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CONTRATOS, PRÁTICAS COMERCIAIS E SUAS RESPONSABILIDADES

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AT 1
CONTRATOS, PRÁTICAS 
COMERCIAIS E SUA 
RESPONSABILIDADE
2 32
S
U
M
Á
R
IO
3 UNIDADE 1 - Introdução
4 UNIDADE 2 - Práticas comerciais
4 2.1 Conceito
5 2.2 Oferta
8 2.3 Da publicidade
16 UNIDADE 3 - Práticas comerciais abusivas
16	 3.1	Classificação	das	práticas	abusivas
20	 3.2	A	cobrança	de	dívidas
21 3.3 Os bancos de dados e cadastros de consumidores
22 3.4 O cadastro de fornecedores
24	 3.5	Da	proteção	contratual
26	 3.6	Cláusulas	abusivas	(arts.	51	a	53	do	CDC)
30	 3.7	Cláusulas	abusivas	acrescidas
31 UNIDADE 4 - Contratos
32	 4.1	O	contrato	como	negócio	jurídico
33	 4.2	A	função	social	do	contrato
35 4.3 Desistência contratual no CDC
37	 4.4	Contrato	de	crédito	e	financiamento
38	 4.5	Contratos	de	compra	e	venda	e	alienação	fiduciária
39 4.6 Contratos de consórcio
40	 4.7	Contratos	de	adesão
42 REFERÊNCIAS
2 33
UNIDADE 1 - Introdução
O consumismo é o sistema que dá a tô-
nica da sociedade atual, moderna, con-
temporânea, exigente, rápida, inovadora!
Como refletem FRANCISCO OTÁVIO DE 
MIRANDA BEZERRA; CHRISTIANE DE AN-
DRADE REIS MIRANDA BEZERRA (2009), 
a sociedade de consumo em massa traz 
as vantagens de uma pluralidade de pro-
dutos oferecidos por uma gama de for-
necedores de modo a otimizar o processo 
de satisfação das necessidades básicas e 
conspícuas dos consumidores. No entan-
to, em vista mesmo da concorrência dos 
fornecedores na tentativa de captação da 
sua clientela, há o correspondente con-
tra-ataque de marketing. A publicidade e 
todos os mecanismos postos a serviço do 
fornecedor pelos agentes de marketing 
permitem a divulgação do produto e/ou 
serviço e o estímulo, por meio de variadas 
técnicas, do seu consumo.
Nesse processo de captação da curiosi-
dade do consumidor, cujo fim primordial é 
a criação do desejo de consumir e a efetiva 
contratação neste sentido, o fornecedor 
exerce a sua infinita capacidade criativa. 
Sem dúvida que, no exercício da liberda-
de de iniciativa, a publicidade e demais 
práticas comerciais tendentes a otimizar 
as vendas são fruto da liberdade geral de 
ação. Porém, em vista do exercício regular 
do direito de estruturar as diversas práti-
cas comerciais, não poderá o fornecedor 
incorrer em abuso. Afinal, o abuso de di-
reito finda por figurar, com expressão do 
próprio Código Civil, em modalidade de ato 
ilícito.
Pois bem, essa breve introdução mos-
tra claramente que veremos ao longo des-
ta unidade as práticas comerciais abusivas 
e, na sequência, os contratos enquanto 
negócio jurídico e selador das relações de 
consumo, bem como a responsabilidade 
de todos nesses processos.
Ressaltamos em primeiro lugar que em-
bora a escrita acadêmica tenha como pre-
missa ser científica, baseada em normas 
e padrões da academia, fugiremos um 
pouco às regras para nos aproximarmos 
de vocês e para que os temas abordados 
cheguem de maneira clara e objetiva, mas 
não menos científicos. Em segundo lugar, 
deixamos claro que este módulo é uma 
compilação das ideias de vários autores, 
incluindo aqueles que consideramos clás-
sicos, não se tratando, portanto, de uma 
redação original e tendo em vista o cará-
ter didático da obra, não serão expressas 
opiniões pessoais.
Ao final do módulo, além da lista de re-
ferências básicas, encontram-se inúme-
ras outras que foram ora utilizadas, ora 
somente consultadas, mas que, de todo 
modo, podem servir para sanar lacunas 
que por ventura venham a surgir ao longo 
dos estudos.
4 54
UNIDADE 2 - Práticas comerciais
2.1 Conceito
As práticas comerciais servem e alimen-
tam a sociedade de consumo, aproximan-
do os consumidores dos bens e serviços 
colocados a sua disposição no mercado de 
consumo. ANTONIO HERMANN DE VAS-
CONCELLOS BENJAMIM (1999, p. 213) de-
fine práticas comerciais como “os procedi-
mentos, mecanismos e técnicas utilizadas 
pelos fornecedores para, mesmo indire-
tamente, fomentar, manter, desenvolver 
e garantir a circulação de seus produtos e 
serviços até o destinatário final”.
Por definição, práticas comerciais são 
as atividades profissionais e/ou técnicas, 
ações, métodos e instrumentos (enfim, é 
o tão falado marketing) que fornecedo-
res utilizam para exercer suas funções 
no mercado. São atividades e estraté-
gias que os fornecedores utilizam para 
fomentar a comercialização de produtos 
e serviços. Ora, se os velhos comercian-
tes, no lato sentido1, já eram considera-
dos profissionais desde a Idade Medieval, 
hoje, com muito mais razões histórico-
-sociais, essas práticas profissionais, em 
que pese sempre tão necessárias, exi-
gem regras mais adequadas ao contexto 
atual da intermediação produção/consu-
mo (AMARAL, 2010).
Assim, os pós-modernos fornecedores, 
sucessores daqueles velhos comerciantes, 
agora precisam atuar segundo normas jurí-
dicas menos corporativas, mais democráti-
cas e socialmente mais justas, ou seja, nor-
mas jurídicas coerentes com as exigências 
da civilização contemporânea.
Com efeito, a inquietude diante da 
imoral exploração da necessidade, da 
inexperiência e da incapacidade crítica 
alheia é historicamente remota. Já no 
Código de Hammurabi (2.300 a.C.) pres-
crevia-se regra contra o enriquecimento 
em detrimento de outrem (Lei 48 – mo-
dificabilidade unilateral dos ajustes por 
desequilíbrio nas prestações, em razão 
de forças da natureza).
As Escrituras estão repletas de ditosos 
mandamentos semelhantes. As Orde-
nações Filipinas (livro V) puniam a usura 
com a pena de degredo na África, dobra-
da na reincidência. O nosso Código Penal 
de 1890 (art. 340) da mesma forma já ex-
primia tênue preocupação com o poder 
econômico (AMARAL, 2002). Contudo, só 
após a 1ª Guerra Mundial (1914-1918) é 
que se acentua a busca deste velho ideal.
É que o capitalismo atual já incorpo-
ra valores, antes mais afeitos ao regime 
econômico oposto. Na verdade, aqui se 
pode falar de uma grande síntese, ou de 
uma dialética superação, ou seja, o capi-
talismo se aperfeiçoa e sua ordem jurí-
dica a isso se conforma. A ordem jurídica 
do atual capitalismo exige ponderação, 
ética e acima de tudo compromisso com 
dignidade humana. Nesse diapasão é que 
podemos situar a regulação das chama-
das práticas comerciais pelo CDC, em seu 
Capítulo V (arts. 29 a 45).
1- Comerciantes são os que exercem o comércio de modo habitual, 
esse é o conceito clássico que abrangia (e ainda abrange, de certo 
modo) os mercadores, os leiloeiros, os trapicheiros, os banqueiros, 
os corretores, os transportadores, etc. Depois do nosso novo Código 
Civil, esse conceito (de comerciante) está absorvido pelo de empre-
sário, que pela nova lei, é a pessoa que exerce profissionalmente 
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de 
bens ou de serviços.
4 55
De relevo, aqui, é a extensão no con-
ceito de consumidor, que se verifica no 
art. 29. Nessa sede normativa dá-se outra 
equiparação (uma está no art. 2º, parágra-
fo único, a coletividade de pessoas; mais 
outra no art. 17, as vítimas de acidente de 
consumo) aos consumidores (não é, mas 
equipara-se e trata-se como fosse).
JOÃO BATISTA DE ALMEIDA (2010), 
também explica que a evolução das rela-
ções de consumo conduziu à necessidade 
de novo tratamento do tema atinente à 
oferta e à publicidade. As disposições do 
direito comum (CC de 1916, art. 1.087; 
Código Comercial, arts. 121 e ss.) mostra-
ram-se insuficientes e inadequadas para 
regular a nova realidade, por duas razões 
principais:
a) como a oferta e a publicidade eram 
desconhecidas ou incipientes no fim do 
século XIX e começo do século XX, os Có-
digos Comercial e Civil, de 1850 e 1916, 
respectivamente, regularam minima-
mente a matéria;
b) ainda assim a escassa regulamenta-
ção considerava a igualdade das partes e 
tinha presente o entendimento de quea 
oferta se dava entre pessoas determina-
das, pressupondo a bilateralidade propo-
nente-aceitante.
Em consequência dessa insuficiência 
normativa e da manifesta desatualização 
dos diplomas vigentes, o consumidor era 
frequentemente lesado, à constatação de 
que, ao contrário do que ocorre na esfera 
civil, a oferta nas relações de consumo 
pode dar-se entre pessoas indetermina-
das, alcançando tanto o consumidor efeti-
vo – aquele que atua adquirindo produtos 
ou serviços – como o potencial – aquele 
que está propenso a consumir ou exposto 
às práticas de consumo, como oferta, pu-
blicidade e práticas abusivas (art. 29).
Também o consumidor potencial, su-
jeito à influencia generalizada da oferta 
e da publicidade merecia proteção da lei. 
E, também, porque a falta de tratamento 
minudente do tema no regime anterior, 
a oferta e a publicidade transcorriam em 
franca liberdade, com inevitáveis abu-
sos, como anunciar e não cumprir, tor-
nando necessária tal regulamentação 
para definir-se de que forma deveriam 
processar-se seus requisitos, regimes de 
responsabilização, etc., o que acabou po-
sitivado nos arts. 30 e seguintes da lei de 
proteção (ALMEIDA, 2010).
São práticas comerciais reguladas 
pelo CDC:
2.2 Oferta
De acordo com o art. 31, temos que a 
oferta e apresentação de produtos ou 
serviços devem assegurar informações 
corretas, claras, precisas, ostensivas e 
em língua portuguesa sobre suas carac-
terísticas, qualidades, quantidade, com-
posição, preço, garantia, prazos de vali-
dade e origem, entre outros dados, bem 
como sobre os riscos que apresentam à 
saúde e segurança dos consumidores.
