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1 ESTATUTO DO DESARMAMENTO (10.826/03) - Bem Jurídico Tutelado Em regra, a segurança/incolumidade pública. Sujeito passivo - o Estado ou a coletividade. - Competência O controle de armas no Brasil é feito pelo SINARM, que é uma entidade da União. Logo que entrou em vigor o estatuto do desarmamento afirmava-se que todo crime do estatuto atingia interesse da união e por isso a competência deveria ser da Justiça Federal. Ao analisar a situação, o STJ firmou entendimento de que a regra é que a competência é da justiça estadual, salvo se o delito atingir interesse direto da União. Segundo o STJ, o que fixa a competência é o bem jurídico tutelado, que neste caso é a incolumidade pública pertencente à coletividade e não à união. Por isso, a competência é da justiça estadual. A EXCEÇÃO é o caso de tráfico internacional de armas, que é de competência genuína da justiça federal. PERGUNTA-SE: Porte ilegal de arma praticado por militar em área militar é de competência de quem? Da justiça comum, estadual ou federal, já que o porte ilegal de arma não é crime militar. STJ, CC 112.314. Obs.: Competência para estabelecer em qual unidade do exército a arma apreendida em processo será entregue. -> O STJ decidiu, em vários conflitos de atribuições, que cabe ao comando do exército definir quais unidades recebem as armas, mas cabe ao juiz do processo decidir para qual destas unidades a arma será encaminhada. CAt 195/BA - Objeto jurídico Entendimento do STJ e do STF: Objeto jurídico imediato/principal -> incolumidade pública. Objeto jurídico mediato/secundário -> segurança individual; patrimônio, vida, liberdade e etc. STF, HC 96.072 e STJ, HC 156.736. • Artigo 12 Posse irregular de arma de fogo de uso permitido Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 2 Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Sujeito passivo: coletividade. É um crime vago – não existe vítima determinada. Conduta: possuir e manter sobre a guarda. Significa ter a pronta disponibilidade da arma, ainda que ela não esteja junto ao corpo (ela pode estar guardada na gaveta, por exemplo). Objeto material: arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido. Obs.: Acessório de arma: “artefato que, acoplado a uma arma, possibilita a melhoria do desempenho do atirador, a modificação de um efeito secundário do tiro ou a modificação do aspecto visual da arma”. Conceito presente no artigo 3º, II do DEC 3665 de 2000. Ex.: Silenciador, mira a laser. Mas o coldre não é acessório de arma de fogo no sentido técnico da palavra. Partes da arma também não podem ser considerados como acessórios da arma. Elemento normativo do tipo: está na expressão “em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. Então, a posse legal é fato atípico. Posse Legal Posse Ilegal É a posse com registro expedido pela polícia federal, após autorização do SINARM (artigo 5º). Obviamente é fato atípico. É crime. De 23 de dezembro de 2003 até 31 de dezembro de 2009, sucessivas normas concederam prazo para a regularização da posse de arma de fogo no Brasil. Neste período a posse ilegal não configurou crime. Ocorreu neste período o que é denominado pelo STJ e STF de Abolitio criminis temporalis ou atipicidade momentânea ou vacatio legis temporária. O STJ pacificou entendimento de que este período deve ser dividido em dois subperíodos: do dia 23/12/03 ao dia 23/10/05 a abolitio valeu tanto para armas permitidas quanto para armas proibidas. Do dia 24/10/05 ao dia 31/12/09 a abolitio somente valeu para arma permitida. Isto porque a norma que prorrogou o prazo no dia 24/10/05 somente se referiu às armas permitidas. À partir de 1º de janeiro de 2010 a posse ilegal de arma de fogo de uso permitido e de uso proibido configura crime, MAS a entrega espontânea é causa extintiva de punibilidade. Artigo 32 da 10.826. PERGUNTA-SE: Esta abolitio criminis temporária aplica-se à arma raspada? Para o STJ a arma raspara equipara-se à arma proibida porque não pode ser levada a registro. Sendo assim, aplica-se a ela o mesmo raciocínio da arma proibido – quer dizer, no primeiro subperíodo, abolitio criminis; no segundo não. 3 Obs.: A abolitio criminis não se aplica ao porte, mas tão somente à posse. Elemento espacial do tipo penal: está na expressão “no interior de sua residência ou dependência...”