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FISIOPATOLOGIA E TERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA DOCENTE: MAGNUS SÉRGIO DISCENTE: _________________________________________________ RESUMO DO CAPÍTULO 13 (Agentes Anti-inflamatórios Não Esteróides) do Livro de Farmacologia de RANG e DALE. AGENTES ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTERÓIDES 1. Os Agentes Anti-inflamatórios Os AINEs estão entre os mais amplamente utilizados de todos os agentes terapêuticos. Os AINEs são prescritos para queixas músculo-esqueléticas “reumáticas” e são frequentemente tomados sem prescrição para dores menores. Os AINEs incluem uma diversidade de agentes que pertencem a diferentes classes químicas. Essas drogas possuem três tipos principais de efeitos: efeitos anti-inflamatórios: modificação da reação inflamatória; efeito analgésico: redução de certos tipos de dor; efeito antipirético: redução da elevação da temperatura. Em geral todos esses efeitos têm relação com a ação primária das drogas: a inibição do araquidonato cicloxigenase (COX). Essa ação resulta na inibição das prostaglandinas e tromboxanos. Existem dois tipos de COX: A COX-1 e a COX-2. A COX-1 é uma enzima constitutiva expressa na maioria dos tecidos, incluindo as plaquetas sanguíneas, e está envolvida na sinalização entre células e na homeostasia tecidual. A COX-2 é induzida nas células inflamatórias quando estas são ativadas. Neste aspecto a Interleucina-1 e o fator de necrose são importantes. A COX-2 é responsável pelos mediadores prostanóides da inflamação (prostaglandinas e tromboxanos). Os AINES acabam inibindo as duas enzimas, contudo, eles variam quanto ao grau de inibição de cada uma delas. Nesta instância, é importante ressaltar que a ação anti-inflamatória dos AINEs está estritamente relacionada com sua inibição da COX-2, e é provável que, quando utilizamos como agentes anti-inflamatórios, seus efeitos indesejáveis decorram, em grande parte, da inibição da COX-1. Em relação a seletividade enzimática dos AINEs, podemos afirmar que: são relativamente seletivos para a COX-1: Aspirina, Indometacina, Sulindaco, Piroxicam, Tolmetina; são menos seletivos para a COX-1: Ibuprofeno e Paracetamol; são equipotentes para ambas as enzimas: Naproxeno, Flurbiprofeno, Diclofenaco e Nabumetona; mais seletivos para a COX-2: Nimesulida e Celecoxiba e Rofecoxiba. Nem todos os AINEs manifestam, no mesmo grau, os três tipos de ações (efeitos anti- inflamatórios, efeito analgésico e efeito antipirético). Praticamente todos são analgésicos e antipiréticos, porém o grau de atividade anti-inflamatória varia. Alguns AINEs (como a Indometacina e o Piroxicam) são fortemente anti-inflamatórios. A maioria dos AINEs (como Ibuprofeno e Nabumetona) tem ação anti-inflamatória moderada. Contudo, alguns AINEs (como o Paracetamol) tem ação anti-inflamatória mínima. 2. Efeito Antipirético A temperatura corporal normal é regulada por um centro situado no hipotálamo, que assegura um equilíbrio entre a perda e a produção de calor. Ocorre febre quando surge algum distúrbio nesse “termostático” hipotalâmico que provoca elevação do ponto de ajuste da temperatura corporal. Os AINES reajustam o termostato. Quando ocorre o retorno ao ponto de ajuste normal, os mecanismos de termorregulação passam a atuar para reduzir a temperatura. Esses mecanismos compreendem a dilatação dos vasos sanguíneos da superfície e sudorese. A temperatura normal não é afetada pelos AINEs. Acredita-se que o mecanismo da ação antipirética dos AINEs seja devido, em grande parte, a inibição da produção de prostaglandinas no hipotálamo. Durante uma reação inflamatória as endotoxinas bacterianas causam a liberação de um pirógeno: a Interleucina-1. A liberação dessa citocina é mediada pelos macrófagos. A Interleucina-1 estimula, no hipotálamo, a produção de prostaglandinas do tipo E, que produzem a elevação do ponto de ajuste da temperatura. Portanto, conclui-se que a febre ocorre pelo desequilíbrio do balanço entre perda e produção de calor. 