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LUÍS ALEXANDRE RASSI E PEDRO PAULO MEDEIROS A D V O C A C I A C R I M I N A L pedropaulo@rassimedeiros.adv.br Apostila de Processo Penal III Recursos Prisões e Penas Prescrição Juizados Especiais Criminais Execução Provisória de Pena Tabela de Prazos 07/2010 2 "Fe l iz aque le que t r ans fe r e o que sabe e apr e nde o que e ns ina" (Co r a Co r al ina, po e t i sa br as i l e i r a) CAPÍTULO II 2 .1 . O S RECURSO S 2 .1 .1 . O DUPLO GRAU DE J URISDIÇÃO 2 .1 .2 . CLASSIFICAÇÃO DO S RECURSO S 2 .1 .2 .1 . QUANTO À FO NTE 2 .1 .2 .2 . QUANTO À INICIATIVA 2 .1 .2 .3 . QUANTO AO S M O TIVO S 2 .1 .2 .4 . QUANTO À NATUREZA 2 .1 .2 .5 . QUANTO À IM PO RTÂNCIA 2 .1 .3 . FUNDAM ENTO S 2 .1 .4 . PRESSUPO STO S 2 .1 .4 .1 . O BJ ETIVO S 2 .1 .4 .2 . SUBJ ETIVO S 2 .1 .5 . ATO S SUJ EITO S A RECURSO 2 .1 .6 . PARTES 2 .1 .7 . AUTO RIDADE A QUEM O RECURSO É DIRIGIDO 2 .1 .8 . J UÍZO DE ADM ISSIBILIDADE O U J UÍZO DE PREL I BAÇÃO 2 .1 .9 . EXTINÇÃO NO RM AL DO S RECURS O S 2 .1 .1 0 . EXTINÇÃO ANO RM AL DO S RECURSO S 2 .1 .1 1 . ACEITAÇÃO EXPRESSA O U TÁCITA DA SENTENÇA 2 .1 .1 2 . EFEITO S DO S RECURSO S, EM GERAL 2 .1 .1 3 . J UÍZO DE ADM ISSIBILIDADE O U DE PRELIBAÇÃO 2 .1 .1 3 .1 . J UÍZO A QUO 2 .1 .1 3 .2 . J UÍZO AD QUEM 2 .1 .1 4 . J UÍZO DE M ÉRITO O U DELIBAÇÃO (PRO VIM ENTO PARCIAL/TO TAL O U IM PRO VIM ENTO ) 2 .1 .1 5 . O M INISTÉRIO PÚBLICO E SUA O RGANIZAÇÃO . 2 .2 . O S RECURSO S EM ESPÉCIE. 2 .2 .1 . APELAÇÃO 2 .2 .2 . RECURSO EM SENTIDO ESTRITO 2 .2 .3 . EM BARGO S DE DECLARAÇÃO 2 .2 .4 . EM BARGO S DE DIVERGÊNCIA 2 .2 .5 . EM BARGO S INFRINGENTES E EM BARGO S DE NULIDADE 2 .2 .6 . H ABEAS CORPUS 2 .2 .7 . M ANDADO DE SEGURANÇA 2 .2 .7 .1 . CO M PETÊNCIAS DA J USTIÇA CO M UM PARA J ULGAM ENTO S DE M ANDADO DE SEGU RANÇA E H ABEAS CORPUS E SEUS RECURSO S INERENTES 2 .2 .8 . O (EXTINTO ) PRO TESTO PO R NO VO J ÚRI 2 .2 .9 . DO S AGRAVO S 2 .2 .9 .1 . AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL 2 .2 .9 .2 . AGRAVO REGIM ENTAL 2 .2 .9 .3 . AGRAVO DE INSTRUM ENTO CO NTRA DESPACH O DENEGATÓ RIO DE SEGUIM ENTO A RECURSO ESPECIAL O U A RECURSO EXTRAO RDINÁRIO 2 .2 .9 .4 . RECURSO INO M INADO 2 .2 .1 0 . CARTA TESTEM UNH ÁVEL 2 .2 .1 1 . CO RREIÇÃO PARCIAL 2 .2 .1 2 . RECLAM AÇÃO 3 2 .2 .1 3 . REVISÃO CRIM INAL 2 .2 .1 4 . RECURSO INO M INADO 2 .2 .1 5 . RECURSO EXTRAO RDINÁRIO 2 .2 .1 6 . RECURSO ESPECIAL 2 .2 .1 7 . RECURSO O RDINÁRIO CO NSTITUCIO NAL 2 .2 .1 8 . J UIZADO S ESPECIAIS CRIM INAIS 2 .2 .1 9 . ATUAÇÃO NO S TRIBUNAIS SUPERIO RES; REPERCUSSÃO GERAL, SÚM ULAS VINCULAN TES E RECURSO S REPRESENTATIVO S DE CO NTRO VÉRSIA CAPÍTULO III 3 .1 . PRISÃO 3 .1 .1 . ASPECTO S GERAIS DA PRISÃO 3 .1 .2 . AS M O DALIDADES DE PRISÃO NO BRASIL 3 .1 .2 .1 . PRISÃO CO M PENA O U PRISÃO PENAL 3 .1 .2 .1 .1 . FO RM AS DE M ANIFESTAÇÃO 3 .1 .2 .2 . PRISÃO SEM PENA 3 .1 .2 .2 .1 . M O DALIDADES DE PRISÃO SEM PENA 3 .1 .2 .2 .1 .1 . PRISÃO EM FLAGRA N TE 3 .1 .2 .2 .1 .1 .1 . NATUREZA J URÍDICA 3 .1 .2 .2 .1 .1 .1 .1 . ESPÉCIES DE FLAGRANTE 3 .1 .2 .2 .1 .1 .1 .2 . FLAGRANTE NAS VÁRIAS ESPÉCIES DE CRIM E 3 .1 .2 .2 .1 .1 .1 .3 . SUJ EITO S DO FLAGRANTE 3 .1 .2 .2 .1 .1 .1 .3 . PRO CEDIM ENTO S E FO RM ALIDADES 3 .1 .2 .2 .1 .1 .2 . LIBERDADE PRO VIS Ó R I A 3 .1 .2 .2 .1 .1 .2 .1 . E SPÉCIES 3 .1 .2 .2 .1 .1 .2 .1 .1 . LIBERDADE PRO VISÓ RIA SEM FIANÇA E CO M VINC U LAÇÃO 3 .1 .2 .2 .1 .1 .2 .1 .2 . LIBERDADE PRO VISÓ RIA SEM FIANÇA E SEM VI N CULAÇÃO 3 .1 .2 .2 .1 .1 .2 .1 .3 . LIBERDADE PRO VISÓ RIA CO M FI ANÇA 3 .1 .2 .2 .1 .1 .2 .2 . VEDAÇÃO EX LEGE DE CO NCESSÃO DE LIBERDADE PRO VISÓ RIA 3 .1 .2 .2 .1 .1 .2 .2 .1 . VEDAÇÃO EX LEGE DE PRO GRESSÃO DE REGIM E DE CUM PRIM E N TO DE PENA 3 .1 .2 .2 .1 .2 . PRISÃO TEM PO RÁRIA 3 .1 .2 .2 .1 .3 . PRISÃO PREVENTIVA 3 .1 .2 .2 .1 .3 .1 . PRISÃO PREVENTIVA PARA FINS DE EXTR ADIÇÃO 3 .1 .2 .2 .1 .4 . PRISÃO DECO RRENTE DA DECISÃO DE PR O N Ú N C I A 3 .1 .2 .2 .1 .5 . PRISÃO DECO RRENTE DA SENTENÇA PENAL CO NDENATÓ RIA RECO R RÍVEL 3 .1 .2 .2 .1 .6 . PRISÃO CIVIL. 3 .1 .2 .2 .1 .7 . PRISÃO ADM INISTRATIVA. 3 .1 .2 .2 .1 .8 . PRISÃO DISCIPLINAR. 3 .2 . AS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO . PENAS ALTERNATIVAS. 3 .2 .1 . ABO RDAGEM H ISTÓ RICA DAS PENAS E O ESCO PO DAS PENAS PRIVATIVAS DE LIBER DADE 3 .2 .2 . TEO RIA DAS PENAS 4 3 .2 .3 . NÚM ERO S CARCERÁRIO S NO BRASIL E O S DISPO SITIVO S DE PENAS ALTER NATIVAS 3 .2 .4 . PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO S EM SINTO NIA CO M O S DIREITO S H UM ANO S 3 .2 .4 .1 . AS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO S NO BRASIL 3 .2 .5 . CIRCUNSTÂNCIAS EM QUE INCIDEM A PENA RESTRITIVA DE DIREITO S. CAPÍTULO IV 4 .1 . ALGUM AS CO NSIDERAÇÕ ES SO BRE A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELA PRESCR I ÇÃO 4 .2 . CO NCEITO 4 .3 . O RIGEM H ISTÓ RICA 4 .4 . NATUREZA J URÍDICA 4 .5 . IM PRESCRITIBILIDADE 4 .6 . ESPÉCIES 4 .6 .1 . PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA PRO PRIAM ENTE D I TA 4 .6 .1 .1 . INÍCIO DO CÔ M PUTO , CAUSAS INTERRUPTIVAS E SUSPENS I VAS DO FLUXO DO PRAZO PRESCRCIO NAL 4 .6 .1 .1 .1 . A NO VA CAUSA INTERRUPTIVA DO FLUXO DO PRAZO PRE SC R I CIO NAL, INSERIDA NO ARTIGO 1 1 7 , IV DO CPB PELA LEI n o 1 1 .5 9 6 /0 7 4 .6 .2 . PRESCRIÇÃO SUBSEQÜENTE À CO NDENAÇÃO 4 .6 .3 . PRESCRIÇÃO RETRO ATIV A 4 .6 .4 . PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓ RIA 4 .6 .5 . A PRESCRIÇÃO RETRO ATIVA PELA PENA EM CO NCRETO PERSPECTIVA NO DIREITO PENAL BRASILEIRO 4 .7 . EFEITO S 4 .8 . LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE 4 .8 .1 . PRAZO S ESPECIAIS DE PRESCRIÇÃO 4 .8 .1 .1 . PENA DE M ULTA 4 .8 .1 .2 . CRIM ES FALIM ENTARES 4 .8 .1 .3 . CRIM ES CO M ETIDO S ATRAVÉS DA IM PRENSA 4 .8 .1 .4 . ABUSO DE AUTO RIDADE 4 .8 .1 .5 . LEI N O 1 1 .3 4 3 /0 6 (LEI DE DRO GAS. USO PRÓ PRIO ) CAPÍTULO VI 6 .1 . A EXECUÇÃO PRO VISÓ RIA DA PENA NO DIREITO PENAL BRASILEIRO . IM PRESCINDIBILIDADE DA ANUÊNCIA D O CO NDENADO SE AUSENTE NECESSIDADE DE PRISÃO CAUTELAR. TABELA CO M PRINCIPAIS PRAZO S D O PRO CESSO PENAL BRASILEIRO BIBLIO GRAFIA SUGERIDA 5 2.1. OS RECURSOS. A palavra recurso vem do vocábulo lat ino recursus , que significa corrida para t rás, caminho para voltar, volta‖, sintet izando recurso como sendo ‖o direito público subjet ivo de pedir o reexame de uma decisão‖. Já a palavra ―processo‖: Significa ir adiante, seguir em frente É o meio processual voluntário ou obrigatório de impugnação de uma decisão, ut ilizado antes da preclusão (perda do prazo), apto a propiciar um resultado mais vantajoso na mesma relação jurídica processual, decorrente de reforma, invalidação, esclarecimento ou confirmação; Em suma, é o pedido de reexame e reforma de uma decisão jud icial. A falha humana e o inconformismo natural daquele que é vencido (sucumbente) e deseja submeter o caso ao conhecimento de outro órgão jurisdicional;ele inst rumentaliza o princípio do ―duplo grau de jurisdição‖. A finalidade principal é o reexame de uma decisão por órgão jurisdicional de superior instância (apelação, RESE etc.) ou pelo mesmo órgão que a prolatou (embargos de declaração, o extinto protesto por novo júri, RESE e Recurso de Agravo de Instrumento nos juízos de ret ratação etc.). É a concret ização da regra do ―doble conforme‖, segundo a qual quando uma operação aritmét ica realizada duas vezes dá o mesmo resultado, há grandes possibilidades de que seja exata, acertada. ―Esta garantia procesal, bien explicada, debe conducir necesariamente, a la exigência de que, para ejecutar 6 uma ena contra uma persona, se necesita una doble conformidad judicial, si el condenado la requiere . . .‖ 1 Em matéria criminal, o recurso contra decisões de Tribunais e juízes deve ser entendido como uma garant ia p rocessual do condenado que tem direito a que sua sentença seja revisada por Tribunal Superior e, ao mesmo tempo, permit ir o exercício de meio de controle dos órgãos Judiciários Superiores do Estado sobre a tarefa cumprida pelos órgãos Judiciários inferiores 2 (―justice retenue‖) 3. Como o recurso é o remédio que atende a necessidade de efet ivação da just iça e da exata aplicação do direito e o fundamento do chamado princípio do duplo grau de jurisdição, a parte não deve ficar prejudicada se se equivoca no meio pelo qual deve ser efetuado o reexame da decisão. Há realmente situações em que existem dúvidas na doutrina e na jurisprudência quanto ao recurso adequado a certas situações. Assim, adota -se no processo penal o Princípio da Fungibilidade dos recursos, colocando-se acima da legit imidade formal o fim a que visa a impugnação. Dispõe o art igo 579 do CPP, que, "salvo hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro". E assim tem se decidido na jurisprudência, admit indo-se o recurso interposto por outro em caso de evidente equívoco, onde não houver má-fé. Reconhecendo o juiz, desde logo, a impropriedade do recurso interpo sto pela parte, deve mandar 1 FERRANTE, Marcelo, la garantia de impugnabilidade de la sentencia pena condenatoria ... citando como fonte CARNELUTTI, Francesco, Derecho procesal civil y penal. Ed. Jur. Europa-América, Buenos Aires, 1981, t. I (Derecho y proceso, trad. Sentis Melendo, Santiago),os 277 y s. No Direito alem~o, antes da revoluç~o liberal, havia ainda o “triple sentencia conforme”, porque entendia-se que a acusação estatal teria um direito independente de recurso, daí se falar em três vias de conformidade (conforme CALAMANDREI, Piero, La casación civil, Ed. Bibl, Arg., Buenos Aires, 1945, t. I, 1, página 264 e seg.) apud ABREGÚ, Martin et al. La aplicación de los tratados sobre derechos humanos por los tribunales locales /compilado por Martin Abregú e Chrsitian Courtis – 1ª Edição – Ciudad Autônoma de Buenos Aires: Del Puerto; Buenos Aires: Centro de Estudios Legales y Sociales – CELS, 2004, página 414. 