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Unidade I LINGUÍSTICA GERAL Profa. Ana Lúcia Machado Objetivos Compreender a relevância do conhecimento linguístico na formação do profissional de ensino de língua materna ou de segundas línguas. Adquirir visão panorâmica da ciência Linguística por meio da observação de situação de uso da língua/linguagem. Gramática e Filosofia Preocupação do homem com a linguagem: nos tempos antigos já existia. Nos textos bíblicos há o exemplo da Torre de Babel. A gramática já era especulação dos filósofos gregos do século V a.C. na busca de compreensão do homem e do mundo. Para os gregos, a gramática era parte da Filosofia. A gramática de Dionísio (século II a.C.) foi a primeira descrição gramatical no mundo ocidental. Características dos antigos estudos da linguagem Foco na língua escrita. Eliminavam-se as diferenças entre a língua oral e a língua escrita. A língua escrita é superior à língua falada.língua falada. As mudanças que ocorrem nas línguas podem deteriorá-la. Os iletrados tenderiam a corromper as línguas. Gramáticos romanos Os gramáticos romanos fundamentaram seus estudos nos gramáticos gregos. Consideravam correta a língua escrita dos escritores clássicos como Virgílio e Cícero. O objetivo da gramática era ensinar a arte de falar corretamente. Essa visão ainda está presente em muitas gramáticas atuais. Visão prescritiva da gramática Conjunto de regras que devem ser obedecidas pelos falantes ao falarem e ao escreverem. Tal ideia ainda está muito presente no ensino das línguas, principalmente da língua materna. Consequência: preconceito linguístico e pouco conhecimento do funcionamento das línguas pelas pessoas em geral. Causas da visão prescritiva da gramática 1. A ideia de que a língua escrita é superior e mais correta do que a língua falada. 2. A ideia de que as mudanças observadas sejam frutos de um processo de deterioração ou corrupção das línguas. A gramática da tradição hindu Panini (gramático do século IV a.C.): descreveu a linguagem dos textos hindus sagrados; descrição superior à gramática greco- romana, pois salienta mais o estudoromana, pois salienta mais o estudo dos sons da língua e a estrutura interna das palavras; a descoberta da análise gramatical do sânscrito levou ao desenvolvimento da Línguística Comparativa (século XIX).Línguística Comparativa (século XIX). Linguística Comparativa ou Linguística Histórica Investigação objetiva dos fatos da língua. Identificaram-se semelhanças entre várias línguas, comparando-se as estruturas das línguas europeias com a estrutura do sânscrito. Hipótese: as línguas europeias talvez tenham se originado da mesma língua- mãe: a língua indo-europeia. Indo-europeu É uma família linguística, pois é constituída de línguas com uma relação de parentesco. Engloba a maior parte das línguas europeias antigas e atuais. A relação de parentesco é estabelecida em função das semelhanças de vocabulário e da semelhança de estruturas. Se duas línguas são aparentadas, é porque evoluíram de uma língua precedente comum. Contribuições da Linguística Comparativa No século XIX a Linguística Histórica contribuiu para os estudos da linguagem em dois aspectos: 1. o desenvolvimento de princípios e métodos para a identificação e classificação das famílias linguísticas;classificação das famílias linguísticas; 2. a construção de uma teoria geral das transformações linguísticas e das relações entre as línguas. Ex.: leis fonéticas – mudanças de palavras nos textos antigos se p g explicavam por mudanças nas línguas faladas correspondentes. Interatividade Assinale a alternativa correta em relação ao estudo da gramática: a) Os gramáticos romanos focalizavam seus estudos na linguagem oral. b) Os gregos não relacionavam ab) Os gregos não relacionavam a gramática à Filosofia. c) Os estudos comparados das línguas estabeleceram parentesco entre elas. d) Os estudos do sânscrito contribuíram pouco para o estudo das línguaspouco para o estudo das línguas. e) Os estudos gramaticais começaram apenas no século XIX. Linguística Moderna Estudo científico da linguagem. Início: século XX. Em 1916 houve a publicação do livro Curso de Linguística Geral (anotações de aulas ministradas por Ferdinand de Saussure). Estuda a linguagem verbal: a linguagem oral e a linguagem escrita. Linguística: ciência descritiva e ciência explicativa Ciência descritiva: analisa os fatos linguísticos de forma objetiva, ou seja, sem especulações sobre o certo e o errado. Ciência explicativa: procura explicações para os fatos e fenômenos linguísticos observados. Importante: nessa perspectiva, as línguas são vivas, estão sujeitas a transformações , sem se considerar isso uma deterioração. Linguística: ciência autônoma Não está ligada à crítica literária nem à Filosofia como a