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Prof. Dr. Mário Caldeira UNIDADE II História da Arquitetura no Brasil Durante a maior parte do século 20, a história da arquitetura moderna no Brasil era narrada como uma história de luta (esta teria se inserido no país por meio de conquistas, batalhas e dificuldades), vitória (ela teria sido vitoriosa sobre todas as outras, consideradas antigas e arcaicas) e dominação (a arquitetura moderna teria se espalhado por todo o país e produzido as melhores obras do século 20 no país). Esse olhar mudou e as narrativas também. Hoje considera-se que a arquitetura moderna foi, como todas as outras ondas que vieram anteriormente, um momento importante, que conviveu com outras arquiteturas, e que alguns de seus paradigmas ainda vigoram. A arquitetura moderna no Brasil começa com as propostas de Gregori Warchavchik e Lucio Costa nos anos 1920, consolida- se entre os anos 1940 e 1950, começa a ser modificada nos anos 1960 e 1970 e é profundamente questionada a partir dos anos 1980. Ao mesmo tempo começa o interesse de fato no conceito de patrimônio histórico. Considerações sobre a historiografia da arquitetura moderna no Brasil A ideia de preservar os objetos, edifícios, obras de arte e atividades culturais do passado como forma de manter a memória e a identidade de um povo, de uma nação, não é nova e começa na Europa. Mas é na década de 1930 que esse interesse torna-se parte da legislação federal brasileira, com órgãos especializados nesse assunto. E inegavelmente essa ideia se consolida com os ideais modernistas que circulavam em São Paulo e no Rio de Janeiro, manifestados principalmente por Mário de Andrade e Rodrigo Melo Franco de Andrade, que trabalharam na equipe do então ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema. Assim, em 1933 é criado o primeiro órgão federal que trata desse assunto. Em seguida, em 1937 é criado o Sphan, que depois receberia o seu nome atual, Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Posteriormente surgiram inúmeros órgãos semelhantes nas esferas estaduais e municipais, ampliando o rol preservado do patrimônio cultural, artístico, natural e arquitetônico do Brasil. O patrimônio histórico A cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, foi uma das primeiras áreas urbanas consideradas importantes para preservação e em 1933, por um decreto federal, foi alçada a “monumento nacional”. Em 1980 o centro histórico dela foi declarado Patrimônio Mundial pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). O patrimônio histórico Vista geral do centro antigo de Ouro Preto, MG. Essa área da cidade configurou- se durante o século 18. Fonte: Disponível em https://upload.wikimedia.or g/wikipedia/commons/f/f8/ OuroPretoView.jpg. Acesso em: 08 maio 2022. A arquitetura moderna implementada no país, primeiro em alguns projetos, e depois dentro das poucas escolas de arquitetura existentes na primeira metade do século 20, é de origem europeia e carrega forte influência de arquitetos como Charles-Edouard Jeanneret-Gris (1887-1965), vulgo Le Corbusier, e Walter Gropius (1883-1969). A arquitetura moderna das décadas de 1920 e 1930 é caracterizada por: um léxico arquitetônico específico (os conhecidos cinco pontos da arquitetura, de Le Corbusier), uso intenso da industrialização da construção, uma estética de forte influência das vanguardas artísticas europeias e, com a urbanização moderna, a criação de um novo tipo de espaço urbano. Com o passar das décadas, novas vertentes da arquitetura moderna foram surgindo na Europa e nos Estados Unidos e algumas delas influenciaram os profissionais aqui no Brasil. A arquitetura moderna e o Brasil As primeiras iniciativas conhecidas da introdução dessa nova arquitetura no país foram feitas pelo arquiteto de origem ucraniana Gregori Warchavchik. Em 1927, em função de seu casamento com Mina Klabin Warchavchik, ele começa a construir na rua Santa Cruz, em São Paulo, aquela que seria considerada por alguns historiadores a primeira casa modernista do país, concluída em 1928. O projeto, a decoração, os móveis e as peças de iluminação são de autoria do arquiteto. Mina Klabin proveu financeiramente a obra e colaborou com o projeto paisagístico para o jardim. No entanto, há características construtivas nela que ainda não permitem defini-la plenamente como moderna. A arquitetura moderna e o Brasil Casa na Rua Santa Cruz, projeto de Gregori Warchavchik, São Paulo, SP. Alguns teóricos chamam essa arquitetura de protomoderna (o Art Deco também recebe essa denominação) por não ter todas as características do Modernismo. Fonte: Disponível em https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9 /96/Casa_da_Rua_Santa_Cruz%2C_S%C3%A3o _Paulo.jpg. Acesso em: 30 abr. 2022. Ao mesmo tempo que a arquitetura moderna é desenvolvida no Sudeste do país, na região Nordeste essa arquitetura expande-se nos trabalhos do arquiteto Luiz Nunes, que desenvolveu vários trabalhos usando o léxico modernista e materiais construtivos mais atuais para o período. Entre seus trabalhos estão estabelecimentos assistenciais da saúde, escolas e até uma caixa d’água, considerada um dos primeiros projetos efetivamente modernos do país. A arquitetura moderna e o Brasil Hospital da Brigada Militar (atualmente da Polícia Militar). Projeto do arquiteto Luiz Nunes, localizado no Recife, PE, projetado e construído entre 1935 e 1937. Fonte: BRUAND, Y. Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1991. O projeto que sediava o Ministério da Educação e Saúde foi realizado por volta de 1930 pela equipe de Lúcio Costa, com a orientação inicial do arquiteto Le Corbusier. Essa obra foi rapidamente considerada um marco no Brasil, tanto pelo uso pleno dos cinco pontos da arquitetura moderna definidos pelo próprio Le Corbusier, quanto pela volumetria e implantação ousada. Os arquitetos usaram uma quadra inteira para a implantação, criando uma grande área livre com bastante vegetação no térreo. Esse projeto dá início à chamada Escola Carioca de arquitetura. A arquitetura moderna e o Brasil Edifício Gustavo Capanema, antiga sede do Ministério da Educação e Saúde Fonte: Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b 5/MESP4.jpg/675px-MESP4.jpg?20061216044014. Acesso em: 23 abr. 2022. A solução arquitetônica do Ministério usa dois volumes de alturas diferentes posicionados perpendicularmente entre si, o que já é interessante. Mas é a relação desses volumes com o pavimento térreo, onde fica a praça, que mostra uma das principais características da arquitetura moderna. Nessa implantação, o edifício fica “solto” dos limites do terreno e ergue- se acima do solo, criando uma fluidez natural ao longo de toda a praça. A independência do posicionamento do prédio em relação aos limites do terreno influenciará, a partir dessa época, muitos dos edifícios construídos no Brasil e as leis municipais que tratam do assunto. A arquitetura moderna e o Brasil Edifício Gustavo Capanema, antiga sede do Ministério da Educação e Saúde. Vista do térreo mostrando a fluidez criada pela implantação. Fonte: Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thum b/e/e2/Pal%C3%A1cio_Gustavo_Campanema_- _panoramio_%286%29.jpg/1200px- Pal%C3%A1cio_Gustavo_Campanema_- _panoramio_%286%29.jpg?20161227142850. Acesso em: 23 abr. 2022. A habitação coletiva no Brasil, tal como a conhecemos hoje, começa com o século XX. O problema da falta de moradias aumenta à medida que a população brasileira cresce e o número de habitantes na cidade também se amplia. A oferta de moradia não pode mais ser resolvida apenas por imóveis feitos pelos próprios moradores ou por pequenas empresas construtoras. Por isso tanto o Estado quanto o setor imobiliário privado adotaram aos poucos o modelo da habitação coletiva, em suas váriasmodalidades, com financiamento público e/ou privado. Como sempre, esse modelo convive até hoje com inúmeras outras formas de habitação, seja na oferta de financiamentos, seja na variedade de tipologias construtivas arquitetônicas e urbanas. Também é possível afirmar que o início da oferta de habitações coletivas pelo Estado ocorre aproximadamente ao mesmo tempo que a introdução da arquitetura moderna no Brasil. Por isso a maioria dos primeiros conjuntos residenciais (como eram chamados no início) possuem características modernistas, principalmente na sua implantação. A arquitetura e a habitação coletiva As iniciativas públicas para resolver o problema da falta de habitação qualificada podem ser divididas em três fases de acordo com o tipo de financiamento. Na primeira fase (1937-1964), o Estado cria institutos que financiam e constroem os chamados conjuntos residenciais. Na segunda fase (1964-1986), é criado o Banco Nacional de Habitação – BNH, que gerenciava e regulamentava um novo sistema, o Sistema Financeiro de Habitação – SFH. A terceira fase (1986-1997) começa com a extinção do BNH em 1986, e o uso de novas soluções financeiras por estados, municípios e setor privado para a construção de moradias. Na quarta fase (1997- dias atuais), há um aumento da regulação do setor imobiliário e uma expansão de outros modelos de habitação, principalmente os condomínios horizontais fechados e os apartamentos-clube. A arquitetura e a habitação coletiva Como dito anteriormente, na primeira fase (1937-1964) o Estado cria institutos que financiam e constroem os chamados conjuntos residenciais. Os primeiros foram os Institutos de Aposentadoria e Pensões (cada IAP atendia apenas a uma categoria trabalhista), a partir de 1937, e logo em seguida a Fundação da Casa Popular – FCP (a partir de 1946), e o Departamento de Habitação Popular – DHP, da prefeitura da capital no Rio de Janeiro. A arquitetura praticada nos primeiros projetos ainda não aplicava o léxico arquitetônico modernista encontrado, por exemplo, no edifício do Ministério da Educação e Saúde. Mas os arquitetos que faziam esses projetos já adotavam uma implantação de características modernas, com edifícios laminares, com afastamentos entre si e em relação aos limites do lote, reproduzindo uma lógica urbana que se tornou padrão em vários conjuntos residenciais. O modelo de implantação antigo, que usava os limites do lote, já não era mais usado. A arquitetura e a habitação coletiva Nessa primeira fase dos tipos de financiamento da habitação, para as classes médias, que aumentavam consideravelmente