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Fichamento - Leach

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LEACH. SISTEMAS POLÍTICOS DA ALTA BIRMÂNIA.
Introdução
Notas importantes:
O livro trata da população Kachin e Chan do nordeste da Birmânia;
Pretende também fornecer uma contribuição à teoria antropológica;
Não foi projetado como uma descrição etnográfica, a maioria dos fatos a que se refere o autor foram publicados anteriormente;
Deve-se procurar originalidade não nos fatos tratados, mas na interpretação desses mesmos fatos.
Estudo da população que habita a região assinala com o nome de KACHIN. População que fala diferentes línguas e dialetos, e existem grandes diferenças de cultura entre uma e outra parte da região em questão. No entanto, é comum denominar-se a totalidade dessa população com os termos Chan e Kachin. No livro em questão o autor chama toda a região de Região das colinas de Kachin.
De forma generalizada, os chans podem ser descritos como ocupando os vales ribeirinhos onde cultivam arroz em campos irrigados, são um povo relativamente sofisticado com uma cultura semelhante a dos birmaneses. Os Kachins, por outro lado ocupam as colinas onde cultivam arroz usando sobretudo as técnicas de cultura itinerante através de derrubadas e queimadas.
PROBLEMA
O interesse de Leach é em saber até que ponto é possível afirmar que um único tipo de estrutura social prevalece ao longo da região kachin. É legítimo pensar que a sociedade kachin é organizada em toda parte segundo um conjunto particular de princípios, ou será que essa categoria bastante vaga de kachin inclui muitas formas diferentes de organizações sociais?
Antes de investigar tal questão é importante salientar o que o autor entende por continuidade e mudança com relação aos sistemas sociais.
Sob que circunstâncias é possível dizer de duas sociedades vizinhas A e B que "essas duas sociedades tem estruturas sociais fundamentalmente distintas", enquanto entre duas sociedades C e D podemos afirmar que "nessas duas sociedades a estrutura social é essencialmente a mesma"?
Sua tese é:
Os antropólogos sociais que na linha de RADCLIFFE-BROWN USAM O CONCEITO DE ESTRUTURA SOCIAL COMO UMA CATEGORIA POR MEIO DA QUAL É POSSÍVEL SE COMPARAR UMA SOCIEDADE COM OUTRA PRESSUPÕEM NA VERDADE QUE AS SOCIEDADES DE QUE TRATAM EXISTEM O TEMPO TODO EM UM EQUILÍBRIO ESTÁVEL.
 A questão de Leach é: seria possível descrever por meio de categorias sociológicas comuns, sociedades que presumivelmente não estão em equilíbrio estável?
A conclusão de Leach é de que: enquanto os modelos conceituais de sociedade sejam modelos de sistemas de equilíbrio, OCORRE AS SOCIEDADES REAIS NÃO PODEM JAMAIS ESTAR EM EQUILÍBRIO. A diferença liga-se ao fato de que quando estruturas sociais se expressam sob a forma cultural, a representação é imprecisa em comparação com as categorias exatas que o sociólogo, gostaria de empregar. O autor acredita que tais inconsistências na lógica ritual são sempre necessárias para o bom funcionamento de qualquer sistema social.
Leach sustenta que esta estrutura social em situações práticas (em contraste com o modelo abstrato do sociólogo) consiste num conjunto de ideias sobre a distribuição de poder entre pessoas e grupos de pessoas. Os indivíduos podem nutrir e nutrem ideias contraditórias e incongruentes sobre esse sistema. São capazes de fazê-lo sem embaraço por causa da forma em que suas ideias são expressas. A forma é a forma cultural, a expressão é a expressão ritual.
ESTRUTURA SOCIAL
NO NÍVEL DE ABSTRAÇÃO A ESTRUTURA SOCIAL PODE SER DISCUTIDA EM TERMOS DOS PRINCÍPIOS DE ORGANIZAÇÃO QUE UNEM AS PARTES COMPONENTES DO SISTEMA, NESSE NÍVEL A ESTRUTURA PODE SER CONSIDERADA DE MANEIRA TOTALMENTE INDEPENDENTE DO CONTEÚDO CULTURAL. 
