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APOSTILA DIREITO PENAL

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​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​TEORIA​ ​GERAL​ ​DA​ ​NORMA ​ ​E​ ​DO​ ​DELITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​Luiz​ ​Eduardo​ ​de​ ​Paula​ ​Ponte 
​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​2º​ ​Semestre/2017 
 
 
 
 
BIBLIOGRAFIA​: 
 
1. Curso​ ​de​ ​Direito​ ​Penal,​ ​Volume​ ​I-Parte​ ​Geral,​ ​Editora​ ​Impetus.​ ​Rogério 
Greco; 
2. Tratado​ ​de​ ​Direito​ ​Penal​ ​1-​ ​Parte​ ​Geral,​ ​Editora​ ​Saraiva.​ ​Cézar​ ​Roberto 
Bittencourt; 
3. Direito​ ​Penal,​ ​Volume​ ​I-Parte​ ​Geral,​ ​Editora​ ​Saraiva.​ ​Damásio​ ​de​ ​Jesus; 
4. Curso​ ​de​ ​Direito​ ​Penal,​ ​Volume​ ​I-Parte​ ​Geral,​ ​Editora​ ​Jus​ ​Podvium.​ ​Paulo 
Queiroz; 
5. Teoria​ ​do​ ​Crime​ ​(Série​ ​Direito​ ​Penal​ ​baseado​ ​em​ ​casos),​ ​Editora​ ​Juruá 
(Coordenador​ ​Paulo​ ​César​ ​Busato); 
6. ​ ​​www.dizerodireito.com.br​; 
7.www.stf.jus.br​; 
8.www.stj.jus.br​. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA​ ​GERAL​ ​DA​ ​NORMA 
PENAL 
Introdução​ ​ao​ ​Direito​ ​Penal 
 
Conceito: setor do ordenamento jurídico que define infrações penais, 
comina penas e prevê medidas de segurança aplicáveis aos autores das 
condutas​ ​incriminadas​ ​(Juarez​ ​Cirino​ ​dos​ ​Santos). 
Uma vez quebradas determinadas regras de conduta, positivadas em uma 
sociedade, exsurge o Direito Penal como forma de sancionar tal 
comportamento, e assim, reprimir o mal. Tais regras de condutas devem se 
ater aos bens jurídicos mais sensíveis à sociedade (tutela penal dos bens 
jurídicos universais), como os crimes contra a vida, a integridade física, o 
patrimônio, a saúde, a dignidade sexual, dentre outros, ou seja, as condutas 
que causam repugnância, pavor e medo à sociedade. No caso da Eutanásia 
- retirar a vida de uma pessoa por relevante valor moral (espécie de 
homicídio privilegiado, no direito pátrio ou comumente conhecido como 
homicídio piedoso) -, sob tal aspecto, não deveria ser criminalizado, uma vez 
que, em regra, não causa a conduta do autor aqueles sentimentos vis, daí se 
argui​ ​acerca​ ​da​ ​efetiva​ ​necessidade​ ​da​ ​sua​ ​incriminação . 1
Obs.: Para parcela forte da doutrina, a exemplo de Cezar Roberto Bitencourt 
(2011), porém ainda minoritária, seguindo literatura Alemã, alguns bens 
jurídicos, hoje tutelados pelo Direito Penal, como crimes contra a 
administração pública, crimes ambientais, tributários, contravenções penais, 
etc., deveriam ser abraçados pelo Direito de Intervenção, ou Direito 
Administrativo-Sancionador, que se trata de uma forma de punição, aplicada 
pelo Poder Judiciário, sem implicar em encarceramento, e por isso com 
1 Para a Exposição de Motivos do Código Penal/1940, com esteio na irrenunciabilidade do direito à vida, não 
se acata o homicídio piedoso (via eutanásia), como o fazem algumas legislações criminais alienígenas. No caso, em 
virtude​ ​da​ ​nobreza​ ​do​ ​ato​ ​do​ ​agente,​ ​será​ ​causa​ ​de​ ​diminuição​ ​da​ ​pena​ ​(sendo​ ​relevante​ ​a​ ​súplica​ ​da​ ​vítima). 
mitigações ao devido processo legal, como ocorre hoje com as apenações 
da​ ​Lei​ ​de​ ​Improbidade​ ​Administrativa​ ​e​ ​Lei​ ​Anticorrupção. 
Recurso​ ​Especial​ ​nº​ ​71.521/MG,​ ​Relatoria​ ​Ministro​ ​Luiz​ ​Vicente​ ​Cernicchiaro: 
“O direito penal reúne o Código Penal e as leis penais especiais. O Código, 
por sua vez, é a matriz dessa área jurídica, denominado, por isso, de direito 
penal fundamental, válido para todo o Direito Penal, a não ser que lei 
especial​ ​disponha​ ​diferentemente”. 
Porquê​ ​o​ ​nome​ ​“Direito​ ​Penal”? 
-​ ​Temos​ ​argumentos​ ​de​ ​Ordem: 
● Prática- o ramo do direito em alusão descreve delitos e comina 
(estipula)​ ​penas; 
● Social- se trata da nomenclatura mais difundida (comum) na sociedade; 
e 
● Jurídica-​ ​è​ ​a​ ​nomenclatura​ ​que​ ​nos​ ​traz​ ​a​ ​própria​ ​CF/88,​ ​no​ ​art.​ ​22,​ ​I. 
Obs​.: No Século XIX vigorava o Código Criminal do Império, de 1830, 
substituído pelo Código Penal/1890, com o advento da República (1889), 
vigendo​ ​tal​ ​vocábulo​ ​até​ ​hoje. 
Medida​ ​de​ ​Segurança​ ​pode​ ​ser​ ​considerada​ ​pena? 
È sim espécie de sanção penal; com o advento do sistema vicariante, ao 
condenado aplica-se pena ou medida de segurança (se inimputável ou 
semi-imputável), neste caso, segundo a jurisprudência hodierna, com termo 
final, não obstante o CP prever, art. 97, § 1º, que ela permanece até a 
constatação que a atinente periculosidade findou. Até a reforma penal da 
parte geral do Código Penal, em 1984, vigorava o sistema do duplo binário, 
em que se aplicava ao condenado inimputável ou semi-imputável pena e 
medida​ ​de​ ​segurança,​ ​esta​ ​após​ ​a​ ​finalização​ ​do​ ​cumprimento​ ​daquela. 
“Medida de segurança é a modalidade de sanção penal com finalidade 
exclusivamente preventiva, e de caráter terapêutico, destinada a tratar 
inimputáveis e semi-imputáveis portadores de periculosidade, com o escopo 
de​ ​evitar​ ​a​ ​prática​ ​de​ ​futuras​ ​infrações​ ​penais. ​”​ ​(Cléber​ ​Masson). 2
Pena​ ​(pressupõe)​ ​=​ ​Culpabilidade; 
2 ​ ​A​ ​ser​ ​estudada​ ​mais​ ​amiúde​ ​na​ ​Teoria​ ​da​ ​Pena. 
Medida​ ​de​ ​Segurança​ ​(pressupõe)​ ​=​ ​Perigosidade. 
Obs.: Nos detiveremos sobre o tema (culpabilidade e periculosidade) com 
mais propriedade sobre a matéria quando formos estudar a imputabilidade, 
como​ ​substrato​ ​da​ ​culpabilidade​ ​(elemento​ ​da​ ​infração​ ​penal). 
Tratamento​ ​legislativo​ ​do​ ​Direito​ ​Penal​ ​no​ ​Brasil: 
-​ ​Art.​ ​22,​ ​I,​ ​e​ ​seu​ ​Parágrafo​ ​único,​ ​Constituição​ ​Federal/1988. 
“Art.​ ​22.​ ​Compete ​ ​privativamente​ ​à​ ​União​ ​legislar​ ​sobre: 
I​ ​-​ ​direito ​ ​civil,​ ​comercial,​ ​penal,​ ​processual,​ ​eleitoral, ​ ​agrário,​ ​marítimo,​ ​aeronáutico, 
espacial ​ ​e ​ ​do ​ ​trabalho; 
……. 
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões 
específicas ​ ​das​ ​matérias ​ ​relacionadas​ ​neste​ ​artigo.” 
 
Somente a União poderá legislar sobre o Direito Penal, à exceção de 
delegação, via Lei Complementar, aos Estados e DF (todos) para tratar de 
tema​ ​específico​ ​desse​ ​ramo​ ​do​ ​direito . 3
- Experiência Brasil X USA: Brasil é fruto do federalismo de segregação 
(centrífugo)​ ​e​ ​os​ ​EUA​ ​do​ ​federalismo​ ​de​ ​agregação​ ​(centrípeto). 
No Federalismo americano, por haver surgido em virtude de um pacto entre 
Estados independentes, abdicando da soberania, em nome de uma 
autonomia - daí o nome Estados Unidos da América - os entes políticos 
estados-membros (​E​= Nação e ​e​= estado-membro) detém maiores 
atribuições materiais e legislativas. O Brasil por haver surgido de um Estado 
Unitário, e daí advindo a Federação, as referidas atribuições se concentram 
(as mais importantes) na União. Ex.: nos EUA, os estados-membros podem 
legislar acerca do Direito Penal, inobstante a existência de Código Penal 
Modelo​ ​na​ ​União;​ ​no​ ​Brasil,​ ​como​ ​dito,​ ​somente​ ​a​ ​União. 
Obs.: Definição legal de crime (Decreto-Lei nº 3.914/1941- Lei de Introdução 
ao​ ​Código​ ​Penal): 
“Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou dedetenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; 
3 Entende-se que, nesse sentido, caso delibere para delegação, deverá se estender a todos os 
estados-membros​ ​e​ ​DF. 
contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples 
ou ​ ​de ​ ​multa,​ ​ou ​ ​ambas.​ ​alternativa​ ​ou​ ​cumulativamente.” 
 
