 
arrazoarem. Não está a sua interposição sujeita a prazo , podendo 
o Tribunal tomar dele conhecimento em qualquer momento em que 
os autos cheguem ao Tribunal, mesmo porque, como já visto, se 
considera interposto ex lege (Enunciado 423 da Súmula Não-
Vinculante do STF: ―NÃO TRANSITA EM JULGADO A 
SENTENÇA POR HAVER OMITIDO O RECURSO "EX 
OFFICIO", QUE SE CONSIDERA INTERPOSTO ‗EX LEGE‘ ") . 
Diante da Const ituição da República Federat iva do Brasil de 
1988, que estabelece como função inst ituciona l do Ministério 
Público promover privat ivamente a ação penal pública, alguns 
doutrinadores defendem que os disposit ivos que obrigam ao 
recurso ex of f icio foram revogados. Entendeu-se que a apelação 
de ofício é forma de iniciat iva da ação penal, agora exclu siva do 
Ministério Público, estando revogadas pelo art . 129, I , da 
CRFB/88, as normas que obrigam os juízes a recorrer. Como diz, 
porém, Antonio Scarance Fernandes, não há nas hipóteses legais, 
nova acusação, nem alteração daquela originariamente oferecida 
pelo Ministério Público na denúncia, pois o reexame necessário 
pelo t ribunal, assim como ocorre com o recurso voluntário, 
somente instaura uma nova fase procedimental, não outro 
processo. 
 
 
2.1.2.3. QUANTO AOS MOTIVOS 
 
 
 Pelo Código de Processo Penal, os recursos são: a) em sent ido 
est rito; b) apelação; c) o ext into protesto por novo júri; d) embargos; e) 
revisão; f) recurso extraordinário; g) carta testemunhável; h) habeas 
corpus. Deve ser mencionado, além dos recursos regimentais, o recurso 
especial, cr iado pela Const ituição da República Federat iva do Brasil de 
1988. Há, porém, discussões doutrinárias sobre o o ext into protesto por 
 32 
novo júri, embargos de declaração, carta testemunhável, habeas corpus e 
revisão, que muitos doutrinadores não incluem na categoria de recursos, 
como será visto. 
 
- ordinários – são aqueles que não exigem qualquer requisito 
específico para a interposição, bastando, pois, o mero 
inconformismo da parte que se julga lesada pela decisão (ex.: 
apelação, RESE etc.). 
 
- extraordinários – são aqueles que exigem requisitos específicos 
para a interposição - ex.: recurso extraordinário (que a matéria 
seja const itucional), recurso especial (que tenha sido negada 
vigência a lei federal, ou sido interpretada de forma diversa por 
Órgãos Jurisdicionais diversos, e.g.), o ext into protesto por novo 
júri (condenação a pena igual ou superior a 20 anos em um mesmo 
crime, ainda que por ficção da aplicação do concurso formal) etc. 
 
 
2.1.2.4. QUANTO À NATUREZA 
 
 
- comuns – são os que objet ivam a reapreciação da decisão por 
ter havido mera sucumbência. 
 
- especiais – são aqueles cuja reapreciação da decisão objet iva 
uniformizar a aplicação do direito objet ivo (a norma). 
 
 
2.1.2.5. QUANTO À IMPORTÂNCIA 
 
 
 33 
Principal – quando interposto independentemente de qu alquer ato 
prat icado pela outra parte. Pode ser interposto por apenas uma ou 
ambas as partes, no últ imo caso, desde que haja sucumbência 
recíproca. 
 