gramática tradicional. Isso impossibilita preconceitos sociais ou culturais. Segundo a gramática tradicional, asSegundo a gramática tradicional, as manifestações de linguagem poderiam ser consideradas certas ou erradas quanto mais se aproximassem ou se distanciassem dos textos clássicos. Linguística: foco na linguagem verbal Não é qualquer linguagem que é objeto de estudo da Linguística: só a linguagem verbal (oral ou escrita). Não cabe à Linguística outras formas de expressão ou outras linguagens, como a pintura, a dança, a música, a mímica. A primazia da linguagem oral sobre a escrita nos estudos linguísticos Justificativas: a língua oral precede a escrita na história humana; há comunidades que só apresentam a linguagem oral;linguagem oral; a língua oral tende a transformar-se mais que a língua escrita; a criança primeiro aprende a linguagem oral e só depois, a escrita. Prioridade dos estudos sincrônicos em relação aos estudos diacrônicos Estudo sincrônico: o linguista centra suas observações em um determinado “estado da língua”, ignorando as transformações que a antecederam e as que se sucederão. Estudo diacrônico: análise da língua em seu processo de transformações históricas. A Linguística Moderna prioriza os estudos sincrônicos. Análise sincrônica e análise diacrônica Palavra “comer” (segundo Fiorin) Análise sincrônica: “com” aparece em outros contextos, como “comilança”, “comida”, “comeu”. Nesses casos, “com”é um radical. Análise diacrônica: o verbo “comer” resulta da combinação do verbo comer em latim edere, em que ed é o radical, e o prefixo cum significa companhia. Nesse caso, “com” é um prefixo. Exemplo de análise sincrônica Estudo sincrônico: “Você” é usado pelos falantes para se dirigirem à pessoa com quem falam em situações de informalidade ou que exprimem informalidade entre o falante e seu interlocutor. Exemplo de análise diacrônica Estudo diacrônico: “Vossa mercê” “Vossemecê” “Vosmecê” “Você” Verifica-se que as formas que antecederam “você”eram utilizadas em situações maisvocê eram utilizadas em situações mais formais, com mais distanciamento. Por isso, o pronome “você” é utilizado com verbos conjugados na terceira pessoa (como pedem os pronomes de tratamento). Interatividade Após a leitura atenta das alternativas, selecione a incorreta: a) A diacronia estuda a linguagem no decorrer do tempo. b) A Linguística prioriza o estudo dab) A Linguística prioriza o estudo da linguagem escrita. c) A Linguística estuda os fatos linguísticos de maneira objetiva. d) Os estudos linguísticos relacionam-se à linguagem verballinguagemverbal. e) Os estudos linguísticos não estão relacionados à Filosofia. Conceito de sistema A descrição de uma língua está relacionada à concepção linguística de sistema. “Toda língua, num certo tempo, constitui um sistema integrado de relações.” (SAUSSURE) Sistema é, portanto, um conjunto organizado de elementos que interagem. A interação é fruto da relação que se estabelece entre os vários elementos. Prioridade dos estudos da língua sobre a fala Saussure estabelece a língua como objeto de estudo da Linguística, considerando que a língua é do âmbito do social. Ela possibilita a comunicação entre as pessoas, pois pertence à coletividadeà coletividade. A fala é de ordem individual, está sujeita a uma série de interferências de fatores não linguísticos. Língua e sociedade Língua é uma espécie de acordo entre os membros da sociedade que a utilizam. Nenhum integrante da sociedade, individualmente, pode transformá-la. Toda e qualquer alteração linguísticaToda e qualquer alteração linguística deve ser aceita pela coletividade para que possa ser incorporada pela língua. Fatores não linguísticos (emocionais, sociais, físicos) interferem na fala. Resumo das características da Linguística Moderna Método de análise: descritivo. Considera a linguagem como social e observável. Prioridade dos estudos linguísticos: linguagem oral; linguagem oral; estudo sincrônico; língua (sistema). Ensino de línguas: gramática tradicional Prescritiva: o gramático deve ditar as regras da língua, que devem ser seguidas para que ela seja preservada. Prioriza a língua escrita. A língua escrita e literária é a maisA língua escrita e literária é a mais pura e correta. As línguas sofrem deterioração provocada pelo mau uso de seus falantes. Ensino de línguas: Linguística É descritiva: o linguista deve descrever os fatos da língua como eles se apresentam. Prioriza a oralidade. As línguas não mudam para pior,As línguas não mudam para pior, elas apenas se modificam no decorrer do tempo. Não há língua melhor ou pior, mais correta ou incorreta, mais pura ou impura. Estudo da gramática tradicional e suas consequências Os alunos aprendem uma língua diferente daquela que conhecem na vida diária. Muitos alunos são