Desse modo, temos a relação gênero (infração penal) e espécies (crime e 
contravenção penal). Em países como a Argentina temos a divisão de 
infração penal em contravenções (condutas leves), delitos (condutas 
medias/graves) e crimes (condutas graves/gravíssimas), podendo o 
magistrado, casuísticamente, abrandar uma capitulação de crime para delito. 
No​ ​Brasil,​ ​em​ ​regra,​ ​delito​ ​é​ ​sinônimo​ ​de​ ​crime. 
Enfim,​ ​qual​ ​a​ ​função​ ​do​ ​Direito​ ​Penal? 
Auxílio à política de controle social formal, sucedida por meio de órgãos 
estatais, fragmentariamente (somente os bens jurídicos mais relevantes), 
juntamente com as demais Ciências Criminais, e observado as 
criminalizações Primária (arcabouço legal existente) e Secundária (Sistema 
de Justiça Criminal- Órgãos Policiais, Ministério Público, Poder Judiciário, 
Órgãos​ ​do​ ​Sistema​ ​Penitenciário,​ ​etc.) . 4
 
"Não há se subestimar a natureza subsidiária, fragmentária do direito penal, 
que só deve ser acionado quando os outros ramos do direito não sejam 
suficientes para a proteção dos bens jurídicos envolvidos." (​HC 96.370, 
Relatoria Ministra Cármen Lúcia, Julgamento em 18/10/2011, Primeira 
Turma)”. 
 
Obs​.: O que seriam as Ciências Criminais? A necessária interação entre a 
Dogmática​ ​Jurídico-Penal,​ ​a​ ​Política​ ​Criminal​ ​e​ ​Criminologia: 
• Criminologia:​ ​estuda​ ​o​ ​delito,​ ​o​ ​delinquente,​ ​a​ ​vítima​ ​e​ ​o​ ​controle​ ​social; 
• Política Criminal: críticas e propostas ao Direito Penal, a fim de efetivar 
o​ ​combate​ ​ao​ ​mal ; 5
• Direito​ ​Penal:​ ​prevê​ ​infrações​ ​penais​ ​e​ ​comina​ ​penas. 
Obs.: A Teoria das Janelas Quebradas e a Tolerância Zero. A Teoria das 
4 Existe ainda a Criminalização Terciária que, segundo Fábio Tettuccia Cardoso “...ou interacionismo simbólico, 
significa que existem agentes estigmatizantes que vão desde o mercado de trabalho até o próprio sistema 
penitenciário​ ​que​ ​rotula​ ​o​ ​indivíduo​ ​em​ ​seu​ ​interno”. 
5 ​ ​Também​ ​conhecida​ ​como​ ​Política​ ​de​ ​Segurança​ ​Pública. 
Janelas Quebradas, ou “Broken Windows Theory”, foi fruto de uma 
experiência realizada nos EUA, especificamente na Califórnia e Nova York, 
na qual verificou-se, em suma, que nos locais onde o Poder Público não se 
apresentar, de maneira contundente, o poder paralelo exsurge, e daí advém 
o incremento da criminalidade (estudo criminológico). A partir daqui surgiu a 
(Política Criminal) da Tolerância Zero, na qual se pune com rigor, através de 
mecanismos legais previstos (Direito Penal), todas as infrações que, 
minimamente,​ ​afetem​ ​uma​ ​sociedade. 
Desse modo, dando suporte as conclusões da exemplificação retro, seguindo 
as preciosas lições de Antônio García-Pablos de Molina (2012) “hoje, em 
suma, pode-se reputar amplamente compartilhada a opnião de que a 
Criminologia tem que subministrar uma valiosa informação científica a 
Política Criminal sobre o delinquente, o delito, a vítima e o controle social; 
informação que esta última deve transformar em opções, formulas e 
programas que, depois, já com o aval da ciência do direito penal, se 
transforma​ ​em​ ​proposições​ ​normativas​ ​obrigatórias”. 
E assim arremata o encimado autor “Criminologia, Política Criminal e Direito 
penal representam três momentos incindíveis da resposta social ao problema 
do crime: o momento explicativo-empírico (Criminologia), o decisional ou 
programacional​ ​(Política​ ​Criminal)​ ​e​ ​o​ ​normativo​ ​(Direito​ ​Penal)”. 
Deduz-se, de forma clara, que os momentos indicados devem andar não 
apenas​ ​ombreados,​ ​mais​ ​sim​ ​interligados,​ ​na​ ​busca​ ​pela​ ​pacificação​ ​social. 
Continuando sobre a finalidade do Direito Penal, este tem por objetivo 
condutas humanas descritas de forma positiva (dever jurídico da abstenção 
de ação) ou em forma negativa (omissões/dever jurídico de realização da 
ação), que tipificam infrações penais. È a regra de Bidding da Proibição 
Indireta na qual não há previsão de “o que não se deve fazer”, e sim a 
descrição de um comportamento que, caso praticado (de maneira omissiva 
ou comissiva), a ele será cominada uma sanção penal. È, como dito, a 
técnica da proibição indireta (a norma cria o ilícito, e o agente realiza, para se 
adequar​ ​a​ ​tal​ ​regra,​ ​o​ ​que​ ​exatamente​ ​ela​ ​descreve). 
Obs​.: Para a corrente moderna da Teoria do Funcionalismo Teleológico, de 
Claus Roxin, o Direito Penal se presta a efetiva proteção dos bens jurídicos 
que interessam à sociedade que, acaso transgredidos, devem provocar nojo, 
repúdio​ ​e​ ​temor​ ​em​ ​todos. 
 
Relações​ ​do​ ​Direito​ ​Penal 
 
Direito​ ​Constitucional: 
Essa interação ocorre, em regra, por meio dos Mandamentos de 
criminalização, a exemplo do art. 5º, XLIII, CF (“a lei considerará crimes 
inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico 
ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como 
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os 
que, podendo evitá-los, se omitirem”), em que a CF estabelece padrões de 
regras de conduta a serem taxadas como infrações penais, e ainda as suas 
balizas (inafiançabilidade, impossibilidade da concessão de anistia, etc., para 
determinados​ ​crimes). 
Direito​ ​Civil: 
Na proteção, dada pelo Direito Penal, as infrações contra a família (em regra, 
de caráter meramente formal), uma vez que as disposições lá atinentes 
estão estipuladas na legislação civil vigente, mais fortemente no Código Civil. 
No exemplo do art. 237, CP (Conhecimento prévio de impedimento), a 
causas de impedimentos mencionadas estão insertas naquela codificação, 
ex​ ​vi​ ​​art.​ ​1.521,​ ​IV. 
“Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe 
cause​ ​a​ ​nulidade​ ​absoluta: 
 ​ ​Pena​ ​-​ ​detenção,​ ​de​ ​três​ ​meses​ ​a​ ​um​ ​ano”. 
“Art.​ ​1.521.​ ​Não​ ​podem​ ​casar: 
…....... 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de 
homicídio​ ​contra​ ​o​ ​seu​ ​consorte”. 
 
Direito​ ​Processual​ ​Penal: 
É aqui que se concretizam as leis penais. Serve o processo penal para 
instrumentalizar as previsões dos tipos penais, conduzindo, ao seu final, em 
regra, a uma condenação ou absolvição. Se trata de uma relação entre meio 
e​ ​fim. 
 
Direito​ ​Administrativo: 
A principal relação com o Direito Penal se dá nos Crimes contra 
administração pública que, além de ter ramificações no Direito Administrativo 
Disciplinar, manifestação de uma das vertentes do direito punitivo, que 
atualmente está com enfoque, repita-se, no Direito Administrativo 
Sancionador, ou Direito de Intervenção (“mix” entre os direitos penal e o 
administrativo), além das complementações,assim como ocorre na lei civil, 
na​ ​lei​ ​penal​ ​(em​ ​normas​ ​penais​ ​em​ ​branco​ ​heterogêneas). 
 
Direito​ ​Tributário: 
Assim como o Direito Administrativo, o Direito Tributáio se relaciona, a priori, 
com a previsão de Crimes Tributários, alguns inseridos no próprio CP, a 
exemplo do art. 168-A, CPComum, e outros em legislação penal específica, 
Lei nº 8.137/90. Não Podemos olvidar, no caso de crimes tributários 
materiais (somente se consumam após um resultado no mundo exterior), a 
necessidade da configuração do lançamento tributário para caracterizá-lo, 
segundo entendimento plasmado no STF, hoje transformado em sumula com 
efeitos​ ​vinculantes. 
“Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas 
dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: ​(Incluído pela Lei nº 
9.983, ​ ​de ​ ​2000) 
 Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. ​(Incluído pela Lei nº 
9.983, ​ ​de ​ ​2000) 
 § 1​o​ Nas mesmas penas incorre quem deixar de: ​(Incluído pela Lei nº 9.983, de 
2000) 
 I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à 
previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a 
segurados, a terceiros ou arrecadada do público; ​(Incluído pela Lei nº 9.983, de 
2000) 
 
 
 
 II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado 
despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de 
serviços; ​(Incluído​ ​pela​ ​Lei​ ​nº​ ​9.983, ​ ​de​ ​2000) 
 III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou 
valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social. ​(Incluído 
pela ​ ​Lei ​ ​nº ​ ​9.983,​ ​de ​ ​2000) 
 § 2​o​ É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, 
confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta 
as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou 
regulamento,​ ​antes​ ​do​ ​início​ ​da​ ​ação​ ​fiscal. ​(Incluído ​ ​pela ​ ​Lei​ ​nº​ ​9.983,​ ​de ​ ​2000) 
 § 3​o​ É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de 
multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: ​(Incluído pela 
Lei ​ ​nº ​ ​9.983,​ ​de​ ​2000) 
 I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a 
denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; 
ou ​(Incluído ​ ​pela​ ​Lei​ ​nº​ ​9.983,​ ​de ​ ​2000) 
 II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou 
inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como 
sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. ​(Incluído pela Lei nº 
9.983, ​ ​de ​ ​2000)​” 
“Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou 
contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: ​(Vide 
Lei ​ ​nº ​ ​9.964,​ ​de​ ​10.4.2000) 
I​ ​-​ ​omitir​ ​informação,​ ​ou​ ​prestar​ ​declaração​ ​falsa​ ​às​ ​autoridades​ ​fazendárias; 
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo 
operação​ ​de​ ​qualquer​ ​natureza,​ ​em​ ​documento​ ​ou​ ​livro​ ​exigido​ ​pela​ ​lei​ ​fiscal; 
III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer 
outro​ ​documento​ ​relativo​ ​à​ ​operação​ ​tributável; 
 
 
 
IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva 
saber​ ​falso​ ​ou​ ​inexato; 
V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento 
equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente 
realizada,​ ​ou​ ​fornecê-la​ ​em​ ​desacordo​ ​com​ ​a​ ​legislação. 
Pena​ ​-​ ​reclusão​ ​de​ ​2​ ​(dois)​ ​a​ ​5​ ​(cinco)​ ​anos,​ ​e​ ​multa. 
Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 
10 (dez) dias, que poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menor 
complexidade da matéria ou da dificuldade quanto ao atendimento da exigência, 
caracteriza​ ​a​ ​infração​ ​prevista​ ​no​ ​inciso​ ​V”. 
“Súmula Vinculante 24, STF- Não se tipifica crime material contra a ordem 
tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento 
definitivo​ ​do​ ​tributo”. 
 
