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2017 - 07 - 18 Curso Avançado de Processo Civil - Volume 2 - Edição 2016 DÉCIMA PARTE - COGNIÇÃO SUMÁRIA NO PROCEDIMENTO COMUM DÉCIMA PARTE - COGNIÇÃO SUMÁRIA NO PROCEDIMENTO COMUM (Autores) Luiz Rodrigues Wambier Eduardo Talamini Capítulo 42. TUTELA PROVISÓRIA 1 42.1. Fundamentos constitucionais da tutela provisória A Emenda Constitucional 45 consagrou explicitamente no texto da Constituição a garantia fundamental da razoável duração do processo judicial e administrativo e dos meios que assegurem a celeridade de sua tramitação (art. 5.º, LXXVIII, da CF/1988). Antes disso, o Pacto de San José da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos), ratificado pelo Brasil, também estabelecia o direito a um processo com duração razoável (art. 8.º) - garantia essa que, portanto, já estava integrada ao rol de direitos fundamentais do direito interno (por força do art. 5.º, § 2.º, da CF/1988 - v. vol. 1, n. 3.25). Ademais, da própria garantia do devido processo legal já era extraível semelhante imposição. Como apontado no vol. 1 (n. 3.6), a garantia do devido processo legal significa a determinação de um processo razoável - o que abrange obviamente a razoabilidade de sua duração. Por outro lado, a norma do art. 5.º, XXXV, da CF/1988, ao assegurar o direito fundamental à proteção jurisdicional está necessariamente garantindo uma tutela adequada, efetiva e tempestiva (vol. 1., n. 3.4 e 3.5). Desse conjunto de normas fundamentais diversas imposições são extraíveis. Para que o processo dure apenas o razoável, para que a proteção jurisdicional seja oportuna e adequada, diversas providências são exigidas - tanto do legislador infraconstitucional, quanto da administração da Justiça e ainda do próprio juiz. São necessários: (i) procedimentos racionais e simplificados (que, por exemplo, prestigiem de um lado a efetiva depuração do material controvertido - o que deveria ocorrer sobretudo no saneamento do processo - e, de outro, soluções conciliatórias), (ii) formas processuais e meios executivos compatíveis com os tipos de conflitos a solucionar e (iii) adequada organização e preparo dos órgãos judiciais e de seus agentes - e outras tantas diversas providências. 2 Entre elas, destaca-se a previsão de mecanismos aptos a assegurar o possível resultado prático que normalmente se teria apenas no final do processo, conservando as condições para que tal resultado possa futuramente ocorrer ou desde logo adiantando esse resultado, tendo em vista situações de urgência (o perigo na demora) ou uma redistribuição do ônus da demora do processo à luz das concretas alegações e defesas das partes. Ou seja, não basta (e não é sempre possível) acelerar o processo como um todo. Então, em certas hipóteses - e observados limites -, cabe adiantar o seu possível resultado ou, quando menos, manter as condições para que ele possa futuramente se concretizar. É nesse contexto que se insere a tutela provisória prevista no ordenamento brasileiro para: (a) debelar situações de perigo na demora; ou (b) redistribuir o ônus do tempo da tramitação processual, quando há grande evidência da razão do demandante, embora o juiz ainda não tenha reunido elementos suficientes para o julgamento definitivo de procedência. A concessão de uma providência antes do momento em que o julgador estaria propriamente em condições de definitivamente decidir sobre ela implica restrição aos direitos do contraditório e da ampla defesa da parte que sofrerá a medida. Será necessário sopesar os valores jurídicos envolvidos, a fim de se verificar qual o mais grave risco, no caso concreto, concedendo-se ou não a tutela provisória (proporcionalidade - v. vol. 1, n. 3.24). 42.2. Panorama da tutela provisória no CPC/15 O Código de 2015 reformulou o sistema de tutela judicial fundada em cognição sumária. Unifica-se em um mesmo regime geral, sob o nome de "tutela provisória", a tutela antecipada e a tutela cautelar, que se submetiam a disciplinas formalmente distintas no Código de 1973. 42.2.1. Tutela de urgência e tutela de evidência A tutela provisória poderá fundar-se em "urgência" ou "evidência" (art. 294, caput, do CPC/2015). A distinção já existia no diploma de 1973, embora não estivesse explicitada (arts. 273, I, 461, § 3.º, e 796 e ss. do CPC/1973 versus art. 273, II e § 6.º, do CPC/1973). A tutela de urgência será concedida quando forem demonstrados elementos que indiquem a probabilidade do direito, bem como o perigo na demora da prestação da tutela jurisdicional (art. 300 do CPC/2015). A tutela da evidência, por sua vez, dispensa a demonstração de periculum in mora quando existe intensa probabilidade de procedência da pretensão formulada, em casos enumerados em lei (art. 311, I a IV, do CPC/2015 - v. n. 42.10, adiante). 42.2.2. Tutela de urgência cautelar e antecipada A tutela urgente é subdivida em "cautelar" e "antecipada", com ambas podendo ser concedidas em caráter antecedente ou incidental (art. 294, parágrafo único, do CPC/2015). Embora se mantenha a distinção conceitual entre ambas, confere-se-lhes o mesmo tratamento jurídico. Aplica-se a ambas o mesmo regime quanto a pressupostos e via processual de pleito e concessão. A unificação de regime é positiva, seja sob o aspecto do rigor científico, seja pelas vantagens práticas. Retoma-se o tema adiante. 42.2.3. Tutela de urgência incidental e antecedente A tutela de urgência pode ser requerida e concedida em caráter antecedente ou em caráter incidental (art. 294, parágrafo único, do CPC/2015). A tutela de urgência é requerida em caráter antecedente quando o autor apenas formula pedido relativo a ela, deixando para um segundo momento o pedido principal ( i.e., o pedido da tutela jurisdicional definitiva). Já o requerimento de tutela urgente incidental é aquele formulado quando já está em curso o processo relativo ao pleito de tutela principal. 42.2.4. Eliminação da duplicidade de processos Quando requerida em caráter incidental, a medida (seja ela cautelar ou antecipada) terá lugar dentro do processo em curso, sem autuação apartada e independentemente do pagamento de custas (art. 295 do CPC/2015). Quando o pedido for formulado em caráter antecedente, isso implicará obviamente a constituição de um processo. Todavia, subsequentemente, o eventual pedido principal será formulado nessa mesma relação processual (arts. 303, § 1.º, I, e 308 do CPC/2015). Essa é também uma inovação elogiável. O modelo do processo cautelar autônomo, adotado pelo Código de 1973, mostrou-se desnecessário e mesmo contraproducente. 42.2.5. O ônus da formulação do pedido principal Na tutela urgente incidental, vigora integralmente o regime jurídico único para ambas as modalidades, cautelar e antecipada. Mas, na tutela de urgência requerida em caráter antecedente, há parcial dicotomia de disciplinas, que em grande medida põe a perder o propósito de unificação de regimes das medidas urgentes. Ainda que admitindo tanto a tutela cautelar quanto a tutela antecipada em caráter antecedente, o Código previu regras distintas para uma e outra, no que tange ao ônus de formulação de pedido principal, depois de efetivada a medida urgente. Uma vez efetivada a tutela cautelar em caráter antecedente, o autor fica incumbido de formular o pedido principal no prazo de trinta dias, sob pena de cessação de eficácia da medida (arts. 308 e 309, I, do CPC/2015). Caso cessada a eficácia da tutela cautelar, é vedada a renovação do pedido, salvo por fundamento diverso (art. 309, parágrafo único, do CPC/2015). Já se a tutela urgente deferida em caráter preparatório for antecipada, o autor tem ônus de complementar sua argumentação e confirmar o pedido de tutela final em quinze dias, ou em outro maior que o juiz lhe der, sob pena de extinção do processo sem julgamento de mérito (art. 303, §§ 1.º, I, e 2.º, do CPC/2015). Aí já se tem clara diferença no regime das duas providênciasurgentes, quando pleiteadas em caráter preparatório. Mas a distinção vai bem mais longe. 42.2.6. Estabilização da tutela antecipada Na hipótese de tutela antecipada antecedente, o ônus do autor de formular pedido principal deve ainda ser conjugado com outra imposição normativa. Se o réu não recorrer da decisão concessiva da tutela antecipada, o processo, uma vez efetivada integralmente a medida, será extinto. Todavia, a providência urgente ali concedida manterá sua eficácia por tempo indeterminado (art. 304 do CPC/2015). Vale dizer, a tutela antecipada antecedente estabilizar-se-á. Ela continuará produzindo os seus efeitos enquanto não for revista, reformada ou invalidada mediante ação própria em um novo processo (art. 304, § 3.º, do CPC/2015), a ser iniciado por qualquer das partes (art. 304, § 2.º, do CPC/2015). Não há coisa julgada material (art. 304, § 6.º,do CPC/2015 ). Mas o direito de rever, reformar ou invalidar a decisão concessiva da tutela antecipada estabilizada submete-se a prazo decadencial de dois anos (art. 304, § 5.º, do CPC/2015). 