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Direito Civil (4) Direitos da Personalidade

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DIREITO CIVIL (4)
DIREITOS DA PERSONALIDADE
1 INTRODUÇÃO E CONCEITO 
A personalidade como centro do ordenamento jurídico nacional, ao revés da pessoa. 
Durante largo período histórico autores defenderam a tese de que era a pessoa o centro do Direito Civil. Contudo, tão importante quanto à pessoa, é o seu conteúdo (personalidade jurídica), que é aquilo que lhe permite ser sujeito de direitos e deveres na ordem jurídica. 
Os direitos da personalidade derivam de uma evolução no Direito de modo a possibilitar o desenvolvimento de mecanismos de tutela da personalidade jurídica. 
Os direitos da personalidade são um conjunto de garantias fundamentais e regras elementais deferidas à pessoa para que ela tenha o pleno exercício de sua personalidade. Esses direitos são conceituados em um diálogo sistematizado entre o Direito Civil e o Direito Constitucional. 
	Os direitos fundamentais estão previstos de forma preponderante (rol exemplificativo) no art. 5º da CRFB. Muitos desses direitos estão elencados no CC como direitos da personalidade. Direitos da personalidade são um reflexo infraconstitucional dos direitos e garantias fundamentais. 
Aplicando-se o princípio do paralelismo, o rol de direitos apresentado pelo CC também é exemplificativo. Exemplos: 
Súmula 364, STJ – o conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas. 
Enunciado 274, CJF – Direitos da personalidade são exemplificativos por causa da cláusula geral da dignidade da pessoa humana e são ponderados. 
A dignidade da pessoa humana é a cláusula geral de tutela dos direitos da personalidade.
2 CARACTERÍSITCAS 
2.1 Indisponíveis e Irrenunciáveis
art. 11 CC. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
Exceções: a doutrina conformando o art. 11 do CC, afirma que (E. 4) o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral. Ou seja, deve ser específica e transitória. Caso Maitê Proença. Uso de imagens antigas de ensaio fotográfico para a Playboy, não utilizadas pela revista, em jornal atual de grande circulação.
2.2 Absolutos 
São absolutos no sentido de serem oponíveis erga omnes.
2.3 Extrapatrimoniais 
Não possuem conteúdo econômico imediato. Mas de forma mediata, pode ser atribuído valor econômico (direito de imagem).
2.4 Inatos
Inerentes a qualidade de ser pessoa.
2.5 Imprescritíveis 
Imprescritível é o direito. Significando que a ausência de exercício não acarretará a sua perda. Mas havendo lesão ao direito, a pretensão reparatória civil será prescritível, art. 206, §3º, V (03 anos).
2.6 Vitalícios
A personalidade é adquirida com o nascimento com vida e extinta com a morte. Por isso os direitos da personalidade são vitalícios. 
Em razão dessa característica, o CC regula a lesão reflexa, oblíqua ou ricochete, que ocorre quando na tentativa de se atingir direito da personalidade de pessoa falecida, acaba-se por atingir direito da personalidade de pessoa viva. 
Os legitimados para pleitear a lesão reflexa são tratados pelo art. 12, Parágrafo único do CC:
Art. 12. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Exceção quanto a lesão reflexa fundada em direito à imagem. Art. 20, Parágrafo único. Somente podem pleitear a reparação o cônjuge e os parentes em linha reta. Os colaterais até 4º grau estão fora.
Art. 20. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
Como fica a situação do companheiro? De acordo com o CC, somente o cônjuge é parte legítima. Mas pela doutrina e jurisprudência, aplicando o princípio da isonomia, deve-se incluir o companheiro em ambos os rols.
3 CLASSIFICAÇÃO 
Rol exemplificativo.	
3.1 Pilar da Integridade Física – tutela do corpo vivo; tutela do corpo morto; e autonomia do paciente.
3.2 Pilar da Integridade Psíquica ou Intelectual – Imagem; privacidade; e nome
3.1.1 Tutela do Corpo Vivo
CC, art. 13. Salvo por exigência médica, é defesa o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. 
