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Psicologia da Educação

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INSTITUTO TOCANTINENSE DE EDUCAÇÃO 
SUPERIOR E PESQUISA LTDA– FACULDADE ITOP 
“Construindo competências que agregam valor profissional” 
 
 
 
 
 
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DOCÊNCIA 
DO ENSINO SUPERIOR 
 
 
 
MÓDULO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO 
 
Prof. Esp. Leny M. C. M. Carrasco 
 
 
FORMAÇÃO: 
 
•
•
 Especialista em Psicologia Escolar e Educacional -CFP 
 
ATUAÇÃO: 
•
 Ensino Superior e Pós-graduação
•
 Psicóloga na Secretaria Municipal de Educação de Palmas - TO 
 
 
 
 
 
 
PALMAS-TO 
Graduada em Psicologia - UEL
Especialista em Docência Superior - UGF
Mestranda em Ciências do Ambiente - UFT
•
•
Elaboração do Material Didático: Prof. Ms. Adriano Massanera
 
PLANO DE AULA 
 
 
EMENTA: Fundamentos da Teoria Psicanalítica. As teorias topográfica e estrutural. O sistema ICS. 
Personalidade e sua dinâmica. O desenvolvimento do ego. As fases de desenvolvimento sexual. Os 
mecanismos de defesa. Os sonhos. Transtornos neuróticos e sua influência na educação. O aluno 
neurótico. O professor neurótico. 
 
OBJETIVO GERAL: Apreender sobre a dinâmica da realidade escolar, elegendo necessidades para a 
ação pedagógica numa perspectiva da teoria da psicanálise. 
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 
• Compreender os fundamentos da psicanálise através das necessidades históricas de uma época o 
aprender a aprender; 
• Reconhecer na psicologia social crítica uma possibilidade de mudança; 
• Desenvolver capacidade crítica de analisar o conceito de personalidade; 
• Analisar aspectos psicológicos da pessoa neurótica, pervertida e psicótica; 
• Proporcionar uma reflexão crítica sobre as relações sociais de produção do modo do sistema 
capitalista. 
 
JUSTIFICATIVA: A psicanálise está se constituindo em um conhecimento novo. Ela não pode fazer o 
papel de educação e não pode ser considerada salvação para todos os problemas educacionais e sim pode 
auxiliar no maior conhecimento do funcionamento mental e inconsciente dos sujeitos envolvidos nesse 
processo escolar. 
 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: 
 
TEXTOS: 
Texto 01 – Psicologia social crítica na perspectiva de Silvia LANE
 
Texto 02 – Como nos tornamos sociais? 
 
Texto 03 – Identidade social 
 
Texto 04 – Escola “inclusiva” e questão social
 
Texto 05 – 1. A CRIANÇA DA ESCOLA PÚBLICA: DEFICIENTE, DIFERENTE OU MAL, 
TRABALHADA?1 Maria Helena Souza Patto; 
 
Texto 06 – A PSICOLOGIA RESOLVE MISÉRIA ABSOLUTA? Débora Araújo Fernandes1, 
Adriano Rodrigues Mansanera2; 
 
Texto 07 – FREUD E A PSICANÁLISE http://www.centrorefeducacional.com.br/freudpsi.htm; 
 
 
 
 
Texto 08 – O que são Neuroses? - Ballone GJ; 
 
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: As aulas expositivas serão desenvolvidas buscando a 
articulação das atividades teóricas com as atividades práticas que serão desenvolvidas no ambiente de sala 
de aula. 
 
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: 
A avaliação consistirá em uma prova objetiva, realizada em grupo e com consulta ao material didático.
 
BIBLIOGRAFIA: 
 
AGUIAR, Maria Aparecida Ferreira de. Psicologia aplicada à administração: uma abordagem 
interdisciplinar. São Paulo: Saraiva, 2005. 
 
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair.; TEIXEIRA, Maria de Lourdes T. Psicologias: uma 
introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999. 
 
BOCK, Ana Mercês Bahia (Org.) Psicologia e o compromisso social. São Paulo: Cortez, 2003. 
 
BOCK, Ana Mercês Bahia FURTADO, Odair; GONÇALVES, M. G.M. (Orgs.) Psicologia sócio-
histórica: uma perspectiva crítica em psicologia. São Paulo: Cortez, 2001. 
 
BOCK, Ana Mercês Bahia. A perspectiva sócio-histórica de Leontiev e a crítica à naturalização da 
formação do ser humano: a adolescência em questão. In: Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 26-43, 
abril 2004. 
 
BOTTOMORE, Tom eta al (Orgs.) Dicionário marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 
 
FREIRE, Paulo; HORTON, Myles. O caminho se faz caminhando: conversas sobre educação e 
mudança social. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. 
 
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. 
 
GUARESCHI, Neuza Maria de F.; BRUSCHI, Michel Euclides. (Orgs.) Psicologia social nos estudos 
culturais: perspectivas e desafios para a psicologia social. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. 
 
LANE, Silvia. O processo grupal. In: LANE, S.; CODO, W.; (Orgs.) Psicologia Social: o homem em 
movimento. São Paulo: Brasiliense, 1984. p.78-98 
 
LANE, Silvia. CODO, Wanderly.; (Orgs.) Psicologia Social: o homem em movimento. São Paulo: 
Brasiliense, 1984. 
A prova terá o valor de 0 a 10.
 
 
MACKINNON & MICHELES. A entrevista psiquiátrica: uma prática diária. 
Porto Alegre, Artes Médicas, 1981. 
 
MANSANERA, Adriano R.; MANSANERA, Cristiane de Quadros. Educação e Políticas de Inclusão. In: 
Cadernos de Conteúdos e Atividades do Curso de Normal Superior. Palmas, TO: UNITINS, 2007. 
 
OMOTE, Sadao (Org.) Inclusão: integração e realidade. Marilia: Fundepe, 2004. 
 
ORSO, José Paulino. As possibilidades e os limites da educação. In: ORSO, Paulino José; LERNER, 
Fidel; BARSOTTI, Paulo (Orgs.) A comuna de Paris de 1871. São Paulo: Ícone, 2002. 
 
PATTO, Maria Helena S. Psicologia e ideologia: uma introdução critica à psicologia escolar. São Paulo: 
Queiroz, 1984. 
 
TAMAMACHI, E. ; ROCHA, M. & PROENÇA, M. (Orgs) Psicologia e educação: desafios teóricos-
práticos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000. 
 
ZIRMERMAN, David E; OSORIO, Luiz Carlos (Orgs.). Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: 
Artes Médicas, 1997. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEXTO 01 - PSICOLOGIA SOCIAL CRÍTICA NA PERSPECTIVA DE SILVIA LANE - 
 
Introdução 
Silvia Lane (1933-2006), uma das precursoras do surgimento da Psicologia 
Social Crítica na America Latina, formou-se em Filosofia e Psicologia. Pode ser considera 
uma das mentoras brasileiras de uma proposta teórica de uma Psicologia Social Crítica. 
Influenciada pelo método materialista histórico de Karl Marx, foi professora e 
pesquisadora de Psicologia Social da PUC-SP, e fundadora da ABRAPSO (Associação 
Brasileira de Psicologia Social), em 1981, sendo a sua primeira presidente. 
 
Psicologia para preparar o ser humano para mudança da sociedade 
 
Silvia Lane buscava, por meio da Psicologia Social Crítica preparar o ser 
humano para as mudanças da sociedade. Acreditava no poder transformador da 
consciência, ou seja, em uma consciência crítica. Não foi fácil ser uma das fundadoras da 
Psicologia Social Crítica no Brasil, porque o país estava em um período de ditadura 
militar. 
“Se Psicologia é a ciência que estuda o comportamento humano, então pela 
lógica poderíamos dizer que a Psicologia Social deveria estudar o comportamento social. 
Porém, surge uma questão polêmica: quando o comportamento se torna social?” (LANE, 
1985, p.7) 0 ser humano ao nascer já se torna candidato a humanidade, faz parte de um 
coletivo de pessoas que lhe proporcionam os aspectos culturais de seu contexto 
histórico. Tais aspectos constituem o objetivo da Psicologia Social, estudar os 
comportamentos influenciados por uma dimensão social. 
Para Lane (1985), essa influência histórico-social no comportamento dos 
indivíduos começa a se destacar, a partir da aquisição da linguagem. É no convívio com 
os outros seres humanos que se vai definir as regras, os valores, os hábitos de 
determinado grupo social. Ou seja, “a Psicologia Social estuda a relação essencial entre 
o indivíduo e a sociedade, esta entendida historicamente” (LANE, 1985, p.10). 
 
E a grande preocupação atual da Psicologia Social é conhecer 
como o homem se insere neste processo histórico, não apenas 
em como ele édeterminado, mas principalmente, como ele se 
torna agente da história, ou seja, como ele pode transformar a 
sociedade em que vive. (LANE, 1985, p.10) 
 
Para o entendimento do homem nesse processo histórico, Silvia Lane utiliza do 
método materialista histórico e dialético, que tem em Karl Marx o seu criador. Esse 
método caracteriza-se: 
A) – primeiramente, por ter uma concepção materialista da realidade social, ou 
seja, o concreto prevalece sobre as idéias; não são as idéias que mudam o mundo, mas 
a realidade concreta da forma de vida que cada sujeito humano esta vivendo; 
B) – em segundo Marx, por ter na contradição o ponto inicial de todos os fatos e 
argumentos; trata-se de uma contradição ou de uma dialética com possibilidade de 
superação, para a transformação da realidade social alienada; 
C) – finalmente, por ter um movimento histórico de transformação. As mudanças, 
no entanto, não acontecem de uma hora para a outra. 
 