42.3. Atividade jurisdicional urgente No vol. 1, já se indicou a possibilidade de se identificarem traços que fazem da atividade do juiz, quando examina, concede e executa medidas urgentes, algo diverso das atividades precipuamente cognitiva e executiva. Pode-se, assim, aludir à atividade urgente como modalidade de atuação jurisdicional distinta da cognitiva e da executiva. Primeiro, na atividade desenvolvida nas tutelas de urgência, a cognição é bastante peculiar. Por um lado, ela é sumária (v. cap. 2, acima). Nas ações urgentes, busca-se providência que, de modo rápido, proteja temporariamente um possível direito, que corre o risco de sofrer lesão irreparável ou de reparação muito difícil. Para tanto, o juiz examinará apenas se há razoável plausibilidade nos fundamentos apresentados pelo autor. Ou seja, não desenvolverá uma investigação aprofundada e detalhada, mas simples cognição superficial. Por outro - e essa é uma característica frequentemente esquecida - a cognição para fins cautelares não envolve apenas juízos sobre fatos passados - que é a regra geral no processo de conhecimento. Mais do que isso, abrange também juízos sobre fatos futuros - para a avaliação do perigo de dano e definição dos mecanismos para debelá-lo. Além disso, na atividade jurisdicional urgente, cognição e execução reúnem-se no mesmo processo como reflexo de interesse de agir único e indivisível. Quem precisa de providência urgente, necessita não apenas de provimento cognitivo reconhecendo a plausibilidade de seu direito, mas principalmente da imediata concretização da medida. O juiz terá de adotar prontamente, e sem qualquer nova ação ou pedido, providências executivas que propiciem a proteção urgente necessária. Por isso, na atuação jurisdicional urgente, "execução" e cognição não estão reunidas como duas fases distintas que se sucedem: entremeiam-se no seu curso, reúnem-se de um modo indissociável. 3 De resto, normalmente, a ação em que se pleiteia a tutela de urgência não afasta a necessidade do exercício de outra ação, de conhecimento ou de execução, destinada a propiciar uma tutela definitiva. Nesse sentido, a tutela urgente é muitas vezes instrumental e provisória. 42.4. A unificação de regime das medidas de urgência incidentais Como indicado, o CPC/2015 unificou, sob uma mesma disciplina, as medidas urgentes cautelares e antecipatórias (art. 300 e ss. do CPC/2015). São antecipatórias as medidas que visam a antecipar ao autor, no todo ou em parte, os efeitos da tutela pretendida. Já as medidas cautelares são as que visam a afastar riscos e assegurar o resultado útil do processo, conservando determinada situação fática e (ou) jurídica. 42.4.1. Características comuns Embora se mantenha a distinção conceitual entre ambas, confere-se-lhes o mesmo tratamento jurídico. Aplica-se a ambas o mesmo regime quanto a pressupostos, via processual de pleito e concessão, eficácia e autoridade da decisão concessiva etc., especialmente quando requeridas e concedidas em caráter incidental. A unificação de regime é positiva, seja sob o aspecto do rigor científico, seja pelas vantagens práticas. O liame unificador, capaz de agrupar as medidas urgentes conservativas e antecipatórias dentro de uma mesma categoria, reside nos seguintes traços: (i) função de garantir o resultado inerente a outra tutela ("final"), tendencialmente definitiva - viabilizando seu provimento, resguardando sua efetivação ou impedindo sua inutilidade -, com o afastamento de um perigo de dano de difícil reparação; (ii) cognição sumária, como visto acima; (iii) em virtude de sua função, instrumentalidade em relação a tal provimento posterior: a providência urgente opera com base na perspectiva da tutela final, ainda que esta concretamente não venha a ocorrer, e sua concessão subordina-se à probabilidade do conteúdo da tutela final e (ou) aos riscos que essa sofre; (iv) consequente provisoriedade, caracterizada pela circunstância de o provimento urgente não ter o condão de se tornar juridicamente definitivo: em regra, ou a medida urgente é substituída pela tutela final ou, simplesmente, perde a eficácia. Esses quatro aspectos são identificáveis nas medidas cautelares (antecedentes ou incidentais) e na tutela antecipatória (incidental). A atenuação da quarta característica ora indicada - mediante a atribuição de uma relativa estabilidade à medida antecipatória antecedente - relativiza o regime jurídico único. Mas mesmo essa mitigação da unidade de regime não se põe propriamente entre tutela cautelar e tutela antecipada: ela implica uma contraposição entre, de um lado, tutela antecipada antecedente e, de outro, as demais hipóteses de tutela urgente (tutela cautelar antecedente ou incidental; tutela antecipada incidental) e mesmo a tutela da evidência. 42.4.2. Diferença quantitativa A diferença entre as medidas cautelares e as antecipatórias urgentes não é qualitativa, mas quantitativa. É perceptível certa gradação da carga antecipatória nas medidas de urgências não tendentes a se tornar, por si só, definitivas - mesmo naquelas pacificamente tidas como conservativas. Tome-se como exemplo uma medida pacificamente reconhecida como cautelar, que é o arresto (art. 301 do CPC/2015). Ele tem por finalidade assegurar o sucesso de futura execução, em hipóteses em que há motivo plausível para se temer uma dilapidação de patrimônio por parte do suposto devedor. A medida consiste na apreensão de bens do possível devedor, para que eles fiquem desde logo afetados ao procedimento executivo que provavelmente ocorrerá no futuro. Conquanto o arresto não adiante o próprio resultado prático do provimento principal, funciona como antecipação de uma parte da atividade executiva destinada a efetivar aquele resultado, uma vez que precipita alguns dos efeitos da futura penhora na execução (ele se converte em penhora, e a eficácia desta, para fins de preferência no concurso entre credores, retroage à data do início do arresto). Obviamente, é pequeno o grau de antecipação aí encontrado - de modo que não há como negar sua natureza preponderantemente conservativa. Não está muito longe, porém, da carga de adiantamento em regra contida na antecipação de tutela condenatória de pagamento de dinheiro que não ultrapasse os limites da execução provisória (tutela antecipada essa que não se confunde, todavia, com o mero arresto, pois possibilita, em certas condições, o levantamento de dinheiro eventualmente penhorado). Por fim, carga bem mais elevada de antecipação, para não dizer máxima, é verificável na antecipação de tutela referente ao dever de alimentos. Daí concluir-se que, mesmo que se conceba a distinção entre providências de urgência cautelares e antecipadas, tal diferenciação é feita, no mais das vezes, tomando-se em conta o conteúdo preponderante da medida (conservativo ou antecipador).42.4.3. Direito autônomo à proteção urgente Parte da doutrina brasileira adota uma concepção teórica que separa rigidamente a tutela cautelar da tutela antecipada, como sendo categorias de todo distintas. Os fundamentos dessa orientação em alguma medida variam de um autor para outro, mas há fundamentalmente dois argumentos que merecem destaque e estão presentes em respeitáveis formulações doutrinárias. Por um lado, afirma-se que a tutela cautelar tem um objeto de proteção próprio, que é o direito substancial de cautela. Já a tutela antecipada recairia sobre o mesmo objeto sobre o que incide a tutela principal a que se visa antecipar. Desse fundamento, extrai-se o segundo, no sentido de que a medida cautelar constituiria uma verdadeira modalidade de tutela, ao passo que a antecipação de tutela seria uma simples técnica, aplicável às diferentes modalidades de tutela, inclusive à tutela cautelar. Para tanto, invocam a literalidade do revogado CPC/1973, que estabelecia um "processo cautelar" tendente a uma sentença cautelar, mas também se previa a possibilidade da concessão da providência cautelar no curso desse processo (normalmente como "liminar"). Essa seria uma "antecipação" da própria tutela cautelar. Examinem-se rapidamente ambos os argumentos. Para uma antiga doutrina, as providências cautelares visavam assegurar o resultado prático de outra tutela (de conhecimento ou de execução). Serviriam, em termos mais amplos, para resguardar a eficácia da atuação jurisdicional. De acordo com essa concepção, a função cautelar visaria à proteção do resultado de um "processo principal", ou, quando menos, a proteção da eficiência da atividade jurisdicional. Desta maneira, e apenas mediatamente, tutelaria o direito que é objeto do processo principal - ou que parece que virá a ser tutelado pelo processo principal. A teoria do direito substancial de cautela contrapõe-se a essa formulação tradicional, lançando basicamente as seguintes críticas: (i) Como explicar que a medida cautelar protege o resultado do processo principal, quando esse vem a ter um resultado diverso e incompatível com aquele suposto resultado que estava sendo protegido? (ii) Como explicar aqueles casos em que o processo cautelar produz seus devidos resultados sem que sequer seja necessário um processo principal (isso é comum nas medidas cautelares probatórias, adiante examinadas)? Para os adeptos da teoria tradicional, teria havido, então, mera providência administrativa. Pela teoria do "direito substancial de cautela", a tutela cautelar tem por objeto um interesse ou direito próprio da parte. Esse objeto é uma pretensão à segurança, que se destina a resguardar uma situação reconhecida como digna de proteção pela ordem jurídica, que pode ser um direito subjetivo, uma pretensão, uma ação ou uma exceção que estejam sob ameaça de direito irreparável. Os adeptos dessa teoria defendem, então, que o processo cautelar se destina a proteger não propriamente (ou precipuamente) o resultado de um processo principal (ou a eficiência da atuação jurisdicional), mas, sim, a tutelar um direito à segurança jurídica, vale dizer, um direito que todos têm de ver protegido outro direito ou interesse que aparentemente possuem, quando esse último é posto em risco (essa é a "situação cautelanda" ou "situação carente de tutela cautelar"). Assim, pela teoria do direito substancial de cautelar pode haver: (i) ações cautelares desvinculadas de um processo principal (exemplo: a ação para prestação de caução de dano iminente); e (ii) outras ações que se enquadram nos moldes tradicionalmente traçados, que guardam relação com um direito que é objeto de outro processo (atual ou futuro), dito "principal". Essa teoria explica com clareza a diferença entre o objeto da tutela cautelar e o objeto da eventual tutela dita "principal". Identifica-se, com precisão, um mérito para a tutela cautelar (o fumus boni iuris e periculum in mora constituem os próprios aspectos essenciais da configuração do direito à cautela). Explica-se como o autor que obteve a tutela cautelar pode depois ser derrotado quanto à tutela "principal". Além disso, enfatiza-se o direito da parte à proteção cautelar - sem que isso implique necessariamente negar a correlata existência de um poder-dever (ou seja, uma função) do juiz. A ideia de que a medida cautelar protege um direito da parte - e não apenas assegura o bom funcionamento da jurisdição -, além de bem mais consentânea com a realidade jurídica, é a mais compatível com o modelo constitucional do processo. É uma construção muito mais libertária e garantística do que o discurso da tutela cautelar como "instrumento da jurisdição", com indisfarçável vezo autoritário, explicável num momento de afirmação do caráter público do processo, todavia, hoje, anacrônico. Mas daí a afirmar-se que essa teoria serviria para estabelecer uma diferença essencial entre tutela cautelar e tutela antecipada vai grande distância. A rigor, toda a crítica que se formula à concepção tradicional de tutela cautelar é empregável, com as devidas adaptações, também contra a ideia de que a antecipação de tutela seria simples técnica de adiantamento da tutela principal, tendo ambas o mesmo objeto. Como justificar os casos em que a tutela antecipada é concedida e, ao final, se constata que o autor, beneficiário da antecipação, não tinha razão quanto à tutela principal? Ou como explicar as situações em que a antecipação da tutela reveste-se de carga eficácia distinta da tutela principal, por vezes mais intensa do que essa (p. ex., a urgência, em certas ocasiões, justifica que a execução de uma tutela antecipada, em ação condenatória, faça-se por medidas atípicas executivas e mandamentais)? A rigor, também a tutela antecipada recai sobre um direito próprio, o direito à proteção urgente ou, no caso da tutela da evidência, o direito à proteção da aparência. Apenas assim há resposta para as perguntas ora postas, tal como no caso das cautelares. Se esse direito é propriamente material ("substancial") ou processual é secundário (como hoje, em muitos terrenos, é secundária - e mesmo posta em dúvida - a radical distinção entre processual e material). Importante é que se trata de um direito autônomo. Guardadas as devidas proporções, no que tange a esse enquadramento (e sua relatividade) a questão é equiparável àquela atinente ao direito autônomo à prova (v. n. 19.1, acima). Então, seja na tutela cautelar, seja na tutela antecipada, tem-se um direito autônomo à proteção jurídica. E se volta ao ponto afirmado no item anterior: a diferença, meramente gradual, está no conteúdo da providência. Chegando-se a esse ponto, a ideia de que a antecipação de tutela seria simples "técnica" está posta em cheque, se já não caiu por terra. De qualquer modo, o argumento empregado para esse fim também é criticável. A noção de que no próprio "processo cautelar" do CPC/1973 a "liminar" seria antecipatória da sentença final, primeiro, ampara- se no diploma revogado. Depois, e mais que isso, baseia-se na mera literalidade do antigo Código. A norma jurídica definida concretamente foi outra. Desde o início da vigência daquele diploma, a "sentença cautelar" perdeu toda sua relevância nos casos em que a liminar era concedida - como, aliás, desimportante se tornava todo o procedimento cautelar: esse passou a desenvolver-se autonomamente apenas até a concessão liminar da medida - sendo, depois disso, absorvido pelo procedimento do processo principal. A sentença cautelar, nesses casos, era simples formalidade: um protocolar capítulo na sentença "principal", ou reprodução desta. Logo, a verdadeira relação que se punha era entre a liminar cautelar e a sentença principal, tal como também ocorria com a tutela antecipada - e tal como ora se dá relativamente a ambas, tutela cautelar e tutela antecipada. Então, em ambos os casos há um objeto autônomo de tutela, inconfundível com o objeto de proteção daeventual tutela dita "principal". 42.4.4. Decorrências práticas Do ponto de vista prático, a eliminação da duplicidade de regimes evita armadilhas para o jurisdicionado. Precisamente porque a diferença é de grau, e não verdadeiramente de essências, inúmeras medidas encontram-se em uma "zona cinzenta", entre o terreno inequivocamente destinado à tutela conservativa e aquele outro atribuído à antecipação. Estabelece-se, em virtude disso, verdadeira "dúvida objetiva". Pense-se nas medidas de urgência destinadas a manter suspensa a eficácia de um ato jurídico, até a emissão de provimento que decida sobre sua validade (exemplo: a suspensão de efeitos da deliberação tomada em assembleia geral societária; a sustação de protesto; a suspensão de eficácia da sentença rescindenda etc.). Autorizada parcela da doutrina vê nessas providências exemplos de tutela cautelar: a suspensão da eficácia do ato serviria para conservar determinado estado fático-jurídico até a definição da tutela final. Mas outros tantos doutrinadores, não menos respeitados, consideram tais medidas antecipatórias. Elas estariam adiantando um efeito que só se teria com o provimento da tutela final: um dos resultados práticos da anulação da assembleia geral seria o impedimento de que ela produzisse efeitos; declarado inexistente o crédito representado no título, esse não poderia ser protestado; a rescisão da sentença implicaria a impossibilidade de executá-la - e assim por diante. 4 Tais divergências na doutrina evidenciam a inviabilidade prática de dois regimes estanques. Aliás, a incerteza não é só doutrinária. Passa obviamente pela jurisprudência - e chega aos próprios textos legais. O art. 969 do Código prevê que os efeitos da sentença rescindenda excepcionalmente poderão ser suspensos por "tutela provisória". À exemplo do que já ocorria no CPC/1973 (art. 489), a própria lei não ousa classificar a providência em questão... Porém, mais do que uma questão de ordem prática, o impasse doutrinário (e jurisprudencial, e legislativo...) tem em si mesmo relevo científico. Quando um importante jurista afirma ser cautelar a medida que suspende deliberação assemblear, e outro, igualmente consagrado, a considera tutela antecipada; quando um doutrinador reputa conservativa a sustação de protesto, e outro toma-a por antecipatória, fica evidente que a tutela cautelar e a tutela antecipatória urgente não têm como ser providências essencialmente diversas. Não se está a falar de coisas distintas entre si como água e vinho. A divergência entre processualistas tão argutos só se põe precisamente porque estão tentando classificar objetos muito próximos entre si - situados em zona cinzenta, de fronteira. No CPC/1973, essas discussões não eram um simples capricho teórico. Como vigoravam regimes distintos para a tutela cautelar e a tutela antecipada, muitas vezes, a parte via-se prejudicada por haver requerido a medida pela via que o juiz reputa incorreta. O regime único estabelecido no CPC/2015 se não elimina, torna irrelevante parte dessas disputas. 42.5. Os limites da unidade de regime das medidas urgentes A previsão de estabilização de medida antecedente irrecorrida, na versão original do projeto do Código, seria aplicável tanto à tutela antecipada quanto à tutela cautelar concedidas em caráter preparatório. Na Câmara dos Deputados, passou-se a prever que apenas a tutela antecipada preparatória seria apta a estabilizar-se. A possibilidade de estabilização da tutela antecipada antecedente faz dela uma hipótese de tutela provisória significativamente distinta das demais. Porém, essa bipartição de regime jurídico não se presta a reforçar o discurso da dicotomia "cautelar x antecipatório". Não é o que se tem. Considerando-se a disciplina jurídico-positiva, a contraposição que se estabelece é entre tutela antecipada antecedente, de um lado, e, do outro, todas as demais modalidades de tutela provisória (tutela antecipada incidental, tutela cautelar incidental, tutela cautelar antecedente e tutela da evidência). A razão de se limitar a estabilização à tutela antecipada é facilmente identificável: não há sentido em se manter por tempo indeterminado uma providência meramente conservativa, que é o que se tem com a tutela cautelar. Mas os inconvenientes dessa distinção de regimes também são óbvios: haverá o recrudescimento das disputas classificatórias entre tutela cautelar e tutela antecipada, com o propósito de se afastar ou obter a estabilização. Na tentativa de diminuir tais disputas, o parágrafo único do art. 305 do CPC/2015 prevê que o juiz, ao considerar que uma tutela pleiteada em caráter antecedente como "cautelar" tem natureza antecipatória, deverá determinar seu processamento em conformidade com as regras do art. 303 do CPC/2015 (que poderão conduzir à estabilização). O CPC/2015, a exemplo do que fazia o CPC/1973 no art. 273, § 7.º, disse menos do que devia, pois tal controle deve ocorrer também na hipótese inversa: ao deparar-se com um pedido de tutela antecipada antecedente que a rigor tem natureza cautelar, o juiz deverá também corrigir o processamento da medida, de modo a excluir-lhe a possibilidade de estabilização. Mas há ainda problemas a resolver. Não havendo tal controle prévio pelo juiz, o pedido de tutela urgente antecedente processado pela via incorreta submeter-se-á aos efeitos jurídicos dessa via? Havendo o controle prévio pelo juiz, o entendimento por ele adotado é passível de posterior rediscussão (inclusive e especialmente se já tiver havido a estabilização)? 42.6. Normas gerais da tutela provisória Há um conjunto de diretrizes que se aplicam a todas as modalidades de tutela provisória - seja ela de urgência ou evidência, cautelar ou antecipatória, incidental ou antecedente. 