2 ABREGÚ, Martin et al. La aplicación de los tratados sobre derechos humanos por los tribunales locales /compilado por Martin Abregú e Chrsitian Courtis – 1ª Edição – Ciudad Autônoma de Buenos Aires: Del Puerto; Buenos Aires: Centro de Estudios Legales y Sociales – CELS, 2004, pagina 410. 3 A França passou da “justiça retida” (justice retenue), vinculada ao Rei e ao Poder Moderador, { “justiça delegada” (justice déléguée). 7 processá-lo, de acordo com o rito do recurso cabível (art . 579, parágrafo único, CPP). Quando o reconhecimento do equívoco ocorrer junto ao Juízo ad quem , este deverá, se for o caso, converter o julgamento em diligência para que se proceda de aco rdo com o que dispõe a lei a respeito da t ramitação do recurso admissível. É necessário observar que a lei limita o princípio da fungibilidade. Não deve ser admit ido o recurso se ficar reconhecida a má -fé do recorrente. Não se permite ainda que se conheça do recurso indevido, ainda que no prazo a este concedido, se se esgotou o prazo do recurso devido. Caso contrário, possibilitar -se-ia a fraude daquele que, vendo ter -se esgotado o prazo do recurso adequado, impetrasse outro, cujo prazo ainda não estaria vencido. É de se notar, também, que o erro grosseiro na interposição de recurso inadequado é indicat ivo de má-fé, não se admit indo prova em contrário, e decidindo-se pelo não-conhecimento da impugnação. Em resumo, o princípio da fungibilidade recursal só tem incidência quando ficar evidente a inexistência de má-fé, tempest ividade e equívoco da parte ao manejar um recurso por outro. No processo penal, para o acusado a fungibilidade é total, porque se t ratam de direitos indisponíveis. Já no processo civil a fungibilidade está vinculada a inexistência de erro grosseiro, além do fato de qu e o exercício a tempo certo é o essencial para aplicação desse princípio. O reflexo lógico da ausência da dúvida objet iva acerca do recurso próprio para o inconformismo da parte, repercute diretamente na ocorrência de erro grosseiro. Pont ifica Nelson Nery Junior 4 que ―configura erro grosseiro a interposição de recurso errado, quando o correto se encontra indicado expressamente no texto de lei‖ 4 NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 7. ed. São Paulo: RT, 2003. 8 2.1.1. O DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO Alguns doutrinadores entendem que esse Duplo Grau de Jurisdição não é obrigatório, ou seja, que não está expressamente previsto na Const ituição da República Federat iva do Brasil, promulgada em 1988, contudo tal previsão é implícita nessa Carta. Entretanto , o Pacto de San José da Costa Rica (art igo 8.2) e o Pacto Internacional d e Direitos Civis e Polít icos (art igo 14.5), dos quais o Brasil é signatário, t razem essa garant ia 5 aos acusados no processo penal. Deve-se contudo, fazer uma diferenciação entre duplo grau de jurisdição e direito a reapreciação da decisão proferida pelo Órgão Jurisdicional. Na verdade, não há garant ia de que certa decisão será obrigatoriamente reexaminada por um grau jurisdicional superior. O que há, sim (ainda que implicitamente na Const ituição da República Federat iva do Brasil, promulgada em 1988 para os processos judiciais, e quanto aos procedimentos administ rat ivos ainda há controvérsias sobre sua existência), é o direito a ver a matéria reapreciada novamente pelo Poder J udiciário, ainda que pelo mesmo Órgão prolator da decisão que será reapreciada, não sendo obrigatório que seja por instância superior. Sobre instância, observe-se que nem sempre o 1 o grau será a 1 a instância. Em competência originária, o 1 o grau será o Tribunal (que pode ser de 2 a instância como o TJGO ou o TRF1, ou de instância super ior como STF ou STJ) competente originariamente para julgar. 5 ABREGÚ, Martin et al. La aplicación de los tratados sobre derechos humanos por los tribunales locales /compilado por Martin Abregú e Chrsitian Courtis – 1ª Edição – Ciudad Autônoma de Buenos Aires: Del Puerto; Buenos Aires: Centro de Estudios Legales y Sociales – CELS, 2004, página 410. 9 E entrância é relat ivo ao tamanho da Comarca dentro do Estado. Ex. cidades pequenas são de Entrância Inicial, cidadesmédias, Entrância Intermediária, e a Comarca da Capital, Entrância Final (é para onde vão Juízes e Promotores, finalmente e caso assim queiram, depois de passarem algum tempo nas Entrâncias anteriores. Somente podem pleitear ascensão vert ical ao Tribunal de Apelação como Desembargadores ou Procuradores de Just iça após terem passado pela Entrância final). Convém ler o conteúdo do Acórdão resultante do julgamento do Habeas Corpus (HC 88420) concedido pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF 6 ): ―.. . Voto do relator Para o Ministro Ricardo Lewandowski, a ação trata do confronto de dois preceitos legais. Por um lado, o duplo grau de jurisdição (conforme artigo 8º, II , ‗h‘, do Pacto de São José da Costa Rica – incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro por força do artigo 5º, parágrafo 2º da Constituição Federal). De outro lado, a exigência de recolher-se o réu condenado à prisão para que sua apelação seja processada (de acordo com artigo 594 do Código de Processo Penal - CPP). O que a defesa pretende é interpor em favor do réu, condenado em 1º grau, recurso de apelaçã o, independentemente de seu recolhimento ao cá rcere. Lewandowski af irmou considerar que o direito ao duplo grau de jurisdição tem ―estatura constitucional, ainda que a Carta Magna a ele não faça menção direta‖. Isso porque, prossegue o ministro, o ‗due process of law‘, constante do artigo 5º, LXVI, contempla a possibilidade 6 Notícias do STF. Terça-feira, 17 de Abril de 2007 – “Condenado pode apelar de sentença mesmo não estando preso”. 10 de revisão por tribunal superior de sentença profer ida por juízo monocrático. Para ele, o ‗duplo grau‘ deve prevalecer sobre o artigo 594 do CPP. ―Tal direito integra o sistema pátrio d e direitos e garantias fundamentais, conforme decidido pelo Supremo na ADI 1675‖, conf irmou. O relator ponderou que a incorporação desse direito foi posterior à edição do CPP (Decreto-Lei 689/41). Isso porque a ratif icação pelo Brasil da Convenção Interamericana de Direitos Humanos (o Pacto de São José) foi em 1992. ―Assim, qualquer disposição em contrário da lei processual encontra-se, senão revogada, ao menos substancialmente mitigada‖.. .‖ Contudo, como já mencionado ao início, o Duplo Grau de Juri sdição é previsto no âmbito penal, e os referidos textos dos Tratados assinados pelo Brasil exigem que um Juiz ou Tribunal superior diverso julgue o recurso, que é por sua vez um direito do acusado 7 . O STF tem como jurisprudência clássica entender que não há duplo grau de jurisdição em competência originária. Já a Corte Interamericana de Direitos Humanos, afirma que mesmo em caso de competência originária todo Acusado tem direito a duplo grau, salvo se a condenação emana de Tribunal máximo do país (no caso do Brasil, STF). Portanto, der acordo com Luiz Flávio Gomes, se alguém é condenado em algum Tribunal originariamente, caberia Recurso Ordinário Const itucional ( pro reo , sempre), salvo se esse Tribunal que o condenou for o STF. E mesmo que se t rate de STF como competência originária, então deverá o STF aceitar uma 7 MAIER, Julio B. J. Derecho procesal penal , t. I, Fundamentos, cit., página 726, apud ABRAMOVICH, Victor et al. La aplicación de los tratados sobre derechos humanos em el âmbito local: La experiencia de una década/compilado por Victor Abramovich; Christian Courtis; Alberto Bovino – 1ª Edição – Ciudad Autônoma de Buenos Aires: Del Puerto; Buenos Aires: Centro de Estudios Legales y Sociales – CELS, 2006, página 530. 