AS ESTRUTIURAS QUE O ANTROPÓLOGO DESCREVE SÃO MODELOS QUE EXISTEM APENAS EM SUA PRÓPRIA MENTE NA FORMA DE CONSTRUÇÕES LÓGICAS. MUITO MAIS DIFÍCIL É RELACIONAR TAL ABSTRAÇÃO COM OS DADOS DO TRABALHO EMPÍRICO DE CAMPO. COMO É POSSÍVEL TER CERTEZA QUE UM MODELO FORMAL PARTICULAR SE AJUSTA AOS FATOS MELHOR QUE QUALQUER OUTRO MODELO POSSÍVEL?
As sociedades reais existem no tempo e no espaço. A situação demográfica, ecológica, econômica e política externa não se estruturam num ambiente fixo, mas num ambiente em constante mudança. As mudanças que resultam desse processo podem ser discutidas sob dois ângulos:
Existem as que são coerentes com uma continuidade da ordem formal existente, onde não há mudança na estrutura formal. Por exemplo, quando um chefe morre e é substituído por seu filho, ou quando uma linhagem se segmenta e temos duas linhagens onde anteriormente havia apenas uma.
Existem mudanças que de fato refletem modificações na estrutura formal. Se por exemplo, for possível demonstrar que numa localidade particular, durante certo lapso de tempo, um sistema político composto de segmentos de linhagem igualitários é substituído por uma hierarquia feudal, podemos falar de uma mudança na estrutura social formal.
Quando Leach se refere a mudanças na estrutura social sempre estará fazendo menção as mudanças desse segundo tipo.
[Para Leach estrutura social não é sinônimo de cultura, mas é algo mais profundo. Existem estruturas que estão presentes em várias culturas e a cultura seria como a roupagem que a estrutura assume. Nesse sentido, a estrutura é sempre a mesma o que muda é apenas a roupagem que ela adquire (cultura é menor diante da estrutura que é maior). 
UNIDADES SOCIAIS
No contexto da região das colinas de Kachin, o conceito de "uma sociedade" apresenta muitas dificuldades. Daí a razão de Leach interpretar "uma sociedade" como se significasse "alguma localidade conveniente", ou ainda nos argumentos de Nadel "entender a sociedade como qualquer unidade política autônoma".
As unidades políticas na região das colinas de Kachin variam grandemente de tamanho e parecem ser intrinsicamente instáveis. Fragmentados e apresentando uma variedade de sistemas políticos que diferem uns dos outros não só em escala, mas também nos princípios formais perante os quais são organizados, onde reside o ponto fundamental do problema.
A organização política da região Kachin nos últimos 130 anos foi muito instável. Pequenas unidades políticas autônomas tenderam frequentemente a agregar-se em sistemas maiores, hierarquias feudais em larga escala fragmentaram-se em unidades menores. Houveram mudanças violentas e muito rápidas na distribuição global do poder político. A essência da tese do autor é de que o processo pelo qual as pequenas unidades se desenvolvem em unidades maiores e as grandes unidades em unidades menores não é uma simples parte do processo de continuidade estrutural, não é apenas um processo de segmentação e agregação, mas é um processo que envolve uma mudança estrutural de modo que é o mecanismo desse processo que realmente interessa.
De acordo com Leach existem grandes dificuldades seja para o estudo quanto para a descrição da mudança social em contextos antropológicos comuns. Uma vez que os estudos de campo são de curta duração, e os registros históricos raramente contém dados do tipo correto em pormenores adequados. Os antropólogos sociais tenderam a ter uma predisposição quanto ao favorecimento de interpretações do "equilíbrio" que decorreu da natureza dos materiais do antropólogo e das condições sob as quais ele executa o seu trabalho. O antropólogo social normalmente estuda a população de um local particular num determinado ponto do tempo não estando muito preocupado com a probabilidade de ser ou não a localidade estudada de novo por outros antropólogos numa data posterior. De modo que seu estudo dissocia as sociedades do tempo e do espaço e a interpretação que é dada do material é necessariamente uma análise do equilíbrio, para que a análise não pareça ao leitor incompleta. Como a maioria do trabalho foi realizado sem uma noção de repetição a apresentação do equilíbrio é estável, como se as sociedades estudadas fossem o que são agora e para todo o sempre. Não se leva em conta as mudanças.
