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TTÍÍTTUULLOOSS DDEE CCRRÉÉDDIITTOO PROF. GIANELLI RODRIGUES I. CRÉDITO deriva do latim creditum, decorrente de credere, no sentido de confiar, ter fé. Crédito pode ter outros significados: ▪ Jurídico: o direito que o credor tem de receber do devedor a prestação, objeto da obrigação. ▪ Moral: confiança que uma pessoa inspire em outra baseada em seus atributos morais. II. ELEMENTOS DO CREDITO (CONFIANÇA E TEMPO): ▪ CONFIANÇA: - no sentido subjetivo – crença que o credor deposita na pessoa do devedor de que este preenche os requisitos morais básicos necessários à efetivação do negócio jurídico. - no sentido objetivo – certeza que o credor tem de que o devedor possui capacidade econômico-financeira para lhe restituir a importância mutuada no termo final do prazo, resultando essa confiança do conhecimento da renda e do patrimônio do devedor. Obs.: Para alguns autores o elemento confiança não mais existe pelo fato de as instituições financeiras, ao efetivarem operações de crédito, exigirem garantias a serem prestadas pelo financiado. ▪ TEMPO: período entre o momento do cumprimento da prestação atual por quem concede o crédito, e o momento da prestação futura a ser satisfeita pelo seu beneficiário. O prazo decorre da própria noção de tempo. ▪ CONCEITO ECONÔMICO DE CRÉDITO: Para Stuart Mill: crédito é a permissão de usar capital alheio. Para Werner Sombart: crédito confere poder de compra a quem não dispõe de recursos para realizá-lo. Para Luiz Emygdio: credito é a troca de prestação atual por prestação futura. III. CLASSIFICAÇÃO DO CRÉDITO: 1) Em função de sua garantia: a) Crédito real: quando esta garantido por determinado bem do devedor (móvel – penhor, imóvel – hipoteca) ficando o bem vinculado ao cumprimento da obrigação pelo devedor. A garantia real caracteriza-se pelo direito de seqüela – excutir o bem, mesmo estando em poder de terceiro. b) Crédito pessoal: a garantia não é representada por um determinado bem do devedor, mas pela integralidade do seu patrimônio sendo exemplo de garantias fidejussórias, o aval e a fiança. 2) Quanto ao fim de sua utilização: a) Crédito para consumo: beneficiário aplica o valor recebido para satisfazer suas necessidades individuais, inclusive adquirindo bens de consumo. b) Crédito para produção: quando o devedor utiliza os recursos obtidos na produção de determinados bens, podendo ser, comercial, agrícola, mobiliário ou imobiliário. 3) Em relação ao tempo decorrente entre o cumprimento da prestação atual e da futura: o crédito pode ser a curto, médio e a longo prazo. 4) Quanto ao instrumento de sua realização, o credito se representa por: a) Título de Crédito; b) Contrato (mútuo, abertura de crédito, venda a prazo e etc); 5) Quanto à pessoa que se beneficia: a) Privado (pessoa natural ou jurídica de direito privado); b) Público: Estado (pessoa jurídica de direito público). 6) Quanto ao local de obtenção do crédito: a) Interno: quando obtido dentro do mercado próprio território do Estado; b) Externo: quando os recursos emanarem de fonte situada fora do território nacional. IV. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO: 1. Evolução Histórica Chama-se Direito Cambiário ou Direito Cambial, o sub-ramo do Direito Empresarial que disciplina todo o regime jurídico aplicável aos Títulos de Crédito. Segundo Tullio Ascarelli, o desenvolvimento dos Títulos de Crédito permitiu que o mundo moderno mobilizasse suas próprias riquezas, vencendo o tempo e o espaço. Com efeito, o crédito, que consiste, basicamente, num direito a uma prestação futura, se baseia, fundamentalmente, na confiança, surgiu da constante necessidade de viabilizar uma circulação mais rápida de riqueza do que a obtida pela moeda manual. O Título de crédito é um dos institutos de maior importância do direito comercial/ empresarial por se aquele que influi tipicamente na formação da economia como instrumento mais adequado da mobilização da riqueza e da circulação de crédito. Assim, os Títulos de Crédito são, em síntese, instrumentos de circulação de riqueza. A princípio existia a economia natural, onde tudo era feito através do escambo, em um segundo momento surgiu à economia monetária, onde foi criado um padrão comum para as trocas (dinheiro) e em um terceiro momento apareceu a economia creditaria, onde os títulos de crédito representaram