Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ÁREAS DEGRADADAS A Unidade Curricular Áreas Degradadas objetiva fornecer os conhecimentos aplicados aos processos de recuperação de áreas degradadas, seja por meio químico, físico, ou processos ecológicos. Dessa forma, o profissional de Meio Ambiente poderá atuar na gestão de áreas degradadas, em suas diferentes etapas: investigação, recuperação e monitoramento. 2 SUMÁRIO Capítulo 1 .......................................................................................................................... 3 1. CARACTERIZAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS ............................................. 3 1.1. Áreas degradadas ....................................................................................................... 3 1.2. Áreas contaminadas ................................................................................................... 6 Capítulo 2 ........................................................................................................................ 10 2. PRINCIPAIS FONTES DE POLUIÇÃO DO SOLO, ÁGUA SUBTERRÂNEA E SUPERFICIAL ............................................................................................................... 10 Capítulo 3 ........................................................................................................................ 14 3. ÁREAS DEGRADADAS E LICENCIAMENTO AMBIENTAL ......................... 14 3.1 Suporte legal e normas técnicas pertinentes .............................................................. 16 3.1.1 Legislação Federal ....................................................................................... 16 3.1.2 Legislação Estadual de São Paulo: .............................................................. 16 3.1.3 Normas Técnicas ................................................................................................ 16 Capítulo 4 ........................................................................................................................ 19 4. METODOLOGIAS DE INVESTIGAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS ........... 19 4.1 Metodologias de Investigação de Áreas Contaminadas ...................................... 19 4.1.1 Avaliação Preliminar - Fase I ............................................................................. 21 4.1.2 Investigação Confirmatória - Fase II .................................................................. 23 Capítulo 5 ........................................................................................................................ 34 5. TECNOLOGIAS DE RECUPERAÇAO DE ÁREAS DEGRADADAS ............... 34 5.1 Áreas contaminadas ............................................................................................ 34 5.2 Seleção das Técnicas de Remediação ....................................................................... 35 5.3 Processos Erosivos .................................................................................................... 43 5.4 Métodos em Restauração Ecológica ......................................................................... 45 5.4.1 Adensamento ...................................................................................................... 45 5.4.2 Enriquecimento .................................................................................................. 46 5.4.3 Condução da regeneração .................................................................................. 46 5.4.4 Isolamento da área e retirada dos fatores de degradação ................................... 46 5.4.5 Desbaste de Competidores ou Eliminação Seletiva ........................................... 47 5.4.6 Indução do banco de sementes do local ............................................................. 47 5.4 .7 Plantio de módulos sucessionais ....................................................................... 47 5.4.8 Plantio de mudas de espécies atrativas para a fauna .......................................... 48 5.4.9 Considerações gerais sobre método de restauração ........................................... 49 Capítulo 6 ........................................................................................................................ 50 6.PLANO DE MONITORAMENTO ............................................................................. 50 6.1 Áreas Contaminadas .............................................................................................. 50 6.2 Processos erosivos ..................................................................................................... 54 6.3 Restauração Ecológica .............................................................................................. 56 6.4 Monitoramento em Restaurações Ecológicas ........................................................... 57 Capítulo 7 ........................................................................................................................ 59 7. FERRAMENTAS DE TRATAMENTO DE DADOS (GEOPROCESSAMENTO, GEOESTATÍSTICA, ESTATÍSTICA) ........................................................................... 59 7.1 Geoestatística ............................................................................................................ 60 7.2 Interpolação de dados ................................................................................................ 60 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 62 3 Capítulo 1 1. CARACTERIZAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS Uma área degradada pode ser definida como uma área que sofreu processos de alteração das suas propriedades ecológicas, físicas e/ou químicas em um ou mais compartimentos ambientais (solo, água, biota). Estritamente do ponto de vista físico e/ou químico, áreas degradadas podem ocorrer em duas formas principais: as áreas degradadas predominantemente por processos físicos e as áreas degradadas predominantemente por processos químicos, que são um caso particular, as áreas contaminadas (CETESB, Manual de Gerenciamento, 2001). Vale ressaltar que, em determinadas áreas, os dois processos podem ocorrer simultaneamente. Figura 1. Área degradada por processos físicos (erosão do solo devido ao desmatamento). Fonte: SENAI, 2012 (Foto de Alexandre de Almeida) É muito comum confundir o significado de degradação e contaminação. No entanto, lembre-se de que uma área contaminada é sempre uma área degradada, mas nem toda área degradada está contaminada. Segue texto descritivo sobre o conceito de áreas degradadas e áreas contaminadas. 1.1. Áreas degradadas O termo área degradada é normalmente encontrado na literatura especializada, principalmente quando se trata de áreas mineradas e de grandes obras civis, incluindo a construção de barragens. A Figura 2 ilustra uma área de mineração e a extensão de degradação que pode atingir esta atividade. 4 Figura 2. Exemplo de Área Degradada pela mineração Fonte: Conama/MMA (www.mma.gov.br) Como exemplos, citam-se os processos erosivos do solo (sulcos, ravinamento e voçorocamento - denominações em função do tamanho do processo erosivo, em ordem crescente); desmatamentos – com a degradação de áreas preservação de matas ciliares e/ou nativas; além de manguezais ou áreas costeiras contaminados por refinarias de petróleo. Em suma, uma área degradada é aquela que sofreu perturbações ecologicamente relevantes em sua integridade. Como regra, ocorrem perdas na estrutura (biomassa) e na função do ambiente (interações entre espécies, conservação do solo e dos recursos hídricos), podendo haver, também, em áreas muito degradadas, comprometimento da capacidade do ambiente se recuperar naturalmente. Nestes casos,a intervenção humana, através da restauração ecológica, é imprescindível. Do ponto de vista ecológico, aspectos mais comuns de áreas degradadas são: i) a destruição da flora e da fauna, havendo perda de biomassa; ii) perda da camada superficial (horizonte A) do solo, que é a sua parte fértil; iii) alterações na qualidade e na vazão do sistema hídrico. Geralmente, estes aspectos decorrem de impactos antrópicos, que proporcionam alterações físico-químicas no solo e na água, como acidificação e perda de matéria orgânica, podem ter implicações biológicas, a exemplo da perda de biodiversidade e de interações entre espécies, como será visto a seguir. A degradação de extensas áreas naturais, terrestres ou aquáticas, pode acarretar em comprometimento de processos ecológicos, também conhecidos como serviços ambientais ou serviços ecossistêmicos, tais como a conservação dos solos e dos recursos hídricos. A degradação também pode resultar em extinções locais de espécies biológicas, afetando a biodiversidade da região, principalmente se os danos ocorrerem na escala da paisagem, geralmente na ordem de centenas de hectares, como tem acontecido na Mata Atlântica e na Amazônia. Muitas paisagens destes biomas, antes recobertas por exuberantes florestas, vêm sendo queimadas e derrubadas. Quando isso ocorre, as espécies que dependem evolutivamente das florestas abandonam a área desflorestada ou morrem, havendo perda de biodiversidade. Devido às intensas chuvas típicas destas regiões, geralmente ocorrem erosões do 5 solo. O escorrimento superficial das chuvas carreia enormes quantidades do solo superficial fértil para os corpos d’água, causando assoreamentos e impactando a biota aquática. As águas ficam lamacentas, diminuindo a