Direito​ ​Internacional: 
A principal relação se alcança com o surgimento do Neopunitivismo, uma das 
vertentes das Velocidades do Direito Penal, que se trata, justamente, da 
possibilidade de processo e punição por crimes, insertos em Tratados 
Internacionais, de autoridades máximas de Estados. O Código Penal, 
inclusive, tem previsão para tanto, “ex vi” art. 5º (“Aplica-se a lei brasileira, 
sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao 
crime cometido no território nacional”). A punição de autoridades, como 
Chefes de Estado, por crimes de guerra, de agressão, contra humanidade e 
genocídio (crimes de lesahumanidade), estão previstos no Estatuto de 
Roma, e serve de base normativa para atuação do Tribunal Penal 
Internacional, que o Brasil já aderiu, inclusive com asseguramento 
constitucional (art. 5º, §4º. “O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal 
Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”). A sua 
configuração encontra-se estampada na 4ª Velocidade do Direito Penal, 
seguindo​ ​a​ ​doutrina​ ​do​ ​Mestre​ ​espanhol​ ​Jesus​ ​Maria​ ​Silva​ ​Sanchez. 
Obs.:​ ​Velocidades​ ​do​ ​Direito​ ​Penal: 
1ª Velocidade: Direito Penal clássico. Não se preocupa com a 
durabilidade do respectivo processo, e sim, com a efetivação dos 
direitos e garantias fundamentais do acusado (devido processo legal, 
contraditório, ampla defesa, não culpabilidade, etc.). Ao seu final, se 
observadas tais garantias, o acusado poderá ser privado da liberdade, 
caso​ ​condenado.​ ​È​ ​o​ ​Direito​ ​Penal​ ​do​ ​Cidadão. 
2ª Velocidade: A busca pela celeridade processual, e efetivação da 
resposta penal, é corolário dessa teoria; os direitos e garantias 
fundamentais do réu são relativizados, em nome de um processo 
menos demorado. No entanto, ao seu findar, em ocorrendo 
condenação, não serão aplicadas penas de encarceramento, e sim, 
penas alternativas (prestação de serviço à comunidade, limitação de 
frequentar​ ​certos​ ​locais,​ ​etc.). 
3ª Velocidade: Se trata de um “mix” das encimadas teorias. Busca-se 
um processo mais célere, com minimização dos direitos e garantias 
fundamentais, no entanto, pode levar, caso haja condenação, à 
privação de liberdade do acusado. Aqui se encontra o Direito Penal do 
Inimigo; em virtude da perigosidade (não culpabilidade) do acusado 
(pelo que é, e não pelo que fez), a “ordem” é eliminá-lo da convivência 
social,​ ​à​ ​custa​ ​de​ ​supressão​ ​de​ ​conquistas​ ​sociais. 
4ª Velocidade: Neopunitivismo. Nova forma de punição globalizada. 
Atos dos Soberanos de Nações, desde que se adequem aos tipos 
(abertos) inseridos no Estatuto de Roma, de 1998, crimes de guerra, de 
agressão, contra humanidade e de genocídio,podem conduzir as 
respectivas​ ​prisões,​ ​inclusive,​ ​prisões​ ​provisórias. 
 
Normas​ ​Penais​ ​em​ ​Branco 
 
São aquelas previsões, estipuladas em lei penal, que necessitam de 
uma complementação, em regra no seu preceito primário, de outras 
espécies​ ​legislativas.​ ​Dividem-se​ ​em: 
I- Homogêneas: a complementação advém de espécie legislativa que 
tem a mesma fonte normativa, no caso, de outra lei (ordinária ou 
complementar), se subdividindo em homovitelíneas (o complemento 
encontra-se na mesma legislação, por exemplo, o conceito de 
funcionário público, para os crimes contra a administração pública, está 
no próprio CP, art. 327); heterovitelíneas (o complemento encontra-se 
em outra lei, utilizando aqui novamente como exemplo o do art. 237, 
CPComum, em que o seja impedimento está emanado na letra do art. 
1521,​ ​Código​ ​Civil); 
II- Heterogênas: a complementação advém de espécie legislativa de 
fonte diversa, como no caso do crime de tráfico de drogas, previsto no 
art. 33, da Lei nº 11.343/2006, em que o rol de substâncias 
entorpecentes deverá estar discriminado em ato administrativo 
originado​ ​do​ ​Ministério​ ​da​ ​Saúde,​ ​“in​ ​casu”,​ ​Portaria​ ​da​ ​ANVISA. 
Por fim, temos ainda a norma penal em branco às avessas, em que o 
complemento se dá no preceito secundário, a exemplo do crime de Uso de 
Documento Falso (art. 304, CPComum), e a Lei de Genocídio, Lei nº 
2.889/1956, em que as penas para os crimes lá elencados são remetidas ao 
Código​ ​Penal,​ ​​ex​ ​vi​ ​​o​ ​art.​ ​1º: 6
“​Art.​​ ​​304​​ ​-​ ​Fazer​ ​uso​ ​de​ ​qualquer​ ​dos​ ​papéis​ ​falsificados​ ​ou​ ​alterados,​ ​a​ ​que​ ​se 
referem​ ​os​ ​arts.​ ​297​ ​a​ ​302: 
 ​ ​Pena​ ​-​ ​a​ ​cominada​ ​à​ ​falsificação​ ​ou​ ​à​ ​alteração”. 
 
“​Art.​ ​1º​​ ​Quem,​ ​com​ ​a​ ​intenção​ ​de​ ​destruir,​ ​no​ ​todo​ ​ou​ ​em​ ​parte,​ ​grupo​ ​nacional, 
étnico,​ ​racial​ ​ou​ ​religioso,​ ​como​ ​tal: 
a)​​ ​matar​ ​membros​ ​do​ ​grupo; 
b)​​ ​causar​ ​lesão​ ​grave​ ​à​ ​integridade​ ​física​ ​ou​ ​mental​ ​de​ ​membros​ ​do​ ​grupo; 
c)​​ ​submeter​ ​intencionalmente​ ​o​ ​grupo​ ​a​ ​condições​ ​de​ ​existência​ ​capazes​ ​de 
ocasionar-lhe​ ​a​ ​destruição​ ​física​ ​total​ ​ou​ ​parcial; 
d)​​ ​adotar​ ​medidas​ ​destinadas​ ​a​ ​impedir​ ​os​ ​nascimentos​ ​no​ ​seio​ ​do​ ​grupo; 
e)​​ ​efetuar​ ​a​ ​transferência​ ​forçada​ ​de​ ​crianças​ ​do​ ​grupo​ ​para​ ​outro​ ​grupo; 
Será​ ​punido: 
Com​ ​as​ ​penas​ ​do​ ​art.​ ​​121​,​ ​​§​ ​2º​,​ ​do​ ​​Código​ ​Penal​,​ ​no​ ​caso​ ​da​ ​letra​ ​a; 
Com​ ​as​ ​penas​ ​do​ ​art.​ ​129,​ ​§​ ​2º,​ ​no​ ​caso​ ​da​ ​letra​ ​b; 
Com​ ​as​ ​penas​ ​do​ ​art.​ ​270,​ ​no​ ​caso​ ​da​ ​letra​ ​c; 
Com​ ​as​ ​penas​ ​do​ ​art.​ ​125,​ ​no​ ​caso​ ​da​ ​letra​ ​d; 
Com​ ​as​ ​penas​ ​do​ ​art.​ ​148,​ ​no​ ​caso​ ​da​ ​letra​ ​e” 
6 O Código Penal Militar também traz, como hipótese de crime contra a pessoa, o Genocídio, conforme art. 
208,​ ​estipulando,​ ​no​ ​entanto,​ ​traz​ ​sanção​ ​penal​ ​determinada​ ​em​ ​sua​ ​cominação​ ​penal. 
 
FONTES​ ​DO​ ​DIREITO​ ​PENAL 
 
Material: o Estado, como encarregado de produzir a norma jurídica, se 
entremostra como a principal fonte material; entenda Estado não só como 
Poder Público, e sim, como sociedade. Assim caracterizam-se como tais 
fontes todo processo social (movimentos grevistas, ferimento a bens 
materiais e imateriais, atos revolucionários, enfim, condutas humanas que 
causem violações a regras de conduta em geral). É a análise do modo de 
produção​ ​das​ ​normas. 
Formal:​​ ​É​ ​o​ ​meio​ ​de​ ​revelação​ ​(exteriorização​ ​da​ ​fonte​ ​material). 
- Imediata: CF, leis, Tratados Internacionais e Jurisprudência vinculante 
(criminalização​ ​primária/arcabouço​ ​legislativo); 
-​ ​Mediata:​ ​doutrina​ ​(?),​ ​princípios​ ​gerais​ ​do​ ​direito​ ​(imediata?)​ ​e​ ​costumes. 
Obs.: Para a boa doutrina, os princípios hoje se revelam como fonte formal 
imediata, uma vez que também são dotados de imperatividade, assim como 
as leis e, inclusive, podem servir de supedâneo para declarar a 
inconstitucionalidade de normas. Já a doutrina, por expressar a “opnio juris” 
de um determinado autor/jurista que, não raras vezes são discordantes, não 
deve ser erigida a condição de fonte do direito penal, e sim, como meio 
auxiliar​ ​de​ ​sua​ ​interpretação. 
C​ostume​ ​pode​ ​ser​ ​fonte​ ​do​ ​direito?​ ​E​ ​mais,​ ​pode​ ​revogar​ ​lei? 
1ª Corrente: Sim, é possível costume abolicionista. Uma vez que a infração 
penal que não mais desafia os interesses da sociedade (não repercute 
negativamente), se encontraria revogada formal e materialmente, 
independentemente​ ​da​ ​atuação​ ​do​ ​Congresso​ ​Nacional. 
2ª Corrente: Não é possível o costume abolicionista, contudo, no caso da 
sociedade acatar positivamente a regra de conduta, a norma não mais seria 
aplicada, havendo uma revogação material (formalmente ela continuaria a 
existir). 
3ª Corrente: Não há, de forma absoluta, costume abolicionista. É acatada no 
direito brasileiro, em que pese haver fortes inclinações doutrinárias e 
jurisprudenciais​ ​para​ ​a​ ​2ª​ ​Corrente,​ ​vide​ ​exemplo​ ​do​ ​art.​ ​234,​ ​CP. 
“ Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de 
comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, 
estampa​ ​ou​ ​qualquer​ ​objeto​ ​obsceno: 
 ​ ​Pena​ ​-​ ​detenção,​ ​de​ ​seis​ ​meses​ ​a​ ​dois​ ​anos,​ ​ou​ ​multa”. 
Ainda admite-se hoje que o costume somente se presta, no Direito Penal, a 
auxiliar na interpretação da lei. Ex.: repouso noturno, na causa de aumento 
do crime de furto (art. 155, §2º, CP). Se for, a priori, em região rural, 
entende-se como o interregno de 20:00 as 04:00; se na região urbana de 
22:00 as 06:00. No entanto, como visto, há alguns tipos penais 
ultrapassados, e em plena vigência, que não mais são obervados pelos 
orgaos​ ​de​ ​criminalização​ ​secundária​ ​(formais​ ​de​ ​controle). 
 