o dinheiro. Nas palavras de Juliana Martins Ferreira: “Os títulos de crédito tiveram sua origem na Idade Média, provavelmente no século XIII, surgindo com a exigência de um documento para firmar acordos financeiros. Com as feiras de mercadores existentes neste período, foi necessário ter uma forma de trocar os vários tipos de moeda que circulavam, além de que na época os assaltos eram freqüentes. Havia dois tipos de câmbio, o manual e o trajetício. A partir do século XV, os títulos de crédito foram evoluindo em diferentes lugares da Europa, buscando satisfazer os interesses dos comerciantes da época. Em Roma, não tinha documento que provasse a existência dos títulos de crédito, mas, no chamado período italiano (até 1673), o comércio funcionava com base na confiança, ou seja, usava- se do câmbio trajetício apenas para trocar documento por moeda. Já no período francês (1673 a 1848), os títulos de crédito passam a ser instrumento de pagamento, nessa época surge o endosso, e não podiam ser abstratos, teriam que apresentar causa específica e provisão de fundos, ou seja, apenas com saldo disponível o título seria pago. No período alemão (1848 a 1930) surgiu o título de crédito propriamente dito. Nessa época, o título se tornou abstrato, não tinha causalidade e nem exigência de fundos, mas existia o aceite, dado pelo sacador, atribuindo responsabilidade de pagamento ao sacado. Começou, assim, o processo de conceituação dos títulos de crédito, além de conferências para elaborar uma legislação uniforme, realizadas na cidade de Haia, Suíça.” Com o desenvolvimento do comércio internacional, em especial no século XX, tornou-se urgente a adoção de medidas extraterritoriais e a exigência de documentos para efetivação de pagamento de bens e serviços levou a várias tentativas, inicialmente sem sucesso, para uniformização dos títulos de crédito existentes. A Primeira Grande Guerra foi um dos fatores que desencadearam um estanque nas negociações de criação de uma Lei Uniforme Internacional aos títulos de crédito, entrementes, após a guerra, em 1930, as iniciativas diplomáticas tiveram sucesso, culminando na assinatura da Convenção de Genebra por diversos países, inclusive o Brasil, os quais assumiram compromisso de elaborar leis que integrassem o quanto disposto em tal convenção em seus ordenamentos jurídicos. Atualmente há quem defenda que os títulos de crédito estão em período de decadência, em função da evolução da informática, bem como do tratamento magnético das informações, os quais vêm substituindo a utilização do papel como suporte de informações, rompendo com características essenciais desse instituto, qual seja a cartularidade e a literalidade.” Os títulos de créditos por não substituírem o padrão monetário, não têm curso forçado. As duas principais facilidades dos títulos de crédito são a possibilidade de fácil negociação e o seu meio judicial de cobrança, que é mais célere e eficiente. Aí podemos questionar: “Por que circular crédito se eu tenho um instituto para fazer circular crédito normalmente, que no Direito Civil é o contrato de cessão de crédito (art.286) ? Para que um título de crédito se eu já tenho a cessão civil de crédito? Para que criar um instituto diferente para fazer circular o crédito?” Mas há uma grande diferença. A circulação desse crédito (outrora chamada comercial, hoje chamada empresarial) tem que ser célere. O crédito necessita, circular rápido.Com a cessão de crédito, isso não acontecer, pois, o cessionário desse crédito vai querer ler o contrato e discutir todas as cláusulas. No título de crédito nós vamos ter um documento, que é um bem móvel que rapidamente possa a dar segurança a esse crédito. Sendo o título de crédito um bem móvel, ele será passível de penhora, arresto, seqüestro, caução, ou seja, teremos um título executivo extrajudicial. É exatamente em razão dessa primeira análise, que o professor Pontes de Miranda passou a identificar títulos cambiários e cambiariformes. ▪ título cambiário é aquele que nasce para circular, aquele que tem como fundamento a circulação; ▪ título cambiariforme é título de crédito também, mas que já foi desfigurado, já perdeu um pouco dessa essência de que falamos, fundamento à circulação. 