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Aula de Psiquiatria 06.02

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Introdução à psicopatologia – 06/02 
Elisa Freitas Macedo
O psiquiatra pode entender não só o processo psíquico, o adoecimento psíquico, como pode entender, e pode categorizar, classificar, após isso, fazer um diagnóstico e através desse diagnóstico, fazer uma proposta de uma ajuda terapêutica, e através disso uma comunicação. Um psiquiatra comunica com outro psiquiatra, com um medico plantonista.
Em relação à psicopatologia, nós vamos falar sobre 2 aspectos: um é o aspecto mais histórico, o outro é o aspecto mais psicodinâmico. O aspecto histórico da psicopatologia é como que começou a psicopatologia. 
A psicopatologia, na Europa, no século XVII e XVIII, todo transtorno mental era associado com uma desordem. Os grandes sanatórios da Europa eram segregações de criminosos, abandonados, delinquentes e, juntamente com isso, os pacientes que tinham doenças mentais graves. O depressivo grave, o suicida, o esquizofrênico, paciente que tinha demência. Na Europa, existiam instituições de segregação enormes, onde esses pacientes ficavam. 
Nessa mesma época, a Medicina começou com um processo de classificar. As primeiras classificações, congressos, a própria Medicina foi evoluindo para tentar categorizar as patologias. Começou a notar que, dentre aqueles segregados, existiam diferenças entre eles. Daí nasce à psicopatologia. 
Para classificar um fenômeno psíquico você precisa estar em contato com ele. Daí nasceu um ramo que chama fenomenologia. A fenomenologia possibilitou a psicopatologia descritiva. Os fenomenologistas iam para esses lugares, estudavam os pacientes e começaram a prestar atenção: esse paciente fica 3 meses deitado, 3 meses eufórico. Quando ele está fora de si, ele tem um juízo critico preservado, é uma pessoa que tem um transtorno que é x.
Já esse outro fica o tempo todo segregado, não se relaciona com ninguém, ele é desconfiado, ele tem delírios religiosos, delírios paranoicos. O Russel descreveu que, para fazer isso na psiquiatria, você tem que olhar. 
O conceito básico da psicopatologia é a fenomenologia. Então, o que seria fenomenologia? Fenômeno vem de fanhos (faísca), se você tentar descrever para alguém o que é vir um relâmpago é uma coisa, se você ver o relâmpago pessoalmente, é outra. Então, você tem que estar imerso naquele ambiente para você descrever o relâmpago. Se você for contar com o colega o que é um relâmpago, você não vai transmitir 1% do que você viu. 
Então, a ideia da fenomenologia é essa: para que você descreva um paciente psiquiátrico, um contato com um paciente psiquiátrico, eu tenho que olhar para ele, estar em relação com ele. O clinico não vai apenas ver o paciente, ele vai sentir o paciente, vai ver o olhar desse paciente, vai ver se esse paciente está abatido, a pele desse paciente (se ela está corada, hipocorada), a voz desse paciente. Então, mostrando que a fenomenologia não é só para a psicopatologia, ela é uma base da prática medica, mostrando que qualquer área da clinica médica usa a fenomenologia. 
É muito importante termos uma noção da psicodinâmica e que nós respondemos onde acontece o sofrimento psíquico. Para a gente ter uma resposta e ter um parâmetro teórico sobre isso, nós temos que falar um pouco da questão do nosso aparelho psíquico. Os grandes estudiosos da psicanalise contribuíram muito para que a gente tenha uma ideia de como é que funciona a dinâmica das forças, como elas se organizam para se transformarem nesse “sou eu”. 
A dinâmica psíquica normalmente funciona com 3 instancias: o Id, que seria nossa vida instintual, nossa vida funcional. Ao longo do desenvolvimento, esse Id vai formando tipo uma carapaça de resistência. Ou seja, o lado instintual em contato com a realidade vai criando um mecanismo para lidar com a realidade. Nesse processo, que seria o Id, acontece a formação do ego. 
O ego vai trazer um mecanismo de inserir dentro das regras sociais, que seria uma forma de introduzir a lei, que seria o superego. O sofrimento psíquico acontece no ego. O ego é uma parte de nós mesmos que ficou responsável por administrar 3 instancias: a vida animal (instintual, a vida que vem do macaco, instintos, fome, sede, sexualidade, tudo isso tá no I	d), o mundo externo (chuva, tempestade) e, ao mesmo tempo, a lei (as coisas que podemos e não podemos fazer). 
O ego ficou no meio disso daí. Ou seja, para que eu seja um sujeito, para que eu me veja como uma entidade separada, eu tenho que ter dentro de mim uma instancia psíquica que faça um dialogo com essas 3 instancias. O “eu” está sempre fazendo essa conexão entre o Id, o mundo externo e o superego. 
