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Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CIVIL 
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS 
 A capitalização de juros, seja qual for a sua periodicidade, somente será considerada válida se estiver 
expressamente pactuada no contrato. 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária, condicional, mitigada e equitativa. 
 A vítima de um ato ilícito praticado por menor pode propor a ação somente contra o pai do garoto, não sendo 
necessário incluir o adolescente no polo passivo. 
 Não há como afastar a responsabilização do pai do filho menor simplesmente pelo fato de que ele não estava 
fisicamente ao lado de seu filho no momento da conduta. 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 
 Não se aplica a teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação fiduciária em garantia regidos 
pelo DL 911/69. 
 
USUCAPIÃO 
 O art. 12, § 2º do Estatuto da Cidade estabelece uma presunção relativa de que o autor da ação de usucapião 
especial urbana é hipossuficiente. 
 
DIREITOS AUTORAIS 
 Na antiga Lei de Direitos Autorais, o contrato de cessão de direitos precisava ser averbado à margem do registro 
para que pudesse ter eficácia contra terceiros. 
 
ALIMENTOS 
 O devedor de alimentos, executado sob a ameaça de prisão, pode comprovar a impossibilidade de pagamento por 
meio de testemunhas? 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
ACESSIBILIDADE 
 Logo depois de ter sido publicada a Lei 10.098/2000 as empresas de transporte coletivo já tinham o dever de 
adaptar seus veículos para pessoas com deficiência. 
 
PLANO DE SAÚDE 
 Ex-empregado demitido sem justa causa tem direito de permanecer vinculado ao plano de saúde em que se 
encontrava antes da demissão com as mesmas condições de valor. 
 
DIREITO DE VISITAS 
 É possível a fixação de astreintes para forçar a genitora que está com a guarda da criança a respeitar o direito de 
visita do pai. 
 
 
 
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DIREITO EMPRESARIAL 
PROPRIEDADE INDUSTRIAL 
 Possibilidade de o INPI analisar as cláusulas dos contratos de transferência de tecnologia que são submetidos a 
seu registro. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
COMPETÊNCIA 
 É de competência do domicílio do réu a ação pretendendo declarar a violação de direito autoral e cobrar 
indenização decorrente deste fato. 
 
JUSTIÇA GRATUITA 
 O art. 12, § 2º do Estatuto da Cidade estabelece uma presunção relativa de que o autor da ação de usucapião 
especial urbana é hipossuficiente. 
 
TÍTULOS EXECUTIVOS 
 Acordo de reparação de danos feito no bojo da suspensão condicional do processo é título executivo judicial. 
 
DIREITO PENAL 
PERDA DO CARGO 
 A pena de perdimento deve ser restrita ao cargo ocupado no momento do delito, salvo se o novo cargo tiver 
relação com as atribuições anteriores. 
 
ESTATUTO DO DESARMAMENTO 
 Portar granada de gás lacrimogêneo ou de pimenta não configura crime do Estatuto do Desarmamento. 
 
DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
ADICIONAL DE PERICULOSIDADE 
 Adicional de periculosidade não deve integrar complementação de aposentadoria dos ex-ferroviários da RFFSA. 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS 
A capitalização de juros, seja qual for a sua periodicidade, somente será 
considerada válida se estiver expressamente pactuada no contrato 
 
A cobrança de juros capitalizados nos contratos de mútuo é permitida quando houver 
expressa pactuação. 
Isso significa que a capitalização de juros, seja qual for a sua periodicidade (anual, semestral, 
mensal), somente será considerada válida se estiver expressamente pactuada no contrato. A 
pactuação da capitalização dos juros é sempre exigida, inclusive para a periodicidade anual. O 
art. 591 do Código Civil permite a capitalização anual, mas não determina a sua aplicação 
automaticamente. Não é possível a incidência da capitalização sem previsão no contrato. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.388.972-SC, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 8/2/2017 (recurso repetitivo) 
(Info 599). 
 
JUROS CAPITALIZADOS 
A capitalização de juros, também chamada de anatocismo, ocorre quando os juros são calculados sobre os 
próprios juros devidos. 
Outras denominações para “capitalização de juros”: “juros sobre juros”, “juros compostos” ou “juros 
frugíferos”. 
Normalmente, os juros capitalizados estão presentes nos contratos de financiamento bancário. 
 
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Carlos Roberto Gonçalves explica melhor: 
“O anatocismo consiste na prática de somar os juros ao capital para contagem de novos juros. Há, no caso, 
capitalização composta, que é aquela em que a taxa de juros incide sobre o capital inicial, acrescido dos 
juros acumulados até o período anterior. Em resumo, pois, o chamado ‘anatocismo’ é a incorporação dos 
juros ao valor principal da dívida, sobre a qual incidem novos encargos.” (Direito Civil Brasileiro. 8ª ed., São 
Paulo: Saraiva, 2011, p. 409). 
 
CAPITALIZAÇÃO ANUAL DE JUROS 
A capitalização de juros foi vedada no ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto 22.626/33 (Lei de 
Usura), cujo art. 4º estabeleceu: 
Art. 4º É proibido contar juros dos juros: esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos 
aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano. 
 
O STJ entende que a ressalva prevista na segunda parte do art. 4º (a parte em cinza) significa que a Lei de 
Usura permite a capitalização anual. Em outras palavras, a Lei de Usura: 
 Proibiu a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano (ex: capitalização mensal de juros); 
 Permitiu a capitalização anual de juros. 
 
O CC-1916 (art. 1.262) e o CC-2002 também permitem a capitalização anual: 
Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de 
redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual. 
 
Desse modo, a capitalização anual sempre foi PERMITIDA (para todos os contratos). 
Vale ressaltar que, mesmo sendo permitida por lei, a capitalização anual de juros precisa estar 
expressamente pactuada, ou seja, prevista no contrato. 
 
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS COM PERIODICIDADE INFERIOR A UM ANO 
Como vimos, a capitalização de juros por ano é permitida, seja para contratos bancários ou não-bancários. 
O que é proibida, como regra, é a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano. Ex: 
capitalização mensal de juros (ou seja, a cada mês incidem juros sobre os juros). 
 
A capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano (ex: capitalização mensal de juros) é 
proibida também para os bancos? 
NÃO. A MP n.º 1.963-17, editada em 31 de março de 2000, permitiu às instituições financeiras a 
capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano. 
Em suma, é permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos 
BANCÁRIOS celebrados após 31 de março de 2000, data da publicação da MP 1.963-17/2000 (atual MP 
2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada. 
 
Veja a redação da MP 2.170-36/2001: 
Art. 5º Nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, é 
admissível a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano. 
 
O STJ sumulou seu entendimento sobre a matéria: 
Súmula 539-STJ: É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos 
celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP 1.963-
17/00, reeditada como MP 2.170-36/01), desde que expressamente pactuada. 
 
Desse modo, os bancos podem fazer a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano, desde 
que expressamente pactuada. 
 
 
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Legislação especial pode autorizar a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano para 
outras atividades 
É possível a cobrança de juros sobre juros quando existente autorização em lei especial e desde que este 
encargo tenha sido expressamente pactuado. Ex: Decretos-lei nº 167/67 e 413/69 e a Lei nº 6840/80, que 
disciplinam as cédulas de crédito rural, industrial e comercial. Nesse sentido: 
Súmula 93-STJ: A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial admite o pacto de 
capitalização de juros. 
 
A CAPITALIZAÇÃO SOMENTE É VÁLIDA SE HOUVER EXPRESSA PACTUAÇÃO 
Conforme estudamos acima, a Lei de Usura e Código Civil permitiram expressamente a capitalização anual 
de juros. Veja novamente a redação do CC: 
Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de 
redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual. 
 
Como o art. 591 fala que os juros são presumidos no contrato de mútuo com fins econômicos, surgiu a 
tese de que no caso de mútuo com capitalização anual de juros não seria necessário que essa capitalização 
estivesse expressamente prevista no contrato. Assim, seria permitida a capitalização anual mesmo que o 
contrato não estipulasse essa possibilidade textualmente. 
 
Essa tese foi acolhida pela jurisprudência? 
NÃO. A pactuação da capitalização dos juros é sempre exigida, inclusive para a periodicidade anual. Assim, 
não é possível a incidência automática da capitalização dos juros. 
O art. 591 do Código Civil permite a capitalização anual, mas não determina a sua aplicação 
automaticamente. Quando ele fala que se presumem os juros, são os juros remuneratórios incidentes sobre 
o mútuo feneratício, ou seja, aqueles recebidos pelo mutuante como compensação pela privação do capital 
emprestado. São juros simples. Em caso de capitalização, isso deverá ser feito de forma expressa no pacto. 
 
O STJ analisou o tema sob a sistemática do recurso repetitivo e resumiu o entendimento com a seguinte tese: 
A cobrança de juros capitalizados nos contratos de mútuo é permitida quando houver expressa pactuação. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.388.972-SC, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 8/2/2017 (recurso repetitivo) (Info 599). 
 