 
Silvia Tatiana Maurer Lane, e morreu aos 73 
anos, PUC- SP onde lecionava desde 1965. Foi 
uma das fundadoras do Pós-graduação em 
Psicologia Social, onde, ao lado de outros 
professores, pôde semear um novo modo de ver 
a área: “questionamos toda a matéria tradicional, 
que tinha uma visão norte-americana, e 
começamos uma linha de pesquisa baseada no 
materialismo dialético. Num primeiro momento, 
demolir tudo aquilo e construir algo novo, aos 
poucos, foi complicado. Hoje, porém, o Ministério 
da Educação reconhece o nível excelente de 
nosso programa”, contou, em uma entrevista ao 
Jornal da PUC, em 2002. Silvia foi também vice-
reitora acadêmica da PUC-SP durante três anos 
e meio, na gestão do reitor Luiz Eduardo 
Wanderley de (1984 a 1988). 
Fonte: acipuc@pucsp.br | www.pucsp.br 
Biografia de Silvia Lane 
1933 – Nasce na capital paulista em 3 de fevereiro. 
1952 – Ingressa na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo 
(USP). 
1965 – É contratada como docente na PUC de São Paulo. 
1972 – Cria o programa de pós-graduação em Psicologia Social, na PUC de 
São Paulo. 
1980 – Participa da fundação da Associação Brasileira de Psicologia Social, da 
qual foi a primeira presidente. 
1984 – É convidada por Serge Moscovici para fazer palestras na École Des 
Hautes Études Em Sciences Sociales, em Paris. 
2001 – Recebe prêmio da Sociedade Interamericana de Psicologia pela 
contribuição ao desenvolvimento da psicologia latino-americana. 
2006 – Morre em São Paulo, em 30 de abril. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEXTO – 02 - IDENTIDADE SOCIAL 
Introdução 
 
Em geral, a identidade social é o que nos caracteriza como pessoa; é a nossa 
resposta quando alguém nos pergunta: “quem é você?”. 
O homem é um ser social que constrói a si mesmo pela mediação com outras 
pessoas. A Psicologia Social Crítica não concebe o homem como sendo meramente 
natural, mas principalmente como um ser sócio-histórico. Somente mediante esse 
processo de construção de um sujeito humano ativo e interativo, é que vamos ter o 
desenvolvimento de uma identidade militante. A definição de identidade varia em funções 
dos autores que dela se ocupam. Para Bock et alii (1999, p.145), identidade é 
 
é a denominação dada às representações e sentimentos que o 
indivíduo desenvolve a respeito de si próprio, a partir do conjunto 
de suas vivências. A identidade é síntese pessoal sobre si-
mesmo, incluindo dados pessoais (cor, sexo, idade), biografia 
(trajetória pessoal), atributos, que os outros lhe conferem, 
permitindo uma representação a respeito de si (p.145) 
 
Para Brandão apud Bock et alii (1999, p.203), a identidade “explica o sentimento 
pessoal e a consciência da posse de um eu, de uma realidade individual que torna cada 
um de nós um sujeito único diante de outros eus” (p.203) 
 
Você é autor ou personagem de sua história de vida? 
 
A questão da identidade social é explorada cotidianamente nas novelas e filmes 
que você assiste na TV ou no cinema. Os personagens do pai do filho(a), a do marido, da 
esposa não agirem de acordo com a identidade social construída para esses papéis, as 
pessoas estranham. A identidade social do outro vai refletir na minha. Para se ter a 
identidade social do bom marido, tem que estar casado com a boa esposa. 
Até que ponto você é personagem, ou autor de sua história de vida? Se é 
personagem quem é o autor? Lane et alii (1984, p.60) afirma que 
 
Todos nós – eu, você, as pessoas com quem convivemos – 
somos personagens de uma história que nós mesmos criamos, 
fazendo-nos autores e personagens ao mesmo tempo. Com esta 
afirmação já antecipamos o que se poderia dizer caso 
consideremos o autor que cria nossa personagem; o autor 
mesmo é personagem da história. Na verdade, assim, 
poderíamos afirmar que há uma autoria coletiva da história; 
aquele que costumamos designar como ‘autor’ seria dessa forma 
um ‘narrador’, um ‘contador’ de historia. (p.60) 
 
Uma identidade social depende de outra e vice-versa, o marido depende da 
esposa, o filho(a) da existência do pai ou da mãe, a do professor do seu aluno, nos 
construímos outras identidades sociais com a vivência de nossas relações, do solteiro, do 
namorado, do casado, do separado, do pai ou mãe, do avô ou avó etc... 
As identidades sociais além dessas que já passamos ou vamos passar algum dia, 
temos outras identidades de conotações negativas. Um bandido que comente um crime, 
 
 
 
ou desempregado que se torna alcoólatra ou criminoso então sua identidade social passa 
a de ser a de um criminoso. Lane et alii (1984, p.61) diz que 
 
Nós nós tornarmos algo que já éramos e estava como que 
‘embuido’ dentro de nós? Parece que quando se trata de algo 
positivamente valorizado, a tendência nossa é afirmar que estava 
‘embuido’ em nós [...] quando não desejáveis frequentemente 
estava ‘embuido’ nos outros” 
 
Segundo Lane (1985), a identidade social que temos representa um conjunto de 
papéis sociais que desempenhamos na nossa vida cotidiana. E esses papéis na sua 
maioria atendem a manutenção das relações sociais que os outros esperam da gente 
boa filha, bom filho, boa esposa, bom marido, bom funcionário. Para que você seja 
considerado um bom professor ou profissional na sua área, será esperado que você 
tenha no mínimo alguns saberes específicos da sua área de atuação. Mas se você não 
recebeu ou não se preocupou em aprender o que estava sendo ensinado? Poderíamos 
dizer, então, que não teríamos um bom profissional, você teria que estudar mais. 
No papel de aluno fazendo o curso, existem algumas regras ou comportamentos 
esperados estudar, se dedicar mais, tirar as dúvidas se não está entendendo etc. De uma 
pessoa no papel social de professor(a), também é esperado o mínimo de conhecimento 
e vontade de dar aula, ou seja, um compromisso pedagógico de transformação. Mas ao 
sair da universidade com seu diploma em mãos, você começa a perceber que não 
consegue atuar na área em que se formou as vezes, não é por questões de falta de 
emprego ou economia, mas por não ter conhecimento para trabalhar na sua área. 
Para Lane (1985, p.23) você não teve a consciência de si, enquanto sujeito 
construindo a sua história? Ou também que sua identidade o seus papéis sociais foram 
reproduzidos ao um nível ideológico, e que você foi alvo de “relações de dominação 
necessárias para a reprodução das condições materiais de vida e a manutenção da 
sociedade de classe onde uns poucos dominam e muitos são dominados”. 
As coisas não estão perdidas e você não gastou tempo e dinheiro sem 
necessidade, desde que você tenha agora consciência de si, para alterar a sua 
identidade social atual de profissional mal formado. Você deve questionar quais foram os 
determinantes sociais que não possibilitaram uma formação razoável, poderia dizer que 
tinha que cuidar da família,tinha que trabalhar para suprir suas necessidades básicas. 
Tudo bem, entendo, mas e daí? Quando você vai tomar consciência de si 
enquanto sujeito que modifica a sua história de vida, para alterar essas determinações de 
ter que trabalhar o dia todo, cuidar da família e achar que está aprendo alguma coisa por 
que um dia o mundo vai melhorar, o mundo é o nosso presente? 
 
 
Alienação e sociedade capitalista 
Postulamos, de acordo com as idéias de Lane (1981) Bock (1999, 2001, 2003, 
2004), que o sujeito humano, no seu processo de relações sociais, constrói a sua história, 
mas pode ser passivo (determinado) e ativo (determinante). Ao ser determinante nas 
suas atividades transformadoras, esse sujeito começa a tomar consciência de si e de que 
pertence a uma classe social. Mas essa consciência de classe deve ser um processo 
grupal em que várias pessoas reunidas começam a perceber que são alvos das mesmas 
 
determinações históricas que a tornam membros de um mesmo grupo muitas vezes 
explorados pela sociedade de que fazem parte (LANE et alii, 1984) 
 
Do entendimento de que o sujeito humano pertence a uma classe social, Andery 
apud Lane et alii (1984, p.42) formulam algumas hipóteses interessantes: “o que ocorre 
com um indivíduo consciente em um grupo alienado? Ou seja, as contradições sociais 
estão claras, mas ele é impedido, a nível grupal, de qualquer ação transformadora”. 
Temos então uma alienação que às vezes impossibilita as pessoas de transformarem sua 
própria vida e também seu ambiente social (bairro, cidade, país e planeta). 
Para Lane et alii (1984), não é fácil pensar a ação para mudança da situação de 
exclusão dos marginalizados, por que temos a não-ação agindo ao mesmo tempo 
também, perceba que até mesmo na possibilidade de mudança a contradição aparece, 
mas podemos superar as ideologias burguesas. Mas o que isso tem haver com 
Psicologia Social Crítica? Tem tudo haver, pois essa área pode ajudar você a ter 
conhecimentos sobre o indivíduo que não é somente individualizado, mas é concreto 
inserido em uma realidade histórico-social. Concluímos com algumas considerações 
metodológicas de uma pesquisa na perspectiva da Psicologia Social Crítica, no dizer de 
Lane et alii (1984) que o profissional pode utilizar: 
 
1) – as definições e conceitos apriorísticos são dispensáveis, 
quando não, restritos para atividade de pesquisar; 
2) – por outro lado, categorias que nos remetem aos vários níveis 
de análise que permitem chegar à materialidade do fato, ao 
concreto que está sob o empírico aparente; 
3) – a pesquisa como ‘práxis’ implica, necessariamente, 
intervenção e acumulação de conhecimento; 
4) – as lacunas no conhecimento são tão importantes quanto o 
conhecimento, se não mais, pois elas que permitirão aprofundar e 
rever as análises já realizadas (LANE, et alii, 1984, p.47). 
 
 
 
TEXTO - 05 - 
 
1. A CRIANÇA DA ESCOLA PÚBLICA: DEFICIENTE, DIFERENTE OU MAL, 
TRABALHADA?2 
 
Maria Helena Souza Patto 
 
1.1 Uma retrospectiva de como esse tema vem sendo estudado 
 
Se fizermos um levantamento retrospectivo de como esse tema foi pesquisado desde 
o advento, no século XIX, dos sistemas nacionais de ensino e a Psicologia como 
ciência, no decorrer do século XX, veremos que o estudo das dificuldades de 
aprendizagem sempre esteve atrelado a uma área da Psicologia: a Psicologia das 
Diferenças individuais ou Psicologia Diferencial. 
 
2
 (*) Texto extraído da palestra proferida por Maria Helena Souza Patto no Encontro do Ciclo 
básico - em 09/05/1985 - São Paulo. 
 