O superego é a parte do mundo externo, que ele sabe que é a lei, que são as proibições, o que ele não pode fazer. O ego é o nosso eu que está o tempo todo lutando para ter uma individualidade, para se relacionar com o outro, para ter uma vida social. Então, o ego está fazendo operações defensivas para se posicionar nessas 3 instancias. 
Dentro da alma humana existe um núcleo que transita entre o animal, entre o mundo externo e entre o social. Como exemplo, você pega um cachorro que teve uma vida domesticada e um lobo, que teve uma vida selvagem. O lobo evoluiu e o cachorro se aproximou do homem, e hoje em dia o cachorro tem uma adaptação para conviver com a gente. O cachorro que se socializou que ficou próximo ao homem, ele abriu mão de uma vida onde era praticamente tudo Id e ele teve que introduzir algumas coisas rudimentares para conviver com a gente. O cachorro domesticado, se ele começa a ficar muito tempo em casa, ele começa a cair pelo, começa a comer a casa toda, começa a se coçar todo. Ele tem sintomas, ele tem neuroses. Esse processo de sair do animal e ir para o social deixou uma rede de sintomas que ele tem que pagar o preço. O cachorro pagou o preço de ter que morar em apartamento, não poder ficar correndo atrás de bicho no mato, etc. 
Transportando isso para um humano, nós pagamos um preço por tudo o que fazemos na vida, mas nós escolhemos isso. Nós nascemos com esse livre arbítrio dentro de nós, liberdade de se posicionar diante da vida. Se nós estamos fazendo medicina hoje, nós tivemos que pagar um preço, nós tivemos varias privações, nossos pais tiveram varias privações. O ego que paga esse preço.
O ego é uma estrutura psíquica em que acontece todos os sintomas e todas as vivencias humanas conscientes e até inconscientes. O ego tem uma parte dele que é consciente e tem uma parte dele que é inconsciente. O sofrimento psíquico acontece no ego. 
A técnica semiológica da psiquiatria vai ser a relação medico-paciente, o que você vai colher disso através da fenomenologia. O objetivo da psicopatologia é chegar ao diagnostico psiquiátrico. Através do diagnóstico vai existir todo um posicionamento. 
A medicina tem sempre essa questão de olhar o sintoma, olhar o fenômeno, e eu tenho que ter uma ideia de um diagnóstico. Eu tenho que devolver para essa pessoa que está me procurando, no sofrimento psíquico dela, eu tenho que devolver uma forma, um padrão. Lá na frente, eu posso ver que o diagnóstico está errado. Eu posso rever o diagnóstico, o que acontece muito na psiquiatria.
A psiquiatria transita entre o normal e o patológico. Ás vezes, o que para uma cultura é normal para a outra não é. A psiquiatria usa muito essa visão o que sai do normal, o que não sai. A psiquiatria usa muito essa visão o que sai do normal, que é uma questão muito subjetiva, mas existe uma base teórica muito grande que é a psicopatologia. 
Nós recorremos à psicopatologia para que possamos ter uma âncora. O paciente normal e patológico tem uma base ancorada. A tristeza é um fenômeno psíquico. Só que essa mesma tristeza, é um fenômeno que, se você presta atenção, uma pessoa ao longo da vida dela, dentro de um corte imediato ou um corte recente, essa pessoa vai trazer um aprofundamento dessa tristeza, é a mesma tristeza, só que essa tristeza tem um colorido diferente. Ela tem um colorido que não é só tristeza, essa pessoa tem inapetência, essa pessoa emagreceu ou ganhou peso, olhar vago, falta de concentração.A psiquiatria transita entre um fenômeno, que é humano, como por exemplo, a tristeza, é normal sentir tristeza. Mas esse fenômeno foi tão observado, e nessa observação nós vimos que tem uma tristeza que não é tão normal, porque ela paralisa a vida dessa pessoa. Aí isso foi se transformando ao longo do tempo para um dos critérios diagnósticos do transtorno depressivo. A tristeza é um dos pilares sintomatológicos da depressão. 
Existem depressões que essa tristeza é tão erguida pelo ego, às vezes a pessoa está tão sem energia, que nem manifestar a tristeza ela consegue, a tristeza vai aparecer no corpo. A pessoa para de alimentar, a pessoa para de falar, a pessoa tem um sintoma físico doloroso grande. São as depressões atípicas. Na maioria das vezes, a tristeza é um dos sintomas principais de um episodio depressivo. 
Uma pessoa que é compradora compulsiva, por exemplo, ela tem um Id, tem uma impulsividade, uma sexualidade exacerbada. Só que essa pessoa foi criada dentro de uma família com muita repressão, essa pessoa entrou na adolescência dela com muita repressão e ela teve muita dificuldade de se posicionar no inicio da sexualidade dela, para ela seguir como sujeito, exercendo a sexualidade dela. 