Isso significa que a capitalização de juros, seja qual for a sua periodicidade (anual, semestral, mensal), 
somente será considerada válida se estiver expressamente pactuada (prevista) no contrato. 
 
Necessidade de analisar o contrato firmado 
Como consequência disso, para que o mutuante (quem emprestou o dinheiro) possa provar que ele tem 
direito de cobrar juros capitalizados, ele precisará juntar aos autos cópia do contrato celebrado com o 
mutuário demonstrando, assim, que a capitalização foi expressamente prevista no ajuste. Não sendo 
juntado o contrato, deverá o juiz levar em consideração os juros legais (juros simples): 
(...) 4. Ausente a cópia do contrato por omissão imputável à instituição financeira, de modo a impedir a 
aferição do percentual ajustado e da própria existência de pactuação, impõe-se observar o critério 
legalmente estabelecido. 
5. No período anterior à vigência do novo Código Civil, os juros de mora são devidos à taxa de 0,5% ao 
mês (art. 1.062 do CC/1916); após 10/1/2003, devem incidir segundo os ditames do art. 406 do Código 
Civil de 2002, observado o limite de 1% imposto pela Súmula nº 379/STJ, salvo se a taxa cobrada for mais 
vantajosa para o devedor. (...) 
STJ. 3ª Turma. REsp 1431572/SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/06/2016. 
 
 
 
 
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USUCAPIÃO 
O art. 12, § 2º do Estatuto da Cidade estabelece uma presunção relativa 
de que o autor da ação de usucapião especial urbana é hipossuficiente 
 
Importante!!! 
O Estatuto da Cidade, ao tratar sobre a ação de usucapião especial urbana, prevê que "o autor 
terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o cartório de 
registro de imóveis." 
Isso significa que o autor da ação de usucapião especial urbana gozará sempre da gratuidade 
da justiça? Há uma presunção absoluta de que este autor não tem recursos suficientes para 
pagar as custas? NÃO. 
O art. 12, § 2º da Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) estabelece uma presunção relativa 
de que o autor da ação de usucapião especial urbana é hipossuficiente. Isso significa que essa 
presunção pode ser ilidida (refutada) a partir da comprovação inequívoca de que o autor não é 
considerado "necessitado". 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.517.822-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/2/2017 (Info 599). 
 
Vide comentários em Direito Processual Civil. 
 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos 
é subsidiária, condicional, mitigada e equitativa 
 
A vítima de um ato ilícito praticado por menor pode propor a ação somente contra o pai do 
garoto, não sendo necessário incluir o adolescente no polo passivo 
 
Não há como afastar a responsabilização do pai do filho menor simplesmente pelo fato de que 
ele não estava fisicamente ao lado de seu filho no momento da conduta 
 
Importante!!! 
A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária, condicional, 
mitigada e equitativa 
Os incapazes (ex: filhos menores), quando praticarem atos que causem prejuízos, terão 
responsabilidade subsidiária, condicional, mitigada e equitativa, nos termos do art. 928 do CC. 
Subsidiária: porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para 
ressarcir a vítima. 
Condicional e mitigada: porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do patrimônio 
mínimo do infante. 
Equitativa: tendo em vista que a indenização deverá ser equânime, sem a privação do mínimo 
necessário para a sobrevivência digna do incapaz. 
A responsabilidade dos pais dos filhos menores será substitutiva, exclusiva e não solidária. 
 
A vítima de um ato ilícito praticado por menor pode propor a ação somente contra o pai do 
garoto, não sendo necessário incluir o adolescente no polo passivo 
Em ação indenizatória decorrente de ato ilícito, não há litisconsórcio necessário entre o 
genitor responsável pela reparação (art. 932, I, do CC) e o menor causador do dano. 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
É possível, no entanto, que o autor, por sua opção e liberalidade, tendo em conta que os 
direitos ou obrigações derivem do mesmo fundamento de fato ou de direito, intente ação 
contra ambos – pai e filho –, formando-se um litisconsórcio facultativo e simples. 
Ex: Lucas, 15 anos de idade, brincava com a arma de fogo de seu pai e, por imprudência, 
acabou acertando um tiro em Vítor, que ficou ferido, mas sobreviveu. Vítor ajuizou ação de 
indenização por danos morais e materiais contra João (pai de Lucas). Não era necessário que 
Vítor propusesse a ação contra João e Lucas, em litisconsórcio. Vale a pena esclarecer, no 
entanto, que seria plenamente possível que o autor (vítima) tivesse, por sua opção e 
liberalidade, ajuizado a ação contra ambos (pai e filho). Neste caso, teríamos uma hipótese de 
litisconsórcio: facultativo e simples. 
 
Não há como afastar a responsabilização do pai do filho menor simplesmente pelo fato de que 
ele não estava fisicamente ao lado de seu filho no momento da conduta 
O art. 932 do CC prevê que os pais são responsáveis pela reparação civil em relação aos atos 
praticados por seus filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia. 
O art. 932, I do CC, ao se referir à autoridade e companhia dos pais em relação aos filhos, quis 
explicitar o poder familiar (a autoridade parental não se esgota na guarda), compreendendo 
um plexode deveres, como proteção, cuidado, educação, informação, afeto, dentre outros, 
independentemente da vigilância investigativa e diária, sendo irrelevante a proximidade 
física no momento em que os menores venham a causar danos. 
Em outras palavras, não há como afastar a responsabilização do pai do filho menor 
simplesmente pelo fato de que ele não estava fisicamente ao lado de seu filho no momento da 
conduta. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.436.401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info 599). 
Obs: cuidado com o REsp 1.232.011-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/12/2015 (Info 
575), precedente em sentido um pouco diverso envolvendo uma mãe que morava em outra cidade. 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Lucas, 15 anos de idade, brincava com a arma de fogo de seu pai e, por imprudência, acabou acertando 
um tiro em Vítor, que ficou ferido, mas sobreviveu. 
Vítor ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra João (pai de Lucas). 
O juiz julgou procedente a demanda, condenando João a pagar R$ 50 mil a título de indenização. 
João recorreu invocando dois argumentos: 
 
1º) Aduziu que o processo teria sido nulo pela falta de formação de litisconsórcio necessário. Segundo 
alegou o condenado, a ação deveria ter sido proposta contra ele (pai) e contra seu filho (Lucas), tendo em 
vista que, com o advento do Código Civil de 2002, ficou estabelecida a possibilidade do incapaz responder 
pelos seus próprios atos quando as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não 
dispuserem de meios suficientes, nos termos do art. 928, do CC, sendo, por conseguinte, indispensável a 
citação de Lucas para integrar a relação jurídica processual. 
Veja o dispositivo legal: 
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem 
obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. 
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do 
necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem. 
 
Desse modo, o recorrente sustentou que a responsabilidade pela indenização seria solidária entre o menor 
causador do dano e o seu pai ou responsável. Por isso, a ação deveria ter sido proposta obrigatoriamente 
contra ambos. 
 
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2º) Sustentou que, nos termos do art. 932, I, do CC, os pais só respondem civilmente pelos atos praticados 
por seus filhos quando estiverem sob sua autoridade e em sua companhia. No caso concreto, João 
argumentou que Lucas não estava na sua companhia, uma vez que ele havia saído de casa para trabalhar 
quando, então, o filho pegou a arma e foi brincar com ela na casa de Vítor. Assim, João alegou que, 
condená-lo nesta situação, seria uma forma de responsabilidade objetiva, o que não é admitida no caso. 
 
Tese 1. O primeiro argumento de João foi aceito pelo STJ? Se um menor comete ato ilícito, ele 
responderá solidariamente com seus pais ou responsáveis? 
NÃO. 
De fato, em regra, o art. 932 do Código Civil traz hipóteses de responsabilidade solidária. Assim, as pessoas 
mencionadas nos incisos deste artigo respondem solidariamente com o causador do dano. Isso está 
previsto expressamente no caput do art. 932 e no parágrafo único do art. 942. Veja: 
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: 
(...) 
 
Art. 942. (...) 
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas 
no art. 932. 
 
Assim, por exemplo, se o empregado pratica um ato ilícito, podemos dizer que haverá uma responsabilidade 
solidária entre o empregado (causador do dano) e o empregador, nos termos do art. 932, III: 
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: 
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que 
lhes competir, ou em razão dele; 
 
Ocorre que o caso dos incapazes é uma exceção a essa regra. Se o ato ilícito foi praticado por um incapaz, 
o responsável por ele irá responder de forma principal e o incapaz terá apenas responsabilidade 
subsidiária e mitigada. Essa diferença de tratamento está prevista no art. 928 do CC: 
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem 
obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. 
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do 
necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem. 
 
