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O ENSINO DA MÚSICA E A DISCIPLINA ARTE uma análise histórica e reflexiva da legislação educacional

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O ENSINO DA MÚSICA E A DISCIPLINA ARTE:
uma análise histórica e reflexiva da legislação educacional
MACHADO, Lucas de Almeida.
1773523
RESUMO
O presente artigo apresenta uma abordagem reflexiva a partir da legislação educacional que constituiu a educação brasileira ao longo do século XX. Com um refletir histórico e contextual, discute a presença da arte e da música nas Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional elaboradas nos anos de 1961, 1971 e 1996, observando seus discursos governamentais, denotando a arte um papel artesanal e de lazer a partir de concepções vagas e desconstruídas de valor pedagógico às pretensões mais recentes de um ensino da arte constituído enquanto componente curricular formal e aplicado ao conhecimento. O estudo traz como objetivo realizar uma análise da legislação educacional de maneira crítica, comparada com o apoio de fontes bibliográficas que forneçam subsídios para o entendimento dos efeitos práticos de tais leis para o cotidiano escolar referente ao ensino da Arte. Ademais, realiza a observação do trato destinado a Música. Utiliza como método de pesquisa a revisão bibliografia de trabalhos oriundos de congressos e teses por consistirem em discussões relativamente atuais do meio acadêmico, além de amparar-se na análise documental das leis que guiaram cada período apresentado. Ao fim, realiza uma breve explanação acerca dos rumos tomados pelos cursos de formação inicial ao vigorar da Lei nº 9.394/1996, da qual trata o ensino da arte como componente curricular obrigatório e sua recente alteração de redação de modo a complementar a amplitude do papel da arte na escola com a aplicação das linguagens artísticas da música, dança, teatro e artes visuais como conteúdos obrigatórios do componente Arte.
Palavras-chave: Ensino da Arte. Música. LDB.
1 INTRODUÇÃO
Com a proposta de apresentar de maneira não linear as perspectivas relevantes quanto ao ensino da música em face de sua realização em meio ao currículo da disciplina de arte na educação básica, este trabalho tem como princípio norteador a missão de discutir e analisar o histórico e a legislação que embasaram tais práticas e possibilitaram a coexistência destas linguagens artísticas nas praticas docentes de hoje enquanto áreas do conhecimento que se fundem em torno de um mesmo processo de ensino-aprendizagem. Pretende verificar a atuação e a formação do professor de arte para o trabalho com a música diante das novas leis que tornou obrigatório o seu ensino e sua presença no espaço da sala de aula, permitindo discutir um panorama a respeito das metodologias que têm se feito presentes para o trato com tal componente da disciplina de arte a partir de referenciais bibliográficos.
Tal tema surge como assunto a ser discutido no momento em que ainda se observa a prática dos professores de arte envolta em metodologias embasadas nos preceitos caracterizadores da Educação Artística, datada em nossa sociedade da década de 70 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) 5.692 de 1971, legislação esta, repleta de um discurso governista permeado por práticas questionáveis em um estado de exceção totalitarista. Sem querer questionar a atuação do docente daquela época, envolta em um sistema único de pensar, questiona-se aqui, a manutenção de tais práticas na atualidade, onde se percebe a resistência a mudanças, práticas e métodos de ensino. Ademais, ainda se pode notar as características da proposta artística escolanovista, na qual a expressão do aluno simplesmente por ela mesma já era válida. Um laissez-faire (livre fazer) totalmente solto e descontextualizado dos projetos pedagógicos escolares, tornando a arte mero encaixe da grade horária, complemento na matriz curricular para o lazer e entretenimento, momento de descanso e descontração.