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial. (Lei 9.343/97)
A exigência médica deve ser analisada de forma ampla. Quanto ao transplante de órgãos em vida, é possível desde que: seja gratuitamente e o órgão seja regenerável. Pode-se escolher o receptor. 
A tatuagem também é permitida porque aceita socialmente.
3.1.2 Corpo Morto 
Art. 14 CC
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
A doutrina denomina de consenso afirmativo (a pessoa é livre para realizar a escolha). A doação de órgãos após a morte deve ser gratuita, não pode-se indicar o beneficiário e deve ser seguida a ordem de atendimento do SUS. 
A Lei 9434/97 autoriza que a família do falecido decida sobre a doação dos seus órgãos, desde que o falecido não tenha exarado a sua vontade quando em vida.
3.1.3 Autonomia do Paciente
 
Ou Livre Consentimento Informado, art. 15 CC
art. 15. Ninguém pode ser constrangido (obrigado) a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Aquele que deseja ser submetido a tratamento médico que acarrete risco de morte deve assinar um termo de consentimento informado. O médico deve fornecer as informações sobre o procedimento e o paciente, que deverá, então, assinar o termo de consentimento (autonomia do paciente) para que seja realizado. 
O que é testamento vital ou diretivas antecipadas de vontade? São declarações firmadas por pessoas que desejam restringir a atuação médica por diversos motivos, seja convicção religiosa, ideológica, etc. Não há um consenso na literatura jurídica e na jurisprudência brasileiras sobre a vinculação do médico a esse tipo de declaração. A doutrina majoritária defende que o médico deve intervir para preservar a vida. 
3.2.1 Direito à Imagem 
Imagem são as características identificadoras de alguém. Pode ser retrato, atributo ou voz. A imagem retrato é a fotografia. A imagem atributo é um qualitativo social. Imagem voz é a voz. 
No CC, encontra-se regulamentada no art. 20.
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
A autorização pode ser expressa ou tácita. Contudo, há hipóteses legais ou jurisprudenciais em que se dispensa a autorização (ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública). 
ADIN 4815. Após amplos debates no Brasil, permitiu-se a publicação de biografias não autorizadas. 
Além disso, há decisões do STJ no sentido de que se for pessoa pública (ou pessoa com pessoa pública) em locais públicos, poderão ser eventualmente fotografadas ou filmadas. 
Pessoas não públicas também podem ser filmadas e fotografadas em locais públicos, desde que a imagem não seja fechada e em situações em que se sabe que há cobertura de imprensa.
Súmula 403 STJ. A veiculação da imagem para fins comerciais sem autorização gera dano moral in re ipsa, ou dano moral puro, que significa que o dano decorre da simples conduta, ainda que o resultado seja positivo. 
3.2.2 Vida Privada ouPrivacidade 
É tratada tanto pela CRFB quanto pelo CC no art. 21.
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
A privacidade configura-se naqueles aspectos particulares da vida, email, telefone, informações bancárias, dados particulares que dizem respeito, a priori, apenas a própria pessoa, titular. 
Em juízo de ponderação de princípios, eventualmente a vida privada poderá ser atingida. A exemplo, situações de persecução penal em que é autorizada a quebra de sigilo de dados bancários ou telefônicos, observado o princípio do devido processo legal.
Segundo o STJ, a entidade responsável por prestar serviços de comunicação não tem o dever de indenizar pessoa física em razão da publicação de matéria de interesse público em jornal de grande circulação a qual tenha apontado a existência de investigações pendentes sobre ilícito supostamente cometido pela referida pessoa, ainda que posteriormente tenha ocorrido absolvição quanto às acusações. Contudo, deve a entidade de serviços de comunicação buscar fontes fidedignas, ouvir as diversas partes interessadas e afastar quaisquer dúvidas sérias quanto à veracidade do que divulga.