Sendo a oferta o momento anteceden-
te da conclusão do ato de consumo, deve 
ser precisa e transparente o suficien-
te para que o consumidor, devidamente 
informado, possa exercer o seu direito 
de livre escolha. Assim, as informações 
devem ser verdadeiras e corretas, guar-
dando correlação fática com as caracte-
rísticas do produto ou serviço, redigidas 
em linguagem clara, lançadas em lugar e 
forma visíveis.
6 7
Além disso, devem ser escritas em lín-
gua portuguesa. Devem incidir sobre os 
elementos que interessam ao consumidor 
para fazer sua escolha, como caracterís-
ticas e dados técnicos (qualidade, quanti-
dade, composição, preço, garantia, prazos 
de validade, origem, além de outros) e po-
tencialidade danosa (riscos que apresen-
tam à saúde e segurança dos consumido-
res). Pode-se dar por qualquer forma de 
veiculação; se mediante publicidade, deve 
seguir a regulamentação dos arts. 36 a 38.
Em caso de oferta por telefone ou re-
embolso postal, há um requisito extra: 
para possibilitar a responsabilização, o 
nome do fabricante e seu endereço deve-
rão constar obrigatoriamente na embala-
gem, publicidade e impressos utilizados 
na transação comercial (art. 33).
Seguindo o mesmo entendimento, mas 
com outras palavras, toda informação ou 
publicidade, suficientemente precisa, vei-
culada por qualquer forma ou meio de co-
municação, com relação a produtos e ser-
viços que alcance o consumidor, é oferta. 
Oferta, assim, é toda proposta, policita-
ção, promessa de fornecimento de pro-
duto ou serviço mediante apresentação/
exposição (vitrine, por exemplo), informa-
ção (orçamento, apreçamento) ou publici-
dade (anúncio em qualquer dos meios de 
comunicação). Tem a oferta por finalida-
de alcançar o consumidor como provável 
cliente (NASCIMENTO, 1991, p. 36).
A oferta é um tipo/espécie do gênero 
de declaração unilateral e receptícia de 
vontade. Receptícia, porque carece ser 
veiculada, exposta, ou seja, chegar ao 
conhecimento de, pelo menos, um ou de 
indeterminado número de consumidores 
(coletividade, público em geral, mercado 
consumidor). Unilateral, porque na es-
sência jurídica, a oferta é estruturalmen-
te uma só vontade, a do ofertante (polici-
tante/proponente) (AMARAL, 2010).
Vale dizer, uma só vontade, mas 
que vai em busca de sua destina-
ção que é encontrar-se com a outra 
vontade, a do consumidor-aceitante, 
quando, então, a oferta se aperfei-
çoa e alcança sua finalidade: o ne-
gócio jurídico de consumo, já agora 
bilateral (vontade do ofertante e von-
tade do aceitante).
A oferta é feita sempre pelo forne-
cedor interessado na apresentação, 
lançamento, divulgação ou venda 
de produto ou serviço. Além de res-
ponsável pela oferta que fizer dire-
tamente, o fornecedor é solidaria-
mente responsável por aquela feita 
por seus empregados, agentes e re-
presentantes, inclusive autônomos, 
que em nome dele atuarem (art. 34) 
(ALMEIDA, 2010, p. 108).
No âmbito do direito do consumidor, 
a oferta é regida pelo indeclinável prin-
cípio da vinculação, ou seja, o ofertante 
se obriga por tudo que ofertar, anunciar, 
informar; é a ética popular do “prometeu 
tem de cumprir”. No regime do CDC toda 
oferta gera, pois, um vínculo do fornece-
dor – ofertante com o consumidor – acei-
tante (consumidor efetivo ou potencial/
equiparado). Já no regime civil, nem toda 
veiculação/anúncio de produto ou servi-
ço vincula seu veiculador, sendo, no mais 
das vezes, considerado um simples con-
vite à oferta (uma mera pré-oferta).
A oferta, pelo CDC, tem a ampli-
tude da possibilidade de conclusão 
6 7
do negócio de consumo, pelo Código 
Civil tem abrangência bem reduzida. 
Porém, para a oferta (pelo CDC) obri-
gar quem a faz, é indispensável que 
dois pré-requisitos sejam atendidos:
a) só existirá vinculação se houver ex-
posição, veiculação, ou seja, se a oferta 
chegar ao conhecimento do consumidor, 
porque oferta que não sai do âmbito sub-
jetivo do ofertante é vontade apenas in-
terna, não declarada;
b) a oferta (informação, publicidade ...) 
há de ser suficientemente precisa.
Ora, sendo a oferta pressuposto ne-
cessário da formação do negócio jurídico 
bilateral de consumo (vontade/ofertante 
versus vontade/aceitante-consumidor) 
só pode mesmo ser vinculativo o que pu-
der ser, objetiva e utilmente, exigível na 
conclusão do negócio jurídico de consu-
mo. Essa precisão suficiente só pode ser 
entendida como um atributo objetivo ne-
gativo da oferta, eis que ela não apresen-
ta os “requisitos essenciais” – como vem 
inovar nosso atual Código Civil, em seu 
art. 429 – para a finalização do contrato 
e, por isso, exatamente por isso, a oferta 
assim exteriorizada não tem os elemen-
tos constitutivos mínimos para uma vin-
culação obrigacional (AMARAL, 2010).
Assim, há de se entender bem essa 
cláusula (oferta suficientemente precisa) 
que não significa uma licença para que o 
ofertante possa usar da intransparência, 
de falsidade, da indução a erro (arts. 36 
e 37) no marketing de atração do con-
sumidor. É que aqui, também, persiste a 
vedação geral, nas relações de consumo, 
do dolus bonus (oferta inocente), ou seja, 
o artifício da inverdade, ou do exagero 
para atrair o cliente.
LUIZ OTÁVIO DE OLIVEIRA AMARAL 
(2010, p. 169) arrisca dizer que tal ve-
dação, com o novo Código Civil, também 
está presente nas relações civis, aquelas 
não de consumo. Em suma, a oferta, além 
desses dois pré-requisitos (veiculada/
tornada pública por qualquer meio e su-
ficientemente precisa), obriga o fornece-
dor-ofertante a integrar o negócio jurídi-
co que vier a ser concluído a partir dela. 
Eis a plena eficácia jurídica do princípio da 
vinculação da oferta.
Vale repetir, a oferta que não apresen-
tar aqueles dois pré-requisitos poderá 
não obrigar o seu ofertante por insufi-
ciência de elementos constitutivos (ou 
de destinatário/receptor) da obrigação 
contratual daí derivada, contudo, tal con-
duta (oferta, publicidade lesiva ao consu-
midor) poderá tipificar até mesmo crime 
contra as relações de consumo (arts. 66, 
67 e 68).
São efeitos (plano da eficácia jurí-
dica) da oferta para o fornecedor – 
ofertante:
a) a oferta passa a integraro negócio 
jurídico/contrato;
b) a oferta obriga ao cumprimento;
c) a oferta pode se dar por qualquer 
meio ou forma:
c.1) por presentação/exposição (vitri-
ne, mostruário, gôndolas etc.);
c.2) por informação (orçamentos, 
apreçamentos, pedido, etc.);
c.3) por publicidade (anúncios em 
qualquer meio de comunicação, encar-
tes, folhetos, mala direta, etc.).
8 9
A oferta pelo CDC deve:
a) ser correta;
b) ser clara;
c) ser precisa
d) ser ostensiva;
e) ser em língua portuguesa.
Os fornecedores-ofertantes res-
pondem, solidariamente, com seus 
empregados, agentes e representan-
tes, até mesmo autônomos, que em 
nome dele atuaram. O consumidor 
pode exigir, alternativamente:
a) o cumprimento forçado;
b) outro produto ou prestação de ser-
viço equivalente, pagando ou recebendo 
a diferença;
c) rescindir o contrato mediante a res-
tituição da quantia eventualmente an-
tecipada, monetariamente atualizada, e 
composição de perdas e danos que po-
dem ser materiais (emergentes e lucros 
cessantes) e morais.
Ainda resta deixar claro que, pelo Có-
digo Civil atual, pode-se dizer que a for-
mação dos contratos civis (não de con-
sumo) se dá pela proposta e pela oferta. 
Sendo proposta a comunicação dirigida a 
um destinatário determinado, objetivan-
do uma contratação específica (convite 
à contratação), enquanto a oferta é diri-
gida ao público em geral, mas se contiver 
os requisitos essenciais do contrato vale-
rá como proposta, isso é, obrigará como 
a proposta. A oferta no Código Civil é de-
claração revogável e no CDC é irrevogável 
(AMARAL, 2010).
Com relação à oferta de componentes 
e peças de reposição, cumpre destacar 
que a oferta está limitada aos fabrican-
tes e importadores (e não aos fornecedo-
res em geral) e alcança apenas produtos 
industrializados e compostos em peças, 
mas não alcança serviço nem produtos 
brutos ou singulares, não compostos de 
peças e componentes. Já a prestação de 
assistência técnica, como serviço, é de-
vida também pelo distribuidor, enquanto 
não cessar a fabricação da importação do 
produto (ALMEIDA, 2010).
Os fornecedores-fabricantes e impor-
tadores deverão assegurar a oferta de 
componentes e peças de reposição en-
quanto não cessar a fabricação do pro-
duto. Cessada a produção ou importação, 
a oferta deverá ser mantida por período 
razoável de tempo na forma da lei (AMA-
RAL, 2010, p. 170).
2.3 Da publicidade
O CDC, no art. 6º, IV, assegura como um 
direito básico do consumidor “a proteção 
contra publicidade enganosa e abusiva, 
métodos comerciais coercitivos ou des-
leais, bem como contra práticas abusivas 
ou impostas no fornecimento de produ-
tos e serviços”. Mais adiante, já no art. 37, 
a Lei nº 8.078/90 vem proibir toda publi-
cidade enganosa e abusiva.
E no § 2º desse mesmo artigo, o CDC 
estampa algumas situações meramente 
exemplificativas da publicidade abusiva:
§ 2º é abusiva, dentre outras, a publi-
cidade discriminatória de qualquer natu-
reza, a que incite à violência, explore o 
medo ou a superstição, se aproveite da 
deficiência de julgamento e experiência 
da criança, desrespeite valores ambien-
tais, ou que seja capaz de induzir o consu-
8 9
midor a se comportar de forma prejudicial 
ou perigosa à sua saúde ou segurança.
Neste subtema do direito do consumi-
dor, a publicidade, não se pode esquecer 
o Código de Autorregulamentação Publi-
citária do Conselho Nacional de Autorre-
gulamentação Publicitária (CONAR) que 
estabelece, em seu art. 19, caput, que 
toda atividade publicitária deve carac-
terizar-se pelo respeito à dignidade da 
pessoa humana, à intimidade, ao interes-
se social, às instituições e símbolos na-
cionais, às autoridades constituídas e ao 
núcleo familiar.
