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Direito Internacional Privado

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DIREITO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
Profª Patrícia Siqueira 
 
Tópico 10 – Direito Internacional Privado 
 
Introdução 
A internacionalização das atividades que circulam a vida do homem gera uma série de 
fenômenos jurídicos que os Estados e as organizações internacionais devem enfrentar seja no 
plano individual ou coletivo. 
Diversas são as concepções acerca do objeto do Direito Internacional Privado. 
Para Jacob Dolinger, “o estudo do homem na sua dimensão internacional, na defesa de seus 
direitos além de seu habitat normal, abrange o exame de sua nacionalidade, o estudo de seus 
direitos como estrangeiro, as cortes nacionais a que poderá recorrer e às quais poderá ser 
chamado e as leis que lhe serão aplicadas1. 
Portanto, o Direito Internacional Privado Estuda os sujeitos do direito, ao cuidar da 
nacionalidade e da condição jurídica do estrangeiro, e o exercício do direito, ao tratar dos 
conflitos de leis. 
Ao tratar do conflito de leis, o direito cria normas para orientar o juiz sobre a escolha da lei a 
ser aplicada. Salienta-se que o conflito entre as legislações de Estados distintos permanece, 
mas a situação fática é resolvida através da aplicação de uma das leis, escolhida de acordo com 
as regras estabelecidas, seja pelo legislador, seja pela doutrina ou pela jurisprudência. 
Há que se ressaltar que a referência a um conflito de leis pode dar a ideia errônea de 
que se configura a colisão entre normas legais de diversos ordenamentos jurídicos, o que não 
ocorre, pois cada sistema legisla para si. Não há efetivamente um choque, um conflito; são 
normas distintas sobre o mesmo instituto jurídico, uma criada para determinada sociedade de 
um Estado, outra para a sociedade de outro Estado. Contudo, há hipóteses em que o aplicador 
da lei deverá decidir se se trata de caso regido pela lei de um ou de outro sistema. O juiz estará 
diante de um concurso de duas leis diferentes sobre a mesma questão jurídica; e cabe ao 
Direito Internacional Privado orientar sobre a escolha a ser feita entre as duas normas 
concorrentes. 
 
Conflitos interespaciais 
O direito internacional privado se ocupa, quanto ao exercício do direito, no estabelecimento 
de regras e princípios aplicáveis nos conflitos de lei no espaço, ou seja, da lei aplicável quando 
a relação jurídica gera efeitos em dois ou mais países. 
Conceito: o direito internacional privado é o ramo do direito da ciência jurídica que desafia o 
princípio da territorialidade das leis na medida em que fixa os fundamentos da aplicação do 
direito estrangeiro pelo juiz nacional2. 
Responde: Quando aplicar? 
 Em que casos? 
 E quais os limites dessa aplicação? 
 
Normalmente a lei nacional aplica-se a todo o território nacional, ocorrem, porém, casos de 
interferência de estrangeiros sobre relações jurídicas surgidas em território nacional ou no 
exterior como na eventualidade de nacionais possuírem bens ou negócio jurídicos em 
 
1 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado – Parte Geral. p.2). 
2 Basso, Maristela. Curso de direito internacional privado. 5 ed. São Paulo: Editora Atlas: 2016. 
território de outro Estado. Assim, o direito internacional privado é considerado um ramo 
especial do direito interno, pois engloba o conjunto de normas e princípios que o juiz deverá 
aplicar quando da solução de casos que envolvam a legislação interna de países distintos – 
impõe os limites à extraterritorialidade da lei3. 
O conflito entre ordens jurídicas distintas ocorre em razão de um elemento estrangeiro, ou 
elemento de estraneidade, também conhecido como elemento de conexão, quais sejam: 
▫ Pessoas; 
▫ Bens; 
▫ Fatos ou negócios; 
▫ Processo. 
O Código Bustamante, ou Convenção de Direito Internacional4, trata das questões civis com 
efeitos internacionais, abrangendo pessoas, bens, direito comercial, contratos e obrigações, 
como verdadeiro Código Civil internacional. 
Ressalta-se que a abrangência da eficácia do Código Bustamante tem sido mitigada pelo 
advento de novos tratados específicos sobre temas privados ou mesmo relativos a Estados. As 
questões relativas à extradição e nacionalidade, por exemplo, estão superadas no Código 
Bustamante dada a existência de novas regras na Constituição Federal e no Estatuto do 
Estrangeiro. 
Além disso, o ordenamento interno tratou de dispor acerca dos conflitos de lei no espaço 
dentro da Lei de Introdução ao Código Civil, restringindo ainda mais a referida Convenção. 
 