Analogia​ ​&​ ​Interpretação​ ​Extensiva​ ​&​ ​Interpretação​ ​Analógica. 
 
Segundo​ ​Iara​ ​Boldrini: 
A ​analogia é uma forma de auto-integração da lei, ou seja, uma forma de 
aplicação da norma legal; um método de integração do sistema jurídico que 
pressupõe a ausência de lei que discipline especificamente a situação que 
enseja a extensão de uma norma jurídica de um caso previsto a um caso não 
previsto, com fundamento na semelhança entre ambos. Como não há norma 
reguladora para a hipótese, empresta-se uma lei existente aplicada a um 
caso,​ ​para​ ​outro​ ​similar. 
Exemplo: em que pese à ausência de previsão legal, admite-se a analogia do 
instituto do perdão judicial, inserto no § 5º, art. 121, e no §8º, art. 129, CP, 
aos crimes de homicídio e lesão corporal culposos previstos no Còdigo Penal 
Militar (arts. 206 e 210, respectivamente) e Código de Trânsito Brasileiro 
(arts. 302 e 303, respectivamente); há controvérsia forte sobre tal integração 
na ótica da legislação criminal marcial, mormente na jurisprudência do 
Superior Tribunal Militar, haja vista a tutela protegida dos bens jurídicos, 
naquela senda, ser analisada sob o prisma do dever e da atividade militar, e 
estes serem considerados bens acima da própriavida do agente militar. No 
Direito Penal de Trânsito a aplicação está, praticamente, consolidada na 
doutrina e Jurisprudência, vide Recurso Especial 1.455.178/DF, Superior 
Tribunal​ ​de​ ​Justiça,​ ​Relatoria​ ​Ministro​ ​Rogério​ ​Schieetti​ ​Cruz: 
RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO CULPOSO NO TRÂNSITO. ART. 302, 
CAPUT, DA LEI N. 9.503/1997. PERDÃO JUDICIAL. ART. 121, § 5º, DO 
CÓDIGO PENAL. VÍNCULO AFETIVO ENTRE RÉU E VÍTIMA. 
NECESSIDADE.​ ​RECURSO​ ​ESPECIAL​ ​NÃO​ ​PROVIDO. 
1. O texto do § 5º do art. 121 do Código Penal não definiu o caráter das 
consequências, mas não deixa dúvidas quanto à forma grave com que essas 
essas devem atingir o agente, ao ponto de tornar desnecessária a sanção 
penal. 
2. Não há empecilho a que se aplique o perdão judicial nos casos em que o 
agente do homicídio culposo - mais especificamente nas hipóteses de crime 
de trânsito - sofra sequelas físicas gravíssimas e permanentes, como, por 
exemplo, ficar tetraplégico, em estado vegetativo, ou incapacitado para o 
trabalho. 
………. 
"Não pode o julgador, por analogia, estabelecer sanção sem previsão legal, 
ainda que para beneficiar o réu, ao argumento de que o legislador deveria ter 
disciplinado a situação de outra forma." (​HC 94.030​, rel. min. ​Ricardo 
Lewandowski​, julgamento em 20-5-2008, Primeira Turma, ​DJE ​de 
13-6-2008.) 
 
Quanto à ​interpretação ​analógica​, se trata do processo de averiguação do 
real sentido da norma jurídica, valendo-se de elementos fornecidos pela 
própria legislação, através de método de semelhança. Ocorre sempre que o 
legislador apresenta uma forma casuística (fechada) seguida de uma fórmula 
genérica (aberta), estas nominadas de normas de encerramento. Portanto, 
existe lei para o caso concreto. Há um rol de exemplos seguidos da tal 
fórmula genérica, como o art. 121, § 2º, I do CP - mediante paga ou 
promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe - a paga ou promessa 
de recompensa em si, são exemplos de motivo torpe. O CP dele se utiliza 
para formar a fórmula casuística e, após, apresenta uma fórmula genérica 
(“ou por outro motivo torpe”). O legislador fixa um parâmetro para indicar o 
que pode caracterizar um motivo torpe; art. 121, § 2º, III do CP – ou outro 
meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; art. 121, § 
2º, IV do CP – ou outro recurso que dificulte ou torne impossível à defesa do 
ofendido. 
 
Já a ​interpretação ​extensiva​, é o processo de extração do autêntico 
significado da norma, ampliando-se o alcance das palavras legais, a fim de 
se atender a real finalidade do texto. Nesta existe uma norma regulando a 
hipótese, de modo que não se aplica uma norma análoga, não mencionando, 
tal norma, expressamente essa eficácia, devendo o intérprete ampliar seu 
significado além do que estiver expresso. Exemplo: art. 157, § 2º, I do CP – 
se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma. Mas, o que é 
arma? A corrente que prevalece é a que diz que arma é todo instrumento 
com ou sem finalidade bélica, que serve para o ataque, como revólver, faca 
de cozinha e etc. – a expressão “arma” foi ampliada o seu alcance, 
abrangendo até armas impropriamente ditas, como a faca de cozinha. Outro 
exemplo é a possibilidade de inserir, no rol do art. 61, II, “e”, CP (“São 
circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou 
qualificam o crime: II - ter o agente cometido o crime: e) contra ascendente, 
descendente, irmão ou cônjuge”) o (a) companheiro (a). Não obstante se 
tratar de uma circunstância agravante, entende-se que, para fins de atender 
à finalidade da norma, deve-se incluir tal consorte. Ademais, levantando 
hipóteses em que ocorrer benefício ao agente, o rol do §2º, art. 348, CP (§ 2º 
- Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do 
criminoso, fica isento de pena”.), também se deverá entender o (a) 
companheiro​ ​(a). 
Note que, para aplicabilidade da interpretações em cotejo, não se poderá 
fugir da mensagem subjacente a própria norma penal, conforme excerto que 
segue​ ​do​ ​STF: 
"​A interpretação extensiva no direito penal é vedada apenas naquelas 
situações em que se identifica um desvirtuamento na ​mens legis​." (​RHC 
106.481​, rel. min. ​Cármen Lúcia​, julgamento em 8-2-2011, Primeira Turma, 
DJE​ ​​de​ ​3-3-2011.) 
 
Enfim, admite-se as interpretações analógica e extensiva contra e a favor do 
acusado; a analogia, justamente por não ser forma de interpretação da lei 
(penal),​ ​e​ ​sim​ ​integração​ ​desta,​ ​apenas​ ​se​ ​permite​ ​em​ ​favor​ ​do​ ​réu. 
 
 
GARANTISMO​ ​PENAL 
 
Direito Penal = Princípio estrito da Legalidade, com olhares voltados ao 
acusado. 
Principal​ ​Teórico,​ ​Luigi​ ​Ferrajoli. 
Exerce a função de estabelecer o objeto e os limites do direito penal nas 
sociedades democráticas, utilizando-se dos direitos fundamentais, que 
adquirem status de intangibilidade. Não existe processo sem a observância 
do​ ​devido​ ​processo​ ​legal. 
Obs.: Garantimos Monocular Hiperbólico. Muito festejado por entidades e 
órgãos voltados à proteção dos Direitos Humanos, como a Defensoria 
Pública. Aqui, o garantismo seria supervalorizado e observado apenas sob a 
ótica do réu, sem nenhum olhar para a sociedade. Criticado até mesmo por 
Ferrajoli. 
 
Para uma sociedade ser entendida como garantista, deve observar as 10 
dimensões a seguir discriminadas. Para ser garantista não é preciso prever 
todas essas dimensões/aspectos, porém, quanto mais observar, mais se 
aproximará do modelo ideal para um Estado Democrático de Direito. São 6 
de​ ​direito​ ​penal,​ ​e​ ​4​ ​de​ ​direito​ ​processual: 
Aspecto​ ​Penal: 
1- Nulla poena sine crimine- Não há estipulação de pena sem a existência 
(legal)​ ​de​ ​um​ ​crime.​ ​Princípio​ ​da​ ​Retributividade; 
2- Nulla crimen sine lege- ​Não há crime se uma lei (prévia). Princípio da 
Legalidade; 
3- Nulla lex (poenalis) sine necessitae- ​Não há pena sem necessidade. O 
direito Penal deve se ater à tutela dos bens jurídicos mais necessários à 
sociedade.​ ​Princípio​ ​da​ ​Fragmentariedade; 
4- Nulla necessitae sine injuria- ​Não há necessidade sem ofensa. Princípio 
da Lesividade. Para ser infração penal, a conduta deve lesar, ou haver perigo 
de lesão, a um bem jurídico (afasta-se a previsão de crimes de perigo 
abstrato); 
5- Nulla injuria sine acione- ​Não há ofensa sem conduta humana (ação) 
relevante.​ ​Princípio​ ​da​ ​Materialidade; 
6- ​Nulla actio sine culpa- ​Não há ação sem culpabilidade. Toda conduta 
humana, para ferir bens jurídicos criminais, deverá ser dotada de culpa (em 
sentido​ ​amplo).​ ​Princípio​ ​da​ ​Culpabilidade; 
Aspecto​ ​Processual: 
7- Nulla culpa sine juridictio- ​Não há culpa se tal não for comprovada no 
processso​ ​jurisdicional.​ ​Princípio​ ​da​ ​Jurisdicionalidade; 
8- Nulla juridictio sine accusatione- ​Não há jurisdição sem uma acusação. 
Princípio​ ​Acusatório; 
9- Nulla accusatio sine probatione- ​Não há acusaçãosem provas. Toda a 
ação penal deve observar o devido processo legal. Princípio do Ônus da 
Prova; 
10- Nulla probatio sine defensione- ​Não há provas se estas não forem 
submetidas​ ​ao​ ​crivo​ ​das​ ​partes.​ ​Princípio​ ​do​ ​Contraditório. 
 