11 revisão criminal flexibilizada (para apr eciar de forma ampla as razões da insurgência). Pela Corte, não importa se é outro Juiz, ou um Tribunal quem julga a insurgência, o importante é que haja o recurso, sendo que recurso a prest igiar o duplo grau de jurisdição deve ser o meio pelo qual se possam re-analisar fatos, provas e direito . Com relação aos processos que t ramitam perante Tribunais, em razão de competência originária – quando o Acusado possui foro por prerrogativa de função , ou o caso comporta essa competência originária, o acusado será processado originalmente já em um Tribunal de Instância superior – observa-se que os recursos eventualmente cabíveis serão aqueles previstos no Regimento int erno do respect ivo Tribunal, bem como aqueles previstos na legislação a serem manejados contra decisão emanada daquele Tribunal – não necessariamente um recurso ordinário (apelação etc.). Questão interessante será quando alguém for processado originariamen te perante o Pleno do Supremo Tribunal Federal (a mais alta Instância do Poder Judiciário do Brasil) , e da decisão algum interessado se encontrar sucumbente. A quem recorrerá? Embargos Declaratórios seriam cabíveis, mas são eles ―Recurso‖, considerando -se o fato de que pela sua característ ica essencial, não visam precipuamente a modificação do julgado (efeitos infringentes), e nem são julgados por outro órgão não -vinculados à decisão recorrida? E a garant ia do Duplo Grau de J urisdição, mencionado acima? Não há resposta objet iva nem precedente. Contudo, há precedente da just iça Argent ina (Corte Suprema de Just icia de la Nación, CSJN, Fallos , 323:4130,por maioria) afirmando que o julgamento originário por Tribunais de últ ima instância não ofenderia o art igo 8.2 do Pacto de San José da Costa Rica 8 , decisão essa contestada 8 ABRAMOVICH, Victor et al. La aplicación de los tratados sobre derechos humanos em el âmbito local: La experiencia de una década/compilado por Victor Abramovich; Christian Courtis; Alberto Bovino – 1ª Edição – 12 pelos doutrinadores argent inos, em especial frente ao teor dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos 9 . ―.. . puede ser que la conciliación de la norma de la CADH com el juzgamiento orig inario y exclusivo por la Corte de los casos penales que satisf agan las condiciones del art. 117, párr. 2, de la CN no resultaba fácil, pero auélla no podia ser resultado del sacrif ício del recurso contra la condena que, como garantia mínima, la primera expresamente prescribe . . . decisión de outro órgano acuredo com las normas vigentes, para revisar la atuación y decisión de outro órgano judicial. Se trata de uma cuestión de distribuición de competências y no de subordinación jerárquica, por lo demás contraria a la nota de ―independência‖ instrumental dela garantia de imparcialidad, reconocida expresamente por los mismos pactos -v. gr. , art. 8.1, CADH; 14.1, PIDCP – Precisamente debido a esta garantia, no seríaa constitucionalmente admissible que las mismas personas (juez o juezes) que dictaron la sentencia impugnada, uma ver interpuesto el recurso garantizado al imputado, sena quienes la revisen . . .‖10 Regist re-se que o Enunciado 74 11 do Fórum Permanente de Ju ízes Coordenadores dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Brasil somente Ciudad Autônoma de Buenos Aires: Del Puerto; Buenos Aires: Centro de Estudios Legales y Sociales – CELS, 2006, página 529. 9 BIDART CAMPOS, Germán J. la doble instancia em el proceso penal (la Convención sobre Derechos Humanos deSan José da Costa Rica), El Derecho, Buenos Aires, t. 118, p.879 e SAGÜÉS, Néstor Pedro. La instancia judicial plural penal Ella Constitución Argentina y en el Pacto de San José de Costa Rica, “La Ley”, Buenos Aires, t.1988-E, III, p.160, apud ABREGÚ, Martin et al. La aplicación de los tratados ... página 411. 10 ABRAMOVICH, Victor ... página 529. 11 A prerrogativa de foro na esfera penal não afasta a competência dos Juizados Especiais Cíveis. 13 demonstra – em que pese não exatamente esse o teor de sua red ação - que se aplicaria o rito dos Juizados em eventual processo, mas a competência cont inua sendo originária tal como previsto na norma que regulamenta essa prerrogat iva, sob pena de se obrigar um ente público a ser julgado perante um Juízo não invest ido de Poder Revisor, como aqueles que compõem os Tribunais. Portanto, será julgado no Tribunal originariamente competente, mas sob o rito dos Juizados, quanto comportável. O certo é que o foro por prerrogat iva de função visa a proteger o cargo e não a pessoa que momentaneamente o exerce, pois caso contrário estaríamos diante de um verdadeiro foro privilegiado, o que é expressamente vedado pelo texto const itucional. Observa-se que ainda temos em vigor (mas sem validade) a regra segundo a qual "se o réu condenado fugir depois de haver apelado, será declarada deserta a apelação." (art . 595, CPP). Referido art igo foi finalmente reconhecido como não -recepcionado pela Carta Magna brasileira de 1988 (STF – RHC 83810/RJ – julgado em 05-03-2009). Da mesma forma, igualmente soava est ranho para nós não se permit ir ao acusado o acesso ao duplo grau de jurisdição, quando não seja primário e não tenha bons antecedentes. O devido processo legal deve garant ir a possibilidade de revisão dos julgados. A falibilidade humana e o natural inconformismo de quem perde estão a exigir o reexame de uma matéria decidida em primeira instância, a ser feito por juízes colet ivos e magist rados mais experientes. 14 Em França, segundo Ét ienne Vergès, " l´article préliminaire du Code de procédure pénale dispose in f ine que ´toute personne condamnée a le droit de faire examiner sa condamnation par une autre juridiction`. " 12 A Const ituição da República Federat iva do Brasil, promulgada em 1988, prevê o duplo grau de jurisdição no seu art . 93, III (" acesso aos tribunais de segundo grau") e pressupõe, evidentemente, uma decisão judicial e a sucumbência (prejuízo). Há mais de vinte anos, o jurista baiano Calmon de Passos mostrava a sua preocupação com "a tendência, bem visível entre nós, em virtude da grave crise que atinge o Judiciário, de se restringir a admissibilidade de recursos, de modo assistemático e simplório, em detrimento do que entendemos como garantia do devido processo legal, incluída entre as que são asseguradas pela nossa Constituição. " Neste mesmo t rabalho, nota o eminente Mestre que " o estudo do duplo grau como garantia constitucional desmereceu, da parte dos estudiosos, em nosso meio, considerações maiores. Ou ele é simplesmente negado como tal ou, embora considerado como ínsito ao sistema, f ica sem fundamentação mais acurada, em que pese ao alto saber dos que o af irmam, certamente por força da larga admissibilidade dos recursos em nosso sistema processual, tradicionalmente, sem esquecer sua multiplicidade." 13 Não se pode esquecer que a "adoção do duplo grau de jurisdição deixa de ser uma escolha eminentemente técnica e jurídica e passa a ser, num primeiro instante, uma opção política do legislador ." 14 12 Procédure Pénale, Paris: LexisNexis Litec, 2005, p. 49. 13 Estudos Jurídicos em Homenagem à Faculdade de Direito da Bahia, São Paulo: Saraiva, 1981, p. 88. 14 Moraes, Maurício Zanoide de, Interesse e Legitimação para Recorrer no Processo Penal Brasileiro, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 29. 15 Como vimos, o duplo grau de jurisdição tem caráter de norma materialmente const itucional, mormente porque o Brasil rat ificou a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica) que prevê em seu art . 8º. , 2, h, qu e todo acusado de delito tem "direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior ", e tendo-se em vista o estatuído no § 2º. , do art . 5º. , da CF/88, segundo o qual " os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. " Rat ificou a República Brasileira , também, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polít icos de Nova Iorque que no seu art . 14, 5, estatui que "toda pessoa declarada culpada por um del ito terá o direito de recorrer da sentença condenatória e da pena a uma instância superior, em conformidade com a lei ." É bem verdade que a doutrina se debate a respeito da posição hierárquica que ocupam as normas advindas de t ratado internacional. Parte dela entende que caso a norma internacional t rate de garant ia individual, terá ela status const itucional, até por força do referido § 2º. Fábio Comparato, por exemplo, informa que " a tendência predominante, hoje, é no sentido de se considerar que as normas internacionais de direitos humanos, pelo fato de expressarem de certa forma a consciência ét ica universal, estão acima do ordenamento jurídico de cada Estado. (. . . ) Seja como for, vai -se af irmando hoje na doutrina a tese de que, na hipótese de conf litos entre regras internacionais e internas, em matéria de direitos humanos, há de prevalecer sempre a regra mais favorável ao sujeito de direito, pois a proteção da dignidade da pessoa 16 humana é a f inalidade última e a razão de ser de todo o sistema jurídico " 15 : é o chamado princípio da prevalência da norma mais favorável 16 . Ada, Dinamarco e Araújo Cintra, após admit irem a indiscut ível natureza polít ica do princípio do duplo grau de jurisdição ("nenhum ato estatal pode f icar imune aos necessários controles ") e que ele "não é garantido constitucionalmente de modo expresso, entre nós, desde a República", lembram, no entanto, que a atual Const ituição " incumbe-se de atribuir a competência recursal a vários órgãos da jurisdição (art. 102, II; art. 105, II; art. 108, II), prevendo expressamente, sob a denominação de tribunais, órgãos judiciários de segundo grau (v.g. , art. 93, III). " 17 Com a Emenda Const itucional nº. 45, temos uma nova disposição const itucional, cont ida no art . 