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DIREITO PROCESSUAL CIVIL I 
PROCESSO DE CONHECIMENTO 
 
1. BREVE REVISÃO DA TEORIA GERAL DO PROCESSO – NOÇÕES BÁSICAS 
� Lide – “conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida” 
(Carnelutti) 
� Mecanismos de composição dos litígios – autotutela, autocomposição, 
heterocomposição 
� Meios alternativos de composição dos litígios – conciliação, mediação, 
arbitragem – procuram dar maior celeridade ao processo, primam pela 
desformalização, estímulo a julgamentos por eqüidade, desprendimento da 
legalidade estrita – limites objetivos (matérias que a lei considera indispensável 
o processo) e limites subjetivos (sujeitos envolvidos - incapazes) 
� Funções do Estado Moderno – bem comum – paz social – estímulo à “justiça 
coexistencial” (Cappelletti) – funções soberanas: administrativa, legislativa e 
jurisdicional – função jurisdicional: missão pacificadora – pacificação com justiça 
– aplicação da lei ao caso concreto e restabelecimento da paz entre os 
particulares e manutenção da ordem social – acesso à ordem jurídica justa – 
processo (método) – normas jurídicas – direito processual 
� Conceito de Direito Processual – “ramo da ciência jurídica que estuda e 
regulamenta o exercício, pelo Estado, da função jurisdicional” (Alexandre 
Freitas Câmara) – “sistema de princípios e leis que disciplinam o processo” 
(Moacyr Amaral Santos) 
� Autonomia do direito processual frente ao direito substancial – diversidade de 
natureza e objetivos: 
� direito material – estabelece as normas que regulam as relações jurídicas 
entre as pessoas 
� direito processual – regulamenta uma função típica estatal – direito público 
 CUIDADO! Conforme afirma Humberto Theodoro Júnior: “Há, em 
suma, um direito processual que em sua estrutura ordinária merece ser tratado 
como um ramo independente do direito material. Há, de outro lado, um direito 
processual que serve à Constituição, e que, ao fazê-lo, não pode continuar 
sendo enfocado como autônomo. Já então é utilizado com o nítido objetivo de 
tutelar a situação jurídica material subjetiva em situação de crise, ou seja, de 
lesão ou ameaça. É simplesmente o instrumento de realização do direito 
material atingido por agressão ou ameaça ilícita”. 
� Objetivos do direito processual civil 
� Imediato – resguardar a ordem jurídica, pacificando os conflitos e 
assegurando o império da lei e da paz social 
� Mediato – veículo de proteção dos direitos individuais das partes envolvidas 
no conflito 
� Direito processual e sua relação com outros ramos do direito 
� Lei processual civil: aquela que regula o processo civil, que disciplina a função 
jurisdicional desenvolvida pelos juízes e tribunais 
� Lei processual no tempo: incidência imediata – aplica-se a lei que vigora no 
momento da prática do ato e não a do tempo em que se deu o ato material – 
não é retroatividade – respeita o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a 
coisa julgada – alcança o processo no estado em que se encontra quando da 
entrada em vigor – respeita os efeitos dos atos já praticados – tempus regit 
actum 
� Lei processual no espaço: princípio da territorialidade – soberania do Estado – 
exceção: em matéria de prova, aplica-se a lei estrangeira quando o negócio 
jurídico material tiver sido praticado fora do Brasil, mesmo que a demanda seja 
aqui ajuizada, porém não se admite prova que a lei brasileira desconheça 
(LICC, artigo 13) 
� Interpretação das leis processuais: LICC, art. 5.º – atender aos fins sociais a 
que se dirige e às exigências do bem comum – a forma não deve 
obrigatoriamente prevalecer sobre o fundo (ex.: artigos 244, 249, §§ 1.º e 2.º e 
250 do CPC) – fiel interpretação para garantia da segurança jurídica 
2. DADOS HISTÓRICOS RELATIVOS AO DIREITO PROCESSUAL 
� Origens: 
� Proibição da justiça pelas próprias mãos – julgamento pelo Estado-Juiz – 
necessidade de regulamentar a atividade da administração da Justiça – 
surgimento das normas processuais – jurisdição contenciosa (composição de 
litígios) e jurisdição voluntária ou graciosa (administração de interesses 
privados merecedores de tratamento especial pelo Estado) 
� Evolução histórica 
� Mundo clássico (Grécia) – oralidade, princípio dispositivo, provas 
documentais e testemunhais, restrições ao testemunho de mulheres e 
crianças, respeito à livre apreciação da prova pelo julgador (exercia uma 
crítica lógica e racional, sem se ater a valorações legais prévias em torno de 
determinadas espécies de prova) 
� Processo civil romano – três fases: 
a) período primitivo – legis actiones – ações da lei (eram cinco) – 
procedimento solene, oral, sem advogados – uma fase perante 
o magistrado (concedia a ação da lei e fixava o objeto do 
litígio) e outra perante árbitros (colhiam a prova e prolatavam a 
sentença) 
b) período formulário – abolição das ações da lei – o magistrado 
concedia “fórmulas” de ações que fossem capazes de compor 
toda e qualquer lide – havia intervenção de advogados – eram 
observados os princípios do livre convencimento do juiz e do 
contraditório das partes 
c) fase da cognitio extraordinaria – desapareceram os árbitros 
privados – função jurisdicional privativa de funcionários do 
Estado – forma escrita – pedido, defesa, instrução, sentença, 
recursos, execução – bases do processo civil moderno 
 