à medida que o país se urbanizava, a indústria e a oferta de serviços se expandiam e o número de servidores públicos crescia, havia duas soluções mais comuns. Os loteamentos construídos no que era então a periferia das cidades maiores (essas áreas seriam envolvidas pelo crescimento urbano poucas décadas depois) e a partir da década de 1930 os primeiros conjuntos residenciais, patrocinados pelo Estado através dos IAPs (Instituto de Aposentadoria e Pensões). Vários dos projetos patrocinados pelos IAPs nas décadas de 1940 e 1950 foram realizados por arquitetos modernos brasileiros. Nessa época não havia ainda programas populares de habitação para a população mais pobre. Esse tema carece de maiores pesquisas. Para esse grupo populacional a solução era morar em áreas muito distantes dos centros das cidades, em geral ao lado de rios, manguezais etc., ou nos prédios encortiçados ou em morros mais próximos a áreas centrais. A arquitetura moderna e a habitação coletiva Um dos projetos de habitação coletiva realizado pelo Iapi (Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários) foi o Conjunto Habitacional Várzea do Carmo, em São Paulo. Esse conjunto contém quase todo o léxico arquitetônico e urbanístico moderno para a construção de habitações coletivas verticais que estava se difundindo desde os anos 1920 e 1930. Foi projetado pelo arquiteto Attilio Corrêa Lima (1901-1943), que também realizou planos urbanísticos, como o de Goiânia, e de reurbanização. A arquitetura e a habitação coletiva Conjunto Habitacional Várzea do Carmo (1938-1942), projetado pelo arquiteto Attilio Corrêa Lima. São Paulo, SP. Nem todos os blocos de apartamentos projetados foram construídos. Fonte: Disponível em: https://www.google.com.br/maps/@-23.5589546,- 46.6242819,3a,61.4y,78.85h,92.88t/data=!3m6!1e1!3 m4!1s85LzNK4bxCKMVZzvmttHmw!2e0!7i16384!8i8 192. Acesso em: 15 maio 2022. Um dos projetos realizados dentro da primeira fase da habitação coletiva no Brasil foi o Pedregulho (Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes), projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909-1964) em 1947. Sua finalidade era atender funcionários públicos da capital do país, na época o Rio de Janeiro. O conjunto tornou-se conhecido no exterior e fez parte dos projetos brasileiros de grande aceitação na mídia estrangeira entre as décadas de 1930 e 1960. A arquitetura e a habitação coletiva Conjunto Residencial do Pedregulho. Projeto de Affonso Eduardo Reidy, no Rio de Janeiro, RJ. O projeto incluiu, além das habitações, escolas, áreas de lazer, centro esportivo, lavanderia e mercado. Fonte: Disponível em: https://www.google.com.br/maps/@- 22.8934964,- 43.2369535,156a,35y,73.59h,65.42t/dat a=!3m1!1e3. Acesso em: 15 maio 2022. Ao mesmo tempo que a arquitetura considerada mais atual no mundo ocidental estava sendo realizada, e mesmo algum tempo após esse evento, realizavam-se no país obras muito importantes e de grande porte com características ecléticas, como a sede do Ministério da Fazenda e alguns anos depois a Basílica de Nossa Sra. Aparecida, o maior templo católico do país. No dia 3 de outubro de 1938, em comemoração ao 8º aniversário da Revolução de 1930, foi lançada a pedra fundamental da nova sede do Ministério da Fazenda. Com um projeto de autoria do arquiteto Luis Eduardo Frias de Moura, em estilo eclético, o Palácio da Fazenda, com um pórtico principal construído com mármore brasileiro e colunas em estilo dórico, foi inaugurado em 1943. O Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida foi construído aproximadamente nessa mesma época, em estilo neorromânico (uma das várias linhas do ecletismo), e até hoje é um dos maiores templos religiosos do país. Persistências e convivências Persistências e convivências Palácio da Fazenda, antiga sede do Ministério da Fazenda (construído entre 1938 e 1943), Rio de Janeiro, RJ. Vista do pórtico da entrada principal. Fonte: Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/eb/ Rio_de_Janeiro%2C_Brazil_%2823953479245%29.jp g. Acesso em: 30 abr. 2022. Persistências e convivências Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, Aparecida, SP, foi projetado pelo arquiteto Benedito Calixto Neto e começou a ser construído no final dos anos 1940. Fonte: Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0d/Frente _da_Bas%C3%ADlica_de_Nossa_Senhora_Aparecida%2C_ Aparecida_SP.JPG. Acesso em: 30 abr. 2022. Na década de 1940, o então prefeito de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek (1902-1976), começa a trabalhar em conjunto com o promissor arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), e cria-se o Conjunto da Pampulha, uma série de cinco edificações modernas situadas nesse bairro e que definiriam uma parceria que se estenderia até a criação de Brasília. A expansão da arquitetura moderna Igreja de São Francisco de Assis, mais conhecida como Igreja da Pampulha. Projeto de Oscar Niemeyer, foi inaugurada em 1943. Fonte: Disponível em https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/1/15/Igr eja_da_Pampulha.jpg. Acesso em: 08 maio 2022. A arquitetura moderna é introduzida no cenário das cidades brasileiras pelo Rio de