. Por este elemento espacial se consegue distinguir a posse do porte. Posse Porte Ocorre na residência do infrator ou dependência desta, ou ainda no local de trabalho do infrator, desde que ele seja o proprietário ou responsável legal pelo local. Em qualquer outro local. Ex.: O dono e o garçom de um restaurante possuem uma arma escondida na gaveta -> o dono pratica posse e o garçom porte. • Artigo 13 Omissão de cautela Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. Sujeito ativo: somente pode ser o possuidor ou proprietário da arma. Trata-se de um crime próprio, já que exige condição especial do sujeito ativo. Sujeito passivo: além da coletividade, o menor de 18 anos e o doente mental. Obs.: Há o crime mesmo que o menor tenha adquirido a capacidade civil plena. O que importa para o tipo é a idade biológica. Obs.: Não é necessária nenhuma relação de parentesco entre o sujeito ativo e o sujeito passivo. Obs.: O tipo penal somente tutela o doente mental e não tutela o deficiente físico. Ora, o que o tipo penal quer é impedir que a arma fique perto de pessoa que não tenha capacidade mental de manuseá-la. Tipo objetivo: “deixar de observar as cautelas necessárias” -> é quebra do dever de cuidado objetivo. Trata-se de crime culposo. Crime omissivo puro/próprio, já que o verbo do tipo penal é uma omissão. Objeto material: arma de fogo de uso permitido ou de uso proibido, já que o tipo penal não especifica o tipo de arma. O tipo penal não prevê como objeto material acessórios e munição. Consumação e tentativa: Diz a doutrina que a consumação se dá com o apoderamento da arma pelo menor ou pelo doente mental. Para Capez este delito é material, já que o resultado naturalístico é o próprio apoderamento da arma pela vítima. Nucci, por seu turno, afirma que trata-se de crime formal (ou de consumação antecipada), vez que o apoderamento não seria o resultado naturalístico, mas sim a morte ou a ofensa a integridade física da vítima, resultados estes que não precisam acontecer para o crime estar consumado. 4 A tentativa NÃO é possível, considerando que se trata de delito culposo e omisso puro/próprio. Parágrafo único do artigo 13 Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato. Sujeito ativo: é o proprietário ou direto responsável de empresa de segurança e transporte de valores. Atenção! Se o segurançadeixa de comunicar o extravio ele não comete o crime. Trata-se de crime próprio que exige condição especial do agente. Sujeito passivo: a coletividade e o estado, que fica prejudicado no controle de armas. Conduta: o tipo penal prevê duas condutas: a. Deixar de registrar ocorrência policial, e; b. Deixar de comunicar à PF sobre furto roubo ou qualquer forma de extravio. PERGUNTA-SE: Se o diretor da empresa fizer o BO, mas não comunicar à PF, ou vice- versa, ele comete o crime? 1ª corrente: Sim. Isto porque o tipo penal impõe duplo dever de comunicação. O que significa dizer que a falta de uma das comunicações já é suficiente para configurar o crime. ESTA PRIMEIRA CORRENTE É ADOTADA PELA DOUTRINA MAJORITÁRIA. 2ª corrente: Não. Já que o Estatuto do Desarmamento prevê que é dever do estado manter um cadastro único de armas no Brasil. Portanto, a comunicação a um só dos órgãos já seria suficiente para afastar o crime. ESTA CORRENTE PODE ATÉ SER AVENTADA EM PROVAS DE DEFENSORIAS Elemento subjetivo: trata-se de crime doloso. Ou seja, se a omissão for culposa o fato será atípico. Para a doutrina, o caput é culposo, mas o parágrafo único é doloso. Consumação e tentativa: a consumação se dá somente após 24horas do fato. Trata-se de um crime à prazo. Leia-se, conforme explicado pela doutrina, 24horas depois da ciência, pelo responsável, do fato, sob pena de responsabilidade penal objetiva. A tentativa não é possível. Vez que se trata de crime omissivo puro/próprio. A consumação não admite fracionamento. 