Então o ego, depois, negou esse Id totalmente, não teve contato com ele, não vivenciou esses impulsos. Essa pessoa teve que pegar esse ego e jogar alguma coisa nele, para poder ter mais dentro dele. Então ele começa a acumular sapato, por exemplo, aí ele começa a comprar mais sapato. 
Então, o que esse ego fez? Ele fez uma operação defensiva, ele tirou um impulso que era inconsciente, que ele não conseguiu assimilar socialmente, e ele transformou esse impulso deslocadamente para uma atividade que vai substituir aquele impulso. Então, isso é um mecanismo de formação dos sintomas. Todo sintoma psicopatológico, a dinâmica é essa: o ego está sempre barganhando as coisas. 
Vamos falar de 2 formas principais do adoecer psíquico. O fenômeno psíquico tem uma linha evolutiva, mas que existem 2 fenômenos básicos principais dentro dessa linha: a neurose e a psicose. Ou seja, é o desenvolvimento neurótico e o desenvolvimento psicótico. A neurose e a psicose estão inseridas dentro de uma mesma linha. E essa linha é o que? É o ego. 
Então, o ego, diante de um sofrimento psíquico, ele pode se desenvolver. Dentro de uma forma neurótica ou dentro de uma forma psicótica.
O ego, na neurose, ele vai ter fragmentos de ruptura com a realidade. Por exemplo, eu tenho um desejo compulsivo de comprar sapato. Todo mundo me fala isso, mas eu nego isso. Então, eu entro nas lojas escondido. O ego vai fazendo barganhas e vai criando ilhas de sintomas, e essas ilhas de sintomas vão atrapalhar essa pessoa a ver a realidade de uma forma mais precisa. Então, a neurose é a invasão do ego, de algum sintoma, e que atrapalha o contato dessa pessoa com a realidade de alguma forma. Mas essa pessoa, em 90% das vezes continua com as funções do ego preservadas. Então, ela tem ilhas de sintomas, ela tem aspectos, pontos cegos da realidade dela que ela não percebe, mas ela é como se fosse uma pessoa normal. 
Então, dentro de um conceito psicanalista todos nós somos neuróticos. O nosso funcionamento é neurótico. Todos nós, para termos nossas vidas sociais, temos as nossas neuroses. Quanto mais eu conheço as minhas neuroses, menos eu me atrapalho com as neuroses dos outros. Teoricamente, todos nós temos neuroses, temos barganhas, temos pontos cegos dentro da gente, e esse ponto cego faz com que a gente abra mão de uma determinada coisa, que a gente se esquive de determinadas coisas, que a gente evite determinadas coisas, que a gente negue determinadas coisa: essa é a neurose. Vamos supor que, ou por fato genético, ou por um conflito muito grande, uma coisa insuperável, o ego está sobre forças dessas instancias. 
Então, supondo que uma pessoa, ao longo da vida dela, ela, geneticamente, tem uma predisposição à esquizofrenia. Então, o Id dessa pessoa é um Id muito severo, esse ego pode sofrer uma pressão tão violenta que ele vai se dividir. É uma cisão do ego. Então, o que é a esquizofrenia? O eu da pessoa se divide. Então, ela ouve a própria voz dela e nos outros, ela projeta. O quadro clínico da psicose é um ego primitivo. 
A pessoa perde a noção do que é ela, o que é o outro, o que é o mundo. Ela acha que as coisas estão chegando até ela, mas na realidade é o ego dela que foi sentido. 
Como uma pessoa pode fazer um quadro psicótico? Às vezes ela não tem genética para esquizofrenia, mas essa pessoa viveu um acidente, uma perda de toda família nesse acidente, só ela sobreviveu. Então, já é o mundo externo que invadiu o ego. O ego não teve chance de assimilar direito tanta desgraça, tanta pressão, tanta perda ao mesmo tempo. Então, essa cisão agora aconteceu numa questão do mundo externo. Então, na psicose, o ego pode se cindir não só pelo Id, aí nesse caso é genética. Qualquer um de nós, dependendo do que vai passar na vida, pode fazer um quadro psicótico, porque é uma divisão do ego. 
Ou então, existe uma forma desse ego ficar com psicose, se essa pessoa que nasceu com a sexualidade exacerbada, que passou pela adolescência com muita repressão, tem uma compulsão por comprar sapato. 
Ou ela escolhe entrar pra uma forma religiosa onde ela se priva de tudo na vida. O que é isso? Ela emprestou para o superego dela, que é uma censura, uma força tão grande, de repressão tão grande pela censura, pelo superego, e o superego vai tão grande no ego e incide também o ego. 
O desenvolvimento neurótico ou o desenvolvimento psicótico é uma questão de dinâmica ao longo do ego.

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