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ANELLI, Renato Luiz Sobral. Centros Educacionais Unificados

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http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.055/517
Page 1 of 5 Apr 20, 2014 11:40:34PM MDT
vitruvius | arquitextos 055.02 vitruvius.com.br
como citar
ANELLI, Renato Luiz Sobral. Centros Educacionais Unificados: arquitetura e educação em São Paulo. 
, São Paulo, ano 05, n. 055.02, Vitruvius, dez. 2004Arquitextos
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.055/517>.
“Porque não considerar em cada bairro, a escola, o grupo escolar, como fonte de energia educacional,
como ponto de reunião social, como sede das sociedades de “amigos de bairro”, como ponto focal de
convergência dos interesses que mais de perto dizem com a vida laboriosa das suas populações?”
Arquiteto Hélio Duarte, 1951 (2)
Os projetos dos Centros Educacionais Unificados – CEU, gigantescas intervenções educacionais da
Prefeitura da cidade de São Paulo nos seus bairros periféricos, constituem o capítulo mais recente de
uma série de ações para o reverter o quadro da desigualdade social no Brasil. O amplo reconhecimento
dos grandes feitos da arquitetura moderna brasileira pode levar ao equívoco de considerá-la ausente do
enfrentamento das demandas sociais existentes no país. É comum o estereótipo da arquitetura
excepcional, dos monumentos projetados pela ação de alguns poucos arquitetos geniais. Pesquisas
historiográficas revelam que a generalização da arquitetura moderna no Brasil passou por sua destacada
atuação na ação social do Estado, inclusive na educação, desde meados dos anos 1940.
O atual projeto dos CEU constitui mais um passo em uma longa história de interação entre arquitetos e
educadores no desenvolvimento de propostas para enfrentar a perversidade do processo de urbanização
das nossas cidades (3). Um personagem chave para entendermos essa interação é o educador Anísio
Teixeira. Após sua pós-graduação com o norte-americano John Dewey entre 1927 e 1929, Teixeira
desenvolveu e aplicou políticas educacionais onde a escola pública deveria ser estendida a todas as
classes sociais e ser capaz de cumprir um papel formador do cidadão (4). Mas, enquanto nos Estados
Unidos a escola servia a uma comunidade ativa, Teixeira reconhecia que a escola brasileira deveria se
tornar um centro polarizador de uma comunidade inexistente. Frente ao rápido inchamento das cidades
brasileiras, para que a concepção do pragmatismo educacional norte-americano funcionasse era
necessário que a escola tivesse um papel destacado na transformação desses heterogêneos
agrupamentos populacionais em comunidades organizadas. A escola passa a ser um instrumento para a
estruturação da sociedade e das cidades.
A concepção programática de Anísio Teixeira encontrou uma forma arquitetônica moderna com um
projeto realizado por Hélio Duarte e Diógenes Rebouças na cidade de Salvador, em 1947. Adeptos do
movimento liderado por Lúcio Costa, esses arquitetos conceberam uma . Em meio a umaescola parque
grande área verde, a transparência das salas de aula tornava obsoletos os prédios escolares da época,
até então enclausurados em suas pesadas alvenarias.
As oscilações da política impediram a continuidade dessa experiência em Salvador, o que veio a ocorrer
na cidade de São Paulo quando Duarte assumiu a direção de planejamento da Comissão Executiva do
Convênio Escolar (1948-1952). A rápida expansão urbana de São Paulo na década de 1940 havia levado
a um monstruoso déficit de vagas em escolas (5). Pressionados por movimentos populares, Prefeitura
Municipal e Governo Estadual firmaram um convênio para a construção e operação em massa de
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escolas, propondo-se a construir em 5 anos 100 escolas para atender a 48.000 crianças. Objetivo que
seria superado com a construção de 140 unidades entre escolas, parques infantis, bibliotecas e teatros
populares.