Adesivo ou dependente – é aquele que, havendo sucumbência 
parcial, pode ser interposto pela parte no prazo de que dispõe 
para responder o recurso principal. Não há previsão de recurso 
adesivo no rito dos Juizados Especiais. Ao contrário de outras 
legislações, a lei processual pátria não permite a apelação adesiva 
(ou incidental) na hipótese de o réu apelar. Como diz Hélio 
Tomaghi
49
, a possibilidade de apelação incidental pelo acusador 
pode amedrontar o acusado e, na prát ica, resulta em tornar 
possível a reformat io in pejus. Mas tal receio não exist irá na 
hipótese oposta, ou seja, de recurso adesivo do acusado em 
recurso do Ministério do Público. Enunciado nº 713 da Súmula 
Não-Vinculante do STF: ―O efeito devolutivo da apelação contra 
decisões do júri é adstrito aos fundamentos da sua interpos ição.‖ 
 
 
2.1.3. FUNDAMENTOS 
 
 
Psicológico – reação natural do homem que não se sujeita a único 
julgamento. 
 
Aprimoramento do exercício da função jurisdicional – 
possibilidade de exclusão de erros das decisões judiciais, bem 
como afastar a possibilidade de arbít rio das decisões a part ir do 
 
49 TORNAGHI, Hélio Manual de Processo Penal (Prisão e Liberdade). Editora Freitas Bastos, Rio de Janeiro-São 
Paulo, 1963. 
 34 
controle de exercício da at ividade jurisdicional de um órgão por 
outro. 
 
 
2.1.4. PRESSUPOSTOS 
 
 São os requisitos de existência jurídica e de validade formal do 
recurso, os quais estão divididos em subjet ivos e objet ivos. 
 
 
2.1.4.1. OBJETIVOS 
 
 
Previsão legal (ou cabimento) - deve estar previsto em lei. 
 
Observância das formalidades legais – a apelação, o RSE e o ext into 
protesto por novo júri podem ser interpostos por pet ição ou por termo; o 
recurso extraordinário, o recurso especial, os embargos infringentes, os 
embargos de declaração, a carta testemunhável, o HC e a correição parcial 
só podem ser interpostos por pet ição. 
 