STJ. Direito Civil. Direito ao Esquecimento. A exibição não autorizada de uma única imagem da vítima de crime amplamente noticiado à época dos fatos não gera, por si só, direito de compensação por danos morais aos seus familiares. O direito ao esquecimento surge na discussão acerca da possibilidade de alguém impedir a divulgação de informações que, apesar de verídicas, não sejam contemporâneas e lhe causem transtornos das mais diversas ordens. Sobre o tema, o Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil do CJF preconiza que a tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento. Na abordagem do assunto sob o aspecto sociológico, o antigo conflito entre o público e o privado ganha uma nova roupagem na modernidade: a inundação do espaço público com questões estritamente privadas decorre, a um só tempo, da expropriação da intimidade (ou privacidade) por terceiros, mas também da voluntária entrega desses bens à arena pública. Acrescente-se a essa reflexão o sentimento difundido por inédita “filosofia tecnológica” do tempo atual pautada na permissividade, segundo o qual ser devassado ou espionado é, em alguma medida, tornar-se importante e popular, invertendo-se valores e tornando a vida privada um prazer ilegítimo e excêntrico, seguro sinal de atraso e de mediocridade. [...] (REsp 1.335.153; 2013)
Gera dano moral a veiculação de programa televisivo sobre fatos ocorridos há longa data, com ostensiva identificação de pessoa que tenha sido investigada, denunciada e, posteriormente, inocentada em processo criminal. O direito ao esquecimento surge na discussão acerca da possibilidade de alguém impedir a divulgação de informações que [...] (REsp 1.334.097; 2013)
Defende-se a tese de que tanto acusados, condenados como vítimas, possuem o direito ao esquecimento. Eles não podem ser continuamente relembrados em reportagens jornalísticas.
3.2.3 Nome 
Arts. 16 e ss do CC. A priori, há liberdade para a escolha do nome
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.
É possível ainda que o nome seja composto pelo agnome (elemento acessório). 
Limites à escolha do nome: 
(1) Não é possível escolher um nome que venha a expor o titular ao ridículo. Art. 55, parágrafo único da LRP (Lei n. 6.016/73). O nome deve promover a personalidade. De acordo com essa lei, nesses casos o oficial deve suscitar o Procedimento de Dúvida, remetendo o caso ao juiz. 
(2) De acordo com o art. 13 da CRFB, todo registro público deve ser feito na língua portuguesa. 
O nome possui dois elementos essenciais: prenome e sobrenome (patronímico ou apelido de família). Os elementos acessórios Filho, Jr, Neto, I, que são agnome, foram criados para evitar a homonímia dentro da mesma família. 
Regras protetivas:
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.
No art. 17 a hipótese é de responsabilidade civil objetiva.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.
A utilização do nome em propaganda comercial depende sempre de autorização, ainda que o nome seja de uma pessoa pública. 
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.
Pseudônimo é apelido, se utilizado em atividades lícitas tem a mesma proteção atribuída ao nome, podendo inclusive ser incluído no registro civil.
É possível alterar o nome? Sim, excepcionalmente. O nome a priori é imutável, mas essa imutabilidade é relativa. Há exceções previstas em lei e exceções jurisprudenciais. Exemplos: Legal - casamento, divórcio, união estável, proteção à testemunha, aquisição de nacionalidade brasileira, adoção, até um ano após a maioridade civil ou emancipação. Jurisprudencial – cirurgia de transgenitalização (mudança de sexo), muda-se tanto o gênero quanto o nome no registro – não há qualquer tipo de prenotação/averbação, que poderia causar discriminação. 
4 DIREITOS DA PERSONALIDADE DA PESSOA JURÍDICA 
Os direitos da personalidade foram criados para as pessoas físicas, já que visam promover a dignidade da pessoa humana. Mas o legislador informa no art. 52 do CC que:
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.
	Pessoa jurídica tem direito ao nome, imagem e privacidade (segredo de empresa)
Súmula 227 STJ. A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. 
CADIN – equivale a uma SPC/Serasa da Pessoa Jurídica. Caso indevidamente cadastrada, poderá pleitear reparação civil.
Observação: Ler Lei 9.610/98

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