[Leach procura realizar uma etnografia que leve em consideração a mudança, o que o faz de certo modo rompercom a análise que os antropólogos sociais ingleses realizavam até então. Sendo um antropólogo empirista como todo inglês, no entanto, procura aquilo que não foi investigado no caso a mudança, a incongruência. Com uma antropologia de cunho político vai no sentido contrário dos anteriores, que usando conceitualmente o termo estrutura social pressupunham sempre que as sociedades de que tratavam estavam sempre em equilíbrio. Segundo Leach estes antropólogos sociais tenderam a muito tempo extrair seus conceitos de Durkheim do que de Weber. Consequentemente mantiveram-se predispostos em favor de sociedades que apresentam sintomas de "integração funcional", "uniformidade cultural" e "equilíbrio estrutural", as quais eram vistas como ricas e idealmente afortunadas, de modo que as sociedades que exibem sintomas de faccionarismo e conflito interno que conduzem a rápida mudança são vistas como sociedades anômicas. Tendência que favoreceu as interpretações do "equilíbrio" decorrentes da natureza dos materiais e das condições sob as quais os antropólogos realizam o seu trabalho. Nesse sentido, a crítica de Leach se direciona aos trabalhos etnográficos não datados dissociadas do tempo e do espaço destes antropólogos cujo problema é que oferecem uma impressão que os nativos não têm história, não passam por mudanças, o que implica que uma nova leitura realizada posteriormente do trabalho deixa transparecer que as sociedades estudadas são estáticas].
SISTEMAS DE MODELO
A tentativa do antropólogo em descrever um sistema social implica que o mesmo descreve apenas um modelo da realidade social, modelo que representa a hipótese do antropólogo sobre "o modo como um sistema social opera". As diferentes partes do sistema de modelo formam portanto, necessariamente um todo coerente, e ao contrário a situação real é na maioria dos casos cheia de incongruências, e são estas que nos podem propiciar uma compreensão dos processos de mudança social.
As situações encontradas na região das colinas de Kachin demonstram que qualquer indivíduo particular detém uma condição social em sistemas diferentes ao mesmo tempo. Para o próprio indivíduo tais sistemas se apresentam como alternativas ou inconformidades no esquema de valores pelo qual ele ordena sua vida. O processo global de mudança estrutural realiza-se por meio da manipulação dessas alternativas como forma de progresso social. 
Em matéria política os kachins tem diante de si dois modelos ideais de vida totalmente contraditórios:
sistema chan de governo: que se assemelha a uma hierarquia feudal;
gumlao: sistema essencialmente anarquista e igualitário.
Os indivíduos kachins se veem frequentemente diante de uma escolha quanto ao que é moralmente correto, da mesma forma que ao conjunto de comunidades kachin se oferece uma escolha quanto ao tipo de sistema político que será o seu ideal.
CHAN (Estado) GUMLAO
 GUMSA
A tese de Leach é de que em termos de organização política as comunidades kachins oscilam entre dois tipos polares- "democracia" gumlao, de um lado. E autocracia chan, de outro. A maioria das autênticas comunidades kashins não são nem do tipo gumlao nem do tipo chan, mas estão organizadas segundo um sistema descrito como gumsa, que é um tipo de compromisso entre o ideal gumlao e chan. 
As unidades gumsa não são estáticas. Algumas sob a influência de circunstâncias econômicas favoráveis, tendem cada vez mais para o modelo chan, outras comunidades gumsa se movem em sentido oposto até se tornarem gumlao. De modo que o sistema gumsa apenas enquanto esquema de modelo pode ser representado como um sistema de equilíbrio. No campo da realidade social, as estruturas políticas gumsa são essencialmente instáveis.
Outra forma de estudar os fenômenos de mudança estrutural, consiste no interesse nas mudanças sobrevindas no foco do poder político dentro de um dado sistema.