� Processo Comum – queda do Império Romano – costumes bárbaros – 
noções jurídicas rudimentares – retrocesso – fanatismo religioso: juízos de 
Deus, ordálias, duelos judiciais – processo formal, rígido, acusatório, prova 
tarifada --- paralelamente a Igreja Católica preservava as instituições do 
direito romano, adaptando ao direito canônico – da fusão do direito romano 
com o direito canônico e com o direito germânico surgiu o direito comum 
(processo comum), que perdurou até o século XVI – escrito, lento e 
complicado – tortura como meio de obtenção da verdade no processo – tarifa 
legal da prova (até fins do séc. XVIII) --- Revolução Francesa – livre 
convencimento do juiz e eliminação dos resquícios da tarifa legal da prova 
� Processo civil moderno – o processo civil passa a ser visto como instrumento 
de pacificação social e de realização da vontade da lei – concentração de 
maiores poderes nas mãos do juiz para produção e valoração da prova 
� Evolução científica do direito processual: 
� Fase imanentista – anterior à afirmação da autonomia científica do direito 
processual – processo como mero apêndice do direito material, mera 
seqüência de atos e formalidades – direito substantivo/direito adjetivo 
(impropriedade das expressões) 
� Fase científica – estudos voltados para a fixação dos conceitos essenciais 
que compõem a ciência processual (ação, processo, coisa julgada etc.) – 
nasce a teoria do processo como relação jurídica – maiores nomes do direito 
processual: Giuseppe Chiovenda, Francesco Carnelutti, Piero Calamandrei, 
Enrico Tullio Liebman, Adolf Wach, Leo Rosenberg, Alfredo Buzaid, Lopes da 
Costa, Moacyr Amaral Santos 
� Fase instrumentalista – fase atual – o processualista se dedica a descobrir 
meios de melhorar o exercício da prestação jurisdicional, tentando aproximar 
o máximo possível a tutela jurisdicional do primado da justiça – o processo 
deixa de ser visto como mero instrumento de atuação do direito material e 
passa a ser encarado como um instrumento de que se serve o Estado para 
alcançar seus escopos sociais, jurídicos e políticos – busca assegurar uma 
tutela jurisdicional adequada e efetiva – grandes nomes: Mauro Cappelletti, 
José Carlos Barbosa Moreira, Cândido Rangel Dinamarco 
� Evolução legislativa do direito processual civil brasileiro 
� Ordenações Filipinas – forma escrita, atosem segredo de justiça, várias 
fases, diversas audiências, princípio dispositivo em toda a sua plenitude 
(autor e réu eram donos do processo – a movimentação era privilégio dos 
litigantes) 
� Regulamento n.º 737/1850 – primeiro “Código Processual” nacional – só 
causas comerciais – economia e simplicidade de procedimento 
� Regulamento n.º 763/1890 – estendeu o Regulamento n.º 737 aos feitos civis 
� Constituição de 1891 – estabeleceu a dicotomia entre a Justiça federal e a 
estadual e entre o poder de legislar sobre processo – direito processual da 
União e códigos estaduais de Processo Civil 
� Constituição de 1934 – processo unitário – atribuição à União da competência 
para legislar sobre processo 
� CPC de 1939 – elaborado à luz das teorias de Chiovenda 
� CPC de 1973 – verdadeiro “monumento em homenagem a Liebman” 
� Reformas ao CPC de 1973 e outras normas processuais – revolução no 
sistema processual, sob a influência dos princípios norteadores da fase 
instrumentalista do processo – busca do “processo de resultados” – 
aproximação do processo ao direito material – instrumentalidade e 
efetividade: idéias que se completam na formação do ideário do 
processualismo moderno (HTJ) – processo justo – celeridade + segurança 
jurídica = resultado desejado pelo direito material – novos métodos de 
composição dos litígios (juízo arbitral, juizados especiais, audiência preliminar 
etc.) – justiça coexistencial – tutela de direitos metaindividuais 
3. PRINCÍPIOS INFORATIVOS DO DIREITO PROCESSUAL 
 