5º. , § 3º. , da Const ituição Brasileira, segundo a qual "os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas const itucionais ." Aliás, segundo Luiz Flávio Gomes, em razão "d o pensamento do Estado Moderno, da Revolução Francesa, do código napoleônico, onde reside a origem da confusão entre lei e Direito; os direito s e a vida dos direitos valeriam (exclusivamente) pelo que está escrito na lei; quando o correto é reconhecer que a lei é só o ponto de partida de toda interpretação (que deve sempre ser conforme a Constituição). A lei pode até ser, também, o ponto de chegada, mas sempre que conf lita com a Carta Magna, perde sua relevância e primaz ia, porque, nesse caso, devem ter incidência(prioritária) as normas e os pri ncípios constitucionais. A lei, 15 Apud Sylvia Helena de Figueiredo Steiner, A Convenção Americana sobre Direitos Humanos e sua Integração ao Processo Penal Brasileiro, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 91. 16 "Este princípio, perseguido pelo direito internacional geral, e vigorosamente defendido por setores da doutrina brasileira, parece não haver ganho, até o presente, expressiva concreção na jurisprudência brasileira, devendo ser lembrada a questão do depositário infiel." (Bahia, Saulo José Casali, Tratados Internacionais no Direito Brasileiro, Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 116). 17 como se percebe, foi destronada. Mesmo porque, ao contrário do que pensava Rousseau, o legislador não é Deus e nem sempre representa a vontade geral, ao contrário, com freqüência atua em favor de interesses particulares (ou mesmo escusos). Lei vigente, como se vê, não é lei válida. Sua validez decorre da coerência com o text o constitucional." 18 Observações de Dante Bruno D'Aquino: "Como sua própria designação denota, a interpretação conforme a Constituição pressupõe um trabalho de exegese da norma infraconstitucional. Fundamenta -se, em primeiro plano, na superioridade hierárquica das normas constitucionais. Ou seja, no princípio pelo qual todas as normas devem se compatibilizar com a Constituição, encontrando nela, como já ressaltado por Kelsen, o seu fundamento de validade. Ao lado do primado da superioridade hierárquica das normas constitucionais está a presunção de legalidade da atividade legiferante do poder público. Esta presunção de legalidade, que, ressalte-se, admite prova em contrário, é o outro alicerce de alçada da interpretação conforme a Constituição. Noutro diz er, a superioridade hierárquica da Constituição Federal e a presunção de legalidade das leis demandam que, no exercício da atividade interpretativa, dê -se preferência ao sentido normativo que esteja consentâneo com a Carta Constitucional. (. . . ) Importante constatar que a interpretação conforme a constituição, para além de uma categoria interpretativa distinta das modalidades clássicas, constitui um ef icaz mecanismo de controle de 17 Teoria Geral do Processo, São Paulo: Malheiros Editores, 1999, 15ª. ed., p. 74. 18 constitucionalidade das leis e atos normativos. Ao identif icar a interpretação mais harmônica com a Constituição, afasta da norma a possibilidade de interpretações que surtam efeitos inconstituci onais." 19 Se temos a garant ia const itucional da presunção de inocência, é evidente que não pode ser efeito de uma sentença condenatória recorrível, pura e simplesmente, um decreto prisional, sem que se perquira quanto à necessidade do encarceramento. Como sabemos, entre nós, cabível será a prisão prevent iva desde que fundamentada a necessidade concreta da decisão, evidenciando o fumus boni iuris (fumus comissi delicti – prova da existência do crime e indício suficiente de autoria), assim como periculum in mora (periculum libertatis – garant ia da ordem pública20, da ordem econômica, por conveniência da inst rução criminal, para assegurar a aplicação da lei pena – 312 do CPP -, 18 "Ser diplomado (já) não significa ter emprego ou sucesso profissional" - www.ultimainstancia.ig.com.br - 21 de junho de 2005. 19 "Interpretação conforme a Constituição" - especial@parana-online.com.br (19/06/2005). 20 Conceito por demais genérico e, exatamente por isso, impróprio para autorizar uma custódia provisória que, como se sabe, somente se justifica no processo penal como um provimento de natureza cautelar (presentes o fumus commissi delicti e o periculum libertatis). Há mais de dois séculos Beccaria já preconizava que "o réu não deve ficar encarcerado senão na medida em que se considere necessário para o impedir de escapar-se ou de esconder as provas do crime" (Dos delitos e das penas, São Paulo: Hemus, 1983, p. 55), o que coincide com dois outros requisitos da prisão preventiva em nosso País (conveniência da instrução criminal e asseguração da aplicação da lei penal). Decreta-se a prisão preventiva no Brasil, muitas vezes, sob o argumento de se estar resguardando a ordem pública, quando, por exemplo, quer-se evitar a prática de novos delitos pelo imputado ou aplacar o clamor público. Não raras vezes vê-se prisão preventiva decretada utilizando-se expressões como "alarma social causado pelo crime" ou para "aplacar a indignação da população", e tantas outras frases (só) de efeito. A respeito, veja-se a preocupação dos juristas espanhóis Gimeno Sendra, Moreno Catena e Cortés Dominguez: "Tampoco puede atribuirse a la prisión provisional un fin de prevención especial: evitar la comisión de delitos por la persona a la que se priva de libertad. La propia terminología más frecuentemente empleada para expresar tal idea - probable comisión de ´otros´ o ´ulteriores´ delitos - deja entrever que esta concepción se asienta en una presunción de culpabilidad. (?) Por las mismas razones no es defendible que la prisión provisional deba cumplir la función de calmar la alarma social que haya podido producir el hecho delictivo, cuando aún no se ha determinado quién sea el responsable. Sólo razonando dentro del esquema lógico de la presunción de culpabilidad podría concebirse la privación en un establecimiento penitenciario, el encarcelamiento del imputado, como instrumento apaciguador de las ansias y temores suscitados por el delito. (?) La vía legítima para calmar la alarma social - esa especie de ´sed de venganza´ colectiva que algunos parecen alentar y por desgracia en ciertos casos aflora - no puede ser la prisión provisional, encarcelando sin más y al mayor número posible de los que prima facie aparezcan como autores de hechos delictivos, sino una rápida sentencia sobre el fondo, condenando o absolviendo, porque sólo la resolución judicial dictada en un proceso puede determinar la culpabilidad y la sanción penal." (Derecho Procesal Penal, Madrid: Colex, 3ª. ed., 1999, pp. 522/523). 19 para garant ir a execução das medidas protet ivas de urgência previstas na Lei n o 11.340/06 – 313, IV do CPP -,em razão da magnitude da lesão evidenciada em crimes contra o sistema financeiro nacional previstos na Lei 7.942/86 21 - art igo 30 dessa lei referida – ou mesmo no caso de crimes falimentares previstos na Lei 11.101/05 22 – art igo 99, VII do diploma legal mencionado) 23 . São estes os requisitos da prisão prevent iva e que configuram exatamente o periculum libertatis . Estes requisitos, portanto, representam a necessidade da prisão prevent iva, que não é outra coisa senão uma medida de natureza flagrantemente cautelar, pois visa a resguardar, em últ ima análise, "a ordem pública", a inst rução criminal ou a aplicação da lei penal (há, ainda, os pressupostos desta pr isão, que não nos interessam no presente tópico 24 ). Se assim o é a prisão será uma decorrência de uma sentença condenatória recorrível sempre que, in casu , for cabível a prisão prevent iva contra o réu, independentemente de sua condição pessoal de primário e de ter bons antecedentes; ou seja, o que definirá se o acusado aguardará preso ou em liberdade o julgamento final do processo é a comprovação da presença de um daqueles requisitos acima referidos. Conclui-seque a necessidade é o fator determinante para alguém aguardar preso o julgamento final do seu processo, já que a Const ituição 21 A magnitude da lesão (artigo 30 da Lei 7.942/86) não é critério suficiente para determinação da preventiva, ademais é norma absolutamente aberta e indefinida, pois não se sabe o que é magnitude da lesão. Nessa situação, seria caso de preventiva com base nos artigo 312 do CPP (garantia da ordem econômica), mas não com fulcro neste artigo em que se refere a magnitude da lesão. 