entrada de luz, o que compromete a fotossíntese propiciada pelas algas e plantas e, com isso, pode haver redução da quantidade de oxigênio disponível, dificultando a vida aquática. Diminuindo a fotossíntese, a produção primária realizada pelas plantas e algas também pode ser comprometida, o que se repercute negativamente ao longo de toda a teia alimentar da região degradada pelo desmatamento. A perda ou extinção local de espécies legitimamente florestais (que evoluíram nas matas e delas dependem) implica em comprometimento de interações ecológicas, como dispersão de sementes e polinização, que são essenciais para que o ecossistema tenha meios de se restabelecer dos impactos da degradação. Até mesmo a ação de espécies predadoras, conhecidas como ‘organismos reguladores’, é importante. Estas espécies interagem controlando as populações de presas que, sem serem predadas, podem maximizar a degradação. Por exemplo, muitas áreas naturais da Austrália foram (e ainda estão sendo) convertidas em campos que são intensamente pastados por ovelhas (sobrepastejo), uma espécie exótica no continente. O sobrepastejo vem deixando os campos erodidos e os corpos d’água assoreados. A situação se complicou com a introdução dos coelhos, mais uma espécie exótica, que também sobrepasteja as áreas. As ovelhas e os coelhos são espécies que não são predadas, pois os possíveis consumidores carnívoros foram extintos ou estão em tão baixa abundância que não há controle ou interação ecológica efetiva entre presa e predador. Assim, há perdas preocupantes de fertilidade do solo e dos recursos hídricos, que fazem australianos gastarem quantias enormes de dólares para recuperar suas áreas degradadas e controlar os coelhos asselvajados. As ovelhas, que são criadas, estão sendo controladas pelo governo, gerando gastos públicos. O escoamento do solo para os rios e daí para o oceano está danificando e matando a Grande Barreira de Corais, um dos mais notáveis criatórios naturais de peixes do planeta e uma das principais atrações turísticas da Austrália (Diamond, 2010). Em ambientes tropicais e neotropicais, os predadores controlam uma quantidade incrível e muitas vezes imprevista de outras espécies, incluindo pragas agrícolas. Quando há perda por extinção local dos predadores, pode haver explosões populacionais de pragas, o que leva os agricultores a recorrerem mais vezes a pesticidas (agrotóxicos), que podem, por sua vez, contaminar quimicamente o solo, a água e a biota. Dependendo do pesticida, há envenenamento dos seres vivos através da teia trófica – e até do homem – uma espécie que, como toda espécie predadora do topo da cadeia alimentar, geralmente acumula notáveis quantidades de contaminantes químicos. Como visto, para que um ambiente degradado possa se recuperar, é necessário haver interações ecológicas, ou seja, espécies interagindo, polinizando as plantas, dispersando as sementes, controlando o nível de populações. Um ambiente ecologicamente íntegro, por apresentar interações efetivas entre espécies biológicas, presta serviços valiosos para o homem e possui melhores chances de suportar ou se restabelecer de fatores de degradação. A recuperação de áreas degradadas se faz pela definição de um plano, com objetivos de recuperar ou restaurar sua integridade física, química e biológica e, ao mesmo tempo, recuperar sua capacidade produtiva (função). 6 Mais recentemente, a utilização do termo ‘Restauração Ecológica’ para definir intervenções objetivando recuperar a estrutura, a função e a capacidade regenerativa dos ecossistemas, vem sobrepujando o emprego de outros termos mais antigos, como recuperação de áreas degradadas, revegetação, reabilitação etc. A ‘Restauração Ecológica’ se tornou uma área de conhecimento multidisciplinar no campo da Ecologia Aplicada, atraindo atenção dos mais altos níveis governamentais em decorrência dos prejuízos e perdas ocasionadas pela degradação de áreas naturais em todo o planeta. 1.2. Áreas contaminadas Uma área contaminada pode ser definida como uma área, local ou terreno onde há comprovadamente poluição ou contaminação causada pela introdução de quaisquer substâncias ou resíduos que nela tenham sido depositados, acumulados, armazenados, enterrados ou infiltrados de forma planejada, acidental ou até mesmo natural. Nessa área, os poluentes ou contaminantes podem concentrar-se em subsuperfície ou subsolo nos diferentes compartimentos, como por exemplo, no solo, nos sedimentos, nas rochas, nos materiais utilizados para aterrar os terrenos, nas águas subterrâneas. De uma forma geral, em se tratando de áreas contaminadas, além do solo superficial afetado, o meio ambiente subterrâneo é o de maior impacto – envolvendo muitos estudos hidrogeológicos de diagnóstico do problema. A Figura 3 traz, de forma ilustrativa, as distintas camadas ou zonas de um ambiente subterrâneo. Em áreas contaminadas, os contaminantes também podem afetar a vegetação local, causar emissões atmosféricas, além de poderem concentrar-se nas paredes, nos pisos e nas estruturas de construções próximas ou logo acima da contaminação (intrusão de vapores em edificações). No subsolo, a zona insaturada – chamada também de zona vadosa (rasa) ou ainda zona de aeração– situa-se entre a superfície do terreno e a superfície freática e, nesta zona, os poros do solo estão parcialmente preenchidos por gases (ar e vapor d’água) e por água. Por outro lado, na zona saturada situada abaixo do nível freático, todos os vazios do terreno são preenchidos por água. A franja capilar estende-se do nível freático até o limite de ascensão capilar da água – sua espessura depende da distribuição do tamanho dos poros e da homogeneidade do terreno, sendo controlada pela diferença de pressão (tensão superficial) na interface água e solo. Os diferentes tipos de aquíferos existentes, bem como sua conformação (litologia, estratigrafia e estrutura) podem ser estudados em Feitosa, F. A. C. (2008). 7 Figura 3 - Esquema ilustrativodas regiões em um ambiente subterrâneo e as diferentes proporções de água/ar e solo existentes no aquífero. Fonte: Adaptado de Bedient, 1994 Para trabalhar com áreas subsuperficiais ou ambientes subterrâneos contaminados é necessário conhecer hidrogeologia! Na prática de uma investigação ambiental de áreas contaminadas, é realizada, em campo, uma série de procedimentos e ensaios hidrogeólogicos que serão reportados nas etapas de gerenciamento a continuação. Desta forma, sugere-se um maior aprofundamento destes estudos a partir de livros textos-base como Feitosa F. A. C. et. al., 2088; e Fetter C. W., 1993 e 1994 e Maciel Filho, C. L., 2008. Os poluentes ou contaminantes podem ser transportados a partir dos meios supracitados, propagando-se por diferentes vias, como o ar, o próprio solo, as águas subterrâneas e superficiais, alterando suas características naturais de qualidade e determinando impactos negativos e/ou riscos sobre os bens a proteger, localizados na própria área ou em seus arredores (Cesteb, 2001). Segundo a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), são considerados bens a proteger: • a saúde e o bem-estar da população; • a fauna e a flora; • a qualidade do solo, das águas e do ar; • os interesses de proteção à natureza/paisagem; 8 • a ordenação territorial e planejamento regional e urbano; • a segurança e ordem pública. A Figura 4 ilustra potenciais fontes e vias de contaminação de áreas impactadas (industriais ou disposição de resíduos). Figura 4. Ilustração das fontes e vias de contaminação de áreas impactadas (industriais ou disposição de resíduos). Fonte: AHU, 1987, apud CETESB, 2001. O enquadramento de uma área como contaminada é realizado através de uma investigação preliminar e confirmatória, como será visto mais adiante nas etapas de gerenciamento de áreas contaminadas (itens 3.1 e 3.2), com análises químicas dos compostos químicos de interesse (CQI) levantados no local em estudo. Quando estas concentrações dos CQIs ultrapassam os padrões de referência legais de qualidade no meio (ar, solo, água), confirma-se que a área está contaminada. Vale ressaltar que, muitas vezes, em uma inspeção de campo, são verificados indícios táteis e visuais de contaminação (ex. presença de fase livre de produto no solo ou nível freático), o que já pode ser registrado por fotografia. Fontes de Perigo 1 - Vazamento de tanques; enterrados e sistema de tubulação 2 - Valas com barris enferrujados com resíduos tóxicos 3 - Percolações no subsolo de antigos vazamentos 4 - Resíduos abandonados lançados sobre o solo Cenários 5 - Poluição do solo 6 - Poluição de água subterrânea 7- Percolação de poluentes na água subterrânea em direção ao rio 8 - Fluxo superficial e subterrâneo de poluentes em direção ao rio 9 - Arraste de resíduos sólidos tóxicos em direção ao rio+22 10 - Deposição de metais pesados no fundo do rio 12 - Emissão de gases tóxicos 13 - Ação tóxica na vegetação (biota) Medidas de Identificação 31 - Investigação Confirmatória 9 Posteriormente a esta confirmação, prossegue-se com uma investigação detalhada na área e análise de risco toxicológico, a qual irá estabelecer as concentrações meta para remediação, seja no solo ou água subterrânea, que não ofereçam risco à saúde humana ou aos bens a proteger identificados na área em estudo, baseados no uso atual ou futuro - para o caso de áreas contaminadas abandonadas - que serão remediadas para uso definido. 