Duarte reuniu uma equipe com jovens arquitetos que exploraram as potencialidades experimentadas em
Salvador. As atividades previstas foram estruturadas em três conjuntos: ensino (salas de aula, museu e
biblioteca), administração (suporte administrativo e serviços assistenciais) e recreação (área esportiva e
galpão coberto para o recreio). Em geral, esses conjuntos assumiam a configuração de blocos
volumétricos dispostos das mais diversas formas em terrenos amplos e ajardinados, interligados por
marquises abertas. A ênfase nas atividades de socialização dos alunos entre si e destes com a
comunidade local se manifestou na forma dos galpões de recreio, onde a presença de palcos apontava
para sua utilização como espaço cênico.
Após o encerramento do Convênio, essa concepção da escola como instrumento de apoio à estruturação
social e urbana continuaria a nortear diversas ações de outras instituições responsáveis pela construção
escolar no Brasil, das quais os CEU são o exemplo mais recente.
O projeto concebido pela equipe de arquitetos do Departamento de Edificações da Prefeitura de São
Paulo (EDIF), que se consideram herdeiros do Convênio Escolar, agrupa o programa em três conjuntos
volumétricos de formas simples e despojadas. O maior em forma de grelha ortogonal reúne as salas de
aula, refeitórios, biblioteca, programa de inclusão digital, padaria-escola, áreas para exposições e para a
convivência. O menor, em forma de disco elevado do solo abriga a creche. O terceiro reúne em um
paralelepípedo de cinco andares teatro, ginásio esportivo e sala de ensaios musicais.
A opção construtiva com sistemas pré-moldados disponíveis no mercado permitiu a agilidade necessária
para a rápida implantação do programa, com 21 unidades entregues no primeiro ano e 24 unidades
previstas para o segundo. Alguns recursos de projeto, como o recuo da estrutura horizontal do segundo
pavimento em relação ao plano externo da grelha e a forma implantação dos painéis de vedação do
bloco de teatro, denotam a intenção dos autores em atenuar o impacto dessa opção construtiva,
usualmente associada às construções fabris. Assim, o forte aspecto tectônico é submetido a uma
visualidade geométrico-abstrata onde os volumes principais procuram uma pureza formal tencionada
apenas por pequenos volumes agregados que acentuam acessos e circulações e conferem uma certa
escala humana à forma. Participam do conjunto duas torres cilíndricas de caixa d’água, dispostas para
conferir um contraponto vertical à horizontalidade dominante e marcar o acesso principal.
Os três volumes possibilitam um leque de opções de implantação explorado por diversos arquitetos
contratados para enfrentar as várias situações onde os equipamentos estão sendo construídos. Dois
partidos de implantação são recorrentes: a distribuição perpendicular dos volumes, resultando em um
espaço entre eles que remete a uma praça urbana e a concentração dos volumes linearmente em um
longo edifício, introjetando nele a sugestão de urbanidade. A grelha ortogonal desse edifício permite uma
flexibilidade de configurações que absorve pequenas variações de programa de um bairro a outro e ainda
permite a criação de novos pavimentos que auxiliam na adaptação à topografia movimentada e às
restrições das dimensões de algumas áreas. Assim, não estamos frente a um simples jogo de armar
rígidos volumes pré-definidos. Suas formas variam discretamente conforme as necessidades do partido
de implantação.
A gravidade da atual degradação urbana e social paulistana afastou a possibilidade de uma interação
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mais aberta com o tecido urbano circundante que caracterizaram algumas iniciativas semelhantes, mas
mais modestas, no começo dos anos 1990. Os CEU querem inaugurar uma nova urbanidade para seus
bairros. Mas não se trata de fazer uma “tábula rasa” do local. Esses partidos não se limitam a uma ação
no campo do objeto e buscam identificar e transformar a situação territorial daárea onde eles se
instalam. Dialogam diretamente com as características geomorfológicas, tais como morros, várzeas e os
cursos d’água que constituem o que resta de natureza nos terrenos escolhidos. Alguns exemplos podem
ilustrar essa atitude tão cara aos expoentes da “escola paulista” de Vilanova Artigas e Paulo Mendes da
Rocha.
A exigüidade e declividade da área do CEU Rosa da China induziram a uma disposição alinhada dos
volumes da grelha de salas de aula e do paralelepípedo do teatro. Abandona-se assim qualquer
referência às tipologias tradicionais de praças ou pátios. Pelo contrário, os autores optaram por alinhar
também o nível da cobertura resultando em uma horizontal que serve de referência para variação da
superfície do território montanhosa da região. Ação que remonta às mega-estruturas para as cidades de
São Paulo e Rio de Janeiro, projetadas por Le Corbusier na sua primeira viagem à América do Sul.