22 A previsão da Lei de Falências é vaga e não demonstra a necessidade da determinação de prisão preventiva, apenas mencionando o óbvio: caberá a medida também nos crimes previstos nessa lei anômala. Mas a necessidade de sua aplicação deverá ser apreciada com base na complementação feita pelas normas extraídas dos textos dos artigos 312 e 313 do CPPB. 23 GOMES, Luiz Flávio. Direito penal: comentários à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos:Pacto De San José Da Costa Rica/ Luiz Flávio Gomes, Valério de Oliveira Mazzuoli, volume 04. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, página 48. Nesse mesmo sentido, LIMA, Renato Brasileiro de. Rede. Aulas expositivas de processo penal brasileiro ministradas na Rede LFG de Ensino. São Paulo, 2008. 24 Fumus commissi delicti: indícios da autoria e prova da materialidade do crime. 20 garante que "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória ." Por outro lado, como a ampla defesa (e no seu bojo a garant ia do duplo grau de jurisdição) também está absolutamente tutelada pela Carta Magna, não se pode condicionar a admissibilidade da apelação ao recolhimento do réu à prisão, mesmo que ele não seja primário e não tenha bons antecedentes. Aqui, vamos, inclusive, mais além: mesmo que a prisão seja necessária (e se revista, portanto, da cautelaridade t ípica da prisão provisória), ainda assim, admit ir -se-á o recurso, mesmo que não tenha sido preso o acusado, ou que, após ser preso, venha a fugir. Observa-se que, agora, mesmo sendo cabível o encarceramento provisório (por ser, repita-se, necessário), o não recolhimento do acusado não pode ser obstáculo à interposição de eventual recurso da defesa, e se recurso houver, a fuga posterior não lhe obstará o regular andamento (não pode ser considerado deserto), pois "a garantia do duplo grau de jurisdição assegura o conhecimento e o julgamento da apelação mesmo que o Estado não alcance êxito na recaptura do acusado. " 25 Não se pode concordar , outrossim, que a exigência da prisão para recorrer fosse uma "regra procedimental condicionante do processamento da apelação", como pensa Mirabete 26 , pois, como contrapõe Luiz Flávio Gomes, "se não ofende a presunção de inocência ou a ampla defes a, indiscutivelmente ofende o princ ípio da necessidade de fundamentação da prisão, inscrito no art. 5º , LXI" 27 , mesmo porque "os princípios que disciplinam o cabimento das prisões cautelares são radicalmente distintos dos princípios que regulam a interposição, a admissibilidade, o conhecimento e o julgamento dos recursos. " 28 25 José Antonio Paganella Boschi, "A sentença penal", Revista de Estudos Criminais, Porto Alegre, n. 05/2002. 26 Processo Penal, São Paulo: Atlas, 10ª. ed., 2000, p. 649. 27 Direito de Apelar em Liberdade, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2ª. ed., p. 32. 28 José Antonio Paganella Boschi, "A sentença penal", Revista de Estudos Criminais, Porto Alegre, n. 05/2002. 21 Vê-se que não optamos pela interpretação literal do art . 595 29 , o que seria desastroso, tendo em vista as garant ias const itucionais acima vistas. Por outro lado, ut ilizamo -nos do critério da interpretação conforme a Const ituição, procurando adequar o texto legal com o Texto Maior e evitando negar vigência ao disposit ivo, mas, antes, admit indo -o válido a part ir de uma interpretação garant idora e em consonância com a Const ituição. Relembremos que "não se pode interpretar a Constituição conforme a lei ordinária (gesetzeskonformen Verfassunsinterpretation). O contrário é que se faz." 30 Segundo Jacinto Nelson de Miranda Cout inho, " a questão é tentar quase o impossível: compatibilizar a Consti tuição da República, que impõe um Sistema Acusatório, com o Direito Processual Penal brasileiro atual e sua maior referência legislativa, o CPP de 41, cópia malfeita do Codice Rocco de 30, da Itália, marcado pelo princípio inquisitivo nas duas fases da persecutio criminis, logo, um processo penal regido pelo Sistema Inquisitório. (. . . ) Lá, como é do conhecimento geral, ninguém duvida que o advogado de Mussolini, Vincenzo Manzini, camicia nera desde sempre, foi quem escreveu o projeto do Codice com a cara do regime (. . .) " 31 Afinal, como já escreveu Cappellet t i, "a conformidade da lei com a Constituição é o lastro causal que a torna válida perante todas ." 32 Devemos interpretar as leis ordinárias em conformidade com a Carta Magna, e não o contrário! Como magist ralmente escreveu Frederico Marques, a Const ituição Federal "não só submete o legislador ordinário a 29 "A interpretação jurídica, insista-se, não pode ser meramente literal. No dizer do jurista italiano Dellogu, a letra da lei é ponto de partida, não é ponto de chegada!" (Luiz Vicente Cernicchiaro, Escritos em Homenagem a Alberto Silva Franco, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 290). 30 STJ, Rel. Min. ADEMAR MACIEL, DJU 3.4.95, p.8.149. 31 O Núcleo do Problema no Sistema Processual Penal Brasileiro, Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, nº. 175, junho/2007, p. 11. 32 Apud José Frederico Marques, in Elementos de Direito Processual Penal, Campinas: Bookseller, 1998, Vol. I, p. 79. 22 um regime de estrita legalidade, como ainda subordina todo o sistema normativo a uma causalidade constitucional, que é condição de legitimidade de todo o imperativo jurídico. A conformidade da lei com a Constituição é o lastro causal que a torna válida perante todos. " 33 Devemos atentar que o art . 595 foi inserido em nosso código processual penal pela Lei n o 5.941/73, época em que vigiam em nosso País a Const ituição anterior a 1988 (que não t razia o princípio da presunção de inocência) e um regime polít ico não democrát ico. Referido art igo foi finalmente reconhecido como não -recepcionado pela Carta Magna brasileira de 1988 (STF – RHC 83810/RJ – julgado em 05-03-2009). Naquele contexto histórico, portanto, fácil era entender que uma lei ordinária viesse a dificultar o direito ao recurso e a prever a prisão automática decorrente de sentença condenatória recorrível. Bastava a sentença condenatória e a prisão impunha-se automaticamente, por força de lei, presumindo-se a culpabilidade ou a periculosidade do réu 34 . Ocorre que desde 1988 temos outra Const ituição, com outros princípios, muitos dos quais expressamente previstos (o que não impede a existência de princípios const itucionais implícitos, como, v.g. , o da proporcionalidade). A lei anterior, então, tem que ser interpretada segundo este crit ério , ou seja, em conformidade com a nova ordem const itucional (sob pena de ser considerada não recepcionada e, logo, inválida), evidentemente sem ult rapassar o seu sent ido literal, apenas conformando -a com a Constituição. Hoje, contudo, conforme ensina Boschi, "o réu tem o direito subjetivo público de apelar em liberdade - mesmo não sendo primário e de 33 Elementos de Direito Processual Penal, Vol. I, Campinas: Bookseller, 1998, p. 79. 34 Ocorre que "nenhuma presunção emanada do legislador infraconstitucional pode prevalecer sobre a presunção constitucional", como diz Luiz Flávio Gomes, ob. cit., p. 26. 23 bons antecedentes - , porque a suspensividade é uma qualidade ínsita aos recursos criminais da defesa ." 35 Como dissemos, no tempo em que foi inserida em nosso sistema jurídico, a lei t raduzia, em verdade, o momento histórico em que vivia o País, cabendo, por isso mesmo, atentarmos, agora, para o elemento histórico-teleológico (concepção subjet ivista da interpretação, ou teoria da vontade), segundo o qual a lei obedece ao tempo em que foi intencionalmente (finalist icamente) concebida, devendo ser interpretada preferencialmente em confo rmidade com aquela realidade. James Goldshimidt 36 já afirmava no clássico "Problemas Jurídicos e Políticos del Proceso Penal" que a est rutura do processo penal de um país indica a força de seus elementos autoritários e liberais 37 . Devemos, então, buscar abrigo neste elemento histórico, acomodando a lei às "novas circunstâncias não previstas pelo legislador", especialmente aos "princípios elevados a nível constitucional" 38 . Só poderíamos interpretar este art igo literalmente se este mo do interpretat ivo fosse possível à luz da Const ituição. Por outro lado, não entendemos ser o caso de, simplesmente, reconhecer inválida a norma insculpida naquele art igo de lei. A nós nos parece ser possível interpretá -la em conformidade com o texto const itucional, sem que se o declare inválido 35 Ob. cit. 36 Para Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, "nunca foi tão importante estudar os Goldschmidt, mormente agora onde não se quer aceitar viver de aparências e imbrogli retóricos." (O Núcleo do Problema no Sistema Processual Penal Brasileiro, Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, nº. 175, junho/2007, p. 12). 