42.6.1. Momento de concessão Como já indicado, a tutela urgente cautelar ou antecipatória pode ser pleiteada e concedida mesmo antes da formulação do pedido de tutela principal, inclusive liminarmente, inaudita altera parte (i.e., mesmo antes de citar-se o réu e ele ter a oportunidade de defesa). Não se previu procedimento de tutela da evidência em caráter antecedente. No curso do processo principal (modalidade incidental), a tutela urgente pode ser concedida inaudita altera parte. Se for o caso, o juiz pode determinar a realização de uma audiência de justificação prévia (art. 300, § 2.º, do CPC/2015) - ato que se pratica ainda antes da contestação do réu e que tem por objetivo unicamente aferir a presença dos pressupostos para a concessão da tutela provisória. A tutela da evidência, nas hipóteses dos incs. II e III do art. 311 do CPC/2015, também pode ser concedida liminarmente (art. 311, parágrafo único, do CPC/2015 - v. n. 42.10, adiante). Qualquer modalidade de tutela provisória pode ser concedida depois da contestação e a todo tempo. Até na própria sentença pode haver seu deferimento - o que equivale, no plano prático, a uma decisão judicial no sentido de que a apelação não seja recebida no efeito suspensivo, passando a sentença a produzir, desde logo, efeitos provisórios. Estando presentes os seus pressupostos, a tutela provisória pode ser concedida no Tribunal, se já tiver sido proferida a sentença de primeiro grau de jurisdição, e até mesmo nos Tribunais superiores, em fase de recurso especial ou extraordinário. 42.6.2. Modalidades processuais que comportam tutela provisória A lei não distingue os tipos de processo e as formas de tutela em relação às quais a tutela provisória pode ser concedida. Em princípio, ela é cabível em toda espécie de atuação jurisdicional cognitiva. Ela pode estar instrumentalmente ligada a um pedido principal de natureza condenatória, constitutiva, declaratória, mandamental ou executiva lato sensu. Mesmo quando o pedido principal é precipuamente declaratório, é concebível o emprego da tutela provisória, inclusive a antecipada. A antecipação nesse caso pode recair sobre efeitos práticosque adviriam da declaração ou mesmo sobre alguns aspectos dessa própria eficácia. Mais ainda, mesmo no processo executivo de título extrajudicial ou no cumprimento de sentença é viável a antecipação de tutela, desde que preenchidos todos os requisitos. Nos procedimentos especiais, em princípio, cabe também a tutela provisória. Como visto, na própria ação rescisória é possível a concessão de tutela urgente (art. 969 do CPC/2015 - n. 41.7.2, acima). A tutela provisória urgente pode também ser concedida nas ações possessórias, quando o autor não faz jus à liminar prevista no procedimento especial dessas ações, porque a ofensa à posse data de mais de "ano e dia" (art. 558 do CPC/2015). Nesse caso, embora não se possa aplicar o art. 563 do CPC/2015, é aplicável o regime do art. 300 e ss. do CPC/2015. A diferença reside em que, na hipótese do art. 563 do CPC/2015, basta ao autor provar sua posse anterior e a ofensa, para que obtenha a liminar ali prevista (que, a rigor, é uma hipótese específica de antecipação de tutela). Já se a ofensa data de mais de ano e dia, precisarão ser cumpridos os requisitos do art. 300 do CPC/2015, para que se antecipe a tutela. Estar-se-á utilizando, então, o poder geral de tutela urgente. 42.6.3. Competência Quando requerida incidentalmente, a tutela provisória é de competência do juízo perante o qual já tramita o processo. Ou seja, tal juízo estará prevento para a ação urgente. Quando for pleiteada em caráter antecedente, deve ser dirigida ao juízo que seria competente para o pedido principal (art. 299 do CPC/2015). Esse, por sua, vez, quando vier a ser formulado, será apresentado ao juízo em que já estiver tramitando a medida urgente (que será, portanto, o juízo prevento). Em casos de extrema urgência, pode a medida ser requerida perante qualquer juízo, passando-se por cima, se necessário for, até de regras de competência absoluta. Em casos assim, é claro, não se dará a prevenção. Ademais, posteriormente, se e quando encaminhado o processo ao juízo competente, caberá a esse ratificar ou não a medida urgente antes concedida. Em face do art. 299, parágrafo único, do CPC/2015, a competência para a tutela provisória pleiteada depois de proferida a sentença é do Tribunal. No entanto, diante da extrema urgência da situação, enquanto o processo principal ainda não tiver subido ao segundo grau, deve-se excepcionalmente admitir que se peça a medida cautelar ainda ao juiz de primeira instância. Por outro lado, o próprio art. 299, parágrafo único, do CPC/2015, ressalva a possibilidade de regras especiais estabelecerem outras definições de competência. Assim, depois de julgado o recurso ou a ação originária pelo Tribunal, caso caiba recurso especial ou extraordinário, o pedido de tutela provisória deve ser dirigido: "(I) ao Tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-lo; (II) ao relator, se já distribuído o recurso; (III) ao Presidente ou ao Vice-Presidente do Tribunal recorrido, no período compreen dido entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037" (art. 1.029, § 5.º, do CPC/2015, na redação dada pela Lei 13.256/2016). Essa previsão normativa coincide com as diretrizes que o Supremo Tribunal Federal havia anteriormente estabelecido nos enunciados de Súmulas 634 e 635. 42.6.4. Impossibilidade de concessão de ofício - Legitimação A concessão da tutela provisória, em princípio, depende de pedido da parte interessada (arts. 295, 303, 305 do CPC/2015 etc.). Como já indicado, tal pedido constitui uma demanda da parte, uma ação - compreendida essa como um requerimento de tutela jurisdicional. Não bastassem as regras que direta ou indiretamente aludem à necessidade de pedido do interessado, a tutela provisória normalmente não pode ser concedida de ofício porque se impõe à parte que dela se beneficia um risco. A parte beneficiada pela providência provisória terá de responder objetivamente pelos danos causados ao adversário, se posteriormente a medida for cassada, reformada ou revogada (art. 302 do CPC/2015 - v. n. 46.6.12, abaixo). Então, cabe à parte a escolha quanto a assumir esse risco. No CPC/1973, essa era também a clara diretriz para a tutela antecipada. Mas, para a tutela cautelar, o art. 797 daquele diploma consagrava a possibilidade excepcional da adoção de medidas cautelares de ofício, em outros casos além daqueles em que já houvesse regra expressa a respeito. Não existe dispositivo equivalente a esse no CPC/2015. Então, mesmo a tutela cautelar, em regra, não pode ser concedida de ofício. O juiz apenas poderá determinar uma medida acautelatória sem pedido do interessado nos casos em que houver explícita autorização legal. A doutrina apresenta como exemplos nesse sentido os arts. 923 (providências cautelares na execução suspensa) e 864 do CPC/2015(seguro obrigatório de navios ou aeronaves penhorados, para que o juiz autorize que eles voltem a operar). Assim, em princípio, o pedido de tutela provisória cabe ao autor (da demanda principal). Autor é quem formula a pretensão, quem traça os limites e determina os contornos da lide. Mas lembremos de que autor, no processo, é além daquele que apresenta a petição inicial, o denunciante (em relação ao denunciado), o reconvinte, o que apresenta ação declaratória incidental de falsidade, o assistente litisconsorcial do autor etc. O assistente simples e o Ministério Público (na mera condição de fiscal da lei) podem também formular pedido de tutela provisória, mas, tratando-se de tutela antecipada, a antecipação dos efeitos da sentença beneficiará o autor, que requereu a tutela principal que se está antecipando, e não diretamente a eles, assistente e MP. O réu, em regra, nada pede senão a improcedência do pedido de tutela formulado pelo autor (v. vol. 1, n. 12.2). Então, normalmente, não lhe cabe pleitear antecipação de tutela. Apenas nas ações dúplices (i.e., aquelas que podem igualmente propiciar tutela jurisdicional para o autor ou para o réu, como a consignação em pagamento ou a ação de exigir contas - v. vol. 4, cap. 3), o réu pode pedir que se antecipe tutela. Fora dessa hipótese, é pouco comum que se ponha concretamente uma situação em que o réu tenha interesse jurídico para pedir alguma modalidade de tutela antecipada (poder-se-ia cogitar da alienação antecipada de bens, na execução - v. vol. 3, cap. 9). A tutela cautelar submete-se a similares parâmetros. No entanto, como sua função precípua não é a de adiantar a tutela final, podem conceber-se, ainda que também excepcionalmente, mais situações em que haja interesse processual do réu em pedir medida cautelar (por exemplo, para a preservação de uma prova). 42.6.5. Reversibilidade A tutela provisória deve ser reversível, isto é, as suas consequências de fato devem ser reversíveis, no plano empírico. Deve ser possível o retorno ao status quo ante. A lei estabelece explicitamente essa exigência para a tutela de urgência antecipada (art. 300, § 3.