Desde então, as horizontais gigantescas se tornaram um tema recorrente na arquitetura moderna
brasileira, expressando a disputa do homem com a exuberante natureza das montanhas. Mas aqui, no
desolamento das periferias paulistanas, da natureza resta apenas a forma da superfície terrestre. A não
ser que considerássemos como “natural” a massa de edificações autoconstruídas que constitui essa
paisagem urbana.
Frente à intensidade desse raciocínio em escala territorial não deixa de surpreender a delicada relação
do conjunto com a sua vizinhança imediata. A opção em dispor o longo volume em grelha junto a uma
das ruas resulta em uma seção de via próxima à escala humana (um julgamento que tem como
parâmetro a própria cidade de São Paulo, caracterizada pela verticalização acentuada em seus bairros
mais centrais).
A ocupação descontrolada das periferias deixou disponível para a construção de equipamentos sociais
apenas algumas áreas de várzeas às margens de rios ou em áreas com nascentes, áreas protegidas
pela legislação ambiental brasileira. Os autores dos projetos se aproveitam dessa condição e geram
outro partido que procura incorporar esses cursos d’água no ambiente urbano. As implantações dos CEU
Jambeiro e Perus, procuram redesenhar as margens desses rios, transformando as praças esportivas e
as piscinas em terraços à beira d’água. Invertem assim o procedimento usual de voltar as costas para os
rios, hoje altamente poluídos, ou de canalizá-los entre duas avenidas marginais. A constituição de
parques fluviais é um tema que começa ser desenvolvido pela arquitetura brasileira como reação à
degradação dos nossos recursos hídricos (6).
As implantações desenvolvidas em algumas áreas de nascentes resultam em projetos que exploram a
relação com a paisagem dentro da tradição moderna brasileira. Os CEU Navegantes e CEU Três Lagos
situam-se junto a cabeceiras da área de mananciais do principal reservatório de água de São Paulo,
configurando um claro limite entre urbano e área de interesse ambiental.
No CEU Butantã, a situação do terreno com nascentes é menos espetacular. Sua concepção inicial
previa o afloramento de um curso d’água, hoje tamponado, para a constituição do “lago da nascente” ao
redor do qual seriam dispostos seus volumes. Além de estruturador da praça, esse grande espelho
d’água seria o ponto de origem de um futuro parque fluvial. Caso fosse implantada na íntegra, esta
versão contemporânea da traria uma nova síntese entre ação social e ambiental de forteescola parque
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conotação simbólica. Uma característica geográfica, a nascente de um rio, assumiria o centro da praça
de equipamentos, conferindo significado territorial para o conjunto. Na versão edificada, o curso d’água
aflora mais a jusante em um pequeno lago, restando no centro do conjunto os planos das piscinas e
quadras esportivas.
Acompanhadas de ações de implantação de infra-estrutura viária e de saneamento básico nas suas
imediações, as intervenções pontuam os setores mais pobres de São Paulo. Seguindo a experiência
brasileira de equipamentos escolares como ponta da ação do Estado em regiões carentes, a arquitetura
dos CEU procura gerar uma nova urbanidade onde forma e programa se encontram em um projeto de
sociabilidade. Hoje vemos que as experiências do Convênio dos anos 1950 em São Paulo tiveram bom
resultado urbanístico e social, sendo que muitas daquelas escolas auxiliaram a estruturação dos seus
bairros. A perspectiva de sucesso desta iniciativa contemporânea pode ser medida pelos primeiros
meses, mas também aqui apenas o longo prazo revelará sua eficiência social e urbanística.