Essa área da Psicologia tenta explicar as diferenças de desempenho existentes entre 
os integrantes de um todo social em termos de diferenças individuais de 
 
personalidade, de rendimento intelectual, de habilidades perceptivo-motoras ou de 
acordo com diferenças grupais, culturais, étnicas.,etc. 
E nessa linha que a psicologia tradicionalmente tem tentado explicar, para os 
educadores, por que algumas crianças vão bem na escola e outras não, por que as 
crianças de uma determinada classe sociais têm melhor rendimento do que as de uma 
outra classe social. 
Em relação às crianças pertencentes às classes populares ou determinados 
segmentos dessas classes a Psicologia gerou, durante os últimos 25 anos, todo um 
corpo de conhecimentos que acabou identificado como a "teoria da carência cultural". 
Essa "teoria" começa a se delinear no final da década de 50 e no começo da década 
de 60, nos Estados Unidos, num momento em que as minorias raciais norte-
americanas começavam a denunciar que, num país que se dizia democrático e 
promotor da igualdade de oportunidades, essa igualdade, na verdade, não acontecia. 
Essas minorias sociais, especialmente negros e porto-riquenhos, começaram a cobrar 
da sociedade norte-americana não o direito de acesso à escola, que nessa época já 
lhes estava assegurado, mas o de permanência e de sucesso nela. As crianças 
pertencentes a essas minorias deixavam a escola muito precocemente e eram vítimas 
de repetências reiteradas. Nessa época, o governo norte-americano financiou uma 
série enorme de pesquisas que tentavam responder à seguinte questão: por que as 
crianças das minorias raciais - que na sociedade norte-americana são as crianças 
provenientes de famílias de nível-sócio-econômico mais baixo - não conseguem se 
escolarizar com sucesso? Por que são vítimas de tantas reprovações e acabam se 
evadindo da escola? Foi mobilizado, então um grande número de pedagogos, 
psicólogos, sociólogos, profissionais da área da saúde, etc., que responderam a essas 
perguntas de uma maneira que a muito viva entre nós e determine a maneira como 
pensamos o aluno das escolas de periferia e seu rendimento. Através de pesquisas 
realizadas sobretudo, no âmbito da vida familiar e valendo-se da aplicação de testes e 
de outros procedimentos de medida psicológica, concluiu-se que essas crianças iam 
mal na escola porque eram portadoras de inúmeras deficiências nas várias áreas do 
seu desenvolvimento bio-psicossocial. 
Nesse momento, portanto, a pesquisa educacional contribuiu para a veiculação de 
uma imagem negativa da criança de "classe baixa": ela seria portadora de inúmeras 
deficiências e problemas de desenvolvimento. Afirmava-se, nessa época, nos Estados 
Unidos, e pouco mais tarde no Brasil, que essas crianças viviam em ambientes 
familiares não favorecedores de um desenvolvimento psicológico saudável, adequado. 
É importante lembrar que nesse corpo de pesquisas - e muito coerentemente com a 
visão oficial de sociedade vigente num país como os Estados Unidos - afirmava-se 
que essas crianças eram deficientes porque suas famílias eram deficientes, porque 
seus ambientes familiares eram deficientes. Não se avançou muito na discussão de 
por que o ambiente familiar dessas crianças era precário, ou se era efetivamente 
precário. As dimensões econômicas, políticas, sociais e a dimensões da dominação 
cultural não apareciam criticamente nessa literatura. 
 
 
É importante ressaltar que esse foi um primeiro momento da explicação científica da 
questão das causas dos problemas de aprendizagem escolar encontravam-se na 
criança, porque ela era portadora de atraso no desenvolvimento psicomotor, 
perceptivo, lingüístico, cognitivo, emocional. Essas deficiências a levariam a não ter a 
prontidão necessária à alfabetização no momento de ingresso na escola. Levariam-na, 
também, a se sair mal nos testes de inteligência que acusavam, via de regra, um QI 
muito baixo. Planta-se, assim, no pensamento educacional dos Estados Unidos e de 
todos os países que importaram esses conhecimentos de uma maneira acrítica - entre 
eles o Brasil - a concepção de que estamos diante de carentes ou deficientes culturais. 
Essa visão ainda prevalece nas explicações do fracasso escolar de nossas crianças, 
tantoao nível de uma boa parcela da pesquisa, como ao nível da representação dos 
educadores sobre o fracasso escolar da criança pertencente às camadas mais 
exploradas das classes trabalhadoras. 
1.2 A criança da escola pública de 1° - Grau: defic iente ou diferente ? 
A teoria da carência cultural contribuiu para sacramentar cientificamente as crenças, 
os preconceitos e estereótipos presentes na ideologia a respeito das classes 
subalternas. É comum ouvirmos o professor dizer que o aluno é "fraquinho", que ele 
não tem prontidão e que não consegue aprender porque em casa não conversam com 
ele, porque o pai fala muito errado, porque ele é uma criança traumatizada por viver 
num ambiente familiar muito agressivo, porque não tem possibilidades de desenvolver 
suas habilidades motoras e perceptuais, porque vivem num ambiente pobre de 
oportunidades de manipulação e de discriminação perceptiva. 
Até que ponto tais afirmações referentes às crianças de camadas das classes 
populares não passam de afirmações de caráter ideológico e, portanto, mistificador, 
que justificam uma ordem social vigente com uma roupagem aparentemente 
científica? Até que ponto tais afirmações repetem e reforçam uma visão de mundo 
gerada pela classe social dominante e seus intelectuais e são impostas a sociedade 
inteira como se fossem verdades universais? 
Num segundo momento da produção científica nessa área, a preocupação em explicar 
o fracasso escolar dessas crianças evoluiu para uma outra posição o termo 
"deficiência cultural" (tão carregado negativamente) foi substituído por "diferença 
cultural". Agora a criança pobre não é considerada carente ou deficiente, mas 
"diferente" da criança das classes media a alta. 
No Brasil, estamos começando a viver esse momento: ha indícios de que começa a 
haver uma passagem do discurso da deficiência para o discurso 
 
da diferença. Afirma-se que a criança das camadas popular não tem deficiência de 
linguagem, mas falam uma linguagem diferente daquela da criança de classe média e 
de classe alta; resolvem problemas de formas diferentes e têm toda uma experiência 
de vida diferente da experiência de vida da criança das classes média e alta. As 
dificuldades de aprendizagem, nesse contexto, dever-se-iam basicamente ao fato de 
que a escola não estaria levando em conta essas diferenças. Os professores estariam 
esperando a presença nos bancos escolares de uma criança idealizada (a criança 
típica de classe média ou de classe alta) quando, na realidade, a clientela que se 
encontra nesses bancos já é outra. Neste nível de entendimento da questão o que se 
coloca é a necessidade de adequar a escola à realidade dessa criança, a sua maneira 
 
de ser, as características da “sub-cultura" das classes populares. Essa visão também 
merece questionamento. Precisamos verificar até que ponto esse tipo de colocação é 
fiel à realidade, até que ponto contém afirmações que são indevidas ou exageradas e, 
portanto, até que ponto nos leve a descaminhos. 
1.3. A criança da escola publica de 1-° Grau: defi ciente, diferente ou mal 
trabalhada? 
Num terceiro momento da teoria e da pesquisa sobre as causas do fracasso escolar o 
que se está procurando verificar é a contribuição das próprias práticas escolares na 
produção do fracasso escolar das crianças das escolas públicas nas regiões 
pauperizadas das cidades. 
Atualmente as causas das dificuldades de aprendizagem dessas crianças estão sendo 
buscadas em instâncias do processo educativo, desde a política e a legislação 
educacional, a situação do professorado, a formação e a valorização profissional do 
professor, suas condições de trabalho; entre esses fatores, podemos mencionar as 
vicissitudes burocráticas, legais e institucionais do trabalho do professor: a 
segmentação do trabalho escolar, a sobrecarga de trabalho burocrático, as 
repercussões da Lei 5.692, etc. Dá-se, portanto, uma mudança de foco. Se este num 
determinado momento foi à criança e tentou-se buscar nela, através de uma 
abordagem medicalizada e psicologizada, a fonte da dificuldade, agora o centro da 
análise e fundamentalmente o processo de produção do fracasso escolar dentro da 
instituição-escola. 
A pesquisa sobre as causas do fracasso escolar está, no presente, muito mais voltada 
para o que se chama de causas intra-escolares desse fracasso; de alguma maneira, a 
concepção segundo a qual a criança que não consegue aprender é uma criança 
portadora de dificuldades e de deficiências pessoais é um momento superado na 
pesquisa educacional. 
Nesse momento de análise, o tema da qualidade da relação professor-aluno assume 
uma importância que não tinha anteriormente. Não se trata, contudo, de encontrar um 
novo réu: se antes o culpado era a criança e a 
família, agora ele não pode ser o professor. Temos de entender as condições de 
trabalho e de formação do Professor, para entender a qualidade da relação professor-
aluno, não só do ponto de vista pedagógico, isto é, do quanto esse professor, é 
competente ou não tecnicamente, mas também em termos do relacionamento afetivo, 
interpessoal que ele estabelece com seus alunos. 
Vejamos alguns exemplos de práticas que se observam no dia-a-dia das salas de 
aula, práticas essas que constituem um processo de produção do fracasso escolar 
dentro da instituição-escola. 
1.4 A prática do encaminhamento das crianças que começam a não aprender 
nas escolas 
“Joãozinho está "indo mal" na escola. 
 A professora chama a mãe e diz: Olha, seu filho tem algum problema. 
Seria bom leva-lo ao médico.” 
ou 
 
“Seu filho tem algum problema. Estou encaminhando-o para fazer alguns testes.” 
 