º, do CPC/2015). Essa é também uma condição para a tutela cautelar: nessa hipótese, a lei apenas não a indica expressamente porque pressupõe que, por ser conservativa, a tutela cautelar nem sequer poderia tender à irreversibilidade. Mas o risco se põe (por exemplo, o sequestro "conservativo" de um produto ou bem que precisaria ser utilizado em um evento específico, poderia produzir resultados irreversíveis...) - e o limite também. De resto, não há motivos para não se aplicar o limite da reversibilidade à tutela (antecipada) da evidência. Ela também é provisória e instrumental - e, por isso, também deve ser reversível. A reversibilidade que exige a lei pode ser in natura, o que é sempre preferível. O que se deseja é que seja possível a volta ao statusquo ante, que haja reposição do estado das coisas tal quais essas existiam antes da providência. Mas também pode ser considerado reversível a tutela provisória toda vez que puder haver indenização e que essa seja capaz de efetivamente compensar o dano sofrido. Sabe-se, porém, que isso nem sempre ocorre. Há danos que, rigorosamente, não são substituíveis por pecúnia. Pense-se, por exemplo, na destruição de um imóvel urbano. A indenização pode se prestar a custear a reconstrução de outro equivalente. Isso não ocorreria, se se tratasse de imóvel cuja construção datasse de 1900. Só em casos como estes, e em mais graves, é que se considera que o dano seria irreversível a ponto de evitar a concessão da medida. Ainda assim, em certos casos, cabe aplicar a proporcionalidade (v. vol. 1, n. 3.24), pela qual devem ser ponderados os bens jurídicos postos em risco de cada lado, caso se conceda ou não a medida. Isso poderá conduzir à conclusão de que, ainda que esteja em questão um interesse rigorosamente não indenizável, deve conceder-se a antecipação. Assim, ainda que se trate de imóvel de valor histórico, se, ao que tudo indica, está ameaçando ruir e representa perigo a pessoas, deve-se sacrificar um direito provável em detrimento de um direito improvável, e conceder a medida, apesar de inexistir reversibilidade no plano empírico. 42.6.6. Mutabilidade e revogabilidade A provisoriedade das medidas aqui examinadas deriva de que elas são destinadas a durar apenas o tempo necessário para tutelar uma situação de emergência ou até que sobrevenha o pronunciamento principal, a que estão instrumentalmente ligadas. Cessam sua eficácia tão logo desapareça a urgência em razão da qual foram concedidas ou na medida em que se desfaça a plausibilidade do direito antes configurada. O art. 296 do CPC/2015 alude à possibilidade de que a decisão concessiva da tutela provisória seja alterada ou revogada pelo juiz, a qualquer tempo, em decisão fundamentada (art. 298 do CPC/2015). Ainda que sem equivalente regra expressa, a hipótese inversa também é admissível. O indeferimento da tutela provisória também pode ser revisto pelo próprio órgão prolator da decisão anterior. Mas a modificação ou alteração da tutela provisória, assim como a concessão daquela antes denegada, só pode ter lugar se a situação de fato subjacente ao processo também se alterar e fizer com que, por exemplo, desapareçam os pressupostos da manutenção da medida concedida, ou surjam os pressupostos que determinem a sua concessão. Assim, e a rigor, não se pode dizer que a decisão é propriamente alterada, nessa hipótese. O que se tem é a prolação de outra decisão, para outra situação. Alterados os fatos e (ou) o quadro instrutório em que se tenha embasado a decisão anteriormente proferida, outra deverá ser prolatada em seu lugar. Não é possível a alteração da decisão concessiva ou denegatória da tutela provisória apenas porque o juiz mudou de ideia (ressalvada a possibilidade de juízo de retratação em agravo de instrumento eventualmente interposto). Nesse sentido, opera preclusão consumativa dos poderes do juiz (vol. 1, n. 31.3), ao deferir ou indeferir a tutela provisória. É necessária a alteração dos fatos e (ou) do quadro probatório para que outra decisão a respeito do tema possa ser proferida. Em suma, a parte final do art. 296 do CPC/2015, não significa permissão para que o juiz altere sua decisão, de acordo e em consonância com a variação de sua opinião, sem provocação (técnica) da parte. Esse dispositivo significa apenas a permissão de que o juiz inverta ou modifique a sua decisão em função das alterações que podem ter lugar no plano dos fatos (externos ou internos ao processo), adequando, assim, a sua decisão à existência e à subsistência dos pressupostos que terão autorizado a concessão da medida. Fora dessa hipótese, a alteração da decisão antecipadora da tutela só pode ocorrer quando, mediante a interposição de agravo, o juiz exerça o juízo de retratação. 42.6.7. Fundamentação da decisão A decisão que defere, indefere, modifica ou revoga tutela provisória deve ser fundamentada. Não bastassem as regras gerais dos art. 93, IX, da CF/1988, e dos arts. 11 e 489, §§ 1.º e 2.º, do CPC/2015, tal determinação é reiterada no art. 298 do Código. O realce dado à necessidade fundamentação deve-se à relevância e gravidade da decisão sobre a tutela provisória. Sua concessão pode gerar efeitos gravosos à parte contra quem ela é deferida - no mais das vezes, sem que se tenha ainda dado a essa parte a oportunidade de integral exercício do contraditório e da ampla defesa. Mas sua denegação, nos casos em que seria necessária, também pode ser causadora de graves danos. Por isso, enfatiza-se a necessidade da fundamentação. Para definir se a medida é cabível no caso concreto, o juiz invariavelmente terá de ponderar princípios jurídicos conflitantes (v. n. 42.1 e 42.6.5, acima). Para tanto, o juiz deverá observar especialmente a regra do art. 489, § 2.º, do CPC/2015: "No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão". 42.6.8. Impugnabilidade A decisão que concede a tutela provisória liminarmente ou no curso do processo, em primeiro grau de jurisdição, é interlocutória (art. 203, § 2.º, do CPC/2015). Esse é um dos casos em que a decisão interlocutória é objeto de agravo de instrumento (art. 1.015, I, do CPC/2015). O mesmo se aplica às decisões que, no curso do processo em primeiro grau, indeferem, revogam ou modificam a tutela provisória. Se a tutela provisória é concedida, denegada, revogada ou modificada na sentença, cabe apelação, tanto quanto contra os demais capítulos decisórios contidos nesse pronunciamento (art. 1.009, caput e § 3.º, do CPC/2015). A apelação contra esse capítulo sentencial não tem efeito suspensivo (art. 1.012, § 1.º, V, do CPC/2015). A decisão sobre tutela provisória emitida pelo relator do recurso ou da ação originária comporta agravo interno (art. 1.021 do CPC/2015). Quando órgão colegiado do Tribunal, em acórdão, pronuncia-se sobre a tutela provisória, em tese, cabe recurso especial ou extraordinário, conforme seus específicos pressupostos. O Supremo Tribunal Federal editou enunciado de Súmula 735, no sentido de que "não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida liminar". "Medida liminar", nesse enunciado, tem o sentido de tutela provisória. Tal orientação funda-se no argumento de que na decisão sobre a tutela provisória não haveria um pronunciamento definitivo sobre as questões jurídicas ali enfrentadas. A precariedade e provisoriedade do juízo então emitido seriam incompatíveis com a exigência de esgotamento das vias ordinárias, típica dos recursos extraordinários lato sensu. No entanto: (i) há casos em que a decisão concessiva ou denegatória da medida urgente veicula já um peremptório juízo acerca da questão de fundo; e (ii) a decisão sobre tutela provisória também envolve juízos acerca de normas relativas à forma, modo e condições de concessão da medida urgente. Relativamente a tais aspectos, a decisão nada tem de provisória - e há de ser controlável por recurso extraordinário quando configurada a específica hipótese de cabimento. 42.6.9. Execução A decisão concessiva da tutela provisória é desde logo passível de efetivação prática. A lei determina que se apliquem no que couberem, as regras sobre execução provisória (art. 297, parágrafo único, do CPC/2015). Mas essa previsão de aplicação subsidiária deve ser corretamente compreendida. Não significa que a efetivação da tutela antecipada irá submeter-se a um processo executivo ou mesmo ao cumprimento de sentença. Pelo contrário, no mais das vezes, na medida em que a urgência da situação e as peculiaridades do bem jurídico assim o exijam, o provimento antecipatórioterá força mandamental e (ou) executiva. Isso significa que ele será efetivado no próprio processo em que proferido, através de medidas atípicas de substituição da conduta da parte contra a qual se antecipou a tutela (eficácia executiva) ou de ordens contra essa mesma parte (eficácia mandamental). O art. 297, caput, do CPC/2015, explicita que "o juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas para efetivação da tutela provisória". Nessa linha, a remissão à execução provisória presta-se a destacar que não é definitivo o resultado prático estabelecido pela tutela antecipada. As providências concretas efetivadas com base na decisão antecipatória poderão vir a ser desfeitas, se o provimento final do processo for contrário à parte que obtivera a tutela antecipada. 42.6.10. Cessação de eficácia A tutela provisória cessa sua eficácia quando: (i) concedida em caráter antecedente, o autor deixa de propor a demanda principal no prazo devido (arts. 303, § 2.