Os dicionários registram que publicida-
de é a qualidade, ou atributo do que é pú-
blico; é a atividade que tem por fim fazer 
conhecer uma marca, incitar o público a 
comprar um produto, utilizar um serviço; 
é anúncio, encarte. Enfim, os especialis-
tas definem a publicidade como uma ati-
vidade profissional dedicada à difusão 
pública de ideias associadas a empresas, 
produtos ou serviços. Já propaganda é 
um modo específico de se apresentar 
uma informação com o objetivo de servir 
a uma agenda; é ação sistemática, exer-
cida sobre a opinião pública, para difundir 
uma doutrina, uma ideia, um produto, um 
sistema de serviços, um espetáculo, etc.; 
é material ou trabalho empregado com 
esse fim; ou ainda peça, anúncio produzi-
do para esse fim (LAROUSSE, 2007).
O termo publicidade refere-se exclu-
sivamente à propaganda de cunho co-
mercial; é uma comunicação de caráter 
persuasivo que visa a defender os inte-
resses econômicos de uma indústria ou 
empresa. Já a propaganda tem um signi-
ficado mais amplo, pois refere-se a qual-
quer tipo de comunicação tendenciosa 
(as campanhas eleitorais são um exem-
plo, no campo dos interesses políticos). 
Assim, o âmbito da propaganda envolve 
e contém a publicidade. Em suma, publi-
cidade é um esforço de persuasão, evi-
dentemente com a finalidade de vendas, 
às vezes com arte e às vezes nem tanto, 
mas sempre visando, desde a causa até o 
efeito, uma venda imediata e/ou mediata 
(AMARAL, 2010).
A publicidade ou propaganda parece 
mesmo tão antiga quanto a mercancia. 
Com efeito, uma tabuleta em argila, en-
contrada por arqueólogos e contendo 
inscrições babilônicas, anunciando a ven-
da de gado e alimentos, demonstra que já 
se utilizava de algum tipo de publicidade 
na Antiguidade. Mas é só após a Revolu-
ção Francesa (1789), com suas radicais 
transformações no mundo ocidental, que 
a publicidade inicia o curso de seu está-
gio atual e, desde a expansão econômica 
do século XIX, a propaganda só vem cres-
cendo de importância.
Antes da Revolução Industrial, o fe-
nômeno concorrencial não se fazia sen-
tir nos mercados, em nível, por exemplo, 
da disputa das mercadorias de artesãos 
(típica da economia medieval), todavia, 
com a produção em escala e a estandar-
dização dos produtos e mais ainda com 
o surgimento dos grandes monopólios, 
tudo se modifica e a publicidade se torna 
persuasiva e menos informativa.
O conceito (a imagem mental) de oferta, 
que acabamos de estudar, modernamente 
está muito associado ao conceito de pu-
blicidade. É que a marca característica do 
mundo moderno (e mais ainda do pós-mo-
derno), a produção em escala crescente, 
exigia uma oferta também em escala. É 
10 11
assim que a atividade publicitária passa a 
ser crescentemente o meio utilizado por 
ofertantes de produtos e serviços em ge-
ral que, agora, demandam destinatários 
difusos, coletividade, enfim o mercado 
consumidor (AMARAL, 2010).
Com efeito, aquela velha e tradicio-
nal oferta (ou proposta), aquela carta ou 
mensagem cujo destinatário é uma pes-
soa predeterminada, já agora, em nosso 
mundo da produção em massa e do con-
sumo também em massa, essa mesma 
oferta já é voltada a um número indeter-
minado de pessoas, ao público em geral; 
é a policitação à coletividade. É, enfim, 
proposta (de contratação) ao mercado 
consumidor.
A oferta, também, passa de individual 
a difusa, como tudo mais em nosso mun-
do contemporâneo. Advirta-se que a pu-
blicidade, contudo, não se confunde com 
a oferta, aquela, amiúde, é apenas veícu-
lo dessa (da oferta); todavia, quando isso 
se verifica, o conteúdo da mensagem pu-
blicitária tem o mesmo efeito jurídico de 
uma declaração unilateral de vontade, 
vale dizer, cria a obrigação, o vínculo jurí-
dico do cumprimento do ofertado.
No contexto das práticas comerciais, 
publicidade é uma forma de veiculação da 
oferta, sujeitando-se, como tal, aos mes-
mos requisitos e regime de responsabili-
zação (arts. 30, 35, 36, 37 e 38). Define-a 
o Código Brasileiro de Autorregulamen-
tação Publicitária como “toda atividade 
destinadaa estimular o consumo de bens 
e serviços, bem como promover insti-
tuições, conceitos e ideias” (art. 8º). Na 
mesma linha, é conceituada pelo Decreto 
nº 57.690/66 como “qualquer forma re-
munerada de difusão de ideias, merca-
dorias, produtos ou serviços por parte de 
um anunciante identificado” (art. 2º).
HERMANO DUVAL (1975, p. 1) res-
salta com suporte na doutrina de Ro-
ger Mauduit, a distinção fundamen-
tal entre propaganda e publicidade, 
nestes termos: 
tecnicamente, os dois conceitos di-
ferem: enquanto a publicidade re-
presenta uma atividade comercial 
típica, de mediação entre o produtor 
e o consumidor, no sentido de apro-
ximá-los, já a propaganda significa 
o emprego de meios tendentes a 
modificar a opinião alheia, num sen-
tido político, religioso ou artístico.
A verdade, porém, é que a publicidade 
deixou de ter papel meramente informa-
tivo para influir na vida do cidadão de ma-
neira tão profunda a ponto de mudar-lhe 
hábitos e ditar-lhe comportamento (AL-
MEIDA, 2010).
Trata-se – é bem de ver – de instru-
mento poderosíssimo de influência 
do consumidor nas relações do con-
sumo, atuando nas fases de conven-
cimento e de decisão de consumir. 
Assinalando ser esse fato consequ-
ência da “cultura de massas” em que 
vivemos, instalada pela exploração 
dos meios de comunicação, FÁBIO 
KONDER COMPARATO (1988, p. 40) 
traça o quadro dramático, porém 
real, a que se vê submetido o consu-
midor sob o influxo da publicidade 
comercial. Assim:
o consumidor, vítima de sua própria 
incapacidade crítica ou suscetibilidade 
emocional, dócil objeto da exploração 
10 11
de uma publicidade obsessora e ob-
sidional, passa a responder ao refle-
xo condicionado da palavra mágica, 
sem resistência. Compra um objeto ou 
paga por um serviço, não porque a sua 
marca atesta a boa qualidade, mas 
simplesmente porque ela evoca todo 
um reino de fantasias ou devaneio de 
atração irresistível. Nessas condições, 
a distância que separa esse pobre Ba-
bbit do cão de Pavlov torna-se assus-
tadoramente reduzida.
Para HERMANO DUVAL (1975, p. 152), 
esse fenômeno é um fato notório que a 
mensagem publicitária vai, hoje, além da 
mera informação. Em uma primeira etapa, 
ela informa, na segunda, sugestiona, e, na 
terceira, ela capta em definitivo o consu-
midor. De tanto insistir na mesma tecla, 
mas sempre revestida de novos recursos 
propiciados pela chamada criatividade, (...) 
a publicidade comercial passa habilmente 
da informação à sugestão e desta à cap-
tação, isto é, eliminação no consumidor de 
sua capacidade crítica ou censura ao que 
lhe é proposto (anunciado), o que impor-
ta numa violação ao princípio da liberdade 
de pensamento. E ao fim de tantas e mar-
teladas repetições, incapaz de distinguir 
a sugestão do erro, o público consumidor 
apresenta-se condicionado à mensagem, 
isto é, fica com o produto anunciado para 
liberar-se de sua promoção, rejeitando, 
assim, qualquer outra informação ou críti-
ca, para só se decidir pela que ficou con-
dicionado. Nesta fase, a pior comunicação 
publicitária é a da chamada publicidade 
subliminar, de que se aproxima a publici-
dade redacional (...) Claro que o processo 
de condicionamento é psicológico, mas o 
de sua imposição está na função moderna 
da publicidade.
A verdade é que antigamente o que 
importava era saber o que a opinião pú-
blica queria, mas hoje, importa decidir o 
que ela deve querer.
O quadro assim exposto revela aquilo 
que é conhecido de todos nós: o consu-
midor é induzido a consumir, bombarde-
ado pela publicidade massiva que o cer-
ca em todos os lugares e momentos de 
seu dia a dia. Como autômato, responde 
a esses estímulos, sem discernir correta-
mente. Age pela emoção, embotado em 
seu juízo crítico. E, se tudo isso ocorre em 
relação à publicidade normal sobre o ho-
mem médio, pode-se imaginar os efeitos 
nefastos e devastadores da publicidade 
enganosa ou abusiva e daquela incidente 
sobre pessoas em formação, como crian-
ças e adolescentes (ALMEIDA, 2010).
A publicidade que antes era mero 
instrumento de venda e assim, tida 
e havida, como juridicamente neu-
tra, com o CDC assumiu novos con-
tornos, notadamente quanto à res-
ponsabilidade profissional (social e 
legal). O CDC regrou a publicidade, 
nas relações de consumo, a partir 
dos seguintes princípios:
1. princípio da identificação da pu-
blicidade (art. 36, caput) – a regra bá-
sica é que se evite a publicidade oculta e 
subliminar. A peça publicitária precisa ga-
rantir ao consumidor a clara percepção de 
que a comunicação que o alcança é uma 
publicidade (e não uma divulgação de pes-
quisa, ou de estatística, por exemplo).
Assim, proibida está tanto a chamada 
publicidade subliminar, ou seja, a veicu-
lada de uma maneira que atinge, tão so-
mente, o inconsciente do destinatário, 
12 13
quanto a publicidade clandestina ou si-
mulada, que, às vezes, assume a configu-
ração externa de “informes econômicos”, 
“relatos científicos” ou, simplesmente, 
de notícia jornalística aparentemente 
desinteressada, quando, na verdade, in-
tencionam a divulgação de produtos e 
serviços. Coincide com a seção 6 do Códi-
go de Autorregulação Publicitária;
2. princípio da veracidade (art. 31, 
c/c o art. 37, §§ 1º e 3º) – veda a pu-
blicidade enganosa (mentirosa/falsa, 
fraudulenta, omissa, indutora de erro); 
a verdade é critério máximo na publici-
dade destinada ao consumidor. Trata-se 
de dever legal imposto aos publicitários 
(e demais envolvidos nessa publicidade) 
como decorrência direta do superprincí-
pio da boa-fé e o da transparência, que 
por sua vez regem superiormente todo o 
universo normativo consumerista.