3.1. Princípios Constitucionais 
 
� Devido processo legal – due process of law – origem na Carta Magna de 
João Sem Terra, de 1215 – CF, artigo 5.º, LIV – superprincípio: coordena e 
delimita os demais princípios que informam o processo – aplica-se a tudo 
que disser respeito à vida, à liberdade e ao patrimônio, inclusive na 
formação das leis – idéia de processo justo = regularidade formal + melhor 
resultado concreto em face do direito material 
� procedural due process of law – devido processo legal formal – 
garante as formalidades indispensáveis para que o processo seja devido; 
decorrem daí o contraditório, a motivação, o juiz natural, a proibição de 
prova ilícita etc. – garantia de pleno acesso à justiça, acesso à ordem 
jurídica justa (Kazuo Watanabe) – “ondas renovatórias do direito 
processual” ou “as três ondas do acesso à justiça” (Mauro Cappelletti): 
assistência judiciária gratuita, proteção dos interesses metaindividuais e 
o “novo enfoque do acesso à justiça” (reforma do Judiciário, luta contra o 
formalismo exacerbado, valorização dos meios paraestatais de solução 
de conflitos – sucedâneos da jurisdição) 
� substantive due process of law – devido processo legal substancial 
(ou material) – relaciona-se ao controle do conteúdo da decisão; é a idéia 
de equilíbrio, de respeito aos direitos fundamentais – não basta a 
regularidade formal, as decisões devem ser substancialmente razoáveis 
e corretas – princípio da proporcionalidade/razoabilidade (princípio da 
unidade da Constituição, ponderação de interesses) – exemplos no 
processo civil: concessão de tutela antecipada, fixação de multa diária, 
etc. 
 
� Isonomia – CF, art. 5.º, caput – corolário do devido processo legal – idéia de 
processo justo – tratamento equilibrado das partes no processo (art. 125, I, 
CPC) – igualdade substancial e não meramente formal (tratamento igual aos 
iguais e desigual aos desiguais) – assegurar tratamento que supra as 
desigualdades naturais existentes entre as pessoas – ex.: artigos 188 e 82, 
inciso I, do CPC 
 
� Juiz Natural – CF, art. 5.º, incisos XXXVII e LIII – duas faces da garantia: em 
relação ao órgão jurisdicional (juízo competente previamente estabelecido) e 
em relação à pessoa do juiz (imparcialidade – CPC, arts. 134 e 135 – 
impedimento e suspeição) 
 
� Inafastabilidade do controle jurisdicional – CF, art. 5.º, XXXV – principal 
destinatário da norma principiológica: o legislador, que fica impedido de 
elaborar normas que impeçam ou restrinjam o acesso aos órgãos do Poder 
Judiciário 
 