A descrição estrutural de um sistema social fornece um modelo idealizado que declara as relações de status "corretas" existentes entre grupos dentro do sistema total e entre as pessoas sociais que compõem grupos particulares. De modo que a posição de qualquer pessoa em tal sistema de modelo é necessariamente fixa enquanto se pode pensar que os indivíduos preenchem diferentes posições no desempenho de diferentes tipos de ocupação e em diferentes estágios de sua carreira. No referir-se a mudança estrutural, temos de considerar nas apenas as mudanças na posição dos indivíduos com respeito a um sistema ideal de relacionamento ou de status, mas também nas próprias mudanças do sistema ideal, isto é, nas mudanças na estrutura de poder. Poder que deve ser pensado em qualquer sistema como um atributo de "detentores de cargo", ou seja, de pessoas sociais que ocupam posições as quais o poder está ligado. Os indivíduos exercem poder apenas na sua capacidade de pessoas sociais. Leach supõe que os indivíduos que se defrontam com uma escolha de ação irão geralmente usar tal escolha para adquirir poder, procurarão ter acesso ao cargo ou ao apreço de seus companheiros que pode levá-los ao cargo.
RITUAIS
O conceito pelo autor é usado no sentido em que "serve para expressar o status do indivíduo enquanto pessoa social no sistema estrutural em que ele se encontra temporariamente". Leach usa a palavra ritual no sentido diferente daquele usado pelos antropólogos sociais ingleses que a usa para descrever as ações sociais que ocorrem em situações sagradas. 
As ações técnicas sempre guardam algumas convenções formais e entremeadas com todos os tipos de adornos e ornatos tecnicamente supérfluos. Todo tipo de ação técnica, existe sempre um elemento que funcionalmente é essencial, e outro que é apenas um costume local, estético (este é que diferencia o mesmo ato entre os diferentes grupos). Num esquema como o de Malinowski tais adornos são vistos como menores. Contudo, para Leach, são precisamente tais adornos estéticos que fornecem ao antropólogo social seus dados básicos. 
Para o autor, estética e ética são idênticas, o entendimento das normas éticas de uma sociedade passa pelo entendimento ou ainda pelo estudo de sua estética. Para os indivíduos que vivem numa sociedade os pormenores do costume nunca são irrelevantes, são partes de um sistema total de comunicação interpessoal dentro do grupo. São ações simbólicas, representações, de modo que é tarefa do antropólogo tentar descobrir e traduzir para seu próprio jargão técnico aquilo que está simbolizado ou representado.
No que o diferencia da técnica, que tem consequências materiais e predizíveis, o ritual é uma declaração simbólica que revela algo sobre os indivíduos envolvidos em determinada ação, por exemplo, certos pontos de vista apenas veem um sacrifício religioso kachin como um ato puramente técnico e econômico, no entanto, do ponto de vista de um observador existem ações neste sacrifício que não interessa a simples matadouro, cozimento e distribuição de carne. São estes outros aspectos que tem significado como símbolos de um status social e são estes os classificados como um ritual.
O rito é nesse sentido tão importante quanto o mito. O primeiro narra a estrutura usando uma simbologia, o segundo narra a estrutura usando palavras (ambos são sinônimos). Esta posição o diferencia daquela dos antropólogos sociais ingleses que identificavam rito e mito como entidades conceitualmente distintas. Os mitos para Leach são apenas um modo de descrever os mesmos tipos de comportamento humano, de modo que o jargão dos antropólogos e os modelos estruturais usados pelos mesmos são apenas uma outra forma de descrever este comportamento humano.
Por abstrata que seja a representação a preocupação é sempre com o mundo material do comportamento humano observável, nunca com a metafísica ou com o sistema de ideias. 
Onde quer que um ritual seja encontra em seu sentido definido acima, o mesmo pode ser interpretado por um antropólogo. 
INTERPRETAÇÃO
Segundo o autor, a ação ritual e crença devem ser entendidas como formas de afirmaçãosimbólica sobre a ordem social, de modo que a principal tarefa da antropologia social é tentar interpretar. 
Leach realiza em suma dois questionamentos:
1-	A análise sociológica exige que a sociedade esteja sempre em equilíbrio?
Sua resposta é negativa, no sentido de crítica aos funcionalistas que somente estudam sociedades estáveis.
2-	A consideração da estrutura como modelo abstrato não geraria um conflito de conciliação entre modelo analítico e realidade observada? Como saber se um modelo é melhor que o outro?
Não oferece resposta, o autor que está a meio caminho, não sendo nem um empirista inglês, nem um estruturalista francês quer conciliar abstração e realidade empírica.