º, e 309, I, do CPC/2015). Como já se viu antes, esse prazo é diferente conforme a tutela urgente seja antecipatória ou cautelar. O tema é retomado adiante (n. 42.8.5 e n. 42.9.5). Além disso, o ônus de formulação de demanda principal desaparece, no procedimento de tutela antecipada antecedente, quando o réu deixa de recorrer da decisão concessiva da medida. Nesse caso, se o prazo para a formulação do pedido principal ainda não havia decorrido, deixa de existir tal ônus. Caso contrário, se esse prazo já estava exaurido sem o cumprimento do ônus pelo autor antes mesmo do fim do prazo para o réu recorrer da tutela provisória, cessa a eficácia dessa, sem que o réu precise desincumbir-se de seu ônus; (ii) uma vez concedida, não for efetivada no prazo de trinta dias (art. 309, II, do CPC/2015). Essa regra foi explicitada apenas para a tutela cautelar antecedente, mas aplica-se a todas as demais modalidades de tutela provisória (tutela da evidência; tutela antecipada incidental e antecedente; tutela cautelar incidental). Não há razões para diferenciação nesse caso. Mas a cessação de eficácia apenas é aplicável quando a ausência de efetivação da medida puder ser imputada ao autor. Se ele adota as providências que lhe cabiam e, ainda assim, não se efetiva a medida, ele não pode ser prejudicado por isso; (iii) a sentença relativa à pretensão principal, seja ela de mérito ou não, for desfavorável ao requerente da tutela provisória (art. 309, III, do CPC/2015). Inclui-se aqui a hipótese em que o juiz reconhece haver prescrição ou decadência relativamente ao objeto do pedido principal (art. 302, IV, do CPC/2015). Já se o julgamento da pretensão principal for favorável ao autor da cautelar, no mais das vezes permanecerá vigorando a medida cautelar, a fim de assegurar a eficácia da própria execução da sentença no processo principal. O resultado desfavorável relativamente à pretensão principal pode ocorrer no próprio processo em que se requereu a tutela provisória - seja porque essa foi obtida em caráter antecedente e depois foi formulado o pedido principal; seja porque, ainda na fase processual da tutela antecedente, o juiz reconheceu haver prescrição ou decadência em relação ao objeto do pedido principal; seja ainda porque ela foi obtida em caráter incidental. Mas o resultado desfavorável ao requerente da tutela provisória pode ainda ocorrer em outro processo, na hipótese em que a tutela antecipada antecedente estabilizou-se. Mesmo quando há estabilização, ainda é possível que qualquer das partes proponha, no prazo de dois anos, demanda relativa ao objeto da tutela principal (art. 304, §§ 2.º e 5.º, do CPC/2015). Se, em tal ação, o julgamento de mérito for desfavorável àquele que havia obtido a tutela antecipada, ou se for reconhecido um vício processual que também a atingiria (por exemplo, coisa julgada, ilegitimidade ativa...), cessa a eficácia da medida urgente (art. 304, §§ 3.º e 6.º, do CPC/2015). (iv) por qualquer razão, o processo for extinto ainda na fase da tutela urgente antecedente, antes da ocorrência de qualquer dos eventos acima indicados. Por outro lado, se o processo for suspenso, em princípio, nem por isso cessará a eficácia da tutela provisória (art. 296, parágrafo único, do CPC/2015). 42.6.11. Proibição de repetição - Inatingibilidade do pedido principal Cessada a eficácia da medida, a demanda de tutela provisória não pode ser reproposta. Apenas se admitirá novo pedido com outro fundamento (art. 309, parágrafo único, do CPC/2015). Eis outra regra que, conquanto explicitada apenas para a tutela cautelar antecedente, aplica-se a todas as modalidades de tutela provisória. Há quem sustente tratar-se de coisa julgada, e o "novo fundamento" em questão haveria de ser uma nova causa de pedir. Compara-se tal regra com a do art. 505, I, do CPC/2015, que alude à "modificação no estado de fato ou de direito". Na hipótese do art. 505, I, do CPC/2015, o que se tem é, mesmo, uma nova causa de pedir. Todavia, a expressão "novo fundamento" parece ter maior abrangência. Diz respeito não apenas a nova causa de pedir. Atinge inclusive novos elementos instrutórios, antes não apresentados, mas atinentes aos mesmos fatos (e sem que tenha havido mudança das regras jurídicas). Abrange inclusive novos argumentos e alegações. Mas a autorização da repropositura em vista de novos elementos instrutórios (jurídicos e fáticos) só faz sentido quando a extinção anterior houver ocorrido por insuficiência de tais elementos. Então, nos casos em que a rejeição do pedido de tutela provisória se der por falta de elementos instrutórios, é viável nova formulação do mesmo pedido (sem necessidade de nova causa de pedir): bastam novos subsídios instrutórios (provas, argumentos etc.). Nos demais casos, há o veto do art. 309, parágrafo único, do CPC/2015, que é mais amplo até do que a coisa julgada, pois atinge inclusive hipóteses em que a cessação da eficácia da tutela provisória não se deu por rejeição do pedido cautelar no seu mérito (exemplo: falta de propositura da ação principal no prazo devido) - veto esse que, de todo modo, não atingirá outro pedido cautelar fundado em nova causa de pedir. No mais, o efeito do art. 309, parágrafo único, do CPC/2015, não atinge a pretensão principal. Como a cognição relativamente a ela é apenas superficial, não cabe cogitar de coisa julgada (v. n. 40.1.4). A rejeição da tutela provisória apenas obsta a propositura da ação principal quando o juiz acolher alegação de decadência ou prescrição do direito ou pretensão principais, respectivamente (art. 310 do CPC/2015). Essas questões podem ser conhecidas com suficiente profundidade para que se forme a coisa julgada material. 42.6.12. Responsabilidade objetiva Cessada a eficácia da tutela provisória, o requerente tem responsabilidade objetiva relativamente aos danos causados ao requerido, caso não tenha o direito que desde o início afirmou ter (art. 302 do CPC/2015). Mais uma vez, trata-se de regra aplicável a todas as espécies de tutela provisória, ainda que expressamente inserida na disciplina da tutela provisória urgente. Responsabilidade objetiva é aquela que se verifica independentemente de haver culpa ou dolo, sendo necessário exclusivamente nexo causal entre fato e prejuízo. Então, o requerente da tutela provisória assume o risco de ressarcir, ao adversário, todos os prejuízos produzidos pela concessão e a execução da providência urgente, quando essa vier a ser extinta por um ato ou omissão imputável ao autor da medida ou por se constatar que ele não tem o direito antes reputado plausível. E, para tanto, é irrelevante que o requerente da medida tenha agido de boa ou má-fé, com ou sem dolo ou culpa. Aliás, se tiver havido litigância de má-fé responderá também, cumulativamente, pelas penalidades imputáveis a tal conduta (conforme explicita a parte inicial do art. 302 do CPC/2015). Nos termos do parágrafo único do art. 302 do CPC/2015,"a indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que possível". Isso significa que não se faz necessária uma ação própria para a obtenção do ressarcimento. Mais do que isso, é desnecessário qualquer requerimento do réu da demanda de tutela provisória para obter tal condenação em seu favor - e a imposição da responsabilidade em exame também independe de expressa determinação do juiz. Para que se estabeleça o dever de indenizar, basta não haver mais recurso contra a decisão (de primeiro ou segundo grau, interlocutória ou final) que casse, reforme ou revogue a tutela provisória, implícita ou explicitamente. A condenação do requerente ao pagamento dessa indenização é um efeito anexo, automático, da própria decisão que implique a cessação de eficácia da medida. Mais complexa é a questão da responsabilidade objetiva naqueles casos, excepcionais, em que a tutela urgente houver sido decretada de ofício (v. n. 42.6.4). Parte da doutrina entende que, sendo a responsabilidade objetiva, é irrelevante que o beneficiário da medida a tenha pleiteado ou não. A finalidade da regra é assegurar o ressarcimento do adversário, prejudicado pela cautelar. No entanto, pode-se contra-argumentar que a responsabilidade objetiva apenas se justifica como um risco assumido por quem requer a tutela provisória. Se a parte optou por pleiteá-la, cabe-lhe responder objetivamente, pouco importando se agiu de boa ou má- fé. Ou seja, a responsabilidade objetiva independe de culpa, mas não dispensa a imputabilidade do resultado danoso ao sujeito (nexo de causalidade). Já quando a medida tiver sido deferida pelo juiz, não houve a assunção de tal risco. Diante disso, são cogitáveis duas hipóteses, não excludentes: (i) o prejudicado pela medida deve ser ressarcido pelo Estado (que também responde objetivamente); (ii) se o beneficiário da medida, mesmo não a requerendo, teve com ela um ganho econômico, responde, na proporção de seu ganho, perante o prejudicado ou regressivamente perante o Estado (não por força do art. 302 do CPC/2015, mas com base na regra que veda o enriquecimento sem causa). 42.7. Normas gerais da tutela urgente Há um conjunto de diretrizes aplicáveis a todas as modalidades de tutela urgente (antecipada ou cautelar e, em ambas as hipóteses, antecedente ou incidental). 42.7.1. Pressupostos A concessão da tutela urgente subordina-se aos requisitos da probabilidade do direito e do perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo (art. 300, caput, do CPC/2015). Tradicionalmente esses dois pressupostos são designados pela doutrina por expressões latinas: fumus boni iuris ("aparência do bom direito") e periculum in mora (perigo na demora), respectivamente . 42.7.1. 1. Probabilidade do direito A rigor, todo julgamento funda-se em plausibilidade. Todo juízo é de verossimilhança, pois uma verdade absoluta é humanamente inatingível. Mas no dispositivo em questão, o termo "probabilidade" está empregado para designar um grau de convicção menor do que o suposto para o julgamento final. A plausibilidade do direito é o juízo possível de se extrair da cognição sumária, não exauriente, superficial (cap. 2, acima). Quem decide com base em fumus boni iuris não tem necessariamente conhecimento pleno e total dos fatos nem soluções jurídicas aplicáveis ao caso e, portanto, ainda não precisa ter formado plena convicção quanto a qual seja o direito aplicável. Justamente por isso é que, por ocasião do exame do pedido de tutela provisória, em princípio nada se decide acerca do direito da parte. Decide-se: se A tiver o direito que alega ter (o que é provável), deve-se conceder a medida pleiteada, sob pena do risco de, não sendo ela concedida, o processo principal não poder ser eficaz (porque, por exemplo, o devedor não terá mais bens para satisfazer o crédito). O juízo de probabilidade dos aspectos fáticos da alegação do autor pode fundar-se em prova de qualquer espécie. Não há limitação à prova documental (diferentemente do que se passa, por expressa disposição, no processo monitório ou na tutela de evidência fundada no art. 311, II a IV, do CPC/2015). Evidentemente, na medida em que o procedimento avança, novas provas vão sendo incorporadas ao processo - o que tende a facilitar a formação do juízo sobre os fatos. Lembre-se que a tutela antecipada pode ser deferida em todas as fases do processo (v. acima). Mas mesmo antes da fase instrutória, é concebível que o autor, além de apresentar prova documental, traga prova de outra espécie (por exemplo, prova pericial ou oral produzida antecipadamente ou trazida de empréstimo de outro processo entre as mesmas partes: nesse caso, a prova será retratada sob a forma documental, mas mantém algo do seu valor originário; ou, ainda, pode apresentar laudos técnicos feitos particularmente, que, por sua unilateralidade, valem menos do que a prova pericial judicial, mas podem servir para o juízo provisório almejado). É viável inclusive a produção de prova oral, dentro do próprio processo, na sua fase inicial, mediante procedimento simplificado de justificação prévia (art. 300, § 2.