10 Capítulo 2 2. PRINCIPAIS FONTES DE POLUIÇÃO DO SOLO, ÁGUA SUBTERRÂNEA E SUPERFICIAL Um estudo encomendado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), divulgado pelo Jornal britânico The Guardian, aponta que as maiores empresas globais (com ações negociadas nas principais bolsas de valores do mundo) perderiam 1/3 de seus lucros – o equivalente a US$ 2,2 trilhões – se tivessem que arcar com os custos da poluição, mudanças climáticas e outros impactos ambientais (VIALLI, 2010). O levantamento foi realizado em 3000 empresas globais, com o objetivo de mostrar que realmente o mercado não paga nada pelo uso, perdas e esgotamento a que o ambiente é submetido pela atividade econômica. Estes impactos, segundo reportagem, já atingem proporções de crise também econômicas – a partir de perdas em reservas de água, solo fértil, e estoques pesqueiros. Um exemplo é o que ocorreu em 2011 com o setor agrícola da Califórnia (EUA), com a perda estimada de 20 mil empregos e US$ 1 bilhão pela escassez de água. Pode-se dizer que, para alguns estados brasileiros como São Paulo e Minas Gerais, este mapeamento está sendo realizado, seja pelo aumento da consciência ambiental nos diversos setores da sociedade, seja pelo aumento da fiscalização ambiental de órgãos reguladores para determinadas atividades comerciais ou produtivas. O conhecimento ou mapeamento de áreas degradadas é de suma importância para preservação dos insumos ou recursos naturais. Uma relação de cadastro de áreas contaminadas e reabilitadas para, por exemplo, o Estado de São Paulo ou Minas Gerais, respectivamente, é publicada bianualmente no endereço eletrônico da CETESB ou FEAM; neste documento, constata-se os principais grupos de contaminantes e a distribuição por atividade. A CETESB, Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, contabilizou, em dezembro de 2010, a existência de 3661 áreas contaminadas - entre postos de combustíveis, acidentes com fonte desconhecida, resíduos, indústria e setor comercial no Estado. Segundo este relatório da CETESB (2010), os postos de combustíveis estão entre as atividades que mais poluem (79% da contribuição total das áreas), seguidos das atividades industriais (13%), atividades comerciais (4%), instalações para destinação de resíduos (3%) e casos de acidente e fontes de contaminação de origem desconhecida (1%). Esta distribuição percentual das áreas contaminadas se mantém semelhante para o Estado de Minas Gerais (FEAM). A Figura 5 ilustra a distribuição referente ao Estado de São Paulo. 11 Figura 5. Distribuição de áreas contaminadas por tipo de atividade Fonte: Cetesb, 2010. Será que em seu estado ocorre o mesmo perfil de distribuição quanto aos contaminantes e atividades? O pioneirismo no cadastramento de áreas contaminadas destes órgãos reguladores supracitados apresenta-se como exemplo a ser seguido para outros estados – para um mapeamento do problema e priorização de um programa de gerenciamento das áreas contaminadas. O principal grupo de contaminantes encontrados nas áreas registradas, como era de se esperar, é o dos combustíveis líquidos, seguido pelos solventes aromáticos, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), metais e solventes halogenados. De uma forma mais geral, em uma área potencialmente contaminada, pode-se investigar um conjunto de eventuais contaminantes compreendendo as seguintes análises químicas: Compostos Orgânicos Voláteis, estes envolvendo os compostos BTEX (Benzeno, Tolueno, Etil-Benzeno, e Xilenos); Compostos Orgânicos Semivoláteis, HPAs (Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos, PCB (Policlorobifenilas), Pesticidas, Metais, análises microbiológicas etc. A seleção destes parâmetros é indicada em função dos tipos de fontes de contaminantesadvindas do histórico ocupacional da respectiva área. 12 Um indicativo mais provável de contaminantes em uma área pode ser observado na - CETESB (Manual de Gerenciamento, 2001), em que se observa a relação destes contaminantes prioritários em função da atividade ou processo industrial. É necessário ressaltar a importância deste documento, assim como da norma ABNT NBR 10004, de resíduos sólidos, que apresenta os principais contaminantes a serem investigados de acordo com a atividade desenvolvida. Esta pesquisa preliminar dos possíveis contaminantes a serem investigados em uma área, mesmo com base nos documentos supracitados, não implica na não existência de outros compostos que devam ser avaliados na área em estudo. Esta decisão é resolvida, muitas vezes, com um levantamento histórico inicial da área, uma vez que anteriormente à atividade atual, pode ter existido outro tipo de atividade. Cita-se também, para orientar a investigação de potenciais contaminantes em uma área, a ficha de informação de segurança do produto químico – FISPQ – que apresenta informações sobre a composição, características físico-químicas, toxicidade, transporte e, até mesmo, informações sobre o impacto ecológico causado pelo produto químico utilizado no processo ou atividade em questão e seus eventuais subprodutos ou constituintes. Na prática, esta FISPQ pode ser fornecida pela empresa investigada. Este passo de escolha dos parâmetros químicos a serem analisados parece simples, no entanto uma escolha inadequada - sem um plano de amostragem assertivo e representativo - pode comprometer todo o trabalho de investigação. Em se tratando de áreas contaminadas, se o plano de amostragem para solo ou água está fora de foco, a premissa básica está comprometida, e uma análise química de um ponto pode não ser o de maior concentração. Desta forma, pode-se inferir, por exemplo, que uma área não está contaminada ou está com concentrações em níveis aceitáveis, colocando em risco a saúde de eventuais receptores existentes no local. A agricultura intensiva, além das atividades industriais e postos de serviços de combustíveis citados anteriormente, é outra fonte de contribuição para o aumento de passivos ambientais, como o uso de fertilizantes ou agrotóxicos. Cita-se, por exemplo, uma contribuição da agricultura para a contaminação das águas subterrâneas por nitrogênio na forma de nitrato. O nitrato apresenta alta mobilidade na água subterrânea por ser pouco adsorvido e, por isso, pode impactar extensas áreas. A agricultura, além da contaminação propriamente dita, contribui para a degradação das propriedades físicas do solo ou de sua estrutura. Um exemplo típico desta degradação física do solo pela agricultura intensiva é, atualmente, o voçorocamento causado pelas lavouras nos municípios de Goiás, da região centro-oeste do Brasil. Outro impacto ambiental da agricultura é o déficit hídrico causado pela intensa atividade de irrigação. Os impactos causados por atividades de mineração, principalmente minerações de carvão a céu aberto, podem resultar em uma área de influência muito maior que a 13 área de lavra, causando a degradação de recursos hídricos, o que vai refletir em toda a bacia. Neste caso, a oxidação de sulfetos metálicos que acompanham o minério promove a ocorrência de drenagem ácida e a solubilização de metais pesados, podendo trazer consequências danosas para uma área de influência muito além da área de lavra. Ainda assim, ao avaliar a extensão de degradação causada por estas atividades, verifica-se que ela é mínima se comparada ao desmatamento e atividades agropastoris (Tavares, S. R. L., 2008). No Brasil, apesar de não se ter avaliações exatas sobre a extensão de áreas degradadas, algumas estimativas apontam o desmatamento e as atividades agropecuárias como os principais fatores de degradação dos nossos solos – aliado ao déficit hídrico causado pela agricultura intensiva. Busque, no You Tube, uma reportagem do Jornal Hoje do dia 29 de dezembro/2011 em relação a áreas de voçoroca no município de Mineiros em Goiás: “Crateras engolem quilômetros de terras produtivas no Centro-Oeste”. Crateras imensas, chamadas de voçorocas, estão engolindo quilômetros de terras produtivas no Centro- Oeste do país. “É um alerta a todos que se preocupam com o meio ambiente. Do alto, um imenso tapete verde. É lavoura de soja que só acaba na cabeceira de uma voçoroca”. A voçoroca é resultado do desmatamento e do crescimento descontrolado das plantações. “Sempre as consequências são as mesmas: vão assoreando os cursos da água e olha só a morte e o assoreamento de todo o manancial”, diz o delegado Luziano de Carvalho. A delegacia do Meio Ambiente de Goiás sobrevoou nove municípios do estado, localizando 50 voçorocas de todos os tamanhos. Algumas ganharam nome para facilitar a identificação - Uma delas, no município de Mineiros, é a Urtiga. Dentro dela cabem cinco estádios de futebol. Um agricultor gastou R$ 800 mil reais na tentativa de controlar a Chitolina, uma das maiores voçorocas do país, que possui 2,5 km de extensão e até 80 metros de largura. 