2. ORIGEM ETIMOLÓGICA Título: Documento, papel, cártula. Crédito: “Lotum creditum”, que significa confiança, fé. Título de Crédito: Um papel entregue a uma pessoa em confiança. O título tem o significado de papel, documento, assim o título de crédito seria a corporificação da confiança em um documento. 3. NATUREZA JURÍDICA. ▪ Para o Direito Civil: É um bem móvel. Sendo o título de crédito um bem móvel, como já explicado, ele será passível de penhora, arresto, seqüestro, caução. ▪ Para o Processo Civil: É um título executivo extrajudicial, art. 784, I do CPC (cheque, letra de câmbio, duplicata e nota promissória). ▪ Para o Direito Empresarial: É um ato mercantil por força de lei (Carvalho de Mendonça). 4. DEFINIÇÃO Sob o aspecto jurídico, temos a lição de Cesare Vivante: “é o documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele mencionado”. Sob o aspecto econômico, valemo-nos da lição de José Maria Withaker: “é um documento formal capaz de realizar imediatamente o seu valor”. Leva em consideração a negociabilidade do título, a circulação de riquezas. O melhor é aproximar os dois aspectos, afirmando que Título de Crédito é o documento formal, necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele mencionado, capaz de realizar imediatamente o seu valor. Frise-se que o conceito de Vivante foi mundialmente aceito, inclusive pelo nosso Código Civil (art.887): Art. 887: O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. Doutrinadores discutem se os títulos de crédito pertencem ao direito das coisas (Vivante e Inglês de Souza) ou ao direito das obrigações (Bonelli). O Código Civil adotou a posição de Bonelli. Partindo da definição de título de crédito, de Cesare Vivante, podemos começar a extrair os princípios e os atributos dos títulos de crédito. Princípios e atributos dos títulos de crédito não são a mesma coisa. 5. ATRIBUTOS/ PREDICADOS/CARACTERÍSTICAS Os atributos dos títulos de crédito são: celeridade, circulabilidade, negociabilidade, exeqüibilidade, executoriedade, segurança, apresentação e resgate. 6. PRINCÍPIOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO • DOCUMENTO NECESSÁRIO – o título deve estar necessariamente corporificado em um documento específico. Não existe o título por analogia, por semelhança. Este formalismo nos informa que: não é qualquer documento que é um TC, em regra, todo TC é um documento. • CARTULARIEDADE – (ou incorporação – o direito de crédito está incorporado na cártula) é a corporificação do título no papel, por meio de um documento. Dessa característica surge algumas decorrências, uma delas é a função legitimadora do título a pessoa que o detêm a efetuar a cobrança, a outra decorrência é a que o título de crédito é um título de apresentação, elemento que irá qualificar perante um devedor a pessoa do credor, tais decorrências são em virtude da Teoria de Jacob que coloca que o título transforma uma aparência em realidade, isto é, a detenção do título transforma a pessoa na realidade do credor. Exceções: Art. 36 Decreto 2044/1908: “Justificando a propriedade e o extravio ou a destruição total ou parcial da letra, descrita com clareza e precisão, o proprietário pode requerer ao juiz competente do lugar do pagamento na hipótese de extravio, a intimação do sacado ou do aceitante e dos coobrigados, para não pagarem a aludida letra, e a citação do detentor para apresentá-la em juízo, dentro do prazo de três meses, e, nos casos de extravio e de destruição, a citação dos coobrigados para, dentro do referido prazo, oporem contestação, firmada em defeito de forma do título ou, na falta de requisito essencial, ao exercício da ação cambial.” Art. 21 §3º da Lei 9492/97: Quando o sacado retiver a letra de câmbio ou a duplicata enviada para aceite e não proceder à devolução dentro do prazo legal, o protesto poderá ser baseado na segunda via da letra de câmbio ou nas indicações da duplicata, que se limitarão a conter os mesmos requisitos lançados pelo sacador ao tempo da emissão da duplicata, vedada a exigência de qualquer formalidade não prevista na Lei que regula a emissão e circulação das duplicatas. (este dispositivo revogou o art. 13 §1º da lei de Duplicatas 5474/68). • LITERALIDADE – Também é conhecida de completude, que significa dizer que somente tem validade aquilo que está escrito no corpo do título. A doutrina faz previsão para folha de alongamento, que seria uma mera continuidade do título, não podendo anexar nada além do que é previsto ao título. A obrigação do devedor