A educação reflexiva apresenta-se como objeto de desejo e caminho a ser percorrido, mas mesmo em um ambiente propício para o pensar crítico, se observa a manutenção do saber transmitido; o ensino reprodutivista e; práticas em arte resumidas a livre expressão e cópias exatas. Dessa forma, não estando presente o questionamento, a crítica, a reflexão, corroborando para um ensino tradicional e tecnicista, reativo ao novo e suas possibilidades de transformação social, tarefa esta, delegada a educação por sua essência e passível no trato com a arte, sendo esta uma possibilitadora de questionamentos e rupturas com a tradição comodista.
Para tanto, este artigo utiliza como base metodológica a revisão bibliográfica de obras que discutem o tema da arte na sala de aula, em especial, a abertura para o uso da música no entendimento da arte educação e sua aplicação nas escolas com base na análise das fontes documentais da legislação educacional, as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional dos anos de 1961, 1971 e 1996, além de parecer técnico da época de edição das normas e atualizações recentes da LDB 9.394/96 para a obrigatoriedade da música junto à disciplina arte.
2 AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES MUSICAIS
Lembrar o histórico do ensino de arte é tarefa fundamental ao discutir a atuação dos profissionais docentes nas salas de aula quanto a suas práticas voltadas para os princípios da educação musical. A música enquanto disciplina de ensino se faz presente no território brasileiro desde os primórdios coloniais, tendo espaço garantido como instrumento de catequização e de regulação do comportamento indígena, servindo as ações dos jesuítas, estes, primeiros encarregados da missão educacional. 
De acordo com Teixeira&Cordeiro:
O primeiro recurso metodológico utilizado para auxiliar a educação nos aldeamentos foi a música; através dela conseguiam despertar a atenção e a simpatia dos nativos, utilizando seus próprios instrumentos e elaborando um repertório no estilo indígena, cujas letras falavam do Deus cristão. (2008, p.4)
Assim, os religiosos dessa ordem utilizaram-se das possibilidades ofertadas pela música enquanto meio de expressão e comunicação, explorando toda sua potencialidade para instruir os indígenas ao saber cristã. De modo “lúdico” e artístico a fé foi disseminada por meio do canto e uso de instrumentos típicos da cultura nativa, fato este que oportunizou maior reciprocidade e aceitação por parte deste povo que se viu, ainda, manifestando sua cultura sem perceber as marcas europeias do cristianismo a qual estavam sendo influídos. Portanto, apropriando-se de elementos caracterizadores da civilização indígena, os jesuítas cumpriram e efetivaram sua tarefa de catequização do novo povo, nativo desta terra, a qual chama-se hoje de Brasil.[1: O termo lúdico é empregado apenas como meio de expor as práticas musicais utilizadas na catequização indígena, não referindo-se ao aspecto agradável e brincante do aprender como é significativamente entendido no meio educacional.]
Com a chegada dos portugueses em larga escala, principalmente estimulados com a vinda da família real para estas terras, se deu o maior momento de desenvolvimento e expansão da até então colônia portuguesa. Bréscia (2008) destaca que ao longo do século XIX, o ensino da música esteve voltado para as práticas e tradições religiosas e a alguns pequenos grupos de músicos, especificamente para a execução musical.
3 A LEGISLAÇÃO E O ENSINO DA ARTE
Ao longo da história brasileira a sociedade foi duramente marcada pelos interesses vindos dos governos que se passaram, sendo eles formados por orientações ideológicas diversas, do populismo ao autoritarismo, entremeados por uma ditadura, o pensamento dos governantes foi disseminado para população por meio de leis e normas que servissem de maneira eficiente às suas vontades. Nesse panorama, a educação serviu como aparelho reprodutor do Estado, realçando os ideias defendidos e propostos para o projeto de nação, ou poder, em voga.
Como instrumento fundamental do Estado para exercer seu poder de controle, mesmo que de forma moderada, foram editadas legislações educacionais próprias em cada período, realçando o interesse influenciador e ideológico.O instrumento legal utilizado foram as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, conjunto normativo responsável não apenas por orientar, mas também compor e organizar o sistema educacional do país.