A publicidade enganosa pode ser: co-
missiva (por ato concreto/positivo, por 
exemplo: fazer afirmação falsa); ou omis-
siva (omissão/deixar de informar dado ou 
risco ao consumidor).
Visa a manter corretamente informa-
do o consumidor, para assegurar-lhe a es-
colha livre e consciente;
3. princípio da não abusividade 
(art. 31, c/c o art. 37, § 2º) – visa banir a 
publicidade abusiva dirigida ao consumi-
dor. Toda publicidade é abusiva quando 
ofensiva dos valores éticos e sociais da 
pessoa humana, da família, que incita a 
violência, a discriminação, que explora o 
medo/superstição, que corrompe a inte-
gridade infantil e os valores ambientais, 
que ameaça a saúde e a segurança.
Esse princípio sempre esteve implíci-
to na mais rudimentar noção de boa-fé e 
ética em geral, mas só agora ganha eficá-
cia social e crescente efetividade.
A violação desse princípio-mor do con-
sumerismo pátrio transgride simultanea-
mente um e outro princípio, mas agora de 
importância de viga-mestra de todo nos-
so Estado Democrático de Direito: o valor 
fundante da dignidade da pessoa huma-
na (art. 1º, III, de nossa Carta Magna);
4. princípio da transparência da fun-
damentação (art. 36, parágrafo único) 
– o fornecedor (especialmente o anuncian-
te/publicitário) deve manter em seu poder 
os dados fáticos, técnicos e científicos que 
respaldam a veracidade e a boa-fé da pu-
blicidade, eis que esse ônus probatório é 
sempre do fornecedor-anunciante (e dos 
demais envolvidos nessa cadeia de comu-
nicação com o consumidor-alvo).
Essa inversão sequer carece de ato 
formal, ou seja, de declaração ou decre-
tação dessa inversão (art. 6º, VIII, direito 
básico da inversão, automática ou de-
clarada, do ônus da prova). Além dessa 
inversão automática, a responsabilidade 
civil do anunciante é sempre objetiva;
5. princípio da obrigatoriedade do 
cumprimento (arts. 30 e 35) – no di-
reito do consumidor, a informação (qual-
quer comunicação objetivando um ato de 
consumo) assume dupla função: é dever 
básico do fornecedor (art. 8º) perante 
os consumidores (dever de informar, de 
transparência, de lealdade, comporta-
mento universal queo CDC erige como 
dever jurídico) e também é uma obrigação 
pré-contratual (art. 30) porque vincula 
quem a promove e integra o contrato que 
dela derivar, eis que funcionalmente tem 
valor jurídico de oferta.
12 13
A informação e a publicidade (conteú-
do e meio para alcançar o público), direta 
e individual, midiática e difusa, sempre 
trará, enquanto eficácia jurídica (efeitos 
jurídicos), a obrigação de ser garantida 
e de integrar o contrato, ou seja, todo 
marketing em geral sempre há de vincu-
lar tanto na oferta, quanto na publicida-
de, porém dois pressupostos hão de se 
apresentar para que este princípio possa 
incidir:
a) a informação e a publicidade só vin-
culam/obrigam se houver exposição/ co-
nhecimento público;
b) para obrigar a oferta (informação 
ou publicidade) deve ser suficientemen-
te precisa, ou seja, “o simples exagero 
(puffing2) não obriga”.
Demais disso, esse princípio, também, 
gera a responsabilidade civil objetiva me-
diante a inversão automática do ônus da 
prova;
6. princípio da inversão do ônus da 
prova (art. 38) – pela regra geral quem 
alega prova (art. 333, I, do CPC), contudo 
dada a fragilidade e a vulnerabilidade do 
consumidor, tal regra, senão fechava o 
acesso à justiça, dificultava sobremanei-
ra. Daí essa diretiva básica prevista no art. 
38 do CDC, que é uma especificação da in-
versão sediada no art. 6º, III (direito básico, 
mas genérico e facultativo e que exige ato 
judicial concessivo) voltada para o âmbito 
da publicidade consumerista.
Com efeito, é direito básico, mas nesta 
norma (art. 38) da inversão tem nature-
za específica e exclusiva incidência sobre 
a boa-fé e a transparência (veracidade e 
correção) da publicidade. Aqui, a inversão 
do ônus probatório é obrigatória (não é 
faculdade ou mero poder do juiz) e au-
tomática (dispensa ato formal), ao con-
trário daquela cuja sede é o art. 6º, VIII 
(AMARAL, 2010; ALMEIDA, 2010; BENJA-
MIN, 2008; BULGARELLI, 1985).
A questão da inversão do ônus da 
prova
LUIZ OTÁVIO DE OLIVEIRA AMARAL 
(2010) levanta o questionamento sobre 
qual o momento mais adequado para a de-
claração da inversão do ônus da prova em 
geral. Defende a tese de que o momento 
processual mais adequado para essa in-
versão, em matéria de direito do consu-
midor, é o que fica entre a propositura da 
ação e o despacho saneador, ou seja, por 
ocasião desse despacho, posto que as-
sim não ocorrerá o dito fator surpresa e 
as partes estarão, previamente, cientes, 
por meio desse pronunciamento judicial, a 
quem competirá o ônus da prova.
Com efeito, essa matéria, a inversão 
do ônus probante, tem a natureza de 
instrução ou de procedimento e não de 
julgamento. Esse momento é o mais ade-
quado também porque é nele que o ma-
gistrado avalia se estão presentes os re-
quisitos desse benefício, após verificar, 
segundo as regras de experiência, que 
as alegações do autor são verossímeis ou 
que o consumidor é hipossuficiente.
Outro argumento a favor do saneador 
e não da sentença, é o fato processual da 
fixação dos pontos controvertidos e an-
terior à instrução do processo, o que evi-
ta prejuízos à ampla defesa do réu (for-
necedor/empresário).
1- Puffing é o exagero publicitário, tal como “é o melhor”, “o mais 
saboroso”, “o mais bonito”. A técnica do teaser tenta provocar a curio-
sidade apresentando o produto aos poucos, por vezes nem mesmo 
indicando quem é o anunciante (BENJAMIN, 1995. p. 76-177).
14 15
A publicidade enganosa é, na verdade, 
conclusão de um juízo/raciocínio abstra-
to em que o resultado danoso ao con-
sumidor é mero exaurimento formal da 
conduta civilmente lesiva, mas que, no 
campo criminal, terá relevância própria e 
específica. A indução a erro, ínsita na pu-
blicidade enganosa, pode ou não chegar 
ao resultado material do dano, ou seja, 
já basta, para a consumação do ilícito, 
a simples probabilidade desse evento; 
também pode ou não haver a intenção 
(de dano) do anunciante, o que importa 
para o CDC é a conduta apenas formal, 
irrelevante o resultado material. É um 
ilícito (civil) formal estruturalmente aná-
logo aos crimes formais, ou de consuma-
ção antecipada. Daí por que, com razão, 
HERMAN BENJAMIN (1991) leciona que 
há erro potencial e erro real.
Do ponto de vista do CDC, a publi-
cidade pode ser classificada como 
enganosa e abusiva, mas essas duas 
grandes classes podem ainda ser 
subclassificadas:
1. Quanto à publicidade enganosa, 
temos:
a) inteira ou parcialmente falsa;
b) com potencial de induzir em erro 
(não há necessidade do resultado mate-
rial do erro) o consumidor, até mesmo por 
omissão.
É enganosa qualquer modalidade de 
informação ou comunicação de caráter 
publicitário, inteira ou parcialmente fal-
sa, ou, por qualquer outro modo, mesmo 
por omissão, capaz de induzir em erro o 
consumidor a respeito da natureza, ca-
racterísticas, qualidade, quantidade, 
propriedades, origem, preço e quaisquer 
outros dados sobre produtos e serviços 
(art. 37, § 1º). Será publicidade engano-
sa por omissão aquela que deixar de in-
formar sobre dado essencial do produto 
ou serviço (§ 3º). Em ambos os casos, a 
publicidade enganosa vicia a vontade do 
consumidor que, iludido, acaba adquirin-
do produto ou serviço em desconformi-
dade com o pretendido. A falsidade está 
diretamente ligada ao erro, numa relação 
de causalidade.
Segundo GINO GIACOMINI FILHO 
(1991), não há receita para detectar a 
propaganda enganosa. Há, porém, in-
dícios que fazem parte de anúncios que 
não primam pela precisão da informação, 
ou então usam artifícios para envolver o 
leitor ou telespectador, não propiciando 
uma compra racional e segura.
2. Quanto à publicidade abusiva, 
temos:
a) discriminatória de qualquer nature-
za;
b) que incite à violência;
c) que explore o medo ou a supersti-
ção;
d) que se aproveite da deficiência de 
julgamento e experiência da criança;
e) desrespeita valores ambientais;
f) que possa induzir o consumidor a se 
comportar de modo prejudicial ou perigo-
so a sua saúde ou segurança.
É abusiva a publicidade discriminatória 
de qualquer natureza, a que incite à vio-
lência, explore o medo ou a superstição, 
se aproveite da deficiência de julgamen-
to e experiência de crianças, desrespeita 
valores ambientais, ou que seja capaz de 
14 15
induzir o consumidor a se comportar de 
forma prejudicial ou perigosa à sua saúde 
ou segurança (art. 37, § 2º).
Não chega a ser mentirosa, mas é 
distorcida, desvirtuada dos padrões da 
publicidade escorreita e violadora de 
valores éticos que a sociedade deve pre-
servar. Além disso, deturpa a vontade do 
consumidor, que pode inclusive ser indu-
zido a comportamento prejudicial ou pe-
rigoso à sua saúde e segurança (ALMEI-
DA, 2010).
As possibilidades de indenização 
para o consumidor lesado por pu-
blicidade enganosa ou abusiva são 
(iguais as da oferta), ou seja, ele pode 
exigir:
1. o cumprimento forçado do que foi 
veiculado pela publicidade;
2. outro produto ou prestação de ser-
viço equivalente, pagando ou recebendo 
a diferença;
3. rescindir o contrato mediante a res-
tituição da quantia eventualmente an-
tecipada, monetariamente atualizada, e 
composição de perdas e danos que po-
dem ser materiais (emergentes e lucros 
cessantes) e morais.
16 1716
UNIDADE 3 - Práticas comerciais abusivas
Práticas comerciais abusivas são as con-
dições irregulares de negociação nas rela-
ções de consumo, que ferem a boa-fé, os 
bons costumes, a ordem pública e a ordem 
jurídica. Essas condições têm que estar li-
gadas ao bem-estar do consumidor final. É 
o abuso contra o consumidor. Assim, estão 
excluídas as práticas de concorrência des-
leal, porque são entre fornecedor e forne-
cedor (SMANIO, 2007).