 
Essa visão medicalizada e psicologizada, ainda está muito presente entre os educadores. 
As mães, quando podem, levam o filho ao médico e muitas vezes o tratamento 
medicamentoso decorrente traz efeitos colaterais que tornam a criança sem condições 
de rendimento em sala de aula, o que acaba por confirmar ao professor, de uma 
maneira absurda, que aquela criança realmente não tem condições de aprender. 
Por outro lado, solicitar exames psicológicos significa partir do pressuposto de que a 
criança é portadora de alguma deficiência e que os testes psicológicos têm o poder 
soberano de nos assegurar se ela a portadora de deficiências ou de problemas de 
personalidade ou não. 
É importante lembrar que os testes de inteligência disponíveis medem muito mais a 
capacidade de emissão de respostas consideradas certas ou erradas do que 
processos mentais. São, ainda, muito menos adequados para medir a capacidade 
intelectual das crianças das classes populares do que de crianças familiarizadas com 
os materiais, o vocabulário e as atitudes neles presentes. 
Algumas questões incluídas nos testes de inteligência mais usados nas clínicas 
psicológicas do país solicitam que a criança responda, por exemplo: 
- Qual a semelhança entre um piano e um violino? 
- Por que e melhor dar dinheiro para uma instituição de caridade, do que para 
um pobre que está pedindo esmola na rua? 
 
 
- Por que e melhor morar em uma casa de tijolo do que em uma casa de 
madeira? 
- Por que devemos pagar nossas contas com cheques e não com dinheiro? 
 
Evidentemente, o resultado só pode ser muito baixo, não só pela natureza das 
questões colocadas como pela própria situação de avaliação e suas implicações. 
Certamente a criança das classes populares é muito mais inteligente do que se 
imagina a partir dos resultados nesses testes. 
1.5 A prática dos "remanejamentos" 
Em alguns casos, tem-se observado que as ações do Ciclo Básico se resumem 
no remanejamento contínuo dos alunos, havendo escolas que procedem a seis ou mais 
remanejamentos de uma criança durante o ano. Parece-nos que a maneira como os 
remanejamentos vêm sendo feitos tem contribuído para que a criança não aprenda. 
 A primeira professora tem um significado muito grande navida de uma criança. 
É através dessa relação inicialmente idealizada da criança com a sua primeira 
professora, que se cria à condição primeira para que haja aprendizagem. 
A política de remanejamento, sendo levada as últimas conseqüências, e de uma 
maneira não habilidosa, acaba fazendo com que a criança fique sem vínculos tanto com 
as outras crianças como com o professor. Numa relação sem vínculo tanto de quem 
ensina como de quem aprende, dificilmente haverá aprendizagem. 
Além disso, temos de considerar, também, a maneira como são feitos os 
remanejamentos. Não se dá muita importância as repercussões que as ações dos 
educadores podem ter nas crianças; é como se as crianças fossem objetos, peças de 
mobiliário, um "mal necessário" do sistema escolar. 
 
 Quando uma professora diz, em altos brados, na frente das crianças, que elas 
são burras, deficientes, incompetente, tudo indica que, para essa professora, que essas 
crianças deixaram de ser pessoas e se transformaram em coisas. 
 Não raramente, na 2ª feira a criança está numa classe e na 3ª feira em outra, 
porque foi remanejada. Mas ela não foi comunicada nem preparada para isso. 
 
1.6 A relação professor-aluno. A relação escola-família 
Existem pesquisas que mostram acabar se concretizando o que se espera de 
uma pessoa, especialmente quando quem faz a previsão tem poderes sobre a pessoa 
objeto da profecia. Se o professor profetiza que uma criança não vai ser bem-sucedida, 
isso pode acabar acontecendo porque o professor tende a trabalhar e a lidar com a 
criança (que julga incapaz de aprender) da forma que não permitem que ela aprenda ou 
que dificultam a aprendizagem. A expectativa comum na rede de ensino é que criança 
das classes trabalhadoras fracasse na escola certamente é um dos determinantes desse 
fracasso. 
Ao pensarmos na questão das dificuldades de aprendizagem, na evasão 
escolar, na repetência, é preciso pensar, também, que a criança não é a única 
destinatária da mensagem escolar - sua família também é. E irreal esperar que essas 
mães e pais ajudem seus filhos nas lições. É preciso que os pais se sintam bem no 
ambiente escolar; é preciso que saibam que a escola lhes pertence. 
É necessário lidar com sensibilidade com esses pais e entender o significado 
que a escola tem para as famílias das classes trabalhadoras; que experiências escolares 
 
os adultos tiveram na infância? Como estão sendo tratados nas vezes em que 
comparece a escola de seus filhos? Por exemplo, como costumam ser as reuniões de 
pais e mestres? 
 
1.7. Revendo alguns mitos 
Temos muitos preconceitos a respeito dos integrantes das classes subalternas. Esses 
preconceitos e estereótipos fazem parte de uma visão de mundo ideológica e 
mistificadora. Precisamos estar atentos para os mitos de que somos porta-vozes. 
O mito da deficiência de linguagem 
Afirmações que se ouvem a todo o momento: 
 
“As crianças das classes trabalhadoras, as crianças pobres, as chamadas” 
“crianças carentes” falam uma linguagem que o professor não entende; o professor, em 
sala de aula, fala uma linguagem que a criança não entende.” Será isso verdade. 
É perfeitamente compreensíveis que, pelas condições materiais de existência 
dessas crianças, a linguagem adquira certas características não presentes na chamada 
linguagem culta. Apesar dessas diferenças, falamos a mesma língua. As dificuldades de 
compreensão vêm muito mais da relação preconceituosa que o adulto acaba tendo com a 
criança num contexto institucional adverso a ambos. 
Eu posso até não entender o que uma criança nordestina diz quando um 
determinado termo. Mas eu posso chegar até ela e certamente vamos nos entender... O 
que existe é uma relação professor-aluno muito autoritária que emudece as crianças em 
sala de aula e no ambiente escolar, o que é muito diferente das afirmações da existência 
de deficiências lingüísticas ou de diferenças de expressão oral tão grandes entre 
professor e aluno que impossibilitam a comunicação. 
 
Aos alunos pouco resta senão se expressarem por monossílabos em sala de 
aula; observando-os, nesse contexto, chega-se falaciosamente à conclusão de que eles 
têm deficiências de linguagem ou usam muito pouco os recursos que ela oferece. Quase 
sempre a dificuldade de expressão oral decorre do clima em sala de aula, muitas vezes 
um clima de hostilidade, de rejeição e de agressão à criança. 
É muito perigosa a afirmação de que a criança pobre fala pouco, fala mal. 
Estamos num país marcado pela diversidade regional; temos regiões extremamente 
pauperizadas onde a linguagem é fluente e rica. Em certas regiões do Brasil se fala, nas 
classes populares, um português mais próximo do português castiço do que o português 
oficial. Só poderíamos afirmar que uma classe social tem deficiência de linguagem se 
imaginássemos que toda ela é portadora de lesões ou disfunções cerebrais ou no 
aparato produtor da fala que causassem essas deficiências (dislalias, disfasias, etc.). 
Mas esse mito da deficiência de linguagem está muito presente nas escolas. E 
está muito presente também na cabeça dos que planejam a educação no Brasil. 
Em decorrência do mito de que o pobre fala pouco e mal, o universo vocabular 
das cartilhas dos Estados Unidos foi drasticamente reduzido nos últimos anos, segundo 
pesquisa realizada e relatada por Bruno Bethelheim, no seu livro “Psicanálise da 
alfabetização”. 
 
O mito da desnutrição como causa do fracasso escolar 
 
Uma das grandes explicações do fracasso escolar das crianças de famílias de baixa 
renda, é convincente num país com as características do Brasil, a de que essas 
crianças são desnutridas. Pesquisas médicas revelaram que a desnutrição protéica 
nos primeiros anos de vida pode causar lesões cerebrais irreversíveis. 
Estamos num país de desnutridos, sim. Mas estamos também num país em que 
as crianças morrem às centenas e milhares, antes de completar um ano de idade. O 
Brasil é um dos primeiros países do mundo em índices de mortalidade infantil. 
Exatamente por isso, colocar na desnutrição a causa do fracasso escolar não tem muito 
substrato, pois a criança severamente desnutrida dificilmente chega aos sete anos de 
idade e dificilmente tem acesso à escola. (MOYSÉS, 1982) 
Numa pesquisa realizada, anos atrás, por uma equipe interdisciplinar, verificou-
se que, numa escola onde o índice de retenção girava em torno de 70 %, apenas 12% 
das crianças tinham algum problema físico que pudesse, de alguma maneira, responder 
pelas dificuldades de aprender. (GATTI, 1981) 
Convém lembrar que certas experiências realizadas em alguns países do 
mundo evidenciaram que, quando se utilizam pedagogias que levam em conta 
características infantis, quando se estabelecem relações mais construtivas dos 
professores com os alunos, quando professores estão mais comprometidos com os 
interesses das classes populares e dominam os conteúdos que ensinam, consegue-se 
resultados surpreendentes. Temos aí uma indicação de que essas crianças em geral têm 
condições para apreender e de suas potencialidades talvez não esteja sendo exploradas 
devidamente em nossas escolas. 
C) O mito da carência afetiva 
Outro grande mito existente na literatura é o de que essas crianças sofrem de 
carência afetiva. Os educadores, em geral, dizem isso com freqüência. É possível que 
haja mais “carência afetiva”, em termos de freqüência, entre as crianças das populações 
mais exploradas, dadas as condições difíceis de trabalho e de vida de suas famílias. Mas 
 
não se justifica a afirmação de que essa criança, por ser de uma família pobre, é 
necessária ser portadora de carência afetiva. Dizer isso significa afirmar a incapacidade 
de toda uma classe social de amar seus filhos. Talvez haja diferentes formas de amor. 
Quando uma mãe trabalha em uma casa de família das 7h às 17h e das 20h à meia-
noite, faz faxina emum prédio de escritórios para garantir a sobrevivência e os estudos 
de seus filhos, esta pode ser a forma que lhe é socialmente possível de amá-los. Por 
outro lado, vemos que não é verdadeiro afirmar que todos os pais são bêbados, todas as 
mães são prostitutas e todas as famílias são desintegradas. 
A pesquisa interdisciplinar anteriormente mencionada revelou que a maioria das 
crianças repetentes tinha a família biológica preservada: pai, mãe e prole vivendo juntos. 
Afirma-lo não significa negar as dificuldades econômicas e a repercussão que elas 
podem ter sobre a estruturação familiar. Mas não viver numa família organizada de 
acordo com os padrões tradicionais não significa que se está vivendo numa família 
desorganizada. São muitas as formas de estruturar um grupo familiar; é preciso 
questionar a afirmação de que somente uma delas é valida. 
 