Nas décadas que se deram as edições das referidas leis haviam claros e nítidos interesses políticos-ideológicos por detrás de seus textos, são elas assim numeradas, 4.024/1961; 5.692/1971 e a atual 9.394/1996. Seus textos foram estudados e apresentados nos itens que seguem expondo as características principais de cada um no que diz respeito ao ensino da música e, por conseguinte, o ensino da Arte.
3.1 DÉCADA DE 60
Desde o século XX a arte e a música vêm perdendo importância de sua atuação e função para educação. Embora a primeira tenha ganhado espaço e seja mencionada na legislação enquanto disciplina, tem-se o paradoxo da sua real contribuição para a formação dos jovens, sendo dessa maneira, habitualmente vista como atividades de desenho, pintura, distração e lazer, não possuindo qualquer valor cognitivo ou cultural para ofertar (MARQUES, 2014)
Inicialmente, refletindo em cada momento histórico, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) 4.024 de 20 de Dezembro de 1961, cita o ensino de arte nas escolas, abrindo espaço para essa no campo legal, contudo, seu papel é tido como mero momento de realização de atividades como incorre no descrito no seu artigo 38, inciso IV, o qual demonstra ser oportuna sua transcrição parcial: “Art. 38. Na organização do ensino de grau médio serão observadas as seguintes normas: [...] IV - atividades complementares de iniciação artística; [...]” (BRASIL, 1961). Sendo assim, o destaque para “atividades complementares”, denotam a minimização do papel da arte para esta primeira legislação nacional que viria a regular e organizar a educação em todo o território brasileiro. Muito embora o desprezo prevaleça nesse primeiro momento, é válido ressaltar que sua mera citação se fez presente, o que aliado a novos pensamentos e rumos ideológicos do ensino, viriam a aguçar a função e necessidade do saber artístico no espaço escolar, mesmo porque, sua vigência se deu em um período historicamente curto para uma real compreensão de seus efeitos, vindo a ser substituída por uma nova legislação na década de 70.
3.2 DÉCADA DE 70
Já durante o regime de exceção da Ditadura Militar, com o intuito de moldar os jovens cidadãos por meio da educação, foi definida uma nova LDB, voltada para um formato de ensino embasado na filosofia tecnicista. A Lei nº 5.692 de 11 de Agosto de 1971 fixou novas diretrizes e bases para a educação nacional, agora dividida em 1º e 2º grau (hoje denominado ensino fundamental e ensino médio). Nesta nova legislação, a arte não foi apenas citada, mas instituída como disciplina, dando-lhe um espaço garantido no currículo escolar conforme descreve seu artigo 7: 
Será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde nos currículos plenos dos estabelecimentos de lº e 2º graus, observado quanto à primeira o disposto no Decreto-Lei n. 369, de 12 de setembro de 1969. (BRASIL, 1971)
Dessa forma, “o ensino da arte (música, artes plásticas e o teatro) passa a integrar, a disciplina de educação artística, que foi inserida no currículo através da Lei nº 5.692/71” (MARTINS, 2014, p. 35). Tendo como princípio educacional a ação de um professor polivalente, ou seja, atuando em todas as áreas da arte, a disciplina da educação artística trouxe uma nova postura para o pensamento pedagógico. Todavia, vale-se destacar a referida mudança não foi necessariamente positiva para a valorização da função da arte na escola, tão pouco, para sua contribuição enquanto disciplina curricular. Martins apresenta considerações pertinentes ao assunto, quanto a postura que foi adotada pelos professores mediante a atuação polivalente do ensino da arte:
Mesmo que a intenção da educação artística fosse colocar a arte em função da educação global do indivíduo, as práticas pedagógicas relacionadas a essa disciplina privilegiavam as artes plásticas. Notamos que na prática o profissional responsável pela educação artística encontrava certa dificuldade em abordar as quatro linguagens artísticas. Com isso, as críticas, a polivalência e o esvaziamento da prática pedagógica em Educação Artística aumentaram; [...]. (2014, p. 35)
Com este pensamento, os professores tiveram de adequar sua prática pedagógica para uma atuação ampla que contemplasse todas as linguagens artísticas (música, artes plásticas e teatro). No entanto, a falta de tempo para uma efetiva formação e preparação de profissionais resultou em práticas desvinculadas com saberes inerentes à arte e a contínua reprodução de atividades de livre expressão e o descrédito da prática pedagógica destes profissionais. Com esse contexto, criou-se uma concepção de que as aulas de arte são destinadas única e exclusivamente ao fazer artístico das mais variadas formas e técnicas, sendo destinado aos professores manterem um arsenal de propostas a serem ministradas como oficinas de ofícios. 