Janeiro. Ainda que outras cidades tenham obras relevantes desde a década de 1930,é na então capital federal que surgem muitas obras nessa linha de projeto, e criam um léxico arquitetônico que caracterizaria esses projetos por muitos anos e influenciaria vários profissionais. A expansão da arquitetura moderna Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, projeto do arquiteto Afonso Eduardo Reidy. Foi inaugurado em 1948. Fonte: Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wi kipedia/commons/5/53/MAM_- _Museu_de_Arte_Moderna_do _Rio_de_Janeiro_02.jpg. Acesso em: 07 maio 2022. O Parque do Ibirapuera é um importante marco em São Paulo, pois além de ter sido feito para comemorar os 400 anos da cidade, é uma importante área verde dentro da metrópole, com mais de 160 hectares de área. O projeto paisagístico foi feito pelo paisagista Otávio Augusto Teixeira Mendes, e os principais edifícios, a marquise e o auditório são de autoria de Oscar Niemeyer. A expansão da arquitetura moderna Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, inaugurado em 1954. A vista mostra a marquise e os edifícios conectados a ela. O projeto desse conjunto é de Oscar Niemeyer. Fonte: Disponível em: https://www.google.com.br/maps/@- 23.5810844,- 46.6501145,419a,35y,228.52h,58.73t/data=!3m1!1e3. Acesso em: 18 maio 2022. Além das arquiteturas que durante uma boa parte do século 20 continuaram sendo aplicadas por arquitetos em diversos projetos, e das técnicas construtivas, agora seculares, ainda se mantendo quase inalteradas em várias regiões do país, uma outra persistência se mantinha tenazmente dentro da construção civil brasileira: sua dependência de sistemas artesanais. Um dos principais pontos de apoio da arquitetura moderna, configurada na Europa nos anos 1920 e 1930, é sua profunda relação com a indústria e a racionalização da construção. Nenhum desses aspectos se encontrava plenamente no Brasil quando as iniciativas de modernização da arquitetura no país se manifestavam. Quando a nova capital, Brasília, foi realizada havia em vários projetos o uso de sistemas industrializados de construção, mas o artesanato construtivo ainda era uma forte característica da arquitetura e da engenharia brasileiras. Até hoje, início do século XXI, o uso de mão de obra com capacidade artesanal de construir é parte integrante dos vários sistemas construtivos usados no Brasil, apesar da farta disponibilidade de sistemas construtivos racionais, secos e industrializados. Persistências e convivências Quando o governo federal brasileiro decide fazer uma nova capital para o país no seu interior, o presidente era Juscelino Kubitschek. Ele já havia trabalhado com Oscar Niemeyer e acreditava na arquitetura moderna como um representante adequado para a nova fase que ele e seu governo queriam implantar no país: uma era de industrialização, modernização e superação do passado agrário e colonial. O processo de criação da capital começou primeiro por uma fase de planejamento, com a escolha do local, definição do tamanho da cidade, dos serviços que ela deveria acolher, dos trabalhos e contratações que seriam necessários para sua execução. Nessa fase foi constituída a Novacap, acrônimo para Companhia Urbanizadora da Nova Capital, que gerenciaria a formação do planejamento, projeto e execução de Brasília. O seu primeiro presidente foi o eng. Israel Pinheiro e um dos seus diretores foi Oscar Niemeyer, e mais tarde Lucio Costa fez parte da equipe. A companhia existe e gerencia a cidade até hoje. Brasília: a capital moderna A face mais conhecida, divulgada e vivenciada da nova capital brasileira é o seu desenho e sua organização urbana. A parte referente a esse aspecto da nova capital foi definida por um concurso público nacional, do qual participaram alguns dos principais grupos de arquitetos do país. Todos eles estavam vinculados à arquitetura e ao urbanismo modernos, e por isso os projetos apresentados no concurso seguiam nessa linha teórica. O escolhido foi o do arquiteto Lucio Costa, por ser ao mesmo tempo simples, de rápida execução, mas com uma imagem de capital muito forte. Brasília: a capital moderna O projeto de Lucio Costa para o desenho da nova capital foi chamado de Plano Piloto, e permitiu uma execução rápida o suficiente para ser inaugurada em poucos anos. Hoje essa parte da capital é considerada patrimônio da humanidade. Brasília: a capital moderna Brasília, DF. Projeto original do desenho apresentado no concurso para escolher o desenho da nova capital, de autoria de Lucio Costa. Observe que foi feito a mão. Fonte: Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikip edia/commons/e/e0/Exposi%C3% A7%C3%A3o_do_plano_piloto_d e_Bras%C3%ADlia_- _Mapa_Plano_Piloto.jpg. Acesso em: 05 maio 2022. O projeto de Lucio Costa se organiza basicamente da seguinte maneira: a. Eixo monumental; b. Eixo residencial; c. Centro comercial; d. Esplanada dos Ministérios; e. Praça dos Três Poderes; f. Palácio da Alvorada; g. Lago Paranoá. Brasília: a capital moderna Mapa sem escala do Plano Piloto. Fonte: Mário H. C. Caldeira. O Plano Piloto foi complementado pelas cidades satélites, como Taguatinga, Samambaia, Guará, entre outras. Na foto ao