14 Capítulo 3 3. ÁREAS DEGRADADAS E LICENCIAMENTO AMBIENTAL A Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) - que introduz instrumentos de planejamento ambiental e determina a responsabilização e penalidades para casos de poluição, em seus artigos 2º e 4º - apresenta como objetivo a "recuperação de áreas degradadas e ao poluidor a obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados". Portanto, é importante que as áreas contaminadas sejam enquadradas como um tipo de área degradada, pois assim pode-se utilizar a legislação federal para se obrigar a adoção de medidas de remediação destas áreas que colocam em risco a saúde da população. Em função do crescente aumento do número de áreas contaminadas identificadas ou até mesmo de uma relativa conscientização em melhorias das práticas e indicativos ambientais, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) publicou, em 2009, a Resolução 420, que estabelece critérios e valores orientadores referentes à presença de substâncias químicas no solo e fornece diretrizes e procedimentos para o gerenciamento destas áreas. Neste sentido, a investigação de passivos ambientais tem sido utilizada como fator decisivo em negociações comerciais, principalmente quando relacionada com a aquisição de imóveis e privatizações, visto que a responsabilidade e a obrigação da restauração recaem sobre os novos proprietários, conforme previsto na Lei 13577/09, do estado de São Paulo. Por esta realidade de especulação imobiliária, já vivenciada por vários centros urbanos e, principalmente na cidade de São Paulo, a CETESB (2003) vem se articulando com diferentes segmentos da sociedade, como a Câmara Ambiental da Indústria da Construção, disponibilizando, atualmente, em seu endereço eletrônico, o “Guia para Avaliação do Potencial de Contaminação em Imóveis”. Este documento oferece a necessária orientação para a aquisição de terrenos, evitando problemas ambientais e legais em casos de indícios de contaminação do solo ou da água subterrânea. Constatada a contaminação, procede-se com os planos de recuperação e/ou remediação como medida mitigadora. A Remediação Ambiental, que envolve a aplicação de uma técnica ou conjunto de técnicas em uma área contaminada, visa à remoção da fonte de contaminação, contenção ou redução da concentração dos contaminantes presentes. Muitas vezes, é necessária a eliminação do risco imediato de exposição no local (medidas institucionais ou de engenharia) para assegurar uma utilizaçãosegura da área, com limites aceitáveis de risco aos bens a proteger em cenário específico ou padronizado (CETESB, 2001). Um exemplo de medidas institucionais refere-se à retirada de pessoas da área devido ao risco imediato de explosão pela emissão de vapores, presença de solo contaminado exposto, e a própria restrição da ingestão de água no local. Anteriormente ao plano de remediação, são preconizadas as etapas sequenciais de identificação do passivo, investigação confirmatória e detalhada, conforme será abordado no item 4.3 de gerenciamento de áreas contaminadas. Entretanto, sugere-se já iniciar o estudo destas etapas através do Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas da CETESB, totalmente disponibilizado em seu endereço eletrônico. O 15 mesmo se encontra dividido em módulos, pois pode assim ser continuamente atualizado. O Plano de Revegetação, Recuperação ou Enriquecimento de Vegetação (PREV) ou o PRAD - Plano de Recuperação Áreas Degradadas (NBR ABNT 13030/1999), que teve sua origem no setor de mineração, atualmente já é incorporado a muitos estudos e condicionantes ambientais de órgãos reguladores, e está muito relacionado a aspectos do solo e vegetação, em que pode precisar de estudos geomorfológicos, geoquímicos e de conformação do solo antes da revegetação e consequente estudo da ecologia das espécies botânicas locais. Nem sempre um PRAD deve contemplar apenas plantios. Dependendo da degradação e/ou de condicionantes impostas por órgãos ambientais, outras intervenções devem ser contempladas pelo PRAD, como por exemplo, a necessidade de se fazer taludes, terraplanagens, contenções de processos erosivos e, às vezes, até descontaminações. Em outras situações, pode ser solicitado e/ou necessário dar-se maior ênfase aos plantios, que podem ser planejados em contexto da Restauração Ecológica. Quais as diferenças entre PRAD e PREV? O PREV é apenas um plano de revegetação, que pode ser um simples gramado ou plantio de braquiárias; já um PRAD geralmente envolve intervenções de engenharia, como taludes, terraplanagens e contenções de processos erosivos. Também pode incluir descontaminações do solo (remediação) e plantios mais complexos, podendo haver pretensão de se restaurar o potencial regenerativo da vegetação no contexto da Restauração Ecológica. Os projetos de remediação – termo comumente utilizado para áreas contaminadas– estão muito relacionados às áreas industriais, em que geralmente não se preconiza revegetação posterior, ou áreas urbanas industriais abandonadas, os chamados brownfields, com algum tipo de passivo ambiental. Estas áreas inativas ou abandonadas, muitas vezes, são alvo de projetos para construção de conjuntos habitacionais, condomínios ou residências. (Este tema será abordado a seguir, porém você já pode ir se aprofundando no gerenciamento destes casos em CETESB, 2003 - Guia para avaliação do potencial de contaminação em imóveis, disponível no site da Companhia). Vale ressaltar que a maior contribuição de contaminação por tipo de atividade para a atividade de postos de combustíveis - conforme reportado acima (item 2), do total de áreas registradas no cadastro da CETESB - é o resultado do programa de licenciamento que se iniciou em 2001 com a publicação da Resolução Conama 273/2000. A partir desta resolução, houve uma maior fiscalização desta atividade e, dentre outras ações, a CETESB exige uma investigação confirmatória com o objetivo de verificar a situação ambiental do empreendimento a ser licenciado, bem como a troca de tanques com mais de 15 anos de operação. Em geral, no processo licenciamento de uma área contaminada ou de atividades com potencial de contaminação do meio ambiente, em nível de órgãos reguladores, são solicitados os termos da declaração da existência destas áreas quando da Renovação de Autorização Ambiental de Funcionamento. No caso da Licença ou Renovação de Licença de Operação, é solicitado um Relatório de Avaliação de Desempenho Ambiental, assim como as informações sobre ações de gerenciamento de áreas suspeitas de contaminação ou contaminadas (Gerenciamento de áreas contaminadas, FEAM). 16 Pesquise, em seu Estado, a legislação específica para o tema de áreas contaminadas ou busque em outros Estados que sejam referência, como São Paulo. 3.1 Suporte legal e normas técnicas pertinentes A seguir, será apresentado o suporte legal a nível federal de interesse para o tema de áreas contaminadas e também as normas pertinentes. 3.1.1 Legislação Federal • Resolução Conama nº 420, de 28/12/2009 – Dispõe sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas. • Resolução Conama nº 396, de 03/04/2008 – Dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas e dá outras providências. Como a cidade de São Paulo, notoriamente através da CETESB, órgão responsável pelas ações de controle ambiental do estado, é referência para o setor de áreas contaminadas, vale reportar as respectivas legislações do estado supracitado, a saber: 3.1.2 Legislação Estadual de São Paulo: • Lei Nº 13.577, de 08/07/2009 – Dispõe sobre diretrizes e procedimentos para a proteção da qualidade do solo e gerenciamento de áreas contaminadas. • Decreto nº 54.544, de 08/07/2009 - Regulamenta o inciso XIII do artigo 4º e o inciso III do artigo 31 da Lei nº 13.577, de 8 de julho de 2009, que dispõe sobre diretrizes desta Lei. • Decisão de Diretoria CETESB nº 103-2007-C-E, de 22/06/2007 – Dispõe sobre o procedimento para gerenciamento de áreas contaminadas. 3.1.3 Normas Técnicas O Brasil dispõe de normas técnicas (ABNT) para a recuperação de áreas degradadas pela mineração, como a NBR 13030 (1999), e também para orientar as primeiras etapas do gerenciamento de áreas contaminadas (Investigação Preliminar e Confirmatória), assim como para amostragem de solo e águas subterrâneas. Outras 17 normas técnicas visam orientar preventivamente e estabelecer medidas para o correto manuseio, armazenamento e transporte de produtos e resíduos perigosos (FIEMIG, Gerenciamento de Áreas Contaminadas). ABNT NBR 15515-1 Passivo ambiental em solo e água subterrânea. A norma estabelece os procedimentos mínimos para avaliação preliminar de passivo ambiental visando à identificação de indícios de contaminação de solo e água subterrânea. A norma ABNT indicada, a seguir, para projeto e construção de poços de monitoramento é importante para o setor de áreas contaminadas, uma vez que nos processos de investigação ambiental, os poços são considerados fontes potenciais de contaminação subterrânea caso não possuam um perfil construtivo adequado ou não tenham proteção. ABNT NBR 15495-1 Poços de monitoramento de águas subterrâneas em aquíferos granulados. Norma que estabelece parâmetros para projetos e construção de poços de monitoramento de água subterrânea. ABNT NBR 15847 Amostragem de água subterrânea em poços de monitoramento – Métodos de purga. A norma apresenta os métodos de purga com remoção de volume determinado, purga de baixa-vazão e métodos passivos de amostragem. ABNT NBR 10004 Critérios de classificação e os ensaios para a identificação dos resíduos conforme suas características. A norma classifica os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais para o meio ambiente e à saúde pública, para que possam ser gerenciados adequadamente. ABNT NBR 11174 Armazenamento de resíduos classes II - não inertes e III – inertes procedimento. ABNT NBR 13221 Transporte terrestre de resíduos. EstaNorma especifica os requisitos para o transporte terrestre de resíduos, de modo a evitar danos ao meio ambiente e a proteger a saúde pública. ABNT NBR 12235 Armazenamento de Resíduos Sólidos Perigosos - procedimento. Fixa as condições para armazenamento adequado de resíduos sólidos perigosos de forma a proteger a saúde humana e o meio ambiente. ABNT NBR 14725 Produtos Químicos – Informações sobre segurança, saúde e meio ambiente. Norma que define os termos empregados no sistema de classificação de perigo de produtos químicos, na rotulagem de produtos químicos perigosos e na ficha de informações de segurança de produtos químicos (FISPQ), estabelece as informações de segurança relacionadas ao produto químico perigoso a serem incluídas na rotulagem e informações para a elaboração de uma ficha de informações de segurança de produto químico (FISPQ). 