CURIOSIDADES 
 
O​ ​QUE​ ​SERIA​ ​O​ ​DIREITO​ ​PENAL​ ​SUBTERRÂNEO? 
R.: Segundo Zaffaroni, sistema penal é o conjunto de agências que operam 
as criminalizações primária e secundária, ou que convergem na sua 
produção. Denomina-se criminalização o processo de seleção de um número 
reduzido de pessoas, realizado pelo detentor do Poder (O Estado), as quais 
serão submetidas à punição. Para Zaffaroni “todas as agências executivas 
exercem algum poder punitivo à margem de qualquer legalidade ou com 
marcos legais muito questionáveis, mas sempre fora do poder jurídico”, o 
que acarreta um abuso de poder. Chama-se esse âmbito de atuação ilícita 
de Direito Penal Subterrâneo. Ex.: Desaparecimento de testemunhas, 
torturas,​ ​atuações​ ​de​ ​órgãos​ ​de​ ​inteligência,​ ​etc. 
 
CONFLITO​ ​APARENTE​ ​DE​ ​NORMAS 
Se presta à solucionar possíveis colisões de normas em face de casos 
concretos. Note que se trata de um mesmo fato passível de aplicação de 
dois ou mais tipos penais. Tem por objetivo afastar a possibilidade de dupla 
punição (“bis in idem”) e manter o equilíbrio do sistema normativo penal; 
deve-se​ ​evitar​ ​que​ ​a​ ​único​ ​fato​ ​se​ ​subsuma​ ​mais​ ​de​ ​um​ ​crime. 
Necessário a presença de dois requisitos: i) unidade de fato. Em caso de 
vários fatos, haverá concurso de crimes, e não conflito aparente de normas 
penais; e ii) pluralidade (aparente) de mais de uma norma. Aqui não pode 
haver conflito intertemporal de normas, a exemplo de, no caso do tempo do 
crime, uma norma tratar da conduta de uma maneira e, posteriormente, 
advenha neo legislação manejando o fato de outra maneira, desta feita de 
forma mais favorável ou prejudicial ao agente. ​In casu, ​as normas devem 
referentes​ ​ao​ ​tema​ ​devem​ ​estar​ ​vigentes​ ​no​ ​instante​ ​do​ ​conflito. 
Princípio​ ​da​ ​Especialidade:​​ ​​lex​ ​specialis​ ​derogat​ ​legi​ ​generali; 
Resolve-se o preliminar princípio com base na lei especial que afasta a 
aplicabilidade da lei geral. Aquela tem o mesmo conteúdo desta, adicionada 
de elementos especializantes. ​Lex ​specilalis​, mais esmiuçada, prevalece 
sobre ​lex generali, ​mais ampla. Ex.: O infanticídio tem os mesmos elementos 
do homicídio, acrescentado de “mulher em estado puerperal” (sujeito ativo) e 
“recém nascido” (sujeito passivo); o crime de tráfico de drogas e contrabando 
(importar e exportar produto proibido. Se for substância entorpecente, 
conforme ato administrativo da ANVISA, será tráfico de drogas. Qualquer 
outro​ ​produto​ ​será​ ​contrabando),​ ​etc. 
Princípio​ ​da​ ​Subsidiariedade:​​ ​​lex​ ​primaria​ ​derogat​ ​legis​ ​subsidiariae; 
As normas, que protegem determinados bens jurídicos, tem uma 
hierarquização. Na existência de um conflito, este será resolvido com base 
na acessoriedade; se não calhar determinado tipo penal, aplica-se o 
remanescente (subsidiário). Pode ser expresso, quando a própria norma 
prevê a subsidiariedade, como no caso do crime militar de desrespeito a 
superior (art. 160, CPM), em que somente se aplica tal artigo se não 
verificar-se um crime mais grave, como lesão corporal, desacato a superior, 
etc.; ou pode ser tácito, no caso da invasão à domicílio, quando suceder nos 
crimes patrimomiais em que se necessita de ingresso clandestino em 
domicílios. Assim, caso não se configure o dito crime patriminial (roubo ou 
furto), configurará o crime de invasão à domicílio (art. 150, CP). Segundo o 
célebre autor Nelson Hungria, o princípio em comento é um verdadeiro 
“soldado​ ​reserva”. 
“Art.​ ​160.​ ​Desrespeitar​ ​superior​ ​diante​ ​de​ ​outro​ ​militar: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime 
mais​ ​grave”. 
“ Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra 
a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas 
dependências: 
​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​Pena​ ​-​ ​detenção,​ ​de​ ​um​ ​a​ ​três​ ​meses,​ ​ou​ ​multa”. 
 
Princípio da Consunção (Absorção): ​lex consumens derogat legi 
consumptae. 
Segundo Gianpaolo Poggio Smanio, trata-se de uma relação “entre meio e 
fim”; uma norma principal e mais ampla, consome, abrange outra norma. 
Assim, por exemplo, se a arma está sendo somente utilizada para o 
homicídio, este crime absorve aquele, se houver (porte illegal de arma de 
fogo). Deve ainda, também sob pena de configurar concurso de crimes, a 
potencialidade lesiva do crime meio haver se esgotado, inclusive conforme 
dispõe o próprio Supremo Tribunal Federal, no ​Recurso em Habeas Corpus 
104.246​, Relatoria Ministro ​Luiz Fux​, “O princípio da consunção incide 
quando há o aperfeiçoamento da relação entre 'crime-meio' e 'crime-fim', 
verificando-se o exaurimento da potencialidade lesiva do crime instrumental, 
sem​ ​sobejar​ ​ofensa​ ​a​ ​um​ ​bem​ ​juridicamente​ ​relevante." 
Para fins de esclarecimento do tema, segue julgado pedagógico do Superior 
Tribunal de Justiça, AgRg no REsp 1535884 / RS, de 01/09/2015, Relatoria 
Ministra​ ​Maria​ ​Thereza​ ​de​ ​Assis​ ​Moura: 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ART. 1º, I, DA 
LEI N. 8.137/90. ABSOLVIÇÃO. RESTABELECIMENTO DA 
CONDENAÇÃO QUANTO AO CRIME DO ART. 299 DO CÓDIGO 
PENAL. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE CONFLITO APARENTE 
DE NORMAS. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. AFASTAMENTO. 
REFORMATIO IN PEJUS. NÃO OCORRÊNCIA. AGRAVO 
REGIMENTAL​ ​A​ ​QUE​ ​SE​ ​NEGA​ ​PROVIMENTO. 
1. O princípio da consunção destina-se a solucionar conflito aparente de 
normas, em que, a despeito da pluralidade de atos criminosos, o agente 
responderá apenas pelo crime-fim, restando o crime-meio absorvido por 
aquele,​ ​a​ ​fim​ ​de​ ​evitar​ ​o​ ​indesejável​ ​bis​ ​in​ ​idem. 
2. Restando o agente absolvido quanto ao crime-fim, viável sua condenação 
quanto ao crime-meio diante da inexistência de normas penais 
simultaneamente incidentes sob os fatos delituosos, situação que afasta, por 
si​ ​só,​ ​a​ ​aplicação​ ​do​ ​princípio​ ​da​ ​consunção. 
3. O princípio da ​nen reformatio in pejus impede que, em recurso exclusivo 
da defesa, ocorra uma piora na situação jurídica do réu. Não há que se falar 
em ​reformatio ​in ​pejus quando o julgamento do recurso afasta condenação 
mais gravosa (crime-fim) que implica, automaticamente, no restabelecimento 
de decreto condenatório anterior (crime-meio) por infração menos grave e 
com reprimenda menor, diante da manifesta melhora na esfera jurídica do 
recorrente. 
4.​​ ​Agravo​ ​regimental​ ​a​ ​que​ ​se​ ​nega​ ​provimento. 
Duas​ ​são​ ​as​ ​regras​ ​que​ ​podemos​ ​extrair,​ ​quais​ ​sejam: 
- o fato maior consome ou absorve o de menor graduação (​lex consumens 
derogat​ ​lex​ ​consumptae​); 
O Supremo Tribunal Federal já decidiu que não é possível uma contravenção 
penal absorver um crime, pois a conduta mais grave (crime) deverá absorver 
a menos grave (contravençãopenal), sendo esta, a priori, um crime-meio 
para o crime-fim, vide ​Habeas Corpus ​121652/SC, Relatoria Ministro Dias 
Tóffoli: 
Habeas corpus. Penal. Princípio da consunção. Alegação de que o crime de falso (art. 
304 do CP) constitui meio de execução para a consumação da infração de exercício ilegal 
da profissão (art. 47 do DL nº 3.688/41). Não ocorrência. Impossibilidade de um tipo penal 
previsto no Código Penal ser absolvido por uma infração tipificada na Lei de 
Contravenções ​ ​Penais.​ ​Ordem ​ ​denegada. 
1. O princípio da consunção é aplicável quando um delito de alcance menos abrangente 
praticado pelo agente for meio necessário ou fase preparatória ou executória para a 
prática de um delito de alcance mais abrangente. 2. Com base nesse conceito, em regra 
geral, a consunção acaba por determinar que a conduta mais grave praticada pelo agente 
(crime-fim) absorve a conduta menos grave (crime-meio). 3. Na espécie, a aplicabilidade 
do princípio da consunção na forma pleiteada encontra óbice tanto no fato de o crime de 
uso de documento falso (art. 304 do CP) praticado pelo paciente não ter sido meio 
necessário nem fase para consecução da infração de exercício ilegal da profissão (art. 47 
do DL nº 3.688/41) quanto na impossibilidade de um crime tipificado no Código Penal ser 
absorvido por uma infração tipificada na Lei de Contravenções Penais. 4. Habeas corpus 
denegado. 
Obs.: A Súmula 17, STJ (Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais 
potencialidade lesiva, é por este absorvido). No caso, inobstante o falso 
dispor de pena maior e, por ferir a fé pública ser considerado de maior 
gravidade em cotejo ao delito patrimonial, por questões de política criminal 
adota-se tal entendimento, ou seja, o crime-meio (falso) se trata de fato mais 
grave em relação ao crime-fim (estelionato), relativizando assim a parêmia 
do “crime maior absorve o crime menor”. Note que, caso tal circunstância 
evidenciar crime militar, tal imbróglio não será percebido pois, na realidade 
do direito penal militar, o crime de estelionado tem cominação penal maior do 
que​ ​os​ ​crimes​ ​de​ ​falso. 
Para​ ​caracterizar​ ​tal​ ​princípio,​ ​temos​ ​as​ ​seguintes​ ​hipóteses: 
1 – crime progressivo: se dá quando o agente para alcançar um resultado, 
em regra crime mais grave (exceção dos termos da Súmula 17, STJ), passa, 
necessariamente,​ ​por​ ​um​ ​crime​ ​menos​ ​grave. 
Ex:​ ​lesão​ ​corporal​ ​(​crime​ ​de​ ​passagem​)​ ​para​ ​o​ ​homicídio. 
Crime progressivo não se confunde com progressão criminosa. Progressão 
criminosa é um crime que se dá em dois momentos [dois atos] diferençados: 
primeiro o agente quer cometer crime menos grave, depois de cometê-lo 
delibera a realizar um crime maior. No crime progressivo desde o início o 
agente​ ​deliberou​ ​o​ ​crime​ ​mais​ ​grave. 
"Se um crime é meio necessário ou fase normal de preparação ou de 
execução de outro crime, encontrando-se, portanto, o fato previsto em uma 
lei inserido em outro de maior amplitude, permite-se apenas uma única 
tipificação, por óbvio, a mais ampla e específica (por força do fenômeno da 
consunção) (...)." (​Inq 3.108​, rel. min. ​Dias Toffoli​, julgamento em 
15-12-2011,​ ​Plenário,​ ​​DJE​ ​​de​ ​22-3-2012.) 
 