somente irá existir após a feitura de sua assinatura no título. Exceções: ▪ Os casos do aceite tácito, ficto ou presumido na duplicata: Art. 15. II, a,b,c, Lei. 5474/68: A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será efetuada de conformidade com o processo aplicável aos títulos executivos extrajudiciais, de que cogita o Livro II do Código de Processo Civil ,quando se tratar: (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977). II - de duplicata ou triplicata não aceita, contanto que, cumulativamente: (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977): a - haja sido protestada; (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977); b - esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e recebimento da mercadoria; e (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977); c - o sacado não tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo, nas condições e pelos motivos previstos nos artigos 7º e 8º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977). ▪ Art. 9º, § 1º da Lei. 5474/68: É lícito ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la ou antes da data do vencimento. § 1º - A prova do pagamento e o recibo, passado pelo legítimo portador ou por seu representante com poderes especiais, no verso do próprio título ou em documento, em separado, com referência expressa à duplicata. ▪ Art . 7º, § 1º da Lei. 5474/68: A duplicata, quando não for à vista, deverá ser devolvida pelo comprador ao apresentante dentro do prazo de 10 (dez) dias, contado da data de sua apresentação, devidamente assinada ou acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta do aceite. § 1º - Havendo expressa concordância da instituição financeira cobradora, o sacado poderá reter a duplicata em seu poder até a data do vencimento, desde que comunique, por escrito, à apresentante o aceite e a retenção. ▪ São também exceções determinadas parcelas (valores) que não constem na cártula, mas que podem ser cobradas numa eventual ação de execução, mesmo não constando do TC, como as despejas judiciárias, os juros, a correção monetária, os honorários advocatícios. Isso decorre de lei. • AUTONOMIA – Cada direito resultante de um título de crédito é um direito novo. Dessa característica decorre o princípio da independência das obrigações cartulares, as obrigações novas resultantesda transferência do título, não têm vínculos com as anteriores e seus vícios não afetam as posteriores, ou seja, o vício de uma obrigação não contamina as demais. Conseqüentemente, o credor, ao exigir de algum devedor cambiário o pagamento do valor ou o cumprimento da obrigação cambiária, não pode este devedor alegar exceções pessoais defesas de outros devedores em relação ao terceiro de boa fé, ou seja, o credor. É o princípio mais importante para as questões práticas. A finalidade do princípio da autonomia é garantir a receptividade e a aceitabilidade do Título de Crédito, ou seja, para dar segurança à sua circulação. O credor de boa fé vai receber, não importa de quem. • ABSTRAÇÃO - Uma vez o TC circulando (via endosso e não cessão de crédito) a relação cambiária desvincula-se de sua causa. • INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS A TERCEIROS DE BOA-FÉ: Só ocorre em consequencia ao principio da abstração, ou seja, se o TC circulou via endosso haverá tal inoponiblidade. Caso o TC não tenha circulado haverá a oponibilidade das exceções pessoais. Exemplo 1: A comprou o carro de B e pagou com TC, o TC não circulou está nas mãos de B, A não pagou o valor do TC por que há um defeito no carro (oponibilidade). Exemplo 2: A comprou o carro de B e pagou com TC, o TC foi endossado para C,D, e E. E apresentou o TC a A para receber o valor da cártula, A não pode opor a E o defeito do carro e dizer que não vai pagar (inoponibilidade da exceção pessoal). 7. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO 7. 