lado pode-se ver como a capital cresceu, mas o Plano Piloto mantém-se bastante íntegro em relação à construção inicial. Brasília: a capital moderna Vista de satélite de Brasília, DF, em 2022. Fonte: Disponível em: https://www.google.co m.br/maps/@- 15.809067,- 47.8286693,33162a,35 y,288.52h,10.28t/data= !3m1!1e3. Acesso em: 05 maio 2022. N A imagem do Eixo Monumental no Plano Piloto provou ser uma solução adequada como representante simbólico do poder federal no país. Essa imagem se popularizou e hoje é facilmente reconhecida, apesar das críticas ao tipo de urbanismo proposto por Lucio Costa. Brasília: a capital moderna Vista do Eixo Monumental do Plano Piloto, com o Congresso Nacional ao fundo. Em primeiro plano o centro original do projeto com a antiga rodoviária. Brasília, DF, em 2022. Fonte: Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/78/Eixo_Monumental.jpg. Acesso em: 18 maio 2022. Brasília: a capital moderna Interior da Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, mais conhecida como Catedral de Brasília. O projeto é de Oscar Niemeyer, vitrais de Marianne Peretti, esculturas de Alfredo Ceschiatti e cálculo estrutural de Joaquim Cardozo, Brasília, DF. Sua construção durou de 1958 a 1970. Fonte: Disponível em: https://cdn.pixabay.com/photo/2013/02/20/07/12/brasilia- 83557_960_720.jpg. Acesso em: 05 maio 2022. A nova capital Brasília, mesmo durante anos após a conclusão do Plano Piloto, recebeu vários projetos de importantes arquitetos brasileiros, principalmente Oscar Niemeyer, que entre outros projetou o Ministério das Relações Exteriores. Brasília: a capital moderna Ministério das Relações Exteriores, Brasília, DF. Projeto de Oscar Niemeyer e jardins projetados por Roberto Burle Marx. Fonte: Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/54/Minist% C3%A9rio_das_Rela%C3%A7%C3%B5es_Exteriores_- _50494988356.jpg. Acesso em: 08 maio 2022. Quais das características arquitetônicas abaixo indicadas são essenciais para explicar a ousada implantação adotada pelos autores do projeto final do Ministério da Educação e Saúde realizado em 1930 no Rio de Janeiro? I. A composição arquitetônica, baseada em dois volumes de dimensões e alturas diferentes. II. O uso do quebra-sol na fachada que sofre maior insolação. III. O posicionamento do auditório na extremidade do bloco linear mais baixo. IV. A posição perpendicular da torre em relação ao bloco linear mais baixo. a) Afirmativas III e IV. b) Afirmativas I e III. c) Afirmativas I e II. d) Afirmativas I e IV. e) Afirmativas II e III. Interatividade Quais das características arquitetônicas abaixo indicadas são essenciais para explicar a ousada implantação adotada pelos autores doprojeto final do Ministério da Educação e Saúde realizado em 1930 no Rio de Janeiro? I. A composição arquitetônica, baseada em dois volumes de dimensões e alturas diferentes. II. O uso do quebra-sol na fachada que sofre maior insolação. III. O posicionamento do auditório na extremidade do bloco linear mais baixo. IV. A posição perpendicular da torre em relação ao bloco linear mais baixo. a) Afirmativas III e IV. b) Afirmativas I e III. c) Afirmativas I e II. d) Afirmativas I e IV. e) Afirmativas II e III. Resposta A partir da década de 1960 expandem-se três aspectos da construção civil e da arquitetura no país: a industrialização de materiais construtivos, a industrialização da construção e a racionalização de projetos arquitetônicos. Tudo convivendo com a construção artesanal. A industrialização de materiais construtivos no Brasil já era feita desde o século XIX. Porém somente a partir de meados do século XX essa produção tornou-se efetivamente industrial na quantidade e na variedade de materiais e tecnologias. A partir das décadas de 1940 e 1950, o país começa a produzir em grandes volumes o aço e o cimento, essenciais na fabricação do concreto armado. E desde então novos materiais e elementos construtivos estão sendo desenvolvidos, convivendo com uma vasta variedade de produtos importados. É durante a primeira metade do século XX que o concreto armado assume sua posição de liderança como material estrutural na construção civil brasileira. A industrialização da construção trouxe transformações na maneira de construir no país: o uso de maquinário pesado, para montar edifícios inteiros para diversas finalidades, a construção seca e a implantação de maquinário leve dentro da obra foram mudanças que continuam até hoje. Industrialização da construção A racionalização do projeto arquitetônico é constituído aproximadamente ao mesmo tempo que a industrialização de materiais construtivos. Essencialmente significa que vários projetos arquitetônicos passam a ser feitos usando como referência a industrialização da construção e a modularidade dos materiais produzidos industrialmente, distanciando-se do tradicional método artesanal de construir. A criação arquitetônica e o processo de elaboração do projeto ainda são feitos da maneira como o século 20 instituiu esse trabalho, como uma sequência de etapas com um aumento do seu grau de complexidade. Vários programas arquitetônicos passam a ser projetados dessa maneira sistêmica: escolas, edifícios destinados a