� Contraditório e ampla defesa – CF, art. 5.º, LV – mais relevante corolário do 
devido processo legal – o contraditório exige que as partes tomem 
conhecimento de todos os fatos que venham a ocorrer durante o curso do 
processo, podendo se manifestar sobre eles, ou seja, garante oportunidade 
à parte de falar sobre as alegações do outro litigante e de fazer prova 
contrária – por ampla defesa deve-se entender o conjunto de meios 
adequados para o exercício do contraditório 
OBS.: 
1) Conseqüências: (Humberto Theodoro Júnior) 
a) a sentença só afeta as pessoas que foram parte no processo, ou 
seus sucessores; 
b) só há relação processual completa após a regular citação do 
demandado; 
c) toda decisão só é proferida depois de ouvidas ambas as partes. 
2) Contraditório diferido ou de exercício protelado ou postecipado – medidas 
liminares inaudita altera parte 
 
• Motivação das decisões judiciais – CF, art. 93, IX – toda decisão judicial deve 
ser fundamentada, sob pena de nulidade – proteção ao interesse das partes e 
ao interesse público – controle da atividade jurisdicional – fundamentação 
adequada (decisão mal fundamentada equivale a decisão não fundamentada) 
 
• Tempestividade da tutela jurisdicional – CF, art. 5.º, LXXVIII, acrescentado pela 
EC n.º 45/04 – o processo não deve demorar mais do que o estritamente 
necessário para que se possa alcançar os resultados justos visados por força 
da garantia do devido processo (Alexandre Freitas Câmara) – CF, art. 93, II, “e” 
3.2. Princípios informativos do processo civil 
 
� Dispositivo/inquisitivo – a iniciativa da abertura do processo é da parte e o 
impulso é oficial, ou seja, do juiz, que promove o andamento do feito até o final 
sem necessidade de provocação das partes – em matéria de provas o sistema 
é misto: iniciativa das partes e por determinação do juiz (artigo 130 do CPC) 
 OBS.: Derivações do princípio dispositivo: princípio da demanda (artigo 2.º, 
CPC – não há instauração de processo pelo juiz ex offício) e princípio da 
congruência ou da adstrição (artigo 128, CPC – o juiz fica limitado ao pedido da 
parte, apreciando e julgando a lide nos termos em que for proposta) – necessidade 
de preservar a neutralidade do juiz 
 
� Recorribilidade e duplo grau de jurisdição – regra geral, a parte tem o direito de 
ter sua pretensão conhecida e julgada por dois juízos distintos, mediante 
recurso, caso não se conforme com a primeira decisão – exceção: feitos de 
competência originária de tribunais 
 
� Boa-fé e lealdade processual – a lei não tolera a má-fé – o juiz tem poderes 
para atuar contra a fraude processual (art. 129, CPC) e contra a litigância de 
má-fé (arts. 16 a 18, CPC) 
 
� Verdade real – não há valoração prévia de provas em nosso direito – o juiz 
forma o seu convencimento livremente e tem poderes para buscar a verdade 
real no processo, determinando a produção das provas que entender 
necessárias à elucidação dos fatos – busca da justiça – a decisão, entretanto, 
deve se basear nos fatos e circunstâncias que constam dos autos e a sentença 
deve ser obrigatoriamente fundamentada 
 
� Oralidade – mitigada – identidade física do juiz (art. 132 do CPC), concentração 
(produção de provas e julgamento na mesma audiência) e irrecorribilidade das 
decisões interlocutórias 
 
� Publicidade – CF, art. 93, IX – exceção: processos que correm em segredo de 
justiça (art. 155, CPC) 
� Economia processual – obtenção do maior resultado possível, com o mínimo 
de atividade – princípio intimamente ligado à celeridade processual 
 
� Eventualidade oupreclusão – o processo é feito de fases, cada uma 
preparando a seguinte e, uma vez passando para a fase posterior, não é 
possível retornar à fase anterior – o processo caminha para a frente – a 
preclusão é a perda da faculdade de praticar um ato processual em razão de já 
ter sido exercido esse direito ou de ter passado o momento adequado para 
fazê-lo 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I 
 
Código de Processo Civil – Lei n.º 5.869, de 11/01/1973 
Livro I – Do processo de conhecimento 
Título I – Da Jurisdição e da Ação 
Capítulo I – Da Jurisdição 
 
