Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UM ELOGIO AO LÍDER "QUE NÃO SABE" Se existiu alguma herança que Sócrates deixou para a humanidade, foi a chance desta se questionar sobre suas 'verdades'. Na Grécia Antiga, por exemplo, esse grande homem deixou sua marca mostrando que a única coisa que sabia era que nada podia saber e estimulava todas as pessoas a se questionarem sobre a incompletude de seus saberes. A ferramenta que Sócrates utilizava era simples, porém muito poderosa: a pergunta. Hoje, na Era da Globalização, apesar de vivenciarmos uma série de transformações que, segundo Gilles Lipovetsky, culminaram na quebra dos paradigmas engessados, dos ideais preconcebidos, das crenças utópicas, o ser humano continua sua busca irrefreável pelo controle da adversidade, pela busca de garantias e de respostas completas para apaziguar sua angústia frente ao inusitado. Para evitarmos essa cilada de acharmos que sabemos tudo, Jorge Forbes nos convida a sermos profissionais do incompleto, ou seja, profissionais incomodados que se permitem questionar sobre nossos saberes e refletirmos sobre novas soluções frente às adversidades apresentadas. Mesmo que tenhamos uma bagagem de conhecimento enorme, o autor deixa claro que devemos nos surpreender diante dos fenômenos da vida. Existe sempre algo que nunca será traduzido em palavras. Para o líder de hoje, a atitude não pode ser diferente, é preciso buscar outra posição subjetiva, diferente daquela representada pelo mestre que tudo sabe. A crença de que um líder é aquele que sustenta todas as respostas, deve ser substituída pela crença de que este só tem um saber sobre a realidade, o que podemos chamar de janela de realidade, e que este saber é caduco, não vai muito longe se não escutar outras realidades. É por isso que o líder tem uma equipe, para construir de forma criativa a soma das diversas janelas de realidades e criar um nexo que seja aplicável à situação adequada. Porém, a prática é muito diferente da teoria, pois o que enxergamos dentro das corporações são líderes, talvez tomados pela pressão do dia a dia e o medo frente a uma não solução, que não se permitem questionar as situações e acabam fornecendo e/ou demandando respostas automatizadas para tudo. Não importa o conteúdo da estratégia, mas sim que esta seja encontrada o mais rápido possível, para ontem, pois como o tempo é um luxo do mundo moderno, não temos tempo para refletir, apenas para executar. O problema aumenta quando percebemos que respostas rápidas não são mais solucionadoras de situações complexas, o que exige que passemos a questionar sobre a importância do uso do tempo para questionarmos, refletirmos, criarmos, planejarmos e executarmos nosso trabalho com efetividade. De acordo com Walter Longo, em seu livro 'O marketing na era do nexo', é preciso desacelerar para se conectar com as coisas que desenvolvem nexo em um projeto e o mantra que sempre devemos carregar é o da palavra: Por quê? Talvez seja preciso mostrar de forma efetiva os ganhos que um líder atinge quando não tem todas as respostas, mas possui os questionamentos mais elaborados. Diante disso, segue algumas vantagens sobre o ato de questionar: 1) Favorece o relacionamento interpessoal com o grupo, pois o líder sai da posição hierárquica verticalizada, para um compartilhamento horizontalizado. 2) Estimula a equipe a formar outras vertentes sobre como planejar, desenvolver e executar uma mesma tarefa. 3) Produz a criatividade, fazendo com que o grupo desenvolva-se e não tenha medo de produzir ideias que saiam totalmente do senso comum. 4) Possibilita mais autonomia e responsabilidade, pois a equipe apropria-se mais da tarefa quando sabe que faz parte da origem das soluções. 5) Possibilita a construção de novos conceitos e nexos mais elaborados para situações complexas. 6) Demonstra mais flexibilidade entre líder e equipe. 7) Permite a aceitação das diferentes opiniões e desenvolve uma sinergia muito importante para o sucesso das tarefas da equipe. 8) Aumenta a sensibilidade do poder da escuta. 9) Permite conhecer mais de perto as crenças, as capacidades e os comportamentos das pessoas que compõem a equipe, e 10) Aumenta o poder de influência do líder sobre as pessoas, pois este é visto como aquele que permite a inclusão de ideias. Para concluir, mesmo levando em consideração de que existem muitos fatores externos que bloqueiam a capacidade de um líder desenvolver sua equipe através do questionamento, como a própria sociedade que tem um movimento cada vez mais enviesado para a execução rápida e precisa das tarefas, sem a possibilidade de reflexão, é imprescindível readaptarmos Sócrates para o século 21, para fugirmos da automatização e buscarmos a essência do desenvolvimento humano: o pensar, o refletir e o elaborar através do questionamento. Rodrigo Ramos Consultor da Triunfo Consultoria e Treinamento. Psicólogo, com formação em Psicanálise e vasta experiência em Coordenação de Grupos Terapêuticos. Atua há mais de 5 anos ministrando palestras e cursos nas áreas de vendas, comportamento e desenvolvimento humano, onde alia sua experiência ao dinamismo e bom humor.
Compartilhar