18 Estamos vivendo um “boom” imobiliário e no mercado de construção civil tem-se observado transações comerciais com a aquisição de passivos! Para o empreendedor a palavra de ordem é o prazo e, na maioria dos casos, se existe uma suspeita de contaminação na área, faz-se ou solicita-se uma amostragem do solo e raramente da água subterrânea. Por desconhecimento ou agilidade para negociação, o problema futuramente pode se tornar mais grave, haja vista o que ocorre atualmente em São Paulo, onde centros comerciais (Shopping Center Norte) foram construídos em cima de lixões ou áreas industriais abandonadas. Muitos casos são emblemáticos, envolvendo famílias que sonhavam com a casa própria e acabaram adquirindo imóveis assentados sobre verdadeiros coquetéis de rejeitos químicos industriais, cujas emanações passaram a constituir verdadeiras ameaças à sua saúde, transformando a antiga esperança da casa própria em pesadelo (CETESB, 2003 – Guia para avaliação potencial de contaminação em Imóveis). Cita-se, também, a título de informação, os conjuntos habitacionais Jardim Juliana e Palmeiras II, em Ribeirão Preto, que enfrentam problema semelhante ao que vem ocorrendo com o shopping Center Norte, na capital paulista. Esta dinâmica dos brownfields (áreas industriais contaminadas abandonadas) está muito bem discutida no Seminário Internacional sobre Remediação e Revitalização de Áreas Contaminadas (Moeri, E. N. et. al., 2007), realizado pelo Instituto EKOS Brasil em parceria com a GTZ – Agência Alemã de Cooperação técnica, em que se tem o estado da arte, abordagens técnicas e de gestão, além de experiências bem sucedidas tanto no Brasil quanto internacionalmente. Este Seminário foi organizado inicialmente em 2002 e, nesta época, os casos polêmicos de passivos ambientais como o do Aterro Mantovani, Barão de Mauá, Recanto dos Pássaros e Vila Carioca ocuparam as manchetes da grande imprensa. O intuito do Seminário tem sido juntar consultores, empresas industriais, academia, e órgãos ambientais estaduais para apresentar casos de experiências práticas nacionais e internacionais bem-sucedidos em diagnosticar e remediar áreas contaminadas, debater metodologias e comparar abordagens de gestão estratégica (pública ou privada) dos passivos ambientais nos diversos países – e que contribuem para o progresso da gestão ambiental no âmbito do desenvolvimento urbano. Já foram realizados 08 encontros, tendo o último (VIII Seminário Internacional Sobre Remediação e Revitalização de Áreas Contaminadas), ocorrido em Outubro de 2012. Todos os seminários podem ser encontrados no site do instituto EKOS Brasil ou também na biblioteca do SENAI. 19 Capítulo 4 4. METODOLOGIAS DE INVESTIGAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS 4.1 Metodologias de Investigação de Áreas Contaminadas As diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas abrangem o solo e o subsolo, com todos seus componentes sólidos, líquidos e gasosos. Já os critérios para prevenção, proteção e controle da qualidade das águas subterrâneas possuem legislação específica (Conama 420/09). O gerenciamento de áreas contaminadas (ACs) tem como objetivo minimizar os riscos ou minimizar riscos aceitáveis aos quais a população e o meio ambiente estão sujeitos pelas diversas vias de exposição e compartimentos ambientais (solo, ar, água) em vista de um cenário real ou potencial para cada tipo de contaminação e receptores (homem, rios, lagos, nascentes, biota) envolvidos. Este gerenciamento compreende um conjunto de medidas ou técnicas que asseguram o conhecimento das características da área e dos impactos associados, proporcionando os instrumentos necessários à tomada de decisão quanto às formas de intervenção mais adequadas (CETESB, Manual Gerenciamento, 2001). A estratégia ou metodologia utilizada no gerenciamento de ACs é constituída por etapas sequenciais, em que a informação obtida em cada etapa é a base para a execução da etapa posterior, com o objetivo de otimizar recursos técnicos, econômicos e promover uma caracterização adequada da extensão da contaminação. A identificação e a recuperação constituem a base dos dois processos para o gerenciamento de ACS. O processo de identificação de áreas contaminadas tem como objetivo principal a localização das áreas contaminadas, sendo constituído por quatro etapas: • Definição da região de interesse; • Identificação de áreas potencialmente contaminadas; • Avaliação preliminar e a • Investigação confirmatória (CETESB, 1999). No entanto, este processo inicial está muito associado ao registro ou cadastramento de áreas potencialmente impactadas pelo setor público e, a partir dos levantamentos – através das características da fonte de contaminação (tipo de contaminante, tamanho da fonte de contaminação), as vias de transporte dos contaminantes e a importância dos bens a proteger – procede-se com uma priorização de áreas. Por outro lado, na 20 prática de consultoria ambiental, as etapas de investigação preliminar e confirmatória, muitas vezes, são realizadas conjuntamente e de forma mais dinâmica. O processo de recuperação de áreas contaminadas tem como objetivo principal a adoção de medidas corretivas nessas áreas que possibilitem recuperá-las para um uso compatível com as metas estabelecidas a serem atingidas após a intervenção, adotando-se, dessa forma, o princípio da “aptidão para o uso”. Esse processo é constituído por seis etapas, a saber: • Investigação detalhada; • Avaliação de risco; • Investigação para remediação; • Projeto de remediação; • Remediação; • Monitoramento para reabilitação para uso declarado. Todas as etapas do gerenciamento de áreas contaminadas, desde o cadastramento até o encerramento do caso com a área apta para uso declarado, após a remediação e monitoramento, são ilustradas no fluxograma abaixo (Figura 6). 21 Figura 6. Fluxograma ilustrativo das etapas de uma investigação e remediação ambiental. Fonte: www.cetesb.sp.gov.br De acordo com a execução das etapas do processo de identificação e do gerenciamento de AC, em função do nível de informação existente referente a cada uma das áreas em estudo, as mesmas podem ser classificadas ou reclassificadas como: áreas potencialmente contaminadas (AP), áreas suspeitas de contaminação (AS) ou áreas contaminadas (AC). Estes conceitos podem ser estudados na íntegra e de forma mais aprofundada no Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas (CETESB, 2001). Segundo a Resolução do Conama 420/09, o gerenciamento de áreas contaminadas, similarmente ao Manual da CETESB, compreende as seguintes etapas: Identificação: Serão identificadas áreas suspeitas de contaminação com base na avaliação preliminar e, para aquelas em que houver indícios de contaminação,deve ser realizada uma investigação confirmatória. Diagnóstico: Inclui a investigação detalhada e avaliação de risco, com objetivo de subsidiar a etapa de intervenção após a investigação confirmatória que tenha identificado substâncias químicas em concentrações acima do valor de investigação. Intervenção: Execução de ações de controle para a eliminação do perigo ou dedução a níveis toleráveis dos riscos identificados na etapa de diagnóstico, considerando o uso atual e futuro da área. Monitoramento: acompanhamento e verificação da eficácia das ações executadas. O responsável por uma área contaminada, seja por exigência legal ou através de diagnóstico para aquisição, venda ou levantamento voluntário, deverá comunicar ao órgão ambiental o inicio da execução de cada etapa de investigação ambiental, bem como apresentar os estudos correspondentes imediatamente após a conclusão de cada etapa. 4.1.1 Avaliação Preliminar - Fase I A avaliação preliminar é realizada através de um levantamento de informações disponíveis e visíveis na inspeção de campo, de modo a subsidiar o desenvolvimento das próximas etapas do gerenciamento de AC (Investigação Confirmatória). Recomenda-se uma planilha de campo (Visita Inicial) que funciona como um checklist para o levantamento a ser realizado. Já existe uma planilha para este objetivo de acordo com a Norma ABNT NBR 15515 – Avaliação Preliminar. É importante também, nesta etapa, sempre verificar a necessidade da adoção de medidas emergenciais na área. Adicionalmente, é realizado um levantamento histórico de uso e ocupação da área (entrevistas na vizinhança, funcionários da empresa); Relatos de antigos funcionários ou atuais; Reformas realizadas na área; Licenças ambientais; Documentos legais; Análise multitemporal de fotos aéreas; estudos anteriores na área. O perfil geológico do terreno – de suma importância para previsão de vulnerabilidade do aquífero local e do transporte de contaminantes em subsuperfície – pode ser obtido a partir de dados secundários, como por exemplo, no Serviço Geológico do Brasil (CPRM). 