De acordo com TUPINAMBÁ MIGUEL 
CASTRO DO NASCIMENTO (1991, p. 38),práticas abusivas são práticas comerciais, 
mas relações de consumo, que ultrapas-
sam a regularidade do exercício de comér-
cio e das relações entre fornecedor e con-
sumidor.
Para ANTONIO BENJAMIN DE VASCON-
CELLOS HERMAN (2008, p. 218), prática 
abusiva (lato sensu) é a desconformidade 
com os padrões mercadológicos de boa 
conduta em relação ao consumidor.
Não estão previstas apenas no art. 39, 
que é meramente exemplificativo, mas es-
tão espalhadas por todo o código, como, 
por exemplo: art. 10 – colocação no mer-
cado de produto ou serviço com alto grau 
de periculosidade; art. 21 – não emprego 
de peças de reposição adequadas; art. 32 
– falta de componentes e peças de reposi-
ção; art. 36 – publicidade clandestina; art. 
37 – publicidade abusiva enganosa; art. 
51 – cláusula contratual abusiva (SMANIO, 
2007).
Além de encontrarmos no Direito do 
Consumidor as práticas comerciais lícitas 
e legítimas, temos, também, as práticas 
abusivas, ilícitas e ilegítimas. São as práti-
cas abusivas, atividades mercantis, estra-
tégias, ou ações dos fornecedores (fabri-
cante, importador, vendedor, prestador, 
anunciante, publicitário, etc.) que buscam 
o lucro em face do consumidor e por meio 
do ato de consumo, enfim, são as chama-
das técnicas de marketing que violam as 
leis protetivas do consumidor.
Segundo GIANPAOLO POGGIO SMANIO 
(2007) e LUIZ OTÁVIO DE OLIVEIRA AMA-
RAL (2010), essas práticas abusivas tem 
seu rol estampado no art. 39 de modo não 
taxativo ou exaustivo, mas apenas exem-
plificativamente, ou seja, além dessas hi-
póteses, outras podem ser encontradas na 
riqueza fática da vida que jamais o direito 
cobrirá completamente. Podem, inclusive, 
estar em outra legislação. Por exemplo: Lei 
dos Crimes Contra a Ordem Tributária, Eco-
nômica e Contra as Relações de Consumo.
3.1 Classificação das práticas 
abusivas
Tendo em vista o momento em que se 
manifestam no processo econômico, po-
dem ser chamadas: se no momento da 
produção, práticas abusivas produtivas; se 
após, para garantir a circulação dos produ-
tos e serviços até o destinatário final, prá-
ticas abusivas comerciais.
Tendo em vista o aspecto jurídico con-
tratual, podem ser: contratuais, se no in-
terior do próprio contrato; pré-contratu-
ais, quando atuam na fase do ajustamento 
contratual; ou pós-contratuais, caso se 
manifestem após a contratação.
São hipóteses legais (art. 3º, I, CDC):
16 1717
1º Condicionamento do fornecimen-
to de produto ou serviços
Podem ocorrer duas hipóteses:
a) venda casada, em que o fornecedor 
se nega a fornecer produto ou serviço, a 
não ser que o consumidor adquira também 
um outro produto ou serviço. Não só a ven-
da, mas qualquer outra forma de forneci-
mento pode ser objeto de prática abusiva 
(SMANIO, 2007).
Em princípio, essa venda conjugada é 
simples técnica comercial estudada em 
Administração como marketing lateral, em 
que o fornecedor se utiliza de um produto 
ou serviço existente no mercado para lan-
çar outro. O fornecedor quando pratica a 
venda casada pretende colocar, novamen-
te, no mercado um produto ou serviço que 
está com baixa demanda (AMARAL, 2010).
A infração, na via administrativa, já era 
prevista na Lei Delegada nº 4/62, art. 11, 
letra i. Na esfera civil, o consumidor pode 
exigir o cumprimento da oferta sem o con-
dicionamento.
B) condição quantitativa: diz respeito ao 
mesmo produto ou serviço objeto do for-
necimento. O fornecedor só vende se for x 
quantia do produto; se for mais ou menos, 
não vende. A proibição não é absoluta, já 
que a lei admite a justa causa. Ex.: estoque 
limitado.
O entendimento predominante é que o 
fornecedor não pode obrigar o consumi-
dor a adquirir mais do que deseja. Portan-
to, a justa causa seria apenas para adquirir 
menos do que pretende o consumidor. Ex.: 
Três latas de óleo com desconto: o consu-
midor tem direito de adquirir apenas uma 
sem desconto (SMANIO, 2007).
2º Recusa de atendimento à deman-
da do consumidor
Desde que o fornecedor tenha estoque 
de produtos e esteja habilitado a prestar 
o serviço, não pode recusar-se a atender à 
demanda do consumidor.
A lei proíbe recusar atendimento às de-
mandas dos consumidores, na exata medi-
da de suas disponibilidades de estoque, e 
ainda, de conformidade com os usos e cos-
tumes.
Configura também infração contra a 
economia popular, prevista no art. 2º, II, da 
Lei nº 1.521/51. Ex.: motorista de táxi que 
recusa pequena corrida; consumidor que 
quer pagar com moedas.
3º Fornecimento não solicitado
O produto ou serviço só pode ser forne-
cido desde que haja solicitação prévia por 
parte do consumidor. Se ocorrer o forneci-
mento sem solicitação, o consumidor deve 
recebê-lo como amostra grátis, não caben-
do nenhum pagamento (parágrafo único, 
art. 39).
A regra é o consumidor tomar a iniciati-
va de adquirir produto ou serviço. Por isso, 
o legislador vedou a conduta de enviar 
ou entregar ao consumidor, sem solicita-
ção prévia, qualquer produto, ou forne-
cer quaisquer serviços, pretendendo com 
isso, preservá-lo de ser importunado com 
a remessa de produtos não solicitados e do 
desconforto de providenciar a devolução, 
quando não quiser adquiri-los.
4º Aproveitamento da hipossuficiên-
cia do consumidor
O fornecedor não pode valer-se da fra-
queza ou ignorância do consumidor, tendo 
em vista sua idade, saúde, conhecimento 
18 19
ou condição social, para impingir-lhe seus 
produtos ou serviços. Aqui estão incluídas 
as técnicas mercadológicas, a propagan-
da, o marketing, as práticas comerciais de 
modo geral.
A lei busca impedir que o fornecedor 
inescrupuloso tire proveito da situação de 
fragilidade e hipossuficiência do consumi-
dor idoso ou menor, doente, rude ou com 
reduzidas condições de discernimento, 
objetivando com isso preservar os direi-
tos à higidez física e patrimonial e de livre 
escolha.
5º Exigência de vantagem excessiva
Vantagem excessiva é a vantagem exa-
gerada, incomum, desproporcional. Basta 
a exigência para configurar a prática abu-
siva. Pode ocorrer na fase pré-contratual.
A ideia central é assegurar o equilíbrio 
contratual, impedindo que o fornecedor, 
utilizando-se de sua condição de superiori-
dade econômica, cause prejuízo ao consu-
midor. É sancionado civil e administrativa-
mente.
6º Serviços sem orçamento e autori-
zação do consumidor
Para que o fornecedor possa dar início 
ao serviço, é preciso a autorização do con-
sumidor. Autorização expressa. Aprovação 
expressa do orçamento. Não basta só a 
apresentação do orçamento. Tem que ha-
ver concordância expressa do consumidor.
Se existirem práticas anteriores entre o 
consumidor e o fornecedor, estas regula-
rão o relacionamento entre ambos. A regra 
não é absoluta: pode ser modificada pela 
prática entre as partes (SMANIO, 2007).
Se o serviço for prestado sem autoriza-
ção, será considerado amostra grátis, não 
decorrendo nenhum pagamento (analogia 
do parágrafo único, art. 3º). Objetiva-se 
moralizar a atividade, em face dos costu-
meiros abusos até então ocorridos de lucro 
fácil no momento da entrega do trabalho. 
Trata-se de infração administrativa, com 
reflexos na esfera civil (art. 40, § 3º).
7º Divulgação de informações nega-
tivas sobre o consumidor
Nenhum fornecedor pode divulgar in-
formação depreciativa sobre o consumi-
dor. Se, porém, o consumidor exorbita de 
seu direito, age de má-fé, não há proibição 
legal de repasse de informações.
O objetivo da vedação é evitar constran-
gimento ao consumidor quando tiver de 
defender seus direitos, impedindo que o 
fornecedor se utilize desse fato para de-
negrir a imagem daquele no meio comer-
cial e social.
8º Colocar no mercado produtos e 
serviços em desacordo com as normas 
técnicas
Se existir norma técnica expedida por 
órgão público, oumesmo entidade priva-
da credenciada pelo CONMETRO (Conselho 
Nacional de Metrologia, Normalização e 
Qualidade Industrial), cabe ao fornecedor 
respeitá-la.
As normas técnicas devem ser obriga-
tórias para configurar a prática abusiva, ou 
seja, o CONMETRO deve aprová-las e obri-
gar seu uso em todo o território nacional. 
Há normas de caráter facultativo. Ex.: as re-
gistradas e as probatórias (experimentais), 
essas não configuram prática abusiva.
O Judiciário pode fixar normas mais rígi-
das. As normas técnicas funcionam como 
mínimo e não impedem o controle judicial.
18 19
Além de infração administrativa, consti-
tui conduta punível criminalmente, em vis-
ta de sua subsunção ao tipo penal do art. 
2º, III, da Lei n. 1.521/51.
9º Recusar a venda de bens ou a 
prestação de serviços a quem se dispo-
nha a adquiri-los mediante pronto pa-
gamento
Esta prática abusiva, não prevista na 
versão original do CDC, foi introduzida por 
meio da Lei nº 8.884/94, art. 87, que alte-
rou a redação do art. 39 para o acréscimo 
de incisos. Desde então passou a integrar 
o rol das práticas abusivas previstas.
É necessário que o consumidor queira 
obter o fornecimento mediante pronto pa-
gamento, pois, do contrário, se a prazo ou 
parcelado, poderá justificar o recusa. São 
ressalvados os casos de casos de interme-
diação de bens ou serviços regulados por 
leis especiais, ou seja, estão excetuados 
desta cláusula abusiva. Nesses casos os 
fornecedores poderão recusar o forneci-
mento direto aos consumidores.
10º Elevar sem justa causa o preço 
de produtos ou serviços
Não previsto no CDC, esta prática abu-
siva foi acrescentada ao rol daquelas enu-
meradas pelo art. 39, pela Lei nº 8.884/94, 
art. 87.