JURISDIÇÃO – artigos 1.º e 2.º do CPC 
1. Conceito 
� Acepções 
• Poder – capacidade de decidir imperativamente e de impor suas 
decisões 
• Função – dever – encargo que o Estado tem de “dizer o direito”, de 
promover a pacificação dos conflitos realizando o direito justo 
• Atividade – atos que os órgãos do Poder Judiciário praticam no 
processo, exercendo o poder e cumprindo a função que a lei lhe 
confere 
� Poder-dever – poder jurisdicional/dever de jurisdição 
� Humberto Theodoro Júnior – função estatal – “é a função do Estado de declarar 
e realizar, de forma prática, a vontade da lei diante de uma situação jurídica 
controvertida”. 
� Chiovenda – caráter substitutivo – “função do Estado que tem por escopo a 
atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade de 
órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já no 
afirmar a existência da vontade da lei, já no torná-la, praticamente, efetiva”. 
� Carnelutti – lide – “função de busca da justa composição da lide”. 
 
2. Características 
� Substitutividade – “atividade secundária” 
� Imparcialidade – “atividade desinteressada do conflito” 
� Instrumentalidade 
� Inércia – “atividade provocada” 
� Presença de lide (controvérsias) 
� Definitividade (controvérsias) 
 
3. Princípios 
� Juiz natural 
� Demanda 
� Oficialidade 
� Indeclinabilidade 
� Indelegabilidade 
� Inevitabilidade 
� Improrrogabilidade 
� Inafastabilidade 
 
4. Espécies 
CUIDADO! A jurisdição é uma e indivisível. Fala-se em “espécies” apenas para fins 
didáticos. 
� Civil e Penal – quanto ao tipo de pretensão submetida ao Estado-Juiz 
� Inferior e Superior – quanto ao grau em que é exercida 
� Comum e Especial – em relação ao órgão que a exerce 
� De direito e De eqüidade – quanto à fonte do direito 
� Contenciosa e Voluntária – critério da forma 
CUIDADO! Controvérsias a respeito da Jurisdição Voluntária (ou graciosa) – “nem 
é jurisdição nem é voluntária” – ausência de “lide” – “interessados” em lugar de 
“partes” – inexistência de “coisa julgada material” – não há “ação e processo”, mas 
“requerimento e procedimento” – “administração pública de interesses privados” – 
“atividade estatal de integração e fiscalização” 
 
5. Escopos 
� Sociais – promoção do bem comum – eliminação dos conflitos – pacificação 
com justiça – incentivo à consciência dos direitos próprios e respeito aos alheios 
� Jurídicos – atuação da vontade concreta da lei – manutenção da integridade do 
ordenamento jurídico 
� Políticos – afirmação do poder estatal – assegurar a observância dos direitos 
fundamentais dos jurisdicionados – participação do jurisdicionado nos destinos da 
sociedade 
 
Análise dos artigos 1.º e 2.º do CPC com base no que 
foi estudado 
Capítulo II – Da Ação 
 
AÇÃO – artigos 3.º a 6.º do CPC 
1. Conceito 
� Acepções 
• Direito público subjetivo – direito de provocar a jurisdição – direito ao 
processo – “pretensão à tutela jurídica” (Pontes de Miranda) 
� Teoria concretista – o direito de ação se confunde com o mérito, ou 
seja, só existe de for reconhecida a existência do direito material no 
resultado do processo 
� Teoria abstrativista – o direito de ação é abstrato, existe sempre, 
pouco importa o resultado obtido no processo (existência ou não do 
direito material) 
� Teoria eclética – Liebman – natureza abstrata – o direito de ação 
existe ainda que o demandante não seja titular do direito material 
afirmado, mas considera a existência de uma categoria estranha ao 
mérito da causa, as “condições da ação”, que seriam requisitos do 
direito de agir 
 
• Exercício do direito – “ação exercida” – “ação processual” – “demanda” – 
“pleito” – “causa” – nesse sentido a ação é sempre concreta, porque 
relacionada a determinada relação jurídico-substancial – “direito de 
demandar” 
 
2. Elementos da ação – dados de identificação da ação 
Importância: identificar a presença de litispendência, de coisa julgada etc. – artigo 
301, § 2.º, CPC – “tríplice identidade” 
 