3. Efeito Analgésico Os AINEs mostram-se particularmente eficazes contra dor associada à inflamação ou à lesão tecidual, visto que diminuem a produção das prostaglandinas que sensibilizam os nociceptores a mediadores inflamatórios, como bradicinina. Esses AINEs são eficazes na artrite, na bursite, na dor de origem muscular e vascular, na dor de dentes, na dismenorréia, na dor de estados pós-parto e dor de metástases de câncer para o osso – condições que estão associadas a síntese de prostaglandinas. Não obstante, em combinação com opióides, os AINEs diminuem a dor pós-operatória e, em alguns casos, podem reduzir em até um terço a necessidade de opióides. Sua capacidade de aliviar a cefaleia pode estar relacionada com a abolição do efeito vasodilatador das prostaglandinas sobre a vasculatura cerebral. Dados clínicos indicam que certos AINES, como o Indometacina, Diflunisal e Naproxeno, são eficazes no controle de algum tipo de dor intensa não relacionada com a inflamação. 4. Efeitos Anti-inflamatórios Existem muitos mediadores químicos das respostas inflamatórias e alérgicas. Cada aspecto da resposta como vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular, acúmulo de células e etc., pode ser produzido por vários mecanismos diferentes. Além disso, diferentes mediadores podem assumir importância particular em diferentes condições inflamatórias e alérgicas. Alguns mediadores possuem interações complexas com outros, assim, por exemplo, o óxido nítrico em pequenas quantidades estimula a atividade de COX, enquanto grandes quantidades a inibem. As drogas como os AINEs reduzem principalmente os componentes da resposta inflamatória e imune. Inibindo os produtos da ação da COX-2 que têm como função: vasodilatação; edema, provocado por uma ação indireta, a vasodilatação facilita e potencializa a ação de mediadores como a histamina, que aumentam a permeabilidade das vênulas pós-capilares; dor. Os inibidores da COX, por si só, não exercem nenhum efeito sobre os processos que contribuem para a lesão tecidual em condições inflamatórias crônicas, como artrite reumatoide, vasculite e nefrite. Esses processos citados referem-se a liberação de enzimas lisossomais, produção de radicais de O2 tóxicos. É necessário levar em consideração que apesar dessa realidade, a prostaglandinas (PGE2 e PGI2) diminuem a liberação de enzimas lisossomais, reduzem a formação de produtos tóxicos de O2 e inibem a ativação dos linfócitos, os AINEs podem efetivamente exacerbar a lesão tecidual a longo prazo. A principal ação dos AINEs consiste em inibir a araquidonato cicloxigenase. A COX é uma enzima bifuncional, exibindo duas atividades distintas. A principal ação da cicloxigenase é uma ação de peroxidase, que produz PGG2. Posteriormente converte PGG2 em PGH2. A Aspirina provoca inativação irreversível da enzima (COX) através da acetilação de um radical de serina situado no ápice desse canal, excluindo, assim, o araquidonato. Outros AINEs, como o flurbiprofeno, ligam-se a outros sítios no canal, produzindo o mesmo efeito. Entretanto, a Aspirina é o único AINE que provoca modificação covalente da enzima. O paracetamol possui atividade analgésica e antipirética, contudo, com efeitos anti-inflamatórios mínimos. É possível que sua ação antipirética se deva a um efeito seletivo sobre uma isoenzima específica da COX (cicloxigenase) no Sistema Nervoso Central. Outras ações, além da inibição da COX, podem contribuir para os efeitos anti-inflamatórios de alguns AINEs. Os radicais deoxigênio reativos produzidos por neutrófilos e macrófagos estão implicados na lesão tecidual em algumas condições, e os AINEs que exercem efeitos particularmentes acentuados na remoção de radicais de O2, bem como atividade inibitória da cicloxigenase (como o sulindaco), podem diminuir os danos teciduais. A redução das prostaglandinas vasodilatadoras, PGE2 e PGI2, está associada a menor vasodilatação e, indiretamente, menos edema. 5. Distúrbios Gastrointestinais Os efeitos indesejáveis mais comuns do AINEs consistem em eventos gastrintestinais adversos, cujo risco relativo é, em média, três vezes maior do que o observado na população de não usuários de AINEs. Esses efeitos colaterais incluem dispepsia, diarreia, em certas ocasiões constipações, náusea e vômitos. A lesão gástrica induzida por AINE é devida, principalmente, a inibição da COX-1 que é responsável pela síntese das prostaglandinas que normalmente inibem a secreção ácida e seu fluxo sanguíneo. A administração oral de análogos das prostaglandinas, como o Misoprostol pode diminuir a lesão gástrica induzida por AINE. Segundo o professor Magnus Sérgio, as prostaglandinas diminuem a síntese do ácido clorídrico no estômago e aumentam a síntese de muco (solução que possui a proteína mucina, responsável pela proteção das células parietais contra o HCl). Dessa forma, o uso de alguns anti- inflamatórios pode causar uma reação inversa, diminuir a síntese do muco e aumentar a produção do ácido clorídrico, podendo causar leões gástricas. 