2 – Fato anterior impunível (​antefactum​): São fatos anteriores que estão na 
linha de desdobramento da ofensa mais grave (relação de crime meio para 
crime​ ​fim). 
No crime progressivo o crime-meio é obrigatório, no antefato impunível o 
crime meio foi escolhido dentre os possíveis para atingir o fim. Ex.: O 
porte/posse de arma no crime de homicídio, se não há desdobramento do 
porte/posse. Note que, para a consecução do delito de homicídio, a arma de 
fogo se trata do instrumento eleito para realizar a sanha criminógena 
(poderia​ ​o​ ​agente​ ​utilizar​ ​uma​ ​faca,​ ​por​ ​exemplo). 
"Caso no qual o acusado foi preso portando ilegalmente arma de fogo, usada 
também em crime de roubo três dias antes. Condutas autônomas, com 
violação de diferentes bens jurídicos em cada uma delas. Inocorrente o 
esgotamento do dano social no crime de roubo, ante a violação posterior da 
incolumidade pública pelo porte ilegal de arma de fogo, não há falar em 
aplicação do princípio da consunção." (​RHC 106.067​, rel. min. ​Rosa Weber​, 
julgamento em 26-6-2012, Primeira Turma, ​DJE ​de 15-8-2012.) ​Vide​: ​RHC 
123.399​, rel. min. ​Dias Toffoli​, julgamento em 30-9-2014, Primeira Turma, 
DJE​ ​​de​ ​17-11-2014. 
 
3 – Fato posterior impunível [posfactum]: retrata o exaurimento do crime 
principal​ ​praticado​ ​pelo​ ​agente,​ ​por​ ​ele​ ​não​ ​podendo​ ​ser​ ​punido. 
Ex: furtar o carro e vender como fosse seu. O estelionato, posterior ao furto, 
fica​ ​por​ ​este​ ​absorvido. 
 
Obs.:​​ ​Princípio​ ​da​ ​Alternatividade??? 
Se dá nas hipóteses de crime plurisubsistente (ação múltipla), ou seja, o 
mesmo tipo penal (artigo) contém vários núcleos (verbos), como sói a ocorrer 
no crime de dano simples (Art. 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa 
alheia); constituindo qualquer dos núcleos, o crime estará consumado, da 
mesma forma que, se caracterizar-se dois ou mais verbos (núcleos) restará 
configurado o mesmo crime (o “quantum” da pena, neste caso, será 
diferenciado – aumentado - do primeiro, quando da sua aferição, na 
dosimetria​ ​da​ ​pena). 
 
História​ ​do​ ​Direito​ ​Penal 
 
A história do direito penal se confunde com a própria história do direito, quiçá 
da humanidade. No princípio a humanidade necessitou estipular regras de 
conduta no intuito de pacificar as convivências comunais. Segue parcela 
exemplar da evolução do direito penal, chamando a atenção que, por não ser 
objeto deste trabalho, alguns pontos poderão ser suprimidos, respeitados, 
em​ ​qualquer​ ​caso,​ ​a​ ​ordem​ ​cronológica​ ​dos​ ​fatos. 
 
Povos​ ​primitivos: 
Divididos​ ​em​ ​três​ ​fases : 7
7 Note que não obrigatoriamente essas fases seguem uma ordem cronológica estanque, podendo ser 
- Vingança Divina: conduta dos povos regulada por temores místicos, 
especificamente em relação ao culto dos antepassados, e aos fenômenos da 
natureza (“Totens”). Muitas vezes eram os sacedotes que repremiam o 
crime. Por exemplo, terremotos e fortes chuvas eram atreladas a ira dos 
deuses e, muitas vezes, sacrifícios humanos eram realizados para aplacar 
esse furor. Temos como exemplificação as ordálias de deus, em que o 
pretenso criminoso era colocado à prova com intempéries, a exemplo do seu 
lançamento ao mar amarrado em pedras, caminhar em brasas, duelos, etc., 
e caso sobrevivesse incólume seria inocentado, pois a própria “divindade” o 
haveria​ ​absolvido. 
- Vingança Privada: Era a fase da Justiça pelas próprias mãos. Logo no seu 
início inexistia uma proporção para as penas. Assim, se alguém de uma tribo 
extinguisse a vida de outro pertencente a outra tribo, seus parentes 
poderiam, por exemplo, exterminar, como vindita, toda a tribo do opressor, o 
qual, não raras vezes deflagravam-se guerras. Com o advento da Leide 
Talião ​(talis= ​tal qual), “Pagará a vida com a vida; mão com a mão, pé por 
pé, olho por olho, queimadura por queimadura (Êxodo, XXI, versículos 23 a 
25), verificou-se a primeira impressão de uma ideia de proporcionalidade. A 
Lei​ ​das​ ​XII​ ​Tábuas​ ​e​ ​o​ ​Código​ ​de​ ​Hamurabi​ ​seguiam​ ​a​ ​lógica​ ​da​ ​lei​ ​de​ ​talião. 
- Vingança Pública: O Estado assume as contendas, em nome da 
coletividade. O soberano respectivo, dessa forma, deu ensejo a muitas 
arbitrariedades sob a invocação de DEUS, com altos índices de aplicação da 
pena​ ​de​ ​morte. 
 
Idade​ ​Antiga 
Nos exemplos aqui nominados, verificou-se diversas passagens, inclusive 
concomitantes,​ ​das​ ​vinganças​ ​divina,​ ​privada​ ​e​ ​pública. 
 
- Direito Penal Grego: Aqui governava-se em nome de Zeus. Apesar da 
crueldade​ ​na​ ​aplicação​ ​das​ ​penas,​ ​averigou-se​ ​algumas​ ​de​ ​caráter​ ​humano. 
- Direito Penal Romano: Surgiu a Lei das XII Tábuas. Ocorreu a divisão 
entre Crimes Públicos (assassinato, traição ou conspiração contra Roma), 
julgados pelo Estado, e Crimes Privados (demais crimes), julgados pelo 
perceptível,​ ​em​ ​determinadas​ ​épocas,​ ​mais​ ​de​ ​um​ ​desses​ ​período. 
particular/ofendido. Aqui sucederam as primeiras manifestações do princípio 
da legalidade e institutos como nexo causal, dolo e culpa, caso fortuito, 
inimputabilidade,​ ​etc. 
 
Idade​ ​Média 
- Direito Penal Germânico: Persisitia a ausência de leis escritas (direito 
consuetudinário). Adotaram, posteriormente, a Lei de Talião. Aqui 
verificou-se, de forma inaugural, o sistema da composição pecuniária, em 
que comutava-se as sanções estipuladas, inclusive a de morte, por penas de 
multa. Previa-se também as Ordálias de Deus (resquícios da vingança 
divina, em que aplicavam-se, como visto, medidas extremas, como colocar o 
acusado em uma jaula com um leão faminto; se sobrevivesse, seria inocente, 
pois​ ​DEUS​ ​o​ ​protegeu,​ ​em​ ​virtude​ ​dessa​ ​condição). 
- Direito Penal Canônico: Atingiu seu apogeu com o enfraquecimento do 
Estado, e a consequente influência da Igreja. Se serviu dos procedimentos 
de Inquisição. Apesar das crudelidades, contribuiu para para o fortalecimento 
da autoridade pública, combalindo a justiça privada. Para a busca de provas, 
também​ ​utilizava-se​ ​o​ ​sistema​ ​das​ ​ordálias​ ​de​ ​Deus. 
Nas palvras do Mestre Rodrigo Moretto (2009), percebe-se que, nessa 
época, havia uma latente confusão entre crime e pecado, ​quia pecatur 
punire, ​em virtude, justamente, papel da Igreja em face do Estado. As penas 
se mostravam desumanas e cruéis, no entanto, somente em face do 
plebeus.​ ​Aos​ ​nobres​ ​sa​ ​sanções,​ ​em​ ​regra,​ ​se​ ​resumiam​ ​à​ ​multa. 
 