Na verdade, existem muitas mães carinhosas e interessadas pelos filhos no 
bairro de periferia e nas favelas e muitas mães repressivas, agressivas e rejeitadoras nas 
famílias das classes média e alta. 
 
O mito da evasão escolar 
 
Problematizando ainda mais a questão do fracasso, é preciso recolocar uma 
questão que tem sido abordada de forma simplista: “as crianças de classe baixa 
abandonam a escola com freqüência porque desde muito cedo têm necessidade de 
trabalhar”. Pesquisa realizada por Maria Malta Campos (CAMPOS, 1984) veio mostrar 
que a família pobre deseja e se empenha para que seus filhos estudem, porque vê na 
escolarização uma possibilidade de melhorar as condições de vida. 
No entanto, vários mecanismos mais ou menos sutis presentes nas escolas 
muitas vezes acabam por impossibilitar esse sonho e frustrar a luta pela sua realização; 
desse modo, o que chamamos “evasão” assume, na realidade, muito mais características 
de “expulsão”. 
 
O mito da gratuidade do ensino público 
 
Nessa mesma pesquisa, as autoras reúnem depoimentos de usuários das 
escolas públicas periféricas que mostram que muitas crianças em idade escolar se 
encontram fora da escola porque a família não conseguiu fazer frente às despesas de 
seu ingresso e manutenção, os obstáculos são muitos, desde o período da matrícula, 
com suas exigências de fotografias, documentos e pagamentos da taxa da Associação 
de Pais e Mestres (facultativa na lei, obrigatória segundo a decisão de alguns diretores) 
até a aquisição de material escolar, as exigências de uniforme, a compra de livro, as 
contribuições em dinheiro ou em espécie para as festas comemorativas e as 
quermesses. 
Conclusão 
Sem dúvida, é importante pensar no que poderia ser feito no sentido de tornar 
os educadores menos preconceituosos, mais próximos e mais solidários com as crianças 
da escola pública e com suas famílias. Mas essa reflexão só pode ser feita se pensamos 
 
criticamente toda a política educacional neste país, todo o sistema escolar marcado de 
cima a baixo pelo autoritarismo. A desumanização das relações interpessoais está 
presente em todas as relações que se estabelecem no sistema escolar e no interior das 
escolas e todos que ocupam posições hierarquicamente subalternas no contexto 
educacional são ao mesmo tempo dominadores e dominados. É na tomada de 
consciência disso, através de uma reflexão crítica aberta e constante dos profissionais do 
ensino e dos usuários do ensino e dos usuários da escola sobre suas crenças e suas 
práticas, que o processo de produção do fracasso escolar poderá começar a ser 
cotidianamente revisto. 
Referências 
 
BETTELHEIM, B. & ZELAN, K. Psicanálise da alfabetização: um estudo psicanalítico 
do ato de ler e aprender. Tradução José Luiz Coon, Porto Alegre. Artes Médicas, 1984. 
 
MOYSÉS, M. A. & LIMA, G. Z. de. Desnutrição e fracasso escolar: uma relação tão 
simples? In: Revista da ANDE, São Paulo, 1(5):57-61, 1982. 
 
GATTI, B. et al. A reprovação na 1ª série do 1º grau: um estudo de caso. In: Cadernos 
de Pesquisa, São Paulo, (38):3-13, ago. 1981. 
 
CAMPOS, M. M. & GOSDSTEIN, M. O ensino obrigatório e as crianças fora da 
escola: um estudo da população de 7-14 anos excluídas da escola na cidade de São 
Paulo. São Paulo, F.C.C, 1982. Mimeog. 
 
 
 
 
TEXTO – 06 – 
A PSICOLOGIA RESOLVE MISÉRIA ABSOLUTA? 
Débora Araújo Fernandes1, Adriano Rodrigues Mansanera2, 
1Estudante, Psicologia, CEULP/ULBRA 
2Professor/Profissional, Psicologia, CEULP/ULBRA 
 
 
VI Jornada Científica CEULP/ULBRA – Apresentado em 2006 
RESUMO: Este artigo tem o objetivo de fazer considerações sobre a situação conflitante 
que atinge psicólogos que atendem em seus consultórios casos onde as origens do 
problema, na maioria das vezes não se encontram em fenômenos que a Psicologia em si 
explica, mas sim Ciências Sociais e Políticas, como a miséria, que gera danos aos 
indivíduos sendo que os reflexos da pobreza ressurgirão em traumas, recalques, surtos, 
levando pessoas aos consultórios psicológicos em busca de uma solução imediata (na 
grande maioria, hospitais públicos onde há atendimento dessa natureza, visto não 
disponibilizarem de recursos para tratamento particular). É possível esta solução? Aqui 
são feitas reflexões sobre o tema. 
PALAVRAS-CHAVE: Miséria, Psicologia, Crise, 
 
INTRODUÇÃO: Brasil, 63° entre 177 países no ranking de qualida de de vida. Afirmação 
que incomoda o consciente social, mas verdadeira e vivenciada pela maioria dos mais de 
180 milhões de habitantes que vivem na "terra em que se plantando tudo dá". O Brasil é 
ao mesmo tempo uma grande economia emergente e uma das sociedades mais 
desiguais do planeta, exibindo um número elevado de pobres e um grau de concentração 
de riqueza em mãos de poucos, superior ao de muitos países mais pobres. Evidencia-se 
uma drástica realidade que nos aturde no início do século XXI, que no final do século 
 
passado se imaginava vislumbrar carros voadores, robôs andando pelas ruas, enfim, uma 
utopia onde não se previa que no ano de 2005, haveria ainda, pobreza, fome, 
desigualdades sociais... 
Atentando esta observação supracitada ao fazer psicológico, vem a mente reflexões de 
Bock (1999, p.05) quando afirma que "existe uma crença de que a Psicologia pode ajudar 
as pessoas a se conhecerem melhor". Mas conhecer o quê? Descobrir que tudo o que se 
tem como problema foi gerado não por si próprio, mas por uma gama de fatores 
originados pela exclusão social e seus afins? Não é ofício dos mais fáceis "resolver" 
problemas que não têm solução. A sociedade exige que o Psicólogo encontre uma saída 
que, magicamente, torne o indivíduo em um ser mais feliz e bem resolvido. É possível, ou 
pode haver um render-se diante da situação-problema? 
 
MATERIAIS E MÉTODOS: 
O seguinte artigo originou-se da união de estudos e pesquisas acadêmicas com reflexões 
teóricas feitas em sala de aula na disciplina de Psicologia da Personalidade. 
 
RESULTADOS E DISCUSSÕES: 
Ao analisar a atual situação da população brasileira da classe dos menos favorecidos 
economicamente, observa-se que as origens dos problemas psicológicos são, na grande 
maioria, gerados pela pobreza e falta de estruturas básicas (trabalho, moradia, educação, 
saúde, alimentação, lazer) que propiciem ao indivíduo um bem-estar bio-psico-social. 
Então, conforme o pensamento anteriormente citado, a sociedade espera uma solução 
urgente deste problema por parte do Terapeuta. 
Sobre as atribuições do Psicoterapeuta, Sant’ana (1999), afirma que, 
Quando falamos em formação do psicoterapeuta, o primeiro 
aspecto a ser considerado é: quais são as características ou 
habilidades necessárias a alguém para que possa se tornar 
um psicoterapeuta? [...] O requisito primeiro está na 
habilidade do psicoterapeuta em ‘captar’, ‘compreender’, 
‘perceber’ aquilo que, realmente é a dificuldade do cliente. 
O segundo é saber o que fazer com essa dificuldade ou 
problema, afim de saná-lo ou minimizá-lo. (SANT’ANA, 
1999, p.62) 
 
 
O Ministério da Educação e o Conselho Nacional da Educação retificou no parecer 
CNE/CES de 1314/2001, aprovado em 20/02/2002, as diretrizes nacionais para os cursos 
de Psicologia e lá afirmou que: 
Um conjunto de princípios gerais deve nortear a formação 
em Psicologia, os quais remetem à necessidade de uma 
formação que desenvolva um forte compromisso com uma 
perspectiva científica e com o exercício da cidadania; que 
assegure rigorosa postura ética, que garanta unia visão 
abrangente e integrada dos processos psicológicos, 
permitindo uma ampliação dos impactos sociais dos 
serviços prestados à sociedade, e que desenvolva um 
profissional detentor de uma postura pró-ativa em relação 
ao seu contínuo processo de capacitação e aprimoramento. 
(Brasil, Ministério da Educação, 2002, p.01) 
Ao sair da Instituição de Ensino Superior, o acadêmico é capaz de "captar, compreender, 
perceber" as dificuldades do cliente e, ainda mais, "saber o que fazer com essa 
dificuldade"? 
É válido observar que o Terapeuta, por mais compromisso que tenha com sua profissão, 
por mais embasamento teórico que obtiver durante sua jornada, também é um indivíduo 
que tem subjetividade e está exposto a sofrer interferências do meio em que vive, tendo 
possíveis choques com situações em seus atendimentos por se sentir impotente diante 
de determinadas circunstâncias. Não há como se anular totalmente diante das situações 
onde o indivíduo que lhe procura, expõe suas dores e amarguras que são originadas, não 
por recalques somente, mas como diria Loreto (2000), "estão assentadas sobre a 
miséria". Parafraseando ainda Loreto (2000), agir através da pobreza não é agir. 
Portanto, espera-se que seja formada uma consciência, tanto por parte da sociedade 
como pelos profissionais Terapeutas, de que o psicólogo não é um ser que consegue 
resolver todos os problemas, aliás, ele também tem problemas. Ele não é simplesmente 
um ser passivo que observa as situações de forma a-histórica, isolando o indivíduo do 
meio em que vive, tendo apenas um olhar "psicológico" do problema, esquecendo-se de 
que o mesmo pode não estar na invidia del pene, mas muitas vezes na invidia del pane 
(foi aproveitado aqui o trocadilho que Loreto (2000) usou em seu capítulo da Patologia da 
vida psi cotidiana lembrando que muitas vezes se quer atribuir a conceitos e processos 
psicológicos o que realmente está alicerçado na miséria, ou seja, nem sempre a inveja é 
do pênis, mas sim do pão). 
Então a Psicologia está em crise? Existe resposta a esta pergunta? Talvez, a melhor 
forma de respondê-la, seja fazendo outras perguntas. Quem está em crise, a distribuição 
de renda brasileira ou a eficiência dos psicólogos? É do terapeuta a função de resolver as 
conseqüências de um sistema econômico abalado? Existe um caminho para se trilhar 
que resolva as mazelas que a miséria produz nas pessoas? Irá o psicólogo conseguir 
este milagre? 
 