5 Artigo 14 Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1) Trata-se de crime de conduta múltipla ou variada. Tipo misto alternativo. A prática de várias condutas no mesmo contexto fático é crime único, por aplicação do PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE. No mais, aplica-se o que já se disse quando ao crime de posse, com a diferença de que o tipo agora se refere à conduta de portar. Questões controvertidas (que envolvem tanto a posse quanto o porte) 1ª. Exame pericial: ele é ou não necessário para a configuração dos delitos? Se a arma foi apreendida, o exame pericial é imprescindível para a comprovação do crime. Contudo, se a arma não foi apreendida a falta do exame pericial pode ser suprida por outras provas. Este é o entendimento já pacífico no STJ e no STF. STF, HC 100.008; HC 175.778 (envolve roubo com emprego de arma). Obs.: A 5ª turma do STJ entende que o exame pericial é sempre desnecessário, mesmo que a arma tenha sido apreendida, já que se trata de crime de perigo abstrato. 2ª. Arma desmuniciada: o que prevalece no STJ e no STF é de que é crime, já que se trata de infração de perigo abstrato ou presumido. Se a arma está desmuniciada ela não está gerando um perigo real naquele momento. Mas ela não precisa gerar este perigo já que ela é crime de perigo abstrato. STJ, HC 178.320 28/02/12. Existe entendimento minoritário no STJ de que, se a arma está desmuniciada e sem condições de pronto municiamento, não é crime. Entendimento da 6ª Turma. 3ª. Munição desarmada: é crime? É crime pelo mesmo raciocínio. É delito de perigo abstrato. STJ, HC 222.758 - 20/03/12. No STF está se discutindo se somente munição, desarmada, é crime. STF, HC 90.075. Ler informativo 583 – voto do Min. Peluso – para entendermos o posicionamento de que não é crime. 4ª. Arma quebrada é crime? A doutrina diz que, se a arma é absolutamente inapta para efetuar disparos, trata-se de crime impossível, por absoluta impropriedade do objeto. Mas se a arma é relativamente inapta, aí há o crime. 5ª. Princípio da insignificância na posse ou porte de munição. STJ e STF não admitem princípio da insignificância. STF, HC 97.777. STJ, HC 45.099. Não admitem sob o argumento de que o bem jurídico tutelado é a segurança pública, que não é passível de mensuração. 6 Obs.: recentemente a 6ª Turma aplicou o princípio da insignificância no caso de uma munição. É a primeira decisão em que o STJ reconheceu o princípio da insignificância no caso de porte de munição. 6ª. Porte ilegal e homicídio. O homicídio absorve o porte ilegal de arma? DEPENDE. Se o porte ocorreu exclusivamente para a prática do homicídio, fica então absorvido. Ex.: O sujeito, que tem uma arma em casa com posse permitida, após brigar em um bar, retorna em sua residência, pega a arma e mata o desafeto: neste caso há absorção. Contudo, se o porte existe independentemente do homicídio, haverá concurso material de crimes. Há concurso material, pois o homicídio e o poder têm objetos jurídicos distintos. Saber se o porte foi ou não absorvido pelo homicídio é matéria de fato e por isso não pode ser discutido na sede de HC. 7ª. Porte ou posse simultânea de duas ou mais armas. Prevalece que a posse ou o porte simultâneo de duas ou mais armas configura crime único, vez que gera uma só situação de perigo. O número de armas será considerado na dosimetria da pena. Há uma decisão do STJ em que se decidiu que se uma arma é permitida e outra é proibida, trata-se de concurso de crimes – artigo 14 e artigo 16. HC, 161.876. Esta decisão gera o seguinte absurdo: se o sujeito tem um 38 e uma metralhadora, ele pratica dois crimes. Mas se ele tem 3 metralhadoras, aí ele pratica um crime só. Artigo 15 Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. (Vide Adin 3.112-1) São duas condutas: disparar arma de fogo ou acionar munição. Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: a coletividade. Condutas: o tipo pune o disparo e o acionamento de munição sem o disparo (o sujeito saca a arma, dá três disparos, mas a munição falha – a arma “picotou”). O número de disparos será considerado na pena, não alterando o tipo penal. “Em lugar habitado ou em suas adjacências...” é o elemento espacial do crime. O disparo em local ermo não configura crime. Trata-se, segundo a doutrina, de crime de perigo abstrato. A conduta precisa ocorrer em local habitado ou em via pública, porém não precisa gerar uma situação de perigo real para ninguém. Ex.: ainda que o sujeito atire em uma casa vazia, às 4h da madrugada, ele cometeu o crime, mesmo que não tenha gerado perigo para ninguém. STF, HC 96072, HC 104.206 – Para o Supremo trata-se de crime de perigo abstrato. Elemento Subjetivo: Dolo. Significa dizer que o disparo acidental é fato atípico. 