Tempestividade – deve ser interposto dentro do prazo previsto na lei, sob 
pena de preclusão; não se computa no prazo o dia do começo, mas inclui -se 
o do término; os prazos são peremptórios e a perda implica o não -
recebimento do recurso; prazos: 15 dias (recurso extraordinário e especial), 
10 dias (embargos infringentes e de nulidade), 05 dias (apelação, RESE, o 
ext into protesto por novo júri), 02 dias (embargos de declaração fora dos 
Juizados Especiais, onde o prazo é 05 dias), 48 horas (carta testemunhável), 
não há prazo (revisão criminal, HC); os defensores públicos ou quem exerça 
suas funções o prazo é o dobro. Nas Just iças Especializadas Eleitoral e 
Militar, os prazos são d iferenciados. De acordo com o art igo 798, § 5
o
, 
salvo os casos expressos, os prazos dos recursos correm: a) da int imação; 
 35 
b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela est iver 
presente a parte; e c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência 
inequívoca da sentença ou despacho. Recorde -se que a int imação da 
sentença apresenta requisitos especiais e que o prazo é contado do dia da 
int imação e não da juntada do respect ivo mandado aos autos, exceção da 
carta precatória no Processo Civil, caso em que se conta da anexação da 
precatória. Também se aplica aos recursos a Lei nº 9.800, de 26 -5-1999, 
que permite às partes a ut ilização de sistema de t ransmissão de dados e 
imagens t ipo fac-símile ou outro similar, para a prát ica de atos processuais 
que dependam de pet ição escrita, desde que os originais sejam entr egues em 
juízo, necessariamente, até 05 ( cinco) dias da data do término do prazo 
est ipulado em lei para prát ica do ato,e não da data em que foi enviado o 
material por fax (STF - RHC 86952). 
Int imação por precatória ou por mandado: no CPC, conta -se a data de início 
do prazo para prát ica do ato, da juntada aos autos dessa precatória, carta de 
ordem ou mandado devidamente cumpridos. No CPP, é da data da 
int imação. Enunciado 710 da Súmula Não-Vinculante do STF: ―No processo 
penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos 
autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.‖ 
Quando há publicação em fins de semana, deve essa ser considerada no 
primeiro dia út il subseqüente (segunda-feira, se esse não for feriado), sendo 
que a contagem do prazo deve iniciar -se na terça-feira (STF - HC 85686). 
No Júri a sentença é publicada em Plenário, logo inicia -se o prazo a part ir 
desse momento, se est iverem presentes o Acusado e seu Advogado (798, 
parágrafo 5
o
, do CPP, STF - HC 89999). 
Apelação na Just iça Militar: o termo inicial do prazo para a Apelação d eve 
ser considerado como sendo a data em que a sentença foi lida para as pa rtes 
(STF – HC 91206). 
MP não tem prazo em dobro para recorrer, somente Defensoria Pública (LC 
80) e Advogados Dat ivos (jurisprudência). Já quanto à int imação pessoal, 
todos esses 03 têm esse direito . 
 36 
O defensor público e advogado dat ivo têm prazo em dobro no Processo 
Penal Brasileiro (O STF reconhece que essa prerrogat iva é const itucional 
enquanto a Defensoria Pública est iver em situação de evidente desigualdade 
física e funcional com o Ministério Público, mas quando eventualmente se 
equiparem essas Inst ituições, deverá se reconhecer a inconst itucionalidade 
progressiva da lei que inst ituiu esse prazo em dobro. Tal 
inconst itucionalidade progressiva ocorre também quanto à legit imação do 
MP para intentar ação civil ex-delito , pois o STF entende que enquanto não 
est iverem as defensorias públicas dos estados devidame nte instaladas, o MP 
tem legit imidade para propor essas ação civis reparatórias, as quais 
deveriam ser, pela lei, propostas exclusivamente pelas Defensorias Públicas 
em benefício de hipossuficientes econômicos). 
Para o MP seu prazo conta da entrada no pro tocolo dos autos na 
procuradoria ou servent ia administ rat iva respect iva (STF – HC 83855). 
O art igo 9
o
 da 10.259/01 (juizados especiais federais) veda prazo 
diferenciado para prát ica de atos processuais pelas pessoas de direito 
público. Aplica-se essa vedação à defensoria pública nos juizados especiais 
federais? Tem prevalecido que a Defensoria não tem prazo em dobro nos 
Juizados Especiais Federais. Prazo em dobro es tá previsto em LC, e a 
vedação vem em lei ordinária, po rtanto pode ser argüida a ilegalidade desse 
reconhecimento ao prazo em dobro. 
 
Forma: o recurso deve ser interposto na forma escrita, por meio de pet ição, 
admit indo-se como exceção a interposição oral em audiência do agravo 
ret ido. 
 
Recorribilidade : o ato tem de ser recorrível, ou seja, dever á ser sentença 
ou decisão interlocutória, nunca os despachos de mero expediente – aqueles 
que não possuem cunho decisório ou juízo valorat ivo. 
 
Singularidade: pelo Princípio da Unirrecorribilidade dá -se a 
impossibilidade da interposição simultânea de mais de um recurso. Tal 
 37 
Princípio apresenta algumas exceções, como o caso dos embargos de 
declaração e o do art .498 do CPC. 
 
Adequação : para cada decisão há um t ipo de recurso, devendo a parte 
interpô-lo adequadamente, sob pena do seu não conhecimento. Entretan to, a 
doutrina e os t ribunais são unânimes em acolher o Princípio da 
Fungibilidade, admit indo a interposição de um recurso por outro, desde que 
não haja erro grosseiro e nem má-fé da parte. 
 