A música também passou a perder espaço e importância nesse período. Com a destinação do tempo das aulas de arte exclusivamente para fazeres artesanais, a expressão sonora e a comunicação musical se perderam diante de tantas atividades a serem feitas e reproduzidas nas escolas. Dias&Lara ponderam sobre o assunto escrevendo sobre os efeitos dessa nova concepção da arte polivalente para o ensino da música nas escolas:
A Educação Artística, compreendida como atividade polivalente, desarticulou o ensino da música em si, pois esta perdeu sua identidade dentro da realidade escolar. A partir da não obrigatoriedade do ensino da música, as escolas não se preocuparam em inserir profissionais especializados para tal ensino, o que restringiu o ensino dessa arte a conservatórios e a escolas especializadas, elitizando‐se, assim, o acesso ao ensino da música. (2012, p. 925)
Conforme as autoras relatam, o trabalho com a música passou a ser realizado em espaços próprios destinados à execução musical, com técnicas instrumentais e vocais, criando uma pedagogia do belo, onde a perfeição e o virtuosismo são marcas fundamentais dessa ação educativa em conservatórios.
Com a nova organização pedagógica proposta, a música perdeu seu espaço, anteriormente destacado com o Canto Orfeônico na década de 30, sob o comando direto do então Presidente da República Getúlio Vargas. O programa era coordenado pelo renomado compositor Heitor Villa-Lobos, tendo este destaque especial pela proximidade direta com o chefe de estado da época. No novo contexto legal da década de 70, a nova LDB, ao propor um ensino polivalente, intensificou a realização de atividades manuais e de expressão visual. Muito disso se deu devido a falta de formação dos professores nas linguagens da música e do teatro, além é claro, da falta e recursos e até mesmo de vontade de buscar os meios para ministrar tais propostas, ficando predominante o comodismo com a praticidade de manejar o desenho e a pintura, em especial, sob propostas ditas de liberdade e do livre fazer.
No que concerne ao descrito na LDB de 1971, a Educação Artística passou a ser ministrada de forma artesanal, ficando suas aulas restritas ao fazer artístico, restando aos professores organizar sequências de atividades práticas sobre desenho, pintura, modelagem, recorte e colagem. Ademais, o entendimento e concepção de arte na escola continuaram os mesmos observados anteriormente na lei de 1961, onde era visto, e ainda é, nessa nova legislação, como recurso didático e atividade complementar. Para elucidar melhor esta ideia, da arte para o fazer e o lazer, destaca-se o descrito no parecer 540/77 do então Conselho Federal de Educação, segundo o qual a:
A educação artística não se dirigirá, pois, a um determinado terreno estético. Ela se deterá, antes de tudo, na expressão e na comunicação, no aguçamento da sensibilidade que instrumentaliza para a apreciação, no desenvolvimento da imaginação,em ensinar a ver como se ensina a ler, na formação menos de artistas do que de apreciadores de arte, o que tem a ver diretamente com o lazer – preocupação colocada na ordem do dia por sociólogos de todo o mundo - e com a qualidade de vida. (BRASIL, 1977)
O mesmo documento prossegue em seu texto tratando a arte como mera atividade complementar, argumentando que:
Neste quadro, confirma-se a inequívoca importância da educação artística, ‘que não é uma matéria, mas uma área bastante generosa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das tendências e dos interesses. (BRASIL, 1977)
Todavia, embora denote uma devida importância à arte, de maneira velada relata-a como área ao invés de matéria ou disciplina. Nitidamente tal concepção não é perceptível à leitura apenas deste trecho, no entanto, quando comparada ao citado anteriormente, percebe-se este discurso, no sentido em que liga arte ao termo lazer, desvinculando seu ensino de qualquer prática pedagógica, mas sim, atividade complementar, assim como também fora compreendida na antiga LDB nº 4.024/1961.