� Partes – sujeitos 
 
� Causa de pedir 
 
 
� Pedido 
 
remota – fatos 
próxima – fundamento jurídico 
imediato – prestação jurisdicional 
mediato – tutela do bem da vida 
3. Condições da ação 
Observações importantes: 
A) O CPC adotou a concepção eclética sobre o direito de ação – Enrico Tullio 
Liebman – direito ao julgamento do mérito da causa, porém condicionado ao 
preenchimento de determinadas condições, que devem ser verificadas à luz da 
relação jurídica deduzida em juízo – “condições da ação” 
B) Para Alexandre Câmara, são “requisitos do provimento final” 
C) A ausência de qualquer das “condições da ação” gera o fenômeno da “carência 
de ação” e a conseqüente extinção do processo “sem resolução do mérito” – 
exame preliminar à apreciação do mérito e em caráter prejudicial 
D) Artigos: 3.º, 267, I e VI e 295, I, II, III e parágrafo único, III, todos do CPC 
� Possibilidade jurídica (do pedido/da demanda) – adequação entre a pretensão 
posta em juízo e o ordenamento jurídico – Cândido Dinamarco: a 
impossibilidade jurídica pode estar no pedido, na causa de pedir ou mesmo nas 
partes 
� Interesse de agir ou interesse processual – representada pelo trinômio 
“necessidade/utilidade/adequação” – controvérsias sobre o “interesse-
adequação” (questão de forma – sanável) – artigo 4.º do CPC – “ações 
constitutivas necessárias” 
� Legitimidade ad causam – pertinência subjetiva da lide 
• Ordinária – colhe-se a partir do exame da relação jurídica material – 
defende em nome próprio interesse próprio 
• Extraordinária – ficção da lei – substituição processual (controvérsias – 
há quem faça distinção) – legitimação anômala – defende em nome 
próprio interesse alheio – somente quando houver expressa previsão 
legal 
CUIDADO! 
Legitimidade extraordinária ≠≠≠≠ representação processual 
 
3.1. Momento de verificação das condições da ação 
� Teoria da asserção – a verificação das condições da ação é feita quando do 
recebimento da petição inicial – juízo de admissibilidade inicial do procedimento 
– análise feita à luz das afirmações feitas pelo demandante – se positivo o juízo 
de admissibilidade, tudo o mais seria decisão de mérito – grande aceitação 
doutrinária 
� Vertente eclética – por serem condições de existência, devem estar presentes 
em todos os momentos do processo – se em qualquer momento faltar uma das 
condições, o processo deve ser extinto sem resolução do mérito, conforme o 
artigo 267, VI, do CPC – o CPC adotou esse entendimento: § 3.º do art. 267, do 
CPC 
 
OBS.: A carência de ação é matéria de ordem pública – pode ser reconhecida no 
exame da petição inicial (primeiro exame de admissibilidade – art. 295 do CPC) – 
pode ser reconhecida depois da citação do réu, caso este a alegue (art. 301, X, 
CPC – neste caso não é mais hipótese de indeferimento da petição inicial, mas de 
julgamento conforme o estado do processo – art. 329, CPC) – a partir daí, pode ser 
reconhecida a qualquer tempo, de ofício (exceto emgrau de recurso especial ou 
extraordinário, por falta de prequestionamento) 
 
4. Classificação das ações (considerando a espécie e natureza de tutela que se 
pretende do órgão jurisdicional) 
� Ação de cognição 
• Ação condenatória 
• Ação constitutiva 
• Ação meramente declaratória 
� Ação de execução 
� Ação cautelar 
OBS.: ações mandamentais e ações executivas lato sensu 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I 
 
Código de Processo Civil – Lei n.º 5.869, de 11/01/1973 
Livro I – Do processo de conhecimento 
Título II – Das partes e dos procuradores 
 
Capítulo I – Da capacidade processual 
 
1. Do processo e do procedimento 
� Teoria da relação jurídica processual – Oscar von Bülow – o processo é uma 
relação jurídica – relação intersubjetiva (entre pessoas), dinâmica, de direito público 
e que tem seus próprios sujeitos e requisitos (pressupostos processuais) – tem como 
conteúdo outra relação jurídica (a de direito material) e como finalidade permitir a 
apreciação desta pelo Estado-Juiz – a mais aceita pela doutrina atual 
� Teoria do processo como entidade complexa – Cândido Rangel Dinamarco – “o 
procedimento, realizado em contraditório, animado pela relação jurídica processual” 
– procedimento realizado em contraditório (aspecto extrínseco) + relação jurídica 
processual (aspecto intrínseco) 
� Processo e procedimento para Humberto Theodoro Jr. – “processo é o método, 
isto é, o sistema de compor a lide em juízo através de uma relação jurídica 
vinculativa de direito público, enquanto procedimento é a forma material com que o 
processo se realiza em cada caso concreto” 
� Processo e procedimento para Alexandre Câmara – “o processo é uma entidade 
complexa, de que o procedimento é um dos elementos formadores” 
� Configuração gráfica da relação jurídica processual – divergências – doutrina 
majoritária: triangular 
 