1. QUANTO À ESTRUTURA FORMAL: Analisando-se sua estrutura formal, os títulos de crédito podem assumir a feição de: a) Ordem de pagamento: nos títulos que contêm ordem de pagamento a obrigação deverá ser cumprida por terceiros. Exemplo: Cheque e Letra de câmbio. Na ordem de pagamento podemos identificar a presença de três personagens cambiários. Vejamos quem são esses personagens no exemplo do cheque: ▪ O emitente: é a pessoa que assina o cheque, dando, assim, a ordem de pagamento. Observe que no cheque vem escrito: "pague por este cheque a quantia de R$ xxx.". Temos, então, uma ordem ao Banco que poderia ser traduzida nos seguintes termos: “Banco pague por este cheque a quantia de xxx reais.” ▪ O sacado: é o Banco, ou seja, a pessoa jurídica que deve cumprir a ordem de pagamento expressa no cheque. É do Banco que será retirado (sacado) o valor escrito no título de crédito, porém o dinheiro não é do banco é do emitente. ▪ O Tomador ou Beneficiário: é a pessoa que se beneficia da ordem de pagamento. É quem recebe o valor expresso no cheque. b) Promessa de pagamento: nos títulos que contêm promessa de pagamento a obrigação deverá ser cumprida pelo próprio emitente e não por terceiros. Exemplo: a nota promissória. Observe que na nota promissória não vem escrito pague, mas pagarei com o verbo na primeira pessoa do singular: “eu“ pagarei. Na promessa de pagamento podemos identificar a presença de, apenas, dois personagens cambiários: ▪ O emitente: é o devedor da obrigação, é a pessoa que emite a promessa de pagamento em nome próprio, ou seja, na primeira pessoa do singular: “eu” pagarei. ▪ O beneficiário: é o credor do título, é a pessoa que se beneficia da promessa de pagamento. 7.2. QUANTO AO MODO DE CIRCULAÇÃO: Analisando-se o modo como circulam os títulos de crédito podemos dividi-los em: a) Título ao portador: é aquele que circula com muita facilidade, transferindo-se de pessoa para pessoa pela simples entrega do título. Não consta deste título o nome da pessoa beneficiada. Assim, o seu portador é, presumivelmente, seu proprietário. Exemplo: Cheque com valor abaixo de R$ 100,00. b) Título nominal: é aquele cujo nome do beneficiário consta no registro do emitente. Trata-se, de título emitido em nome de pessoa determinada. Exemplo: cheque nominal, Letra de Cambio, Nota Promissória e Duplicata. c) Titulo Nominativo: São aqueles emitidos em favor de pessoa determinada, cujo nome consta de registro específico mantido pelo emitente do título. Nesse caso a transferência do TC só se opera mediante termo no referido registro, o qual deve ser assinado pelo emitente e pelo adquirente do TC. Artigo 922 do CC. 7.3. QUANTO A HIPÓTESE DE EMISSÃO: a) Causal: é aquele título para o qual o ordenamento jurídico estabelece uma causa para a sua criação. O título causal, conseqüentemente, só pode ser emitido (sacado) caso ocorra o fato estabelecido pela lei como causa possível de sua criação. Exemplo: duplicada mercantil que somente é criada para representar uma obrigação decorrente de compra e venda mercantil. b) Não Causal: (também chamados de abstratos) = título de crédito que pode ser criado (sacado) por qualquer causa para representar obrigação de qualquer natureza. Exemplo: cheque, letra de câmbio e nota promissória. 7.4. QUANTO AO MODELO: a) Modelo Livre: são os títulos de crédito cuja forma não precisa observar um padrão normativamente estabelecido. A lei não determina uma forma específica para sua constituição, embora os requisitos legais de cada espécie de TC devam ser observadas. Exemplo: letra de câmbio e nota promissória. b) Modelo Vinculado: são os títulos de crédito para os quais a lei fixou um padrão, uma forma, para o preenchimento dos requisitos específicos de cada espécie de título de crédito. Exemplo: Cheque e duplicata mercantil. Obs.: segundo Fábio Ulhoa Coelho, "um cheque somente será um cheque se lançado no formulário próprio fornecido, por talão, pelo próprio banco sacado". É de se concluir que, lançado em instrumento (cártula) diverso daquele fornecido pelo banco, mesmo que com a observação de todos os demais requisitos do cheque, não teremos um título de crédito. 7.5. QUANTO AO CONTEÚDO: a) Títulos de Créditos Próprios (Típicos) - são aqueles que documentam uma verdadeira operação de crédito, de confiança, isto é, gozo de dinheiro presente por dinheiro futuro. Ex. Letra de câmbio e Nota Promissória. b) Títulos de Créditos Impróprios (Atípicos) - são aqueles que documentam outros direitos que não ensejam prestação em dinheiro, mas que se beneficiam de todas (ou quase todas) as regras do direito cambiário. Ex. Títulos de legitimação (conhecimento de depósito ou frete) e títulos de participação (ações). 