22 Os dados coletados devem ser interpretados com o intuito de formular hipóteses sobre as características da fonte de contaminação, as prováveis vias de transporte dos contaminantes (meios por onde podem se propagar), a distribuição espacial da contaminação e os prováveis receptores ou bens a proteger atingidos. Dessa forma, pode-se estabelecer um modelo conceitual inicial da área (Modelo Conceitual de Risco). Caso sejam encontrados indícios de contaminação, a avaliação deverá prosseguir de forma mais aprofundada, dando início à investigação confirmatória e, neste caso, o Modelo Conceitual de Risco é revisado ou atualizado a cada etapa de investigação e confirmação ou não da contaminação, conforme ilustrado na Figura 7. O modelo conceitual de risco, definido após a investigação preliminar, constitui-se numa síntese das informações obtidas, devendo representar a situação da área quanto à possível contaminação existente e sua relação com a vizinhança, incluindo os bens a proteger nela existentes. Tal modelo pode ser documentado através de texto explicativo ou representado por uma ilustração em que se encontram identificados as fontes de contaminação, os bens a proteger, as vias de transporte e as possíveis vias de exposição entre os poluentes provenientes da área e os bens a proteger (Manual de Gerenciamento, CETESB, 2001). Sempre que for realizar uma inspeção de campo para caracterização de uma área, é de suma importância mapear ou verificar: ● Vapores em níveis explosivos – medido com explosivímetro ou outros equipamentos portáteis de campo para medição de vapores orgânicos - presentes em sistema(s) de utilidade(s) subterrânea(s) ou construção, residência potencialmente afetadas (para adoção de medidas emergenciais); ● Fase Livre de produto, por exemplo de combustível, pode estar presente na superfície do solo, em corpos d’água superficiais, em outras linhas de utilidades ou em poços de monitoramento de água; ● Habitat sensível (rios, nascentes, manguezais, restinga, mata atlântica, áreas de produção de alimentos etc.), áreas de proteção ambiental ou receptores sensíveis (espécies economicamente importantes, espécies em perigo ou ameaçadas) impactados ou afetados no interior ou proximidades; ● Um poço de captação e produção de água em operação, uma linha de abastecimento de água ou uma captação superficial de água para consumo humano estão impactados ou potencialmente ameaçados. Toda a itemização ou checklist a ser verificado em uma inspeção de campo para caracterização de uma área potencialmente impactada pode ser consultado na Norma ABNT NBR 15515 – Avaliação Preliminar. Estes itens de inspeção inicial também podem ser vistos de uma forma resumida em FIEMG (Gerenciamento de Áreas Contaminadas). A Figura 7 ilustra um cenário de risco hipotético comumente encontrado em sites contaminados. 23 Figura 7. Cenário hipotético de fontes de contaminação, bem como vias de exposição e receptores potenciais. Fonte: Maranhão et al., 2007 4.1.2 Investigação Confirmatória - Fase II O que fazer? Após o levantamento e mapeamento preliminar de caracterização da área em estudo e as possíveis áreas-fonte, bem como os riscos identificados em relação aos receptores existentes e potenciais no site e circunvizinhança, esta etapa de investigação tem como objetivo confirmar ou não a existência da contaminação de origem antrópica nas áreas suspeitas. Esta Investigação confirmatória, na prática de consultoria, (e não para cadastro de áreas contaminadas) muitas vezes é realizada juntamente com a preliminar, em que a confirmação da contaminação é alcançada a partir da amostragem do solo e da água (subterrânea, e superficial quando necessário) e análises químicas. A partir dos resultados das análises químicas, confirma-se ou não se as concentrações encontradas no local investigado estão acima dos padrões legais de referência – como exemplos, a Portaria de Potabilidade 2914/2011 e Conamas 357/05, 396/08, 420/09. Para a amostragem do solo e água subterrânea, deve-se proceder com um plano de amostragem em função dos levantamentos preliminares da área e possíveis áreas- fontes. Uma amostra é uma análise pontual e deve ser justificada tecnicamente sua localização e objetivo. Eventualmente, pode ser necessária a amostragem da água superficial no local ou proximidades da área em estudo. Anteriormente à amostragem de solo e água subterrânea, podem ser realizados vários serviços, a partir dos métodos Screening e Geofísicos. iluastrados na Figura 8, na área a ser investigada para subsidiar a assertividade nos pontos de coleta de amostras de solo (através de sondagens de reconhecimento) e instalação de poços de monitoramento para amostragem da água subterrânea. Estes métodos Screening e Geofísicos podem ser estudados no Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas. Um exemplo prático para áreas contaminadas por derivados de petróleo, como para os postos de serviços ou combustíveis, é o mapeamento screening através de um detector portátil de vapores orgânicos no solo superficial. Estes vapores orgânicos (VOC) podem ser mapeados, 24 uma vez que os compostos mais voláteis da gasolina ou óleo diesel, como os BTEX (Benzeno, Tolueno, Etil-benzeno e Xilenos), acumulam-se nos poros vazios da zona insaturada do solo superficial. O mapeamento das concentrações de vapores orgânicos (Soil Gas Survey) no solo superficial auxilia na melhor localização dos furos de sondagem de reconhecimento para estas áreas, para o plano de amostragem, além do julgamento profissional para a área como um todo. Figura 8 - Fluxograma ilustrativode uma etapa de investigação confirmatória Fonte: www.cetesb.sp.gov.br Após a confirmação da contaminação, pode-se realizar a proposição de uma investigação detalhada para a área, juntamente com uma Avaliação Risco Específica para a Área (Etapa 2 ou Tier 2) – de acordo com a metodologia ASTM, American Society for Testing and Material (1998), Standard Provisional Guide for Risk-Based Corrective Action -, principalmente tendo em vista os riscos observados para os receptores reais no site ou potenciais, de acordo com a verificação da taxa de transporte dos contaminantes. Na prática de consultoria, existem softwares específicos (RBCA – Risk-Based Corrective Action) para o cálculo e estabelecimento das concentrações meta aceitáveis (CMAs) que não oferecem risco aos receptores identificados e potenciais na área em estudo (residentes, trabalhadores comerciais ou de obras, ou receptores ecológicos). A CETESB, com base nestas metodologias de análise de risco toxicológico à saúde humana, já estabeleceu alguns valores específicos padronizados para o estado de São Paulo, inclusive para postos de serviços de combustíveis. As planilhas de risco - ACBR - estão disponibilizadas no site da CETESB. O uso de legislações internacionais deve ser evitado como critério de qualidade, uma vez que não representam ou caracterizam as condições ambientais e hidrogeológicas locais. As mesmas devem ser utilizadas como sugestão de avaliações futuras em relação a um risco potencial para a área, dependendo de cada caso, quando não se tem nacionalmente o limite legal para determinado parâmetro. Os valores de investigação, de acordo com o Conama (420/2009), são as concentrações de determinadas substâncias no solo ou água subterrânea acima da qual existem riscos potenciais, diretos ou indiretos, à saúde humana e, desta forma, 25 confirmam a contaminação. Estes valores de investigação do CONAMA 420, para a CETESB, 2001 - Valores Orientadores, são chamados de valores de intervenção. No entanto, a despeito destas denominações distintas pelas respectivas legislações, são utilizados com o mesmo objetivo: inferir a contaminação ou não da matriz em questão, solo ou água subterrânea, e a proposição de um plano de intervenção ou monitoramento, de acordo com o cenário de risco aceitável observado. De forma complementar, a seguir, são reportados, resumidamente, os serviços demandados em uma investigação confirmatória: – Envolve a realização de sondagens de reconhecimento do solo, em áreas prioritárias de acordo com o potencial de existência da contaminação, para amostragem de solo e instalação de poços de monitoramento para amostragem da água subterrânea – Estes pontos de amostragem, geralmente, estão perto dos receptores potenciais ou das áreas-fonte e à jusante das mesmas de acordo com a direção de fluxo da água subterrânea, pontos na divisa da empresa e corpos de d’água superficiais vulneráveis; – Análises químicas específicas (compostos orgânicos voláteis, semivoláteis, organoclorados, metais, análises microbiológicas etc.) em função do tipo de fonte ou fontes de contaminantes – conforme levantamento preliminar realizado na área em estudo – priorização de custos; – Obtenção e interpretação de dados hidrogeológicos (ensaios de permeabilidade, amostragem geotécnica) e levantamento topográfico básico para previsão dos riscos associados e extensão de área impactada; – A finalidade é confirmar ou não a existência de contaminação nas áreas-fonte potenciais/meio físico; – No caso de concentrações acima dos valores de investigação, o proprietário comunica ao órgão ambiental e, assim, tem-se inicio o processo de investigação detalhada para a remediação ou reabilitação da área contaminada para uso declarado. Sempre, quando identificada presença de produto em fase livre, o responsável pela área deverá elaborar um plano de remoção da mesma de forma imediata e, posteriormente, um plano de remediação da área, além da comunicação ao órgão ambiental pertinente. Os serviços para uma investigação ambiental são especializados, possuem normas específicas e demandam experiência técnica e de campo. Desta forma, deve-se prezar pela contratação de uma empresa idônea para garantia da qualidade dos serviços e principalmente dos resultados obtidos e interpretados. A ABAS (Associação Brasileira de Águas Subterrâneas) já possui uma rede de empresas qualificadas e credenciadas para prestação de serviços em hidrogeologia e águas subterrâneas. Esta associação acredita que a qualificação das empresas provocará grandes mudanças no mercado, incentivando o controle e fiscalização mais eficientes das empresas do setor, favorecendo a utilização racional do precioso manancial subterrâneo. Um poço de monitoramento mal-instalado pode ser uma fonte de contaminação para o nível freático. 