º, do CPC/2015 - n. 42.6.1, acima). Do mesmo modo, é admissível uma inspeção judicial em caráter urgente. Na atividade de cognição sumária que então desenvolve, o juiz haverá de tomar em conta inclusive as máximas da experiência aplicáveis ao caso concreto e a maior ou menor dificuldade de produção probatória tendo em vista também as circunstâncias concretas. A formação de juízo de verossimilhança favorável ao autor depende não apenas da razoável probabilidade de existirem os fatos por ele invocados, mas também da plausibilidade de que o direito, as normas jurídicas, amparem-no tal como ele pretende. Afirma-se que o "direito o juiz conhece" ( iura novit curia) - o que é correto no sentido de que a instrução jurídica, a definição das normas aplicáveis, deve ser feita inclusive de ofício, com o juiz não se vinculando àquelas invocadas pelas partes. Mas isso não significa que o juiz, de pronto e automaticamente, tenha a resposta imediata para todas as questões estritamente jurídicas. Isso não corresponde à realidade. Mesmo as questões alheias à controvérsia fática precisam muitas vezes ser avaliadas e meditadas pelo juiz no curso do processo. Então, mesmo em relação às questões jurídicas, pode-se falar em um "juízo provisório". 42.7.1. 2. Perigo na demora ou perigo de danos irreparáveis ou de difícil reparação O segundo requisito é o do periculum in mora (perigo na demora ou perigo de danos irreparáveis ou de difícil reparação). É significativo da circunstância de que ou a medida é concedida quando pleiteada ou, depois, de nada mais adiantará a sua concessão. O risco da demora é o risco da ineficácia. Retorne-se ao exemplo antes dado: o suposto devedor está se desfazendo de todo o seu patrimônio, de modo que, de nada adiantará o autor, pretenso credor, ser vitorioso na ação de cobrança dali a dois ou três anos, pois, se nada for feito agora, a futura execução fracassará, por não haver mais bens para responder pela possível dívida. Cabe avaliar em que medida é onerosa, lesiva, ao autor a demora para obter apenas no final do processo o resultado perseguido (perigo na demora) ou em que medida a realizabilidade concreta do possível direito da parte corre riscos, de modo que se façam necessárias medidas que resguardem a viabilidade prática daquele resultado futuro (perigo de danos irreparáveis ou de difícil reparação). A simples possibilidade de futuro ressarcimento pecuniário, em prol do autor, não afasta, por si só, a caracterização do "dano irreparável ou de difícil reparação". Cumpre considerar a utilidade específica do bem de vida pretendido: direitos sem conteúdo patrimonial (direitos personalíssimos), ou em que esse conteúdo não constitui a utilidade principal almejada pelo seu titular, não serão adequadamente reparados no futuro mediante simples ressarcimento(exemplo: o autor pede tutela urgente que impeça a prática de ato que poderá violar gravemente seu direito à intimidade). Nesse sentido, no âmbito dos deveres e obrigações não monetários (fazer, não fazer e entrega de coisa), há norma explícita consagrando a absoluta preferência pelo resultado específico e relegando a conversão em perdas e danos à excepcionalidade (art. 499 do CPC/2015). Desaparecendo a posterior utilidade da prestação específica, ter-se-á frustrado essa diretriz. Isso é particularmente grave na esfera dos deveres de não fazer (por exemplo, o dever de não divulgar um segredo industrial: uma vez violado, não há retorno, pois se já não é mais segredo, não tornará a sê-lo) e dos deveres de fazer com momento específico para ser cumprido (por exemplo, se uma empresa foi contratada para prestar um serviço específico em uma festa, em determinada data, hora e local, de nada adiantará o cumprimento tardio dessa obrigação). O art. 499 do CPC/2015, de todo, não faz mais do que explicitar um dos aspectos da garantia fundamental da tutela jurisdicional (delineado na célebre máxima de que "o processo deve dar a quem tem direito tudo aquilo e exatamente aquilo a que tem direito"). Por essa razão, no âmbito da tutela preventiva (i.e., aquela que opera antes da violação do direito, a fim de impedi-la), o perigo na demora não deve ser avaliado a partir da perspectiva de que ocorram propriamente danos. Verificado, mediante indícios, o fundado receio de que a violação possa ocorrer, estará cumprido o requisito. Será despiciendo cogitar dos danos que derivariam da violação, uma vez que a própria violação já implicará sacrifício para o titular do direito (art. 497, parágrafo único, do CPC/2015). É evidente, também, que, na medida em que os possíveis danos já se anunciem claramente, reforçar- se-á mais ainda o requisito do perigo na demora. Mas isso é dispensável para o preenchimento desse pressuposto. Nas ações em que se busca o próprio ressarcimento de um dano já ocorrido, o perigo na demora deve ser avaliado tendo em conta a necessidade que a parte tem de receber a prestação supostamente devida. Por exemplo, considere-se a hipótese em que o ressarcimento é imprescindível para custear a manutenção ou subsistência de bens jurídicos relevantes (direito a alimentos; preservação de um imóvel com relevante valor histórico etc.). 42.7.1. 3. Ausência de gradação abstrata entre os requisitos para a tutela 42.7.1. 3. Ausência de gradação abstrata entre os requisitos para a tutela urgente É frequente a afirmação de que a tutela antecipada se submeteria sempre a requisitos mais rigorosos do que a tutela cautelar, sob a premissa de que ela seria sempre mais gravosa para o réu do que a medida acautelatória. É correta a ideia de que quanto mais grave for a medida, mais intensos devem ser o perigo de danos à plausibilidade do direito (v. item seguinte). Mas a premissa não é verdadeira. Tanto a medida conservativa quanto a antecipatória podem revestir-se de especial gravidade para o réu. A diferença entre as duas não está no grau de sacrifício que impõem ao requerido, mas no tipo de providência que outorgam ao seu beneficiário. Assim, inúmeras providências cautelares estritamente conservativas são tão ou mais gravosas e drásticas do que as providências de antecipação de tutela (exemplo: o sequestro dos bens constitutivos da garantia real vinculada à cédula de crédito rural, quando estes correspondem à totalidade ou à grande parte da produção do devedor). 42.7.1. 4. Balanceamento O fumus boni iuris deverá ser balanceado, ponderado, com o periculum in mora, de modo que, diante de situações em que há risco de danos mais graves, o juiz poderá contentar-se com um menor grau de verossimilhança - e vice-versa. Mas deve-se acrescentar mais um fator a essa ponderação: a consideração do gravame que a concessão de medida gerará para a parte adversária - e tudo isso envolve a consideração da essencialidade dos bens jurídicos envolvidos, especialmente à luz dos valores constitucionais. Mais uma vez, trata-se de considerar o critério da proporcionalidade (vol. 1, n. 3.24). 42.7.2. Caução Conforme o art. 300, § 1.º, do CPC/2015, o juiz pode condicionar a concessão da medida urgente a uma prestação de caução pelo autor. A caução pode ser real (oferta de um bem em garantia) ou fidejussória (garantia pessoal, fiança). A caução do autor desempenha o papel de contracautela. Ou seja, o autor oferta a caução como uma garantia para o ressarcimento de eventuais danos acarretados pela medida cautelar, na hipótese de essa vir a ser revogada ou extinta. Então, ela também tem caráter cautelar. Mas nem toda concessão de medida urgente fica necessariamente condicionada à prestação de caução pelo autor. Caberá ao juiz considerar as circunstâncias concretas: os riscos de geração de danos graves com a concessão da medida; os bens jurídicos que serão protegidos pela medida, em cotejo com a possibilidade de o autor prestar caução (sua capacidade econômica) etc. Novamente, trata-se de sopesar os princípios jurídicos concretamente envolvidos. O próprio art. 300, § 1.º, do CPC/2015, dispensa a prestação de caução pela parte que, por não ter condição econômica (hipossuficiência econômica), não possa prestá-la. A decisão sobre o tema deve ser fundamentada (art. 93, IX, da CF/1988; arts. 11 e 489, §§ 1.º e 2.º, do CPC/2015). Como se trata de uma decisão sobre tutela provisória, ela é agravável (art. 1.015, I, do CPC/2015). 