Lei de Introdução ao Código Civil 
A Lei de Introdução ao Código Civil estabelece a norma que deve ser aplicada quando houver 
elemento de conexão internacional. 
Exemplos: 
- uma empresa brasileira celebra um contrato com outra empresa francesa. 
Qual a lei civil que regerá o negócio jurídico? 
- casamento entre uma brasileira e um estrangeiro, celebrado na Alemanha. 
Terá regência o direito material brasileiro ou alemão? 
- o falecimento de uma pessoa, de nacionalidade brasileira, com domicílio no Peru, ocorrido 
em Portugal. 
Qual lei será aplicada na sucessão? 
- estrangeiro domiciliado no Brasil que necessita ser interditado. 
Qual a lei civil aplicada e as regras de processo no caso concreto? 
Todas essas questões são resolvidas pela Lei de Introdução ao Código Civil5. 
 
a) Início e fim da personalidade 
A regra que define o início e o fim da personalidade da pessoa, capacidade e direito de 
família, é aquela do local de seu domicílio. 
Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim 
da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. 
§ 1o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos 
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração. 
§ 2o O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou 
consulares do país de ambos os nubentes. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1957) 
 
3 Fenômeno definido como a aplicação de um alei de determinado Estado no âmbito de jurisdição de 
outro Estado. 
4 Aprovado pelo Brasil através do Decreto 18.871/1929, disponível em 
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-18871-13-agosto-1929-549000-
publicacaooriginal-64246-pe.html 
5 Está disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm 
§ 3o Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei 
do primeiro domicílio conjugal. 
§ 4o O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os 
nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal. 
§ 5º - O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência 
de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile 
ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de 
terceiros e dada esta adoção ao competente registro. (Redação dada pela Lei nº 6.515, de 
1977) 
§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só 
será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido 
antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá 
efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças 
estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, 
poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de 
homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a 
produzir todos os efeitos legais. (Redação dada pela Lei nº 12.036, de 2009). 
§ 7o Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e 
aos filhosnão emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda. 
§ 8o Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua 
residência ou naquele em que se encontre. 
O artigo 7º da LICC determina a aplicação da lex domicilii como elemento de conexão 
do direito internacional privado. Assim, nas questões em que houver conflito sobre a 
lei aplicável em casos de interdição, separação, divórcio, reconhecimento de 
paternidade, nascimento e morte, serão consideradas as normas do local de domicílio 
da pessoa. 
Obs.: em relação ao direito de família, constata-se que o estatuto pessoal é regido, 
como regra, pela lex domicilli (lei do domicílio), o que se verifica no caput do citado 
artigo 7º. Assim, as regras relativas à vida em comum dos cônjuges são feitas com base 
na lei do respectivo domicílio. Também com base na lei do domicílio é feita a regência 
do regime patrimonial dos cônjuges, exceto se ele for diverso, caso em que se aplicam 
as regras do 1º domicílio conjugal (§4º). Já em relação à realização do casamento no 
Brasil (§1º), constata-se a incidência da lei do local da celebração (lex 
loci celebrationis) quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da 
celebração. 
 
b) Bens – direito reais 
A lei do local da situação dos bens regerá todas as questões de direitos reais, 
aplicando-se a regra da lex rei sitae, nos termos do artigo 8º da LICC. 
Art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do 
país em que estiverem situados. 
§ 1o Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis 
que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares. 
§ 2o O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a 
coisa apenhada 
Para os bens móveis trazidos do estrangeiro pelo proprietário ou aqueles destinados 
ao transporte para outro lugar, será aplicada a lei de domicílio do proprietário, 
excepcionando a regra de local da coisa (§1º do artigo 8º da LICC). 
Na hipótese de penhor, será aplicada a lei do local de domicílio da pessoa em cuja 
posse estiver a coisa empenhada (§2º do artigo 8º da LICC). 
Importante considerar que, tanto a Lei de Introdução ao Código Civil como o Código de 
Processo Civil, estabelecem que as ações relativas aos imóveis situados no Brasil são 
de competência exclusiva do Poder Judiciário brasileiro (artigo 22 CPC/2015). 
Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: 
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; 
II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao 
inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de 
nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; 
III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de 
bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha 
domicílio fora do território nacional. 
 