indústria, estabelecimentos assistenciais de saúde, edifícios da administração pública, hotéis, entre muitos outros. Programas que exigissem rapidez e alto controle na sua execução, construções repetidas em quantidade, o uso de sistemas construtivos industrializados e secos, demandam até hoje a realização de projetos racionalizados. Industrialização da construção As construções usando peças de concreto armado pré-fabricadas disseminaram-se por todo o país a partir dos anos 1960. Apesar de serem do tipo construção pesada (que usa grandes máquinas para sua montagem) tornaram-se muito populares e vários arquitetos usaram esse sistema também como um léxico arquitetônico. Industrialização da construção Construção com sistema de concreto armado pré- fabricado. Observe que é uma obra feita com peças encaixadas e colocadas com o uso de equipamento pesado. Fonte: Manual Técnico Premo. São Paulo: Premo Construções Pré- fabricadas, 1999. Um dos arquitetos que mais utilizou sistemas industrializados em seus projetos, procurando sempre a melhor qualidade espacial e construtiva, foi João Filgueiras Lima. Fez projetos de hospitais, edifícios administrativos públicos e privados, escolas, entre outros programas. Industrialização da construção Tribunal de Contas da União, unidade de Minas Gerais, construído em Belo Horizonte em 1997. Projeto do arquiteto João Filgueiras Lima. Observe como o desenho mostra um sistema construtivo totalmente racionalizado e a obra vista na foto demonstra esse raciocínio construtivo. Fonte: LIMA, J. F. CTRS – Centro de Tecnologia da Rede Sarah. Brasília: Sarah Letras; São Paulo: Fundação Bienal / ProEditores, 1999. p. 39. Na segunda fase dos tipos de financiamento para moradia (1964-1986) predomina a ação do Banco Nacional de Habitação – BNH. É criada uma nova forma de financiamento imobiliário, o Sistema Financeiro de Habitação – SFH. Esse foi o primeiro momento em que há um aumento importante e gigantesco da oferta de moradias coletivas para faixas médias de renda, construindo os conjuntos habitacionais. O SFH existe até hoje e convive com outros sistemas de financiamento imobiliário, principalmente os privados. Os projetos de conjuntos habitacionais realizados pelo BNH receberam ao longo dos anos críticas muito pesadas feitas por arquitetos, urbanistas, jornalistas e até mesmo artistas de várias áreas. Observações como baixa qualidade da execução, falta de infraestrutura nos locais de implantação, uso excessivo de terraplenagem desconsiderando a possibilidade de uso do relevo natural para implantar as construções, distanciamento em relação aos centros urbanos levando a um espraiamento excessivo da mancha urbana, e ainda uma monótona repetição de edifícios com projetos semelhantes sempre foram comuns. A arquitetura e a habitação coletiva No entanto, foi com o BNH e o SFH que se atingiu números realmente expressivos na quantidade de habitações construídas, alcançando um público que nunca se havia conseguido alcançar com as iniciativas anteriores. Foi a primeira vez que se produziram habitações em grande escala no país. Há estudos feitos na Universidade de Brasília que indicam que durante os 22 anos em que o BNH atuou, foram construídas 4,5 milhões de habitações. Nessa mesma época a população passou de 80 para 135 milhões de pessoas. Outro aspecto ainda pouco analisado são os projetos arquitetônicos postos em execução pelo BNH. Muitos repetiam fórmulas projetuais, como os conhecidos edifícios de apartamentos em planta H, com a circulação vertical no meio. Mas houve também projetos de qualidade, como o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães (Guarulhos, SP) e o Conjunto Habitacional Padre Manoel da Nóbrega (Campinas, SP), ainda que executados com materiais construtivos e de acabamento bem simples, para baratear os custos. A arquitetura e a habitação coletiva A arquitetura e a habitação coletiva Conjunto Habitacional Padre Manoel da Nóbrega, Campinas, SP. Foi projetado em 1973-1974 pelos arquitetos Joaquim e Liliana Guedes. Fonte: Disponível em: https://www.google.com.br/maps/@-22.9106882,-47.1136219,202m/data=!3m1!1e3. Acesso em: 17 maio 2022. A arquitetura e a habitação coletiva Conjuntos habitacionais construídos pelo BNH na Zona Leste de São Paulo, SP. Observe a variedade de tipologias de edifícios, mas com um padrão repetido de implantação. Fonte: Disponível em: https://www.google.com.br/maps/@-23.5466174,-46.4815804,1591m/data=!3m1!1e3. Acesso em: 17 maio 2022. Durante os anos 1960 e 1970, junto com a expansão da economia brasileira, houve um aumento considerável nas obras financiadas pelo Estado, tanto em quantidade quanto em tamanho. Hidrelétricas, aeroportos, estradas, pontes e viadutos, metrô, portos, edifícios públicos etc., foram realizados nesse período. A arquitetura usada nesses projetos era caracterizada pela presença quase hegemônica do concreto armado aparente, pelos volumes maciços de edifícios com formas monolíticas, e grandes vãos, com sistemas estruturais robustos. Com esse tipo de construção aumenta também a capacidade tecnológica das diversas disciplinas e temas associados à arquitetura e ao urbanismo, como a acústica, o conforto ambiental, o