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AGENTES METEMOGLOBINIZANTES Profº Luis Carlos Arão Agentes metemoglobinizantes Substâncias que induzem a oxidação de um dos átomos de Ferro da Hemoglobina Metahemoglobina • Características da Metahemoglobina: • Não se liga ao O2, CO2 e CO. • Tem alta afinidade por ânions como F-, Cl-, CN- e OH-. Ocorrência de hipóxia Transporte de O2 Na maior parte dos casos, o que ocorre é: Nos tecidos Hb Fe2+ + O2 1 elétron é parcialmente transferido da molécula de Fe2+ para o O2, formando-se um complexo Fe 3+/O2- (radical superóxido). Estresse Oxidativo Hb Fe2+ + O2 Hb Fe 3+ O2- Hb Fe3+ + O2- Ocorre de 0,5 a 3% ao dia!!!!!! Processo conhecido como auto-oxidação • Ocorre espontaneamente em indivíduos normais. • Diariamente, cerca de 0,5 a 3% da Hb é convertida em MeHb. Mecanismos Protetores 1º Mecanismo: Superóxido dismutase O2- O2 + H2O2 Catalase/Peroxidase 2º Mecanismo: NADH-diaforase/ citocromoB5 redutase Hb Fe3+ Hb Fe2+ Redução da MeHb • Mecanismo fisiológico mais importante responsável por 95% da redução da MeHb. • O NADH gerado na glicólise reduz a Citocromo B5 redutase que, por sua vez, transfere os elétrons para a MeHb (Fe3+ Fe2+). Formação de MHb por Xenobióticos • Substâncias exógenas são capazes de atuar sobre os mecanismos protetores da formação de MeHb: O2 O2 - H2O2 H2O Hb Fe2+ MeHb Fe3+ Substrato reduzido Substrato oxidado Agentes metemoglobinizantes Metemoglobinemias Ocorre quando 1,5% da Hb fica oxidada (Fe3+). • Pode ocorrer por: – Congênita: deficiência da MeHb redutase. – Adquirida/ambiental: provocada por agente químico oxidante*. – Acidose metabólica: provoca diarreia e desidratação. • Principais oxidantes Nitratos. – Fertilizantes contaminação de solo e água de consumo humano. – Alimentos conservação de carnes. Quadro Clínico • Tipos de ação dos agentes metemoglobinizantes: – Lenta e insidiosa exposições crônicas a baixas concentrações. – Abrupta benzocaína spray. Hb 4 átomos de Fe Quando 1 átomo é oxidado, os demais adquirem maior afinidade pelo O2. Resultado: Hipóxia cianose Sinais e Sintomas • Sintomas associados com os níveis de MeHb: % MeHb* Sintomas < 10 Nenhum 10 – 20 Cianose perceptível na pele 20 – 30 Ansiedade, tontura, cefaleia e taquicardia 30 – 50 Fadiga, confusão, vertigem, taquipneia, taquicardia elevada 50 – 70 Coma, convulsões, arritmias e acidose > 70 Morte * 15g/Dl de Hb como referência. Grupos de Risco • Indivíduos com anemias: quando menor o teor de Hb, mais pronunciados são os sintomas. • Hemoglobinopatias: HbS, Talassemias, HbC. • DPOC: O2 favorece a formação de MeHb. • Sepse: saturação de O2. • Extremos de idades: menores de 6 meses e idosos. Tratamento • Antídoto: Azul de metileno (aceptor de elétrons). • Agentes antioxidantes: ácido ascórbico e Riboflavina (reação não enzimática, lenta e pouco significativa). • Via de administração: IV. • Posologia: 1% (1 a 2 mg/kg de peso). • Dose > 7mg/kg ação metemoglobinizante (dispneia, dor torácica, tremores, cianose e anemia hemolítica). Antídoto • O azul de metileno funciona como aceptor de elétrons exógeno. • Ele aceita 1 elétron do NADPH NADP+ e transfere este elétron para o Fe3+ da MeHb. • Lembre-se: o NADPH é gerado por ação da G6PD na glicólise. Azul de metileno • Ação do azul de metileno como aceptor de elétrons: H G6PD MeHb Fe3+ Hb Fe2+ e- Para pensar!!!! Como é o tratamento de metemoglobinemia com azul de metileno em indivíduos com deficiência de G6PD? Agentes Metemoglobinizantes Agente/ Classe Uso industrial / Fonte de exposição Anilina Corantes, praguicidas e borracha Nitrobenzeno Derivados da celulose, produtos de limpeza de armas Nitritos e Nitratos Conservantes de carne, água contaminada Naftaleno Repelente