6. Lesões cutâneas As reações cutâneas constituem o segundo efeito indesejável mais comum dos AINEs, particularmente com o uso do Ácido Mefenâmico e do Sulindaco. O tipo de afecção cutânea observado varia de erupções leves, urticária e reações de fotossensibilidade até doenças mais graves e potencialmente fatais. 7. Efeitos renais adversos A base desse efeito consiste na inibição da biossíntese dos prostanóides (PGE2, PGI2) envolvidos na manutenção da dinâmica sanguínea renal, e, mais particularmente, na vasodilatação compensadora mediada por PGE2 que ocorre em resposta à ação da noradrenalina e da angiotensina II. O consumo crônico de AINE pode causar “nefropatia por analgésicos”, caracterizada por nefrite crônica e necrose papilar renal. 8. Outros efeitos indesejáveis Outros efeitos indesejáveis, porém, muito menos comuns, dos AINEs, incluem distúrbios da medula óssea e distúrbios hepáticos, sendo estes últimos mais prováveis se já houver comprometimento renal. A superdose em de paracetamol provoca insuficiência hepática. Os AINEs (em particular, a aspirina) podem precipitar asma em pacientes asmáticos sensíveis aos AINEs. 9. Os salicilatos O ácido salicílico e o ácido acetil salicílico (aspirina) estão entre os primeiros fármacos a ser sintetizados. O salicilato de sódio é um sal do ácido salicílico que tem dois terços da potência da aspirina. A aspirina é relevantemente insolúvel, porem seus sais de sódio e de cálcio são prontamente solúveis. 9.1. Uso da aspirina em condições não inflamatórias Em decorrência de sua ação antiplaquetária, a aspirina em baixas doses mostra-se eficaz em distúrbios cardio vasculares. Estudos epidemiológicos sugerem que o uso regular e continuo da aspirina reduz (praticamente a metade) o risco de câncer de colón e, possivelmente, também de câncer retal; Há evidencias preliminares que a aspirina reduz o risco da doença de Alzheimer; A aspirina vem sendo utilizada no tratamento da diarreia induzida pela radiação. 9.2. Aspectos farmacocinéticos A aspirina é hidrolisada por esterases no plasma e nos tecidos – particularmente no fígado-, produzindo salicilato. Com o uso de baixas doses terapêuticas, a maior parte de salicilato no plasma encontra-se ligada às proteínas. Entretanto, na presença de altas concentrações, uma proporção relativamente menor encontra-se ligada, havendo maior disponibilidade para a sua ação nos tecidos. Devido a saturação parcial das enzimas hepáticas, a meia-vida plasmática da aspirina irá depender da dose administrada. Com o uso de baixas doses, a t¹/² é de cerca de quatro horas, e a eliminação da droga segue a cinética de primeira ordem. Em altas doses (mais de 4g ao dia), a eliminação segue uma cinética de saturação, é o fármaco persistente por mais de 15 horas. (Observe que a duração de ação não está diretamente relacionada com a t¹/² plasmática, em virtude de natureza irreversível da ação do fármaco. 9.3. Efeitos indesejáveis No estômago, a aspirina pode causar gastrite com erosões e sangramento focais, devido à inibição da cicloxigenase da mucosa gástrica, ocorrendo a perda consequente da ação protetora das prostaglandinas na mucosa. O efeito inibitório sobre a ciclooxigenase plaquetária, que é específico da aspirina, com a consequente redução da agregação plaquetária, contribui para o sangramento. 