3.3 DÉCADA DE 90
Passado o período de turbulência e conturbação política na história nacional, o novo momento que ascendia e a luta pela liberdade guiaram o país na nova Carta Magna, tida popularmente como a Constituição Cidadã. A partir desta, uma série de leis e resoluções guiaram os rumos na nação em todas as áreas do setor público. Neste pensar, foi elaborada uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a lei nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996. Com a nova legislação educacional, a arte manteve-se como disciplina agora sendo assumida com seu real valor e atenção. Segue em destaque os trechos da referida lei que tratam e organizam o ensino da arte na escola nos parágrafos 2º e 6º do artigo 26:
§2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. 
[...]
§6º As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as linguagens que constituirão o componente curricular de que trata o §2º desse artigo. (BRASIL, 1996)
Sob este novo aspecto dado a arte, percebe-se uma nova concepção pedagógica sob sua importância e sua realização nas escolas. A partir da observação do contido no parágrafo 2º, deve-se dar destaque a termologia adotada para se referir a arte, sendo tida como “ensino da arte”, possibilitando já o entendimento desta como matéria especifica e detentora de conteúdos próprios para seu ensino. Prosseguindo a leitura do trecho citado, existe ainda a menção da arte como componente curricular obrigatório, estando presente nos diversos níveis da educação básica (infantil, fundamental e médio), como meio de possibilitar aos alunos uma verdadeira concepção do ensino da arte e o seu desenvolvimento histórico e cultural que envolvem os processos artísticos ao longo da história da humanidade. Percebendo a nova proposta, o parágrafo 6º vem a completar o que é apresentado na LDB de 1996, ao modo que sua redação consiste em destacar as artes visuais, a música, a dança e o teatro, como linguagens que fundamentam e constituem o ensino da arte na escola. Todavia a formação do professor tenha continuado a ser realizada de maneira polivalente, a obrigatoriedade do ensino destas linguagens faz com que os professores sejam obrigados a buscar sua formação e seu aperfeiçoamento, de modo a vir a dominar as demais linguagens. 
Cabe ainda destacar, que o parágrafo 6º da Lei nº 9.394/1996 foi apresentado ainda recentemente e já colocado em alteração. Em sua criação, pela Lei nº 11.769/2008 foi elaborado no intuito de tratar a música como conteúdo obrigatório do componente curricular arte. Desse modo, tratava-se de garantir o ensino da música nas escolas e assegurar sua não exclusividade, do mesmo modo, garantindo espaço para as demais linguagens. Mais recentemente, foi sancionada pela então Presidente da República Dilma Rousseff a Lei nº 13.278/2016, que alterou a redação do parágrafo 6º para o mencionado neste trabalho. Com esta modificação proposta pelo Congresso Nacional e autorizada pela Senhora Presidente da República, o ensino da arte passa a ser realizado a partir de uma concepção clara e objetiva no que tange a obrigatoriedade das linguagens a serem ministradas em seus conteúdos, fato este de suma importância e de grande colaboração para se evitar uma fragmentação do conhecimento em arte para uma única linguagem, além de definir uma base de trabalho comum para os professores de todo território nacional, valorizando as demais áreas que passam a constar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
4 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE ARTE
Os atuais cursos de formação inicial, após a LDB 9.394/1996 passaram a ser organizados em cursos de graduação específicos para cada linguagem, conforme estabeleceu as novas resoluções do Ministério da Educação, vindo a estabelecer parâmetros e diretrizes para os cursos de Artes Visuais, Música, Dança e Teatro. Dentro desse aspecto legal, o que se observa é uma nova intencionalidade para o agora sim chamado ensino da arte. No entanto, ainda se vê presente certa problemática com a formação em uma linguagem artística específica, pois os atuais cursos focam suas matrizes curriculares em disciplinas estritamente particulares da linguagem do curso, não abrindo espaço para uma base de conhecimentos sobre arte e poucos componentes sobre educação, desse modo, enviando as escolas professores que não possuem saberes em arte que fujam a sua linguagem de formação.