Ao falar em crise, não se pode esquecer o que Pavlovsky pensou: 
Crise não é decadência. Tentar conscientizar ao máximo a crise é 
esboçar a possível superação. Mas isso sim, em diálogo, 
escutando do outro, ou fazendo-se escutar pelo outro. Mas como 
isto é difícil! Negar a crise é condensá-la, é aprisioná-la, é 
enquistá-la, obliterá-la, é ficarmos sós, é não interiorizar o 
diálogo com o outro dentro de mim, Todos estamos um pouco 
doentes deste tipo de surdez. Mas também – pensei – a surdez 
protege. (PAVLOVSKY, p.232-233. Grifo nosso) 
Quem está em crise, a sociedade? A classe dos psicólogos? Há um culpado nesta 
situação? Quem é o algoz, se é que este realmente existe? Bock, faz uma análise sobre 
esta situação tecendo os seguintes comentários: 
Nosso trabalho, como psicólogos, passa a ser visto como ação 
direcionada e intencionada. Embora nossa intervenção tenha 
sempre uma direção apresentada como possibilidade pela 
sociedade e pela cultura, não se trata de uma direção qualquer; 
trata-se de uma dessas possibilidades, e o profissional deverá 
fazer essa escolha. É preciso compreender que estamos 
contribuindo para a construção de projetos de vida, 
direcionados para finalidades que interessem ao sujeito. 
Escamotear esse direcionamento do trabalho é ocultar a 
influência que temos. Não assumir a influência é camuflar a 
finalidade do trabalho, que fica então fora de questão, de debate, 
de crítica [...] o sujeito com quem se trabalha é um ser ativo e 
transformador do mundo; é um ser posicionado que intervém em 
seu meio social. O encontro desses sujeitos (cliente e profissional) 
se dará como diálogo no qual o cliente possui a matéria-prima a ser 
trabalhada, e o profissional, os instrumentos e a tecnologia do 
trabalho. (BOCK, 2002, Grifo nosso) 
 
Diante de tantas indagações feitas, Bock (2002) fala claramente sobre a postura que o 
profissional de psicologia deve ter frente a situações onde só a técnica utilizada em 
consultórios não funciona. Para o indivíduo que vivencia a miséria, a psicologia, que está 
voltada para a burguesia, fica a uma distância inalcansável, ficando ele, suscetível 
emocionalmente (quando não fisicamente) às oscilações de seu mundo particular. 
Então, melhor seria permitir pairar uma pergunta ao ar. Não há uma resposta precisa e 
imediata para este dilema. Eficiência do Psicólogo em crise ou sistema econômico em 
crise? Se houvesse culpa, melhor seria não determinar aqui quem é o algoz, porque, 
realmente, acredito não haver um único fator determinante. 
 
 
 
CONCLUSÕES: 
Portanto, permanece o questionamento sobre o que realmente fazer diante das 
conseqüências que o sistema econômico impõe sobre a psique das pessoas. O 
Terapeuta não pode "alimentar" a todos, mas acredita-se que uma mudança de postura 
deve ser tomada. Profissionais com uma perspectiva voltada para o social podem fazer 
diferença em meio a tantos que vêem a miséria, mas passam de largo mantendo-se 
passivos aos problemas de indivíduos menos favorecidos economicamente. Uma 
distribuição de renda mais equilibrada talvez solucionasse alguns problemas. Mas 
enquanto essa utopia não é realidade, que se possa ao menos dar conforto e esperança 
às mentes que buscam algum alívio à sua fome de atenção, afeto e alimento. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
BOCK, Ana Mercês Bahia. Atuação Profissional e formação do psicólogo: os desafios da 
modernidade. In: Psicologia em estudo. Maringá, vol. 4, n.1 p.01-12, jan/jun.1999. 
BOCK, Ana Mercês Bahia; GONÇALVES, Maria da Graça Marchina; FURTADO, Odair. 
Psicologia Sócio-Histórica: uma perspectiva crítica em Piscologia. São Paulo: 
Cortez, p.30-31, 2002. 
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação. 
Ratificação do Parecer CNE/CES de 1.314/2001 relativo às Diretrizes Curriculares 
Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia. Brasília, 2002. 16p. 
Disponível em: 
<http://www.cmconsultoria.com.br/legislacao/pareceres/2002/par_2002_0072_CNE_CES.
pdf>. Acesso em 14 de setembro de 2005. 
LORETO, Oswaldo Dante Milton di. Patologia da vida psi cotidiana: o cotidiano na vida de 
um clínico psi. In: Desafios na atenção à saúde mental. Maringá: Eduen, p.93-133, 
2000. 
SANT’ANA, Vânia Lúcia Pestana. A Formação do Psicoterapeuta. In: Psicologia em 
estudo. Maringá, vol. 4, n.1 p.61-65, jan/jun.1999. 
PAVLOVSKY, Eduardo. A crise do Terapeuta. s/d 
 
Texto 07 e 08 – FREUD E A PSICANÁLISE – O QUE SÃO NEUROSES E PSICOSES, 
PSICOSES E DEPRESSÃO? - Ballone GJ - Perguntas mais freqüentes - Neuroses - in. 
PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2008. 
 
A palavra "neurótico", da maneira como costuma ser usada hoje, tem sentido impróprio e pode 
ser ofensivo ou pejorativo. Pessoas que não entendem nada dessa parte da medicina podem 
usar a palavra "neurose" como sinônimo de "loucura". Masisso não é verdade, de forma alguma. 
A Neurose é uma reação exagerada do sistema emocional em relação a uma experiência vivida 
(Reação Vivencial). Neurose é uma maneira da pessoa SER e de reagir à vida. 
 
Quando se diz que a pessoa É neurótica e não ESTÁ neurótica, está se tentando dizer que a 
neurose é uma maneira da pessoa ser, associada à traços de sua personalidade. Essa maneira 
de ser neurótica significa que a pessoa reage à vida através de reações vivenciais não normais; 
seja no sentido dessas reações serem desproporcionais, seja pelo fato de serem muito 
duradouras, seja pelo fato delas existirem mesmo sem que exista uma causa vivencial aparente. 
Essa maneira exagerada de reagir leva a pessoa neurótica a adotar uma serie de 
comportamentos compatíveis com o que está sentindo. Cada tipo de transtorno neurótico tem 
seus sintomas, suas atitudes e sentimentos e como o quadro das neuroses é muito variável, não 
há uma seção neste site específico para Neuroses, como tem para Psicoses. Na realidade os 
quadros neuróticos estão descritos em várias seções, tais como Ansiedades e Fobias, 
Depressão, Estresse, Histeria e Afins, Obsessões e Compulsões e outros. 
 O neurótico, tem plena consciência do seu problema e, muitas vezes, sente-se impotente para 
modificá-lo. 
Exemplos: 
1 - Diante de um compromisso social a pessoa neurótica reage com muita ansiedade, mais 
ansiosa que a maioria das pessoas submetidas à mesma situação (desproporcional). Diante 
desse mesmo compromisso social a pessoa começa a ficar muito ansiosa uma senana antes 
(muito duradoura) ou, finalmente, a pessoa fica ansiosa só de imaginar que poderá ter um 
compromisso social (sem causa aparente). 
2 - Num determinado ambiente (ônibus, elevador, avião, em meio a multidão, etc) a pessoa 
neurótica começa a passar mal, achando que vai acontecer alguma coisa (desproporcional). Ou 
começa a passar mal só de saber que terá de enfrentar a tal situação (sem causa aparente). 
O que não é Neurose? 
Como vimos, a Neurose é uma doença, uma doença emocional, afetiva e da personalidade. 
Esclarecendo alguns mitos culturais, primeiramente é importante deixar claro o que a Neurose 
não é: 
Neurose não é: 
- Falta de Homem (ou de Mulher) 
- Falta de pensamento positivo 
- Cabeça ou mente fraca 
- Falta de força de vontade 
- Falta de ter o que fazer 
- Ruindade, maldade ou capricho 
- Senvergonhice 
- Influência espiritual 
- Mal-olhado ou encosto 
- Coisa "de sua cabeça" (coisa da cabeça é caspa) 
- Falta de ter passado por dificuldades de verdade (isso é sorte) 
Neurose (embora possa ser agravada) não acontece por: 
- Nunca ter passado dificuldades na vida 
- Falta de uma boa surra 
- Ter tido de tudo na vida 
 
- Não ter tido tudo na vida 
- Causa do pai que brigava com a mãe 
- Causa dos pais que se separaram 
- Causa do pai ter sido muito enérgico 
- Causa do pai ter sido omisso 
- Não ter tido pai 
- Ter tido uma mãe super-protetora 
- Ter tido uma mãe omissa 
- Não ter tido uma mãe 
- Ter sabido que a mãe não era essa 
- Ter "forçado demais a cabeça" 
- Nunca ter "forçado demais a cabeça" 
- Causa de uma menstruação que subiu para a cabeça 
- Finalmente, por ter misturado manga com leite... 
A Neurose é uma Doença Mental? 
Não. A Neurose não é sonônimo de loucura, assim como também, não compromete a 
inteligência, nem o contato com a realidade. Seus sentimentos dos neuróticos também são 
normais; eles amam, sentem alegria, tristeza, raiva, etc., como qualquer pessoa. O que pode 
estar alterado na Neurose é a quantidade desses sentimentos. 
Assim, as principais diferenças entre uma pessoa neurótica e outra normal são em relação à 
capacidade de adaptação às situações vividas e em relação à quantidade de emoções e 
sentimentos. Os neuróticos ficam mais ansiosos, mais angustiados, mais deprimidos, mais 
sugestionáveis, mais teatrais, mais impressionados, mais preocupados, com mais medo, enfim, 
eles têm as mesmas emoções que qualquer pessoa, porém, em quantidade que compromete a 
adaptação. Para entender melhor, estude: Teorias da Personalidade e Transtornos da 
Personalidade. 
Tipos de Neuroses 
De modo geral, e didaticamente, as neuroses costumam ser classificadas através de seus 
sintomas mais proeminentes. Isso não significa que todas elas não possam ter uma série de 
sintomas comuns (todas têm ansiedade, por exemplo). 
Um dos tipos mais comuns de Neurose, hoje em dia, é aquele cujo sintoma proeminente é a 
ansiedade (e depressão). O Transtorno Fóbico-Ansioso, por exemplo, é uma neurose que se 
caracteriza, exatamente, pela prevalência da Fobia entre outros sintomas de ansiedade, ou seja, 
um medo anormal, desproporcional e persistente diante de um objeto ou situação específica. 
Mas isso não quer dizer que no Transtorno Fóbuco-Ansioso não tenha também depressão, 
ataques de pânico, ansiedade generalizada... 
 