7.6. Quanto ao caráter da emissão: Em regra, são emitidos pro solvendo, podendo ser emitidos pro soluto (deve-se consignar no próprio título que ele foi emitido pro soluto): Um título pro soluto ele quita a obrigação. O título pro solvendo ele não quita a obrigação até que haja o pagamento. Coexistem a obrigação civil e a obrigação cambial. O melhor exemplo é o cheque, quando você emite um cheque, não significa o imediato pagamento, este depende de sua compensação. A dívida condominial vai coexistir com a obrigação cambial representada pelo cheque. 7.7. Quanto ao local do pagamento: Podem ser quesíveis (quesible) ou portáveis (portable). Sendo o titulo quesível o credor deverá se dirigir ao domicílio do devedor para apresentar o TC e receber o valor inserto na cártula. Se o título for portável o devedor deverá se deslocar até o domicílio do credor. 8. ATOS CAMBIÁRIOS ou DECLARAÇÕES CAMBIÁRIAS: Segundo Luiz Emygdio a expressão declaração cambiária significa a manifestação de vontade que se traduz mediante a aposição da assinatura no título de crédito. Podem ser classificadas: 8.1. QUANTO A ORDEM CRONOLÓGICA DA APOSIÇÃO DA ASSINATURA: a) ORIGINÁRIA (ou PRINCIPAL) – É a manifestação de vontade que dá origem ao TC, faz nascer a obrigação cambiária, é emitida na constituição do TC. As declarações originárias são: a emissão da nota Promissória e do cheque e os saques da letra de câmbio e da duplicata. Ou seja, a declaração originária dá-se com a aposição da assinatura no TC. b) SUCESSIVA - É a manifestação da vontadeemitida depois da constituição do TC. É a manifestação volitiva que se corporifica no título após a declaração originária, sendo considerados como tais, o Aval, o endosso, e o aceite. No aceite há a manifestação de vontade de aceitar o pagamento do TC. No endosso há a manifestação de vontade de transferir o TC. No aval manifesta-se a vontade de garantir o pagamento do TC. 8.2. QUANTO A NECESSIDADE DA DECLARAÇÃO: c) NECESSÁRIA – É a manifestação de vontade imprescindível para o TC existir. Sem a declaração cambiária necessária o TC não existe. E estas declarações necessárias são justamente as declarações cambiárias originárias, que fazem nascer o TC. Em regra, toda declaração cambiária originária é também uma declaração cambiária necessária. d) EVENTUAL (ou NÃO NECESSÁRIA ou SUPRÍVEL) – É a manifestação de vontade cuja falta não descaracteriza o documento como titulo de crédito, ou seja, se esta declaração não existir o TC continuará existindo. Por exemplo, um TC sem aval não deixa de ser um TC. 9. VEJAMOS OS TIPOS DE DECLARAÇÃO CAMBIÁRIA SUCESSIVA: 9.1. ENDOSSO: O endosso é uma forma de transferência do TC. Só os TC são passiveis de endosso, mas nem todo TC é passível de endosso. O endosso é uma manifestação de vontade realizada no próprio TC e, portanto, o endosso é uma declaração cambiária. É uma declaração cambiária que ocorre depois da criação do TC e, portanto é uma declaração cambiária que sucede a constituição do TC. O endosso é uma declaração cambiária sucessiva e eventual (não é imprescindível ao TC). Quem endossa um TC é o titular do direito de crédito, logo só pode endossar quem for credor do TC. Somente os TC nominais ou à ordem são passíveis de endosso. Os TC com cláusula não à ordem até podem circular, mas não através de endosso. Os TC com cláusula não à ordem circulam como cessão ordinária de credito, instituto de direito civil. Quem endossa um TC transfere o crédito e deixa de ser credor, passando a ser, em regra, devedor cambiário indireto, porque para executá-lo será necessário o protesto e de regresso eis que quando ele pagar a dívida poderá, em ação de regresso, cobrar dos demais devedores. Quando há endosso haverá solidariedade cambiária que é diferente de solidariedade civil, pois na solidariedade civil haverá divisão: aquele que paga tudo poderá em ação regressiva executar os outros, recebendo uma cota de cada um. Já na solidariedade cambiária não haverá divisão, aquele que paga tudo poderá executar em regresso (somente) um dos anteriores, apenas um (e nunca os posteriores na cadeia sucessória de endossos). ENDOSSO PARCIAL - O endosso parcial é a transferência de uma parte do crédito. O endosso parcial dificulta a circulabilidade da cártula, logo, ele é nulo de pleno direito pela LUG, não produzindo efeitos (literal) é como se tivesse transferido o valor total. ENDOSSO EM PRETO – Ou também chamado de endosso nominal, complemento ou pleno. É o endosso que indica o nome do endossatário. Exemplo: “Endosso