Preparo : exigindo a lei o pagamento das despesas para o processamento do 
recurso, a falta de preparo gera a sua deserção, o seu não conhecimento. 
Até pouco tempo, antes do posicionamento uníssono do STF (e confirmado 
pelo STJ, no Enunciado 347 de sua Súmula : ―O conhecimento de recurso 
de apelação do réu independe de sua prisão‖) , caso houvesse na decisão 
condenatória determinação de que somente poderia o condenado recorrer 
caso se recolhesse à prisão, e esse não se recolhesse à prisão, o recurso por 
ele interposto seria julgado deserto pela falta do recolhimento à prisão . O 
Ministério Público não pode recorrer no lugar do querelante. Transferido 
por lei o jus acusationis para o part icular na ação privada, falta -lhe o 
interesse no recurso em prol da acusação. 
 
2.1.4.2. SUBJETIVOS 
 
 Dizem respeito às partes envolvidas; são eles: 
 
Legitimidade – o MP, o querelante, o réu/querelado, seu defensor ou 
procurador, o assistente de acusação e o curador do réu menor de 21 anos, 
mas há algumas hipóteses especiais. Tem legit imidade para interpor recurso 
o vencido, total ou parcialmente ; o terceiro prejudicado e o Ministério 
Publico. 
 
 38 
Segundo a jurisprudência, havendo discordância entre o réu e seu defe nsor, 
que interpôs recurso ou pretende fazê -lo, exige-se que a desistência do 
acusado seja tomada por termo para que possa prevalecer (A Mesa de 
Processo Penal da Universidade Católica de Goiás, em março de 2005 
proferiu Enunciado em sua Súmula, onde ficou consignado que na 
ocorrência de discordância entre a parte e seu defensor, prevalecerá a 
vontade daquele que t iver demonstr ado a vontade de recorrer, estando o 
Acusado preso ou solto , mesmo porque o art igo 577 legit ima o próprio 
defensor, mesmo que não seja ele procurador). Quanto ao Ministério 
Público, sendo patente a desconformidade entre o que foi pedido na 
denúncia e o que ficou decidido na sentença, tem ele legít imo interesse em 
recorrer, embora seja ela condenatória. Mas, além disso, como o Parquet 
tem sempre interesse na exata aplicação da lei, de acordo com o art igo 257, 
mesmo como parte acusatória na ação penal, deve -se-lhe reconhecer o 
direito de recorrer em favor do réu. Em Ação Penal de Iniciat iva Privada 
(queixa-crime), o MP não pode recorrer de sentença absolutória se o 
próprio Querelante não recorreu, face ao princípio da disponibilidade da 
ação penal de iniciat iva privada. 
 
Interesse do recorrente – interesse na reforma ou modificação da dec isão; 
está ligado à idéia de sucumbência e prejuízo, ou seja, daquele que não 
obteve com a decisão judicial tudo aquilo que pretendia. ―Tem interesse de 
recorrer a parte prejudicada pela decisão. O que justif ica o recurso é o 
prejuízo, o gravame, que a parte sofreu com a sentença. Assim, o prejuízo 
resulta da sucumbência. Por sucumbente ou vencido, e, pois, prejudicado, 
se considera a parte a quem a sentença não atribuiu o efeito prático a q ue 
visava .‖(Moacir Amaral Santos) 
 
Capacidade: pode ser dividida em capacidade de ser parte da relação 
jurídica de direito material (art igos 2
o
 e 4
o
 do CPC), postulatória 
(representação por advogado - art igo 36 do CPC) e processual (estar em 
juízo). 
 39 
 
Obs: quer dizer que, de regra, os recursos são levados a apreciação de um 
órgão jurisdicional superior, ou seja, o recurso exige dualidade de 
jurisdições, uma inferior e outra superior. Uma da qual se recorre (juízo a 
quo) , e outra para a qual se recorre (juízo ad quem) . Todavia, no Direito 
brasileiro, o recurso não supõe, necessariamente, tal dualidade, vez que há 
alguns casos em que o recurso é dirigido ao próprio órgão prolator da 
decisão recorrida, tal como nos embargos declaratórios e infringentes, além 
do o ext into protesto por novo júri. 
 
 Assim,

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