37 Apud José Frederico Marques, in Elementos de Direito Processual Penal, Vol. I, Campinas: Bookseller, 1998, p. 37. 38 "Estes são, sobretudo, os princípios e decisões valorativas que encontram expressão na parte dos direitos fundamentais da Constituição, quer dizer, a prevalência da 'dignidade da pessoa humana' (...), a tutela geral do espaço de liberdade pessoal, com as suas concretizações (...) da Lei Fundamental." (Larenz, Karl, Metodologia da Ciência do Direito, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 3ª. ed., 1997, p. 479). 24 e sem "ultrapassar os limites que resultam do sentido literal e do contexto signif icativo da lei." 39 Se verdade é que "por detrás da lei está uma determinada intenção reguladora, estão valorações, aspirações e ref lexões substantivas, que nela acharam expressão mais ou menos clara", também é certo que "uma lei, logo que seja aplicada, irradia uma acção que lhe é peculiar, que transcende aquilo que o legislador tinha intentado. A lei intervém em relações da vida diversas e em mutação, cujo conjunto o legislador não podia ter abrangido e dá resposta a questões que o legislador ainda não tinha colocado a si próprio. Adquire, com o decurso do tempo, cada vez mais como que uma vida própria e afasta -se, deste modo, das idéias dos seus autores." (grifo nosso): teoria o bjet ivista ou teoria da interpretação imanente à lei 40 . A interpretação literal efet ivamente deve ser o início do t rab alho, mas não o completa sat isfatoriamente 41 . Como nos ensina o Professor Miguel Reale, "a norma é sempre momento de uma realidade histórico -cultural, e não simples proposição af irmando ou negando algo de algo. (. . . ) Se a regra jurídica não pode ser entendida sem conexão necessária com as circunstâncias de fato e as exigências axiológicas, é essa complexa condicionalidade que nos explica por que uma mesma norma de direito, sem que tenha sofrido qualquer alteração, nem mesmo uma vírgula, adquire signif icados diversos com o volver dos anos, por obra da doutrina e da jurisprudência. É que seu sentido autêntico é dado pela estimativa dos fatos, nas circunstâncias em que o intérprete se encontra. (. . . ) Dizemos, assim, que uma regra ou uma norma, no seu sentido autêntico, é a sua interpretação nas circunstâncias históricas e sociais em que se encontra no momento o intérprete. Isto não quer dizer que sejamos partidários do Direito Livre. (. . . ) Assim, o Juiz "não pode deixar de valorar o conteúdo 39 Idem, p. 481 40 idem, ibidem, p. 446. 25 das regras segundo tábua de estimativas em vigor no seu tempo. (. . . ) E, concluindo, arremata o nosso f ilósofo: "o reajustamento permanente das leis aos fatos e às exigências da justiça é um dever dos que legislam, mas não é dever menor por parte daqueles que têm a missão de interpretar as leis para mantê-las em vida autêntica ." 42 Carlos Maximiliano, a propósito , ensinava: "(. . .) Em se tratando de normas formuladas por gerações anteriores, o juiz, embora dominado pelo intuito sincero de lhes descobrir o sentido exato, cria, malgrado seu, uma exegese nova, um alcance mais amplo, consentâneo com a época. (. . . ) Ante a imobilidade dos textos o progresso jurídico se realiza graças à interpretação evolutiva, inspirada pelo progredir da sociedade." 43 Vê-se que "las leyes son e deben ser la expresión más exacta de las necesidades actuales del pueblo, habida consideración del conjunto de las contingencias históricas, en medio de las cuales fueron promulgadas ." 44 (destaques inexistentes no original) Atenta-se, com Maximiliano, que o "Direito objetivo não é um conglomerado caótico de preceitos; constitui vasta unidade, organ ismo regular, sistema, conjunto harmônico de normas coordenadas, em 41 "Toda a interpretação de um texto há-de iniciar-se com o sentido literal" (idem, p. 450). 42 Filosofia do Direito, São Paulo: Saraiva, 7ª. ed., 1975, pp. 508 e ss. (apud Luiz Flávio Gomes, Estudos de Direito Penal e Processo Penal, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 217). 43 Hermenêutica e Aplicação do Direito, Rio de Janeiro: Forense, 1961, 9ª. ed., pp. 122 e ss. (apud Luiz Flávio Gomes, Estudos de Direito Penal e Processo Penal, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 218). 26 interdependência metódica, embora f ixada cada uma no seu lugar próprio." 45 Portanto, encontra-se inteiramente superada o Enunciado 267 da Súmula do Superior Tribunal de Just iça editou a Súmula 267, segundo a qual "a interposição de recurso, sem efeito suspensivo, contra decisão condenatória não obsta a expedição de mandado de prisão ". O mesmo se diga quanto ao art . 27, § 2º da Lei nº. 8.038/90, dando efeito apenas devolut ivo aos recursos especial e extraordinário. Neste sent ido, atentemos para a lição de Ada Pellegrini Grinover, segundo a qual esta norma "visa a regulamentar os recursos de forma genérica, não sendo aplicável, quanto aos efeitos prisionais, à esfera penal. " 46 Neste mesmo sent ido, Paganella Boschi, para quem este parágrafo " endereça-se unicamente aos processos c íveis,porque nestes a execução provisória da sentença, mediante caução pelo autor, é perfeitamente admissível. Jamais as sentenças proferidas nos processos criminai s, por implicar ofensa aberta, direta e frontal à garantia da presunção de inocência, antes citada." 47 Aliás, não é mesmo possível admit ir -se o efeito somente devolut ivo do recurso especial (e mesmo do extraordinário) na esfera penal, pois estaríamos contrariando o princípio const itucional da presunção de inocência. Para finalizar, recorremos, mais uma vez, a Larenz: 44 Fiore, Pascuale, De la Irretroactividad e Interpretación de las Leyes, Madri: Reus, 1927, p. 579 (tradução do italiano para o espanhol de Enrique Aguilera de Paz). 45 Idem, p. 165. 46 Apud Roberto Delmanto Junior, in As modalidades de prisão provisória e o seu prazo de duração, Rio de Janeiro: Renovar, 1998, p. 206. 47 Revista de Estudos Criminais nº. 05, Porto Alegre: Editora NotaDez, 2002. 27 "Mediante a interpretação 'faz-se falar' o sentido disposto no texto, quer dizer, ele é enunciado com outras palavras, expressado de modo mais claro e preciso, e tornado comunicável. A esse propósito, o que caracteriza o processo de interpretação é que o intérprete só quer fazer falar o texto, sem acrescentar ou omitir o que quer que seja. Evidentemente que nós sabemos que o intérprete nunca se comporta aí de modo puramente passivo." 48 2.1.2. CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS 2.1.2.1. QUANTO À FONTE - constitucionais – são aqueles previstos no próprio texto da CRFB/88 (ex.: Habeas Corpus , recurso especial, recurso extraordinário etc.). - legais – são aqueles previstos no CPP (ex.: Apelação, R ESE, o ext into protesto por novo júri, embargos de declaração, infringentes ou de nulidade, revisão criminal, carta testemunhável etc.) ou em leis especiais (ex.: agravo em execução etc.). - regimentais – são aqueles previstos no regimento interno dos t ribunais (ex.: agravo regimental). 2.1.2.2. QUANTO À INICIATIVA 48 Ob. cit., p. 441. 28 - voluntários – são aqueles em que a interposição do recurso fica a critério exclusivo da parte que se sente prejudicada pela decisão do juiz; é a regra no processo penal. - necessários (ou ―de ofício‖ ou anômalos) – em determinadas hipóteses, o legislador estabelece que o juiz deve recorrer de sua própria decisão, sem a necessidade de ter havido impugnação por qualquer das partes; se não for interposto a decisão não t ransitará em julgado (ex.: da sentença que concede HC - art . 574, I , CPP-, da sentença que absolve sumariamente o Acusado - art . 