4.1.3 Investigação Detalhada e Projeto de Remediação Constatada a contaminação no solo ou água subterrânea, deverá ser realizada uma investigação detalhada na área e análise de risco. Resumidamente, os estudos que 26 compreendem uma investigação detalhada deverão indicar toda a distribuição espacial dos contaminantes nos meios físicos envolvidos para subsidiar a avaliação de risco à saúde humana (ASTM, 1995) e definição do projeto de remediação da área contaminada, em função do uso atual e futuro. A análise de risco para uma área contaminada estabelece as concentrações máximas permitidas (para solo ou água subterrânea) que não oferecem risco ao cenário identificado, com base na fonte de contaminação, vias de exposição (Ex. contato dermal, inalação de vapores, ingestão) e receptores locais. Este cenário poderá ser diferente para cada área estudada, e a partir da análise de risco serão estabelecidas as CMA – Concentrações-Meta Aceitáveis para a remediação. A definição do projeto de remediação dependerá do tipo de contaminação identificada e a forma de gerenciamento da mesma. Uma investigação detalhada de um projeto de remediação realizada previamente é bem complexa e carece de conhecimento e de experiência prática na área. Desta forma, os estudos para a execução dos serviços ambientais nesta etapa de gerenciamento devem ser aprofundados. Documento de referência em nível de Brasil é o Manual de Áreas Contaminadas da CETESB, com suporte legal a partir da publicação da Resolução do Conama 420/09. A avaliação de risco toxicológico é baseada na metodologia RBCA (Risk Based- Corrective Action), que foi desenvolvida pela ASTM (AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIAL), sendo que, para o cálculo das CMA (Concentrações Meta Aceitáveis para a remediação), são utilizados modelos matemáticos, como por exemplo, o software RBCA Tool Kit for Chemical Releases v. 2,5 (da Groundwater software, dos EUA). Também existe a metodologia desenvolvida pela USEPA (Agencia de proteção ambiental dos Estados Unidos), dentro da filosofia do Superfund – CERCLA, Risk Assessment Guidance for Superfund (1989). Este documento funciona como uma orientação do processo e diretrizes da análise toxicológica de risco à saúde humana. Um estudo mais aprofundado das aplicações da análise de risco ao ambiente e à saúde humana em decisões de remediação pode ser observado em Guiseppi, E. A. et al (2007). O programa Superfund norte-americano é um fundo para financiar a remediação de áreas contaminadas quando não são identificados facilmente os responsáveis (áreas contaminadas abandonadas). Este é um problema econômico enfrentado no Brasil, porém o governo federal já estuda a criação de fundos de financiamento nos moldes Superfund dos EUA. A seguir, tem-se como exemplo uma itemização básica de um Plano de Remediação de uma Área Contaminada – PRAC (FIEMIG apud DN Conjunta COPAM/CERH nº 02/10):• Ações Institucionais; • Medidas de controle ou eliminação das fontes de contaminação; • Caracterização do uso do solo atual e futuro da área objeto e sua circunvizinhança; • Resultados da avaliação de risco à saúde humana; • Avaliação técnica e econômica das alternativas de intervenção em função da massa de contaminantes existentes e suas consequências, da eficiência; • Prazos envolvidos na implementação das ações de intervenção propostas para atingir as metas estabelecidas; • Projeto da alternativa de intervenção selecionada; 27 • Programa de monitoramento das ações executadas; • Necessidade de medidas de restrição quanto ao uso; • Anotação de Responsabilidade Técnica. Estudos de casos nacionais e internacionais dos setores público, privado e acadêmico podem ser encontrados na série de livros do Seminário Internacional sobre Remediação e Revitalização de Áreas Contaminadas, do Instituto Ekos Brasil - GTZ/Grupo Ecogeo, ou podem ser consultados todos os artigos na íntegra no seguinte endereço eletrônico: http://www.ekosbrasil.org/seminario/default.asp. . 4.2 Processos Erosivos A erosão representa um conjunto de ações, incluindo a desagregação, o transporte e a deposição das partículas de solo causada por agentes erosivos, tais como o gelo, o vento, a gravidade e a água. (BERTONI E LOMBARDI NETO, 1985). Foi na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo em 1972, o primeiro momento em que o tema erosão, suas causas e consequências foi abordado pela comunidade internacional. Desde então, a erosão, juntamente com a erodibilidade, vem sendo estudada em diversas áreas de conhecimento, como Agronomia, Geologia, Geografia e Engenharia Civil (Hidráulica e Geotecnia) (Lacerda et al. 2001, Guerra 2002). Através da influência das ações antrópicas, o impacto inicial sobre o solo, através da ruptura do equilíbrio natural do meio, acarreta o desajuste progressivamente incrementado pelas formas de uso e ocupação das terras. A erosão natural, própria da evolução da paisagem, cede lugar à erosão acelerada, resposta do meio na busca de novas condições de estabilidade. Nesse contexto, dois conjuntos básicos de fatores condicionam os processos erosivos: o natural, referenciando o meio físico por meio de clima, substrato rochoso, relevo e solo, e o antrópico, representado pelas formas de ocupação e uso das terras, extremamente variado ante as muitas possibilidades criadas pelas atividades humanas (Stein, 1987). A erosão do solo ocorre em função de diversos fatores e todos interligados. Os principais fatores são: o potencial erosivo das precipitações (energia cinética de impacto das gotas d´água e do escoamento superficial); a suscetibilidade à erosão do solo quanto ao impacto e ao escoamento; a topografia, representada pelo comprimento e declividade do terreno; a taxa de cobertura vegetal do solo e práticas conservacionistas (Tommaselli et al., 1999). O estudo desses fatores permite a elaboração de modelos prognósticos que são importantes para a prevenção e controle de processos erosivos. Uma das metodologias mais utilizadas é a Equação Universal de Perdas de Solos - USLE (Wishmeier & Smith, 1978). A EUPS foi desenvolvida em 1954, pelo National Runoffand Soil Loss Data Center e pela Agricultural Research Service em colaboração com a Universidade de Perdue (USA) e revisada por Wischmeier& Smith (1965 e 1978), incorporando novos dados 28 tais como: (a) índice de erosão de chuva; (b) um método para avaliar os efeitos do manejo de uma cultura levando em consideração as condições climáticas; (c) um fator quantitativo de erodibilidade do solo; (d) um método que leva em consideração os efeitos da associação de certas variáveis, tais como nível de produtividade, sequência de culturas e manejo dos resíduos (BERTONI & LOMBARDI NETO, 2008). A EUPS é descrita pela seguinte equação (WISCHMEIER & SMITH, 1978): Onde “A” é a perda de solo, em ton/ha.ano; “R” é o fator de erosividade das chuvas, em Mj.mm/ha.h.ano; “K” é o fator de erodibilidade do solo, em ton.h/Mj.mm; “L” é o fator comprimento de rampa (m); “S” é a declividade (%); “C” é o fator uso e manejo (adimensional) e “P” é o fator práticas conservacionistas (adimensional). A modelagem da erosão do solo é uma forma de descrever matematicamente o processo de desprendimento, transporte e deposição de partículas. Assim, torna-se uma ferramenta eficaz para avaliar as estratégias de ação a serem adotadas visando ao controle da degradação dos solos. Em termos de procedimentos práticos, a investigação das ocorrências de processos erosivos consiste na sequência das etapas de: • Trabalho em gabinete ou escritório; • Investigação de campo • Execução dos ensaios de laboratório. A etapa dos trabalhos em gabinete ou escritório incide no levantamento de dados sobre a área a ser trabalhada. Contempla a construção de um arcabouço teórico das variáveis que são importantes como: Geologia da área, Pedologia, cobertura vegetal, tipo climático e comportamento meteorológico (período chuvoso, período seco, amplitude térmica, precipitação pluviométrica e regularidade das chuvas). Deve-se, durante essa etapa, buscar informações nas literaturas clássicas e em artigos científicos. Outro passo importante nessa etapa é a construção de uma base de dados espaciais, composta por mapas temáticos, fotografias aéreas, imagens de satélite e base cartográfica em escala compatível com o objetivo do trabalho. Aspectos topográficos e geomorfológicos são imprescindíveis para a compreensão do sistema natural, bem como para identificação, cadastramento e monitoramento dos focos erosivos. O planejamento para a etapa seguinte, investigação de campo, deve ser apoiado em documentos cartográficos visando: • Calcular itinerários, otimizando tempo; • Combinação de informações necessárias para elaboração de mapa de suscetibilidade à erosão; • Realizar estimativa de potencias fatores de risco para equipe de campo; A investigação de campo consiste na visita aos focos erosivos ou nas áreas com maior suscetibilidade à erosão. Durante esta etapa, deve-se efetuar: • Cadastramento do posicionamento geográfico dos focos erosivos através de Sistema de Posicionamento Global GPS. • Fazer a classificação do processo erosivo; A= R x K x L x S x C x P 29 • Fazer um descritivo das características do foco erosivo (dimensão, profundidade); • Fotografar o foco erosivo; • Coletar amostra do solo ao longo da vertente (quando necessário). Os ensaios laboratoriais contemplam a etapa posterior aos trabalhos de campo quando há a necessidade de se coletar amostras do solo da região em estudo visando à realização de ensaios laboratoriais para a caracterização do material coletado e à avaliação direta e indireta de erodibilidade. A necessidade e aprofundamento dos ensaios irão depender de cada situação a ser investigada. Alguns empreendimentos, para obter licença ambiental para a sua instalação, têm que elaborar um programa de monitoramento de processos erosivos, devido à exigência do órgão ambiental. 