c) Obrigações e negócios jurídicos 
As obrigações são qualificadas pela lei do lugar em que foram constituídas. O local da 
celebração do negócio jurídico define as regras acerca das obrigações – locus regit 
actum ou loci celebrationis. 
Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. 
§ 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, 
será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos 
extrínsecos do ato. 
§ 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o 
proponente 
Caso a obrigação tenha que ser executada no Brasil, deverão ser observadas as 
formalidades essenciais previstas na legislação interna, admitindo as peculiaridades da 
norma estrangeira em relação aos requisitos extrínsecos do negócio jurídico (§1º do 
artigo 9º da LICC). 
No caso de contrato de adesão, será considerado como local de constituição o lugar de 
domicílio do proponente. 
 
d) Sucessão causa mortis 
A sucessão por morte ou por ausência será regulada pela lei do local de último 
domicílio do autor da herança (o morto ou desaparecido), não importando a natureza 
ou o local da situação dos bens. 
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o 
defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. 
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em 
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não 
lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. 
§ 2o A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder. 
No mesmo sentido do §1º é a Constituição Federal em seu artigo 5º inciso XXXI. 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em 
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei 
pessoal do "de cujus"; 
Assim, mesmo que o autor da herança seja estrangeiro, falecido e tendo último 
domicílio fora do Brasil, será aplicada a legislação civil brasileira quando esta for mais 
benéfica aos sucessores brasileiros. 
Importante frisar que a Lei de Introdução ao Código Civil e a Constituição apenas 
determinam a regra de direito material a ser aplicada na sucessão (lei do último 
domicílio). A previsão contida nos artigos anteriormente mencionados não tem 
natureza processual e não são definidoras da competência jurisdicional. 
Em relação a competência jurisdicional. 
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no 
Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação. 
§ 1o Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a imóveis 
situados no Brasil 
Ainda, o artigo 23 inciso II do CPC/2015, afirma ser competência exclusiva do Poder 
Judiciário brasileiro, com exclusão de qualquer outra jurisdição, o processamento de 
inventários de bens situados no Brasil, mesmo que o autor da herança seja 
estrangeiro. 
Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: 
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; 
II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao 
inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de 
nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; 
III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de 
bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha 
domicílio fora do território nacional. 
 
e) Casamento de brasileiro no exterior 
Os brasileiros que pretenderem celebrar casamento no exterior, poderão realizar o ato 
perante a autoridade consular do local em que estejam domiciliados. A autoridade 
consular brasileira também é detentora de competência para os atos de registro civil e 
de tabelionato, inclusive para registro dos filhos de brasileiros nascidos e os óbitos 
ocorridos no exterior. 
Art. 18. Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras 
para lhes celebrar o casamento e os mais atos de Registro Civil e de tabelionato, inclusive o 
registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede 
do Consulado. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de1957) 
§ 1º As autoridades consulares brasileiras também poderão celebrar a separação consensual 
e o divórcio consensual de brasileiros, não havendo filhos menores ou incapazes do casal e 
observados os requisitos legais quanto aos prazos, devendo constar da respectiva escritura 
pública as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão 
alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à 
manutenção do nome adotado quando se deu o casamento. (Incluído pela Lei nº 12.874, 
de 2013) 
§ 2o É indispensável a assistência de advogado, devidamente constituído, que se dará 
mediante a subscrição de petição, juntamente com ambas as partes, ou com apenas uma 
delas, caso a outra constitua advogado próprio, não se fazendo necessário que a assinatura 
do advogado conste da escritura pública. (Incluído pela Lei nº 12.874, de 2013) 
Neste caso, o casamento será regido pela legislação civil brasileira. 
Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas 
autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em cento e oitenta dias, a contar 
da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em 
sua falta, no 1º Ofício da Capital do Estado em que passarem a residir. 
 