Veja que o art. 928 afirma que o incapaz somente responderá se as pessoas por ele responsáveis: 
 não tiverem obrigação de fazê-lo; ou 
 não dispuserem de meios suficientes 
 
Desse modo, não é certo dizer que o incapaz responde de forma solidária. Ele responde de modo 
subsidiário. Isso porque seu patrimônio só servirá para pagar a indenização se ocorrer alguma das duas 
situações acima listadas. 
Além disso, o incapaz não irá responder se, ao pagar a indenização, isso ocasionar uma perda em seu 
patrimônio que gere uma privação de recursos muito grande, prejudicando sua subsistência ou das 
pessoas que dele dependam (parágrafo único do art. 928). 
Perceba, portanto, que o art. 928 excepciona a regra da responsabilidade solidária trazida pelos arts. 932 e 
942, parágrafo único. 
O art. 928 é regra especial em relação aos demais, cuidando especificamente da situação peculiar dos 
incapazes, ficando o art. 942, parágrafo único, responsável por normatizar todas as demais hipóteses do 
art. 932. 
 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
José Fernando Simão corrobora esta ideia: 
"O artigo 942, parágrafo único, do Código Civil, deve ser lido da seguinte maneira: são 
solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no artigo 932, 
salvo se o causador do dano for pessoa absoluta ou relativamente incapaz, hipótese em que a 
responsabilidade dos incapazes é subsidiária." (SIMÃO, José Fernando. Responsabilidade civil do 
incapaz. São Paulo: Atlas, 2008, p. 228). 
 
Por isso, pode-se concluir dizendo que: 
Os incapazes (ex: filhos menores), quando praticarem atos que causem prejuízos, terão 
responsabilidade subsidiária, condicional, mitigada e equitativa, nos termos do art. 928 do CC. 
É subsidiária porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para ressarcir a vítima. 
É condicional e mitigada porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do patrimônio mínimo do 
infante. 
Deve ser equitativa, tendo em vista que a indenização deverá ser equânime, sem a privação do mínimo 
necessário para a sobrevivência digna do incapaz. 
A responsabilidade dos pais dos filhos menores será substitutiva, exclusiva e não solidária. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.436.401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info 599). 
 
Diante do exposto, não há obrigação nenhuma da vítima lesada de propor a ação em litisconsórcio contra 
o responsável e o incapaz. Não há litisconsórcio necessário neste caso. Logo, não houve nulidade do 
processo. 
 
A título de curiosidade, vale a pena esclarecer que seria plenamente possível que o autor (vítima) tivesse, 
por sua opção e liberalidade, ajuizado a ação contra ambos (pai e filho). Neste caso, teríamos uma 
hipótese de litisconsórcio: 
 facultativo: não há nada (seja a lei ou a relação jurídica) que obrigue sua formação, decorrendo ela da 
conveniência da parte. 
 simples: porque a decisão não seria necessariamente idêntica para o incapaz e seu responsável. 
 
A vantagem de o autor propor contra os dois seria para o caso de ele já saber que o responsável pelo 
incapaz não possui patrimônio suficiente e que o próprio incapaz detém bens, em seu nome, que 
poderiam servir para custear a indenização. Trata-sede hipótese rara na prática, mas possível. Neste caso, 
o autor faria dois pedidos: o primeiro para que haja a condenação do responsável pelo incapaz a reparar o 
dano; o segundo pedido seria subsidiário, ou seja, na hipótese de o responsável pelo incapaz não ter a 
obrigação de indenizar ou não ter meios para isso, pede-se a condenação do próprio incapaz. 
 
Resumindo: 
Em ação indenizatória decorrente de ato ilícito, não há litisconsórcio necessário entre o genitor 
responsável pela reparação (art. 932, I, do CC) e o menor causador do dano. 
É possível, no entanto, que o autor, por sua opção e liberalidade, tendo em conta que os direitos ou 
obrigações derivem do mesmo fundamento de fato ou de direito, intente ação contra ambos – pai e 
filho –, formando-se um litisconsórcio facultativo e simples. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.436.401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info 599). 
 
Tese 2. O segundo argumento foi aceito? Para que o pai responda, é necessário que ele esteja junto com 
o filho menor no momento do ato ilícito? 
NÃO. Relembre a redação do art. 932, I, do CC: 
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: 
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; 
 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
A doutrina e a jurisprudência afirmam que o legislador não foi muito feliz quando utilizou a expressão “em 
sua companhia”. Assim, deve-se evitar, neste caso, a interpretação literal e os pais irão responder mesmo 
que eles não estejam presentes no momento do ato causador do dano. Confira: 
"(...) não se trata de proximidade física no momento do dano. Mesmo que o menor, em viagem, 
cause danos a terceiros, tais danos estão sob o amparo do dispositivo em questão. Seria 
absurdamente contrário à teleologia da norma responsabilizar apenas os pais pelos danos que os 
filhos causem 'ao lado' deles. Não é essa, decerto, a interpretação possível do dispositivo em 
questão. Cabe aos pais contribuir para a formação dos hábitos e comportamentos dos filhos, e isso 
se reflete, de modo sensível, quando os menores estão fora do lar, e não se encontram sob a 
proteção direta deles, e nem haja fiscalização familiar. É irrelevante, portanto, para a incidência da 
norma, a proximidade física dos pais, no momento em que os menores causam danos" (FARIAS, 
Cristiano. Novo tratado de responsabilidade civil. São Paulo: Atlas, 2015, p. 604) 
 
Resumindo o entendimento do STJ neste julgado: 
O art. 932 do CC prevê que os pais são responsáveis pela reparação civil em relação aos atos praticados 
por seus filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia. 
O art. 932, I do CC, ao se referir à autoridade e companhia dos pais em relação aos filhos, quis explicitar 
o poder familiar (a autoridade parental não se esgota na guarda), compreendendo um plexo de deveres, 
como proteção, cuidado, educação, informação, afeto, dentre outros, independentemente da vigilância 
investigativa e diária, sendo irrelevante a proximidade física no momento em que os menores venham a 
causar danos. 
Em outras palavras, não há como afastar a responsabilização do pai do filho menor simplesmente pelo 
fato de que ele não estava fisicamente ao lado de seu filho no momento da conduta. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.436.401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info 599). 
 
PRECEDENTE EM SENTIDO UM POUCO DIVERSO ENVOLVENDO UMA MÃE QUE MORAVA EM OUTRA CIDADE 
Vimos no julgado acima que, mesmo o pai não estando presente no momento do ato ilícito, ele 
responderá civilmente, nos termos do art. 932, I, do CC. 
Deve-se chamar atenção, no entanto, para um outro precedente envolvendo um ato ilícito praticado por 
menor, sendo que sua mãe residia em outro Município. 
 
A situação foi a seguinte: 
Antônio e Jussara foram casados e tiveram um filho (Tiago). O casal se divorciou. Tiago ficou morando com 
o pai em Florianópolis e Jussara mudou-se para Curitiba. 
Vale ressaltar que, mesmo morando em Curitiba, Jussara continuou detendo poder familiar sobre o filho. 
Determinado dia, Tiago, com 17 anos, aproveitou-se do fato de que o pai havia saído de casa e pegou o 
carro escondido, sem autorização, para dar uma volta. Durante o passeio acabou atropelando Carla, que 
sofreu vários ferimentos. 
 
Carla poderá cobrar indenização de Antônio pelos danos a ela causados por seu filho? O pai do autor do 
ilícito tem responsabilidade civil neste caso mesmo ele não estando presente no momento do fato? 
SIM, nos termos do art. 932, I, do Código Civil. 
Antônio não poderá isentar-se da responsabilidade alegando que não teve culpa. Isso porque a 
responsabilidade civil nos casos do art. 932 do CC é objetiva (independentemente de culpa). Veja: 
Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua 
parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. 
 
A responsabilidade por ato de terceiro (art. 932) é objetiva, sendo também chamada de responsabilidade 
indireta ou complexa. Nesse sentido: 
Enunciado 451-CJF: Arts. 932 e 933. A responsabilidade civil por ato de terceiro funda-se na 
responsabilidade objetiva ou independente de culpa, estando superado o modelo de culpa presumida. 
 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
Assim, as pessoas arroladas no art. 932 responderão sem que se discuta se tiveram ou não culpa. A vítima 
precisará, contudo, provar a culpa do causador direto do dano. 
 
E Jussara, mãe do adolescente, que morava em outra cidade, poderá ser responsabilizada neste caso? 
NÃO. 
A mãe que, à época de acidente provocado por seu filho menor de idade, residia permanentemente em 
local distinto daquele no qual morava o menor - sobre quem apenas o pai exercia autoridade de fato - 
não pode ser responsabilizada pela reparação civil advinda do ato ilícito, mesmo considerando que ela 
não deixou de deter o poder familiar sobre o filho. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.011-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/12/2015 (Info 575). 
 
 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 
Não se aplica a teoria do adimplemento substancial aos contratos 
de alienação fiduciária em garantia regidos pelo DL 911/69 
 
Importante!!! 
Não se aplica a teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação fiduciária em 
garantia regidos pelo Decreto-Lei 911/69. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.622.555-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio 
Bellizze, julgado em 22/2/2017 (Info 599). 
 
TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL 
Em um contrato, se uma parte descumpre a sua obrigação, a parte credora terá, em regra, duas opções: 
1) poderá exigir o cumprimento da prestação que não foi adimplida; ou 
2) pedir a resolução (“desfazimento”) do contrato. 
Além disso, tanto em um caso como no outro, ela poderá também pedir o pagamento de eventuais perdas 
e danos que comprove ter sofrido. Isso está previsto no art. 475 do Código Civil: 
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-
lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. 
 