Consiste em “elevar sem justa causa o 
preço de produtos ou serviços” (inc. X), ou 
seja, qualquer elevação de preço deve ser 
justificada. A justa causa para a elevação 
pode decorrer do aumento de preços da 
matéria-prima, da correção substancial 
dos salários dos empregados, ou outra 
causa que reflita no custo final do produto 
ou serviço. O que não pode é ocorrer eleva-
ção sem justa causa, a depender apenas da 
vontade do fornecedor, pois isto significa 
prejuízo certo para o consumidor e locu-
pletamento ilícito para o fornecedor, situa-
ções que o Código busca sempre coibir.
11º Aplicar fórmula ou índice de re-
ajuste diverso do legal ou contratual-
mente estabelecido
A Medida Provisória nº 550/94, conver-
tida na Lei nº 9.870/99, alterou o art. 39 do 
CDC para inserir, no rol daquelas enumera-
das, mais uma prática abusiva, qual seja, a 
aplicação de índice ou fórmula de reajuste 
diverso do legal ou contratualmente esta-
belecidos (inc. XIII).
A norma veio embutida no bojo de Me-
dida Provisória sobre mensalidades esco-
lares, área em que mais incidia a conduta 
que se buscou coibir. A vedação, no entan-
to, não se aplica exclusivamente a essa 
área específica, mas em toda e qualquer 
relação de consumo em que haja índice ou 
fórmula de reajuste estabelecida em lei 
ou em contrato.
12º lnexistência ou deficiência de 
prazo para cumprimento da obrigação 
por parte do fornecedor
O art. 40 do CDC obriga o fornecedor a 
entregar ao consumidor orçamento prévio 
com as datas de início e término dos servi-
ços (SMANIO, 2007).
Ao contratar o fornecimento de produ-
to ou serviço, as partes devem convencio-
nar prazos de entrega e o termo inicial da 
execução dos serviços, o que proporciona 
maior segurança para os contratantes e a 
possibilidade de sua execução forçada em 
caso de descumprimento. Por isso, a lei 
sanciona a conduta do fornecedor de “dei-
xar de estipular prazo para o cumprimento 
de sua obrigação ou deixar a fixação de seu 
20 21
termo inicial a seu exclusivo critério”. Pro-
cura-se, sem dúvida, assegurar o equilíbrio 
contratual e a efetividade do cumprimento 
da obrigação.
Essa prática abusiva, que constava do 
texto original do CDC como inciso IX do art. 
39, foi revogada pela Lei nº 8.884/94, que 
inseriu nova prática abusiva como sendo 
inciso IX – com isso revogando o inciso ori-
ginal, que tinha outra redação. Percebido o 
equívoco, foi reintroduzida pelo art. 7º da 
Lei nº 9.008/95, como inciso XII do art. 39 
do CDC (ALMEIDA, 2010).
3.2 A cobrança de dívidas
Ainda no campo da vedação das práticas 
abusivas, o Código tratou, em seções autô-
nomas, da cobrança de dívidas e dos ban-
cos de dados e cadastros de consumidores, 
justificando-se o tratamento destacado 
em face da relevância atribuída aos temas 
e da importância de regulamentá-lo minu-
ciosamente (ALMEIDA, 2010).
As dívidas passivas oriundas de rela-
ções de consumo, ou seja, os débitos que 
o consumidor tem o dever de pagar, de 
honrar, são cobráveis (enquanto direito 
subjetivo de crédito do credor) dele, con-
sumidor-devedor (enquanto titular do de-
ver jurídico de débito – sujeito passivo/
obrigado da dívida), com alguns limites 
legais tais como: a) não expor o consumi-
dor a ridículo (art. 42); b) não poderá a co-
brança submeter o consumidor-devedor 
a qualquer tipo de constrangimento ou 
ameaça (AMARAL, 2010).
Ciente dos constantes abusos que se 
perpetravam nessa área, com ofensa à dig-
nidade do devedor, exposição a ridículo e 
utilização de práticas violentas, como ame-
aça e constrangimentos, é que o legislador 
procurou restabelecer o império do direito, 
ou, no dizer de um doutrinador, “o modo ci-
vilizado de se cobrar”. Colima-se, com o tra-
tamento legislativo da questão, fazer com 
que o exercício regular do direito do credor 
se compreenda dentro dos limites legais, 
não os o recebimento do crédito, o que era 
e continua a ser exercício regular de direito 
(CC, art. 188, I), mas a utilização de métodos 
condenáveis e ofensivos à dignidade huma-
na, que se procura extirpar do meio social.
Fiel a esse pensamento, o Código procu-
rou sancionar de forma direta as condutas 
que afetavam a dignidade do consumi-
dor inadimplente, estabelecendo taxati-
vamente que ele será respeitado em sua 
integridade física, psicológica e moral, ao 
impedir sua exposição a ridículo e sua sub-
missão a constrangimento ou ameaça de 
qualquer tipo ou natureza (art. 42).
Veja-se que a lei impede apenas a co-
brança abusiva. O consumidor pode sofrer 
constrangimentos legais, como protesto 
do título, penhora, execução, falência, etc. 
Além disso, pode ser cobrado condigna-
mente em seu trabalho, descanso ou lazer. 
O que não ocorre, por exemplo, quando o 
credor telefona para o chefe do consumi-
dor dizendo ser ele mau pagador.
O não cumprimento dessa regra impor-
tará a aplicação de sanções administrativas 
ao fornecedor (art. 56), a responsabiliza-
ção criminal (art. 71) e a imposição das se-
guintes sanções civis em caso de cobrança 
de quantia total ou parcialmente indevida:
a) repetição do indébito, pelo valor igual 
ao dobro do recebido em excesso, acresci-
do de juros e correção monetária desde o 
recebimento (art. 42, parágrafo único); e,
b) ocorrendo engano justificável ou bo-
20 21
a-fé do credor, permanece a obrigação de 
restituir o indébito, porém de forma sim-
ples, com incidência de juros e atualização 
monetária (idem c/c CC, art. 876).
3.3 Os bancos de dados e 
cadastros de consumidores
Também aqui o legislador partiu da reali-
dade fática e da vivência prática para esta-
belecer normas de proteção ao consumidor.
A norma pelo art. 43 regula todo e qual-
quer banco ou cadastro de fornecedores, 
seja público ou privado, que contenham 
dados em geral do consumidor, pessoa fí-
sica ou pessoa jurídica. Embora o alvo mais 
visível dessa norma seja mesmo os servi-
ços cadastrais de inadimplentes, os SPC, 
SERASA, etc, ela tem um espectro muito 
amplo (AMARAL, 2010).
Atento à verdadeira avalanche de abu-
sos cometidos nessa área – que iam da utili-
zaçãoirregular de informações para forçar 
o pagamento de débito até a inabilitação 
creditícia do interessado na via extraoficial 
–, procurou inibir tais condutas abusivas e 
regulamentar a matéria mediante o esta-
belecimento das seguintes regras:
1ª) acesso – o consumidor tem acesso 
às informações sobre ele existentes em 
cadastros, fichas, registros, bem como so-
bre dados pessoais e de consumo arquiva-
dos, inclusive respectivas fontes (art. 43, 
caput);
2ª) transparência – os cadastros e da-
dos devem ser objetivos, claros, verdadei-
ros e em linguagem de fácil compreensão. 
Não podem conter códigos indecifráveis, 
nem informações negativas referentes a 
período superior a cinco anos (art. 43, § 1º, 
1ª parte);
3ª) retificação – conhecendo as infor-
mações a seu respeito, o consumidor po-
derá exigir sua imediata correção, quando 
encontrar inexatidão em seus dados e ca-
dastros. Feita a correção, o arquivista, em 
cinco dias úteis, deverá comunicá-la aos 
destinatários das informações incorretas, 
restabelecendo a verdade (§ 3º);
4ª) comunicação – além disso, toda vez 
que se proceder à abertura de cadastro, fi-
cha, registro e dados pessoais e de consu-
mo, sem sua solicitação, o consumidor de-
verá ser obrigatoriamente comunicado por 
escrito, para que os confira, ratificando-os 
ou retificando-os (§ 2º);
5ª) prescrição – prescrita a dívida, os 
serviços de Proteção ao Crédito ficam proi-
bidos de fornecer quaisquer informações 
que possam impedir ou dificultar novo 
acesso ao crédito junto aos fornecedores 
(§ 5º). A medida, ao contrário de incentivar 
o calote, impede a aplicação de pena de ca-
ráter perpétuo, vedada pela Constituição 
da República (art. 5º, XLVII, b), e uniformi-
za o tratamento da matéria, ao impedir 
efeitos extrajudiciais de dívida prescrita e 
não permitir que esta venha a atormentar 
eternamente a vida do consumidor, cas-
sando-lhe o crédito e a possibilidade de re-
abilitação. Se prescreve o direito de punir 
do Estado, não haveria razão para não se 
considerar prescrita a veiculação de mera 
informação cadastral;
6ª) prazo – os bancos de dados não po-
derão conter informações negativas refe-
rentes a período superior a cinco anos (art. 
43, § 1º,2ª parte). A não observância des-
sas regras – mormente impedir o acesso às 
informações e deixar de corrigir informa-
ções inexatas – constitui infração adminis-
trativa, da mesma forma que pode gerar 
22 23
responsabilização penal (arts. 72 e 73) e 
abrir ensejo à incidência da o pleito indeni-
zatório por danos materiais e morais.
Decorridos vários anos de vigência 
do CDC, constata-se que o Judiciário 
não vem encontrando problemas 
para aplicar o art. 43 e seus parágra-
fos. Já se decidiu, por exemplo, que:
a) a regularidade dos cadastros e infor-
mações relativos ao consumidor interes-
sa não apenas aos cadastrados, mas ao 
universo dos consumidores (RDC, v. 10, p. 
262);
b) entre as duas formas de cancelamen-
to de informações negativas do consumi-
dor, aplica-se aquela que primeiro se reali-
zar (RDC, v. 2, p. 174);
c) em processo de execução é impossí-
vel a expedição de ofício pelo Juízo com o 
fito de ser o devedor tachado de inadim-
plente e omisso quanto ao cumprimento 
da sentença (RDC, v. 14, p. 170);
d) deve ser afastada a inscrição do nome 
do devedor em organismos como o Cadas-
tro de Inadimplentes do Governo Federal 
e a Centralização de Serviços dos Bancos 
S/A – CADIN/SERASA, quando não caracte-
rizada mora, por importar em abuso e por 
constranger ao pagamento indevido (RDC, 
v. 23-4, p. 319);
e) estando em discussão no Judiciário a 
própria existência do débito, descabe o re-
gistro do nome do suposto devedor no Se-
rasa (RDC, v. 23-4, p. 310).