42.7.3. Modalidades de tutela urgente As medidas urgentes podem servir para: (i) adiantar uma produção probatória, em relação ao seu momento processual oportuno (exemplo: produção antecipada de provas, exibição de documentos, justificação...); (ii) resguardar a possibilidade de concreta realização do provimento final, mediante a conservação de bens ou de um estado jurídico (exemplo: sequestro, arresto, atentado, arrolamento...); (iii) determinar contracautela a fim de evitar danos que possam advir de outro provimento sumário e provisório (caução - n. 42.7.2, acima); (iv) antecipar total ou parcialmente os efeitos do provimento final, a fim de evitar danos irreparáveis a uma das partes. As três primeiras hipóteses são cautelares. A quarta é antecipatória. O primeiro grupo de medidas, acima, das cautelares probatórias, hoje é objeto de disciplina própria na parte do Código dedicada às provas. Elas são pleiteadas e obtidas mediante ações que podem ter outras finalidades além da acautelatória (v. cap. 19, acima). O segundo grupo constitui a hipótese mais relevante, em termos práticos, de medidas cautelares. No CPC/1973, muitas dessas medidas (todas as citadas exemplificativamente acima) eram objeto de ações cautelares especiais (medidas cautelares "típicas"). O CPC/2015 aboliu as cautelares típicas. Mas o art. 301 do CPC/2015 alude, a título exemplificativo, à várias dessas medidas: "A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito". O Código não define essas medidas. Mas elas devem ser compreendidas à luz da tradição jurídica brasileira. Ou seja, cabe considerar a definição funcional que elas tinham no Código anterior, para assim conferir-se um sentido útil à atual disposição normativa. Assim, o arresto tem por usual finalidade assegurar o sucesso de futura execução por quantia certa, em hipóteses em que há motivo plausível para se temer uma dilapidação de patrimônio por parte do suposto devedor. A medida consiste na apreensão de bens penhoráveis do possível devedor, para que eles fiquem desde logo afetados ao procedimento executivo que provavelmente ocorrerá no futuro. O sequestro normalmente se presta a garantir futura tutela para entrega de coisa, fundada em direito real ou obrigacional. Por isso mesmo, o objetosobre o qual a medida recai é um bem determinado ou determinável (ou, quando menos, frutos ou rendimentos de determinado bem). O arrolamento de bens é medida que se aproxima, de algum modo, do sequestro. Mas a principal diferença está na circunstância de que, no arrolamento, não há a exata especificação do bem ou bens que se pretende que sejam conservados, pois a medida alcança todos os bens que integram determinada universalidade. Assim, antes que haja a constrição, é necessária a descrição minuciosa, pelo depositário, de todos os itens que integram o patrimônio do réu. Outro traço diferenciador reside em que, no sequestro, a única intenção do autor é conservar a coisa e, no arrolamento, além de conservar, existe a intenção de conhecer com precisão todos os bens. O protesto contra alienação de bens presta-se à formulação de uma advertência no sentido de que, no entender do notificante, se determinados bens forem alienados, tal negócio jurídico será inválido ou ineficaz. Tal comunicação é dirigida não apenas para aquele que pode vir a alienar os bens. Serve também para advertir terceiros, potenciais adquirentes do bem. Se de antemão já se conhecem esses terceiros ou alguns deles, em princípio, caberá intimá-los pessoalmente. Porém, no mais das vezes, ignoram-se quem sejam os possíveis adquirentes do bem - hipótese em que se lançará mão da publicação de editais. Até esse ponto, tem-se simples medida de jurisdição voluntária: uma modalidade especial de notificação. Mas se tornou comum que o requerente peça também ao juiz a averbação de tal protesto na matrícula do bem, no registro imobiliário. Nessa hipótese, a medida deixa de ter caráter de mero procedimento de jurisdição voluntária. Assume a feição de uma verdadeira medida cautelar - e, como tal, seguirá as normas aqui estudadas: caberá ao juiz aferir a presença dos requisitos do periculum in mora e do fumus boni juris, instaurar-se contraditório e assim por diante. 42.8. Tutela cautelar antecedente Como indicado, se a parte necessita de proteção urgente, mas ainda não pode ou não quer desde logo formular sua pretensão principal, ela pode promover uma demanda cautelar preparatória (art. 305 e ss. do CPC/2015). 42.8.1. Petição inicial Na petição inicial, além de observar os requisitos gerais dessa peça (art. 319 do CPC/2015 - cap. 4, acima), a parte tem o ônus de descrever sumariamente o direito que se busca assegurar ( fumus boni iuris) e o periculum in mora (art. 305, caput, do CPC/2015). A inicial de medida cautelar pode ser protocolada por via eletrônica, observados os requisitos da Lei 11.419/2006 (especialmente arts. 2.º, 10 e 11) e a regulamentação de tal Lei pelos Tribunais (v. vol. 1, n. 26.4). Sendo uma ação cautelar preparatória, deve se fazer a indicação das linhas gerais da futura pretensão principal ("a lide e seus fundamentos" - art. 305, caput, do CPC/2015). A inicial veiculará também o requerimento de concessão da medida cautelar. 42.8.2. Concessão liminar ou mediante justificação prévia Se preenchidos os pressupostos, a providência cautelar pode ser deferida liminarmente. Mas o juiz pode reputar necessária, ainda antes da citação do réu, a instauração de audiência de justificação (art. 300, § 2.º, do CPC/2015). Como já indicado, trata-se de audiência unilateral, em que só o autor e suas testemunhas são ouvidos, no caso de a prova documental não ter sido suficiente para convencer o juiz do fumus do autor. Se for indeferido o pedido de tutela cautelar nesse momento, o processo prosseguirá - sendo ainda possível a concessão da medida posteriormente. 42.8.3. Fungibilidade Como também já destacado (n. 42.5), se o juiz reputar tratar-se de caso de tutela antecipada antecedente, cabe-lhe as regras relativas a essa. Em princípio, é desnecessária qualquer determinação de emenda da inicial, pois ela já conterá os elementos suficientes para ser processada. De todo modo, na excepcional hipótese de se fazer necessária alguma emenda, deverá ser dada essa oportunidade ao requerente (art. 321 do CPC/2015). Mas o juiz não deverá aguardar a realização da emenda: presentes os pressupostos para a concessão da medida urgente, ela deve ser prontamente deferida, deixando-se para depois as adaptações formais. 42.8.4. Defesa do réu e rumos do procedimento Citado, o réu tem o prazo de cinco dias para defender-se do pedido de tutela cautelar (art. 306 do CPC/2015). O termo inicial e o modo de contagem seguem as regras gerais (vol. 1, cap. 30, e, neste vol., n. 8.4). O réu pode apresentar contestação. Em regra, não se admite a reconvenção no processo cautelar, em função da possibilidade de que seja prestada contracautela, sob forma de caução, como acima se mencionou. Pode haver revelia, com a presunção de veracidade dos fatos narrados na inicial (art. 307 do CPC/2015). No entanto, esse efeito incidirá apenas no âmbito da pretensão cautelar. Ou seja, não fará com que esses fatos sejam presumidos verdadeiros também relativamente à pretensão principal. Havendo contestação, em tese, é possível que o juiz estabeleça uma instrução probatória específica para o processo cautelar, inclusive com designação de audiência de instrução e julgamento - observando-se o procedimento comum (art. 307, parágrafo único, do CPC/2015). Todavia, na prática, esse desenvolvimento procedimental autônomo da tutela antecedente tende a ocorrer apenas quando inicialmente não deferida a medida urgente. Se tiver sido deferida a tutela cautelar, de duas uma: (i) ou o autor deixa de desincumbir- se do ônus de formular a demanda principal, e a medida urgente cessa a eficácia (art. 309, I, do CPC/2015 - n. 42.6.10, acima), extinguindo-se em seguida o processo (Súmula 482 do Superior Tribunal de Justiça); (ii) ou o autor formula, tempestivamente, o pedido principal, e se ingressa na fase procedimental relativa a tal pretensão (cognitiva ou executiva), com todos os atos instrutórios passando a ser praticados dentro deste procedimento. 42.8.5. Ônus de formulação do pedido principal Efetivada a medida, começa a correr o prazo decadencial de trinta dias para que a pretensão principal seja formulada (art. 308 do CPC/2015). Se, todavia, se tratar daquelas medidas de cuja efetivação o autor não fica automaticamente ciente, como, por exemplo, o sequestro de um bem que se encontra em outra comarca, o autor haverá de ser de tal ato cientificado, para que tenha início a contagem daquele prazo. Escoado este prazo sem que a ação tenha sido proposta, cessa a eficácia da providência concedida (art. 309, I, do CPC/2015 - n. 42.6.10, acima), e o processo é extinto, como já indicado. Esse prazo só se aplica às medidas constritivas de direitos (isso é, cautelares que implicam uma limitação jurídica duradoura ao réu ou ao seu patrimônio) e só nos casos em que a ação principal possa ser intentada dentro destes 30 dias. Por exemplo, considera- se que a medida de produção antecipada de provas, mesmo quando revestida de caráter cautelar (n. 19.2.2, acima), não é constritiva de direitos do réu. Por isso não se aplica, ao autor, de tal ação cautelar, o ônus de promover a ação principal em trinta dias contados da efetivação de medida. Também não tem sido aplicada tal exigência quando se trata de ações de família. 42.8.6. Formulação e processamento do pedido principal Como também já se expôs, o pedido principal não ensejará a constituição de um novo processo. Ele é formulado no mesmo processo que já se havia instaurado com o pedido cautelar. Nem mesmo autuação apartada haverá e não se exigirá novo recolhimento de custas (art. 308, caput, do CPC/2015). O pedido principal deverá conter todos os elementos constitutivos da ação, com a descrição da causa de pedir e perfeita explicitação do pedido. O autor não fica adstrito aos fundamentos que apresentou ao formular o pedido cautelar. A descrição da "lide e seu fundamento" antes apresentada destinava-se
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