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ad2 literatura portuguesa 1

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Nesta questão é importante mencionar a obra Mensagem, na qual Fernando Pessoa revela alto amor à pátria, enaltecendo os heróis do passado, tal como fez Camões na época gloriosa de Portugal. É preciso retomar as palavras d o crítico Eduardo Lourenço para dizer que no século XX, além do “profundo sentimento de decadência” (cf. citação acima de Eduardo Lourenço), já mostrado em Os Lusíadas no século XVI, Fernando Pessoa foi sensível ao sentimento de “saudade” (idem ) que o levou a imaginar um outro Portugal no futuro. Para exemplificar esta saudade de um tempo glorioso, junto ao desejo de uma nova pátria revigorada, é necessário comentar citações das Partes I e II de Mensagem (Brasão e Mar Português), embora as mais especiais estejam em alguns poemas da Parte III (O Encoberto). Assim, é possível mencionar e analisar os versos finais do primeiro poema de Mensagem e m que o poeta coloca Portugal como o rosto de uma esfinge que “Fita, com olhar sphyngico e fatal, / O Occidente, futuro do passado. »(PESSOA, 2008, p . 55) expressando um movimento ativo e esperançoso, bem diferente da sensação de decadência 
vivida pelos seus antecessores. Também pode ser citado o poema a D. Tareja, a quem o poeta, diante da decadência, murmura em tom de oração: “Ó mãe de reis e avó de impérios,/ Vela por nós!”. A mesma argumentação pode se basear no poema da COROA, dedicada a Nuno Álvarez Pereira quando o poeta o invoca, como testemunha de e sperança e de luz para o presente, 
dizendo: 
Sperança consummada, 
S. Portugal em ser, 
Ergue a luz da tua espada 
Para a estrada se ver!
(PESSOA, 2008, p. 77) 
Assim como o poeta invocou a proteção de D. Tareja e de Nuno Álvarez Pereira, também pede a atenção d esta que é a “Madrinha de Portugal”, espécie de 2ª mãe da pátria cujos filhos levaram longe o nome do Impé rio, como vemos no poema SÉTIMO (II) / D. PHILIPPA DE LENCASTRE de Brasão: 
Volve a nós teu rosto sério, 
Princesa do Santo Graal, 
Humano ventre do Império, 
Madrinha de Portugal! 
(PESSOA, 2008, p. 66 ) 
Na parte d e Mar Portuguez, há os últimos versos do primeiro poema dedicacado ao INFANTE que m ostram o forte sentimento de decadência experimentado por Pessoa diante da pátria: 
“Cumpriu-se o Mar, 
e o Império se desfez./ 
Senhor, falta cumprir-se Portugal!” 
(PESSOA, 2008, p. 89) . 
Para exemplificar há ainda o poema final de Mar Portuguez - XI I – PRECE, em forma d e oração 
a Deus, que reflete nostalgicamente sobre o fim do Império do qual restou apenas “O mar universal e a saudade”: 
Senhor, a noite veio e a alma é vil. 
Tanta foi a tormenta e a vontade! 
Restam-nos hoje, no silêncio hostil, 
O mar universal e a saüdade. 
Mas a chamma, que a vida em nós creou, 
Se ainda ha vida ainda não é finda. 
O frio morto em cinzas a occultou: 
A mão do vento póde erguel-a ainda. 
Dá o sopro, a aragem — ou desgraça ou ancia — 
Com que a chamma do exforço se remoça, 
E outra vez conquistemos a Distancia — 
Do mar ou outra, mas que seja nossa! (PESSOA, 2008, p. 100) 
O mar já não é mais português, é universal. Apesar disso, há o desejo de que a antiga “chama” oculta (talvez ligada à figura do Encoberto) seja reavivada pela “mão do vento” capaz de levanta r as cinzas, co m a ajuda do Senhor, daí o motivo da súplica do poeta: “Dá o sopro, a aragem”. Por fim, há vários poemas na parte III - O Encoberto, de que é exemplo máximo o último, chamado significativamente NEVOEIRO, resumindo a decadência do presente - “Ó Portugal, hoje és nevoeiro…” - mas também assinalando a esperança e o desejo de mudança: – “É a Hora!” Muitos 
comentários de desencanto e de esperança podem ser feitos a partir deste texto: 
Nem rei nem lei, n
em paz nem guerra, 
Define com perfil e ser 
Este fulgor baço da terra 
Que é Portugal a entristecer — 
Brilho sem luz e sem arder, 
Como o que o fogo-fatuo encerra. 