3.4 O cadastro de fornece-
dores
No intuito de proteger reflexamente o 
consumidor, o Código cuidou do cadastro 
de fornecedores. A preocupação aqui foi a 
de formar um banco de dados sobre os for-
necedores inidôneos ou que se recusam a 
atender as reclamações contra si formula-
das, mesmo que suficientemente compro-
vadas. Sabedor dessa faceta do potencial 
fornecedor, o consumidor pensará duas 
vezes e poderá, se assim o entender, evitar 
uma contratação que certamente lhe trará 
transtornos (ALMEIDA, 2010).
A partir da vigência da nova lei, e com 
a regulamentação do CDC pelo Decreto nº 
2.181/97, os órgãos públicos de defesa do 
consumidor (SDE, PROCONS estaduais e 
municipais e congêneres) ganharam nova 
atribuição: a de manter um cadastro atu-
alizado de reclamações fundamentadas 
contra fornecedores de produtos e ser-
viços, com a indicação de atendimento ou 
não. O cadastro assim montado deverá 
ser divulgado anualmente, a fim de que 
alcance repercussão pública, na suposi-
ção de que chegará ao conhecimento do 
consumidor, sem prejuízo da consulta em 
qualquer oportunidade. Aliás, as informa-
ções constantes do referido cadastro es-
tão abertas a qualquer interessado (art. 
44, caput e § 1º).
Da mesma forma que no cadastro de 
consumidores, os cadastros e dados dos 
fornecedores devem ser transparentes e 
comunicados ao interessado; devem ser 
corrigidos em caso de inexatidão e não 
devem conter informações de período an-
tecedente a cinco anos (art. 44, § 2º, c/c 
art. 43, §§ 1º e 5º), sujeitando o Poder Pú-
blico a que esteja vinculado o órgão, em 
caso de descumprimento, a ser compelido 
a organizar e divulgar o cadastro de recla-
mações inatendidas, bem como a reparar 
os danos causados (art. 44, § 2º, c/c art. 
22, parágrafo único).
22 23
Objeto de apenas um artigo (44) e dois 
parágrafos no CDC e amplamente regu-
lamentada pelo Decreto nº 2.181/97, nos 
arts. 57 a 62, a matéria agora ganhou maior 
relevância e melhores condições de imple-
mentação (ALMEIDA, 2010).
O cadastro de fornecedores – diz o art. 57 
do Decreto – nada mais é do que o “cadas-
tro de reclamações fundamentais contra 
fornecedores”, entendendo-se por cadas-
tro “o resultado dos registros feitos pelos 
órgãos públicos de defesa do consumidor 
de todas as reclamações fundamentadas 
contra fornecedores” e por reclamação 
fundamentada “a notícia de lesão ou ame-
aça a direito de consumidor analisada por 
órgão público de defesa do consumidor, a 
requerimento ou de ofício, considerada 
procedente, por decisão definitiva” (decre-
to cit., art. 58, I e II). E a decisão é definiti-
va – é bom lembrar – quando já não couber 
recurso, seja de ordem formal ou material 
(decreto cit., art. 53).
Os cadastros de reclamações funda-
mentadas contra fornecedores – tal como 
ocorre com os bancos de dados dos consu-
midores (CDC, art. 43, § 4º) – são conside-
rados arquivos públicos, por força do art. 
60 do Decreto nº 2.181/87, por isso que 
submetidos a normas que propiciem sua 
publicidade, confiabilidade e continuidade 
(decreto cit., art. 57).
Os órgãos públicos de defesa do consu-
midor devem providenciar a divulgação pe-
riódica de tais cadastros, da forma o mais 
ampla possível. E obrigatória a sua publi-
cação no órgão de imprensa oficial local, 
sem prejuízo de outras formas de divulga-
ção, inclusive por comunicação eletrônica. 
A divulgação será anual, podendo ocorrer 
em período menor, a critério do órgão res-
ponsável (decreto cit., art. 59, §§ 1º e 2º, 1ª 
parte).
Tais cadastros deverão conter “informa-
ções objetivas, claras e verdadeiras sobre 
o objeto da reclamação, a identificação 
do fornecedor e o atendimento ou não da 
reclamação pelo fornecedor”. Não podem 
conter “informações negativas sobre for-
necedores referentes a período superior 
a cinco anos, contando da data da intima-
ção da decisão definitiva” (decreto cit., art. 
59, § 2º, 2ª parte, e § 3º). Devem ser per-
manentemente atualizados, por meio das 
devidas anotações, tanto para incluir como 
para excluir ou retificar informação (decre-
to cit., arts. 59,§ 3º, e 61).
Por constituírem instrumento essencial 
de defesa e orientação dos consumidores, 
referidos cadastros são a todos acessí-
veis, gratuitamente, podendo haver con-
sulta sobre a situação dos fornecedores, 
principalmente quanto ao cumprimento 
das normas do CDC reincidência em caso 
de descumprimento, etc. Mas é vedada a 
utilização abusiva de tais informações ou 
com outros objetivos, estranhos à defesa 
e orientação dos consumidores. Há uma 
ressalva: tais informações podem ser uti-
lizadas em publicidade comparativa, pois 
isso interessa aos concorrentes, mas inte-
ressa também aos consumidores (decreto 
cit., arts. 57 e 60).
Em razão de existir o Sistema Nacio-
nal de Defesa do Consumidor, com órgãos 
públicos específicos federais, estaduais 
e municipais, todos eles poderão ter seus 
próprios cadastros. São os chamados ca-
dastros locais, ou setoriais, que poderão 
ser consolidados em cadastros gerais, nos 
âmbitos federal e estadual (decreto cit., 
art. 62) (ALMEIDA, 2010).
24 25
3.5 Da proteção contratual
Embora tenhamos dedicado a próxima 
unidade exclusivamente para discutirmos 
sobre os contratos, vale inserir aqui que 
contrato é todo acordo de vontades com 
o fim de adquirir, resguardar, transferir, 
modificar, conservar, ou extinguir direitos; 
são seus requisitos essenciais: agente ca-
paz, objeto lícito e forma prescrita ou não 
defesa em lei.
Segundo PABLO STOLZE GAGLIANO e 
RODOLFO PAMPLONA FILHO (2007, p. 11), 
contrato é um negócio jurídico por meio 
do qual as partes declarantes, limitadas 
pelo princípio da função social e da boa-fé 
objetiva, autodisciplinam os efeitos patri-
moniais que pretendem atingir, segundo a 
autonomia das suas próprias vontades.
O CDC regula a relação de consumo que 
é composta de sujeitos, os fornecedores e 
consumidores e objetos que são os produ-
tos serviços, tendo como finalidade (ele-
mento teleológico) o suprimento de neces-
sidade do consumidor como destinatário 
final (SMANIO, 2007).
A proteção contratual no CDC está in-
serida na regulamentação da relação de 
consumo. As normas do Código Civil e Co-
mercial são aplicadas apenas subsidiaria-
mente, uma vez que o direito privado não 
atende plenamente às relações de consu-
mo na atualidade. A proteção aos consu-
midores passou a ser vista como de ordem 
pública.
No CDC, vigora o princípio da conserva-
ção do contrato:
Art. 6º, V – a modificação das cláusulas 
contratuais que estabeleçam prestações 
desproporcionais ou sua revisão em razão 
de fatos supervenientes que as tornem 
excessivamente onerosas.
Vale lembrar que:
 o CDC instituiu a boa-fé objetiva como 
princípio basilar das relações de consumo 
(arts. 4º, III, e 51, IV);
 o CDC impõe ao fornecedor o dever de 
prestar a declaração de vontade, se tiver 
veiculado a oferta, apresentação ou publi-
cidade (art. 30), efeito vinculante da oferta 
– princípio do dever de prestar;
 o CDC estabelece a execução específi-
ca da oferta como regra (arts. 35, I, e 84, § 
1º), deixando a resolução em perdas e da-
nos como subsidiária a critério do consumi-
dor (arts. 35, III, e 84, § 1º).
São disposições gerais (arts. 46 a 50 do 
CDC) – Da proteção contratual
1. Contratos que regulam as rela-
ções de consumo
Se a relação jurídica for caracteriza-
da como de consumo, qualquer que seja a 
forma adotada para a negociação, haverá 
a incidência dos dispositivos do CDC. Ex.: 
compra e venda, contratos bancários, car-
tões de crédito, leasing, plano de saúde, 
seguros, etc.
2. Necessidade do conhecimento 
prévio do consumidor sobre o conteú-
do do contrato, sob pena de não obri-
gar o consumidor.
O fornecedor deverá ter a cautela de 
oferecer oportunidade ao consumidor de 
conhecer o conteúdo do contrato e todas 
as suas implicações, antes da conclusão do 
contrato. Não basta a mera leitura, é pre-
ciso o efetivo conhecimento por parte do 
consumidor, especialmente dos direitos e 
deveres que decorrerão do contrato. É pre-
24 25
ciso cautela do fornecedor, porque há a in-
versão do ônus da prova (art. 6º, VIII, CDC).
3. Necessidade de redação clara e 
compreensível, para que obrigação as-
sumida pelo consumidor seja exigível. Ex.: 
palavras técnicas para leigos, contratos 
voltados para pessoas humildes com lin-
guagem inacessível, etc. – depende do 
caso concreto.
4. As cláusulas contratuais serão in-
terpretadas de maneira mais favorável 
ao consumidor
Por cláusulas contratuais devemos en-
tender todo e qualquer pacto ou estipula-
ção negocial entre fornecedor e consumi-
dor, seja escrita, verbal, por adesão, etc.
Não fere o princípio da isonomia, por-
que o princípio deve ser entendido como 
igualdade substancial, real, ou seja, tratar 
desigualmente os desiguais na medida da 
desigualdade.
5. Efeito vinculante das declarações 
de vontade constantes de escritos par-
ticulares, recibos e pré-contratos rela-
tivos às relações de consumo
As declarações de vontade vinculam o 
fornecedor, ensejando inclusive a execu-
ção específica. É a imposição ao fornece-
dor do dever de prestar.
6. Denúncia vazia do contrato de 
consumo – direito de arrependimento
O CDC dispõe sobre o direito de arrepen-
dimento do consumidor, que pode voltar 
atrás em sua declaração de vontade de ce-
lebrar a relação jurídica de consumo.
Esse direito poderá ocorrer se a contra-
tação for efetuada fora do estabelecimen-
to comercial, “especialmente” se for por 
telefone ou em domicílio. A lei exemplifica 
duas hipóteses, além da previsão genérica. 
Esse direito não precisa ser justificado pelo 
consumidor. Não precisa ter motivo decla-
rado. Basta a vontade de voltar atrás.
Para evitar abusos, o prazo de reflexão 
é de sete dias, contados a partir da con-
clusão do contrato de consumo ou do ato 
de recebimento do produto ou serviço, se 
posterior ao contrato, excluindo o dia do 
início e incluindo o do final. O prazo não co-
meçará em feriado e se acabar em feriado 
será prorrogado até o dia útil seguinte.