7 Consumação e tentativa: a consumação se dá com o mero disparo ou acionamento. A tentativa é plenamente possível. Este crime do artigo 15 é subsidiário e que somente será aplicado se o disparo não tiver a finalidade de outro crime. Temos que diferenciar o que o Estatuto diz e o que a doutrina diz. Para o Estatuto do Desarmamento o artigo 15 não se aplica se o disparo teve a finalidade de outro crime (mais grave ou menos grave (tanto faz)). Já a doutrina afirma que o artigo 15 não se aplica se o disparo teve a finalidade de outro crime mais grave. Pelo princípio da consunção o crimemenos grave não pode absorver o crime mais grave. Conclusão da doutrina: se o disparo teve finalidade a prática de um crime menos grave ou de igual gravidade, prevalece o disparo ou há concurso de crime no caso de igual gravidade. O homicídio, a lesão grave, gravíssima e seguida de morte absorvem o disparo. Já se a intenção foi a prática de lesão leve, neste caso prevalece o delito de disparo. A lesão leve não pode absorver o disparo, já que é crime menos grave. Artigo 132 do CP e artigo 15 do ED- Se a finalidade do disparo foi expor a perigo a vida de alguém, prevalece o disparo, já que é crime mais grave. Ambos os crimes são subsidiários, mas prevalece o de disparo que é crime mais grave. Artigo 16 Art. 16, Lei n° 10.826/03. “Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.” Aplica-se tudo que foi dito nos crimes de posse e de porte de arma de uso permitido (arts. 12 e 14), somente com diferença quanto ao objeto material: arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito. Segundo a doutrina: Arma proibida - é aquela que em nenhuma hipótese pode ser objeto de porte. Ex.: canhão. Arma restrita - é aquela cujo porte é limitado a algumas pessoas e/ou instituições. Ex.: pistola calibre .45. Apesar dessa diferença, o art. 3°, LXX do Dec. 3665/00 define arma proibida da seguinte forma: arma proibida é a antiga designação que hoje é denominada arma de uso de restrito. Para o decreto, não existe mais arma de uso proibido. O art. 16 é norma penal em branco, heterogênea ou heteróloga, completada pelo decreto supracitado. ATENÇÃO: 8 Existe doutrina minoritária afirmando que há inconstitucionalidade nessa equivalência de punição entre posse e porte no art. 16, pois são condutas diferentes punidas com a mesma pena (violação à proporcionalidade). - Art. 16, Parágrafo único, Lei n° 10.826/03. Art. 16, caput, ED Art. 16, parágrafo único, ED Objeto material: arma de fogo de uso proibido ou restrito. Objeto material: arma de fogo de uso proibido ou restrito, ou arma de fogo de uso permitido – o art. 16, parágrafo único é tipo penal autônomo e independente do caput. v. STJ, REsp 918.867. Art. 16, parágrafo único, Lei n° 10.826/03. “Nas mesmas penas incorre quem: I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná‑la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz; III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado; V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.” Inciso I: pune quem faz adulteração (de arma ou artefato). Inciso IV: pune quem porta, possui, adquire, transporta ou fornece a arma já adulterada (somente arma). Inciso II: modificar as características de arma de fogo, para: - torná‑la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito. Ex.: modifica o cano da arma para aumentar o calibre. É uma arma de uso permitido que está sendo transformada em arma de uso proibido ou restrito (mais um argumento para dizer que o parágrafo único é tipo penal autônomo e independente que se aplica às armas de uso permitido). - dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz. Prevalece sobre o crime de fraude processual previsto no CP. Há o crime mesmo que não logre êxito em induzir a autoridade a erro (basta a finalidade). O tipo penal não menciona o MP, e se a finalidade é induzir em erro o MP, não há o crime. Inciso III: “possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.” Objeto material: não é arma, munição nem acessório. É artefato explosivo ou incendiário. Ex.: granada, bomba caseira. Inciso V: “vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente.” Art. 242, ECA. “Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, munição ou explosivo: Pena – reclusão, de três a seis anos.” 9 Trata-se de conflito aparente de normas: Art. 242, ECA Art. 16, parágrafo único, V, Lei n° 10.826/03 Somente se aplica no caso de arma branca. No mais, se aplica o Estatuto do Desarmamento: arma de fogo, acessório, munição e explosivo. Foi parcialmente revogado pelo Estatuto do Desarmamento. 