Ninguém sabe que coisa quer. 
Ninguem conhece que alma tem, 
Nem o que é mal nem o que é bem. 
(Que ância distante perto chora?) 
Tudo é incerto e derradeiro. 
Tudo é disperso, nada é inteiro. 
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…(PESSOA, 2008, p. 126) 
Questão 2 – Sophia de Mello Breyner Andresen (referências na Aula 16) 
Em diálogo com este último poema de Mensagem de Fernando Pessoa, pode-se comentar com o poema que inicia a aula sobre Sophia: 
A memória longínqua de uma pátria 
Eterna mas perdida e não sabemos 
Se é passado o u futuro onde a perdemos. 
(ANDRESEN, 1995, v.II, p. 11). 
Aqui ela compartilha uma vivência que é uma “mistura inextricável de autoglorificação e de profundo sentimento de decadência e de saudade”, como afirma Loureço (citação acima). O texto mostra a “memória” de um passado glorioso, mas longínquo, perdido no passado (daí a melancolia) mas igualmente distante no futuro, ou seja, há desejo mas a possibilidade é remota. É preciso notar que, diferentemente de Pessoa, Sophia pensa de uma forma mais política, o que se explica pelo con texto histórico da sua época, m arcado pela ditadura salazarista. Para exprimir a seu desconsolo com o presente e também contornar a censura, a metáfora da cidade ser virá para falar da pátria como um lugar de grades. A cidade traz “as ameaças quase invisíveis” que surgem e nascem de “mortas luas” que estrangulam a poeta “Nas tristezas das ruas” (II,1995,p. 137). Na parte chamada “As grades”, há poemas diretamente referidos à situ ação de Portugal na época, em que se configura a ideia de exílio no interior da pátria. Para compensar este “sentimento de decadência”, há um poema justamente chamado “Pátria”, em que o eu lírico passa “Por um país de pedra e vento duro” e por “rostos de silêncio e de paciência”, em busca de uma pátria-poesia que lhe sirva de consolo, como uma espécie de exílio que se inscreve em pleno tempo” (II,1995, p. 141): 
Pedra rio vento casa 
Pranto dia canto alento 
Espaço raiz e água 
Ó minha pátria e meu centro (II,1995, p. 141) 
Desse modo, além de sentir-se exilada dentro do país, também trata o poema como um lugar de “exílio” onde pode resistir e luta r. Isto marca uma diferença em relação a Pessoa. Nesta linha ela imagina “cidades acesas na distância” (I, 1995, p. 64), onde há jardins com “Descampados em flor”, que a inebriam de “perfume”, e ruas “cheias de exaltação e ressonância” (Idem). Estas expressões podem ser associadas ao que a poeta disse quando do recebimento do Grande Premio de Poesia (1964 ) sobre poesia e justiça. É possível comentar esta relação consciente de Sophia defendida em sua Arte Poética III. A poesia, a arte, a estética estão necessariamente unidas à ética. 
“Pois a justiça se confunde com aquele equilíbrio das coisas, com aquela ordem do mundo onde o poeta quer integrar o seu canto.” (I, 1995, p. 8) No poema intitulado exatamente “A forma justa”, explicita -se o desejo de justiça e o papel da poeta: 
Sei que seria possível construir o mundo justo (…) 
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia 
Cada dia a cada um a liberdade e o reino (…) 
Se nada adoecer a própria forma é justa (…) 
Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco 
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo 
(III, 1996, p. 238) 
Também é possível se valer do poema “Marinheiro sem mar”, no qual a desolação da pátria também é representada pelos marinheiros desempregados que deambulam pelas “Ruas da cidade sem piedade”, em imagens pungentes de decadência e da nostalgia no. Novamente ocorre um diálogo com o passado glorioso, “perdido”, sobressaindo a visão do presente sem perspectivas, sob o “nevoeiro” da Ditadura, longe da “serena praia”: 
Longe o marinheiro tem 
Uma serena praia de mãos puras 
Mas perdido caminha nas obscuras 
Ruas da cidade sem piedade. 