A presente argumentação não possui o intuito de reforçar um ensino polivalente, onde o professor deve fazer tudo e acaba por não fazer nada com o devido valor de importância e qualidade no ensino. O que se expõe é a necessidade de revisão nas matrizes curriculares dos cursos superiores de arte, nas quais hajam componentes básicos das diversas linguagens da arte de modo a garantir conhecimentos mínimos que possam instruir a prática docente na elaboração de procedimentos amplos e fundamentais para os processos de ensino aprendizagem.
Mesmo diante de tantos ganhos e espaços para consideração ao longo da história nas leis, a formação inicial e também a continuada, ainda carecem de estudos e discussões quanto a sua forma de realização, e a estruturação de uma matriz básica comum, para assim então, preparar efetivamente o profissional arte educador para ministrar verdadeiramente um ensino arte nas escolas, amplo e completo de experiências e saberes, que possam dignificar a arte e consolidar sua posição de componente curricular com a devida importância que demanda.
5 METODOLOGIA
O presente título vem de encontro a classificar esta pesquisa enquanto estudo acadêmico e científico, o qual partiu de uma pesquisa documental acerca da legislação vigente, específica da área educacional, tratando com foco absoluto as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, ou, mais popularmente, LDB). Ainda, utilizou-se de estudos, na sua maioria, de produções de eventos acadêmicos, a fim de valorizar trabalhos recentes com análise voltada para a prática nas instituições escolares.
No que tange aos estudos da LDB, foram utilizadas as três leis sancionadas pelo governo brasileiro no intuito de normatizar e regulamentar a educação nacional, sendo elas já citadas: 4.024/61; 5.692/71 e 9.394/96. Ademais, a partir dos estudos observados, foi possível embasar um panorama crítico e atento para os reais efeitos de tal legislação na prática educativa dos docentes e instituições de ensino.
5.1 TIPO DE PESQUISA
No que diz respeito a classificação e estrutura do presente estudo enquanto pesquisa científica, foi utilizado o proposto por Gil (2008), no qual estaria no nível da pesquisa exploratória, um vez que:
As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis paraestudos posteriores. (2008, p.27).
Nesse sentido, o autor ainda avança nas considerações de que este tipo de pesquisa “Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso.” (GIL, 2008, p.27), sendo nitidamente relacionado ao estudo aqui realizado, uma vez que o material de pesquisa está em sua totalidade voltado para legislação e produção bibliográfica, além de tratar da análise e estudo documental de material neste caso inédito, uma vez que trata os aspectos da prática do ensino da Arte e da Música nas LDBs brasileiras. De acordo com o exposto, ainda é possível delinear o presente trabalho como pesquisa documental, sendo este item voltado para a origem do material utilizado no estudo.