em favor de Fulano de Tal”, como também, “pague-se a Fulano de Tal”. Pode estar no verso ou anverso (frente) do TC. ENDOSSO EM BRANCO ou AO PORTADOR – É o endosso onde o endossante não indica quem é o endossatário. O endosso em branco é aquele em que não se denomina o atual beneficiário. Exemplo: “Pague-se ao seu portador.” Só pode vir no verso do TC (no anverso pode ser confundido com aval, por isso não é permitido). ENDOSSO CONDICIONAL – Não pode haver, o endosso é incondicional, só pode ser puro e simples e não estar condicionado à nada. ENDOSSO PRÓPRIO, TRANSLATIVO, COMUM OU PLENO – artigo 14 da LUG. ENDOSSO IMPRÓPRIO: ENDOSSO MANDATO (art.18 da LUG) ou ENDOSSO CAUÇÃO OU GARANTIA OU PIGNORATÍCIO (art.19 da LUG). No endosso mandato haverá duas figuras: o endossante-mandante (imagine que é A) e o endossatário mandatário (B), A endossa para B, B recebe o crédito e deverá entregar para A. No endosso caução (garantia ou pignoratício) Imaginem que um empresário individual tem várias duplicatas para receber, ele vai num banco pedir empréstimo e dá as duplicatas em garantia (mediante o endosso caução, pignoratício ou endosso garantia). Caso o empresário individual não pague esse empréstimo o banco passará a ser o credor dos valores das duplicatas. Súmula 476 do STJ: O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário. Acerca da Súmula 476 trata-se de entendimento que harmoniza as normas cambiárias com as regras do mandato, sendo perfeitamente aplicável no caso de protesto indevido, cujo pressuposto é o envio e retenção da duplicata pelo sacado. Em tal situação, o endossatário só responde se extrapolar os poderes do mandato. Exemplo: A endossou com mandato para B e disse: pode receber, mas se não receber não pode protestar. B protestou (extrapolou os poderes/limites do mandato), B endossatário-mandatário responderá. ENDOSSO PÓSTUMO OU ENDOSSO TARDIO – Art. 20 da LUG. Endosso feito depois do vencimento, produz os mesmos efeitos do endosso comum. Quando o endosso é feito após o prazo para protestar o TC ele terá forma de endosso mas efeitos de cessão civil de crédito, ou seja, não se cria a cadeia de sucessão, não h´abstração, não há inoponibilidade das exceções pessoais. ENDOSSO SEM GARANTIA (OU CLÁUSULA SEM GARANTIA) - Aquele que endossa sem garantia não garante o pagamento. A endossou sem garantia, A está dizendo para o endossatário que não garante o pagamento se o endossatário for receber do sacador e este não paga o endossatário poderá cobrar dos outros menos do endossante que endossou sem garantia. CLÁUSULA NÃO A ORDEM – Em regra os TCs são passíveis de endosso (CLÁUSULA À ORDEM) Podemos impedir o endosso quando colocarmos a cláusula não a ordem (basta escrever NÂO antes da expressão ao “à sua ordem”). Por essa cláusula impede-se que o TC circule por endosso, porém ele poderá circular via cessão civil de crédito ou por tradição. Tal clausula só pode ser usada pelo Sacador (art. 9, 11 e 15 da LUG). CLÁUSULA PROIBITIVA DE NOVO ENDOSSO – Não impede novo endosso, mas aquele que endossou com clausula proibitiva de novo endosso limitou sua responsabilidade apenas ao seu endossantário, havendo outros endossos posteriores esse que endossou não será responsável. Obs,: Lembre-se que pelo principio da literalidade o endossante deverá escrever qual tipo/modalidade de endosso. Súmula 475 do STJ: Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas. Nas palavras do Dr. Jean Carlos Fernandes: “A Súmula 475 se refere a vício formal do título de crédito (extrínsecos: ausência de causa de emissão nos títulos causais; intrínsecos: ausência de requisitos essenciais para a validade do documento como título de crédito, conforme definido pelas legislações de regência), não abrangendo, obviamente, questões em torno do negócio subjacente (extracartular) nos títulos abstratos. Em tal hipótese, o endossatário estará protegido pelo princípio da inoponibilidade das exceções pessoais, não podendo, por exemplo, ser acionado em ação de reparação de danos morais por apresentação antecipada de cheque pós-datado, conforme Súmula 370 do Superior Tribunal de Justiça, pois se encontra no exercício regular do direito (artigos 32 e 47, II, da Lei n. 7.385/76 e artigo 188 do Código Civil), além da aplicação do princípio da relatividade dos efeitos do contrato.”
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