Capítulo 4: Hpalang uma comunidade gumsa instável. (importante frisar que Leach análise a comunidade Hplang de 1940).
Kachin: comunidade de aproximadamente 500 pessoas, compreendendo 9 aldeias e 6 grupos linguísticos ou dialetais. (As diferenças culturais das quais os dialetos são um sintoma são significativas para a compreensão da estrutura social global, contudo, não aparecem nas atividades cotidianas). 
Hpalang situa-se na fronteira entre a Birmânia e a China. Incluía em 1940 subgrupos de várias línguas entre jighpaw, gauri, maru, lisu e chinesa. Essa comunidade de 500 pessoas, considerada em conjunção com as aldeias chans fornece um modelo do sistema social total das Colinas Kachin.
DESCRIÇÃO ETNOGRÁFICA E TOPOGRÁFICA.
Os cachinas descreviam Hpalang como um grupo de aldeias (mare), no qual reconheciam nove subdivisões de tamanho e importância desiguais denominadas de aldeia (hahtawang), tendo a menor apenas 1 casa e a maior 31. Todas as famílias de qualquer uma das aldeias falavam a mesma língua mãe.
Cada aldeia tinha um chefe hereditário, cujo sobrenome de linhagem era na maioria dos casos o mesmo de sua aldeia (c.a), no entanto, isso não significa que todos na aldeia fosse da linhagem do chefe. A maioria continha membros de meia dúzia ou mais de linhagens diferentes. Quem quer que vivesse numa aldeia relacionava-se com os demais mais por laços de afinidade que por um sistema clânico comum.
Formalmente era uma comunidade gumsa. Que na teoria significa que a mesma era o domínio de uma linhagem aristocrática específica e que essa linhagem devia fornecer regularmente o chefe territorial, de modo que teoricamente é possível existir apenas um desses chefes em qualquer domínio. O território total do domínio é "propriedade" de uma única linhagem aristocrática; essa linhagem está representada na pessoa do chefe. Sendo os demais chefes de aldeias arrendatários do chefe territorial, investindo-se na posse da terra mais as linhagens do que os indivíduos. 
No entanto, a teoria gumsa não funciona bem. Dos 9 chefes de aldeia, apenas 4 poderiam representar algum tipo plausível de direito a ser considerado aristocrata, mas destes pelo menos 3 reclamavam o título de chefe. Para piorar o governo britânico haviam designado como chefe um quarto homem, que era considerado pela opinião local sem legitimidade para isso. A principal rivalidade era formada entre a aldeia Maran (grupo jinghpaw) e a aldeia Lahpai (grupo atsi). No entanto, o chefe Lahpai era apenas um idiota que funcionava como fantoche da aldeia Sunnut. Este último sabendo que como um plebeu pouca esperança tinha de ascender ou reclamar qualquer liderança, em vez de cooperar com o grupo maran, proclamou sua lealdade ao chefe lahpai e atuou como o seu porta voz. 
De certo modo a rede relações de parentesco transpunha com muita facilidade as barreiras dos grupos linguísticos. O populacho apresentava de modo geral uma frente sólida de forasteiros, como os chans de Lweje ou representantes da administração britânica. Leach nos quatro meses que viveu em Hpalang percebeu que os conflitos entre linhagens não constituíam como todos afirmavam, questões da história passada, mas grave problemas da situação atual. Na feira do vale todos os habitantes de Hpalang era tratados como gente de Hpalang sem distinções entre grupos, do mesmo modo que na planície dos arrozais onde os campos kashins se misturavam com os dos chans, o chefe sunnut e se inimigo, o chefe maram-nmwe trabalhavam em campos vizinhos e inclusive emprestavam um ao outro gado para a aragem. 
Hpalang não era excepcionalmente próspera nem pobre. Seus moradores tendiam a gabar-se de uma idade de ouro antes da chegada dos britânicos.
Acreditava-se que naqueles dias os chefes kachins tinham contraído uma dívida de pólvora para com o príncipe chan de Mong Wan, mas os chans da planície de Lweje tinham sido arrendatários dos kachins e haviam pago o arrendamento com arroz, um arranjo economicamente satisfatório para todas as partes envolvidas.