f) Sociedades e fundações 
O artigo 11 da LICC determina que as organizações destinadas a fins de interesse 
coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à legislação do Estado em que 
forem constituídas. 
Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as 
fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem. 
§ 1o Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de 
serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei 
brasileira. 
§ 2o Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles 
tenham constituído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no 
Brasil bens imóveis ou susceptíveis de desapropriação. 
§ 3o Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede 
dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares. (Vide Lei nº 4.331, de 1964) 
Os atos constitutivos devem ter aprovação pelo Estado brasileiro, apenas depois disso 
poderão estabelecer filiais ou agências no país6. 
O Código Civil, em seu artigo 1.134 também determina que a sociedade estrangeira, 
qualquer que seja o seu objeto, apenas poderá funcionar no País, mediante aprovação 
do Poder Executivo. A autorização poderá ser cessada a qualquer tempo, havendo 
ofensa à ordem pública ou prática de atos contrários ao estatuto da sociedade 
(faculdade do Poder Executivo). 
Art. 1.134. A sociedade estrangeira, qualquer que seja o seu objeto, não pode, sem 
autorização do Poder Executivo, funcionar no País, ainda que por estabelecimentos 
subordinados, podendo, todavia, ressalvados os casos expressos em lei, ser acionista de 
sociedade anônima brasileira. 
§ 1o Ao requerimento de autorização devem juntar-se: 
I - prova de se achar a sociedade constituída conforme a lei de seu país; 
II - inteiro teor do contrato ou do estatuto; 
III - relação dos membros de todos os órgãos da administração da sociedade, com nome, 
nacionalidade, profissão, domicílio e, salvo quanto a ações ao portador, o valor da 
participação de cada um no capital da sociedade; 
IV - cópia do ato que autorizou o funcionamento no Brasil e fixou o capital destinado às 
operações no território nacional; 
V - prova de nomeação do representante no Brasil, com poderes expressos para aceitar as 
condições exigidas para a autorização; 
VI - último balanço. 
§ 2o Os documentos serão autenticados, de conformidade com a lei nacional da sociedade 
requerente, legalizados no consulado brasileiro da respectiva sede e acompanhados de 
tradução em vernáculo 
 
g) Limites a aplicação de sentença e lei estrangeiro no Brasil 
A Lei de Introdução ao Código Civil admite a aplicação da legislação estrangeira em 
situações envolvendo elementos de conexão internacional. No entanto, a eficácia da 
lei estrangeira e de sentenças proferidas por tribunais de outros Estados, apenas se 
admitem caso não ofendam a soberania e o ardem jurídica brasileira. 
Importante ressaltar que o artigo 17 da LICC afirma que não terão eficácia no país os 
atos externos – leis, sentenças ou declarações de vontade quando ofenderem a 
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. 
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, 
não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os 
bons costumes 
Assim, compete ao Poder Judiciário brasileiro, quando da análise de pedidos de 
homologação de sentença estrangeira e execução de cartas rogatórias, abertura de 
testamentos celebrados no exterior, aplicação da lei estrangeira em casos concretos 
(mesmo na jurisdição inferior), afastar os atos externos que ofendam a soberania 
nacional, a ordem jurídica interna e os bons costumes. 
É presumível que o juiz conheça do direito – princípio iura novite curiaI. No entanto, tal 
presunção apenas se aplica ao direito interno positivado na legislação federal. Assim, 
sendo invocado disposto em norma internacional, o juiz poderá determinar à parte 
que demonstre o teor e a vigência da respectiva norma externa. 
 
6 Instrução Normativa nº 81, de 5 de janeiro de 1999, que dispõe sobre os pedidos de autorização para 
nacionalização ou instalação de filial, agência, sucursal ou estabelecimento no País, por sociedade 
mercantil estrangeira. Disponível em: http://www.portaldoempreendedor.gov.br/outras-naturezas-
juridicas/filial-de-empresa-estrangeira/instrucao-normativa 
Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do texto 
e da vigência. 
A prova poderá se dar por meio da juntada aos autos de certidão de publicação no 
Diário Oficial, de compilações legislativas e ou outras publicações oficiais. 
Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, 
quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a 
lei brasileira desconheça.

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