Nas palavras de Gil:
A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. (2008, p.51)
Tal trecho identifica-se com o caráter aqui dado a legislação estudada, considerando os objetivos desta no trato específico da área artística e musical do ensino.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolver do presente trabalho se apresente de modo a realizar uma observação da legislação educacional que foi base para a construção e desenvolvimento de um sistema de educação nacional no Brasil. Utilizando-se das Leis de Diretrizes e Bases da Educação dos anos de 1961, 1971 e 1996, apresentou trechos que fazem referência à arte e mais atualmente, na última década, do ensino da arte, para partindo destes, discutir a concepção da arte para cada momento da história, tendo em mente a legislação como algo construindo em determinado contexto histórico, fazendo-se como instrumento de regulação para grupos que detém o poder em cada época. Desse modo, observou-se o tratamento e o espaço destinado à arte e a música ao longo da história em cada lei, proporcionando um entendimento das ideologias e visões políticas que guiaram a música ao longo do linear histórico construído neste artigo. Tal método oportunizou a percepção da música como objeto de manipulação, sempre a serviço de um “bem comum”, sendo instrumento de dominação ou aproximação, entre Estado e indivíduos. 
Além da análise dos documentos legais que constituíram a educação nacional, a comparação com a bibliografia apresentada é determinante para se compreender os aspectos e argumentações apresentadas, ao ritmo que se faz presente uma discussão a partir de parâmetros legais com embasamento teórico científico educacional. Da mesma forma, o parecer 540/77 é utilizado para denotar o profundo interesse em delegar à arte um papel submisso no espaço escolar, sendo remetido a atividades manuais e a livre expressão, afastando dessa sua função educacional e seu caráter pedagógico, relegado por entender supérfluo e insensato. A velha e arcaica prática da expressão sem qualquer reflexão e entendimento do se faz, o laissez-faire (livre fazer) escolanovista sob uma ótima mais artificial, ficando ao manuseio artesanal e mecânico de materiais e ferramentas. 
Finalizar com uma breve discussão sobre os atuais cursos de formação inicial se faz necessária ao pensar que são estes os devidos locais que podem possibilitar uma mudança do paradigma que se apresenta ao ensino de arte. Com esta explanação não se tem o objetivo de dissertar de maneira ampla e conclusiva sobre o assunto, mas sim, de gerar questionamentos e indicar futuras considerações e discussões acerca do tema, sobretudo, no que diz respeito as atuais matrizes curriculares dos cursos superiores. Em algumas instituições trazendo abordagens superficiais, em outros, especificidade exagerada sobre uma única linguagem artística.
O presente argumento valida-se por si próprio ao longo de sua apresentação no intuito de que relata divergências quanto a formação inicial em linguagem específica e o constante no parágrafo 6º da lei nº 9.394/1996, que trata da obrigatoriedade do ensino das artes visuais, música, dança e teatro no componente arte. Uma formação exclusiva em uma única linguagem necessita de revisão ao passo que a exigência da legislação vigente denota um trabalho amplo e completo sobre arte, não possibilitando abordagens exclusivas e minimalistas do saber artístico. Desse modo, embora seja evidente o combate à formação polivalente, as concepções que norteiam a arte educação, fazem necessário saberes básicos sobre a pluralidade de linguagens e formas de expressão artística.
REFERÊNCIAS
BRASIL. (1961). Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 4.024 de 20 de Novembro de 1961. Fixa as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-4024-20-dezembro-1961-353722-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 27 set. 2017.
_______. (1971). Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 5.692 de 11 de Agosto de 1971. Fixa diretrizes e bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5692-11-agosto-971-357752-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em 27 set. 2017.
_______. (1977). Conselho Federal de Educação. Parecer nº540/77. Sobre o tratamento a ser dado aos componentes curriculares previstos no art. 7º da Lei n.o 5.692/71. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/fe/article/view/60447/58704>. Acesso em: 29 set. 2017.
_______. (1996). Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 27 set. 2017.
_______. (2008). Lei nº 11.769 de 18 de Agosto de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11769.htm>. Acesso em: 30 set. 2017.
_______. (2016). Lei nº 13.278 de 2 de Maio de 2016. Altera o § 6o do art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que fixa as diretrizes e bases da educação nacional, referente ao ensino da arte. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13278.htm>. Acesso em: 30 set. 2017.
BRÉSCIA, Vera P. Educação musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Edições PNA, 2003.
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