A partir de 1915, o serviço no Exército e na Polícia militar britânicos se tornou cada vez mais popular, Os efeitos do serviço militar sobre os kachins individuais foram diversos, mas o sistema como um todo constituiu uma importante fonte de renda para todos os distritos das colinas. Por outro lado Hpalang situava-se na fronteira China-Birmânia. Quanto mais eficiente se tornava a administração britânica, mais alto era o preço do contrabando, como o do ópio e o de bebidas alcóolicas, em 1940 o contrabando era uma fonte de renda significativa em Hpalang.
E eram nestas circunstâncias que o chefe oficial que o governo havia reconhecido de modo algum era legitimado no plano local. Em 1940, a administração britânica considerava Hpalang um território maran-nmwe, achava que a linhagem nmwe devia fornecer o chefe. O chefe legítimo da linhagem nmwe apesar de sob alguns aspectos ser uma personalidade bastante incompetente, era muito aceitável para o povo de Hpalang porque se notabilizava como um dos mais eficientes contrabandistas do distrito.
No entanto, os britânicos o reconhecem como um contrabandistas e por ocasião da morte do irmão dochefe se recusaram a reconhecer a sucessão, importando de outra parte das Colinas de Kachin um irmão de linhagem distante (primo de segundo grau) e o nomearam chefe de Hpalang. Os habitantes de Hpalang não reconhecerem a legitimidade deste Zau Li.
O ritmo de ano em Hpalang era determinado pela monção. Arroz plantado em maio no começo das chuvas e colhido de outubro a abril, no começo da estação seca. O período de janeiro a abril era uma estação não-agrícola, dedicada à construção de casas, aos casamentos, aos funerais e nos tempos antigos à guerra. 
Em 1940, um terço da comunidade compunha-se nominalmente de cristãos divididos +- igualmente entre católicos romanos e batistas americanos. Filiação a seitas que serviu de bandeira para a segmentação em facções, mas a atividade missionária não exerceu muita influência sobre a organização estrutural da comunidade, como se esperava. As divisões entre católicos batistas e pagãos eram muitos acentuadas, mas os mesmos grupos de pessoas haviam se envolvido em conflitos fatricidas antes de chegar o cristianismo. 
Tirando a rotina regular de cerimoniais religiosos ligados a tratamentos médicos, casamentos, mortes, etc. A parte pagã da comunidade celebrava duas festas comunais importantes uma na época da semeadura e a outra em fins de agosto. Festas que eram ocasiões em que segundo a prática gumsa ortodoxa, o status formal do chefe devia tornar-se visivelmente manifesto. Patenteando a intensidade da rivalidade entre as facções, ocasiões onde se afirmavam e enfatizavam as pretensões rivais à chefia. 
O SISTEMA MAYU-DAMA
(descrição do sistema formal de relações estruturais na forma em que era descrito comumente pelos próprios kachins de Hpalang, um sistema de vínculos de parentesco persistentes entre pequenos grupos de parentes patrilineares).
Sistema mayu-dama um dos princípios estruturais subjacentes a sociedade kachin, que interfere no funcionamento da comunidade. 
A linha de descendência dos kachins é patrilinear, cada indivíduo homem ou mulher herda do pai, nunca da mãe, um ou mais sobrenomes de linhagem. Sobrenomes que nem sempre são usados, mas todos sabem quais são eles. 
Em qualquer comunidade, os indivíduostem um sobrenome (nome de família) comum são considerados parentes patrilineares próximos, são de uma família (hyinggaw) embora na prática isso não signifique necessariamente que vivam todos numa única casa. Pode-se dizer que o significado do termo htinggaw no sentido que Leach está considerando é "patrilinhagem exógama de pequena extensão". O conjunto mais importante de relações em qualquer comunidade kachin são as que estabelecem as relações mútuas de status entre os vários grupos htinggaw existentes na comunidade. 
A HISTÓRIA DO CONFLITO DE HPALANG
(como os kachins racionalizaram essa estrutura de parentesco derivando-a do passado recente)
Tal modelo formal das relações mayu-dama entre os principais grupos de linhagem sempre foi apresentado na forma de um mito. Mito que não se referia ao passado remoto, mas pretendia uma explicação histórica dos eventos que teriam ocorrido durante os últimos trinta anos do século XIX. 