O Transtorno Ansioso é outro tipo de Neurose (veja Ansiedade). Os padrões individuais de 
ansiedade variam amplamente. Algumas pessoas com ansiedade neurótica podem ter sintomas 
cardiovasculares, tais como palpitações, sudorese ou opressão no peito, outros manifestam 
sintomas gastrointestinais como náuseas, vômito, diarréia ou vazio no estômago, outros ainda 
apresentam mal-estar respiratório ou predomínio de tensão muscular exagerada, do tipo 
espasmo, torcicolo e lombalgia. 
 
Enfim, os sintomas físicos da ansiedade variam de pessoa para pessoa. Psicologicamente a 
ansiedade pode monopolizar as atividades psíquicas e comprometer, desde a atenção e 
memória, até a interpretação fiel da realidade. 
Os Transtornos Histriônicos (Histéricos), por sua vez, são neuroses onde o sintoma principal 
é a teatralidade, sugestionabilidade, necessidade de atenção constante e manipulação 
emocional das pessoas ao seu redor. O neurótico histérico pode desmaiar, ficar paralítico, sem 
fala, trêmulo, e desempenhar todo tipo de papel de doente. Há grande variedade nesse tipo de 
neurose. 
Os Transtornos do Espectro Obsessivos-Compulsivos reúnem neuroses cujo sintoma 
principal é a incapacidade de controlar impulsos, manias e rituais, assim como determinados 
pensamentos desagradáveis e absurdos. 
Incluimos a Distimia como representante de um tipo de neurose, cujo sintoma mais proeminente 
é a tendência a reagir depressivamente à vida, ou seja, é a pessoa com tendência à longos 
períodos de depressão. 
A Neurose tem cura? 
Antigamente se pensava que a neurose era sempre incurável e que se convertia, com o tempo, 
numa doença crônica e invalidante. Hoje em dia, felizmente, as pessoas que sofrem deste 
transtorno podem recuperar-se por completo e lavar uma vida normal como qualquer outra 
pessoa. 
 
A questão da cura das neuroses, que é uma doença da personalidade, deve ser comparada à 
cura da diabete, da pressão alta, reumatismo, alergia, asma e uma grande série de outras 
doenças crônicas. As pessoas portadoras dessas doenças, assim como os neuróticos, teriam 
uma péssima qualidade (e quantidade) de vida se não fossem os recursos da medicina. Pois 
bem. Com recursos da medicina essas pessoas têm uma qualidade de vida normal, tal como 
acontece com os pacientes neuróticos tratados. 
 
A rigor, para as neuroses, recomenda-se um tratamento de responsabilidade tripla; 
um acompanhamento psicológico adequado, um tratamento médico (com medicamentos) quando 
necessário, e a maior cooperação possível do próprio paciente e da sua família. Portanto, vai 
aqui um alerta para aquelas pessoas do tipo "- não consigo isso, não consigo aquilo". Com essa 
participação tríplice, felizmente, a grande maioria das neuroses podem ser perfeitamente 
controlada, proporcionando ao paciente uma melhor qualidade de vida e inegável bem estar. 
A família pode causar a neurose? 
Sim e não! A resposta correta é: depende da família e do neurótico. Para entender melhor essaquestão, vamos comparar a neurose com a alergia. Vamos considerar uma pessoa com rinite 
alérgica e que, ao entrar em contacto com um ambiente embolorado, manifesta sua rinite. 
Esse exemplo acima é muito didático e favorece outras reflexões esclarecedoras. Seria o caso 
de perguntarmos: o fungo do bolor (a família), é a causa da rinite alérgica (neurose)??? 
Para haver a rinite alérgica é preciso 2 coisas; que a pessoa seja alérgica previamente, e do 
fungo, ao qual ela é sensível. Assim sendo, para a crise de rinite o fungo foi tão indispensável 
 
quanto a sensibilidade alérgica da pessoa. O mais correto, agora, é dizer que o fungo (família) 
pode desencadear, agravar ou proporcionar condições para uma crise alérgica aguda (uma 
reação neurótica), mas não é a causa exclusiva. 
 
Da mesma forma, podemos dizer que para desenvolver uma neurose é preciso uma certa 
vulnerabilidade emocional e, para que esta se manifeste em sua plenitude, é preciso uma 
vivência desencadeadora. 
 
A Neurose é herdada? 
Em primeiro lugar convém fazer uma distinção entre o que é genético, o que é constitucional e o 
que é hereditário: 
1) Se uma doença é Genética, isso quer dizer que antes de nascer a pessoa pode ter um gene 
ou uma programação genética que a conduza em direção à doença. Isso se dá sob a forma de 
probabilidade e não de certeza. 
Cada um de nós carrega genes de diferentes doenças mas não as desenvolvemos 
obrigatoriamente. Um exemplo claro disso é o câncer de pulmão, identificado em genes de 
pessoas sadias não fumantes. Uma pessoa que tenha este gene teria uma predisposição 
genética a desenvolver a doença, mas isso não quer dizer que esta pessoa vá desenvolvê-la 
obrigatoriamente. De fato, se não fumar, levar uma vida não estressante, enfim, se não facilitar 
os requisitos necessários ao desenvolvimento da doença, muito provavelmente não terá câncer 
de pulmão. 
2) É Constitucional a doença que faz parte da pessoa, sem necessariamente ter sido genética ou 
hereditária. Constitucional significa ter nascido assim ou ter adquirido para sempre. Se a pessoa 
nasceu surda, essa surdez é constitucional, sem necessidade de ser genética. As marcas de 
vacina que alguns têm nos braços desde criança, são constitucionais (fazem parte da pessoa) 
mas não foram herdadas. Antes disso, foram adquiridas em tenra idade e não desapareceram 
mais. 
3) Doença Hereditária é uma doença genética que se transmitirá, com certeza, de uma geração a 
outra e, além disso, terá uma porcentagem fixa e calculada de novos casos da doença na 
geração seguinte. 
Um exemplo de doença hereditária é a Coréia de Huntington. Esta doença crônica supõe um 
degeneração corporal e mental que se passa de uma geração a outra, desenvolvendo-se em 
50% dos filhos. Quer dizer que um paciente de Coréia de Huntington que decide ter um filho 
sabe, de antemão, que a cada dois filhos que nascerem, no mínimo um desenvolverá a 
enfermidade. 
Até o momento, podemos considerar as Neuroses de natureza Constitucional e, algumas vezes, 
Genética. 
 
 
Qual a importância social das neuroses? 
As neuroses são, indubitavelmente, o contingente mais importante de pacientes que procuram 
ajuda de psicólogos e psiquiatras. Seu quadro é extremamente variado, indo dos problemas 
psicossomáticos, sexuais, depressões, angústia, insôniao, etc, etc. 
As neuroses interferem e estão presentes também nos problemas de aprendizagem, no 
desenvolvimento da personalidade, no fracasso escolar, nos conflitos familiares e nas crises 
conjugais. 
A psiquiatria considera as neuroses transtornos menores, em relação às psicoses. Isso se deve 
ao fato do neurótico conservar, de alguma maneira, critérios de avaliação da realidade 
semelhantes às pessoas consideradas normais. Entretanto, ao falarmos em “transtorno menor”, 
não estamos nos referindo a algum critério de prognóstico. O mais comum é que a neurose tenha 
um curso crônico e, não tratada, pode levar a algum grau de incapacidade social e/ou 
profissional. 
 O que são Psicoses 
A Esquizofrenia é a principal psicose 
Psicoses 
Psicoses são distúrbios psiquiátricos graves onde o paciente perde contato com a realidade, 
emite juízos falsos (delírios), podendo também apresentar alucinações (ter percepções irreais 
quanto a audição, visão, tato), distúrbios de conduta levando à impossibilidade de convívio social, 
além de outras formas bizarras de comportamento. 
O termo Psicose (e sintomas psicóticos) é empregado para se referir à perda do juízo da 
realidade e um comprometimento do funcionamento mental, social e pessoal, normalmente 
levando a um prejuízo no desempenho das tarefas e papéis habituais. 
As Psicoses podem ter várias origens: por lesões cerebrais, tumores cerebrais, esquizofrenia, 
tóxicos, álcool, infecções, traumas emocionais etc. Algumas Psicose são incuráveis, outras 
apresentam cura completa. Quase sempre requer tratamento à base de psicotrópicos. Nem 
sempre é necessária a internação. Nas Psicoses agudas, as psicoterapias são pouco indicadas. 
No DSM-IV, os Transtornos Psicóticos incluem os transtornos invasivos do desenvolvimento, 
esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno esquizoafetivo, transtorno delirante, 
transtorno psicótico breve, transtorno psicótico compartilhado, transtorno psicótico devido a uma 
condição médica geral, transtorno psicótico induzido por substância e transtorno psicótico sem 
outra especificação. 
Na CID.10 os Transtornos Psicóticos são classificados como (F20-F29) Esquizofrenia, 
transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes. Este agrupamento reúne a esquizofrenia, 
a categoria mais importante deste grupo de transtornos, o transtorno esquizotípico e os 
transtornos delirantes persistentes e um grupo maior de transtornos psicóticos agudos e 
transitórios. Os transtornos esquizoafetivos foram mantidos nesta seção, ainda que sua natureza 
permaneça controversa. 
 