Idade​ ​Moderna 
- Pensamento de César Bonesana (Marquês de Beccaria) que, em sua 
obra “Dos Deitos e Das Penas”, antecipa os ideais arraigados na Declaração 
Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (Revolução Francesa, 1789). 
Por ser jornalista, enxerga o direito criminal sob outro viés, mormente 
naquela época. Surge aqui à Escola Clássica que positivou os ideais 
iluministas, plasmados por Beccaria, sendo o homem considerado livre em 
suas​ ​ações​ ​nesta​ ​fase. 
Conforme lições de Rodrigo Moretto (2009) “dentre os pensadores clássicos 
temos Feurbach e Carrara, sendo aquele na Alemanha e este na Itália”. 
Aliás, em relação a Feurbach, em 1813 o referido criminólogo criou o Código 
Penal da Baviera, com destaque para a concepção do até hoje utilizado 
Princípio​ ​da​ ​Legalidade​ ​(​nullum​ ​crime​ ​sine​ ​lege). 
Temos ainda o surgimento da proporcionalidade das penas em relação aos 
delitos, devendo estas ser rápidas e necessárias, conferidas pelo Estado, 
com​ ​base​ ​em​ ​leis​ ​(princípio​ ​da​ ​legalidade). 
Com o advento da Escola Positivista, a criminologia ganha a pauta, com 
espeque nos pensamentos evolucionistas de Charles Darwin. O maior 
destaque do período foi a obra “O Homem Delinquente” do médico e 
antropólogo Césare Lombroso que, após examinar 25 mil detentos, 
catalogou as caracterísitcas do criminoso nato, sendo, para ele, o atavismo, 
inato​ ​ao​ ​delinquente,​ ​a​ ​causa​ ​geradora​ ​da​ ​infração​ ​penal . 8
Aqui também surgiu a medida de segurança como espécie de sanção ao 
criminoso nato (determinismo genético), uma vez que, dotado de 
perigosidade,​ ​e​ ​sendo​ ​um​ ​doente,​ ​necessitaria​ ​de​ ​um​ ​instrumento​ ​curativo. 
 
História​ ​do​ ​Direito​ ​Penal​ ​Brasileiro 
 
Período​ ​Colonial 
-​ ​Ordenações​ ​Afonsinas-​ ​1446​ ​a​ ​1514; 
-​ ​Ordenações​ ​Manuelinas-​ ​1514​ ​a​ ​1603; 
-​ ​Ordenações​ ​Filipinas-​ ​1603​ ​a​ ​1830​ ​(advento​ ​do​ ​Código​ ​Criminal). 
Período​ ​Imperial 
- Código Criminal: “fundado nas sólidas bases da justiça e da equidade”. Foi 
o primeiro código autônomo da América Latina. Aboliu os açoites, torturas, e 
demais penas cruéis, mas manteve as penas de morte, galés, trabalhos 
8 . Segundo Rodrigo Moretto (2009) “O grande erro de Lombroso foi acreditar que analisando somente 
detentos (quase todos das classes mais baixas, com feição de trabalhadores e de homens sofridos e malcuidados), 
estaria​ ​caracterizando​ ​o​ ​delinquente”. 
forçados, banimento (perda de cidadania, associada a proibição de 
permanecer em território nacional. Consiste na condução do condenado ao 
estrangeiro com proibição de retorno), desterro (proibição de permanecer 
nos locais do delito e da principal residência do ofendido, e de não entrar em 
algum deles durante o tempo marcado na sentença) e degredo (obrigação de 
residir no lugar determinado e pelo tempo determinado na sentença). Instituiu 
o​ ​sistema​ ​de​ ​dias-multa. 
 
Período​ ​Republicano: 
- Código Penal de 1890: carecia de rigor técnico. Em 1932, em virtude da 
promulgação de diversas leis extravagantes, Vicente Piragibe realizou a 
Consolidação​ ​da​ ​Leis​ ​Penais. 
- Em 1940 promulgou-se o Código Penal atual, que entrou em vigor em 
1942,​ ​e​ ​teve​ ​a​ ​sua​ ​parte​ ​geral​ ​profundamente​ ​reformada​ ​em​ ​1984. 
Obs.: Em 1969 foi publicado um Código Penal, de autoria do saudoso Nelson 
Hungria, a reboque da publicação do Código Penal Militar que, no entanto, 
jamais entrou em vigor, permanecendo em “vacatio legis” até a sua expressa 
revogação​ ​em​ ​1978. 
 
CURIOSIDADES 
 
O​ ​QUE​ ​SERIA​ ​O​ ​DIREITO​ ​PENAL​ ​DE​ ​EMERGÊNCIA? 
R.: expressão utilizada para expressar as hipóteses nas quais o Estado 
utiliza legislação excepcional para limitar ou derrogar garantias penais e 
processuais em busca do controle da alta criminalidade. Neste sentido foram 
criadas as Leis de Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/1990) e das 
Organizações​ ​Criminosas​ ​(Lei​ ​nº​ ​12.850/2013). 
 
Princípios​ ​Penais 
 
Prolegômenos: Princípios são normas de abstração, dotados de 
indeterminação e vagueza, porém, com com a mesma força coativa das 
normas positivadas, estas permeadas de concretude e determinação. Além 
de servir como fonte interpretativa do direito, “in casu”, direito penal, se 
presta ainda como suplementação do ordenamento jurídico, existindo, 
inclusive, decisões do STF julgandoa inconstitucionalidade de legislações 
com​ ​base​ ​em​ ​princípios,​ ​como​ ​o​ ​da​ ​proporcionalidade. 
1.​ ​Princípio​ ​da​ ​Exclusiva​ ​Proteção​ ​dos​ ​Bens​ ​Jurídicos: 
- Tutela dos Bens Jurídicos mais relevantes para a sociedade; impede a 
utilização do Direito Penal para proteção de bens ilegítimos. O bem jurídico 
decorre dos valores inseridos na Carta Magna, mesmo que não expressos. 
Ex: o Direito Penal jamais pode proteger uma determinada religião, e 
considerar​ ​crime​ ​outros​ ​credos. 
 
2.​ ​Princípio​ ​da​ ​Intervenção​ ​Mínima: 
- Se trata do direito penal mínimo. O Direito Penal deve ser utilizado quando 
estritamente​ ​necessário.​ ​Subdivide-se​ ​em: 
a) Fragmentariedade - os ataques mais afrontosos à sociedade é que 
devem ser punidos (aquilo que perturba o convívio social). Serve de 
fundamento ao princípio da insignificância, ou crimes de bagatela. O 
processo penal não deve ser acionado para a solutivade de casos de menor 
importância, geralmente com ofensas patrimoniais ínfimas; a análise será 
casuística (observado o caso concreto). Daqui advém o Princípio da 
Insgnificância. Não é aplicado aos fatos que envolvam violência e grave 
ameaça a pessoa, fé pública, tráfico de drogas, crimes militares, delitos 
contra a administração pública e, em regra, aos agentes vocacionados 
(contumazes)​ ​ao​ ​cometimento​ ​de​ ​infrações​ ​penais. 
HC​ ​133566 ​ ​/​ ​RS ​ ​-​ ​RIO​ ​GRANDE​ ​DO​ ​SUL 
HABEAS​ ​CORPUS 
Relator(a): ​ ​Min.​ ​CÁRMEN​ ​LÚCIA 
Julgamento: ​ ​05/04/2016 ​ ​Órgão ​ ​Julgador: ​ ​Segunda​ ​Turma 
EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. DESCAMINHO. 
REITERAÇÃO DELITIVA DO PACIENTE A IMPOSSIBILITAR A INCIDÊNCIA DO 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NECESSÁRIA CONTINUIDADE DA AÇÃO PENAL 
NA ORIGEM. ORDEM DENEGADA. 1. Contumácia delitiva do Paciente. A jurisprudência 
deste Supremo Tribunal é firme no sentido de não se cogitar da aplicação do princípio da 
insignificância em casos nos quais o réu incide na reiteração do descaminho, evidenciada 
pela existência de procedimentos administrativos fiscais em seu desfavor, como se tem 
nestes ​ ​autos.​ ​2.​ ​Ordem​ ​denegada. 
Obs.: Não se confunde com o Princípio da Adequação Social, pois este 
significa que, condutas ou resultados socialmente adaptados, tolerados, não 
ingressam no tipo penal; riscos sociais permitidos, a exemplo do art. 234, 
CP. 
“Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, 
de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer 
objeto ​ ​obsceno: 
​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​Pena ​ ​-​ ​detenção,​ ​de​ ​seis ​ ​meses​ ​a ​ ​dois​ ​anos, ​ ​ou​ ​multa. 
​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​Parágrafo​ ​único​ ​-​ ​Incorre​ ​na ​ ​mesma​ ​pena​ ​quem: 
I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos 
neste ​ ​artigo; 
II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou 
exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o 
mesmo ​ ​caráter; 
III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou 
recitação ​ ​de ​ ​caráter​ ​obsceno”. 
b) Subsidiariedade - é a “ultima ratio”. O Direito Penal só tem lugar quando 
falharem os demais ramos do direito, a exemplo da criminalização da 
conduta descrita no art. 135-A, CP, quando anteriormente era considerado 
apenas um ilícito civil (vício social), estado de perigo (art. 156, Código Civil), 
apenado​ ​com​ ​a​ ​anulação​ ​do​ ​atinente​ ​negócio​ ​jurídico. 
3.​ ​Princípio​ ​da​ ​Materialização​ ​do​ ​fato​ ​(“nullum​ ​crimen​ ​sine​ ​actio”): 
- Ninguém pode ser punido pelo que é, e sim por sua conduta. O Direito 
Penal deve ser do fato, e não do autor. Aqui encontramos a argumentação 
para afastar no Brasil a aplicação do Direito Penal do Inimigo, teoria alemã 
com base nas lições de Gunther Jackobs que ganhou especial relevo após 
os ataques do fatídico “11 de setembro” (2001). Pune-se o autor pelo o que 
ele representa à sociedade (perigosidade), e não pelo que ele fez (direito 
penal​ ​do​ ​fato). 
Em face disso, o O STF declarou não recepcionado (revogado) o art. 25 da 
LCP (Ter alguém em seu poder, depois de condenado, por crime de furto ou 
roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecido como 
vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos 
empregados usualmente na prática de crime de furto, desde que não prove 
destinação​ ​legítima:...). 
 