Post scriptum
Este artigo foi escrito entre novembro e dezembro de 2003, após minha visita a dois centros recém
inaugurados. No início de 2004 visitei outros dois centros, constatando sua intensa utilização pela
população da região, fato que confirmou minha avaliação inicial expressa ao longo do artigo. Os meses
subseqüentes trouxeram os CEUs para o centro do debate político, onde o eleitorado de outras regiões
da cidade foi conduzido a formular uma posição sobre o projeto, sem a possibilidade de conhecê-los in
. A vitória oposicionista levanta o temor pela não continuidade da iniciativa, reforçado pelas primeirasloco
manifestações da nova equipe de governo. O tamanho dos problemas urbanos de São Paulo certamente
apontam para projetos de longo prazo. Se projetos como esse, bem sucedidos na estruturação social e
urbana das periferias, forem abandonados ao sabor dos resultados das urnas, estaremos condenando a
cidade ao planejamento de curto prazo, o exato tempo entre uma eleição e outra.
notas
1
ANELLI, Renato L. S. "Centri Unificati di Educazione a São Paulo, le scuole di São Paulo", in Casabella,
n. 727, Milano, novembro 2004, p. 6-19. Artigo posteriormente publicado em francês no número especial,
dedicado ao Brasil, da revista suíça Tracés – Bulletin technique de la suisse romande. ANELLI, Renato.
“Architecture et éducation à São Paulo“. Lausanne, Tracés, n° 15/16, ano 131, 17 agosto 2005, p. 13-16.
As partes deste número são os seguintes:
GUERRA, Abilio. "Arquitetura e Estado no Brasil / editorial". Arquitextos nº 64. São Paulo, Portal
Vitruvius, set. 2005
OLIVEIRA, Olivia de; BUTIKOFER, Serge Butikofer. "Uma viagem pela arquitetura brasileira". Arquitextos
nº 64.01. São Paulo, Portal Vitruvius, set. 2005
ANELLI, Renato. “Centros Educacionais Unificados: arquitetura e educação em São Paulo”. Arquitextos,
nº 55.02. São Paulo, Portal Vitruvius, dez. 2004
GIMENEZ, Luis Espallargas. "As quatro escolas do FDE em Campinas". Arquitextos nº 64.02. São Paulo,
Portal Vitruvius, set. 2005
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EKERMAN, Sergio Kopinski. "Um quebra-cabeça chamado Lelé". Arquitextos nº 64.03. São Paulo, Portal
Vitruvius, set. 2005
SALOMON, Maria Helena Röhe. "Programa Favela-Bairro: construir cidade onde havia casa. O caso de
Vila Canoa". Arquitextos, Texto Especial nº 331. São Paulo, Portal Vitruvius, set. 2005
2
DUARTE, Hélio. “O problema escolar e a arquitetura”. Habitat, n. 4, São Paulo, jul. 1951, p. 5.
3
A população urbana no Brasil cresceu de 31% 1940 para 81% 2000. Nesse mesmo período o Brasil
passou de 41,2 milhões de habitantes para 169,8 milhões. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística ( ).www.ibge.gov.br
4
Cf. MARTINS, Carlos Alberto Ferreira. Construir a escola, construir a cidade, construir o cidadão. V
Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, Campinas, 1998; BUFFA, E. e PINTO, G. A.
Arquitetura e educação: organização do espaço e propostas pedagógicas dos grupos escolares paulistas,
1893/1971. São Carlos, EdUFSCar, 2002.
5
Entre 1940 e 1954, a cidade de São Paulo passa de 1,4 milhão de habitantes para aproximadamente 2,7
milhões.
6
O tema se insere nas exploraçõesde um dos autores do projeto dos CEU desenvolvidas na sua pesquisa
de mestrado: DELIJAICOV. Alexandre. Os rios e o desenho urbano da cidade. Proposta de projeto para a
orla fluvial da Grande São Paulo, FAU USP, 1998. O trabalho mais recente sobre o tema foi a proposta
de Paulo Mendes da Rocha e equipe para o projeto das Olimpíadas na cidade São Paulo, exposto na V
Bienal Internacional de Arquitetura e Design de São Paulo em 2003.
sobre o autor
Renato Anelli é arquiteto, Professor Associado do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da
EESC-USP, Campus de São Carlos, e Secretário de Obras do Município de São Carlos na gestão
2001-2004.
055.04
Espaço urbano contemporâneo:
As recentes transformações no espaço público e suas conseqüentes implicações para uma crítica
aos conceitos tradicionais do urbano (1)

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