 
 
 
2. Pressupostos processuais 
� “são aquelas exigências legais sem cujo atendimento o processo, como relação 
jurídica, não se estabelece ou não se desenvolve validamente” – “são dados 
reclamados para análise de viabilidade do exercício do direito de ação sob o ponto 
de vista estritamente processual” (Humberto Theodoro Jr.) 
E - J 
A R 
CUIDADO! Conforme afirma Humberto Theodoro Jr., os pressupostos processuais 
são requisitos jurídicos para a validade da relação processual e as condições da 
ação são requisitos a observar, depois de estabelecida a relação processual, para 
que o juiz possa solucionar a lide (mérito) 
 
� Pressupostos de existência e pressupostos de validade do processo: 
 
• Pressupostos de existência 
 
 
• Pressupostos de validade 
 
 
 
� Partes 
• O processo se instaura mesmo antes de o demandado ser citado. Entretanto, 
é necessário que haja a indicação do mesmo, pois a propositura de uma 
demanda sem indicação do demandado ou indicando, por exemplo, como 
demandado, uma pessoa já falecida, fatalmente levará à conclusão de que se 
está diante de um processo inexistente 
• A capacidade de ser parte (pressuposto de existência) está relacionada à 
própria capacidade de direito, ou seja, todo aquele que tiver aptidão para ser 
sujeito de direitos e obrigações terá capacidade de ser parte – (pessoa física, 
pessoa jurídica, espólio, massa falida, condomínio etc.) 
• A capacidade processual, ou capacidade para estar em juízo (legitimatio ad 
processum), refere-se à capacidade de fato ou de exercício, que segue as regras 
de direito civil, ou seja, a incapacidade civil deve ser suprida pela assistência ou 
pela representação para que se possa postular em juízo (arts. 7.º, 8.º e 9.º) – a 
incapacidade é vício que não extingue de imediato o processo, sendo sanável na 
forma do art. 13 do CPC 
• A capacidade postulatória (capacidade técnica) é a “aptidão para dirigir 
petições ao Estado-Juiz” e, em regra, refere-se à figura do advogado 
 
 
Partes – capacidade de ser parte 
Juiz – órgão investido de jurisdição 
Demanda – ato de pedir 
Juiz – competência e imparcialidade 
Demanda – apta – respeito ao 
formalismo processual – regularidade 
formal 
Partes – capacidade processual e 
capacidade postulatória 
OBSERVAÇÕES: 
a) Substituição processual 
� Regra geral: a titularidade da ação vincula-se à titularidade do pretendido 
direito material subjetivo envolvido na lide – exceção: art. 6.º, CPC (substituição 
processual – só quando autorizado por lei) – conexão de interesse entre a 
situação jurídica do substituto e a do substituído 
� Poderes do substituto – amplos em relação aos atos e faculdades 
processuais – não compreendem atos de disposição do direito material 
(confissão, transação etc.) 
� Conseqüência importante: coisa julgada – forma-se em face do substituído, 
mas, diretamente, recai também sobre o substituto – essa regra vale para ações 
individuais 
 
b) Curador especial – curador à lide – art. 9.º do CPC – representante especial 
para atuar apenas no curso do processo – não é parte – poderes de 
representação legal da parte em tudo que diga respeito ao processo e à lide nele 
debatida – não pode transacionar, renunciar, etc. – faculdade de produzir defesa 
por negação geral – munus processual (não dá direito a exigir honorários da 
parte representada) 
c) Regramento processual das pessoas casadas – arts. 10 e 11 do CPC 
d) Capacidade processual das pessoas jurídicas – art. 12 do CPC – Súmula 644 
do STF 
e) Incapacidade processual e irregularidade de representação – abrange a 
capacidade postulatória – art. 13 do CPC – suspensão do processo – prazo para 
sanar o vício – providências 
 