menosprezados por sua maneira de falar, pois a escola desconsidera as variedades linguísticas e a maneira de falar do seu grupo social. Ensino com a Linguística Concepções: 1. considera a estrutura da língua conhecida pelos falantes nas várias situações de uso; 2. reflete sobre a língua e aceita2. reflete sobre a língua e aceita as diferenças; 3. faz o aluno compreender que as diferentes maneiras de dizer devem ser utilizadas de acordo com os diversos contextos de produção.contextos de produção. Interatividade Assinale a alternativa correta em relação ao ensino de língua materna: a) A gramática tradicional é próxima à linguagem do dia a dia dos alunos. b) A Linguística mostra aos alunos que asb) A Linguística mostra aos alunos que as línguas se deterioram. c) A gramática tradicional prioriza a linguagem oral. d) A gramática tradicional não considera os “erros” em relação ao uso da línguaerros em relação ao uso da língua. e) Na perspectiva linguística, não há “erros” ao usar a língua. Ensino e variedades linguísticas Restringir o ensino de línguas à gramática normativa equivale a ignorar todas as variedades linguísticas, afirmando que só uma variedade é correta. Variedades linguísticas são os diferentes usos que os falantes da língua fazem, relacionados a fatores situacionais, regionais ou sociais. Variedades linguísticas regionais Variedades linguísticas regionais: são aquelas que permitem identificar um falante de uma região ou de outra. Ex.: a diferença observada na pronúncia dos falantes gaúchos, mineiros e cariocas. As diferenças de vocabulário (léxico): em São Paulo se diz “mandioca”, enquanto em outros estados se diz “macaxeira”. Variedades linguísticas: socioculturais e situacionais Variedades linguísticas socioculturais: são aquelas que permitem distinguir falantes de níveis socioeconômicos diferentes ou acadêmicos diferentes. Ex.: nós vamos e “a gente fomos”. Variedades linguísticas situacionais: são os usos que os falantes fazem da língua em diferentes situações sociais. Ex.: emprega-se uma variedade mais formal em situações mais formais e uma variedadeem situações mais formais e uma variedade mais informal em situações mais informais. Estudo tradicional da língua “... estudar gramática é estudar as regras que regulam a norma culta, é saber o que pode ser dito e o que não pode – que costuma ser visto quase como sinônimo do que pode ser escrito e do que não pode. Ensinar gramática, nessa concepção, é ensinar língua, que, por sua vez, é ensinar norma culta, o que significa desprezar outras variedades – não só por ignorá-las mas por considerá-las inferiores.” (MENDONÇA 2001)(MENDONÇA, 2001) Preconceito linguístico Preconceitos são notados no conceito de “erro” envolvido no contexto da gramática normativa. Desse ponto de vista, é “errado” todo o dizer de falantes da língua diferente daqueles prescritos pela norma culta. Nega-se a identidade dos diversos grupos sociais. Mitos decorrentes do preconceito linguístico Mitos do preconceito linguístico (BAGNO): 1. “Brasileiro não sabe falar português / só em Portugal se fala bem português.” 2. “Português é muito difícil.” 3 “As pessoas sem instrução falam3. “As pessoas sem instrução falam tudo errado.” Análise da língua e variedades linguísticas Segundo a Linguística Moderna, as variedades linguísticas situacionais, regionais ou socioculturais são apenas diferenças de usos da língua e não são deficiências. O estudioso da língua deve ter por objeto de análise todas as variedades linguísticas. Linguística e ensino de línguas nas escolas Reflexão sobre o ensino de língua nas escolas (LEMLE): “O linguista não nega o valor dos usos literários das línguas e não nega o valor dos estudos dos usos literários nas escolas.” “O linguista nega uma orientação que tende a privilegiar e a atribuir maior valor de correção ou de pureza a um padrão linguístico em relação a outro.” Novas perspectivas no ensino de línguas Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): sugerem aceitar e valorizar as variedades linguísticas em sala de aula; essa perspectiva de ensino tem por objetivo desenvolver as habilidadesobjetivo desenvolver as habilidades linguísticas do aluno em vez de enquadrá-las em um padrão artificialmente construído. Interatividade Assinale a alternativa que apresente a afirmação incorreta: a) Os PCN baseiam-se nas teorias linguísticas atuais. b) As variedades linguísticas devem serb) As variedades linguísticas devem ser consideradas no ensino da língua. c) Os mitos em relação à linguagem decorrem do preconceito. d) A gramática tradicional considera a identidade dos vários grupos sociaisidentidade dos vários grupos sociais. e) O ensino tradicional desconsidera as variedades linguísticas. ATÉ A PRÓXIMA!
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