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RESENHA CRÍTICA DO DOCUMENTÁRIO “CARNE, OSSO”

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RESENHA CRÍCA DO DOCUMENTÁRIO “CARNE, OSSO”
CARNE, Osso. Direção: Caio Cavechini; Carlos Juliano Barros. Roteiro e edição: Caio Cavechini. Realização: Repórter Brasil, 2011. Duração: 65 min.
MEDEIROS, Cintia Rodrigues Oliveira; SILVEIRA, Rafael Alcadipani da. Viver e Morrer Pelo Trabalho: uma análise da banalidade do mal nos crimes corporativos. Organização e Sociedade, vol.21. Salvador Abril/Junho, 2014.
O documentário Carne, Osso foi produzido pela Repórter Brasil, com direção de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros, no ano de 2011 e tem duração de 65 minutos, retrata a realidade assustadora do trabalho em frigoríficos nas Regiões Sul e Centro-oeste do país.
A indústria frigorífica no Brasil, conforme mostrado no documentário, apresenta sérios problemas quanto à saúde de seus funcionários. São mais de 750 mil pessoas empregadas no setor, com tendência a crescer, de acordo com dados da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), que prevê o Brasil como o maior produtor de carne bovina do mundo nos próximos cinco anos. (Central de Comunicação - CNA, 07/2016.)
No artigo “Viver e morrer pelo trabalho” nós somos apresentados ao lado sombrio das organizações, que é caracterizado pelos danos que as organizações causam, tanto para sociedade, quanto para seus próprios trabalhadores. No cerne desses prejuízos estão os crimes organizacionais ou corporativos.
Nesse diálogo, os autores Silveira e Medeiros procuram, num primeiro momento, estabelecer o que é um crime corporativo – todo ação criminosa que beneficia a organização constitui um crime corporativo – e do que é um crime ocupacional – é a ofensa cometida por indivíduos ocupando um cargo e as ofensas de empregados contra seus empregadores; com a definição de crime sendo toda "ação ou omissão, típica, antijurídica e culpável". (MACHADO, 1987, p. 78)
Os autores passam então a esclarecer que se o contexto dos crimes organizacionais é dentro dos processos, estruturas e ambiente da corporação, eles poderiam ser evitados, mas as corporações não querem muitas vezes arcar com esse custo. 
Nesta mesma linha de discussão, estão os erros, a má conduta e os desastres nas organizações. Os autores defendem que se o sistema organizacional possibilita um aumento de erros no trabalho pela inobservância de conduta técnica, ainda que esses erros se caracterizarem como falha no exercício do cargo e venham a resultar em prejuízos físicos ou materiais, em nome ou não da empresa, isso deve ser entendido como um crime organizacional.
Se uma organização favorece o aparecimento de comportamentos reprováveis e imorais ou é negligente em corrigi-lo, ela é condizente com os erros, o que caracteriza má conduta. A má conduta pode vir a gerar um desastre, que é definido por ser um acidente em larga escala, de um custo inestimável e de proporções inesperadas.
No que diz respeito à motivação dos crimes organizacionais, os autores concordam que está relacionado às “pressões e barreiras para se obter desempenho superior.” E ainda que o individuo tenha a decisão de cometer o crime ou não, sua conduta é influenciada pelo sistema organizacional. Nas palavras dos autores: “A teoria organizacional enfatiza como a complexidade e as mudanças da vida organizacional motivam funcionários, gerentes e executivos a escolherem condutas para atender aos interesses da companhia”.
A segunda parte desse artigo nos apresenta a Hannah Arendt e o que ela chamou de ‘a banalidade do mal’. A banalidade do mal é a ausência de pensamento crítico. É não pensar nas possíveis consequências de suas ações, de reivindicar responsabilidade por seus atos. 
À medida que as organizações foram se consolidando, o individuo foi perdendo poder. As corporações hoje são dominantes - nós vivemos nelas (nascemos, estudamos, trabalhamos, nos divertimos, tudo nelas). 
Quando trabalhamos nelas, somos incentivados a “vestir a camisa” e “fazer parte do time”. Até onde as organizações influenciam nossa vida, não só fisicamente, mas psicologicamente, é o alerta que apresentado. 
Uma corporação não têm valores, emoções ou consciência moral e a grande maioria tem o lucro como um objetivo. A capacidade de questionar os sistemas onde estamos inseridos passou a ser fundamental. A neutralidade pode vir a ser uma fachada para o mal.
O mais assustador dos crimes corporativos é que ou parece tão cotidiano, quase comum, ou é simplesmente distante, soa tão fora de nossa realidade que não parece real.
Silveira e Medeiros concluíram deixando sugestões para pesquisadores interessados no tema, apontando tabu em torno dos crimes organizacionais e outras questões que vieram à luz durante a pesquisa.
Com conceitos do artigo podemos analisar os relatos do documentário produzido em 2001, Carne, Osso.