Princípio​ ​da​ ​Legalidade​ ​(“nullum​ ​crimen​ ​sine​ ​lege”): 
- art. 5º, XXXIX, CF e art. 1º, CF. Todos estão submetidos ao ordenamento 
jurídico vigente (“não há crime sem lei anterior que o preveja, e nem pena 
sem prévia cominação legal”). Também conhecido como Princípio da 
Reserva​ ​Legal. 
Subdivide-se​ ​nas​ ​dimensões​ ​a​ ​seguir: 
1​- Lex Scripta- ​Civil Law. A norma penal deve estar positivada, afastando o 
costume​ ​incriminatório; 
2- Lex Poppuli- ​legislação discutida e aprovada pelo parlamento 
democraticamente instituído, vedando-se medida provisória prevendo tipos 
penais,​ ​pelo​ ​menos​ ​aqueles​ ​que​ ​tragam​ ​situação​ ​gravosa; 
3- Lex certa- ​lei penal é indiscutível, ou seja, afasta-se os tipos penais vagos, 
incertos; 
4- Lex Clara- ​lei penal deve ser compreensível ao cidadão comum, 
vedando-se,​ ​por​ ​exemplo,​ ​dispositivos​ ​ininteligíveis; 
5​- Lex Determinata- ​prever fatos passíveis de demonstração em juízo, 
passíveis de serem cometidos; não é possível prever um tipo penal em que 
se​ ​proíbe​ ​a​ ​ida​ ​do​ ​homem​ ​ao​ ​planeta​ ​Vênus; 
6- Lex Stricta- ​lei penal se interpreta restritivamente, ou seja, como visto, não 
é possível analogia ​in malan partem ​e interpretação extensiva, desde que 
desfavoráveis​ ​ao​ ​agente; 
7- Nulla lex sine injuria- ​lei penal deve descrever alguma ofensa a bem 
jurídico,​ ​como​ ​já​ ​visto​ ​no​ ​decálogo​ ​do​ ​garantismo​ ​penal​ ​de​ ​Luigi​ ​Ferrajoli; 
8- Lex Praevia- ​Princípio da Anterioridade; a lei penal deverá ser prévia ao 
fato​ ​delituoso. 
 
Alguns detalhes a mais, como a ultratividade da lei penal, sucessão de leis 
penais e ​abolitio criminis, ​também decorrentes do Princípio da Legalidade, 
serão​ ​estudados​ ​logo​ ​mais. 
 
 
Princípio​ ​da​ ​Ofensividade/Lesividade: 
- O fato cometido deve afetar concretamente o bem jurídico protegido pela 
norma, ou seja, crimes de perigo concreto; afasta-se, assim, crimes de 
perigo abstrato como, por exemplo, porte/posse de munição de arma de 
fogo,​ ​arts.​ ​12,​ ​14​ ​e​ ​16,​ ​Estatuto​ ​do​ ​Desarmamento. 
Princípio​ ​da​ ​Responsabilidade​ ​Pessoal: 
-​ ​Vedação​ ​à​ ​responsabilidade​ ​penal​ ​coletiva. 
Obs.:​ ​Pessoa​ ​Jurídica​ ​responde​ ​por​ ​crime? 
Princípio​ ​da​ ​Responsabilidade​ ​Subjetiva: 
- Inexistência da responsabilidade penal objetiva (“a versari in re ilicita”). Um 
fato só pode ser imputado pessoalmente a alguém se o pratica, ao menos, 
culposamente. 
Princípio​ ​da​ ​Culpabilidade: 
- Só pode ser punido criminalmente o agente que, conforme o direito vigente, 
poderia​ ​agir​ ​de​ ​outra​ ​forma​ ​(substrato​​da​ ​culpabilidade). 
Princípio​ ​da​ ​Igualdade: 
-​ ​Material/Aristotélica. 
Princípio​ ​da​ ​Proibição​ ​da​ ​Pena​ ​Indigna: 
- Deve-se observar os aspectos circunstancias e situacional de cada 
condenado. 
Princípio​ ​da​ ​Humanidade​ ​da​ ​Pena: 
- Respeito à integridade física e mental do condenado; a pena deverá ser 
proporcional ao fato praticado. Tem reminiscências na obra do Marquês De 
Beccaria,​ ​“Dos​ ​Delitos​ ​e​ ​Das​ ​Penas”. 
Cabe​ ​Responsabilidade​ ​penal​ ​à​ ​Pessoa​ ​Jurídica? 
 
1ª Corrente: Não!!! “societas delinquere non potest”. PJ não é dotada de conduta, 
portanto, ​ ​não ​ ​comete​ ​infração​ ​penal. 
2ª Corrente: Em regra não, contudo, em matéria ambiental, havendo relação objetiva 
entre a decisão do (s) dirigente (s) e o injusto penal, excepciona-se tal regra, em face da 
previsão ​ ​do ​ ​§3º,​ ​art.​ ​225,​ ​CF,​ ​e​ ​art.​ ​3º.,​ ​da​ ​Lei​ ​9.605/1.998. ​ ​Teoria​ ​da ​ ​Dupla​ ​Imputação. 
Art. 225, §3º- “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão 
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, 
independentemente ​ ​da​ ​obrigação​ ​de ​ ​reparar​ ​os​ ​danos ​ ​causados”. 
Lei nº 9.605: “Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e 
penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida 
por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no 
interesse ​ ​ou ​ ​benefício ​ ​da​ ​sua ​ ​entidade. 
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas 
físicas, ​ ​autoras,​ ​co-autoras ​ ​ou​ ​partícipes​ ​do​ ​mesmo​ ​fato”. 
3ª Corrente: Sim!!! Segundo o STF e STJ, após acatar durante largo período de tempo a 
Teoria da Dupla Imputação, é possível a PJ perpetrar crimes, em espécie, ambientais, 
independentemente ​ ​da​ ​intervenção​ ​de​ ​Pessoa​ ​Física. 
-​ ​STF,​ ​Recurso​ ​Extraordinário​ ​548181/PR,​ ​Relatoria​ ​Ministra​ ​Rosa​ ​Weber: 
 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL. 
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA. CONDICIONAMENTO DA AÇÃO 
PENAL À IDENTIFICAÇÃO E À PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA PESSOA FÍSICA 
QUE ​ ​NÃO​ ​ENCONTRA​ ​AMPARO​ ​NA​ ​CONSTITUIÇÃO​ ​DA ​ ​REPÚBLICA. 
1 ​. O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da 
pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em 
tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária 
dupla ​ ​imputação. 
2 ​. As organizações corporativas complexas da atualidade se caracterizam pela 
descentralização e distribuição de atribuições e responsabilidades, sendo inerentes, a 
esta ​ ​realidade,​ ​as ​ ​dificuldades ​ ​para​ ​imputar​ ​o​ ​fato ​ ​ilícito​ ​a​ ​uma​ ​pessoa​ ​concreta. 
3 ​. Condicionar a aplicação do art. 225, §3º, da Carta Política a uma concreta imputação 
também a pessoa física implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a 
intenção do constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, 
mas também de evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas 
dificuldades de individualização dos responsáveis internamente às corporações, além de 
reforçar ​ ​a ​ ​tutela​ ​do ​ ​bem​ ​jurídico ​ ​ambiental. 
4. A identificação dos setores e agentes internos da empresa determinantes da produção 
do fato ilícito tem relevância e deve ser buscada no caso concreto como forma de 
esclarecer se esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de 
suas atribuições internas à sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu no 
interesse ou em benefício da entidade coletiva. Tal esclarecimento, relevante para fins de 
imputar determinado delito à pessoa jurídica, não se confunde, todavia, com subordinar a 
responsabilização da pessoa jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa das 
pessoas físicas envolvidas. Em não raras oportunidades, as responsabilidades internas 
pelo fato estarão diluídas ou parcializadas de tal modo que não permitirão a imputação de 
responsabilidade ​ ​penal​ ​individual. 
5. ​​ ​Recurso ​ ​Extraordinário ​ ​parcialmente​ ​conhecido​ ​e,​ ​na​ ​parte​ ​conhecida,​ ​provido. 
 
- STJ, Recurso em Mandado de Segurança 39173/BA, Relatoria Ministro Reynaldo 
Soares: 
PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. 
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR CRIME AMBIENTAL: 
DESNECESSIDADE DE DUPLA IMPUTAÇÃO CONCOMITANTE À PESSOA FÍSICA E À 
PESSOA ​ ​JURÍDICA. 
1 ​. Conforme orientação da 1ª Turma do STF, "O art. 225, § 3º, da Constituição Federal 
não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à 
simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da 
empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação." (RE 548181, 
Relatora Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 6/8/2013, acórdão eletrônico 
DJe-213, ​ ​divulg.​ ​29/10/2014,​ ​public.​ ​30/10/2014). 
2 ​. Tem-se, assim, que é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos 
ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que 
agia ​ ​em​ ​seu ​ ​nome.​ ​Precedentes​ ​desta​ ​Corte. 
3 ​. A personalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de artifício para a 
prática de condutas espúrias por parte das pessoas naturais responsáveis pela sua 
condução. 
4 ​.​ ​Recurso ​ ​ordinário​ ​a​ ​que​ ​se​ ​nega ​ ​provimento. 
Obs.: PJ também poderá ser responsabilizada penalmente, por crimes contra a ordem 
econômica e financeira e contra a economia popular, em face do art. 173, §5º, CF, 
contudo, ao contrário da responsabilização penal do ente moral por crimes ambientais, 
carece ​ ​de​ ​regulamentação​ ​legal. 
Art. 173, §5º- “A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa 
jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis 
com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a 
economia ​ ​popular”. 
 
 
LEI ​ ​PENAL​ ​NO ​ ​TEMPO 
Adentrando no âmago do Código Penal, encontramos nos seus art.s 1º e 2º 
o​ ​Princípio​ ​da​ ​Legalidade,​ ​e​ ​as​ ​suas​ ​vertentes. 
Em regra, segundo Fernando Galvão “....as leis só produzem efeitos em 
relação aos fatos ocorridos durante o período de sua vigência- é o que reza o 
aforismo ​tempus regit actum ​-, e não se aplicam aos fatos ocorridos 
anteriormente​ ​à​ ​sua​ ​entrada​ ​em​ ​vigor”. 
No entanto, com espeque na dicção do art. 5º, XL, CF (“a lei penal não 
retroagirá, salvo para beneficiar o réu”), no qual extrai-se do art. 2º, CP, a 
mesma norma penal, consagram-se duas expressões fundamentais, nas 
lições de Fernando Galvão: “a) proibição da retroatividade prejudicial – ​in 
pejus;​ ​​e​ ​b)​ ​a​ ​imposição​ ​da​ ​retroatividade​ ​benéfica​ ​–​ ​​in​ ​mellius.” 
“Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de 
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais 
da​ ​sentença​ ​condenatória.

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