de traças e baratas Toluidina Borracha, praguicidas, corantes, fármacos Medicamentos Anestésicos locais: Benzocaína/Lidocaína Cloroquina e primaquina Sulfonamidas, Dapsona Paracetamol, fenacetina Nitroglicerina e nitrito de amila ANILINA Propriedades Físico-Químicas • Sinonímia: Fenilamina e aminobenzeno. • Líquido oleoso, incolor que escure pela exposição à luz e ao ar, inflamável e volátil. • PM 93,13 / PF -6,2C / PE 184,4C. • Solúvel em solventes orgânicos. • Ligeiramente solúvel em água. Usos / Fontes de Exposição • Matéria prima na fabricação de corantes, tintas e vernizes, espuma de poliuretano, produtos químicos agrícolas, fármacos. • Estabilizadores na indústria da borracha, camisinhas, etc. • Herbicidas. • Explosivos. Estrutura e Síntese Toxicocinética • Absorção: – TGI. – Pulmonar. – Cutânea mais importante – Ambiente ocupacional absorção Umidade Temperatura 75% pele 25% pulmão Toxicocinética • Distribuição: – Baixa afinidade pelas proteínas plasmáticas. – Rápida metabolização Pequena distribuição para os órgãos e tecidos. Toxicocinética • Biotransformação - mecanismos variados: – Hidroxilação do anel aminofenóis. – N-Oxidação pelo Citocromo P-450 fenilidroxilamina. – N-Acetilação pelas N-Acetiltransferases. • Fígado (sistema microssômico) – 15 a 60% da anilina é biotransformada mecanismo de ativação. N-Oxidação da Anilina Fenilidroxilamina Metabólito ativo Biotransformação / Excreção Toxicocinética • Excreção: – Pequenas quantidades inalteradas pelo ar exalado e pela urina. – + 60% na urina como o- e p-aminofenóis. Mecanismo de Ação N-Oxidação da Anilina Fenilidroxilamina Fenilidroxilamina Nitrosobenzeno Metemoglobina NADPH NADP+ e- Glicólise Toxicidade • DL50 oral = 500mg/kg hipóxia por MeHb. % MeHb* Sintomas 15 Cianose nas unhas, lábios e orelhas 30 Dispnéia ocasional 40 Maior cianose, dores difusas, pulso fraco, taquicardia 50 Ataxia, dificuldade de falar, arreflexia 60 Aumentos dos sintomas, letargia, inconsciência 65 a 70 Morte • 1 a 3 horas após exposição primeiros sintomas tóxicos. Toxicidade • Não ocorrendo morte, o quadro tóxico pode ser parcial- mente revertido em 24 horas normalização do pulso e respiração. • Efeitos neurológicos permanecem por mais de uma semana. • Alterações sanguíneas: Hb, alterações das hemácias, corpúsculos de Heinz Anemia. Corpúsculos de Heinz Quadro Crônico • Cianose. • Perturbações visuais. • Erupções cutâneas. • Urina escura. • Lesão tubular renal (devido hemólise). • Aumento na incidência de lesões malignas de bexiga. Tratamento • 1ª escolha: azul de metileno a 1% EV, 1 a 2 mg/Kg. OBS: doses altas são metemoglobinizantes. • Terapias alternativas: ácido ascórbico e riboflavina. Monitorização Ocupacional da Anilina • Monitorização ambiental: – Limite de tolerância (LT): 4 ppm (15mg/m3). • Monitorização Biológica: – p-aminofenol na urina.– Biomarcador de efeito MeHb no sangue. p-Aminofenol na Urina • Não é específico para anilina metabólito de diversos compostos (fármacos, corantes, isocianatos e alguns praguicidas). • Não é ideal para monitorização individual e sim para grupos de indivíduos devido a grande variação de concentração na urina. • IBMP (Índice Biológico Máximo Permitido) = 50 mg/g de creatinina. MeHb no Sangue • Marcador Biológico de efeito. • Não é específico para anilina variedade de agentes metemoglobinizantes. • Grande variabilidade individual. • VR: 2% • IBMP: 5% • A amostra deve ser coletada após o último dia da jornada de trabalho. • Enviar imediatamente o sangue ao laboratório (4°C). Referência Bibliográfica OGA, Seize; CAMARGO, Márcia M. A.; BATISTUZZO, José A. O. Fundamentos de Toxicologia. 4.ed. Editora Atheneu. 2014. 704p.
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