O que é Esquizofrenia? 
O termo "esquizofrenia" foi criado em 1911 pelo psiquiatra suíço Eugem Bleuler com o significado 
de mente dividida. Ao propor esse termo, Bleuler quis ressaltar a dissociação que às vezes o 
paciente percebia entre si mesmo e a pessoa que ocupa seu corpo. Hoje é o nome 
universalmente aceito para este transtorno mental psicótico, entretanto, no meio técnico e 
profissional se admite que o termo pode ser insuficiente para descrever a complexidade dessa 
condição patológica. 
A Esquizofrenia é uma doença da personalidade total que afeta a zona central do eu e altera 
toda estrutura vivencial. Culturalmente o esquizofrênico representa o estereotipo do "louco", um 
indivíduo que produz grande estranheza social devido ao seu desprezo para com a realidade 
reconhecida. Agindo como alguém que rompeu as amarras da concordância cultural, o 
esquizofrênico menospreza a razão e perde a liberdade de escapar às suas fantasias. 
Segundo Kaplan, aproximadamente 1% da população é acometida pela doença, geralmente 
iniciada antes dos 25 anos e sem predileção por qualquer camada sócio-cultural. O diagnóstico 
se baseia exclusivamente na história psiquiátrica e no exame do estado mental. É extremamente 
raro o aparecimento de esquizofrenia antes dos 10 ou depois dos 50 anos de idade e parece não 
haver nenhuma diferença na prevalência entre homens e mulheres. 
Os transtornos esquizofrênicos se caracterizam, em geral, por distorções características do 
pensamento, da percepção e por inadequação dos afetos. Usualmente o paciente com 
esquizofrenia mantém clara sua consciência e sua capacidade inteleitual. 
A Esquizofrenia traz ao paciente um prejuízo tão severo que é capaz de interferir amplamente 
na capacidade de atender às exigências da vida e da realidade. 
O que não é Esquizofrenia? 
Há alguns mitos sobre a esquizofrenia bastante enraizados na opinião popular. Boa parte desses 
mitos se originou namídia, através de filmes e romances sobre “loucos” e psicóticos que, além 
da qualidade literária e artística, não guardam, obrigatoriamente, uma coerente relação com a 
verdade científica. 
 
A Esquizofrenia não é a dupla pessoalidade. Apesar do termo esquizofrenia cunhado por 
Bleuler em 1911 significar mente partida, hoje sabemos que a síndrome de esquizofrenia é muito 
mais ampla que isso e não tem por que incluir nela os Transtornos de Personalidade Múltipla. 
 
A Esquizofrenia não é uma violência sem sentido. O mito da violência psicótica provavelmente 
se deve, em boa parte, à mídia, como o grande diretor Alfred Hitchcock e afins, cujo trabalho 
consiste em dirigir e vender filmes de agrado popular mas não, necessariamente, com bases 
científicas e reais. Também é possível que este mito se deva ao tratamento da Esquizofrenia 
com medicamentos sedativos. Mas, na maioria das vezes, a sonolência é um efeito secundário 
da medicação antipsicótica mais do que uma imperiosa necessidade de “dopar” o paciente. 
A porcentagem de pacientes psicóticos esquizofrênicos que pode ser violenta é, felizmente, 
pequena. A agressividade dos psicóticos costuma ocorrer em proporção igual a que acontece 
com a população em geral. Aliás, podemos dizer, de maneira geral, que quem mais agride é a 
 
sociedade ao “louco” do que o contrário; é a sociedade das pessoas normais quem prende, 
agride, amarra, interna sem consentimento, seda, dopa, exclui e estigmatiza. 
A Esquizofrenia não acomete pessoas pouco inteligentes, como pode se acreditar 
erroneamente. A Esquizofrenia afeta tanto as pessoas com alto quanto baixo nível intelectual, 
atinge igualmente os ricos e pobres, os mais cultos e os mais simplórios. Não é monopólio de 
quem tem a mente fraca e nem depende da pessoa ser “esclarecida e inteligente”. 
Tipos de Esquizofrenia? 
A esquizofrenia paranóide 
Este tipo de Esquizofrenia é o mais comum e também o que responde melhor ao tratamento. 
Diz-se, por causa disso, que tem prognóstico melhor. O paciente que sofre esta condição pode 
pensar que o mundo inteiro o persegue, que as pessoas falam mal dele, têm inveja, 
ridicularizam-no, pensam mal dele, elas têm intenções de fazer-lhe mal, de prejudicá-lo, de matá-
lo, etc. Trata-se dos delírios de perseguição. 
 
Não é raro que este tipo de paciente tenha também delírios de grandeza, idéias além de suas 
possibilidades: "Eu sou o melhor cantor do mundo. Nada me supera. Nem Frank Sinatra é 
melhor". Esses pensamentos podem vir acompanhados de alucinações, aparição de pessoas 
mortas, diabos, deuses, alienígenas e outros elementos sobrenaturais. Algumas vezes esses 
pacientes chegam a ter idéias religiosas e/o políticas, proclamando-se salvadores da terra ou da 
raça humana. 
 
A esquizofrenia hebefrênica ou desorganizada 
Neste grupo se incluem os pacientes que têm problemas de concentração, pouca coerência de 
pensamento, pobreza do raciocínio, discurso infantil. Às vezes, fazem comentários fora do 
contexto e se desviam totalmente do tema da conversação. Expressam uma falta de emoção ou 
emoções pouco apropriadas, rindo-se a gargalhadas em ocasiões solenes, rompendo a chorar 
por nenhuma razão em particular, etc. 
 
Neste grupo também é freqüente a aparição de delírios (crenças falsas), por exemplo que o 
vento move na direção que eles querem, que se comunicam com outras pessoas por telepatia, 
etc. 
 
A esquizofrenia catatônica 
É o tipo menos freqüente de esquizofrenia. Apresenta como característica transtornos 
psicomotores, tornando difícil ou impossível ao paciente mover-se. Talvez passe horas sentado 
na mesma posição. A falta da fala também é freqüente neste grupo, assim como alguma 
atividade física sem propósito. 
 
A esquizofrenia residual 
Este termo é usado para se referir a uma esquizofrenia que já tem muitos anos e com muitas 
seqüelas. O prejuízo que existe na personalidade desses pacientes já não depende mais dos 
surtos agudos. Na Esquizofrenia assim cronificada podem predominar sintomas como o 
 
isolamento social, o comportamento excêntrico, emoções pouco apropriadas e pensamentos 
ilógicos. 
 
A esquizofrenia simples 
Também é pouco freqüente. Aparece lentamente, normalmente começa na adolescência com 
emoções irregulares ou pouco apropriadas, pode ser seguida de um paulatino isolamento social, 
perda de amigos, poucas relações reais com a família e mudança de caráter, passando de 
sociável a anti-social e terminando em depressão. Nesta forma da esquizofrenia não se 
observam muitos surtos agudos. 
Apesar desta classificação, é bom destacar que os pacientes esquizofrênicos nem sempre se 
encaixam perfeitamente numa de estas categorias. Também existem pacientes que não se 
podem classificar em nenhum de os grupos mencionados. A estes pacientes se pode dar o 
diagnóstico de Esquizofrenia Indiferenciada. 
A Esquizofrenia tem cura? 
Até bem pouco tempo se pensava que a esquizofrenia era sempre incurável e que se convertia, 
obrigatoriamente, numa doença crônica e por vida. Hoje em dia, entretanto, sabemos que este 
não é necessariamente o caso e uma porcentagem de pessoas que sofrem deste transtorno 
pode recuperar-se por completo e lavar uma vida normal como qualquer outra pessoa. 
Outras pessoas, com quadros mais graves, apesar de dependerem de medicação, chegam a 
melhorar até o ponto de poderem desempenhar o trabalho, casar-se e ter família. Embora não se 
possa falar em cura, tal como se conceitua a cura total na medicina, a reabilitação psicossocial 
da expressiva maioria desses pacientes tem sido bastante evidente. 
Apesar da Esquizofrenia tender à deixar mais seqüelas a cada novo surto, o importante é saber 
que estas pessoas podem chegar a ter funções na sociedade e podem chegar a ser muito 
produtivas, mais ou menos sócio-cupacionalmente normais e dentro de suas possibilidades. 
A família pode causar a esquizofrenia? 
Não, não e não! Esta é a resposta mais simples. Apesar das infinitas investigações, a origem da 
Esquizofrenia ainda não está clara. O que está claro, entretanto, é que não é causada por um 
trauma infantil, nem por um mau comportamento por parte dos pais. 
 
Nos anos 60 e 70 muitas investigações se realizaram no campo da terapia familiar, sobre o 
comportamento de as famílias e transtornos mentais. Encontraram vários patrões de conduta 
comuns a famílias com problemas de saúde mental, o qual conduz a alguns profissionais a 
concluir, erroneamente, que a família poderia ser culpada pelos transtornos mentais de seus 
filhos. Nada mais falso. 
 
Os sintomas da Esquizofrenia resultam de desequilíbrios de substâncias neuroquímicas no 
cérebro, tias como a dopamina, serotonina, e noradrenalina. As últimas investigações indicam 
que estes desequilíbrios podem estar presentes no cérebro, inclusive antes do nascimento da 
pessoa. 
 
 
Entretanto, o comportamento da família influi fortemente na reabilitação do individuo com 
esquizofrenia. Os estudos demonstram que a intervenção da família é de grande importância na 
prevenção das recaídas. 
A esquizofrenia é herdada? 
Em primeiro lugar convém fazer uma distinção entre o que é genético e o que é hereditário: 
1) Se uma doença é genética, isso quer dizer que antes de nascer uma pessoa pode ter um gene 
ou uma programação que a conduza em direção à doença, mas em forma de probabilidade e não 
de certeza. 
 
Cada um de nós carrega genes de diferentes doenças mas não as desenvolvemos 
obrigatoriamente. Um exemplo claro disso é o câncer de pulmão, identificado em genes de 
pessoas sadias não fumantes. Uma pessoa que tenha este gene teria uma predisposição 
genética a desenvolver a doença, mas isso não quer dizer que esta pessoa vá desenvolvê-la 
obrigatoriamente. De fato, se não fumar, levar uma vida não estressante, enfim, se não cumprir 
os requisitos necessários ao desenvolvimento

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