Leach define o mito não enquanto tabu, mas como algo que apresenta uma relação estrutural imbuída de um significado. É chamado de mito apenas porque a verdade ou inverdade da história, ou de algumas de suas partes é irrelevante. A estória existe e é preservada a fim de justificar as atitudes e ações de hoje. No entanto, até na atualidade as implicações da estória não são categóricas nem definidas. O mito ocupado é bem descrito como "linguagem que se pode manter uma controvérsia social". 
A tese básica de Leach é que as ideias que grupos diferentes dentro da comunidade Hpalang nutriam a respeito da estrutura social como um todo são intrinsicamente incoerentes. Incoerência que deriva em último caso do fato de que a língua na qual os kachins podem fazer afirmações sobre sua própria estrutural social é uma língua não científica. A tese do autor nesse sentido é de que tanto na ação ritual e também no mito o autor está "fazendo afirmações" relativas à mesma ordem abstrata da realidade que aquela em que o antropólogo está interessado quando emprega o jargão técnico para descrever algum aspecto da estrutura social. Com a diferença de que a linguagem do antropólogo é precisa e inambígua enquanto a dos atores é intrinsicamente poética e ambígua, oferecendo interpretações diversas sob um mesmo conteúdo. Isto é, no contexto da ação ritual dois indivíduos ou grupos de indivíduos podem concordar sobre a validade de um conjunto de ações rituais discordando acerca do que se expressa nessas ações.
Na exposição de Leach o papel complementar da hostilidade e da amizade aparece de modo proeminente tendo sido também repetido por outros autores que escreveram sobre materiais africanos. No entanto, a interpretação de Leach difere da dos africanistas em um aspecto relevante. Para Evans-Pritchard e Fortes em particular, hostilidade e amizade, solidariedade social e oposição social equilibram-se para formar um sistema, que considerado como um todo a longo prazo, é um sistema de equilíbrio estrutural. Nos estudos de Leach sob Hpalang em nenhum ponto o autor teve a impressão de que este fazia parte de um sistema que tendesse ao equilíbrio, havia essa espécie de equilíbrio, mas era um equilíbrio essencialmente instável, estados de coisas que devem ser esperados em comunidades de tipo gumsa.
Diferentes da comunidades africanas onde o problema das facções se resolve por um processo de cisão de modo que a estrutura social que resulta é apenas uma duplicata da velha, e os segmentos são dipostos de maneira pouco diferente. Na situação dos kachin o problema de facção pode ser resolvido de vários modos diferentes, entre os quais o mais típico leva a emergência de novas estruturas sociais de um tipo fundamentalmente distinto.
Hpalang em 1940 estava provavelmente em processo de mudança de um tipo de organização gumsa para gumlao. Mudança que estava sendo impedida de se complementar apenas pelo ditame do poder arbitrário do poder supremo, cujos representantes faziam objeção ao sistema gumlao por questão de princípio. 
Quais são as entidades que os kachins imaginam perdurar de geração em geração? (continuidade estrutural)
1. ideia de uma localidade territorial à qual as pessoas estão associadas. A Hpalang, que tem uma continuidade independente de quais grupos particulares de parentesco ali residam ou estejam no controle político.
2. Ideia de uma aldeia. Os habitantes dela não são todos da mesma linhagem, mas a aldeia foi fundada por membros de uma linhagem particular, e o chefe da aldeia é um membro dessa linhagem.
3. O segmento de linhagem localizado.
A posse de terras dessas diversas comunidades de aldeia estava estreitamente associadas a histórias referentes a um conflito que teria ocorrido em fins do século XIX. Cada um dos chefes tinha sua própria versão dos acontecimentos. O único documento no caso condizia com todas ou com algumas das versões antagônicas. 
Todas poderiam ser verdadeiras ou igualmente falsas. Era como se cada versão fosse a propriedade de um grupo particular e houvesse um reconhecimento tácito de que o grupo rival tinha o direito de possuir outras histórias. As histórias contadas pretendem ser a explicação da guerra entre os atsis de um lado, e os maran- jinghpaws de outro. As quais representam não só uma divisão clara da comunidade em duas metades, mas cada linhagem principal usou essas histórias para firmar sua facção contra as outras.

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