3.7) Comércio ilegal de arma de fogo: Art. 17, Lei n° 10.826/03. “Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. Parágrafo único. Equipara‑se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.” cláusula de equiparação. - Sujeito ativo: somente o comerciante ou industrial, legal ou ilegal (crime próprio, pois exige condição especial do sujeito ativo). - Objeto material: arma de fogo, acessório ou munição. Porém, o tipo não especifica se abrange os objetos de uso permitido ou proibido, ou ambos. Entende-se que abrange ambos, mas sendo de uso proibido, há aumento de pena: Art. 19, Lei n° 10.826/03. “Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.” O crime do art. 17 da Lei n° 10.826/03 não é crime habitual, mas sim instantâneo (uma única conduta já configura o crime). Ex.: dono de restaurante que comercializa arma de fogo comete o crime do art. 14 ou do art. 16, a depender se a arma é permitida ou restrita. Para configurar o crime do art. 17, é preciso ser comerciante de armas. 3.7) Tráfico internacional de armas de fogo: Art. 18, Lei n° 10.826/03. “Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.” O tipo penal pune quatro condutas: - Importar/exportar = crime material se consuma com a efetiva entrada ou saída do objeto do território brasileiro (prevalece sobre o crime de contrabando do art. 334, CP – princípio da especialidade). É crime comum. - Facilitar a entrada/saída = crime formal ou de consumação antecipada se consuma com a simples facilitação, ainda que o facilitado não consiga entrar ou sair com o objeto do país. A tentativa só é possível na forma escrita. Prevalece sobre o crime funcional de facilitação de contrabando do art. 318, CP. O crimedo art. 18, Lei n° 10.826/03 não é crime funcional, mas sim crime comum. Ex.: policial federal que trabalha na alfândega facilita a entrada ou saída de armas não responde por facilitação de contrabando, mas sim por tráfico internacional de armas. - Objeto material: idem art. 17. É crime de competência genuína na Justiça Federal. STF e STJ já decidiram que não se aplica princípio da insignificância no tráfico internacional de munições (STF, HC 97.777/MS). 10 A venda de armas configura qual crime? Depende. - Se for uma venda praticada por não comerciante de arma = crime do art. 14 (se for arma permitida) ou do art. 16 (se for arma restrita). - Se for uma venda praticada por comerciante de armas, legal ou clandestino = art. 17, seja a arma permitida ou proibida. - Se for uma venda internacional = art. 18, seja comerciante ou não de armas, seja a arma permitida ou proibida. 4) FIANÇA E LIBERDADE PROVISÓRIA: Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido: Art. 14, parágrafo único, Lei n° 10.826/03. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente.” *O STF, por maioria de votos, julgou parcialmente procedente a ADIN n° 3.112-1, para declarar a inconstitucionalidade deste parágrafo único (DOU de 10-5-2007). Disparo de arma de fogo: Art. 15, Lei n° 10.826/03. “Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. *O STF, por maioria de votos, julgou parcialmente procedente a ADIN n° 3.112-1, para declarar a inconstitucionalidade deste parágrafo único (DOU de 10-5-2007). Art. 21, Lei n° 10.826/03. “Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de liberdade provisória.” *O STF, por maioria de votos, julgou parcialmente procedente a ADIN n° 3.112-1, para declarar a inconstitucionalidade deste artigo (DOU de 10-5-2007). Conclusão: cabe fiança e liberdade provisória em qualquer crime do Estatuto do Desarmamento. Os crimes dos arts. 17 e 18 (comércio ilegal e tráfico internacional) são passíveis de fiança, pois a partir da Lei n° 12.403/11, a pena mínima não é mais considerada para analisar a possibilidade de fiança.
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