A teoria do adimplemento substancial tem por objetivo mitigar o que foi explicado acima. Segundo essa 
teoria, se a parte devedora cumpriu quase tudo que estava previsto no contrato (ex: eram 48 prestações, 
e ela pagou 46), então, neste caso, a parte credora não terá direito de pedir a resolução do contrato 
porque, como faltou muito pouco, o desfazimento do pacto seria uma medida exagerada, 
desproporcional, injusta e violaria a boa-fé objetiva. 
Desse modo, havendo adimplemento substancial (adimplemento de grande parte do contrato), o credor 
teria apenas uma opção: exigir do devedor o cumprimento da prestação (das prestações) que ficou 
(ficaram)inadimplida(s) e pleitear eventual indenização pelos prejuízos que sofreu. 
 
Veja o clássico conceito de Clóvis do Couto e Silva: 
Adimplemento substancial “constitui um adimplemento tão próximo ao resultado final, que, tendo-se em 
vista a conduta das partes, exclui-se o direito de resolução, permitindo-se tão somente o pedido de 
indenização e/ou adimplemento, de vez que a primeira pretensão viria a ferir o princípio da boa-fé 
(objetiva)" (O Princípio da Boa-Fé no Direito Brasileiro e Português in Estudos de Direito Civil Brasileiro e 
Português. São Paulo: RT, 1980, p. 56). 
 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
A origem desta teoria remonta o Direito Inglês do séc. XVIII, tendo lá recebido o nome de "substancial 
performance". 
 
A teoria do adimplemento substancial é acolhida pelo STJ? 
SIM. Existem julgados adotando expressamente a teoria. Vale ressaltar, no entanto, que seu uso não pode 
ser banalizado a ponto de inverter a lógica jurídica de extinção das obrigações. O “normal” que as partes 
esperam legitimamente é que os contratos sejam cumpridos de forma integral e regular. 
Diante disso, a fim de que haja critérios, o STJ afirma que são necessários três requisitos para a aplicação 
da teoria: 
a) a existência de expectativas legítimas geradas pelo comportamento das partes; 
b) o pagamento faltante há de ser ínfimo em se considerando o total do negócio; 
c) deve ser possível a conservação da eficácia do negócio sem prejuízo ao direito do credor de pleitear a 
quantia devida pelos meios ordinários. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1581505/SC, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 18/08/2016. 
 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 
Conceito 
“A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, 
aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em 
regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de 
determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: 
Método, 2012, p. 565). 
 
Regramento 
O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts. 1.361 a 1.368-
B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema: 
• alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97; 
• alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº 4.728/65 e 
Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de financiamento 
bancário com garantia de alienação fiduciária. 
 
Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se apenas de forma 
subsidiária: 
Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se à 
disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste Código 
naquilo que não for incompatível com a legislação especial. 
 
Resumindo: 
Alienação fiduciária de 
bens MÓVEIS fungíveis e 
infungíveis quando o credor 
fiduciário for instituição 
financeira 
Alienação fiduciária de 
bens MÓVEIS infungíveis 
quando o credor fiduciário for 
pessoa natural ou jurídica (sem 
ser banco) 
Alienação fiduciária de 
bens IMÓVEIS 
Lei nº 4.728/65 
Decreto-Lei nº 911/69 
Código Civil de 2002 
(arts. 1.361 a 1.368-A) 
Lei nº 9.514/97 
 
 
 
 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
INAPLICABILIDADE DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL À ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA REGIDA PELO DL 911/69 
A espécie mais comum de alienação fiduciária é a de automóveis, que é regida pelo Decreto-Lei nº 911/69. 
Ex: Antônio quer comprar um carro de R$ 30 mil, mas somente possui R$ 10 mil. Antônio procura o Banco 
“X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária. 
Assim, o Banco “X” empresta R$ 20 mil a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do pagamento do 
empréstimo, a propriedade resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio. 
Em outras palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas, no documento, a propriedade do 
automóvel é do Banco “X” (constará: “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco tem a 
propriedade resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-
se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer a Antônio. 
Antônio financiou o veículo em 48 prestações. Após pagar 44 parcelas, ele ficou desempregado e não 
conseguiu arcar com as 4 últimas prestações. 
 
O que acontece em caso de inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo, Antônio)? 
Havendo mora por parte do mutuário, deverá ser adotado o procedimento previsto no DL 911/69: 
 
Notificação do devedor 
O credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se encontra em débito, 
comprovando, assim, a mora. Essa notificação é indispensável para que o credor possa ajuizar ação de 
busca e apreensão. Confira: 
Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado 
fiduciariamente. 
 
Como é feita a notificação do devedor? Essa notificação precisa ser realizada por intermédio do Cartório 
de Títulos e Documentos? 
NÃO. Essa notificação é feita por meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo, não precisa ser 
realizada por intermédio do Cartório de RTD. 
 
O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor? 
NÃO. Não se exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do próprio destinatário (§ 2º 
do art. 2º do DL 911/69). 
Para a constituição em mora por meio de notificação extrajudicial, é suficiente que seja entregue no 
endereço do devedor, ainda que não pessoalmente. 
 
Ajuizamento da ação de busca e apreensão 
Após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) poderá ingressar com uma ação de busca e apreensão 
requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69). Essa busca e apreensão prevista no DL 
911/69 é uma ação especial autônoma e independente de qualquer procedimento posterior. 
 
Concessão da liminar 
O juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor), desde que comprovada a 
mora ou o inadimplemento do devedor (art. 3º do DL 911/69). 
 
Possibilidade de pagamento integral da dívida 
No prazo de 5 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante poderá pagar a 
integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese 
na qual o bem lhe será restituído livre do ônus (§ 2º do art. 3º do DL 911/69). Veja o dispositivo legal: 
Art. 3º (...) 
§ 1º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput, consolidar-se-ão a propriedade e a posse 
plena e exclusiva do bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às repartições competentes, 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
quando for o caso, expedir novo certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou de terceiro 
por ele indicado, livre do ônus da propriedade fiduciária. (Redação dada pela Lei 10.931/2004) 
§ 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os 
valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do 
ônus. (Redação dada pela Lei 10.931/2004) 
 
O que se entende por “integralidade da dívida pendente”? 
Todo o débito. 
Segundo decidiu o STJ, a Lei nº 10.931/2004, que alterou o DL 911/69, não mais faculta ao devedor a 
possibilidade de purgação de mora, ou seja, não mais permite que ele pague somente as prestações 
vencidas. 
Para que o devedor fiduciante consiga ter o bem de volta, ele terá que pagar a integralidade da dívida, ouseja, tanto as parcelas vencidas quanto as vincendas (mais os encargos), no prazo de 5 dias após a 
execução da liminar. 
Em nosso exemplo, Antônio terá que pagar, em 5 dias, as 4 parcelas restantes. 
O devedor purga a mora quando ele oferece ao credor as prestações que estão vencidas e mais o valor dos 
prejuízos que este sofreu (art. 401, I, do CC). Nesse caso, purgando a mora, o devedor consegue evitar as 
consequências do inadimplemento. Ocorre que na alienação fiduciária em garantia, a Lei n. 10.931/2004 
passou a não mais permitir a purgação da mora. 
Vale ressaltar que o tema acima foi decidido em sede de recurso repetitivo, tendo o STJ firmado a seguinte 
conclusão, que será aplicada em todos os processos semelhantes: 
Nos contratos firmados na vigência da Lei 10.931/2004, compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias 
após a execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar a integralidade da dívida - entendida 
esta como os valores apresentados e comprovados pelo credor na inicial -, sob pena de consolidação da 
propriedade do bem móvel objeto de alienação fiduciária. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/5/2014 (recurso 
repetitivo) (Info 540). 
 
Feita esta breve revisão, voltemos ao nosso exemplo: 
O Banco enviou notificação extrajudicial para Antônio informando que ele se encontrava em débito 
(Súmula 72-STJ), mas este não fez a purgação da mora. 
Diante disso, a instituição financeira ingressou com ação de busca e apreensão requerendo a entrega do 
bem, conforme autoriza o art. 3º do DL 911/69: 
Art. 3º O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que comprovada a mora, na forma estabelecida pelo § 
2º do art. 2º, ou o inadimplemento, requerer contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem 
alienado fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente, podendo ser apreciada em plantão judiciário. 
 
O juiz concedeu a liminar e o automóvel saiu da posse de Antônio e foi entregue ao Banco. 
 
Resposta do devedor 
O devedor fiduciante apresentou, então, resposta (uma espécie de contestação) prevista no § 3º do art. 3º 
do DL 911/69. 
Nesta defesa apresentada pelo devedor, ele pediu a aplicação da teoria do adimplemento substancial, 
afirmando que cumpriu quase todas as prestações (cumpriu 91,66% do contrato). Logo, a determinação de 
tomar o veículo, resolvendo o contrato, seria uma medida desproporcional. Argumentou que o banco 
deveria ter ingressado com ação cobrando as quatro últimas parcelas que não foram pagas. 
 