paisagismo, o cálculo estrutural, os sistemas estruturais de cobertura metálica, o uso do concreto armado em grandes volumes etc.Com isso e com o aumento da oferta e procura de arquitetos, crescem também as especialidades em que esses profissionais atuam. Os grandes investimentos públicos Um dos grandes investimentos públicos da época foram os aeroportos do Galeão (Rio de Janeiro) e de Guarulhos (São Paulo). O do Galeão já existia desde a década de 1920, mas o objetivo era transformá-lo no maior aeroporto do país, usando o que de mais tecnológico havia na época, e para isso ele foi ampliado e modernizado pela construtora Odebrecht, com investimento do governo federal. Os grandes investimentos públicos Aeroporto Internacional Tom Jobim, também conhecido como Aeroporto do Galeão, Rio de Janeiro, RJ. O Terminal 1 foi inaugurado em 1977 e o Terminal 2 em 1999. Fonte: Disponível em: https://upload.wikimedia. org/wikipedia/commons/ a/ab/Airj_aeroporto_inte rnacional_do_mundo_ri o_de_janeiro_- _panoramio.jpg. Acesso em: 15 maio 2022. Segundo muitos historiadores, houve duas vertentes principais da arquitetura moderna no Brasil, a Escola Carioca e a Escola Paulista. A Escola Paulista seria caracterizada por um léxico arquitetônico vinculado a uma linguagem brutalista da arquitetura. O Brutalismo foi uma decorrência da arquitetura moderna na Europa, mas quando se usa esse termo no Brasil ele não tem o mesmo significado, nem se refere à mesma arquitetura. A Escola Paulista de arquitetura se manifesta décadas após a formação da Escola Carioca. Como características dessa escola temos a criação de espaços amplos com grandes vãos, o uso extenso do concreto armado aparente, a aplicação de projetos complementares aparentes (elétrica, hidráulica etc.), regularidade no intercolúnio e novas formas de implantação. Independentemente dessas vertentes, várias obras consideradas icônicas foram executadas entre as décadas de 1960 e 1970 por profissionais hoje aceitos como referências desse período na nossa história. Vejamos alguns desse projetos. Transformações na arquitetura moderna no Brasil A maioria dos profissionais de arquitetura no Brasil até o final do século 20 era composta por homens. Das poucas mulheres que conseguiram atuar na área, Lina Bo Bardi (1914-1992) conseguiu fazer vários projetos, com programas variados, e tornou-se uma arquiteta de renome nacional e internacional. Transformações na arquitetura moderna no Brasil Museu Assis Chateaubriand, mais conhecido como Museu de Arte de São Paulo (Masp). Projeto da arquiteta Lina Bo Bardi, é um dos mais conhecidos edifícios desse período da arquitetura no Brasil Fonte: Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wiki pedia/commons/d/d6/MASP_- _Museu_de_Arte_de_S%C3%A 3o_Paulo_- _panoramio_%281%29.jpg. Acesso em: 07 maio 2022. Vilanova Artigas (1915-1985) foi um importante arquiteto para a Escola Paulista e deixou inúmeros seguidores da sua maneira de conceber espaços. O seu projeto mais conhecido é a sede da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, em que aplica um léxico arquitetônico que se tornaria quase um padrão para algumas gerações de arquitetos. Transformações na arquitetura moderna no Brasil Sede da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade d São Paulo, projeto de João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi. Fonte: Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/85/F aculdade_de_Arquitetura_e_Urbanismo_-_USP_01.jpg. Acesso em: 08 maio 2022. O edifício sede da Petrobras foi construído no centro do Rio de Janeiro, entre 1969 e 1974. O autor do projeto foi o arquiteto Roberto Luis Gandolfi, e sua proposta foi escolhida por meio de um concurso nacional organizado pelo IAB – Instituto dos Arquitetos do Brasil. Transformações na arquitetura moderna no Brasil Sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, RJ. Fonte: Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/com mons/e/ee/SedePetrobras.JPG. Acesso em: 17 maio 2022. As pesquisas formais em diversos programas arquitetônicos iam além dos projetos de edifícios públicos, alcançando também projetos privados, como o Hotel Tambaú, projeto do arquiteto Sérgio Bernardes (1919-2002). Transformações na arquitetura moderna no Brasil Hotel Tambaú, João Pessoa, PB. Observe a forma circular e a implantação na praia, com o edifício parecendo fazer parte do próprio terreno. Projeto do arquiteto Sérgio Bernardes. Fonte: Disponível em: https://www.google.com.br/maps/@- 7.1137053,-34.8222297,185a,35y,2.11h,46.99t/data=!3m1!1e3. Acesso em: 18 maio 2022. Poucos arquitetos ou arquitetas brasileiras conseguiram realizar projetos em outros países, mas Oscar Niemeyer, além de uma carreira sólida no Brasil, também conseguiu inúmeros projetos no exterior, como a sede do Partido Comunista Francês, em Paris. Transformações na arquitetura moderna no Brasil Sede do Partido Comunista Francês, Paris, França. Projeto de autoria de Oscar Niemeyer, foi construído entre 1967 e 1980. O volume ovalado branco na frente é o auditório semienterrado. Fonte: Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fc/Headquarters _%40_French_Communist_Party_%40_Paris_%2829707994506 %29.jpg. Acesso em: 17 maio 2022. Apesar de ser um tema fundamental, a história do paisagismo no Brasil ainda carece de pesquisas mais aprofundadas. Até o momento, o Passeio Público no Rio de Janeiro é considerado o primeiro jardim urbano construído do país. E até o início do século XX não parece haver muitas iniciativas semelhantes, exceto pela construção do Jardim Botânico, também no Rio de Janeiro. Paisagismo no Brasil Passeio Público, Rio de Janeiro, RJ (c. 1779-1783). O autor do projeto foi Valentim da Fonseca e Silva (c. 1745-1813), mais conhecido como Mestre Valentim. Fonte: FARAH, I.; SCHLEE, M. B.; TARDIN, R. (org.). Arquitetura paisagística contemporânea no Brasil. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2010. p. 37. É a partir da década de 1930 que se considera que inicia-se de fato o paisagismo no Brasil, e o paisagista brasileiro mais conhecido no país e no exterior é Roberto Burle Marx (1909-1994). A Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, é um dos espaços mais conhecidos no mundo inteiro, e o desenho de suas calçadas e espaços públicos foi realizado pro ele. Paisagismo no Brasil Avenida Atlântica, com a calçada de Copacabana, no Rio de Janeiro. Autoria de Roberto Burle Marx. Essa etapa do projeto da avenida foi feito durante a década de 1970. As famosas calçadas com desenhos de ondas existiam muito antes desse projeto, e Burle Marx usou esse desenho como referência. Fonte: FARAH, I.; SCHLEE, M. B.; TARDIN, R. (org.). Arquitetura paisagística contemporânea no Brasil. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2010. p. 66. Autor de inúmeros projetos, Roberto Burle Marx fez também a Praça dos Cristais, no Ministério das Forças Armadas, em Brasília. A linguagem abstrata, moderna e também brasileira (muito por conta do uso de espécies nativas) de seus projetos caracterizariam toda a sua obra e a tornaria uma referência mundial. Paisagismo no Brasil Praça dos Cristais, também conhecida como Praça Triangular, Ministério das Forças Armadas, Brasília, DF (c. 1970). Autor: Roberto Burle Marx. Fonte: Disponível em: https://www.google.com.br/maps/@-15.7730055,- 47.9225426,600m/data=!3m1!1e3. Acesso em: 18 maio 2022. No projeto para o desenho urbano de Brasília, o arquiteto Lucio Costa optou por solução engenhosa para separar as duas escalas mais importantes da vida na nova capital. Essas duas escalas são a simbólica, onde ficam os centros do poder, e que ele chamou de civitas, e a da vida normal das pessoas, que precisam resolver seus afazeres cotidianos, a qual ele chamou de urbs. Separar essas duas escalas é necessário, pois as arquiteturas e os espaços que cada uma demanda são muito diferentes entre si. Qual foi a solução adotada por Lucio Costa para criar essa separaçãoe ao mesmo tempo fazer uma cidade única, sem fragmentá-la? a) Posicionou a cidade em torno do lago Paranoá, para aproveitar a proximidade da água. b) Criou dois eixos perpendiculares entre si, um para a escala simbólica e outro para a do cotidiano. c) Ele criou bairros autônomos, as superquadras. d) Ele não separou essas escalas, preferindo misturá-las para criar um novo espaço urbano. e) Ele isolou a parte da escala do cotidiano em cidades satélites. Interatividade No projeto para o desenho urbano de Brasília, o arquiteto Lucio Costa optou por solução engenhosa para separar as duas escalas mais importantes da vida na nova capital. Essas duas escalas são a simbólica, onde ficam os centros do poder, e que ele chamou de civitas, e a da vida normal das pessoas, que precisam resolver seus afazeres cotidianos, a qual ele chamou de urbs. Separar essas duas escalas é necessário, pois as arquiteturas e os espaços que cada uma demanda são muito diferentes entre si. Qual foi a solução adotada por Lucio Costa para criar essa separação e ao mesmo tempo fazer uma cidade única, sem fragmentá-la? a) Posicionou a cidade em torno do lago Paranoá, para aproveitar a proximidade da água. b) Criou dois eixos perpendiculares entre si, um para a escala simbólica e outro para a do cotidiano. c) Ele criou bairros autônomos, as superquadras. d) Ele não separou essas escalas, preferindo misturá-las para criar um novo espaço urbano. e) Ele isolou a parte da escala do cotidiano em cidades satélites. Resposta BONDUKI, N. Origens da Habitação Social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade, 2005. BRUAND, Y. Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1991. CAVALCANTI, L. Moderno e brasileiro: a história de uma nova linguagem na arquitetura (1930- 60). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. FARAH, I.; SCHLEE, M. B.; TARDIN, R. (org.). Arquitetura paisagística contemporânea no Brasil. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2010. HOLSTON, J. A cidade modernista: uma crítica de Brasília e sua utopia. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. SEGAWA, H. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1997. VERISSIMO, F. S.; BITTAR, W. S. M. 500 anos da casa no Brasil: as transformações da arquitetura e da utilização do espaço de moradia. Rio e Janeiro: Ediouro, 1999. Referências ATÉ A PRÓXIMA!
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