411 - leia- se 415, CPP -; da decisão que arquiva IP ou da sentença que absolve o Acusado de crime contra a economia popular ou contra a saúde pública, da que concede reabilitação e da decisão que nega liminarmente revisão criminal no Tribunal cabe essa remessa obrigatória para o Colegiado). Como o recurso objet iva a reforma de uma decisão, deve ficar na dependência da parte sucumbente, ou seja, daquela que foi lesada por ela. Em princípio somente a essa parte deve ser conferida ampla liberdade para interpor à recurso, demonstrando, assim, sua concordância ou não com o pronunciamento jurisdicional. Por isso se fala em recurso voluntário. Evidentemente, pode ser ele interposto também pelo Ministério Público, quer como representante da parte (Estado), quer como custus legis, como já visto. É seu direito e dever a interposição quando, como t itular da ação pe nal ou fiscal da lei, discordar da decisão. É um ônus das demais partes, que recorrem se quiserem. Mas a esse princípio, da voluntariedade do recurso, a lei abre exceções, prevendo o denominado recurso de ofício (recurso obrigatório, recurso necessário). Apresenta-se o recurso ex of f icio como uma providência imposta por lei no sent ido do reexame de sentenças e decisões pelos órgãos judiciários superiores, quando versem determinadas matérias e segundo a 29 decisão adotada. Por isso, o recurso de ofício é chamad o de recurso anômalo, sendo considerado por muitos como uma extravagância judiciária e arcaica, hoje totalmente desnecessária. A remessa ex of f icio não é recurso, ao revés, é condição suspensiva da eficácia da decisão , assim o reexame necessário é mero complemento do julgado ou medida acautelatória para evitar um desgaste culposo ou doloso do erário ou da coisa pública (STJ - EREsp 823.905/SC). São recursos que obrigatoriamente devem ser interpostos pelo juiz, na decisão, não t ransitando em julgado a sentença em que t iver sido omit ido (Súmula Não -Vinculante do STF, Enunciado 423,). Dispõe, assim, o art igo 574: "Os recursos serão voluntários, excetuando -se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos, de ofício, pelo juiz: I - da sentença que conceder habeas corpus; II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou isente o réu da pena, nos termos do art. 411‖ (411=415 pela nova redação do CPP, e não confunda essa absolvição sumária com aquela mencionada no art igo 397 do CPP). Não cabe recurso de ofício da decisão que julga ext inta a punibilidade ante a prescrição da ação penal, que não se confunde com a hipótese de absolvição sumária. Por exclusão implícita do art igo 574, não cabe recurso de ofício da decisão que denega o writ . Quanto ao recurso da decisão que concede habeas corpus , não tem ele efeito suspensivo, ex vi do disposto no art igo 584, mas simplesmente devolut ivo. Tinha efeito suspensivo, porém, o recurso da sentença de absolvição sumária no processo do júri, conforme disposição expressa (art . 411, in f ine). Contudo , com a nova redação do CPP (lei n o 11.689/08), o recurso cabível contra a absolvição sumária no Júri é a Apelação (artigo 416 do CPP), e não há nesse artigo qualquer referência a ser ela recebida com efeito suspensivo, daí aplicar-se a regra geral do artigo 593 do CPP. Referindo-se ao art igo 411 (leia-se 415), o art igo 574, II, não tem 30 aplicação quando se t rata de absolvição nos processos de competência do juiz singular ou dos pr ocessos especiais. Há, porém outras hipóteses de cabimento de recurso de ofício além dos mencionados no art igo 574. São também hipóteses de interposição obrigatória de recurso as de sentenças absolutórias referentes aos crimes contra a economia popular ou a saúde pública bem como os despachos que determinarem o arquivamento dos autos do inquérito policial referentes a esses crimes (art . 72 da Lei n o 1.521, de 26-12-51). Incluem-se nessa regra os crimes referentes à incorporação imobiliária previstos na Lei n º 4.591, de 1964. Todavia, referindo -se apenas a "crimes", a lei não inclui na obrigatoriedade o recurso no processo das contravenções contra a economia popular. No que se relaciona com os crimes contra a saúde pública, é jurisprudência pacífica que não ca be o recurso de ofício nas decisões a respeito do comércio clandest ino de entorpecentes, embora sejam eles dessa espécie, já que o processo penal a eles relat ivos está disciplinado integralmente em lei especial (então vigente Lei nº 6.368, de 21 -10-76, hoje 11.343/06). Também são hipóteses de cabimento do recurso de ofício o indeferimento in limine da revisão pelorelator que dará recurso para as Câmaras Reunidas ou para o Tribunal (art . 625, § 3 o , do CPP) e a decisão que conceder a reabilitação (art . 746 d o CPP). Quanto a esta últ ima hipótese, não têm razão os que o consideram abolido pela Lei nº 7.210/84, já que ela não revogou o art igo 746 do Código de Processo Penal, apesar de se encontrar ele no Livro IV deste Estatuto, que t rata de execução penal, por serem compat íveis os disposit ivos referentes à reabilitação e a Lei de Execução Penal. Tratando-se de recurso de ofício, desnecessário é que seja ele fundamentado, ou seja, o juiz não precisa dizer das razões que o levam a recorrer. Também não se deve int imar as partes para o 31 arrazoarem. Não está a sua interposição sujeita a prazo , podendo o Tribunal tomar dele conhecimento em qualquer momento em que os autos cheguem ao Tribunal, mesmo porque, como já visto, se considera interposto ex lege (Enunciado 423 da Súmula Não- Vinculante do STF: ―NÃO TRANSITA EM JULGADO A SENTENÇA POR HAVER OMITIDO O RECURSO "EX OFFICIO", QUE SE CONSIDERA INTERPOSTO ‗EX LEGE‘ ") . Diante da Const ituição da República Federat iva do Brasil de 1988, que estabelece como função inst ituciona l do Ministério Público promover privat ivamente a ação penal pública, alguns doutrinadores defendem que os disposit ivos que obrigam ao recurso ex of f icio foram revogados. Entendeu-se que a apelação de ofício é forma de iniciat iva da ação penal, agora exclu siva do Ministério Público, estando revogadas pelo art . 129, I , da CRFB/88, as normas que obrigam os juízes a recorrer. Como diz, porém, Antonio Scarance Fernandes, não há nas hipóteses legais, nova acusação, nem alteração daquela originariamente oferecida pelo Ministério Público na denúncia, pois o reexame necessário pelo t ribunal, assim como ocorre com o recurso voluntário, somente instaura uma nova fase procedimental, não outro processo. 2.1.2.3. QUANTO AOS MOTIVOS Pelo Código de Processo Penal, os recursos são: a) em sent ido est rito; b) apelação; c) o ext into protesto por novo júri; d) embargos; e) revisão; f) recurso extraordinário; g) carta testemunhável; h) habeas corpus. Deve ser mencionado, além dos recursos regimentais, o recurso especial, cr iado pela Const ituição da República Federat iva do Brasil de 1988. Há, porém, discussões doutrinárias sobre o o ext into protesto por 32 novo júri, embargos de declaração, carta testemunhável, habeas corpus e revisão, que muitos doutrinadores não incluem na categoria de recursos, como será visto. - ordinários – são aqueles que não exigem qualquer requisito específico para a interposição, bastando, pois, o mero inconformismo da parte que se julga lesada pela decisão (ex.: apelação, RESE etc.). - extraordinários – são aqueles que exigem requisitos específicos para a interposição - ex.: recurso extraordinário (que a matéria seja const itucional), recurso especial (que tenha sido negada vigência a lei federal, ou sido interpretada de forma diversa por Órgãos Jurisdicionais diversos, e.g.), o ext into protesto por novo júri (condenação a pena igual ou superior a 20 anos em um mesmo crime, ainda que por ficção da aplicação do concurso formal) etc. 2.1.2.4. QUANTO À NATUREZA - comuns – são os que objet ivam a reapreciação da decisão por ter havido mera sucumbência. - especiais – são aqueles cuja reapreciação da decisão objet iva uniformizar a aplicação do direito objet ivo (a norma). 2.1.2.5. QUANTO À IMPORTÂNCIA 33 Principal – quando interposto independentemente de qu alquer ato prat icado pela outra parte. Pode ser interposto por apenas uma ou ambas as partes, no últ imo caso, desde que haja sucumbência recíproca. Adesivo ou dependente – é aquele que, havendo sucumbência parcial, pode ser interposto pela parte no prazo de que dispõe para responder o recurso principal. Não há previsão de recurso adesivo no rito dos Juizados Especiais. Ao contrário de outras legislações, a lei processual pátria não permite a apelação adesiva (ou incidental) na hipótese de o réu apelar. Como diz Hélio Tomaghi 49 , a possibilidade de apelação incidental pelo acusador pode amedrontar o acusado e, na prát ica, resulta em tornar possível a reformat io in pejus. Mas tal receio não exist irá na hipótese oposta, ou seja, de recurso adesivo do acusado em recurso do Ministério do Público. Enunciado nº 713 da Súmula Não-Vinculante do STF: ―O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos da sua interpos ição.‖ 2.1.3. FUNDAMENTOS Psicológico – reação natural do homem que não se sujeita a único julgamento. Aprimoramento do exercício da função jurisdicional – possibilidade de exclusão de erros das decisões judiciais, bem como afastar a possibilidade de arbít rio das decisões a part ir do 49 TORNAGHI, Hélio Manual de Processo Penal (Prisão e Liberdade). Editora Freitas Bastos, Rio de Janeiro-São Paulo, 1963. 34 controle de exercício da at ividade jurisdicional de um órgão por outro. 