4.3 Métodos Investigativos em Restauração Ecológica A restauração ecológica de uma área degradada visa restabelecer a diversidade e composição da estrutura da vegetação e suas funções no ecossistema que ocupava aquele local originalmente. O objetivo deste processo é copiar a dinâmica dos ecossistemas específicos. Segundo Engel e Parrota (2003), restauração florestal é a ciência, arte e prática de assistir e manejar a recuperação da integridade ecológica de ecossistemas, incluindo um nível mínimo de biodiversidade e de variabilidade na estrutura e funcionamento dos processos ecológicos, considerandoseus valores naturais, econômicos e sociais. Entretanto, áreas muito degradadas e distantes de fontes de colonização de fauna e flora podem apresentar sérias limitações quanto a sua capacidade regenerativa, sendo mesmo improvável que a Restauração Ecológica seja capaz de lhe restituir certas características originais do ecossistema primitivo. Nestas condições, mesmo tornando- se diferente do ambiente original, a Restauração pode ser efetiva em recuperar funções ecológicas. Por exemplo, ocorrendo restituição de fertilidade no solo, através do acúmulo e incorporação de biomassa vegetal, em âmbito da ciclagem de nutrientes, ou ainda, conservando recursos hídricos, evitando o escorrimento superficial da água da chuva causando a lixiviação do solo e o assoreamento de corpos d’água adjacentes. Nem sempre uma área restaurada, conservando solo e recursos hídricos, consegue ter capacidade regenerativa. Se as condições de vida para a flora e fauna nesta área forem precárias, havendo solo infértil, terrenos muito íngremes, ausência de fontes de colonização da fauna e da flora e, principalmente, contaminações químicas no solo, há grande chance do ambiente não se regenerar, mesmo sendo restaurado inicialmente com plantios diversos de espécies nativas. Nestes casos, se não houver colonização de mais plantas, com o envelhecimento e morte dos espécimes plantados, a tendência é que a área volte a se degradar com chuvas e erosões, havendo necessidade de mais intervenções, com mais gasto de recursos financeiros e humanos. Um das frentes de maior importância em Restauração é o desenvolvimento de métodos que proporcionem capacidade regenerativa ao ambiente degradado, de maneira que os gastos com as intervenções sejam mínimos, mas os ganhos em termos de i) aporte de biomassa (estrutura), ii) função (serviços ecossistêmicos) e iii) regeneração natural (em contexto da sucessão ecológica), sejam máximos. 30 Entretanto, a recuperação de áreas degradadas tem resultado principalmente em comunidades simplificadas, que muitas vezes não mantêm capacidade regenerativa. Atualmente, com a preocupação sobre a diversidade biológica, o restabelecimento de espécies e comunidades tem se transformado em uma das principais metas dos planos de recuperação (Primack & Rodrigues 2001). A ecologia da restauração pode ser vista como uma metodologia experimental, em que se descobre se sua teoria básica e prévia está correta com a implantação do projeto e sua manutenção. Trabalhos semanais de restauração de áreas degradadas tiveram origem em intervenções de caçadores esportivos dos Estados Unidos, buscando melhorar o habitat para caça. Estas intervenções até hoje são usuais e conhecidas como Melhoramento de Habitat. Infelizmente, este histórico vem sendo esquecido e muitos projetos de recuperação de áreas degradadas não levam em conta o fornecimento de habitat e de alimentos para a fauna. Identificar os fatores limitantes da regeneração natural, caracterizando o potencial de uma área ser restaurada, é a primeira etapa em um projeto de recuperação de áreas degradadas. Este diagnóstico é fundamental para orientar as formas de se intervir ou manejar o ambiente degradado através de restauração. O diagnóstico também pode ser chamado de ‘coleta de informações de referência’ ou caracterização como ‘marco zero’, ou seja, o diagnóstico deve caracterizar as condições bióticas e abióticas do local degradado, de maneira que os métodos de restauração a serem escolhidos sejam adequados, mas não é só isso, o diagnóstico é importante para se registrar as condições de conservação do ambiente e, assim, permitir comparações entre o estado de conservação antes e depois da intervenção. Muitas vezes, é possível que haja uma avaliação adequada do ambiente original de uma área degradada, analisando áreas do entorno, que ainda se mantiveram mais íntegras ecologicamente (conservadas). Assim, pode-se projetar a restauração para que seus resultados se aproximem das condições dos remanescentes naturais e, caso isto ocorra, pode-se considerar que a restauração foi efetiva, ou seja, obteve sucesso. Ao se elaborar o diagnóstico, é importante abordar os seguintes aspectos. i) Como era o ambiente original? Que tipo de ambiente era? Floresta, campo rupestre, cerrado, caatinga. Que tipo de floresta, de cerrado, de restinga? Etc. ii) Trata-se de uma vegetação ciliar? O solo é originalmente raso, hidromórfico, pedregoso ou ácido? Qual é o tipo de solo original? Seria fértil? Quais suas características originais? 31 iii) Como é o clima da região? Considerando que a vegetação é uma expressão do solo e do clima, haveria alguma limitação edáfica (solo) ou climática (ventos, temperaturas, pluviosidade, insolação) que restringiria a exuberância da vegetação e que poderia, ainda, limitar a restauração da área? iv) Há relatos ou documentos antigos, por exemplo, registros do estado de conservação da área ora degradada? Há estudos, fotos, imagens de satélite, análises antigas e recentes do solo, considerando a fertilidade e seus aspectos estruturais? Há históricos da ocorrência de pragas, como formigas cortadeiras, lagartas, lebres, coelhos ou capivaras? Algum tipo de gado pode invadir a área? v) Quais teriam sido os impactos ambientais que levaram à degradação da área? Corte total da vegetação ou corte apenas seletivo? A área já foi pasto ou plantação? O solo fértil (horizonte A) foi removido ou tem sido exposto a queimadas, ficando pobre e ácido? Houve erosão? Houve contaminação do solo? Houve depósito de entulhos de construção? O solo está compactado? vi) Há vegetação na área degradada? Que tipo de vegetação é? Em que estágio de regeneração natural (sucessão) ela se encontra: pioneiro, inicial, médio ou avançado? Qual a aparência das plantas? Parecem bem nutridas ou se apresentam com folhas murchas, com manchas tipo ferrugem e com pragas? Há reprodução das plantas (frutos)? Há bancos de plântulas nascendo? As espécies que ocorrem são típicas de sol (heliófitas) ou são de sombra, típicas de florestas (umbrófilas). vii) Há fontes de colonização de biodiversidade no entorno? Estão distantes? Estão bem conservadas? São remanescentes grandes e bem conservados ou são pequenos fragmentos empobrecidos? De forma geral, as chances de sucesso com a restauração de áreas degradadas aumentarão quando as fontes de colonização estiverem mais próximas, quanto maiores elas forem (em unidade de área) e quanto melhor conservadas estiverem. viii) Há espécies da fauna que possam interagir ecologicamente com as plantas quando da restauração, por exemplo, polinizando flores e dispersando sementes (como artrópodes, aves, morcegos, primatas? As espécies da fauna nos remanescentes naturais de entorno são espécies típicas de ambientes bem conservados ou são tolerantes a ambientes degradados? ix) Como é a paisagem onde se inserem a área degradada e os remanescentes naturais? Ela seria permeável aos organismos, de maneira que as espécies dos remanescentes possam transitar, colonizando a área a ser restaurada? x) Considerando a dinâmica de escorrimento de águas superficiais, topografia, origem e presença de corpos d’água e vulnerabilidade a processos erosivos, como é a geomorfologia da área degradada e do seu entorno? xi) Qual o enquadramento legal da área degradada, ou seja, como ela se caracteriza no que tange à legislação ambiental vigente na cidade, estado e no seu país? 32 xii) Qual o tamanho – em unidade de área – da região a ser restaurada? Quais as coordenadas geográficas de seus vértices, pelo menos? (O ideal é obter as coordenadas geográficas que delimitam toda a área). A elaboração
Compartilhar