A tese do devedor foi aceita pelo STJ? É possível a aplicação da teoria do adimplemento substancial para 
a alienação fiduciária regida pelo DL 911/69? 
NÃO. 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
Não se aplica a teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação fiduciária em garantia 
regidos pelo Decreto-Lei 911/69. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.622.555-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, 
julgado em 22/2/2017 (Info 599). 
 
Conforme vimos acima, devidamente comprovada a mora ou o inadimplemento, o DL 911/69 autoriza que 
o credor fiduciário possa se valer da ação de busca e apreensão, sendo irrelevante examinar quantas 
parcelas já foram pagas ou estão em aberto. 
Além disso, o art. 3º, § 2º do DL 911/69 prevê que o bem somente poderá ser restituído ao devedor se ele 
pagar, no prazo de 5 dias, a integralidade da dívida pendente. 
Dessa forma, a lei foi muito clara ao exigir a quitação integral do débito como condição imprescindível 
para que o bem alienado fiduciariamente seja remancipado. Ou seja, nos termos da lei, para que o bem 
possa ser restituído ao devedor livre de ônus, é necessário que ele quite integralmente a dívida pendente. 
Assim, mostra-se incongruente impedir a utilização da ação de busca e apreensão pelo simples fato de 
faltarem poucas prestações a serem pagas, considerando que a lei de regência do instituto expressamente 
exigiu o pagamento integral da dívida pendente. 
 
Incentivo ao inadimplemento das últimas parcelas 
Vale mencionar, ainda, que a aplicação da teoria do adimplemento substancial para obstar a utilização da 
ação de busca e apreensão representaria um incentivo ao inadimplemento das últimas parcelas 
contratuais, considerando que o devedor saberia que não perderia o bem e que o credor teria que se 
contentar em buscar o crédito faltante por outras vias judiciais menos eficazes. 
 
Juros mais elevados 
Se fosse aplicada a teoria do adimplemento substancial para os contratos de alienação fiduciária, haveria 
um enfraquecimento da garantia prevista neste instituto fazendo com que as instituições financeiras 
começassem a praticar juros mais elevados a fim de compensar esses riscos. Isso seria prejudicial para a 
economia e para os consumidores em geral. 
Dessa forma, a propriedade fiduciária, concebida pelo legislador justamente para conferir segurança 
jurídica às concessões de crédito, essencial ao desenvolvimento da economia nacional, ficaria 
comprometida pela aplicação deturpada da teoria do adimplemento substancial. 
 
 
 
DIREITOS AUTORAIS 
Na antiga Lei de Direitos Autorais, o contrato de cessão de direitos precisava ser averbado à 
margem do registro para que pudesse ter eficácia contra terceiros 
 
A Lei nº 5.988/73 (antiga Lei de Direitos Autorais) exigia que o contrato de cessão de direitos 
de obra musical fosse averbado à margem do registro no órgão competente para que pudesse 
ter eficácia contra terceiros. Isso estava previsto no art. 53, § 1º (Para valer perante terceiros, 
deverá a cessão ser averbada à margem do registro a que se refere o artigo 17). 
É possível averbar o contrato de cessão de direitos autorais firmado na vigência da Lei nº 
5.988/73 mesmo sem que tenha havido anterior registro da obra por seu titular no órgão 
oficial competente. Em outras palavras, ainda que o titular dos direitos autorais sobre a 
música (cedente) não tenha registrado sua canção no registro adequado, o cessionário tem 
legitimidade para fazer a averbação. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.500.635-RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/2/2017 (Info 599). 
 
 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
Lei de Direitos Autorais 
Atualmente, a norma que rege os direitos autorais no Brasil é a Lei nº 9.610/98. 
Antes dessa norma, os direitos autorais eram tratados pela Lei nº 5.988/73, que foi revogada pela Lei nº 
9.610/98. 
O caso analisado pelo STJ ocorreu em uma época em que ainda vigorava a Lei nº 5.988/73. 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
Em 1995, os cantores Claudinho e Bochecha, autores da canção "Conquista", celebraram contrato com a 
empresa 1 cedendo seus direitos autorais referentes a essa música pelo prazo de 3 anos. 
Ocorre que, em 1997, ou seja, ainda durante a vigência desse pacto, os autores firmaram outro contrato 
de cessão de direitos autorais, desta vez com a empresa 2. 
Diante disso, a empresa 1 ingressou com ação de cumprimento de contrato c/c ação de indenização contra 
Claudinho, Bochecha e a empresa 2. 
A empresa 2 alegou que não poderia ser condenada porque o ajuste celebrado entre a autora (empresa 1) 
e os cantores não produz eficácia perante ela (ré), já que este contrato não foi averbado no registro 
competente. 
 
A tese da empresa 2 foi acolhida pelo STJ? 
SIM. 
A Lei nº 5.988/73 (antiga Lei de Direitos Autorais) exigia que o contrato de cessão de direitos de obra 
musical fosse averbado à margem do registro no órgão competente para que pudesse ter eficácia contra 
terceiros. Isso estava previsto no art. 53, § 1º (Para valer perante terceiros, deverá a cessão ser averbada 
à margem do registro a que se refere o artigo 17). 
A Lei nº 5.988/73, vigente à época dos fatos, adotou a regra de presunção de titularidade fundada no 
registro, resultando daí que o cessionárionão podia opor seu direito a terceiros sem antes ter averbado 
a cessão à margem do registro no órgão competente previsto na lei de regência (no caso de música, a 
Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.500.635-RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/2/2017 (Info 599). 
 
Veja a redação da Lei nº 5.988/73: 
Art. 17. Para segurança de seus direitos, o autor da obra intelectual poderá registrá-Ia, conforme sua 
natureza, na Biblioteca Nacional, na Escola de Música, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do 
Rio de Janeiro, no Instituto Nacional do Cinema, ou no Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e 
Agronomia. 
(...) 
 
Art. 53. A cessão total ou parcial dos direitos do autor, que se fará sempre por escrito, presume-se 
onerosa. 
§ 1º Para valer perante terceiros, deverá a cessão ser averbada à margem do registro a que se refere o 
artigo 17. 
 
A Lei atual faz a mesma exigência? 
NÃO. A Lei nº 9.610/98 não exigiu mais a averbação como condição de eficácia perante terceiros. Confira: 
Art. 50. A cessão total ou parcial dos direitos de autor, que se fará sempre por escrito, presume-se 
onerosa. 
§ 1º Poderá a cessão ser averbada à margem do registro a que se refere o art. 19 desta Lei, ou, não 
estando a obra registrada, poderá o instrumento ser registrado em Cartório de Títulos e Documentos. 
 
 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
Voltando ao nosso exemplo. A empresa 1 autora contra-argumentou afirmando que não tinha como 
averbar o contrato de cessão porque a dupla compositora da canção ainda não havia feito o registro da 
música. Esse argumento foi acolhido pelo STJ? 
NÃO. 
É possível averbar o contrato de cessão de direitos autorais firmado na vigência da Lei nº 5.988/73 
mesmo sem que tenha havido anterior registro da obra por seu titular no órgão oficial competente. 
O cessionário tem legitimidade para a averbação ainda que o autor intelectual da obra tenha deixado de 
efetuar o registro respectivo. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.500.635-RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/2/2017 (Info 599). 
 
 
 
DIREITO DE VISITAS 
É possível a fixação de astreintes para forçar a genitora que está 
com a guarda da criança a respeitar o direito de visita do pai 
 
É válida a aplicação de astreintes quando o genitor detentor da guarda da criança descumpre 
acordo homologado judicialmente sobre o regime de visitas. 
A aplicação das astreintes em hipótese de descumprimento do regime de visitas por parte do 
genitor, detentor da guarda da criança se mostra como um instrumento eficiente e também, 
menos drástico para a criança. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.481.531-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 16/2/2017 (Info 599). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Luiz e Cristiane foram casados e possuem um filho em comum, Lucas, de 7 anos. 
Com o divórcio, a guarda da criança ficou com a mãe. No entanto, o ex-casal celebrou um acordo 
homologado pela Justiça regulamentando o direito de visitas do pai. 
Ocorre que Cristiane descumpre reiteradamente o direito de visitas estipulado no acordo, criando 
embaraços para que o pai tenha contato com o garoto. 
Diante disso, Luiz ajuizou ação de cumprimento de regime de visitas alegando que não está conseguindo 
exercer o direito de visitação por obstáculos causados por Cristiane. O autor pede que o juiz determine 
que a ré cumpra rigorosamente o acordo, sob pena de aplicação de multa diária. 
 
O pedido de Luiz poderá ser acolhido? É possível a aplicação de astreintes (ex: multa diária) para o 
descumprimento de acordo judicial que regulamenta direito de visita? 
SIM. 
É válida a aplicação de astreintes quando o genitor detentor da guarda da criança descumpre acordo 
homologado judicialmente sobre o regime de visitas. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.481.531-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 16/2/2017 (Info 599). 
 