9.4. Efeitos sistêmicos Pode ocorrer salicilismo em decorrência da ingestão repetida de doses muito altas de salicilato. Trata-se de uma síndrome que consiste em tinido (ruído muito alto de zumbido), vertigem (sensação de rotação, semelhante ao estado de bebedeira), redução de audição e, algumas vezes, náusea e vômitos. A aspirina está, de fato, implicando na sua etiologia, porém é melhor evitar o uso desse fármaco em crianças com infecções virais. Os salicilatos também podem provocar, diversas alterações metabólicas, cuja natureza depende da dose. Os salicilatos em doses terapêuticas elevadas alteram o equilíbrio acidobásico e o equilíbrio eletrolítico, de modo que a ingestão de doses toxicas exercem graves efeitos sobre essas funções. A sequência de eventos que ocorrem com o uso de altas doses é a seguinte: os salicilatos desacoplam a fosforilação oxidativa (principalmente no músculo esquelético), resultando em aumento do consumo de O2 e, portanto, na produção aumentada de CO2. Isto estimula a respiração. Os salicilatos também estimulam a respiração através de uma ação direta sobre o centro respiratório. A consequente hiperventilação provoca alcalose respiratória, que normalmente é compensada por mecanismos renais, envolvendo aumento na excreção de bicarbonato. Estas condições de alcalose respiratória compensada podem ocorrer e, pacientes que recebem doses terapêuticas elevadas de salicilatos. O uso de doses maiores pode causar depressão do centro respiratório, resultando, por fim, em retenção de CO2 plasmático. Dessa forma, como esse processo se superpõe a uma redução do bicarbonato plasmático, verifica-se o desenvolvimento de acidose respiratória não compensada, que pode ser complicada por acidose metabólica devida acumulo de metabolitos dos ácidos pirúvico, láctico e acetoacético (uma consequência indireta da interferência do metabolismo dos carboidratos) e à sobrecarga ácida associada ao próprio salicilato. (A acidose respiratória e metabólica, causado pelas salicitatos estimula a excitação, coma e depressão respiratória) É provável que ocorra hiperpirexia, devido ao aumento da taxa metabólica, podendo haver desidratação em consequência de vômitos excessivos. Com doses tóxicas de salicilatos, pode ocorrer também distúrbio da hemostasia, principalmente em consequência de uma ação sobre a agregação plaquetária. O efeito dessas doses sobre o SNC consiste, a princípio, em estimulação com excitação; todavia, verifica-se finalmente a ocorrência de coma e depleção respiratória.O envenenamento por salicilatos, é mais comum, e mais grave, em crianças do que em adultos. O distúrbio ácido-básico observado em crianças consiste, em geral, em acidose metabólica, ao passo que, nos adultos, ocorre alcalose respiratória. O envenenamento por salicilatos exige a correção do distúrbio ácido-básico, terapia para desidratação e a hipertermia e manutenção da função renal. A lavagem gástrica e a diurese alcalina forçada são realizadas para remover o fármaco (sendo este último procedimento realizado apenas se as funções circulatórias e renal são normais). 10. Paracetamol O paracetamol é um dos agentes analgésicos e antipiréticos não narcóticos. Tem apenas atividade antiflamatória fraca. 10.1. Aspectos farmacocinéticos O paracetamol e administrado por via oral e é bem absorvido, e as concentrações plasmáticas máximas são alcançadas em 30-60 minutos. Uma proporção variável liga-se às proteínas plasmáticas, e o fármaco é inativado no fígado, sendo conjugado a glicuronídio ou sulfato. A meia-vida plasmática do paracetamol em doses terapêuticas é de 2-4 horas; no entanto, com doses tóxicas, meia-vida pode estender-se para 4-8 horas. 10.2. Efeitos indesejáveis A ingestão regular de grandes doses no decorrer de um longo período de tempo pode aumentar o risco de lesão renal. O paracetamol em doses tóxicas provoca hepatotoxicidade grave e potencialmente fatal. Além disso, pode ocorrer toxicidade renal. Esses efeitos tóxicos podem ser observados quando as enzimas hepáticas que catalisam as reações de conjugação normais estão saturadas, fazendo com que o fármaco seja bem metabolizado pelas oxidases de função mista. O metabólito tóxico resultante, a N-acetil-p-benzoquinona imina, é inativado por conjugação do glutation, o intermediário tóxico acumula-se e reage com os componentes nucleofílicos na célula. Este processo causa necrose no fígado e, também, nos túbulos renais. O tratamento consiste em lavagem gástrica, seguida de carvão ativado por via oral. Se o paciente for logo atendido após a ingestão de paracetamol, é possível evitar a ocorrência de lesão hepática através da administração de agentes que aumentam a formação de glutation no fígado (acetilcisteína por via intravenosa ou metionina por via oral). ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES
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