A primeira coisa que me chamou atenção no documentário foi os paralelos que podemos traçar com os princípios da Administração Cientifica – a busca de mais produtividade, as atividades repetitivas, a superespecialização da tarefa, a alienação do trabalhador. Podemos traçar ainda alguns paralelos nas condições de vida desses trabalhados – uma população carente, com baixo grau de escolaridade, o salario baixo, com pouca ou sem perspectivas de crescimento.
Auditor-Fiscal do Trabalho Wallace Faria Pacheco, que no vídeo estava fazendo uma avaliação geral do frigorifico, explica que o excesso de jornada de trabalho é uma das principais causas de acidentes e os relatos de trabalhadores nos contam que se eles não pudessem bater a meta do dia (a expressão usada é “tirar o show”) a tempo, teriam que continuar trabalhando, a jornada de trabalho podendo chegar até 14 horas diárias – sem horas extras contabilizadas, não podendo fazer pausas para ir no banheiro sem informar ao encarregado ou demorar mais que 5 minutos.
O número de acidentes e doenças (físicas e psicológicas) relacionadas com o trabalho no setor mostra que os casos são mais que exceções, são a assustadora regra. 
Desses 750 mil trabalhadores, 250 mil estão no setor de abate a bovinos. Esses profissionais tem 6 vezes mais queimaduras, quando comparado a outros ramos de atividades. Isso é cerca 596% mais risco. Além dos traumatismos considerados clássicos: de cabeça, 2 vezes mais. Ombro, braço e abdômen, 3 vezes mais.
Os outros 500 mil estão no setor de abate de aves e suínos, onde os plexos nervosos e lesões no pulso têm 743% de excesso de risco. Quando analisamos as funções fica claro o motivo da margem de risco ser tão alta. Os trabalhadores da área comumente exercem de 80 a 120 movimentos por minuto, quando estudos médicos indicam que o limite considerado seguro para o trabalhador é de 30 movimentos por minuto. São 3 vezes mais que limite o seguro.
Há também o sofrimento psíquico associado ao trabalho. A cada 100 mil trabalhadores de outras áreas 209 terão algum tipo de transtorno mental. No setor de aves e suínos, esse número sobe para 712.
Os trabalhadores e ex-trabalhadores do setor conhecem o médico responsável na empresa como "Dr. Diclofenaco", uma vez que se chegassem à enfermaria e alegar sentir dor, invariavelmente, diclofenaco seria o remédio receitado. 
O vídeo também nos diz que indústria frigorifica usa o tempo de aparecimento das doenças como o momento de troca de pessoal.
Observando essas informações, claramente, a negligencia para com os trabalhadores quanto à saúde, o assédio moral, a falta de cuidado com os funcionários que já não conseguem manter-se no ritmo imposto pelo sistema organizacional. Tudo isso constituem crimes corporativos. 
É fácil notar a influencia da administração na sequência logica da tarefa usada para montar a jornada de trabalho: “Se você faz em 15 segundos essa tarefa, você faz 4 vezes isso em um minuto. Se você faz 4 em 1 minuto você faz...” 
Na teoria, não há nada de errado, mas esse sistema foi introduzido sem levar em consideração o custo de mantê-lo em longo prazo. O documentário diz ainda que o Ministério do Trabalho e Ministério Público tentavam conscientizar as empresas que é preciso reprojetar essas tarefas, mas o valortotal das multas não se compara ao custo de uma restruturação de todo processo produtivo. 
Pode-se notar também a banalização de acidentes, cortes, ferimentos e da própria rotina são considerados comuns. Além da necessidade de bater as metas cada vez mais altas, a pressão dos encarregados sobre o resto dos empregados sem dúvida faz parte da ideia de banalidade do mal de Arendt.
Como observação final, em 2013 foi assinada pelo Ministro do Trabalho a norma regulamentadora 36, a NR dos frigoríficos, que regulamenta as condições de trabalho em áreas de abate e processamento de derivados de carne. Seu objetivo é prevenir e reduzir acidentes e doenças ocupacionais dos profissionais do setor.
Para concluir, tanto o artigo quanto o documentário nos dão um alerta importante no sentido do dano que uma má gestão de pessoas pode causar. 
O artigo “Viver e Morrer Pelo Trabalho” tem grande importância acadêmica, uma vez que abre caminho para que possamos conhecer melhor os problemas que as organizações podem trazer. E assim, possamos, se não encontrarmos solução para os mesmo, procurar maneiras de ameniza-los.
Luana de Lima Sales, acadêmica do Curso de Administração de Empresas pela Faculdade Santa Helena. Outubro de 2016.
Referência bibliográfica:
Assessoria de Comunicação CNA; Brasil pode se tornar o maior produtor de carne bovina do mundo. Disponível em: <http://www.cnabrasil.org.br/noticias/brasil-pode-se-tornar-o-maior-produtor-de-carne-bovina-do-mundo> Acesso em: 06/10/2016.
MACHADO, L. A. Direito criminal: parte geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987.

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