Normalmente, as astreintes são utilizadas para a tutela de direitos patrimoniais. No entanto, nada impede 
que seja fixada multa cominatória para tutelar direitos extrapatrimoniais, como é o caso do direito de 
visitação. Esse é o entendimento da doutrina: 
"O direito de visitas gera uma obrigação de fazer infungível, obrigação personalíssima, que deve ser 
cumprida pessoalmente. Nada impede que seja buscado o adimplemento, mediante aplicação da chamada 
astreinte: tutela inibitória, mediante a aplicação de multa diária. Nada mais do que um gravame 
pecuniário imposto ao devedor renitente para que honre o cumprimento de sua obrigação. Instrumento 
de pressão psicológica, verdadeira sanção, destinada a desestimular a resistência do obrigado, de modo 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
que ele se sinta compelido a fazer o que está obrigado." (DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das 
Famílias. 10ª ed. São Paulo: RT, 2015, p. 539). 
 
Cabe ressaltar que o CPC/2015 autoriza, de modo expresso, a aplicação de multa em caso de 
descumprimento de obrigação de natureza não obrigacional ou existencial: 
Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não 
fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de 
tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente. 
(...) 
§ 6º O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao cumprimento de sentença que reconheça 
deveres de fazer e de não fazer de natureza não obrigacional. 
 
Outro mecanismo que poderia ser utilizado para que o não guardião da criança exercesse o seu direito de 
visitação seria a utilização da busca e apreensão. No entanto, essa medida, levando-se em consideração 
sempre o melhor interesse da criança e do adolescente, pode se mostrar drástica e prejudicial para o 
menor, que poderia ser levado à força por uma ordem judicial, inclusive com a utilização da polícia para a 
sua efetivação. Dessa forma, as astreintes se mostram como um meio muito mais eficaz e menos 
traumatizante para a criança. 
 
 
 
ALIMENTOS 
O devedor de alimentos, executado sob a ameaça de prisão, 
pode comprovar a impossibilidade de pagamento por meio de testemunhas? 
 
Importante!!! 
Na execução de alimentos pelo rito do art. 733 do CPC/1973 (art. 528 do CPC/2015), o 
executado é intimado pessoalmente para, em 3 dias: 
a) pagar o débito; 
b) provar que o fez (provar que já pagou a dívida); ou 
c) justificar a impossibilidade de efetuá-lo (provar que não tem condições de pagar). 
É possível que o devedor justifique a impossibilidade de pagar por meio de testemunhas? 
SIM. Em tese, é possível que isso seja feito por meio de prova testemunhal. Neste caso, as 
testemunhas terão que ser ouvidas obrigatoriamente no prazo de 3 dias. 
Na execução de alimentos pelo rito do art. 733 do CPC/1973 (art. 528 do CPC/2015), o 
executado pode comprovar a impossibilidade de pagamento por meio de prova testemunhal, 
desde que a oitiva ocorra no tríduo previsto para a justificação. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.601.338-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. Nancy 
Andrighi, julgado em 13/12/2016 (Info 599). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João paga mensalmente pensão alimentícia em favor de seu filho Lucas. 
Ocorre que, por estar enfrentando dificuldades financeiras, o pai atrasou os últimos pagamentos. 
Diante disso, Lucas ajuizou execução de alimentos sob o rito do art. 733 do CPC 1973 (art. 528 do CPC 
2015) pedindo a prisão civil do devedor: 
Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão 
interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado 
pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez oujustificar a impossibilidade de 
efetuá-lo. 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
 
O juiz mandou intimar o executado pessoalmente para, em 3 dias: 
a) pagar o débito; 
b) provar que o fez (provar que já pagou a dívida); ou 
c) justificar a impossibilidade de efetuá-lo (provar que não tem condições de pagar). 
 
É possível que o devedor justifique a impossibilidade de pagar por meio de testemunhas? 
SIM. Em tese, é possível que isso seja feito por meio de prova testemunhal. No entanto, o STJ afirmou que, 
neste caso, as testemunhas terão que ser ouvidas obrigatoriamente no prazo de 3 dias. 
Na execução de alimentos pelo rito do art. 733 do CPC/1973 (art. 528 do CPC/2015), o executado pode 
comprovar a impossibilidade de pagamento por meio de prova testemunhal, desde que a oitiva ocorra 
no tríduo previsto para a justificação. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.601.338-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. Nancy 
Andrighi, julgado em 13/12/2016 (Info 599). 
 
Exemplo 1 
Imagine que, no primeiro dia do prazo tríduo, João apresenta petição ao juiz informando que não está 
pagando a pensão por se encontrar em dificuldades financeiras. A fim de provar essa alegação, o devedor 
pede ao juiz que, no dia seguinte, ouça duas testemunhas (seu sócio e seu vizinho) que conhecem detalhes 
da sua situação. 
O advogado de João consegue conversar com o juiz e o convence a marcar a audiência para o dia seguinte. 
Na audiência, ocorrida no segundo dia do prazo de João, as testemunhas fazem um relato verossímil de 
que ele está vivendo em precárias condições econômicas. 
Neste caso, essa prova testemunhal teria eficácia e o juiz poderia deixar de decretar a prisão do devedor 
porque restou provada a sua impossibilidade de pagar a pensão. 
 
Exemplo 2 
Suponhamos agora que os fatos aconteceram de forma diferente. 
No terceiro dia do prazo da resposta, João apresenta petição ao juiz informando que não está pagando a 
pensão por se encontrar em dificuldades financeiras. No final da petição, formula o seguinte requerimento 
genérico: protesta provar o alegado por meio das testemunhas Pedro (sócio) e Antônio (vizinho), em 
audiência a ser designada por Vossa Excelência. 
Nesta segunda hipótese, o juiz deverá decretar a prisão do devedor. Isso porque não foi apresentada 
justificativa dentro do prazo de 3 dias previsto na legislação. 
O prazo de 3 dias de que dispõe o devedor é peremptório (que não pode ser alongado), porque o 
exequente está, em tese, em risco, já que se encontra privado dos alimentos de que necessita para viver. 
 
Dificuldade de ordem prática 
Para fins de concurso, é importante que você aprenda o que decidiu o STJ. No entanto, com essa exigência 
do STJ de que a prova testemunhal seja realizada no prazo de 3 dias a contar da intimação do executado, é 
praticamente impossível que isso ocorra na prática. 
Salvo em pequenas comarcas do interior, não se mostra possível a designação e realização de uma 
audiência de instrução em um prazo tão curto. 
 
Vale a pena ler a ementa oficial do julgado: 
(...) 1. O exíguo prazo de três dias concedido ao alimentante para pagar ou justificar o não-pagamento de 
pensões alimentícias em atraso, tem como objetivo primário garantir a sobrevida do alimentado , pois o 
atraso nos alimentos pode leva-lo à carência crônica dos mais básicos meios de subsistência. 
2. Nessa senda, não se verifica , a priori, nenhuma impossibilidade de a escusa ao pagamento ser 
realizada por meio de oitiva de testemunhas, prova perfeitamente aceitável, mesmo na excepcional 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
execução do art. 733 do CPC/73. 
3. No entanto, O tríduo é peremptório, porque o risco alimentar do executado é premente, devendo a 
justificativa ser produzida neste intervalo e, nessa linha, o mero protesto pela produção de prova 
testemunhal não pode ser aceito, poquanto fatalmente se estenderá além da janela temporal de 
justificativa permitida na legislação. (...) 
STJ. 3ª Turma. REsp 1601338/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, 
julgado em 13/12/2016. 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
ACESSIBILIDADE 
Logo depois de ter sido publicada a Lei 10.098/2000, as empresas de transporte coletivo já 
tinham o dever de adaptar seus veículos para pessoas com deficiência 
 
A Lei nº 10.048/2000 determinou que os proprietários de veículos de transporte coletivo 
teriam o prazo cento e oitenta dias, a contar da regulamentação da Lei, para proceder às 
adaptações necessárias ao acesso facilitado das pessoas portadoras de deficiência. 
A regulamentação da Lei nº 10.048/2000 só foi feita em 2004, com a edição do Decreto nº 
5.296/2004. 
As empresas alegavam, portanto, que o seu dever de adaptar os ônibus só começou a ser 
contado após o Decreto nº 5.296/2004. 
O STJ, contudo, não concordou. Isso porque a Lei nº 10.098/2000 trouxe nova regra posterior 
estipulando o dever das empresas de adaptarem os ônibus sem condicionar essa obrigação ao 
regulamento. Essa nova regra posterior é a Lei nº 10.098/2000, que previu o seguinte: "Art. 16. 
Os veículos de transporte coletivo deverão cumprir os requisitos de acessibilidade 
estabelecidos nas normas técnicas específicas." 
Muito antes do Decreto nº 5.296/2004 existiam diversas normas regulamentares sobre a 
acessibilidade dos transportes coletivos. 
Desse modo, logo depois de ter sido publicada a Lei nº 10.098/2000, as empresas de 
transporte coletivo já tinham o dever de adaptar seus veículos considerando que isso foi 
previsto no art. 16 e, nesta época, existiam normas técnicas específicas que diziam como 
deveria ser feita essa acessibilidade. 
Em suma, o STJ decidiu que: o dever de adaptar os veículos de transporte coletivo para pessoas 
com deficiência foi suficientemente disciplinado pela Lei nº 10.098/2000, de modo que, a 
partir da edição da Lei nº 10.098/2000, as empresas de transporte já deveriam cumprir essa 
determinação, sendo desnecessário esperar a regulamentação da Lei nº 10.048/2000 (o que 
só ocorreu com o Decreto nº 5.296/2004). 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.292.875-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/12/2016 (Info 599). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 2002, o Ministério Público estadual ajuizou ação civil pública contra as empresas concessionárias de 
ônibus pedindo que elas fossem condenadas a adaptar os veículos de transporte coletivo para que 
pudessem ser utilizados sem dificuldades por pessoas com deficiência física. Ex: instalação de rampas, 
elevadores para entrada nos ônibus etc. 
 