� Juiz 
• Um órgão devidamente investido de jurisdição é pressuposto para que o 
processo possa existir; não há processo quando se postula perante órgão sem 
tal investidura (ex.: delegado, magistrado aposentado) 
• Para que o processo possa se desenvolver validamente, é necessário que o 
órgão seja competente e imparcial. Faltando competência e/ou imparcialidade, o 
processo não se extingue, porém deverá ser remetido para julgamento por órgão 
devidamente competente e imparcial para julgamento 
� Demanda 
• Para que um processo se instaure, é necessário que haja uma provocação, 
ou seja, que alguém pratique um ato, consistente na apresentação ao órgão 
jurisdicional, de uma petição inicial 
• O que caracteriza uma demanda (“ação exercida”) é a presença de partes, 
pedido e causa de pedir, ou seja, a petição inicial deve obedecer a uma 
regularidade formal para que o processo possa se desenvolver validamente 
• Há autores que tratam ainda de outros requisitos processuais objetivos 
intrínsecos (formalismo processual – citação, respeito ao contraditório, 
intimações, escolha correta de procedimento, existência de procuração nos autos 
etc.) e de requisitos processuais extrínsecos ou negativos (inexistência de 
litispendência, coisa julgada, perempção, convenção de arbitragem, nulidades 
previstas no ordenamento processual etc.), afirmando que a ausência deles 
também impede o desenvolvimento válido do processo 
 
 
Capítulo II – Dos deveres das partes e dos seus procuradores – arts. 14 a 35 do CPC 
 
1.Partes do processo 
� Partes da demanda e partes do processo 
� “Parte, portanto, em sentido processual, é o sujeito que intervém no contraditório 
ou que se expõe às suas conseqüências dentro da relação processual” 
(Humberto Theodoro Júnior) 
� Autor – adquire a qualidade de parte do processo pelo ajuizamento da demanda 
� Réu – adquire a qualidade de parte do processo pela citação 
� Outros – sucessão processual, intervenção de terceiros 
 
2. Deveres das partes e dos procuradores 
� “Cabe às partes o dever deauxiliar o juízo no descobrimento da verdade e na 
efetivação das decisões judiciais, sem utilizar expedientes antiéticos” (Alexandre 
Freitas Câmara) – arts. 14 e 15 do CPC 
� Responsabilidade por dano processual – subjetiva – arts. 16 a 18 do CPC 
� Responsabilidade por despesas processuais – arts. 19 a 35 do CPC 
• Princípio da sucumbência – responsabilidade objetiva do vencido – art. 20, 
CPC 
• Princípio da causalidade – é responsável pelas despesas processuais aquele 
que deu causa à instauração do processo 
• Fixação de honorários advocatícios 
 
 
Capítulo III – Dos procuradores – arts. 36 a 40 do CPC 
 
1. Advogado 
� “essencial à administração da justiça” – CF, art. 133 
� Capacidade postulatória – pressuposto processual – essencial ao regular 
desenvolvimento do processo 
� Lei 8.906/94 – Estatuto da OAB 
� Atuação em juízo – procuração – mandato judicial – exceção: art. 37, CPC 
� Procuração geral para o foro (ad juditia) – instrumento público ou particular – 
poderes especiais 
� Direitos do advogado – art. 40, CPC 
 
 
 
Capítulo IV – Da substituição das partes e dos procuradores – arts. 41 a 45 do CPC 
 
1. Substituição de parte 
� Só em casos expressos em lei – art. 41, CPC 
� Art. 42 – mudança na situação jurídica material, mas não na formal (esta só se a 
parte contrária consentir – § 1.º) – é possível a intervenção como assistente 
� Sucessão causa mortis – art. 43 – não ocorre no caso de ação intransmissível 
(direito personalíssimo) – suspensão do processo para habilitação 
 
2. Substituição do advogado 
� Pode ser provocada pela parte ou pelo causídico – arts. 44 e 45 do CPC 
� No caso de morte ou incapacidade do advogado – suspensão do processo – 20 
dias para regularização pela parte – art. 265, § 2.º, CPC

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