Quando a relação acontece fora do es-
tabelecimento comercial, o Código prevê 
a hipótese de arrependimento quando 
o consumidor é abordado de forma mais 
agressiva, com técnicas de marketing mais 
incisivas, e não está preparado suficiente-
mente para contratar. Além disso, o consu-
midor, nessas práticas fora do estabeleci-
mento comercial, não tem contato físico 
com o produto, não pode examiná-lo para 
verificar eventuais qualidades e defeitos. 
Ex.: compra e venda porta a porta, por te-
lefone, por reembolso postal, fax, video-
texto, prospectos, etc.
São hipóteses de exceção ao direito 
de arrependimento:
1. caso o consumidor tenha conheci-
mento dos produtos e serviços e a partir 
de então usualmente contrata por telefo-
ne com o fornecedor, não há direito de ar-
rependimento. Entretanto, se houver mu-
danças nas condições usuais do produto ou 
do negócio, não haverá exceção, existindo 
o direito de arrependimento;
2. se for da essência do negócio ser re-
alizado fora do estabelecimento, também 
não haverá direito de arrependimento, 
como, por exemplo, a compra e venda de 
26 27
imóvel, que é celebrada, de regra, fora do 
estabelecimento comercial, no cartório, na 
presença de oficial. Se as negociações pre-
liminares ocorreram no estabelecimento 
de uma imobiliária, não há direito de arre-
pendimento.
Se exercer o direito de arrependimen-
to, o consumidor terá o direito à devolução 
das quantias pagas, monetariamente atu-
alizadas (pelo índice oficial), de imediato. 
A cláusula contratual que lhe retire esse 
direito é considerada abusiva, sendo nula 
(art. 51, lI, CDC).
Os gastos do fornecedor com relação a 
frete, envio de material e outros encargos 
não são devidos pelo consumidor. Fazem 
parte do risco do negócio a ser suportado 
pelo fornecedor. Cláusula em sentido con-trário será considerada abusiva por inibir 
o exercício do direito de arrependimento, 
sendo nula.
A garantia contratual é complemento à 
garantia legal. É também facultativa, a cri-
tério do fornecedor, podendo ser acordada 
entre fornecedor e consumidor.
A garantia legal é obrigatória e indepen-
de da vontade das partes. Ex.: Art. 24 do 
CDC – adequação, qualidade e segurança 
dos serviços a cargo do fornecedor; art. 25 
do CDC – indenização pelo fato ou vício do 
produto ou serviço.
A garantia contratual é um “plus” ofere-
cido pelo fornecedor em favor do consu-
midor. Será fixada livremente, quanto aos 
prazos e condições, visando à competitivi-
dade dos produtos no mercado.
A garantia não pode ser dada verbal-
mente. O CDC exige termo escrito para que 
fique expresso o conteúdo dessa mesma 
garantia. Deve ser também padronizada, 
de forma que atinja a todos os consumido-
res de forma uniforme.
O consumidor deve ser devidamente es-
clarecido sobre os termos da garantia, por-
que ela é parte integrante do contrato de 
consumo.
O termo de garantia deve ser preenchi-
do pelo fornecedor por ocasião do contra-
to de consumo, e entregue ao consumidor, 
juntamente com o manual de instrução e 
instalação (este é obrigatório) – decorre 
do dever do fornecedor e direito do consu-
midor à informação correta, precisa e ade-
quada sobre os produtos e serviços.
3.6 Cláusulas abusivas 
(arts. 51 a 53 do CDC)
No Brasil, antes do CDC, essas cláusulas 
abusivas eram disciplinadas no direito po-
sitivo, superficial e esparsamente. Daí por 
que nosso Poder Judiciário sempre teve de 
recorrer às regras gerais veiculadas pelos 
arts. 4º e 5º da Lei de Introdução ao Código 
Civil (Dec. lei 4.657/42) para preencher tal 
lacuna; vale dizer: decidia-se apenas à luz 
da analogia, via direito comparado, orien-
tando-se pelos fins sociais e pelas exigên-
cias do bem comum. Também trazia luzes à 
questão o art. 85, do velho CC (art. 112 do 
CC/2002). No velho Código Civil tínhamos 
dois artigos que vedavam as chamadas 
cláusulas leoninas os arts. 115 e 1.372 (art. 
122 do CC/02 e sem correspondente).
Outros diplomas normativos também 
trataram do tema, entre os quais se des-
tacam: o Dec. nº 24.038/34, o Dec.Lei nº 
857/69 e o Dec. nº 59.195/66.
Enquanto isso, no exterior, a matéria já 
tinha tratamento mais adequado. Na Eu-
ropa, desde 1970, há regras contra essas 
26 27
cláusulas: no Reino Unido, desde 1973, e 
depois 1977, na Dinamarca, desde 1974, na 
Alemanha, desde 1976, na França, desde 
1978 e mais 1988 (normas incorporadas 
ao Code de Ia Consommation a partir de 
1993). Merece ser ressaltada a Diretiva da 
CEE 93/13, de 1993. Nos EUA, desde 1962 
o Uniform Commercial Code, seguindo lon-
ga esteira jurisprudencial, permite ao juiz 
anular toda cláusula abusiva.
Em termos de tutela contratual do 
consumidor, o CDC traz dois momentos 
distintos: no primeiro, que vai da efeti-
va formação do vínculo contratual (a fase 
pré-contratual), em que se estabelecem 
novos direitos para o consumidor e res-
pectivos deveres para o fornecedor; em 
outro e posterior momento, o CDC vem fi-
xar normas proibindo expressamente as 
cláusulas abusivas nos contratos de con-
sumo, garantindo, assim, uma proteção a 
posteriori do consumidor, por meio de um 
efetivo controle judicial do conteúdo dos 
contratos.
As cláusulas abusivas não se esgotam 
no rol estampado no CDC, posto que o 
Secretário Nacional de Direito Econômi-
co está autorizado pelo art. 58 do Dec. nº 
2.181/97 (que regulamenta o Sistema Na-
cional de Defesa do Consumidor) a editar, 
via portaria e anualmente, rol, também, 
exemplificativo de outras cláusulas assim 
reconhecidas e logo potencialmente nulas 
por abusividade (AMARAL, 2010).
Cláusula abusiva é a notoriamente des-
favorável ao consumidor, parte mais fraca 
da relação processual. Também chamadas 
de cláusulas opressivas, onerosas ou ex-
cessivas, elas quebram o equilíbrio entre 
as partes. Não são apenas as cláusulas de 
adesão, podendo ser referentes a qual-
quer cláusula contratual, escrita ou verbal 
(SMANIO, 2007).
No âmbito da proteção contratual es-
tabelecida pelo CDC, as cláusulas abusivas 
merecem um tratamento atencioso (AMA-
RAL, 2010).
De acordo com art. 51, caput, as cláusu-
las abusivas são nulas, sendo que a nuli-
dade deve ser reconhecida judicialmente, 
por meio de ação direta (ou reconvenção), 
de exceção substancial alegada em defesa 
(contestação), ou por ato ex officio do juiz. 
A sentença que reconhece a nulidade não 
é declaratória, mas constitutiva negativa. 
E seu efeito opera ex tunc (desde o mo-
mento da efetuação do contrato).
Por ser matéria de ordem pública, nuli-
dade de pleno direito, não é atingida pela 
preclusão, podendo ser arguida a qualquer 
tempo e grau de jurisdição, impondo-se 
ao juiz o dever de pronunciá-la de ofício. 
A ação para pleitear em juízo o reconheci-
mento da nulidade é imprescritível, pos-
to que o Código não fixou prazo para seu 
exercício (SMANIO, 2007).
As cláusulas abusivas relacionadas no 
CDC art. 51, são exemplificativas, ou seja, o 
CDC apenas enunciou algumas das cláusu-
las consideradas abusivas, havendo outras 
disposições esparsas no Código. O caput do 
art. 51 é expresso em utilizar a expressão 
entre outras. Exemplo: eleição de foro pre-
judicial ao consumidor.
O juiz poderá reconhecer e declarar de-
terminada cláusula, atendidos os princípios 
da boa-fé e da proteção ao consumidor.
O art. 6º, IV, do CDC, dispõe generica-
mente que o consumidor tem o direito de 
proteção contra as cláusulas abusivas, não 
restringindo a amplitude deste direito.
28 29
São espécies de cláusulas abusivas:
1. cláusula de não indenizar – é 
nula a cláusula que contenha óbice ao de-
ver legal de indenizar. A proibição atinge 
qualquer cláusula que tenha por objetivo 
exonerar, impossibilitar ou atenuar a res-
ponsabilidade do fornecedor (art. 51, I);
2. cláusula de renúncia ou disposi-
ção de direitos – as normas do CDC são 
de ordem pública e interesse social. A 
cláusula de renúncia ou disposição de di-
reitos não tem validade porque quebra o 
equilíbrio contratual;
3. cláusula de limitação da indeni-
zação com consumidor/pessoa jurídi-
ca – na hipótese da relação fornecedor-
-consumidor pessoa jurídica, a lei abranda 
a proibição da cláusula de exoneração da 
responsabilidade. Permite a estipulação 
de limitação da indenização, mas não a 
exoneração, desde que a situação seja 
justificável. Ficará ao juiz a decisão sobre 
a situação, se é justificável ou não, para 
limitar a indenização. Ex.: fornecedor ven-
de computador de grande porte para con-
sumidor pessoa jurídica – estipula limita-
ção da responsabilidade em caso de dano;
4. cláusula que impeça reembolso 
da quantia paga pelo consumidor – 
quando o consumidor tem o direito confe-
rido pelo CDC de reembolso das quantias 
pagas ao fornecedor, é nula a cláusula que 
lhe retirar o direito. Ex.: direito de arre-
pendimento;
5. transferência de responsabili-
dade a terceiros – as partes devem su-
portar os ônus e obrigações decorrentes 
da relação de consumo, não podendo o 
fornecedor transferir a terceiros sua res-
ponsabilidade. Isto não se aplica ao con-
trato de seguro que pode fazer o fornece-
dor com uma seguradora, para garantir-se 
dos riscos de sua atividade. O CDC prevê 
expressamente a possibilidade (art. 101, 
II), inclusive com a hipótese de chama-
mento ao processo da seguradora para 
ressarcimento ao consumidor;
6. colocação do consumidor em 
desvantagem exagerada – o juiz é que 
avaliará em cada caso concreto a desvan-
tagem do consumidor: o § 1º do art. 51 es-
tabelece, exemplificativamente, algumas 
hipóteses de vantagem exagerada do for-
necedor:
a. ofensa aos princípios fundamentais 
do sistema jurídico. Ex.: afastar normas

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