Contestação 
Ainda no ano de 2002, as empresas de transporte coletivo contestaram a demanda afirmando que o 
assunto é regulamentado pela Lei nº 10.048/2000 e que este diploma legal concede o prazo de 180 dias 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
para que as empresas façam a adaptação dos veículos. No entanto, segundo argumentaram as rés, este 
prazo ainda não começou a correr porque só deve ser contado a partir da regulamentação da Lei (edição 
de um decreto detalhando a lei). Essa é a redação do § 2º do art. 5º da Lei nº 10.048/2000: 
Art. 5º (...) 
§ 2º Os proprietários de veículos de transporte coletivo em utilização terão o prazo de cento e oitenta 
dias, a contar da regulamentação desta Lei, para proceder às adaptações necessárias ao acesso facilitado 
das pessoas portadoras de deficiência. 
 
Em outras palavras, as empresas de ônibus disseram: enquanto não houver a regulamentação da Lei nº 
10.048/2000 nós não estamos obrigadas a adaptar veículos de transporte coletivo para pessoas com 
deficiência. 
Obs: a regulamentação da Lei nº 10.048/2000 só foi feita em 2004, com a edição do Decreto nº 5.296/2004. 
 
A tese das empresas de ônibusfoi aceita pelo STJ? 
NÃO. Mesmo antes da regulamentação da Lei nº 10.048/2000, o que só foi feito pelo Decreto nº 
5.296/2004, as empresas de ônibus já possuíam o dever de adaptar os veículos de transporte coletivo para 
pessoas com deficiência. 
 
Por quê? 
Porque o prazo previsto nesse § 2º do art. 5º da Lei nº 10.048/2000 "perdeu a razão de ser" (deixou de ter 
aplicação), considerando que o legislador editou nova regra posterior estipulando o dever das empresas 
de adaptarem os ônibus sem condicionar essa obrigação ao regulamento. Essa nova regra posterior é a Lei 
nº 10.098/2000, que previu o seguinte: 
Art. 16. Os veículos de transporte coletivo deverão cumprir os requisitos de acessibilidade estabelecidos 
nas normas técnicas específicas. 
 
Assim, embora a Lei nº 10.048/2000 tenha fixado prazo de 180 dias a contar de sua regulamentação, que 
se deu com a edição do Decreto nº 5.296/2004, o fato é que o citado prazo foi modificado com a edição da 
Lei nº 10.098/2000. 
Com efeito, com o advento da Lei nº 10.098/2000, a regulamentação exigida pela Lei nº 10.048/2000 deixou de 
ser necessária, pois a aludida Lei nº 10.098/2000 remeteu tal providência para as normas técnicas. 
 
O que são essas normas técnicas? Elas já existiam antes do Decreto nº 5.296/2004 ser publicado? 
SIM. Essas "normas técnicas" são editadas por órgãos técnicos com base em padrões científicos. 
Muito antes do Decreto nº 5.296/2004 existiam diversas normas regulamentares sobre a acessibilidade 
dos transportes coletivos editadas pela ABNT. Especificamente acerca do transporte rodoviário, existia a 
NBR 14022/1997, posteriormente substituída da pela Portaria 260/2007 do INMETRO. 
Em suma, logo depois de ter sido publicada a Lei nº 10.098/2000 as empresas de transporte coletivo já 
tinham o dever de adaptar seus veículos considerando que isso foi previsto no art. 16 e nesta época 
existiam normas técnicas específicas que diziam como deveria ser feita essa acessibilidade. 
Portanto, desde a edição da Lei nº 10.098/2000, a adaptação dos veículos de transporte coletivo foi 
suficientemente regulamentada, de forma que, a partir do momento em que esta Lei entrou em vigor, as 
empresas passaram a ter o dever de promoverem tal adaptação. 
 
Em suma, o STJ decidiu que: 
O dever de adaptar os veículos de transporte coletivo para pessoas com deficiência foi suficientemente 
disciplinado pela Lei nº 10.098/2000, de modo que, a partir da edição da Lei nº 10.098/2000, as 
empresas de transporte já deveriam cumprir essa determinação, sendo desnecessário esperar a 
regulamentação da Lei nº 10.048/2000 (o que só ocorreu com o Decreto nº 5.296/2004). 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.292.875-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/12/2016 (Info 599). 
 
 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
PLANO DE SAÚDE 
Ex-empregado demitido sem justa causa tem direito de permanecer vinculado ao plano de 
saúde em que se encontrava antes da demissão com as mesmas condições de valor 
 
É indevido cobrar reajuste de ex-empregado demitido sem justa causa que opta por 
permanecer vinculado ao plano de saúde em que se encontrava antes da demissão, na 
condição de beneficiário, pelo prazo que lhe assegura o art. 30, § 1º, da Lei nº 9.656/98, nas 
mesmas condições de cobertura assistencial e mediante o pagamento integral das 
mensalidades, só lhe podendo ser atribuído algum aumento que também tenha sido 
estipulado aos empregados em atividade. 
Em 2011, a ANS editou a Resolução ANS 279/2011, prevendo que "a manutenção da condição 
de beneficiário no mesmo plano privado de assistência à saúde em que se encontrava quando 
da demissão ou exoneração sem justa causa ou aposentadoria observará as mesmas condições 
de reajuste, preço, faixa etária e fator moderador existentes durante a vigência do contrato de 
trabalho" (art. 16). 
Vale ressaltar, no entanto, que, mesmo antes da Resolução ANS 279/2011, os empregados 
demitidos sem justa causa já possuíam esse direito de permanecerem pagando o mesmo valor. 
Isso porque esse direito decorre diretamente do art. 30 da Lei nº 9.656/98 (e não da 
Resolução, que só veio confirmar essa conclusão). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.539.815-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 7/2/2017 (Info 599). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João era empregado de um banco e possuía plano de saúde oferecido aos funcionários da instituição. 
O custeio do plano era mantido da seguinte forma: o empregador arcava todos os meses com R$ 100,00 e 
o empregado pagava outros R$ 100,00. 
No ano de 2010, João foi demitido sem justa causa e deseja continuar no plano de saúde com as mesmas 
condições de cobertura assistencial que gozava. Para tanto, ele se compromete a pagar mensalmente R$ 
200,00 (sua parte e a do antigo empregador). Ele possui esse direito? 
SIM. Tal possibilidade encontra-se prevista na Lei nº 9.656/98 (que trata sobre os planos de saúde): 
Art. 30. Ao consumidor que contribuir para produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, 
em decorrência de vínculo empregatício, no caso de rescisão ou exoneração do contrato de trabalho sem 
justa causa, é assegurado o direito de manter sua condição de beneficiário, nas mesmas condições de 
cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu 
pagamento integral. 
 
Repare que, para o trabalhador continuar tendo direito, deverão ser atendidas três exigências: 
a) durante o vínculo empregatício, ele contribuía para o pagamento do plano; 
b) ele foi demitido sem justa causa; 
c) ele se compromete a assumir o pagamento integral das parcelas. 
 
O trabalhador terá direito de continuar com o plano de saúde por um tempo máximo de 24 meses, 
conforme prevê o § 1º do art. 30 da Lei nº 9.656/98. 
Se, antes de completar os 24 meses, o consumidor for admitido em um novo emprego, também perderá o 
direito de continuar com as mesmas condições no plano de saúde (§ 5º do art. 30). 
 
Voltando ao exemplo: 
O plano de saúde respondeu a João que ele poderia continuar no plano de saúde, sem carência e com a 
mesma rede credenciada. No entanto, agora o valor da mensalidade seria reajustado e passaria a ser de 
R$ 300,00. A operadora explicou que o preço menor (R$ 200,00) somente vale para os empregados da 
empresa porque o volume de clientes é muito grande, permitindo esse "desconto". 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
 
Agiu corretamente o plano de saúde? 
NÃO. 
É indevido cobrar reajuste de ex-empregado demitido sem justa causa que opta por permanecer 
vinculado ao plano de saúde em que se encontrava antes da demissão, na condição de beneficiário, pelo 
prazo que lhe assegura o art. 30, § 1º, da Lei nº 9.656/98, nas mesmas condições de cobertura 
assistencial e mediante o pagamento integral das mensalidades, só lhe podendo ser atribuído algum 
aumento que também tenha sido estipulado aos empregados em atividade. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.539.815-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 7/2/2017 (Info 599). 
 