2.1.4. PRESSUPOSTOS São os requisitos de existência jurídica e de validade formal do recurso, os quais estão divididos em subjet ivos e objet ivos. 2.1.4.1. OBJETIVOS Previsão legal (ou cabimento) - deve estar previsto em lei. Observância das formalidades legais – a apelação, o RSE e o ext into protesto por novo júri podem ser interpostos por pet ição ou por termo; o recurso extraordinário, o recurso especial, os embargos infringentes, os embargos de declaração, a carta testemunhável, o HC e a correição parcial só podem ser interpostos por pet ição. Tempestividade – deve ser interposto dentro do prazo previsto na lei, sob pena de preclusão; não se computa no prazo o dia do começo, mas inclui -se o do término; os prazos são peremptórios e a perda implica o não - recebimento do recurso; prazos: 15 dias (recurso extraordinário e especial), 10 dias (embargos infringentes e de nulidade), 05 dias (apelação, RESE, o ext into protesto por novo júri), 02 dias (embargos de declaração fora dos Juizados Especiais, onde o prazo é 05 dias), 48 horas (carta testemunhável), não há prazo (revisão criminal, HC); os defensores públicos ou quem exerça suas funções o prazo é o dobro. Nas Just iças Especializadas Eleitoral e Militar, os prazos são d iferenciados. De acordo com o art igo 798, § 5 o , salvo os casos expressos, os prazos dos recursos correm: a) da int imação; 35 b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela est iver presente a parte; e c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença ou despacho. Recorde -se que a int imação da sentença apresenta requisitos especiais e que o prazo é contado do dia da int imação e não da juntada do respect ivo mandado aos autos, exceção da carta precatória no Processo Civil, caso em que se conta da anexação da precatória. Também se aplica aos recursos a Lei nº 9.800, de 26 -5-1999, que permite às partes a ut ilização de sistema de t ransmissão de dados e imagens t ipo fac-símile ou outro similar, para a prát ica de atos processuais que dependam de pet ição escrita, desde que os originais sejam entr egues em juízo, necessariamente, até 05 ( cinco) dias da data do término do prazo est ipulado em lei para prát ica do ato,e não da data em que foi enviado o material por fax (STF - RHC 86952). Int imação por precatória ou por mandado: no CPC, conta -se a data de início do prazo para prát ica do ato, da juntada aos autos dessa precatória, carta de ordem ou mandado devidamente cumpridos. No CPP, é da data da int imação. Enunciado 710 da Súmula Não-Vinculante do STF: ―No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.‖ Quando há publicação em fins de semana, deve essa ser considerada no primeiro dia út il subseqüente (segunda-feira, se esse não for feriado), sendo que a contagem do prazo deve iniciar -se na terça-feira (STF - HC 85686). No Júri a sentença é publicada em Plenário, logo inicia -se o prazo a part ir desse momento, se est iverem presentes o Acusado e seu Advogado (798, parágrafo 5 o , do CPP, STF - HC 89999). Apelação na Just iça Militar: o termo inicial do prazo para a Apelação d eve ser considerado como sendo a data em que a sentença foi lida para as pa rtes (STF – HC 91206). MP não tem prazo em dobro para recorrer, somente Defensoria Pública (LC 80) e Advogados Dat ivos (jurisprudência). Já quanto à int imação pessoal, todos esses 03 têm esse direito . 36 O defensor público e advogado dat ivo têm prazo em dobro no Processo Penal Brasileiro (O STF reconhece que essa prerrogat iva é const itucional enquanto a Defensoria Pública est iver em situação de evidente desigualdade física e funcional com o Ministério Público, mas quando eventualmente se equiparem essas Inst ituições, deverá se reconhecer a inconst itucionalidade progressiva da lei que inst ituiu esse prazo em dobro. Tal inconst itucionalidade progressiva ocorre também quanto à legit imação do MP para intentar ação civil ex-delito , pois o STF entende que enquanto não est iverem as defensorias públicas dos estados devidame nte instaladas, o MP tem legit imidade para propor essas ação civis reparatórias, as quais deveriam ser, pela lei, propostas exclusivamente pelas Defensorias Públicas em benefício de hipossuficientes econômicos). Para o MP seu prazo conta da entrada no pro tocolo dos autos na procuradoria ou servent ia administ rat iva respect iva (STF – HC 83855). O art igo 9 o da 10.259/01 (juizados especiais federais) veda prazo diferenciado para prát ica de atos processuais pelas pessoas de direito público. Aplica-se essa vedação à defensoria pública nos juizados especiais federais? Tem prevalecido que a Defensoria não tem prazo em dobro nos Juizados Especiais Federais. Prazo em dobro es tá previsto em LC, e a vedação vem em lei ordinária, po rtanto pode ser argüida a ilegalidade desse reconhecimento ao prazo em dobro. Forma: o recurso deve ser interposto na forma escrita, por meio de pet ição, admit indo-se como exceção a interposição oral em audiência do agravo ret ido. Recorribilidade : o ato tem de ser recorrível, ou seja, dever á ser sentença ou decisão interlocutória, nunca os despachos de mero expediente – aqueles que não possuem cunho decisório ou juízo valorat ivo. Singularidade: pelo Princípio da Unirrecorribilidade dá -se a impossibilidade da interposição simultânea de mais de um recurso. Tal 37 Princípio apresenta algumas exceções, como o caso dos embargos de declaração e o do art .498 do CPC. Adequação : para cada decisão há um t ipo de recurso, devendo a parte interpô-lo adequadamente, sob pena do seu não conhecimento. Entretan to, a doutrina e os t ribunais são unânimes em acolher o Princípio da Fungibilidade, admit indo a interposição de um recurso por outro, desde que não haja erro grosseiro e nem má-fé da parte. Preparo : exigindo a lei o pagamento das despesas para o processamento do recurso, a falta de preparo gera a sua deserção, o seu não conhecimento. Até pouco tempo, antes do posicionamento uníssono do STF (e confirmado pelo STJ, no Enunciado 347 de sua Súmula : ―O conhecimento de recurso de apelação do réu independe de sua prisão‖) , caso houvesse na decisão condenatória determinação de que somente poderia o condenado recorrer caso se recolhesse à prisão, e esse não se recolhesse à prisão, o recurso por ele interposto seria julgado deserto pela falta do recolhimento à prisão . O Ministério Público não pode recorrer no lugar do querelante. Transferido por lei o jus acusationis para o part icular na ação privada, falta -lhe o interesse no recurso em prol da acusação. 2.1.4.2. SUBJETIVOS Dizem respeito às partes envolvidas; são eles: Legitimidade – o MP, o querelante, o réu/querelado, seu defensor ou procurador, o assistente de acusação e o curador do réu menor de 21 anos, mas há algumas hipóteses especiais. Tem legit imidade para interpor recurso o vencido, total ou parcialmente ; o terceiro prejudicado e o Ministério Publico. 38 Segundo a jurisprudência, havendo discordância entre o réu e seu defe nsor, que interpôs recurso ou pretende fazê -lo, exige-se que a desistência do acusado seja tomada por termo para que possa prevalecer (A Mesa de Processo Penal da Universidade Católica de Goiás, em março de 2005 proferiu Enunciado em sua Súmula, onde ficou consignado que na ocorrência de discordância entre a parte e seu defensor, prevalecerá a vontade daquele que t iver demonstr ado a vontade de recorrer, estando o Acusado preso ou solto , mesmo porque o art igo 577 legit ima o próprio defensor, mesmo que não seja ele procurador). Quanto ao Ministério Público, sendo patente a desconformidade entre o que foi pedido na denúncia e o que ficou decidido na sentença, tem ele legít imo interesse em recorrer, embora seja ela condenatória. Mas, além disso, como o Parquet tem sempre interesse na exata aplicação da lei, de acordo com o art igo 257, mesmo como parte acusatória na ação penal, deve -se-lhe reconhecer o direito de recorrer em favor do réu. Em Ação Penal de Iniciat iva Privada (queixa-crime), o MP não pode recorrer de sentença absolutória se o próprio Querelante não recorreu, face ao princípio da disponibilidade da ação penal de iniciat iva privada. Interesse do recorrente – interesse na reforma ou modificação da dec isão; está ligado à idéia de sucumbência e prejuízo, ou seja, daquele que não obteve com a decisão judicial tudo aquilo que pretendia. ―Tem interesse de recorrer a parte prejudicada pela decisão. O que justif ica o recurso é o prejuízo, o gravame, que a parte sofreu com a sentença. Assim, o prejuízo resulta da sucumbência. Por sucumbente ou vencido, e, pois, prejudicado, se considera a parte a quem a sentença não atribuiu o efeito prático a q ue visava .‖(Moacir Amaral Santos) Capacidade: pode ser dividida em capacidade de ser parte da relação jurídica de direito material (art igos 2 o e 4 o do CPC), postulatória (representação por advogado - art igo 36 do CPC) e processual (estar em juízo). 39 Obs: quer dizer que, de regra, os recursos são levados a apreciação de um órgão jurisdicional superior, ou seja, o recurso exige dualidade de jurisdições, uma inferior e outra superior. Uma da qual se recorre (juízo a quo) , e outra para a qual se recorre (juízo ad quem) . Todavia, no Direito brasileiro, o recurso não supõe, necessariamente, tal dualidade, vez que há alguns casos em que o recurso é dirigido ao próprio órgão prolator da decisão recorrida, tal como nos embargos declaratórios e infringentes, além do o ext into protesto por novo júri. Assim,
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