Se ao falar da decadência do império português, Fernando Pessoa disse que “todo o cais é uma saudade de pedra!” (PESSOA, 1972, p. 315), em “Marinheiro sem mar”, Sophia mostra que o marinheiro busca “a luz da madrugada pu ra / Chamando pelo vento que há no cais” da cidade. Aqui a palavra cais identifica-se a um país que se tornou
glorioso quando partiu para o mar e que depois foi obrigado a ficar na margem, no cais , uma metáfora de sofrimento. 
Pode ser interessante mencionar a recuperação que Sophia faz do período glorioso no livro Navegações, escrito a partir de uma visita a Macau no ano de 1977 para participar das comemorações do Dia de Camões. No poema XV a deriva p ode ser vista em sentido náutico, puramente denotativo e circunstancial (desvio d e rumo), m as também no plano metafórico, evocando “os marinheiros sem mar” que, assim como o país, perderam o rumo após o fim das explorações marítimas: “Inversa navegação / Tédio já sem Tejo (…)” “Lisboa anti-pátria da vida” (idem, p. 37). 
Eduardo Lourenço afirma que Portugal sempre viveu sob uma hiper-identidade,  da qual se tornou necessário desvencilhar-se: “Nenhum povo e mais a mais um povo de tantos séculos de vida comum e tão prodigioso destino pode viver sem uma imagem ideal de si mesmo. Mas nós temos vivido sobretudo em função de uma imagem irrealista, o que não é a mesma coisa. 
Desde o início de sua história o mar sempre foi o ponto mais forte de Portugal, por ser o pioneiro nas expansões marítimas tanto exaltadas por poetas que presenciaram cada momento destas, como Luís de Camões e Fernão Lopes, onde narravam os momentos mais gloriosos bem como os de decadência do Reino Português. O mar e as viagens expansionistas estão intrinsecamente relacionados à história lusitana e isto não seria diferente séculos depois. O mar voltou à evidência por meio de dois poetas da literatura portuguesa, como Fernando Pessoa, em Mensagem e Sophia de Mello Breyner Andresen.As duas obras, apesar de suas diferenças, mostram o mar como sendo a base do reino Português, onde toda a história desta grande nação foi fundamentada. Fernando Pessoa, mostra em sua obra, um grande amor à pátria, fazendo assim como Camões, exaltando os heróis do passado, que fizeram parte da época gloriosa portuguesa, buscando resgatar o que havia se perdido, ou seja, Pessoa reflete nostalgicamente sobre o fim do império do qual restou a saudade, pois o mar já não era mais português, mas sim universal. Como diz no poema final de Mar Portuguez: “(...)O mar universal e a saüdade / Mas a chamma, que a vida em nós creou / Se ainda ha vida ainda não é finda. (…) / Dá o sopro, a aragem — ou desgraça ou ancia /Com que a chamma do exforço se remoça / E outra vez conquistemos a Distancia /Do mar ou outra, mas que seja nossa! 
Apesar de não focar tanto no mar e nas viagens marítimas, como fez Fernando Pessoa, Sophia de Mello possui uma imagem de mar massiva e reiterada, que se abre para mais de um sentido, onde este mar que a autora exalta não se reduz às glórias do deslocamento da pátria em águas que nunca foram navegadas antes, mas, quando o faz privilegia as paisagens que nunca foram vistas antes, o que causa a contemplação e o espanto diante do novo. No poema “Navegações” é que predomina essa contemplação, onde o mar é o local onde ocorre a epifania, que é de onde nasce o poema. É possível perceber, por meio dessa obra de Sophia a aproximação da luz e do mar, embora não desconsidere a morte, as perdas e os sentidos trágicos. Quando fala da epifania quando os eu lírico se põe na pele dos navegadores para descrever o espanto dos marinheiro do Vasco da Gama, numa invocação de Os Lusíadas: “Navegámos para Oriente – A linda costa/ Era de um verde espesso e sonolento […]”.
Por fim os dois poemas dos autores mostram a atual (do século XX) relação do mar e do deslocamento com a história portuguesa e mostrando que o portugueses tem vivido em função de uma imagem irrealista, por demonstrar o desejo de retornar aos tempos de glória de Portugal, embora o mar não seja mais português e sim universal.

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