Assim, em nosso exemplo, como o valor da mensalidade referente aos empregados em atividade é de R$ 
200,00, essa mesma quantia deverá ser cobrada do ex-empregado, que está no direito de permanecer no 
plano pelo período a que se refere o art. 30, § 1º da Lei nº 9.656/98. 
 
Resolução ANS 279/2011 
Em 2011, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) editou a Resolução ANS 279/2011, prevendo 
que "a manutenção da condição de beneficiário no mesmo plano privado de assistência à saúde em que se 
encontrava quando da demissão ou exoneração sem justa causa ou aposentadoria observará as mesmas 
condições de reajuste, preço, faixa etária e fator moderador existentes durante a vigência do contrato de 
trabalho" (art. 16). 
 
Essa Resolução somente foi editada em 2011. Diante disso, algumasoperadoras de saúde argumentaram 
que isso prova que, antes de 2011, era permitido que os planos de saúde reajustassem os preços das 
mensalidades no caso de ex-empregados. Em outras palavras, as operadoras afirmaram o seguinte: 
somente com a Resolução ANS 279/2011 foi que passou a ser obrigatório que os planos de saúde 
mantivessem o mesmo valor das mensalidades para os ex-empregados. Essa tese foi acolhida pelo STJ? 
NÃO. 
Mesmo antes da Resolução ANS 279/2011, os empregados demitidos sem justa causa já possuíam esse 
direito de permanecerem pagando o mesmo valor. Isso porque esse direito decorre diretamente do art. 30 
da Lei nº 9.656/98 (e não da Resolução). 
A resolução é um ato normativo subordinado à lei, que não pode restringir, ampliar ou modificar direitos 
e obrigações por ela previstos. Logo, o art. 16 da Resolução nº 279/2011 não inovou na ordem jurídica 
(não trouxe um direito novo) ao prever que a manutenção do ex-empregado, demitido sem justa causa, na 
condição de beneficiário no mesmo plano privado de assistência à saúde em que se encontrava, observará 
"as mesmas condições de reajuste, preço, faixa etária e fator moderador existentes durante a vigência 
do contrato de trabalho". Isso porque essa conclusão já era possível de ser extraída, antes mesmo de sua 
edição, como decorrência da interpretação do art. 30 da Lei nº 9.656/98. 
Assim, a Resolução veio apenas para corroborar (reforçar) aquilo que já se podia depreender da Lei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
DIREITO EMPRESARIAL 
 
PROPRIEDADE INDUSTRIAL 
Possibilidade de o INPI analisar as cláusulas dos contratos de 
transferência de tecnologia que são submetidos a seu registro 
 
Apenas concursos federais! 
Os contratos que impliquem transferência de tecnologia, para produzirem efeitos em relação a 
terceiros, precisam ser registrados e/ou averbados no INPI (art. 211 da Lei nº 9.279/96). 
O INPI, ao examinar os contratos que lhe são submetidos para averbação ou registro, pode e 
avaliar as cláusulas contratuais exigindo a alteração daquelas que forem abusivas ou ilegais? 
SIM. O art. 211 da Lei nº 9.279/96 em conjunto com o art. 2º da Lei nº 5.648/70 (com redação 
dada pelo art. 240 da Lei nº 9.279/96) permitem que o INPI analise as cláusulas dos contratos 
de transferência de tecnologia que lhe são submetidos para registro, podendo reprimir 
cláusulas abusivas e/ou ilegais. 
O INPI pode intervir no âmbito negocial de transferência de tecnologia, diante de sua missão 
constitucional e infraconstitucional de regulamentação das atividades atinentes à propriedade 
industrial. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.200.528-RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 16/2/2017 (Info 599). 
 
INPI 
O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da 
Indústria, Comércio Exterior e Serviços, sendo responsável, no Brasil, pela concessão e garantia dos 
direitos de propriedade intelectual para a indústria. 
 
Contratos de transferência de tecnologia 
Contratos de transferência de tecnologia é um gênero no qual podemos identificar cinco espécies de ajuste: 
1) Contrato de Licença de Uso de Marca (UM): tem por objeto a transferência do uso de uma marca; 
2) Contrato de Licença de Exploração de Patentes (EP): objetiva permitir o licenciamento de uma patente; 
3) Contrato de Licença de Exploração de Desenho Industrial (EDI): autoriza o uso efetivo de um desenho 
industrial por terceiro que não é o seu titular; 
4) Contrato de Fornecimento de Tecnologia (FT): ajuste por meio do qual determinada pessoa adquire de 
outra conhecimentos e técnicas (Know How); 
5) Prestação de Serviços de Assistência Técnica e Científica (SAT): contrato para obtenção de técnicas para 
elaborar projetos ou estudos e a prestação de serviços especializados; 
 
Qual é o papel do INPI nos contratos de transferência de tecnologia? 
A legislação, preocupada com a segurança jurídica desses contratos, determinou que eles devem ser 
averbados e/ou registrados no INPI. Veja o que diz a Lei nº 9.279/96: 
Art. 211. O INPI fará o registro dos contratos que impliquem transferência de tecnologia, contratos de 
franquia e similares para produzirem efeitos em relação a terceiros. 
Parágrafo único. A decisão relativa aos pedidos de registro de contratos de que trata este artigo será 
proferida no prazo de 30 (trinta) dias, contados da data do pedido de registro. 
 
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação adaptada: 
As empresas Unilever Brasil Ltda. e Unilever Bestfoods Ltda. celebraram entre si contrato oneroso de 
transferência de tecnologia. 
O ajuste previa que a empresa beneficiária com a transferência da tecnologia deveria remunerar a 
 
Informativo 599-STJ (11/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
empresa cedente com o pagamento de royalties no valor de 3% sobre as vendas líquidas dos produtos 
objeto dos contratos, valores que seriam remetidos para o exterior. 
Importante ressaltar que as empresas contratantes possuem relação societária entre si, pertencendo ao 
mesmo grupo empresarial, sendo uma controladora e a outra controlada. 
As empresas levaram, então, o contrato para ser averbado junto ao INPI. 
Ocorre que a autarquia, ao averbar o ajuste, alterou unilateralmente algumas cláusulas, determinando 
que o contrato passasse de oneroso para gratuito. O argumento do INPI foi o de que esse pagamento 
violaria os limites impostos pelo Ministério da Fazenda, que restringe a remessa de valores entre empresa 
subsidiária localizada no Brasil e a sua matriz no exterior. Em palavras mais simples, a legislação proibiria a 
transferência desses recursos para o exterior na forma como pretendida pelas contratantes. 
As duas empresas impetraram, então, mandado de segurança alegando que o INPI teria extrapolado seu 
papel institucional, atuando com evidente abuso de poder, e que a autarquia, ao proibir que o contrato 
fosse remunerado, acabou por inviabilizar a relação de transferência de tecnologia. 
 
A questão chegou até o STJ. O INPI poderia ter agido dessa maneira? 
SIM. 
O INPI pode intervir no âmbito negocial de transferência de tecnologia, diante de sua missão 
constitucional e infraconstitucional de regulamentação das atividades atinentes à propriedade industrial. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.200.528-RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 16/2/2017 (Info 599). 
 
O INPI, ao examinar os contratos que lhe são submetidos para averbação ou registro, pode e deve avaliar 
as condições e cláusulas de tais ajustes em virtude da missão que lhe foi confiada por sua lei de criação, a 
Lei nº 5.648/70, cujo art. 2º preconiza: 
Art. 2º O INPI tem por finalidade principal executar, no âmbito nacional, as normas que regulam a 
propriedade industrial, tendo em vista a sua função social, econômica, jurídica e técnica, bem como 
pronunciar-se quanto à conveniência de assinatura, ratificação e denúncia de convenções, tratados, 
convênios e acordos sobre propriedade industrial. (Redação dada pelo art. 240 da Lei nº 9.279/96) 
 
Não se pode conceder interpretação restritiva a esse dispositivo, devendo-se considerar que o INPI possui 
competência para realizar o exame e alteração das cláusulas contratuais por força da teoria dos poderes 
implícitos. Ora, ao se outorgar ao INPI a competência para fazer o registro dos contratos, deve-se 
assegurar a ele todos os instrumentos necessários para a perfeita realização dessa tarefa. 
 
Desse modo, o art. 211 da Lei nº 9.279/96, em conjunto com o art. 2º da Lei nº 5.648/70 (com redação 
dada pelo art. 240 da Lei nº 9.279/96), permitem que o INPI analise as cláusulas dos contratos de 
transferência de tecnologia que lhe são submetidos para registro, podendo reprimir cláusulas abusivas 
e/ou ilegais. 
 
Vale ressaltar que é a averbação ou o registro no

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